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Comportamento do nitrato em poços do aquífero Dunas/Barreiras nas explotações Dunas e Planalto, Natal, RN, Brasil

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Academic year: 2021

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Comportamento do nitrato em poços do

aquífero Dunas/Barreiras nas explotações

Dunas e Planalto, Natal, RN, Brasil

Nitrate behavior in Dunas/Barreiras aquifer wells in Dunas

and Planalto exploitations, Natal, RN, Brazil

Natalina Maria Tinôco Cabral

Doutora em Hidrogeologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Pesquisadora no Laboratório de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (LARHISA) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Antonio Marozzi Righettto

Doutor em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia Civil São Carlos, Universidade de São Paulo (USP). Professor Titular do LARHISA, UFRN

Marcelo Augusto Queiroz

Hidrogeólogo da Companhia de Água e Esgoto do Rio Grande do Norte (CAERN)

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo avaliar o comportamento do nitrato em duas captações do aquífero Dunas/Barreiras na porção Sul de Natal (RN), abrangendo os bairros do Tirol, Nova Descoberta e Planalto. Os resultados mostram que, no bairro densamente povoado e com um histórico mais antigo de

ocupação, os valores de nitrato estão acima do limite máximo de potabilidade vigente (10 mg/L N-NO

-3). No bairro com histórico de ocupação mais recente

e com densidade populacional mais baixa, os teores de nitrato são baixos, mas mostram clara evidência de crescimento. Os dados indicam, portanto, que a contaminação por nitrato está relacionada, entre outras causas, à densidade populacional e ao histórico de ocupação urbana.

Palavras-chave: aquífero Dunas/Barreiras; nitrato; densidade populacional.

Abstract

This paper aims at evaluating the nitrate contamination in groundwater in two sets of exploitation wells located at Dunas/Barreiras aquifer in Natal (RN), Brazil, comprising the neighborhoods Tirol, Nova Descoberta and Planalto. Data interpretation demonstrated that in the long-time occupied region, groundwater has

nitrate concentrations above the allowed limit value (10 mg/L N-NO

-3). Whereas, data collected in recently occupied area show that the presence of nitrate is

sufficiently low, but reveals that its concentration is increasing with time. In conclusion, nitrate concentrations indicate that contamination is related to population density and with urban occupancy history.

Keywords: Dunas/Barreiras aquifer; nitrate; population density.

Endereço para correspondência: Natalina Maria Tinôco Cabral – Rua João das Estivas, 1.797/1.303 – Barro Vermelho – 59030-640 – Natal (RN), Brasil – Tel.: (84) 3213-8504 – E-mail: natalinacabral@gmail.com

Introdução

A Companhia de Saneamento e Esgoto do Rio Grande do Norte (CAERN) distribui cerca 95 milhões de m3 de água ao ano para a

população de Natal (RN), sendo que 65% é proveniente de águas subterrâneas e o restante, das águas superficiais das lagoas de Jiqui e Extremoz, localizadas na periferia da cidade. As águas subterrâneas representam, portanto, a mais importante fonte de suprimento hídri-co da população.

Apesar da importância que as águas subterrâneas representam para o abastecimento da cidade de Natal, sua qualidade, a cada dia, se dete-riora em decorrência das crescentes atividades urbanas. Dentre as ativi-dades mais impactantes, destaca-se a infiltração no solo de águas servi-das servi-das fossas e sumidouros, pois cerca de 70% dos esgotos domésticos produzidos são lançados no subsolo (RIGHETTO; ROCHA, 2005).

A inexistência de sistema de esgotamento sanitário e de trata-mento que possibilite a disposição final adequada aos esgotos do-mésticos, já compromete o manancial subterrâneo da cidade, a julgar

(2)

pelos teores de nitrato acima do padrão de potabilidade da Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde, que é 45 mg/L - NO

-3 (10 mg/L

NO

-3 - N) encontrados em água de poços que abastecem Natal. De

acordo com a CAERN, vários poços que ultrapassaram esse limite foram fechados, enquanto outros ainda se encontram em operação graças à diluição efetuada pela concessionária, por meio da mistura de águas provenientes de mananciais superficiais.

