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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA

Ementa: Representação. Crimes de concussão (art. 316, do CP) e de advocacia administrativa (art. 321). Afastamento cautelar, art. 319, IV, CPP

HUMBERTO SÉRGIO COSTA LIMA, brasileiro, casado,

Senador da República (PT/PE)portador da carteira de identidade RG nº 1167257, inscrito no CPF/MF 152.884.554-49, com endereço funcional na Esplanada dos Ministérios, Praça dos Três Poderes, Senado Federal, Anexo II, Bloco A, Ala Teotônio Vilela, Gabinete 25, CEP 70.165-900, Brasília, DF;

LUIZ LINDBERGH FARIAS FILHO, brasileiro, casado,

Senador da República (PT/RJ), portador de cédula de identidade RG 13.449.272-7 - IFP/RJ, inscrito no CPF 690.493.514-68, com endereço funcional na Esplanada dos Ministérios, Praça dos Três Poderes, Senado Federal, Anexo II, Bloco A Ala Teotônio Vilela, Gabinete 11, CEP 70.165-900, Brasília, DF;

(2)

AFONSO BANDEIRA FLORENCE, brasileiro, casado,

deputado federal, portador da cédula de identidade nº 15.127.532-7, inscrito no CPF nº 177.341.505-00, com endereço funcional na Câmara dos Deputados – Anexo IV – Gabinete nº 317 – Brasília/DF

JANDIRA FEGHALI, brasileira, divorciada, Deputada

Federal (PC do B /RJ), portador da CI nº 035238062 / Detran -RJ e CPF nº 434.281,697-00, atualmente, com domicílio na Câmara dos Deputados – Anexo IV – Gabinete 622, Brasília, DF;

MARIA DE FÁTIMA BEZERRA, Senadora da República

(PT/RN), portadora de cédula de identidade RG n.º 285.404 SSP/RN, inscrita no CPF n.º 160.257.334.49, com endereço funcional na Esplanada dos Ministérios, Praça dos Três Poderes, Senado Federal, Anexo II, Bloco A Ala Teotônio Vilela, Gabinete 03, CEP 70.165-900, Brasília, DF;

VANESSA GRAZZIOTIN, brasileira, casada, Senadora da

República (PC do B/AM), portadora de cédula de identidade RG nº 8/R472659 SEG/SC, inscrita no CPF nº 161.146.202.91, com endereço funcional na Esplanada dos Ministérios, Praça dos Três Poderes, Senado Federal, Anexo II, Bloco A Subsolo, Ala Alexandre Costa, Gabinete 03, CEP 70.165-900, Brasília, DF;

PAULO ROBERTO GALVÃO DA ROCHA, brasileiro, em

união estável, Senador da República (PT/PA), portador da carteira de identidade RG nº 2313776, inscrito no CPF nº 023.660.102-49, com endereço funcional na Esplanada dos Ministérios, Praça dos Três Poderes, Senado Federal, Anexo II, Bloco A, Ala Teotônio Vilela Gabinete 08, CEP 70.165-900, Brasília/DF;

PAULO RENATO PAIM, brasileiro, casado, Senador da

República (PT/RS), portador de cédula de identidade RG nº 2587611, inscrito no CPF nº 110.629.750-49, com endereço funcional na Esplanada dos

(3)

Ministérios, Praça dos Três Poderes, Senado Federal, Anexo I, 22º Andar, CEP 70.165-900, Brasília/DF;

JORGE NEY VIANA MACEDO NEVES, brasileiro,

casado, Senador da República, portador da carteira de identidade nº 64331 SSP/AC, inscrito no CPF nº 969.804.868-53, com endereço funcional na Esplanada dos Ministérios, Praça dos Três Poderes, Senado Federal, Anexo II, Bloco B, Ala Ruy Carneiro Gabinete 01, CEP 70.165-900, Brasília/DF;

MARIA REGINA SOUSA, brasileira, solteira, Senadora da

República, portadora da carteira de identidade nº 113867, inscrita no CPF nº 053.54733-34, com endereço funcional na Praça dos Três Poderes, Senado Federal Anexo II Bloco A Térreo Ala Afonso Arinos Gabinete 06, CEP 70.165-900, Brasília/DF;

