Prefeitura Municipal de Vitória
Secretaria Municipal de Educação
PROCESSO Nº: NÃO GEROU PROCESSO
INTERESSADO(A): CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE VITÓRIA - COMEV
ASSUNTO: OBRIGAÇÃO DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE FIXAREM PLACAS COM ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA (IDEB) EM SUAS ENTRADAS (LEI MUNICIPAL Nº. 8.372/12)
RELATORA: KALLINE PEREIRA AROEIRA
PARECER Nº:
12/2012
COMISSÃO PERMANENTE
COMISSÃO DE ENSINO FUNDAMENTAL
APROVADO EM:
19/12/2012
1- HISTÓRICO
A Comissão de Ensino Fundamental – CEF, do Conselho Municipal de Educação de
Vitória – COMEV, em reunião ordinária realizada no dia 06 de dezembro de 2012, no uso
de sua competência de se manifestar e emitir Parecer, atribuição que lhe confere o Artigo
46 do Regimento Interno do COMEV, apresenta:
A Lei Municipal nº. 8.372/2012, estabelece em seu artigo 1º: "As escolas municipais de
ensino fundamental de responsabilidade da Prefeitura Municipal de Vitória ficam
obrigadas a fixar placas com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB)
em suas entradas principais” (BRASIL, 2012).
Trata-se do Projeto de Lei nº. 9.365/12, de autoria do vereador Sérgio Magalhães, cuja
proposta foi consolidada pela Lei Municipal nº. 8.372, publicada no Diário Oficial do ES,
em 1º/11/2012. Em sua justificativa o autor da Lei aponta que esta tem como objetivo:
[...] estabelecer meios para apresentar e divulgar o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) das escolas municipais, assim como sua comparação ao índice a níveis municipais e estaduais, esclarecendo as reais condições da EMEF em foco aos pais e demais interessados.
Desta forma, cria-se um mecanismo para incentivar os pais e interessados a procurar a escola e seus diretores a fim de exigir uma escola de qualidade, em níveis adequados aos anseios do cidadão capixaba, que por vezes ignora determinada situação de uma escola sob a falsa premissa de que está tudo bem (MAGALHÃES, 2011, [s.p.]).
2- ANÁLISE
Esta Relatoria manifesta-se contrariamente sobre a aplicabilidade da publicização do
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB nas entradas das instituições das
escolas municipais, como um dos componentes de avaliação da educação municipal.
Considerando:
Os argumentos apresentados no Ofício SEME/GAB nº. 1.325/12 remetido ao COMEV,
indicados pela Secretária de Educação, em relação ao veto ao Autógrafo de Lei nº.
9.365/12, consolidada pela Lei nº. 8.372/12, com base nas seguintes evidências:
[...] algumas dificuldades precisam ser consideradas na interpretação dos seus resultados e na sua disseminação, bem como no sentido de utilizar os concernentes dados como forma de responsabilização de cada Unidade de Ensino, visto que as experiências mais promissoras não somente disponibilizaram as informações, mas buscam explicar aos pais de alunos e demais interessados o significado dos indicadores de qualidade social da escola, por meio de reuniões e difusão de correspondentes materiais.
[...] Por meio do site simec.mec.gov.br, o qual significa Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle - porta de entrada de todas as ações relacionadas à educação, cada Unidade de Ensino pública inserida no Programa de Desenvolvimento da Educação – Escola (PDE-Escola) tem a visão geral do diagnóstico que retrata a sua própria situação escolar, cuja realidade é trabalhada com base em Plano de Ação e projetos, visando elevar, continuamente, o IDEB.
[...] há que se considerar que os resultados do IDEB vêm sendo amplamente divulgados pela mídia, como também, no âmbito do Sistema Municipal de Ensino, pela Secretaria Municipal de Educação e pelas escolas junto aos pais e comunidade local, porém sem gerar competitividade entre as EMEFs e preferência dos pais por matricularem seus filhos em determinada escola em detrimento outras.