Vale destacar que o nitrato (NO

-3) é um contaminante persistente,

com grande mobilidade, não degrada facilmente em meio aeróbico e, em teores acima de 10 mg/L N-NO

-3, pode causar doenças como

me-tahemoglobinemia (WHO, 2008) e câncer gástrico (INCA,2009). De acordo com Wilhelm, Schiff e Cherry (1994), o principal mecanismo de degradação é a desnitrificação, que exige um ambiente redutor, presença de bactérias desnitrificantes, carbono facilmente degradável ou uma substância equivalente receptora de elétrons, ou seja, condi-ções raras no ambiente de água subterrânea.

A ocorrência de contaminação de aquíferos por espécies nitroge-nadas, provenientes de sistema sépticos e/ou de práticas inadequadas de saneamento, tem sido documentada por diversos trabalhos em vários países. Esses trabalhos, em sua maioria, quantificam e estu-dam o comportamento dessas espécies, correlacionando-as a outros constituintes químicos e à densidade populacional ou, ainda, compa-rando os teores obtidos em áreas saneadas aos de áreas não saneadas. Dentre esses, destacam-se: Robertson (1979); Robertson et al (1991).

Poucos trabalhos, entretanto, analisam com detalhe a evolução geo-química dos efluentes em sistemas sépticos, que ocorrem tanto na zona não saturada quanto na zona saturada e, principalmente, as transformações da série nitrogenada, em especial as questões associa-das à desnitrificação (WILHELM; SCHIFF; CHERRY, 1994).

No Brasil, existem vários estudos que abordam a contaminação de aquíferos por nitrato e amônio provenientes de efluentes domés-ticos. Dentre esses, podem ser citados os estudos de Szikszay et al

(1990), Melo (1995) e Melo, Queiroz e Hunziker (1998). Há, ainda, trabalhos que começam a detalhar, principalmente por meio de expe-rimentos de campo, o comportamento geoquímico da série nitroge-nada, a exemplo de Cabral (2004) e Varnier (2001; 2007).

O presente trabalho tem como objetivo avaliar o comportamento do nitrato em duas captações da porção Sul de Natal, abrangendo os bairros do Tirol, Nova Descoberta e Planalto. Será desenvolvida uma comparação entre os bairros já beneficiados com rede de esgo-to, densamente povoados e com história de ocupação antiga (Tirol e Nova Descoberta: captação Dunas) com o bairro onde esse serviço é inexistente, mas com menor densidade populacional e com histórico de ocupação mais recente (Planalto: captação Planalto).

Características hidrogeológicas da área

A área de estudo está situada na bacia sedimentar costeira a les-te do Estado do Rio Grande do Norles-te. É composta por sedimentos

tercio-quaternários do Grupo Barreiras que estão sobrepostos a ro-chas carbonáticas cretáceas e, em grande parte, recobertos por du-nas. Em termos litológicos, os sedimentos Barreiras são formados por arenitos finos e argilosos na porção superior e arenitos mais gros-seiros na porção inferior. As dunas são areias finas, homogêneas e esbranquiçadas.

Estudo realizado por Melo (1995) mostra que os sedimentos tercio-quaternários guardam um sistema hidráulico único denomi-nado sistema aquífero dunas, Barreiras. Esse sistema comporta-se, no geral, como livre, porém, localmente, pode desenvolver condições de semiconfinado.

De acordo com Melo, Queiroz e Hunziker (1998), a espessura dos sedimentos Dunas/Barreiras é de 90 m, com espessura satura-da efetiva de cerca de 40 m. Os parâmetros hidrodinâmicos obtidos para o sistema na porção sul de Natal são os seguintes: condutividade hidráulica variando de 8,5 x 10-5 a 3,1 x 10-4 m/s; transmissividade

de 3,1 x 10-3 a 1,2 x 10-2 m2/s e porosidade específica de 10%. Em

condições naturais, as águas subterrâneas na região de Natal são de excelente qualidade, muito embora áreas expressivas da cidade já es-tejam contaminadas por nitrato (teores acima de 45 mg/L NO

-3 ou

10 mg/L N -NO -3)

Características dos bairros

Neste estudo, serão apresentados dados de nitrato de duas cap-tações: Dunas, nos bairros de Tirol, Nova Descoberta e Planalto, no bairro do Planalto. A captação Dunas possui poços nos bairros de Nova Descoberta e Tirol. Os dois bairros são mais populosos e de ocupação mais antiga do que a captação Planalto, no bairro do Planalto. As fossas sépticas predominam nos bairros do Planalto e Nova Descoberta, enquanto no bairro do Tirol grande parte das casas já está ligada à rede de esgoto (Tabela 1). A Figura 1 ilustra as distri-buições dos poços nos bairros estudados.

