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CONTRATOS. Os contratos são figuras principais do direito civil. O contrato está para o direito civil, assim como o crime está para o direito penal.

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CONTRATOS

Se quisermos entender contratos, temos de sair do isolamento intelectual que nos impusemos e absorver algumas verdades básicas. Contratos sem as necessidades e gostos comuns criados somente pela sociedade é inconcebível; contrato entre indivíduos totalmente isolados, que buscam a maximização dos seus benefícios não é contrato, mas guerra; contrato sem linguagem é impossível; e contrato sem estrutura social e estabilidade é – de modo bem literal – racionalmente impensável, do mesmo modo como é racionalmente impensável o homem fora da sociedade. A raiz fundamental, a base do contrato é a sociedade. O contrato nunca ocorreu sem sociedade; nem ocorrerá sem sociedade; e nunca seu funcionamento poderá ser compreendido isolado de sua sociedade particular.

“Sabe o que é „contrato‟? Você isso, eu aquilo, com assinatura embaixo”. (Pedro Bial, Palavras ao Vento) citado por Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald

Os contratos são figuras principais do direito civil.

O contrato está para o direito civil, assim como o crime está para o direito penal.

Segundo Orlando Gomes, “o contrato se desenvolveu à luz da ideologia individualista típica dos regimes capitalistas de produção”. Assim, é fruto do capitalismo, da livre iniciativa, da autonomia privada.

Antigamente os contratos se resumiam a “deveres assumidos por uma pessoa em favor de outra”, construindo uma concepção estática, unilateral e meramente patrimonial.

Os contratos fazem lei entre as partes (princípio da pacta sunt servanda) desde seus primórdios, mas hoje, com base nas inúmeras mudanças fáticas do último século, essa imposição se tornou mais flexível visando evitar um autoritarismo extremo e um Estado completamente abstencionista.

Vivemos o tempo dos contratos por adesão, dos “contratos em massa”, os quais não mais podem ser tratados pela teoria clássica dos contratos.

Atualmente os contratos, em sua maioria, não são mais realizados entre partes iguais, sendo função do Estado levar certa

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igualdade a uma relação entre desiguais, evitando assim o abuso de poder econômico.

A idéia de contrato hoje é dinâmica, constituindo uma relação COOPERATIVA na qual todos os contratantes devem colaborar reciprocamente para o seu devido cumprimento.

Hoje os contratos continuam sendo figuras da autonomia privada, mas de uma autonomia privada respeitadora de princípios constitucionais.

1 – Teoria Constitucional dos Contratos

De acordo com a teoria constitucional dos contratos, teoria moderna e hoje utilizada, a autonomia privada não é mais absoluta, mas sim socializante e sofre limitações por fatores constitucionais como a Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais, o Princípio da Função Social do Contrato e o Princípio da Boa-Fé Objetiva.

O contrato não é mais um instrumento isolado que só se vincula às suas partes, não é mais um meio de opressão, é sim um instrumento embasado na ética, e o “Estado é o garantidor das regras do jogo.”

O caráter socializante do contrato não faz com que este não se obrigue a respeitar interesses do Estado, mas sim interesses da SOCIEDADE.

2 – Conceito

Segundo Pablo Stolze:

“O contrato é um negócio jurídico, fruto da autonomia privada, pelo qual as partes visam a realizar determinados interesses, estando limitadas pelos superiores princípios da função social e da boa-fé objetiva.”

3 – Princípio da Autonomia Privada.

Consiste na alma do contrato. Manifesta-se na liberdade de contratar (contrata se quiser) e na liberdade contratual (contrata como quiser).

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Todo contrato pressupõe liberdade negocial (até mesmo os contratos de adesão), mas essa liberdade não é absoluta, é limitada pela Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais, pelo Princípio da Função Social do Contrato e pelo Princípio da Boa-Fé Objetiva.

A autonomia privada possui “auto-responsabilidade”, responsabilidade social.

4 – Princípio da Relatividade dos Efeitos do Contrato

O contrato gera efeitos apenas entre as próprias partes, mas no plano da eticidade, o contrato tem eficácia inter-subjetiva, gerando efeitos sobre terceiros. Ex.: Terceiros devem respeitar o contrato realizado entre A e B (Caso Zeca Pagodinho, Nova Schin, Brahma).

Exceções da regra: contrato de seguro de vida (estipulação em favor de terceiro), contrato com pessoa a declarar.

