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A IMPORTÂNCIA DO PLANTÃO PSICOLÓGICO EM UMA ESCOLA PÚBLICA DE PARNAÍBA-PI: UMA PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA EXISTENCIAL

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Academic year: 2021

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XISTENCIAL

CARLOS VITOR ESMERALDO ALBUQUERQUE BESERRA1

CARLOS EDUARDO SOARES REIS2

EVANDRO MAMEDE MOREIRA JUNIOR3

FELIPE SÁVIO MONTEIRO TELES4

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é baseado na experiência do estágio supervisionado I da faculdade Maurício de Nassau, polo Parnaíba-PI, que consiste na prática do plantão psicológico em uma escola pública da referida cidade. Essa modalidade de atenção psicoemocional seria uma forma de recebimento do outro com significativo respeito, empatia e em prol do incitamento de suas expressões ligadas a demanda que o trouxe até o serviço. Como aconselhamento psicológico, o plantão vem suprir uma modalidade da abordagem centrada na pessoa, já que o aconselhamento implica-se no modo de atendimento do ser em sua angústia, de forma mais célere e com menos encontros, configurando uma maneira essencial de atingir um público que precisa de auxílio psicológico, mas não sabe onde encontrar facilmente (SCHEEFFER, 1981).

Os objetivos deste relato recaem no desenvolvimento de uma visão inicial do encontro face a face, na identificação da base filosófica e epistemológica da abordagem escolhida para embasar a prática do estágio e os sentimentos advindos dessa escolha.

1 Faculdade Mauricio de Nassau (UNINASSAU). E-mail: carlosvitoranimes@hotmail.com 2 Faculdade Mauricio de Nassau (UNINASSAU).

3 Faculdade Mauricio de Nassau (UNINASSAU). 4 Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)

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Também, visou compreender as diversas etapas do processo psicoterápico, estabelecendo e empregando questões pertinentes ao exercício da prática com suas devidas flexibilizações. Findando, visa demonstrar a valia, o sentido e a necessidade dos profissionais de psicologia no campo escolar, acolhendo e fazendo a escuta de alunos, familiares, funcionários e comunidade, tendo sempre em vista o compromisso ético e a autorreflexão e revisão dos casos na supervisão de cunho semanal.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O trabalho consiste em um relato de experiência de plantão psicológico alocado em uma escola pública do município de Parnaíba-PI. Após conhecer o local de estágio e se apresentado ao responsável pela gerência, foi disponibilizado uma sala de escuta e acolhimento para quem necessitasse dialogar sobre suas aflições. No que diz respeito a divulgação, os professores do colégio auxiliaram na disseminação dos serviços em sala de aula, apresentando-nos. Assim, pretende-se colocar em evidência o contato face a face mais significativo para o autor-estagiário dessa experiência. Para isso, se fez necessário anotações que funcionavam como um diário de campo, a fim de evitar o esquecimento de algum ponto importante. Para estruturar o presente manuscrito, foi realizada um levantamento bibliográfico que, de acordo com Gil (2008), é a utilização de material publicado previamente como artigos, livros, dissertações, entre outros para servirem de base e auxílio para produção de novas trabalhos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

É sabido que o plantão psicológico surge como uma assistência emocional e validação da dor do outro em processo de angústia. Nesse caso, o aporte teórico foi a Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), tendo como epistemologia a fenomenologia-existencial, que busca intercalar-se de uma relação onde o que se mostra para o outro

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(cliente), é somente e só por ele, capaz de ser discernido, desvelado e desenvolvido em compreensão e fala, prontificando à guisa da alteridade (EVANGELISTA, 2016). Para isso cabe ao plantonista, respeitar e considerar o trazido na interação com o aconselhado, não destituindo desse contato, a expressão do incômodo trazido pela pessoa, descerrando assim, uma relação de confiança e disposição para elaborar as dores. No mais, inclinando-se a dar ênfainclinando-se ao preinclinando-sente, junto as expectativas dos planos futuros e experiências passadas, manuseando à sua maneira e com suas limitações, o seu vivido (ROSENBERG, 1987).