Resultados e Discussões

A Tabela 2 apresenta um sumário estatístico para a amostragem realizada na captação Dunas entre 1999 a 2006. Observa-se, para um universo de 131 amostras, que a média de nitrato foi de 13,6 mg/L-N, com mínimo de 3,0 mg/L-N e máximo de 21,5 mg/L-N. Nota-se, portanto, para nitrato, uma grande amplitude de valores, além de um teor médio elevado, acima do limite de potabilidade de 10 mg/L-N (BRASIL, 2004). O pH também apresenta uma faixa de valores relati-vamente ampla, posicionando-se desde um campo ácido (mínimo de 4,4) até próximo da neutralidade (máximo de 7,2). Já o cloreto va-riou de 25 mg/L a 53 mg/L, com média de 35 mg/L. A condutividade elétrica (CE) variou na faixa de 33 a 300 µS/cm, com média de 211 µS/cm. Esse valor médio encontra-se bem acima do padrão normal das águas do aquífero Barreiras/Dunas, que é inferior a 150 µS/cm

(3)

(SERHID, 2007). Vale salientar que a presença de poços, nessa capta-ção, com elevados teores de nitrato e de condutividade elétrica, pode estar relacionada ao fluxo subterrâneo em conjunto com o número de fossas sépticas, como mostrado na Tabela 1, principalmente para o bairro de Nova Descoberta.

A Tabela 3 retrata o sumário estatístico para o bairro do Planalto. Em um universo de 52 amostras, a média de nitrato foi de 2,62 mg/ L-N com mínimo de 0,1 mg/L-N e máximo de 8,6 mg/L-N. Esse valor médio está bem abaixo do limite de potabilidade da Portaria 518 (BRASIL, 2004) e inferior aos teores da captação Dunas. O pH variou de valores ácidos (mínimo de 4,9) até valores próximos da neutralida-de (máximo neutralida-de 6,6). Para o cloreto, a média foi neutralida-de 23,48 mg/L, com um mínimo de 6,0 mg/L e máximo de 40. A condutividade elétrica

Bairro Captação Casas Hab/Ha1 Séptica Rede2 Ocupação

Tirol Dunas 4.091 40,35 341 3440 1904* - 1947**

Nova Descoberta 5.713 79,66 2.950 190 1950**

Planalto Planalto 3.416 28,53 3.289 17 1960* - 1990**

Tabela 1 – Características urbanas dos bairros Tirol, Nova Descoberta e Planalto em Natal (RN)

Hab/Ha1: habitantes/hectares; Rede2: Rede de Esgoto; *início da ocupação; **ocupação intensiva

Fonte: IBGE (2007) apud SEMURB (2009).

Figura 1 – Distribuição dos poços estudados nos bairros do Planalto, Tirol e Nova Descoberta Guarapes Planalto Pitimbu Candelária Cidade Nova Cidade da Esperança

Nossa Senhora de Nazaré Lagoa Nova

Nova Descoberta

Parque das Dunas Lagoa Seca Tirol Mãe Luiza Ca pim Macio Neópolis Ponta Negra Felipe Camarão

Bom Pastor Dix-Sept Rosado Bairro Nordeste

Salinas Redinha Pajuçara Lagoa Azul

Nossa Senhora da Apresentação

Igapó Potengi Quintas Alecrim Barro Vermelho Areia Preta Petróplis

A

tlâ

nti

co

244000 9368000 9364000 9360000 9356000 9352000 9348000 0 1 2 3 4km 35°19’0”W 35°14’0”W 5°55’30”S 5°55’0”S 248000 252000 256000 260000 264000 5°42’0”S 5°43’0”S 5°44’0”S 5°45’0”S 5°46’0”S 5°47’0”S 5°48’0”S 5°49’0”S 5°50’0”S 5°51’0”S 5°52’0”S 5°53’0”S 5°54’0”S Lagoa do Jiqui Lagoa de Extremoz Rio 38° 36° 6°