GLEISI HELENA HOFFMANN, brasileira, casada,

Senadora da República (PT/PR), portadora de cédula de identidade RG nº 3996866-5 SSP/PR, inscrita no CPF sob nº 676.770.619-15, com endereço funcional na Esplanada dos Ministérios, Praça dos Três Poderes, Senado Federal, Ala Teotônio Vilela, gabinete 04, CEP 70.165-900, Brasília/DF;

ÂNGELA MARIA GOMES PORTELA, brasileira, casada,

Senadora da República, portadora da carteira de identidade nº 1.499.828-0 e inscrita no Cadastro das Pessoas Físicas sob nº 199.653.032-15, com endereço funcional na Praça dos Três Poderes, Senado Federal Anexo II Bloco A Térreo Ala Afonso Arinos Gabinete 10, CEP 70.165-900, Brasília/DF;

JOSÉ BARROSO PIMENTEL, brasileiro, divorciado,

Senador da República (PT/CE) portador da carteira de identidade RG nº 2007645124-5, inscrito no CPF/MF 065.325.353-20, com endereço funcional na Esplanada dos Ministérios, Praça dos Três Poderes, Senado Federal, Anexo I, 23º andar, CEP 70.165-900, Brasília, DF, vêm, por seus advogados

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abaixo subscritos, com fundamento no artigo 5º, XXXIV, letra "a"1, art. 102,

I, c2, e art. 129 da Constituição Federal3,

REPRESENTAÇÃO

Contra GEDDEL QUADROS VIEIRA LIMA, brasileiro,

casado, Ministro de Estado da Secretaria de Governo da Presidência da República, portador da cédula de identidade 1258932, e inscrito no CPF/MF 220.627.341-15, com endereço profissional na Praça dos Três Poderes, Palácio do Planalto, 4ºandar, CEP: 70.150-900, Brasília-DF, tendo em vista a revelação de veementes indícios da prática de condutas criminosas tipificadas nos arts. 316 (concussão) e 321 (advocacia administrativa) do Código Penal que ensejam a necessidade da competente persecução penal, bem como a adoção de providência perante o Supremo Tribunal Federal, a fim de que seja adotada medida acautelatória prevista no art. 319, VI do Código de Processo Penal, suspendendo-o do exercício da função pública.

I - DOS FATOS

1. No último dia 19 de Novembro de 2016, foi revelado em

entrevista concedida pelo ex-ministro de Estado da Cultura, Sr. Marcelo

1 Art. 5º...

XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:

a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;

2 Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição,

cabendo-lhe:

I - processar e julgar, originariamente:

c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999)

3 Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;

II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;

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Calero, ao jornal “Folha de São Paulo”4, o fato de que o Sr. GEDDEL

VIEIRA LIMA o procurou pelo menos cinco vezes —por telefone e

pessoalmente— para que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), órgão subordinado ao Ministério da Cultura, aprovasse o projeto imobiliário La Vue Ladeira da Barra, nos arredores de uma área tombada em Salvador.

2. De acordo com relato do ex-ministro, desde o início de sua

gestão à frente do Ministério da Cultura foi informado de articulações políticas em prol da liberação do citado empreendimento que, está sujeito a regramento especial por estar no entorno de área tombada.

3. Segundo, as informações apresentadas, o empreendimento

possuía manifestação favorável ao seu prosseguimento expedida pela Superintendência do Estado da Bahia do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, em 2014, ao passo que o órgão central do Instituto expede parecer, já no ano de 2016, concluindo que o empreendimento compromete a visibilidade de pelo menos três bens tombados, exigindo, portanto, sua adequação.

4. Em junho de 2016, conforme revela a reportagem do Jornal

Folha de São Paulo, pouco depois de assumir o cargo de Ministro de Estado da Cultura, o Sr. Marcelo Calero passa a ser procurado pelo Sr. GEDDEL

QUADROS VIEIRA LIMA, que lhe relata como absurda a esta última

decisão do IPHAN sobre a necessidade de adequação do empreendimento, e que tal decisão deveria ser reanalisada.

