• Nenhum resultado encontrado

VARIAÇÃO NO USO DAS VOGAIS PRETÔNICAS [E] E [O] NO PORTUGUÊS POPULAR FALADO EM DOURADOS MS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "VARIAÇÃO NO USO DAS VOGAIS PRETÔNICAS [E] E [O] NO PORTUGUÊS POPULAR FALADO EM DOURADOS MS"

Copied!
15
0
0

Texto

(1)

VARIAÇÃO NO USO DAS VOGAIS PRETÔNICAS [E] E [O] NO

PORTUGUÊS POPULAR FALADO EM DOURADOS – MS

Márcio Palácios de CARVALHO (UEMS)

marciopalacios@hotmail.com

Elza Sabino da Silva BUENO (UEMS/FUNDECT)

elza20@hotmail.com

RESUMO: O presente estudo tem por objetivo observar e analisar o uso das vogais

pretônicas [e] e [o] no português falado em Dourados, partindo de variáveis linguísticas como posição da sílaba, o status morfológico da palavra e outros fatores que podem in-fluenciar o seu uso, além de verificar variáveis sociais como: gênero, idade e escolari-dade do falante, uma vez que, de acordo com pesquisas cientificas, o gênero do falante pode alterar a sua forma de pronunciar um determinado vocábulo. A idade também pode funcionar como um importante fator da variação linguística, pois a língua evolui no decorrer do tempo (FARACO, 2005). Sobre escolaridade, o falante pode variar a sua forma de falar de acordo com o nível de instrução recebido. Essas são algumas das hipóteses que pretendemos confirmar com este estudo.

PALAVRAS-CHAVE: Português falado; variação linguística; vogais pretônicas. Introdução

A língua e a sociedade estão intimamente ligadas, uma vez que fazem parte do mesmo processo cultural. A língua é o meio de comunicação e de interrelação dos indivíduos com a sociedade. É por meio da linguagem que interagimos com os demais membros da sociedade. Esse processo de interação é dinâmico, e faz com que a língua sofra mudanças ao longo do tempo, mudanças essas que tem como objetivo facilitar a comunicação lingüística dos falantes que fazem uso desse código linguístico. (OLIVEIRA, 2009).

Vale ressaltar que essas mudanças linguísticas se dão de forma lenta e gradual, às vezes os falantes só as percebem depois de certo tempo. Estas inovações linguísticas se manifestam em uma parcela da comunidade e não em todos os falantes de uma mesma língua (FARACO, 2005), pois sabemos que o desempenho linguístico

(2)

de cada indivíduo está relacionado ao meio social em que ele se desenvolveu e ao contexto socio-linguístico e cultural em que está inserido.

Partindo desse princípio verifica-se que uma das principais características das línguas humanas é a heterogeneidade, pois ela está sujeita a um contínuo processo de variação e mudanças sofridas no decorrer do tempo e no espaço geográfico. Além das variáveis linguísticas e extralinguísticas que podem influenciar o falar local, temos, na comunidade pesquisada, o fator geográfico, pois Dourados está localizada numa região de fronteira, e alguns dos entrevistados, sofreram influências das línguas faladas no Paraguai (Espanhol/Guarani). O que contribui para o enriquecimento do falar douradense onde se verifica uma “mescla” lingüística de outras línguas (Espanhol e línguas indígenas) no português local.

Por outro lado, sabemos que nem tudo na língua é variação, mas se ela ocorre não é de forma aleatória, mas sistematicamente, ou seja, por traz da heterogeneidade linguística há um processo organizacional. Também se observa que o uso de cada variante não é homogêneo, dependendo do contexto da fala em que o falante se encontra, ele usará ora uma, ora outra forma linguística que melhor se adéque a tal contexto (LEMLE, 1978).

Segundo Bueno (2009, p. 23) as inovações linguísticas sempre atingem uma parcela de uma comunidade e não o todo, pois os indivíduos não compartilham os mesmos ambientes. Tais inovações se manifestam com mais frequência nas classes socioeconômicas menos favorecidas da sociedade, já que essa classe, não desfruta das mesmas condições sociais, além de ter acesso restrito aos bens culturais.