RN

Paraíba Ceará Oceano Atlantico

Natal Rio Rio Mudo Guajir u Rio Doce PT-01 PT- 06 PT-03 PT- 5A PT- 07A PT-10A PT-11A PT- 16 PT-12B PT-04 PT-03 PT-01 PT-02 Poços LEGENDA 35° 16’0”W 35° 12’0”W 35° 10’0”W 35° 8’0”W

variou de 47 a 199 µS/cm, com média de 98,97 µS/cm, bem inferior aos valores encontrados na captação Dunas.

Os dados de nitrato apresentados para o período de 1999 a 2006 nas duas captações mostram que na captação Dunas a média de ni-trato foi quase seis vezes maior do que na captação Planalto. Dessa forma, para entender melhor o comportamento de nitrato ao lon-go desse período, foi feito um tratamento estatístico de suas médias anuais, apresentados na Figura 2, e das distribuições de frequências (Figuras 3 e 4).

A Figura 2 mostra a evolução das médias de nitrato na captação Dunas. Observa-se que todas as médias anuais apresentaram teores de nitrato acima do limite de potabilidade da Portaria 518 (BRASIL, 2004), sendo que a menor média ocorreu em 1999, com 12,5 mg/L-N

(4)

e a maior foi registrada em 2006, com 15,3 mg/L-N. O gráfico mos-tra que, mesmo com irregularidades, existe uma clara tendência ao aumento dos teores médios de nitrato com o tempo, podendo-se afir-mar que resultados médios anuais indicam valores típicos de con-taminação por nitrato e que esse processo de concon-taminação parece estar se incrementando com o decorrer dos anos. Na distribuição de frequência, observa-se, com mais detalhe, esse comportamento temporal de nitrato na captação Dunas.

Os resultados retratados nas Figuras 3 e 4 indicam, para os últi-mos três anos, uma tendência a aumento no grau de contaminação por nitrato nas águas nos poços pertencentes à captação Dunas. Essa tendência pode ser visualizada, principalmente, pelos resultados das médias (14,2 6mg/L-N em 2004 a 2006 e 13,4 mg/L-N em 1999 a 2003) e pela percentagem de amostras com resultados acima de 14 mg/L-N (47% em 2004 a 2006 e 36% em 1999 a 2003). Os re-sultados são preocupantes, pois uma porcentagem considerável dos poços (29%) apresentou, nos três últimos anos, teores que ultrapas-sam a 16 mg/L-N, ou seja, bem acima do limite de potabilidade da portaria 518 (BRASIL, 2004).

O mesmo estudo realizado na captação Dunas foi feito, também, para a captação Planalto. A Figura 5 apresenta a distribuição das mé-dias de nitrato ao longo dos anos amostrados no bairro do Planalto, captação Planalto. Observa-se que, de 1999 a 2006, os valores médios

anuais de nitrato se posicionaram entre 1,5 mg/L-N a 4,6 mg/L-N. Nota-se um claro crescimento das médias ao longo dos anos, mesmo que todas elas tenham se apresentado abaixo do limite de potabilida-de potabilida-de 10 mg/L-N (BRASIL, 2004).