5 – Princípio da Força Obrigatória dos Contratos ou “Pacta Sunt Servanda”

O contrato faz lei entre as partes, mas não de forma absoluta. Princípio relativizado pela Teoria da Imprevisão.

6 – Teoria da Imprevisão

Teoria desenvolvida na França após a I Guerra Mundial. Tem base na Teoria da Cláusula Rebus Sic Stantibus e determina que a ocorrência de um acontecimento superveniente que desequilibre a base econômica de um contrato continuado seria motivo para, por equidade, gerar a sua revisão ou resolução.

Trata-se de uma doutrina que sustenta a possibilidade de revisão ou dissolução contratual, caso um acontecimento superveniente desequilibre a base econômica do negócio, impondo a uma das partes obrigação excessivamente onerosa. 6.1 – Requisitos ou Elementos da Teoria da Imprevisão

CC, Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a

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outra*, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis**, poderá o devedor pedir a resolução*** do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.

- Superveniência de um acontecimento imprevisível - Alteração da base econômica do negócio

- Onerosidade excessiva

Para parte da doutrina, conforme En. 365 da IV JDC, não é necessário que essa onerosidade excessiva gere vantagem ou enriquecimento ilícito à outra parte, posição contrária ao próprio Código, que a exige em seu art. 478.

En. 365 IV JDC – Art. 478. A extrema vantagem do art. 478 deve ser interpretada como elemento acidental da alteração de circunstâncias, que comporta a incidência da resolução ou revisão do negócio por onerosidade excessiva, independentemente de sua demonstração plena.”

A primeira lei do direito privado que tratou da Teoria da Imprevisão foi o CDC em seu art. 6º, V, mas ali é chamada de Teoria da Onerosidade Excessiva, e não requer a imprevisibilidade do ocorrido para que gere a revisão ou a resolução do contrato..

Cláusula contratual que impeça a Teoria da Imprevisão é cláusula abusiva.

CC, Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.

En. 17 JDC - Art. 317: a interpretação da expressão “motivos imprevisíveis” constante do art. 317 do novo Código Civil deve abarcar tanto causas de desproporção não previsíveis como também causas previsíveis, mas de resultados imprevisíveis. En. 176 JDC – Art. 478: Em atenção ao princípio da conservação dos negócios jurídicos, o art. 478 do Código Civil de 2002 deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial dos contratos e não à resolução contratual.

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6.2 – Teoria da Imprevisão X Lesão

A Lesão também se caracteriza pelo desequilíbrio contratual decorrente da imposição de obrigação excessivamente onerosa de uma das partes à outra, mas a lesão é DEFEITO DO NEGÓCIO JURÍDICO, o que gera a INVALIDADE DO CONTRATO. Na lesão o contrato já nasce com o defeito, já nasce inválido. O desequilíbrio ocorre no momento da formação do contrato.

Já a Teoria da Imprevisão não gera invalidade ao contrato, ao contrário, para que ocorra pressupõe um ato válido e o desequilíbrio entre as prestações ocorre posteriormente a formação do contrato. 7 – Princípio da Função Social do Contrato.

O Princípio da Função Social do Contrato materializa a diretriz da SOCIALIDADE do CC 2002 nas relações contratuais.

Regra superior limitativa da liberdade de contratar que se manifesta em dois níveis distintos:

Nível Intrínseco: Obriga as partes a respeitar o princípio da boa-fé objetiva e impõe o equilíbrio entre as prestações (respeito à dignidade do contratante, lealdade, confiança).

Ex: Art. 413 – cláusula penal não pode ser superior ao valor da obrigação. O juiz pode reduzi-la por força do Princ. da Função Social do Contrato em seu nível intrínseco (conflito com súmula 381 STJ)

Função Social do Contrato X Súm. 381 STJ:

Exemplo de artigo fundado na Função Social do Contrato quanto à Cláusula Penal:

CC, Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio.

X

Súm 381 STJ: Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas.

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Nível Extrínseco: impõe respeito às normas de ordem pública e ao interesse social da coletividade. Impõe um limite que protege a sociedade dos abusos da autonomia privada.

O Princípio da Função Social do Contrato impõe respeito aos interesses da sociedade não aos interesses do Estado.

Tem o propósito de limitar a autonomia privada.