Sabemos que as inovações linguísticas estão em continuo processo de variação e é o léxico a parte da língua mais vulnerável a tais mudanças. No entanto, as inovações que nela ocorrem, não acontecem de imediato, isso porque existem mecanismos que não as aceitam, mas não há como nem porque retardá-las. Contudo o ensino normativo tenta preservar a língua das mudanças, e quando um educando

(3)

comete um “erro” de pronúncia é logo corrigido pelo educador e na maioria, os desvios que ocorrem na pronúncia vão ocorrer com todos os falantes, porque a tendência da língua falada é buscar alternativas de tornar esta modalidade mais flexiva e dinâmica para facilitar a comunicação linguística.

Oliveira (2009) defende a tese de que um fator que contribui para a varia-ção da vogal pretônica de /e/ > /i/ decorre de um acondicionamento estrutural, ou seja, a presença de uma vogal alta na silaba tônica condiciona a variação; já na variação de /o/ > /u/ , como no exemplo - t[o]mate>t[u]mate, ocorre um processo chamado de assimilação silábica.

De acordo com Bagno (2003), essas mudanças linguísticas não ocorrem ao mesmo tempo em todas as línguas nem mesmo no interior de uma mesma língua, não ocorre de modo idêntico nas diferentes variedades sociolinguísticas em um sistema linguístico, como é o caso do Brasil, por exemplo, em que as diversidades são marcantes, tendo em vista a sua extensão territorial e a diversidade sócio-linguística e cultural do povo brasileiro, em que em cada região do país é possível verificar uma forma distinta de expressar um mesmo referente. Tomemos como exemplo o vocábulo “menino”, em que na região sul do país usa-se a variante “piá”, no sudeste usa-se “menino” ou “moleque”, este último é usado de uma forma um tanto pejorativa. Na região centro-oeste a variante mais utilizada é “guri”. Veja que todas estas variantes referem-se a menino, são, em tese, as “diferentes maneiras de dizer a mesma coisa com o mesmo valor de verdade”, Tarallo (2007, p.81).

Partindo da concepção de língua, cultura e sociedade e da heterogeneidade linguística, como um fato inerente às línguas humanas, esta pesquisa analisa a variação no uso das vogais pretônicas [e] e [o] no português falado na cidade de Dourados-MS, cujo objetivo é mostrar quais variáveis linguísticas e extralinguísticas influenciam o falar local. Para chegar aos resultados esperados foram analisadas catorze entrevistas, com sete homens e sete mulheres, todos residentes em Dourados, “uma vez que há

(4)

diferenças acentuadas entre a fala de homens e de mulheres” Paiva (2003), (apud MOLLICA, 2003, p.35), como pretendemos mostrar no decorrer deste estudo.

Metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa

O procedimento adotado para a realização desse estudo foi o método prático de pesquisa de campo com gravação de entrevistas, em que o informante foi estimulado a narrar assuntos referentes ao seu cotidiano (TARALLO, 2007) e (LABOV, 1983). Lem-brando que é função do entrevistador, adequar o seu comportamento linguístico ao modo de falar característico da comunidade e ao foco principal de suas pesquisas, no sentido de levar o entrevistando a falar, o mais à vontade possível, de assunto como: brincadeiras de infância, escola e ensino-aprendizagem, festas populares, namoro, noi-vado e casamento e sobre outros assuntos de seu interesse.

O material linguístico que compôs o corpus desta pesquisa foi coletado, com in-formantes do gênero masculino e feminino, com idade e nível de escolaridade dife-renciados, todos residentes na cidade fronteiriça de Dourado-MS, onde é possível uma mescla de falares, tendo em vista as influências linguísticas advindas das línguas do país fronteiriço e das línguas indígenas faladas na região.