Já no estudo da distribuição de freqUência (Figuras 6 e 7), mes-mo considerando a quantidade relativamente baixa de análises, algumas considerações, observadas nos dois histogramas, são sig-nificativas dentro do estudo do comportamento temporal do nitra-to: a) a média de nitrato do período de amostragem mais recente (3,3 mg/L-N) é mais alta do que do período de amostragem mais antiga (2,2 mg/L-N); b) amostras com valores acima de 6 mg/L-N e que atingem até 8,6 mg/L-N só foram observadas no período de 2004 a 2006; c) os resultados das distribuições de frequências mostram que os resultados de nitrato no bairro Planalto se posicionam sempre abaixo do limite de potabilidade de 10 mg/L-N, mas existe uma clara (e preocupante) tendência ao aumento desses teores com o decor-rer do tempo, como também já foi registrado na Figura 4. Um fator agravante e que pode explicar, pelo menos em parte, essa tendência ao aumento nos teores de nitrato é o amplo domínio, no Planalto, do uso de fossas rudimentares e sépticas associado a uma densida-de populacional relativamente alta (28,53 hab/ha). Portanto, no en-tendimento do processo de contaminação, para nitrato, dos aquífe-ros Dunas/Barreiras de Natal é essencial considerar fatores como o

Parâmetros n Média Mínimo Máximo dp

CL(mg/L) 101 35 25 53 5,52

CE (µS/cm) 101 211 33 300 52,07

NO3 (mg/L-N) 131 13,6 3,0 21,5 2,95

pH 101 5,0 4,4 7,2 0,48

Tabela 2 – Sumário estatístico da amostragem de 1999 a 2006 na

captação Dunas, Natal (RN)

n: número de amostragem; dp: desvio padrão.

Parâmetros n Média Mínimo Máximo dp

CL(mg/L) 40 23,48 6,0 40 7,23

CE (µS/cm) 40 98,87 47 199 38,19

NO3 (mg/L-N) 52 2,62 0,1 8,6 2,05

pH 40 5,63 4,9 6,6 0,43

Tabela 3 – Sumário estatístico da amostragem de 1999 a 2006 no bairro

do Planalto, Natal (RN)

n: número de amostragem; dp: desvio padrão.

1999 2000 12.0 12.5 13.0 13.5 14.0 14.5 15.0 15.5 N itr at o (mg/L-N) 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Figura 2 – Médias anuais de nitrato nas águas de poços de Nova

Descoberta e Tirol, Parque das Dunas, situados na captação Dunas, Natal (RN) 0 5 10 15 20 25 30 35 0 0% 1% 1% 0% 5% 33% 23% 16% 15% 4% 1% 0% Nitrato (mg/L-N) 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 N = N úm er os d e ob se rv aç õe s n = 97; Média = 13,4; dp = 3,0

Figura 3 – Distribuição dos teores de nitrato (mg/L-N) de 1999 a 2003

na captação Dunas, englobando os poços da CAERN localizados nos bairros Nova Descoberta e Tirol, Natal (RN)

(5)

adensamento e histórico populacional em conjunto com a qualidade do saneamento praticado.

Os resultados de nitrato em alguns poços foram tratados indivi-dualmente, objetivando, novamente, observar aspectos do comporta-mento temporal desse parâmetro. Na Figura 8, estão pautados os re-sultados de nitrato em todas as amostragens efetuadas no poço 11A, localizado no Parque das Dunas, no bairro do Tirol, de 1999 a 2006. Observa-se que as análises de nitrato variam dentro de uma faixa relativamente larga de teores, com o valor mínimo um pouco acima de 10 mg/L-N (Novembro de 1999) e um máximo de 21,7 mg/L-N (Outubro de 2006). Nota-se, ainda, que os teores de nitrato que se situam sempre acima do limite de potabilidade vigente, que é de 10 mg/L-N ou 45 mg/L-NO

-3 (BRASIL, 2004).

O Poço PT-5A (Figura 9), também situado na captação Dunas, mostra certa irregularidade nos teores de nitrato ao longo dos anos amostrados, porém, todos os teores permaneceram sempre acima do limite de potabilidade vigente, independentemente do período de amostragem. O teor mínimo (11 mg/L-N) foi observado em maio de 2000, enquanto o valor máximo (17,7 mg/L-N) foi anotado em outubro de 2002.

Nas Figuras 10 e 11, apresentam-se os resultados de nitra-to em nitra-todas as amostragens realizadas em dois poços do bairro do Planalto. Os poços PT-01 (Figura 10) e PT-02 (Figura 11) mostram um comportamento de nitrato, ao longo dos anos, muito similares. Nos dois poços, nota-se uma tendência evidente de crescimento de nitrato no decorrer dos anos de amostragem. No poço PT-01, os te-ores de nitrato, nas primeiras amostragens, se situavam em torno de 1 mg/L-N e aumentaram gradativamente até atingirem 5,5 mg/L-N na última amostragem (setembro de 2006). No PT-02, observa-se que os teores cresceram também, de forma paulatina, de 2,5 mg/L-N a 8,6 mg/L-N.