Os artigos veiculados na mídia jornalística, relacionados ao entendimento da Secretaria
Municipal de Educação de Vitória, que destacam que a publicização do IDEB, não
representa meramente uma apresentação de dados estatísticos:
A exposição de um resultado de avaliação deve ser conjugado com outros fatores que aparecem no decorrer do trabalho escolar: a análise do significado atribuído ao conhecimento em suas diferentes linguagens; política continuada de formação de professores; envolvimento dos alunos e famílias no processo de avaliação; definição de uma política de alfabetização que não prescinda da articulação entre educação infantil e ensino fundamental; melhoria das condições de trabalho,
inclusive estabelecendo padrões públicos do número de alunos por sala; implantação de escolas bilíngues para as crianças surdas; processos de alfabetização diferenciados para os alunos com deficiência e para os alunos de Educação de Jovens e Adultos (ARAÚJO, 2012, p. 26).
Entendemos que um indicador social como o IDEB deve ser compreendido não meramente como um dado estatístico, mas como uma das variáveis para análise e planejamento de uma política pública; e não como um dispositivo provocador de uma disputa desmedida pela “melhor escala” por parte da sociedade, criando, aquilo que os profissionais da educação se contrapõem veemente a uma razão meritocrática e economicista da escola pública (ARAÚJO, 2012, [s.p]).
Os argumentos do Parecer da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Municipal
de Vitória do Estado do Espírito Santo, apresentados no Ofício GVFG/ENTE nº. 120/2012
da Câmara Municipal, opinando pelo veto do Projeto da referida Lei:
[...] uma vez afixados os cartazes, haverá procura por matrícula nas melhores escolas e, aqueles que por qualquer motivo não conseguirem vagas, serão discriminados por estudarem em escolas de baixo nível. Dessa forma, se derrubado o veto, a Casa estará contribuindo para a prática da discriminação e demais efeitos negativos que precisam ser evitados.
As críticas da comunidade científica a respeito da relação nota alta e qualidade de ensino,
presente nas políticas educacionais brasileiras, indicando que
Não há essa relação unívoca entre nota alta e qualidade do ensino, especialmente se pensarmos que a nota é produto de testes em apenas duas disciplinas (português e matemática), quando muito incluiria ciências, e a educação não se reduz apenas a um processo cognitivo, centrado nestas três disciplinas. É muito mais ampla, pretende desenvolver a criatividade, a afetividade, a formação corporal, ou seja, há dimensões outras para nós cuidarmos no desenvolvimento do indivíduo que não se limitam às provas de português, matemática e ciências (FREITAS, 2012, p. 9).
O segmento educacional não se comporta como o empresarial, dos negócios, em que a divisão é entre ganhadores e perdedores. Na educação não podemos tratar as pessoas como ganhadores e perdedores. Se você introduz a concorrência na área educacional gera essa necessidade. As escolas não podem ser colocadas em um processo concorrencial, mas sim de colaboração dentro delas e entre escolas (FREITAS, 2012, p. 14).
As recentes reflexões da produção acadêmica sobre a divulgação do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica, destacando o impacto da competição entre as
escolas:
Pesquisas indicam que as escolas de “boa reputação” conseguem, por meio de práticas veladas, selecionar quem entra e, principalmente, quem vai permanecer na unidade. Os mecanismos são variados. Pode ser uma consulta ao histórico do aluno no momento de um pedido de vaga, a recusa para receber aqueles com defasagem ou mesmo a expulsão dos que são considerados “inadequados ao ambiente daquele colégio” (CIEGLINSKI, 2012, p. 40).
O debate acadêmico sobre o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica como
ferramenta desencadeadora de uma sistemática nacional de monitoramento do padrão de
escolarização oferecido sob regime de cooperação federativa (educação básica da
população de 0 a 17 anos), especialmente sobre a apropriação social desse Índice,
principalmente sobre interpretações, usos, desdobramentos e implicação nas redes e
unidades escolares, questionando sua racionalidade (fundamentos e fins), efeitos e
benefícios sociais.
A premência de que as políticas públicas educacionais sejam analisadas no curto prazo está associada à dimensão política da própria pesquisa em educação, enquanto vertente subsidiária do controle social legítimo e indispensável a um Estado republicano e democrático, para o qual análises críticas podem ser proveitosas. A inerência das limitações conforma análises provisórias nas quais abundam os apontamentos de hipóteses e indícios, estando as constatações sujeitas a novas leituras.
No intuito de minorar tais limitações, o agir político pela análise de políticas educacionais supõe atenção ao caráter histórico das ações, de seus contextos, atores e instituições, sendo, assim, um esforço oscilante entre premência política e rigor analítico (FREITAS; REAL, 2011, p. 9-10).