As entrevistas foram realizadas ora na residência ora no local de trabalho do informante, porque são os locais em que ele se sente mais à vontade para falar de fatos importantes de sua vida, como do tópico “perigo da vida”, por exemplo, que segundo Labov (1983) (apud TARALLO, 2007) ao narrar fatos corriqueiros do seu cotidiano, o falante deixa o seu lado emocional vir à tona e não mais se preocupa com o como fala, e é justamente esse falar espontâneo que constitui o objeto de pesquisa da sociolingüística e dos estudos variacionistas.

(5)

Constituição do corpus da pesquisa

O material linguístico coletado foi baseado em assuntos que o informante já ha-via vivenciado. Esses assuntos giraram em torno dos momentos mais importantes de suas vidas, isso porque, ao narrar assuntos de grandes emoções, o informante volta ao passado e revive aquele momento, e ao reviver uma determinada situação deixa seu lado emocional vir à tona e se desvincula das normas gramaticais, focalizando apenas o as-sunto que está sendo narrado. Labov (1983) (apud TARALLO, 2007).

Como o estudo de natureza sociolinguístico focaliza a linguagem no seu uso espontâneo e real, as perguntas que fizemos foram de extrema importância para conseguirmos a fala espontânea de nossos entrevistados. Além de perguntas sobre travessuras de infância, namoro entre outras, fizemos perguntas referentes a momentos difíceis pelo quais os informantes tinham passado, como a perca de ente querido, lembrando que o assunto ‘‘perigo de morte’’ é o momento em que o falante se solta e se emociona, deixando a fala fluir espontaneamente.

Vale ressaltar que em parte das entrevistas tivemos algumas dificuldades com informantes introvertidos que não se soltavam ao falar, dizendo que não havia nada de interessante para contar, nestas situações buscamos alternativas que os levassem a falar mais e com mais espontaneidade. Uma solução encontrada foi falar da história da cidade de Dourados. Já que, alguns informantes pertencem à terceira faixa etária, que corresponde aos indivíduos com mais de 50 anos, e puderam acompanhar o desenvolvimento da cidade de Dourados, após o desmembramento do Estado.

Os informantes foram selecionados seguindo critérios previamente estabelecidos que são: primeiro que morassem em Dourados a mais de 20 anos, porque sabemos que a terceira faixa seria difícil encontrar informante natural desta cidade, já que Dourados tem apenas 75 anos. O segundo se refere ao gênero e ao número de informantes a serem entrevistados, trabalhamos com falantes do gênero feminino e masculino, sendo sete homens e sete mulheres, para que pudéssemos observar as

(6)

diferenças linguísticas no uso das vogais pretônicas em cada gênero. Sobre o número de informantes, realizamos um recorte na amostragem, de forma a ter uma representatividade dos falantes moradores na cidade de Dourados (TARALLO, 2007).

Outro critério estabelecido foi a respeito da escolaridade, optamos por entrevistar falantes alfabetizados e não alfabetizados, sendo estes divididos em três níveis: os que possuem até o ensino primário, os que possuem o ensino fundamental completo e os que já passaram por todo o processo regular de ensino, nossa atenção aqui é observar se o ensino normativo interfere no uso das formas linguísticas em estudo, uma vez que é função da escola e do ensino formal ensinar/trabalhar a língua na sua modalidade padrão, porém, é importante ressaltar a necessidade de mostrar ao aluno que há outras modalidades de uso da língua e que ele deve adequá-la à situação de uso, no momento real da comunicação linguística.

Análise dos dados e discussão dos resultados

Como vimos, o propósito desta pesquisa é estudar o processo linguístico que ocorre no uso das vogais pretônicas [e] e [o] na comunidade pesquisada. Para que esse estudo fosse possível utilizamos variáveis linguísticas como o levantamento do contexto fonético fonológico e a classe morfológica da palavra que contém as vogais pretônicas, além das variáveis sociais gênero, idade e grau de escolaridade do falante, tendo como informantes pessoas que moram na cidade de Dourados. Pretendemos verificar se essas pessoas utilizam as vogais pretônicas na forma inovadoras ou mantêm a forma de acordo com os manuais de uso da língua para se comunicar no seio da comunidade em que vivem.