Os dados discutidos anteriormente mostram que os poços da captação Dunas, onde estão localizados os bairros populosos e an-tigos, estão mais severamente comprometidos do que os do bairro do Planalto, menos populoso e de ocupação mais recente. As aná-lises a seguir comparam, mais uma vez, a situação temporal das duas captações.

Foi construído um gráfico das médias de nitrato e condutividade elétrica (CE) para sete poços da captação Dunas (Figura 12), conside-rando duas situações: a) médias das amostragens efetuadas de 2000 a 2003 e representadas pelo símbolo do poço sem a letra “r”; b) médias das amostragens mais recentes (2004 e 2006) e identificadas, no grá-fico, pelo acréscimo da letra “r” ao final do nome do poço. Procurou-se estudar a variação entre os valores médios das amostragens mais antigas com os valores médios das últimas amostragens, que devem representar a situação mais atual dos poços.

Dos sete poços estudados e indicados na Figura 12, quatro mostra-ram um aumento nos teores de nitrato em relação às amostragens mais recentes (PT-11A, PT-7A, PT-10A e PT-5A), enquanto dois praticamente

Figura 4 – Distribuição dos teores de nitrato (mg/L-N) de 2004 a 2006

na captação Dunas, englobando os poços da CAERN localizados nos bairros de Nova Descoberta e Tirol, Natal, (RN)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 3% 0% 3% 3% 26% 26% Nitrato (mg/L-N) 4 6 8 10 12 14 16 18 20 N = N úm er os d e ob se rv aç õe s n = 34; Média = 14,26; dp = 2,76 18% 21% 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0 Nitrato (mg/L-N) 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Figura 5 – Médias anuais de nitrato nas águas de poços do bairro do

Planalto, situados na captação Planalto, Natal (RN)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 N = N úm er os d e ob se rv aç õe s Nitrato (mg/L-N) n = 32; Média = 2,2; dp = 1,64 0% 0% 0% 3% 3% 3% 6% 9% 9% 9% 25% 19% 13%

Figura 6 – Distribuição dos teores de nitrato no bairro do Planalto,

(6)

não apresentaram variações nos teores de nitrato com o tempo (PT-12B e PT-6A). Apenas um poço mostrou diminuição nos teores de nitrato em relação às últimas amostragens (PT-16). Esse quadro reforça, mais uma vez, que existe, em geral, uma tendência ao aumento do teor de nitrato e, consequentemente, da contaminação ao longo do tempo. É interessante registrar que em todos os poços estudados, as médias de nitrato, tanto nas amostragens mais antigas como nas mais recentes, apresentaram teores acima de 10 mg/L-N, enquanto para condutivida-de elétrica, essas médias estiveram sempre acima condutivida-de 160 µS/cm.

Na Figura 13 estão apresentadas as médias de nitrato e condutivi-dade elétrica (CE) para quatro poços do bairro Planalto, consideran-do o tratamento semelhante ao exercício anterior. As médias de toconsideran-dos os poços estiveram abaixo do limite de potabilidade de 10 mg/L-N, mas em todos os casos existe um claro aumento dos teores de nitrato nas amostragens mais recentes.

0 1 2 3 4 5 6 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 N = N úm er os d e ob se rv aç õe s Nitrato (mg/L-N) n = 20; Média = 3,3; dp = 2,46 0% 0% 5% 5% 5% 5% 5% 15% 15% 20% 25%

Figura 7 – Distribuição dos teores de nitrato no bairro do Planalto,

captação Planalto, no período de 2004 a 2006, Natal (RN)

8 10 12 14 16 18 20 PT - 11A 22 Nitrato (mg/L-N)

Nov. 1999 Fev. 2000 Mai. 2000 Dez. 2000 Ago. 2001 Abr. 2001 Abr. 2002 Jul. 2002 Out. 2002 Jan. 2003 Jun. 2003 Set. 2003 Jun. 2004 Set. 2004 Mar. 2005