5. No mês de julho de 2016, foi identificado pelo órgão central do

IPHAN falha processual que provocou a revogação do parecer contrário à

4 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/11/1833696-fora-do-governo-calero-acusa-geddel-de-pressiona-lo-para-liberar-obra.shtml .

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obra e determinando a reabertura de prazo para a defesa da empreitera responsável pela obra se manifestar.

6. Com efeito, a manifestação da empreiteira não se mostrou apta

a alterar o entendimento técnico do órgão central do IPHAN, tendo sido mantido o entendimento contrário à liberação da obra.

7. A pressão ao então Minsitro de Estado da Cultura se intensifica

e o mesmo diz ter sido cobrado pelo menos por quatro vezes pelo Sr.

GEDDEL QUADROS VIEIRA LIMA, nos dias 28/10 e 6/11 por telefone

e pessoalmente, nos dias 31/10, no próprio gabinete do sr. GEDDEL QUADROS VIEIRA LIMA, e no dia 16/11, na entrada de jantar oferecido pelo Sr. Presidente da República a Senadores.

8. Ainda no dia 16 de Novembro o IPHAN concluiu seu parecer

contrário à obra, determinando sua readequação ao gabarito formulado pelo instituto. No dia seguinte interlocutores ligados ao Sr. GEDDEL

QUADROS VIEIRA LIMA intensificam a pressão sobre o então Ministro

de Estado da Cultura, a fim de que ele apresentação parecer divergente ao do instituto a ele subordinado para que o caso pudesse ser definido pela Advocaica Geral da União.

9. Em 18/11 o Sr. Marcelo Calero pede demissão de seu cargo de

Ministro.

10. Conforme claramente demonstrado pelos fatos narrados acima

há indícios veementes da prática de condutas criminosas praticadas pelo Sr.

GEDDEL QUADROS VIEIRA LIMA, Ministro de Estado, chefe da

Secretaria de Governo da Presidência da República II - DO DIREITO

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11. A presente representação visa assegurar a tutela de interesses de natureza difusa materializados em flagrante lesão aos princípios que regem a Administração Pública, de forma mediata, e de forma direta e imediata, visa assegurar a tutela jurídica da Administração Pública violada por crimes classificados na lei penal como “Crimes contra a Administração Pública”.

12. A lei penal assim dispõe sobre o crime de concussão:

Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

13. A narração dos fatos feita pelo ex-Ministro de Estado da Cultura

é clara em apontar a subsunção da conduta do Sr. GEDDEL QUADROS

VIEIRA LIMA com referido crime. Quanto ao núcleo do tipo penal,

consistente no verbo exigir , as declarações são cristalinas, merecendo

destaque a frase proferida, pelo Sr. Calero:

O ministro Geddel tem uma forma de contato muito truculenta e assertiva, para dizer o mínimo.

14. Conforme se lê da entrevista do então Ministro de Estado da

Cultura publicada no último dia 19, o Sr. GEDDEL QUADROS VIEIRA

LIMA lhe fez ligações bastante insistentes a partir de interlocutores,

além de ter interpelado pelo recebimento de advogados.

15. É certo que, conforme esclarece autorizada doutrina, para a

configuração do crime de concussão basta o temor genérico despertado no sujeito passivo, não sendo sequer imprescindível a inflição de um mal

determinado5, e das declarações contidas na entrevista resta clarividente que

referido temor ao sujeito passivo foi claramente alcançado.

5 A respeito Luiz Regis PRADO. Curso de Direito Penal Brasileiro , vol. 3. 9ª ed. São Paulo: Revista

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16. Em entrevista a outro veículo de comunicação fica ainda mais evidente o preenchimento do núcleo do tipo:

"Não desejo isso pra ninguém. Estar diante de uma pressão política, diante de um caso claro de corrupção. Venho aqui de cabeça erguida e peito aberto.