Base constitucional de tal princípio: CF, art. 170 – consagra uma ordem social harmônica:

CF, Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

I - soberania nacional; II - propriedade privada;

III - função social da propriedade; IV - livre concorrência;

V - defesa do consumidor;

VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;

(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego;

IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 6, de 1995)

Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

CC – Art. 421:

CC, Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.

Exemplos: Súmulas 302 e 308 do STJ:

Súm. 308 STJ: A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel.

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Súm. 302 STJ: É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado.

8 – Princípio da Boa-Fé Objetiva.

O Princípio da Boa-Fé Objetiva materializa a diretriz da ETICIDADE do CC 2002 nas relações contratuais.

É proveniente da “Bona Fides” do direito romano, o que era interpretado como um valor ético individual, ou seja, atuar de boa-fé significava atuar da forma que gostaria que os outros atuassem.

Mas a nossa boa-fé não é individual, é meta-individual, proveniente do trabalho do direito alemão sobre o direito romano.

A boa-fé é uma regra OBJETIVA de conduta embasada na LEALDADE e na CONFIANÇA.

8.1 – Boa-Fé Objetiva X Boa-Fé Subjetiva

A boa-fé subjetiva é um estado psicológico de inocência (terceiro de boa-fé, possuidor de boa-fé).

Já a boa-fé objetiva consiste em uma “cláusula geral de natureza principiológica implícita em qualquer relação privada e que traduz um mandamento imperativo de conteúdo ético e exigibilidade jurídica.”

É o comportamento ÉTICO exigido dos contratantes.

Boa-fé Subjetiva: Boa-fé de CONHECIMENTO – COGNIÇÃO. Boa-fé Objetiva: Boa-fé de COMPORTAMENTO – CONFIANÇA.

Exemplos Boa-Fé Subjetiva:

CC, Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa.

CC, Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.

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§ 1o Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o

casamento, os seus efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão.

§ 2o Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o

casamento, os seus efeitos civis só aos filhos aproveitarão. Princípio da Boa-Fé Objetiva.

CC, Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

Tríplice função da boa-fé objetiva:  Função interpretativa:

Os contratos devem ser interpretados sempre na busca do comportamento ético que se espera das partes.

CC, Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.

Ex: Locatário que pintou o imóvel inteiro de preto.  Função integrativa

A boa-fé objetiva está implícita em qualquer contrato e cria deveres anexos e de proteção (além dos deveres básicos de dar, fazer ou não fazer) como dever de assistência, de informação, de sigilo, de lealdade, de cooperação, de segurança, etc.

A BOA-FÉ OBJETIVA É FONTE AUTÔNOMA DE OBRIGAÇÕES – Os deveres anexos de conduta.

Ex: Termo de consentimento informado. Ex: Peças de reposição do veículo Lada.

Ex: Fábrica de tomates, Fábrica de máscaras. Ex: Receita do pão de queijo.

Violação positiva do contrato:

Forma de inadimplemento contratual pelo qual a parte cumpre os deveres contratuais, mas não cumpre os deveres anexos.

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Ex: Cirurgia plástica bem sucedida, mas médico não informou que deixaria uma marca.

Ex: Carros Lada.

 Função limitadora ou restritiva

Por essa função, a boa-fé objetiva serve como limite à contratação impedindo que esta ultrapasse os parâmetros éticos.

Impede o exercício de determinados direitos (abusivos) previstos no contrato.

Ex: Anatocismo (Juros sobre juros). 9 – Formação do Contrato

A formação do contrato segue um caminho:

 Fase prévia ou fase de puntuação ou punctação (fase de tratativas ou negociações preliminares),

 passa-se para a redação da minuta, de um contrato preliminar (caso da promessa de contrato),

 até chegar o momento em que ocorre a proposta final (policitação) feita por uma das partes (proponente ou policitante).

A proposta de contrato tem natureza jurídica de declaração receptícia de vontade e só gera efeitos quando chega na esfera jurídica do outro contratante.

A proposta se dirige ao aceitante ou oblato, outra parte do negócio jurídico. Se a proposta for aceita, nesse momento, em regra (caso não seja contrato que exige solenidades) surge o CONSENTIMENTO.

CC, Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.

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9.1 – Proposta entre presentes X Proposta entre ausentes A proposta entre presentes ocorre quando as partes mantém contato direto e simultâneo (telefone, msn).