Figura 8 – Variação dos teores de nitrato no poço 11A, ao longo dos

anos amostrados, no Parque das Dunas no bairro do Tirol, Natal (RN)

11 10 12 14 13 16 15 PT - 5A Nitrato (mg/L-N)

Nov. 1999 Fev. 2000 Mai. 2000 Dez. 2000 Abr. 2001 Ago. 2001 Abr. 2002 Out. 2002 Jan. 2003 Jun. 2003 Set. 2003 Jun. 2004 Set. 2004 Mar. 2005 Jul. 2005 Nov. 2005

Figura 9 – Variação dos teores de nitrato no poço PT-5A ao longo dos anos

amostrados, na captação Dunas no bairro de Nova Descoberta, Natal (RN)

1 0 2 4 3 6 5 PT - 1A Nitrato (mg/L-N)

Nov. 1999 Fev. 2000 Mai. 2000 Dez. 2000 Abr. 2001 Ago. 2001 Abr. 2002 Jul. 2002 Out. 2002 Set. 2003 Jun. 2004 Set. 2004 Jul. 2005 Mar. 2005 Set. 2006

Figura 10 – Variação dos teores de nitrato no poço PT-01 ao longo dos

anos amostrados no bairro do Planalto, captação Planalto, Natal (RN)

8 9 7 2 4 3 6 5 PT - 02 Nitrato (mg/L-N)

Nov. 1999 Mai. 2000 Fev. 2000 Dez. 2000 Abr. 2001 Ago. 2001 Abr. 2002 Out. 2002 Jan. 2003 Jun. 2003 Set. 2003 Jun. 2004 Set. 2004 Mar. 2005 Jul. 2005 Set. 2006

Figura 11 – Variação dos teores de nitrato no poço PT-02 ao longo dos

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Figura 13 – Variações dos valores médios de nitrato e condutividade

elétrica para os poços do bairro Planalto, Natal (RN). Os poços com a letra “r” no final representam as amostragens mais recentes, de 2004 a 2006 e os outros, sem a letra “r”, as amostragens mais antigas, de 1999 a 2003

PT-01 PT-01r PT02 PT02r PT-03 PT-03r PT-04 40 60 80 100 120 140 160 CE (uS/cm) -1 0 1 2 3 4 5 6 7 Nitrato (mg/L-N) Planalto PT-04r PT-5Ar PT-6A PT-7Ar PT-10A PT-11Ar PT-12Br PT-16 180 160 200 220 240 260 280 300 CE (uS/cm) 10 11 12 13 14 15 16 17 18 Nitrato (mg/L-N) PT-6Ar PT-12B PT-11A PT-5A PT-16r PT-7A PT-10Ar

Figura 12 – Variações dos valores médios de nitrato e condutividade elétrica

para os poços da captação Dunas, Natal (RN). Os poços com a letra “r” no final representam as amostragens mais recentes, de 2004 a 2006 e os outros, sem a letra “r”, as amostragens mais antigas, de 1999 a 2003

Conclusões

Os dados de todos os tratamentos estatísticos desenvolvidos indi-cam, para o bairro Planalto, que os resultados de nitrato estão abaixo do limite de potabilidade vigente (BRASIL, 2004), mas existe uma tendência clara e preocupante de aumento com o decorrer do tempo nos teores desse parâmetro. Esse aumento de nitrato deve ter uma correspondência direta com o aumento da densidade populacional associado à ausência de um sistema de saneamento apropriado.

A situação da captação Dunas é mais grave e preocupante, conside-rando que os poços atendem a uma parcela significativa da população de Natal, especialmente os bairros do setor Leste de Natal, e que os resultados para nitrato indicam, na grande maioria dos casos, valores tí-picos de contaminação provenientes de efluentes domésticos. Além dis-so, existe o agravante de que esse processo de contaminação parece se incrementar com o passar dos anos. Estudos mais detalhados, evidente-mente, são necessários para melhor entender o processo, a sua distribui-ção, as causas e possíveis metodologias para solucionar o problema.

Referências

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Referências

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