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A REPRESENTAÇÃO DO FEMININO NO FABLIAU OS QUATRO DESEJOS DE SÃO MARTINHO
Autor: Edinaldo Gonçalves Nunes Junior
Orientador: Prof. Dr. Francisco Dênis Melo
RESUMO
O presente artigo busca discutir a construção
discursiva que orbita a representação do feminino
no fabliau Os quatro desejos de São Martinho,
obra produzida na Baixa Idade Média por volta
dos séculos XIII e XIV. Para tal, fez-se necessário
dos séculos XIII e XIV. Para tal, fez-se necessário
uma investigação que voltou sua atenção aos
discursos e mentalidades predominantes no
período, que disputaram espaço, entrelaçaram-se
em uma espiral de influências, dominação e
resistência. O referencial teórico utilizado em
contraste com essas mentalidades e discursos
ajudou-nos a compreender as intencionalidades
presentes na construção do feminino durante o
período medieval.
PREÂMBULO
“Este mundo, que sempre pertenceu aos
homens, conserva ainda a forma
que eles lhe
imprimiram.”
(Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo)
A frase em epígrafe traz a lume a
importância de discutirmos os processos
históricos, discursivos e simbólicos que
ainda são influentes no nosso tempo. Há
ainda são influentes no nosso tempo. Há
uma gama diversificada de representações
em torno da persona feminina que buscam
restringi-la, dominá-la, que tentam torná-las
sujeitos despidos de emancipação, de
liberdade. Essas mentalidades possuem
raízes profundas.
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METODOLOGIA
Neste trabalho, iremos analisar a representação do feminino no fabliau Os quatro desejos de São Martinho, obra medieval produzida por volta dos séculos XIII e XIV.
Para compreendermos a representação do feminino no aludido fabliau, bem como o complexo processo que inventou a mulher medieval buscamos elaborar uma análise que não se limitou aos versos do aludido fabliau. Dessa forma, nossa investigação voltou sua atenção aos diversos discursos do medievo que disputaram espaço, entrelaçaram-se em uma espiral de influências, em complexos processos de dominação e resistência que acabaram por fomentar uma vasta produção de obras de caráter sagrado ou profano.
fomentar uma vasta produção de obras de caráter sagrado ou profano.
Realizamos uma pesquisa bibliográfica que abarca uma gama diversificada de pensadores de diversas áreas do saber.
Resumidamente, nossa reflexão inicia-se com uma breve análise que visa destacar alguns aspectos gerais dos fabliaux. Nos dois tópicos seguintes, desenvolveremos o nosso referencial teórico. Em seguida, iniciaremos uma abordagem ampla sobre a Idade Média seguida de uma reflexão sobre a invenção da mulher no ocidente medieval. Por fim, no último tópico, analisaremos o fabliau Os quatro desejos de São Martinho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Defendemos a hipótese de que um robusto aparato discursivo e simbólico forjou uma aura de desconfiança em torno das mulheres. O medievo não inaugurou tal prática, mas o alimentou. A difusão dessas narrativas nas mais diversas literaturas (nas ditas sagradas e nas consideradas profanas) é um exemplo da hegemonia desses discursos.
Nas literaturas de cunho profano como os fabliaux, especialmente o que nos propomos a estudar, o feminino foi associado ao inferior, ao insano, à maldade e etc. A nosso ver, há um elo insano, à maldade e etc. A nosso ver, há um elo notável que uni o medievo, qual seja: a sua misoginia que teve no ocidente medieval sua primavera.
Por isso, não devemos, pois, imaginar que a parcialidade dos discursos medievais analisados fosse verossimilhante àquela realidade. Longe disso, a necessidade dos homens medievais de se afirmarem como senhores de seu tempo denuncia o temor diante do potencial feminino tão temido por eles.
Muitas dessas mentalidades ainda estão vivas no tempo presente. É necessário, pois, olhos atentos.
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