Já a proposta entre ausentes ocorre quando não há um contato imediato, não havendo, portanto, resposta imediata (carta, e-mail). 9.2 – Em que momento se forma o contrato entre ausentes?

Há duas teorias explicativas: Teoria da Cognição Teoria da Agnição

Para a Teoria da Cognição o contrato entre ausentes se formaria quando a resposta do aceitante chegasse ao conhecimento do proponente, ou seja, quando o proponente toma conhecimento da aceitação – Teoria insegura, não adotada pelo CC 2002.

Na Teoria da Agnição se dispensa que a resposta chegue ao conhecimento do proponente. Essa teoria se subdivide em:

 Teoria da declaração propriamente dita  Teoria da expedição

 Teoria da recepção

9.2.1 – Teoria da declaração propriamente dita

O contrato se forma quando o declarante manifesta a aceitação, quando declara que aceitou.

Teoria não aceita pelo CC por ser muito insegura. Difícil provar quando declarou a aceitação, quando a escreveu, por exemplo.

9.2.2 – Teoria da Expedição

O contrato se forma quando a resposta do aceitante é expedida.

Por e-mail, por exemplo, seria na data em que o e-mail foi enviado.

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9.2.3 – Teoria da recepção

O contrato se forma quando a resposta é recebida pelo proponente, mesmo que ele não tome conhecimento.

Ex: Data constante no AR de quando a aceitação foi recebida. Teoria adotada no Brasil:

Segundo a doutrina clássica, a teoria adotada pelo CC é a teoria da expedição, mas há corrente doutrinária que, com base na prática, determina que é a teoria da recepção.

As ressalvas do art. 434 do CC levam à conclusão de que a teoria adotada é a da recepção, pela qual ocorreria a formação do contrato no momento em que a resposta é recebida pelo proponente sem o arrependimento do aceitante, pois até esse momento o aceitante pode se arrepender.

CC, Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto:

I - no caso do artigo antecedente;

II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;

III - se ela não chegar no prazo convencionado.

CC, Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante.

En. 173, III JDC - Art. 434: A formação dos contratos realizados entre pessoas ausentes, por meio eletrônico, completa-se com a recepção da aceitação pelo proponente. Diz Pablo Stolze:

Parte da doutrina, seguindo Clóvis Beviláqua, interpreta literalmente o art. 434 para considerar formado um contrato quando a resposta é expedida. Todavia, há autores que, com base no art. 433, defendem a teoria da recepção (Ex. Carlos Roberto Gonçalves), uma vez que, na forma do dispositivo, o contrato só se forma quando a resposta é recebida sem o arrependimento do aceitante. Nesse caso, a teoria seria a da recepção.

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10 - ARRAS

Já estudamos anteriormente as fases de formação do contrato. Na fase inicial, fase das negociações preliminares, tratativas ou puntuação, as partes iniciam as negociações sobre um possível acordo. Aqui, em regra, ninguém assume qualquer compromisso de celebrar um contrato definitivo, mas já existe o dever de boa-fé objetiva.

A boa-fé objetiva existe antes (pré contratual), durante (contratual) e depois (pós contratual – responsabilidade “post pactum

finitum”) da realização do contrato. A segunda fase de formação do contrato é a fase do contrato

preliminar, o qual deve respeitar, com exceção da forma, todos os requisitos do contrato definitivo.

Nesse momento já há assunção de compromisso.

Em um contrato bilateral, ambas as partes assumem o compromisso de contratar e é aqui onde, em regra, ocorrem as ARRAS, as quais consistem em um “sinal”, uma garantia de cumprimento do contrato.

Ex: A (comprador) e B (vendedor) fazem contrato de compra e venda de uma fazenda no valor de R$ 500.000,00. “A” dá 50.000,00 como arras para “B” para garantir a realização do contrato. Se “A” desiste do contrato – perderá as arras que deu (R$ 50.000,00). Se “B” desiste do contrato – devolve as arras, e paga mais o equivalente (R$ 100.000,00).

TAL REGRA É APLICADA TANTO NAS ARRAS CONFIRMATÓRIAS, QUANTO NAS ARRAS PENITENCIAIS.

CC, Art. 418. Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado.

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As arras podem ser confirmatórias ou penitenciais: Arras CONFIRMATÓRIAS:

 Determinam o início da execução do contrato e afastam o direito de arrependimento.

 Ocorrem nos contratos onde não se estipula direito de arrependimento – Art. 417, 418 e 419.