Nos resultados da pesquisa, foi observado que o uso das vogais apresenta uma grande variação no português local, o que nos leva a interferir que o seu uso é variado no falar douradense. Assim, para uma melhor visualização dos dados obtidos na pesquisa, apresentamos na tabela 1 os resultados referentes à classe morfológica que contém as variações no uso das vogais pretônicas.

(7)

Tabela 1 – uso das vogais pretônicas [e] e [o] pela comunidade douradense Vogais

pretônicas

Adjetivo Advérbio Substantivo Verbo Outros

[e] 7 57 101 62 12

[o] 4 0 16 29 81

Total 11 57 117 91 93

De acordo com os dados da tabela 1 podemos observar que a classe morfológica da palavra favorece o processo de alçamento das vogais pretônicas [e] e [o] na localidade estudada. O que nos chamou a atenção em relação ao alçamento das vogais pretônicas [e] e [o] foi a quantidade de palavras que sofreu variação neste processo. A respeito disso, (CÂMARA JR, 1988), comenta que o quadro das vogais pretônicas é diferente das vogais átonas, nos proclíticos, o que predomina é o caráter da tonicidade que se perde na tonicidade da palavra seguinte.

Para Almeida (2008) (apud BISOL, 1988) existe uma regra condicionadora desse processo de assimilação. Quando uma palavra pretônica está diante de uma vogal média ou fechada sua tendência é sofrer o processo de harmonização vocálica, podemos perceber essa variação no exemplo extraído do corpus da pesquisa: m[e]nino> m[i]nino, em que o [e] é substituído pelo [i] sem prejuízo de sentido.

Com o levantamento dos dados podemos perceber que a variação no uso das vogais pretônicas, ocorreu em quase todas as classes morfológicas. No entanto, o substantivo foi a classe que mais se destacou como inovadora desse processo com 101 ocorrências seguido dos verbos com 62, depois os advérbios com 57 e do adjetivo com 7 ocorrências de uso dessas variáveis linguísticas.

Percebemos por meio da classe morfológica de palavras, que a variação referente ao alçamento das vogais pretônicas [e] e [o] pode favorecer a utilização das formas inovadoras no português local. Diante dos resultados podemos verificar que o substantivo foi a classe que apresentou maior número de palavras inovadoras.

(8)

Veja a seguir alguns exemplos de palavras que sofreram a variação e a classe morfológica a que elas pertencem.

1. (JÁ-M-56-AL-3ªF) ‘‘... ai dipois foi trocandu di prefeito...’’ (advérvio)

2. (WJBL-M-19-AL-1ªF) ‘‘...a genti se arrumá vai pa iscola quandu chegu....’’(substantivo)

3. (J A-M-56-AL-3ªF) ‘‘... di dar essi pra você cumeçá ... Ai na hora qui...’’(verbo) 4. (C V O- M-17-AF- 1ª F) ‘‘... da vida e disse ... bunito né pai i filho (adjetivo)

Notamos também que o alçamento das vogais pretônicas não acontece de modo idêntico, visto que os nossos informantes variaram sua forma, ora fazendo o uso das formas inovadoras, ora não as utilizando. A respeito disso Oliveira (2009) ressalta que o processo de alçamento ocorre variavelmente no português brasileiro e, de modo especial no português local.

A seguir apresentamos a tabela 2 que contém os dados analisados referentes ao uso das vogais pretônicas e suas variações encontradas no corpus da pesquisa.

Tabela 2 – Números e percentuais analisados em relação às vogais [e] e [o]

[e] > [i]

[o] > [u]

Total

Manutenção das vogais

77

[e]

92

[o]

169

Variação das vogais

282

[e] > [i]

142

> [u]

424

Total

359

234

593

De acordo com a tabela 2 podemos observar o uso das vogais pretônicas no português falado em Dourados, tanto na fala de um indivíduo para outro, como na fala de um mesmo indivíduo que se utiliza das duas variantes linguísticas, às vezes até em um mesmo contexto linguístico, o que pode ser corroborado por Câmara JR. (1988) ao constatar de o Português falado no Brasil apresenta uma tendência para a harmonização

(9)

1 9 , 2 2 % 2 8 , 3 3 % 6 , 4 1 % 6 , 5 8 % 1 1 , 4 6 % 1 2 , 4 8 % 6 , 4 1 % 9 , 1 1 %

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

[e]>[i]

[e] s.alt. [o] > [u] [o] s. alt

Fem inino

.