Desde o primeiro momento eu fui muito claro, que nada fora do script, do roteiro, iria acontecer. Nem que isso custasse eu sair do ministério. Tenho uma responsabilidade com as pessoas em nome de um projeto", ressaltou o ex-ministro.6

17. A conduta ilícita do Sr. GEDDEL QUADROS VIEIRA LIMA

só foi possível por sua condição de Ministro de Estado diretamente ligado ao Sr. Presidente da República, dotado da ousadia de exercer pressão sobre o colega e ainda, envolver diretamente, o Sr. Presidente da República em sua conduta ilícita, ameaçando acionar o chefe do Poder Executivo para legitimar o atendimento a seu interesse pessoal:

[Marcelo Calero] “Depois disso, eu disse para a Kátia: "Tome a decisão que tiver de tomar. Se eu perder o meu cargo por isso, não há problema. Eu saio. Eu só não quero meu nome envolvido em lama, em suspeita, qualquer que seja, de que qualquer agente público possa ser supostamente beneficiado pelo fato de que ele exerce

pressão sobre mim". No domingo seguinte, recebi outra

ligação do ministro Geddel.

[repórter] Depois do dia 28 de outubro?

[Marcelo Calero] Eu estava em evento da Federação Israelita no Rio. Nessa ligação, Geddel disse que havia rumores na Bahia de que o Iphan nacional iria negar a construção.

Ele disse: "Então você me fala, Marcelo, se o assunto está equacionado ou não. Não quero ser surpreendido com uma decisão e ter que pedir a cabeça da presidente do Iphan. Se for o caso eu falo até com o

presidente da República".

(...)

6 Disponível em: http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/11/nao-desejo-isso-para-ninguem-diz-calero-sobre-pressao-de-geddel.html

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[Marcelo Calero] Estou fora da lógica desses caras, não sou político profissional. Não tenho rabo preso. Não estou aqui para fazer maracutaia. Nós precisamos ter a coragem de dizer: "Daqui eu não passo". Vou voltar a ser um diplomata de carreira que passou em quinto lugar num concurso, estudando e trabalhando ao mesmo tempo.

Se for para fazer errado, vou embora. Ele só me disse que tinha apartamento no prédio em 28 de outubro.

[repórter] Isso foi dito por ele próprio?

[Marcelo Calero] Sim, e me repetiu no dia 31: "Já me disseram que o Iphan vai determinar a diminuição dos andares. E eu, que comprei um andar alto, como é que

eu fico?".

No evento da Ordem do Mérito Cultural, ele disse: "E as famílias que compraram aqueles imóveis? Eu comprei com a maior dificuldade com a minha mulher" (grifo nosso).

18. Há aqui a clara configuração do elemento subjetivo do injusto,

consistente no fim especial de agir do Sr. GEDDEL QUADROS VIEIRA

LIMA, manifestado pelo benefício próprio amealhado com sua conduta,

exaurindo a expressão legal que identifica no tipo subjetivo a vantagem indevida exigida para si ou para outrem:

“Até que, no dia 28 de outubro, uma sexta-feira, por volta de 20h30, recebo uma ligação do ministro Geddel dizendo que o Iphan estava demorando muito a homologar a decisão do Iphan da Bahia.

Ele pede minha interferência para que isso acontecesse, não só por conta da segurança jurídica, mas

também porque ele tem um apartamento naquele

empreendimento. Ele disse: "E aí, como é que eu fico nessa história?"

19. Tanto a vantagem indevida fora exigida para seu benefício que o

Sr. GEDDEL QUADROS VIEIRA LIMA disse expressamente ao ex-ministro de Estado da Cultura, conforme destacado no excerto acima, que havia comprado apartamento no empreendimento em andar afetado pela decisão do órgão subordinado ao interlocutor. Tal fato se torna incontroverso diante de entrevistas concedidas pela autoridade representada, em que admite claramente ter tratado do tema com o então Ministro de Estado da Cultura:

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“Tenho uma promessa de compra e venda de um apartamento no empreendimento de 2015, no 23º andar.