A narrativa aqui articulada, é fruto do encontro com Mafalda . Assim, após a procura espontânea, foi iniciado o atendimento e a entrevistada falou de sua ansiedade muito forte, que estava sem dormir há alguns dias e que tudo isso era fator causado por um seminário que viria a se realizar em instantes. Pediu que a orientasse acerca de alguma técnica de relaxamento, ao passo que, disse a ela, não possuir nenhuma técnica de abrandamento para sua ansiedade, mas que poderíamos conversar sobre seus pensamentos e sentimentos que possivelmente estavam provocando tal sensação ansiogênica. Ela concordou e logo falou um pouco de sua vida. Tinha uma existência muito regrada, onde seus estudos eram prioridades e que há muito tempo não se divertia, isolando-se nos finais de semana. Como prazer, citou que gostava de desenhar e de olhar para estrelas, coisas essas que não fazia há bastante tempo, pois os estudos eram seu foco. Em meio a conversa, o sentido que me chegava de Mafalda era de um tremendo esforço físico e de desgaste emocional, sendo a ansiedade uma resposta corpórea ao adiamento e antecipação do que seria seu momento presente da apresentação. Heidegger (2005) traz o tempo como uma das constituições da existência humana, não podendo dela ser extirpada, mas compreendida (sorge). Ao fim da sessão e esvaziado um pouco daquela vibração ansiosa, sugeri que Mafalda desenhasse seus sentimentos de ansiedade quando os sentisse e caso quisesse, visando resgatar suas atividades e quem sabe sublimar seus alvoroços.

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Após o primeiro encontro com Mafalda e pelo fato de ter que escrever a versão de sentido na ficha de evolução, pude entender na prática os critérios rogerianos, atitudes que continham como norte uma consideração positiva incondicional, uma congruência e empatia. Fiz uma autoanálise para de fato saber se havia me pautado em tais princípios, já que os três são encapsulados holisticamente em atitudes e não de forma linear ou técnica. Entendi que havia tido empatia, pois tinha conseguido compreender um pouco da experiência de Mafalda tal qual ela me trouxe a partir dela própria. A consideração por seu fenômeno vivencial foi também atendida, já que em nenhum momento a julguei ou quis que ela fosse diferente daquilo, “consertando-a” a minha maneira. No que concerne a congruência, pude observar que comuniquei a ela o que senti e o que tive vontade de falar de forma ética e cuidadosa no momento propício da sessão, desvelando como havia intuído, um vínculo com ela.

Uma semana depois, Mafalda chega a mim, dessa vez menos ansiosa, porém mais tristonha e cabisbaixa. Imediatamente ofereci-me para um diálogo e fomos ao mesmo local, no piso superior do colégio. Chegando lá, me falou da melhora de sua ansiedade e que não havia tido o seminário, pois havia sido adiado. Questionei se existia algo a mais que ela poderia me falar sobre sua intimidade, até que ela irrompeu em lágrimas e começou a me contar que havia sido abandonada por sua mãe quando tinha seis meses e desde então, só era criada pelo pai. Tentava ter contato com a mãe constantemente já que havia descoberto recentemente onde ela morava, porém que a mesma era muito agressiva com ela e a desdenhava. Acrescentou que sua mãe tinha transtorno mental e que muitas pessoas da sua família também o tinham, chegando algumas a morrer por suicídio. Mediante tal catarse, acompanhei lado a lado outro desdobramento da existência de Mafalda, algo que me impressionou por tamanha capacidade humana de tentar atualizar-se em meio a dor e sofrimento familiar.

Mafalda ainda me contou que desde criança gostava de matar bichinhos e que o fazia por pena deles e não por maldade. Relatou também que desde os 14 anos ouvia

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vozes de ordem, como pensamentos que indicavam o que ela devia fazer, controlando suas atitudes em corpo e mente. Dalgalarrondo (2008) coloca como síndrome psicótica alguns sinais contidos na fala de Mafalda, sendo eles comando por pensamentos, agressividade em atos a pessoas próximas (Mafalda relata que todos os imperativos de pensamentos eram para matar seu pai, colegas ou pessoas do colégio), rompimento com a realidade dos fatos, sendo prejudicial a essa pessoa conviver com tal fenômeno sem cuidá-lo.

Após tais esclarecimentos, Mafalda me falou sobre seus “lados”. Ela a diferenciava em “o lado bom”, no qual se afastava das pessoas e gostava de ficar sozinha, pois estava “equilibrada”. Já o “lado ruim”, era considerado depressivo e infeliz, enquanto “o lado mau” era sádico, mais sociável e pertencente ao contato com os pensamentos homicidas. Ela relatava que ultimamente estava tendo mais contato com esse lado mal e que tinha bastante medo de machucar alguém e ser presa, me disse também que uma vez chegou a planejar matar todos do colégio, fazendo uma planta da escola e traçando um plano de morte para aqueles que ali estariam no dia, mas que ela conseguiu se controlar e não levar para frente. Quando me falou sobre esse “controlar”, demonstrou receio e choro, me dizendo que mais recentemente temia por não conseguir lidar com esse autodomínio, já que os pensamentos estavam cada vez mais fortes.