M asculino

de as vogais médias serem pronunciadas como vagais altas ou de uma vogal alta para média.

Com base na tabela, concluímos que em Dourados é possível encontrar as duas formas faladas, porém, a forma que predominou no falar local foi o alçamento das vogais pretônicas, em que nas vogais [e] > [i], 77 palavras usadas pelos nossos informantes mantiveram sua forma sem nenhuma alteração e 282 sofreram a variação, já nas variações de [o] >[u] obtivemos 92 palavras sem alteração e 142 palavras com alteração em seu uso, o que confirma a tendência de alçamento das vogais pretônicas no português falado no Brasil e na modalidade falada em Dourados-MS.

Com relação às variáveis sociais, trabalhamos gênero, a idade e o nível de escolaridade do falante, para mostrar qual ou quais dessas variáveis contribuem para o alçamento das vogais [e] e [o]. O gráfico 1 apresenta o uso das vogais pretônicas [e] e [o] na linguagem local, falada por nossos informantes.

Gráfico1: uso das vogais pretônicas de acordo com o gênero do falante

(10)

expressivos, tanto de [e] > [i], como aquelas palavras em que se manteve a vogal pretônica [e]. Contudo, nossos dados comprovam que o gênero masculino utilizou a forma inovadora com mais freqüência que o feminino, o que comprova mais uma vez que a mulher, ao falar, se aproxima do padrão formal de língua portuguesa. (NARO, 2003), tendo em vista as cobranças advindas da sociedade com relação ao comportamento linguístico da mulher.

Leite & Callou (2003, p.36), comentam que essa diferenciação no falar de homens e mulheres é um fator condicionante da heterogeneidade linguística, alguns estudos dialetológicos mostram que as mulheres tendem a manter, em sua fala, traços mais próximo possível da modalidade padrão da língua, enquanto as formas inovadoras e os neologismos geralmente se manifestam na linguagem dos homens, principalmente dos mais jovens.

Os dados apresentados em relação ao gênero do falante corroboram as ideias de Paiva (2003), que mostra que a diferença entre a fala de homens e mulheres está relacionada aos papeis pré-estabelecidos pela sociedade, por isso que ainda ouvimos a expressão ‘‘não fica bem uma garota falar desse jeito’’. Nesse dado o gênero feminino se manteve mais conversador em relação ao uso das vogais pretônicas, aproximando sua linguagem da modalidade padrão da língua portuguesa.

Outra variável social pesquisada foi a faixa etária do falante, em que nosso objetivo foi mostrar como o alçamento das vogais pretônicas [e] e [o] se manifestam diante da idade do falante, se os mais jovens fazem uso de uma linguagem inovadora ou se este uso das referidas vogais pretônicas está disseminado por todas as faixas etárias. Vejamos os resultados do gráfico a seguir.

(11)

22,42% 14,67% 11,29% 6,57% 5,05% 2,69% 10,62% 6,41% 4,22% 3,89% 8,26% 3,89%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

[e]>[i]

[e] s.alt.

[o] > [u] [o] s. alt

17 a 25 anos 26 a50 anos 51 em diante

Gráfico 2 – uso das vogais pretônicas conforme a idade do falante.

Com relação à idade do falante, o que se leva em conta é o fator tempo, pois sabemos que as línguas mudam com o passar do tempo e as mudanças se manifestam nas falas dos indivíduos de diferentes faixas etárias, e faz que com que os falantes de um mesmo grupo só as percebem num período relativamente longo (FARACO, 2005), ou às vezes, os falantes nem percebem que a língua mudou, porque esse é um processo que ocorre naturalmente, isto é, é um fenômeno inerente às línguas vivas.