Adquiri um apartamento depois de morar 22 anos no meu antigo apartamento eu pretendia mudar com minha família. Mas isso não me tira a legitimidade. Aliás, me dá legitimidade para mostrar que o que estava se fazendo era um equívoco7. (grifo nosso)

20. É nítido que além de ter sido alcançado o temor no sujeito passivo tanto pela ação direta quanto indireta do Sr. GEDDEL

QUADROS VIEIRA LIMA, esta ação objetivava vantagem pessoal

indevida, o que também se demonstra pela própria manifestação da Presidenta do IPHAN, que publicou a seguinte mensagem interna sobre o assunto e os interesses nele envolvidos:

Mensagem interna da Presidente Kátia Bogéa aos servidores do IPHAN

SOMOS TODOS IPHAN

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), há 80 anos, cumpre com um dos mais significativos papéis do Estado Brasileiro. Porém, não é sem luta que o Brasil, por ação direta do Iphan, vem protegendo seu riquíssimo e multifacetado patrimônio cultural. Desde 1937, homens e mulheres da grandeza intelectual de Mário de Andrade, Rodrigo Melo Franco de Andrade, Manuel Bandeira, Gilberto Freyre, Afonso Arinos de Melo Franco, Heloisa Alberto Torres, Lucio Costa, Carlos Drummond de Andrade, Renato Soeiro, Augusto Carlos da Silva Telles, Aloísio Magalhães, entre tantos outros, não pouparam esforços e dedicaram boa parte de suas vidas para dignificar o Iphan e preservar nosso Patrimônio. Com a mesma dignidade e dedicação, gerações de servidores do Iphan vem se sucedendo, cada uma atuando na mais restrita observância dos preceitos técnicos, legais e éticos que sempre caracterizam a Instituição.

O episódio que envolve a construção de edifício em altura impactando bens tombados não é o primeiro que se apresenta ao Iphan. Tampouco, não será a última vez que argumentos que, em nome da crise e da criação de empregos, serão utilizados para acobertar os reais

7 Disponível em: http://politica.estadao.com.br/blogs/coluna-do-estadao/geddel-tratei-do-tema-com-calero-mas-nao-o-pressionei/

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interesses por trás de empreendimentos do tipo. Trata-se de, para tentar fragilizar a atuação do Iphan, mais uma vez, levantar a falsa e velha dicotomia entre "desenvolvimento" e "preservação".

Cabe ressaltar que, desde 1938, o Iphan atua no sentido de proteger o rico patrimônio cultural do Brasil. Em Salvador, concentra-se a maioria dos bens tombados do estado da Bahia. Especialmente no bairro da Barra, ao Iphan cabe preservar o forte e farol de Santo Antônio, o forte de Santa Maria, o conjunto arquitetônico, paisagístico e urbanístico do Outeiro de Santo Antônio (que inclui o forte de São Diogo), além da própria Igreja de Santo Antônio.

Em 16 de novembro de 2016, o Iphan decidiu pelo embargo do empreendimento La Vue, localizado na Av. Sete de Setembro, Ladeira da Barra, Salvador (BA). Para tanto, foi anulada a autorização concedida pela Superintendência, em 4 de novembro de 2014, que não considerou os parâmetros definidos no Decreto-lei nº 25/1937.

O empreendimento proposto conta com 97,88 metros de altura num total de 31 pavimentos, sendo 23 pavimentos de apartamento tipo, 2 pavimentos para o apartamento de cobertura, 2 pavimentos sociais, 3 pavimentos de garagem e 1 pavimento em subsolo.

Garantido o direito a ampla defesa e ao contraditório, e esgotadas todas as possibilidades de recursos administrativos, a decisão foi tomada em última instância, considerando todas as argumentações técnicas e jurídicas apresentadas pelos interessados - responsáveis pelo empreendimento e pela sociedade civil organizada - ao IPHAN, e após a realização de uma série de estudos técnicos, cujo objetivo último era verificar o impacto do empreendimento nos bens tombados em sua vizinhança, nos termos do Decreto-Lei nº25/1937.

Diante da decisão, cabe ao responsável pelo empreendimento o direito de apresentar nova proposta de edificação que respeite visibilidade e a ambiência dos bens protegidos.

É importante registrar que o Ministro Marcelo Calero em nenhum momento interferiu em qualquer decisão técnica do Iphan. Ao contrário, garantiu o livre e soberano posicionamento técnico da instituição, pela qual sempre demonstrou apreço e respeito.

Por fim, reafirmamos nosso compromisso com o fortalecimento da Instituição -cuja trajetória ilibada é reconhecidamente pautada em preceitos técnicos e pela retidão de todos nós, servidores- com a sociedade e com a identidade do País.