Tatossian (2006), em seu livro a fenomenologia das psicoses, relata no capítulo sobre as psicoses que tal situação existencial recai a uma “inconsequência da experiência”, onde “Mais precisamente as psicoses são as modalidades da Presença nas quais a consequência, quer dizer, o contexto sequencial da experiência, é posto em questão e são afrontadas “inconsequência da experiência” (TATOSSIAN, 2006, p. 318). Tamanha expressão me instigou, tanto ao ler o capítulo, como ao lembrar do atendimento, já que me volveu às palavras de Malfada e suas entrelinhas, onde a voz comandava à morte, mas que a mesma tinha muito medo e apreço pelas pessoas que a voz instilava essa ordem.

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Portanto, essa inconsequência da experiência indica como que, uma maneira de existir fora do contato com o discernimento que prepara homeostaticamente o ser humano a uma consequência dentro da experiência dele próprio, onde ele pode até prever o acontecimento, mas por não ter controle racional e sã, nada dele pode impedir. Diante disso, a ajuda em longo prazo é fundamental, como feito no processo de duas sessões, houve uma psicoeducação sobre algumas possibilidades e hipóteses daquele modo de ser que só ela poderia conviver e lhe foi ofertado o encaminhamento à clínica escola da Faculdade Mauricio de Nassau, outrossim informado sobre os serviços públicos do CAPS – II de Parnaíba, além de ser resguardado e orientado sob supervisão, o caso em questão.

CONCLUSÃO

No que diz respeito ao aparato do plantão em uma instituição educacional, é fundamental observar que sua maior riqueza está no fato do ajustamento no convívio das pessoas partícipes das sessões, permitindo-se encontrarem consigo diante de suas dores do seu próprio jeito, melhorando as relações, o rendimento escolar e emocional, podendo ter caráter preventivo e de posvenção em alguma problemática. Destaca-se também a importância do crescimento de quem faz a escuta, como que um compartilhamento de significados de vida, trocas de valoração sobre o vivido e esclarecimentos de vivências que fluem à compreensão.

Na obra O nascimento da clínica, Foucault (1977), traz uma lição. Ele faz uma crítica ao modo de atendimento médico ambulatorial que desvela-se ao longo da história até a modernidade, ao mostrar a mudança de atendimento considerativo do corpo como um espaço de armazenamento de psicopatologias para o modo mais atual de perceber o homem “com” uma patologia, onde esse é diversificado no coeficiente doença, não sendo vítima desta, mas que percorre com ela até curá-la, sendo avaliado em um modelo biopsicosocioambiental. Destarte, muito parece com a essência do plantão, que quebra o

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paradigma de se receber o outro em atendimento por tempo indeterminado, prolongado e com local fixo.

Por fim, Rollo May (2000) distingue o homem em trajeto de vida por três mundos, sendo eles Mitwelt, Eigenwelt e Umwelt, onde o primeiro versa sobre o ser humano de relação, impossível de ser retirado de tal instância, pois mesmo isolado, imagina-se em um espaço e vive com construções criadas pelos demais. O segundo mundo, é o mundo intrapsíquico, capaz de mover o cognitivo e o vivencial, nesse mundo o ser humano auto reflete e se percebe como ser dono de si, protagonista de sua própria história. Já o último, é o mundo dos objetos, estes rodeiam o ser humano mesmo que inconscientemente, sendo “um a mais” na vida de todos que estão lançados no mundo de desafios e de propriamente estarem vivos. O fazer da psicologia no modelo tanto de plantão como de psicoterapia, é similar e imerso nesses mundos do outro e de si próprio, carimbando a grandiosidade que se é estar disposto a escutar (Ouvir, acolher, afetar-se, absorver, absolver) e enveredar por um processo psicoterapêutico.

REFERÊNCIAS

DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2008.

EVANGELISTA, P. E. R. A. Psicologia fenomenológica existencial: a prática psicológica à luz de Heidegger. Curitiba: Juruá, 2016.

HEIDEGGER, M. Ser e Tempo (parte I). 15. ed. Petrópolis – RJ: Vozes, 2005.

ROLLO, M. A descoberta do ser: estudos sobre a psicologia existencial. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. ROSENBERG, R. L. Aconselhamento psicológico centrado na pessoa. São Paulo: E.P.U, 1987. SHEEFFER, R. Aconselhamento psicológico. São Paulo: Atlas, 1981.

TATOSSIAN, A. A fenomenologia das psicoses. São Paulo: Escuta, 2006. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

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