De acordo com os resultados do gráfico 2, podemos inferir que a 1ª faixa etária foi a que mais se destacou nesta pesquisa. Tomamos por base o total de vogais médias usadas [e] e [o], que foi de 593 ocorrências, o que equivale a 100% e, a partir desse resultado, obtivemos o equivalente de ocorrência em % (porcentagem). Obtemos os seguintes resultados nas 1ª, 2ª e 3ª faixas etárias respectivamente, de [e] > [i] 22,42%; 14,67% e 11,29%, e de [o] > [u] 10,62%; 6,41% e 4,22%, o que representa um acentuado uso pelos falantes de 1ª faixa, comprovando mais uma vez que os falantes mais jovens são os que mais inovam no uso de um determinado fenômeno linguístico, com o objetivo de facilitar a comunicação lingüística e de marcar ao modo de falar de seu grupo.

(12)

3 6 , 5 9 % 1 0 , 9 1 % 1 1 , 1 6 % 1 , 8 5 % 2 0 , 0 6 % 3 , 8 7 % 1 2 , 1 4 % 3 , 3 8 % 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40%

[e]>[i] [e] s.alt. [o] > [u] [o] s. alt

Alfabetizados Não Alfabetizados

Com relação às palavras que não sofreram o alçamento, diante de uma vogal pretônica, encontramos os seguintes resultados para [e] 6,57%; 5,05% e 2,69% e para [o] 3,89%; 8,26% e 3,89%.

A última variável social pesquisada foi o nível de escolaridade dos falantes, em que os dividimos em analfabetos e alfabetizados, até o ensino fundamental cujo objetivo é verificar se quanto maior o nível de escolaridade (VOTRE, 2003) menor o processo de alçamento das vogais pretônicas.

Gráfico 3 – uso das vogais pretônicas de acordo com o nível de escolaridade do falante

De acordo com os dados do gráfico 3 podemos observar que o alçamento das vogais pretônicas ficou diversificado, e tanto alfabetizados como não alfabetizados usaram as vogais na sua forma inovadora, fato que confirma a tendência de alçamento das vogais pretônicas no português falado no Brasil.

Nas variações de [e] > [i] e de [o] > [u] tivemos os resultados 36,59% e 20,06% para os informantes alfabetizados respectivamente. Já para os informantes não alfabetizados tivemos os percentuais de 10,92% e 3,87% das ocorrências colhidas no corpus da pesquisa, o que confirma que a variável nível de escolaridade do falante na é

(13)

um fator de revelância para o favorecimento ou desfavorecimento do alçamento das vogais pretônicas, tendo em vista a tendência anteriormente comentada.

O percentual de palavras que não sofreram o processo de alçamento foi de 11,16% para os alfabetizados e de 1,85 para os não alfabetizados, nas vogais [e], enquanto nas vogais [o] encontramos os seguintes resultados 12,48% para alfabetizados e 3,38% para não alfabetizados.

Diante dos resultados obtidos, podemos dizer que, a pesar do ensino normativo tentar impor uma variante como ‘‘correta’’, o que prevaleceu nos nossos dados foram as vogais altas [i] e [u] que são usadas com mais frequência na linguagem douradense. O que nos leva a concluir que esse fenômeno está presente na comunidade e já possui certa aceitação pelos falantes, independente do seu nível de escolaridade, dado que sua utilização não é estigmatizada.

Considerações finais

O objetivo desta pesquisa foi descrever e interpretar o uso das vogais pretônicas [e] e [o] no português falado em Dourados e apresentar os fenômenos linguísticos e extranlinguísticos que condicionam o uso no falar local.

Para obter os resultados esperados, entrevistamos moradores nascidos ou residentes a mais de dez anos na cidade de Dourados. Com estes dados em mãos analisamos os processos fonético-fonológicos presente na fala dos informantes homens e mulheres de idade e nível de escolaridade diferenciados.