 Se o prejuízo da parte que não desistiu do contrato for maior que o valor das arras, esta poderá exigir indenização suplementar.

 As arras funcionariam apenas como um mínimo indenizatório. CC, art. 417. Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo gênero da principal.

CC, art. 419. A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. Pode, também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como o mínimo da indenização.

Arras PENITENCIAIS:

 Possuem natureza indenizatória e aceitam o direito de arrependimento.

 Ocorrem nos contratos onde existe direito de arrependimento- art. 420.

 Quem se arrependeu, exerceu um direito, não se torna inadimplente. Nesse caso, mesmo que o prejuízo da parte que não desistiu do contrato seja maior que as arras, não haverá direito a indenização suplementar. Aplicar-se-á apenas a regra normal (pagar arras/devolver em dobro)

CC, art. 420. Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das partes, as arras ou sinal terão função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as

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recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a indenização suplementar.

11 - VÍCIOS REDIBITÓRIOS

Trata-se do vício ou defeito oculto existente NA COISA que diminui o valor desta ou lhe prejudica a utilização. Defeito este que, se conhecido, teria impedido a realização do negócio.

Requisitos:

Ocorrência em um contrato de transferência da posse e da propriedade,

Existência do vício/defeito oculto no momento da tradição, Vício/defeito desconhecido do comprador,

Prejuízo à utilização da coisa ou diminuição de seu valor econômico.

Vício Redibitório não se confunde com desgaste natural do bem. CC, art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.

Parágrafo único. É aplicável a disposição deste artigo às doações onerosas.

CC, art. 442. Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato (art. 441), pode o adquirente reclamar abatimento no preço. Ações Edilícias:

 Ação Redibitória – Visa extinguir o contrato, devolvendo a coisa e recebendo de volta o preço que pagou.

 Ação Estimatória ou Quanti Minoris – Visa a manutenção do contrato com o abatimento no preço.

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Má-fé do Alienante:

CC, Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato.

 Sabia do vício (má-fé) – Responde pelo preço + perdas e danos.  Não sabia do vício (boa-fé) – Responde apenas pelo preço +

despesas do contrato.

CC, art. 444. A responsabilidade do alienante subsiste ainda que a coisa pereça em poder do alienatário, se perecer por vício oculto, já existente ao tempo da tradição.

Vício Redibitório X Erro.

 Erro é um defeito do negócio jurídico, um vício da vontade. É psicológico, interno. Consiste na intenção equivocada e gera a anulação do negócio jurídico.

 O vício redibitório é objetivo, é um defeito NA COISA que prejudica seu uso ou diminui seu valor.

 Para os vícios redibitórios – Ações edilícias (Ação redibitória ou quanti minoris)

 Para o erro – Ação anulatória

Vício Redibitório (CC) X Vício do Produto (CDC) Institutos semelhantes.

o Vício Redibitório - Se aplica às relações civis.

o Vício do Produto – Se aplica às relações de consumo. Geram consequências e prazos distintos.

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Vício Redibitório – Contrato Civil – Consequências:

Abatimento proporcional no preço (Ação quanti minoris), Desfazimento do negócio (Ação redibitória),

Desfazimento do negócio c/c perdas e danos (apenas se provada a má-fé do alienante).

Vício do Produto – Contrato de Consumo – Consequências: Abatimento proporcional no preço (Ação quanti minoris), Desfazimento do negócio (Ação redibitória),

Desfazimento do negócio c/c perdas e danos (sem necessidade de prova da má-fe do fornecedor/prestador do serviço),

Requerer novo produto (ação de obrigação de dar ou fazer).

VÍCIOS REDIBITÓRIOS – Prazos:

CC, art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade.

§ 1o Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido

mais tarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis.

§ 2o Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia

por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais, aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regras disciplinando a matéria.

 30 dias – Coisa móvel 1 ano – Coisa imóvel Contado a partir:

 Entrega efetiva (Tradição)

 Se já na posse – Da alienação reduzido à metade:  15 dias se móvel

 6 meses se imóvel

 Se vício só pode ser conhecido mais tarde – Do conhecimento do vício até o prazo máximo de:

 180 dias se móvel  1 ano se imóvel

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 Se venda de animais – Prazos estabelecidos em lei especial, na falta desta, pelos costumes locais aplicando-se as regras do parágrafo antecedente se não houver regra sobre a matéria.

Referências

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