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#somosTodosIPHAN 8

21. Com efeito, resta claro o exaurimento dos elementos do crime

de concussão e, se disso não se convencer o Sr. Procurador Geral da República, a quem compete a propositura da ação penal, irrefutável que o Sr. GEDDEL QUADROS VIEIRA LIMA patrocinou interesse privado seu e dos empreendedores da obra da qual confirma deter direitos sobre uma unidade, o que se torna incontroverso, por suas próprias declarações, citadas no item 19 desta peça.

22. Neste caso, irrefragável a aplicação da compreensão que havia interesse ilegítimo da parte do Sr. GEDDEL QUADROS VIEIRA

LIMA, seja não apenas no sentido da avaliação acerca das irregularidades

da obra, mas sobretudo, ilegítimo do ponto de vista da moralidade administrativa, que impede que um agente público do alto escalão do Poder Executivo se aproveite de sua condição para patrocinar seus interesses pessoais, causando constrangimento a outro Ministro de Estado e a órgão público a ele subordinado.. Cabível, portanto, a conduta qualificada, art. 321, parágrafo único e a causa de aumento do art. 327, § 2º dada a condição de Ministro de Estado da autoridade representada.

23. A relevância, a lesividade e a reprovabilidade das condutas praticadas pelo Sr. GEDDEL QUADROS VIEIRA LIMA, ficam ainda mais agudas diante do prestígio que o mesmo goza junto ao Presidente da República que até o momento se mostrou inerte diante da situação, conforme também noticiado pela imprensa:

“O senhor conversou com o presidente Michel Temer. O que ele falou disso?

8 Publicada pelo Jornal Folha de São Paulo, disponível em:

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/11/1833982-em-mensagem-a-servidores-presidente-do-iphan-defende-decisao-de-orgao.shtml

(13)

Falei de manhã com Temer. Eu liguei para o presidente e ele disse: ‘apresente sua resposta com tranquilidade. Não tem nada de problemático disso não, só o desgaste. Recebi dele o maior apoio. Sereno, tranquilo, ele compreende perfeitamente.9

24. Torna-se, assim, imprescindível a tomada das providências junto ao Poder Judiciário para que ocorra o afastamento cautelar do Sr.

GEDDEL QUADROS VIEIRA LIMA, da função de Ministro de Estado,

conforme dispõe o art. 319, VI do Código de Processo Penal.

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: ....

VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;:

25. A medida visa acautelar a lisura e imparcialidade das investigações, evitando-se que, diante dos fortes indícios de práticas de infrações penais e administrativas por parte do Sr. Ministro, violem-se direitos individuais de pessoas investigadas, bem como, sejam criados embaraços à atividade dos órgãos do sistema de justiça criminal.

III – DOS PEDIDOS

26. Por todo o exposto, requer-se, por meio da presente

representação a este Ministério Público Federal, a adoção de providências necessárias à investigação dos fatos narrados, bem como a propositura da competente Ação Penal.

27. Requer, ainda, sejam pleiteadas as necessárias medidas acautelatórias, a fim de que evitar a reiteração da prática e adensamento da

9 Disponível em: http://politica.estadao.com.br/blogs/coluna-do-estadao/geddel-tratei-do-tema-com-calero-mas-nao-o-pressionei/

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lesão ao erário, com suporte na previsão do art. 12 da Lei da Ação Civil Pública.

28. Protesta-se, ainda, pela juntada dos documentos em anexo, e,

indica-se os seguintes meios de comunicação para as comunicações junto aos

representantes: lidpt@senado.leg.br ; gabrielcs@senado.leg.br;

alberto.moreira@camara.leg.br; fone: (61) 33033191.

Termos em que, Pede Deferimento.

Brasília, 21 de Novembro de 2016.

GABRIEL DE CARVALHO SAMPAIO

OAB/SP nº 252.259

SAMUEL GOMES DOS SANTOS

OAB-PR n.º 15121

ROMEU OLMAR KLICH

OAB-DF n.º 49.056

ALBERTO MOREIRA RODRIGUES

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