A partir desses resultados obtidos nos exemplos de fala retirados do corpus da pesquisa, podemos dizer que o uso das vogais pretônicas [e] e [o], obedece à regra de harmonização vocálica, em que ocorre uma assimilação das vogais em relação às sílabas tônicas, corroborando os resultados apresentados por Almeida (2008) (apud BISOL, 1988) e por Oliveira (2009).

(14)

Por meio dos dados das entrevistas realizadas com os moradores da cidade de Dourados, podemos dizer que, a variável gênero se apresenta com maior relevância em relação ao uso das vogais, pois sabemos que mulheres e homens usam estratégias linguísticas diferentes para interagir com os demais membros da sociedade e normalmente compartilham meios sociais também distintos.

Por fim, a pesquisa realizada em Dourados demonstra a importância de conhecer a realidade linguística e social na comunidade, pois quando entendemos a história que leva uma determinada região ser como é, respeitamos e valorizamos os hábitos e costumes. E essa pesquisa ajuda a compreender a maneira dos douradenses se expressarem, o que contribui para os estudos sociolinguísticos realizados no Estado de Mato Grosso do Sul.

Referências

CÂMARA JR, J. M. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis – RJ: vozes, 1988. BAGNO, M. Preconceito linguístico, o que é como se faz. São Paulo: Loyola, 2003. BUENO, E. S. da S. e SAMPAIO, E. D. (Orgs.). Estudos da linguagem e de

literatura - um olhar para o lato sensu. 1ª. ed. Dourados-MS: Editora UEMS, 2009.

FARACO, C. A. Linguística Histórica. São Paulo: Parábola, 2005. LABOV, W. Modelos sociolinguísticos. Madrid: Cátedra, 1983

LEITE, Y. & CALLOU, D. Como falam os brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, série descobrindo o Brasil, 2002.

LEMLE, M. Heterogeneidade dialetal: um apelo à pesquisa: Tempo Brasileiro, 1978, p 60-94.

NARO, J. A. Idade. In: MOLLICA, M. C. e BRAGA, M. L. (orgs.). Introdução à

sociolinguística – o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003.

MOLLICA, M. C. e BRAGA, M. L. Introdução à sociolinguística – o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003.

(15)

OLIVEIRA, B. G. A. M. de, A linguagem em Paranhos: Aspectos Sociolinguísticos. Três Lagoas – MS: UFMS, 2009. (Dissertação de Mestrado)

PAIVA, M. C. Gênero/ sexo. In: MOLLICA, M. C. e BRAGA, M. L. (orgs.).

Introdução à sociolinguística – o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003.

TARALLO, F. A pesquisa sociolinguística. São Paulo: Ática, 2007.

Recebido Para Publicação em 30 de maio de 2011. Aprovado Para Publicação em 4 de julho de 2011.

Referências

Documentos relacionados

O Museu Digital dos Ex-votos, projeto acadêmico que objetiva apresentar os ex- votos do Brasil, não terá, evidentemente, a mesma dinâmica da sala de milagres, mas em

nhece a pretensão de Aristóteles de que haja uma ligação direta entre o dictum de omni et nullo e a validade dos silogismos perfeitos, mas a julga improcedente. Um dos

Equipamentos de emergência imediatamente acessíveis, com instruções de utilização. Assegurar-se que os lava- olhos e os chuveiros de segurança estejam próximos ao local de

Tal será possível através do fornecimento de evidências de que a relação entre educação inclusiva e inclusão social é pertinente para a qualidade dos recursos de

Luiz é graduado em Engenharia Elétrica com ênfase em Sistemas de Apoio à Decisão e Engenharia de Produção com ênfase em Elétrica pela PUC/RJ e possui Mestrado

De acordo com estes resultados, e dada a reduzida explicitação, e exploração, das relações que se estabelecem entre a ciência, a tecnologia, a sociedade e o ambiente, conclui-se

Completado este horário (09h do dia 24 de fevereiro), a organização encerra os revezamentos e fecha a área de troca, não sendo mais permitida a entrada de nenhum atleta

5.2.10 Durante a entrevista, todos os candidatos deverão apresentar a Identidade Profissional ou Protocolo do Conselho Regional de Enfermagem – COREN, bem como o comprovante