• Nenhum resultado encontrado

ALFABETIZAÇÃO DOS SURDOS POR MEIO DA LÍNGUA PORTUGUESA COMO L2 COM O APOIO DA ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS (ELS - SIGN WRITING)

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ALFABETIZAÇÃO DOS SURDOS POR MEIO DA LÍNGUA PORTUGUESA COMO L2 COM O APOIO DA ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS (ELS - SIGN WRITING)"

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

ALFABETIZAÇÃO DOS SURDOS POR MEIO DA LÍNGUA PORTUGUESA COMO L2 COM O APOIO DA ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS (ELS - SIGN WRITING)

Leoni Ramos Souza Nascimento1 Genivaldo Oliveira Santos Filho2 Rozilda Ramos dos Santos Oliveira3 Eixo temático: GT7 - Educação, Linguagens e Artes RESUMO:

Neste artigo objetivou-se em apresentar a Escrita da Língua de Sinais (ELS - SIGN WRITING) como suporte didático para aprendizagem da Língua Portuguesa (LP) escrita. A escrita surge a partir das preocupações nas civilizações em registrar os acontecimentos. No entanto, ossurdos brasileiros não possuem habilidades em adquirir a escrita da LP tal qual um nativo, pelo fato da LP possuiruma estrutura que se enquadra em Língua Oral. Logo, a ELS dará este suporte para escrever a LP como segunda língua (L2). Para alcançar este objetivo, fizemos uma pesquisa qualitativa do tipo bibliográfico. Contamos com teóricos a exemplo de Capovilla (2006);Stumpf (2005); Dallan (2010); Quadros e Karnopp (2004); Strobel e Fernandes (1998) e outros.

PALAVRAS-CHAVE:Escrita da Língua de Sinais (ELS - SIGN WRITING). Língua Portuguesa (LP). Surdo.Escrita.

ABSTRACT:

This article aims to present in Writing Sign Language (ELS - SIGN WRITING) as a teaching support for learning Portuguese Language (LP) writing. The writing comes from concerns civilizations to record the events. However, Brazilian deaf don’t have skills in acquiring the writing of LP just like a native, because the LP has a structure that fits in Oral Language. Therefore, the ELS will give this support to write the LP as a second language (L2). To accomplish this, we have made a qualitative research of bibliographical. We’ve theoretical example ofCapovilla (2006); Stumpf (2005); Dallan (2010); Qaudros and Karnopp (2004); Strobel and Fernandes (1998) and others.

KEYWORDS: Sign Writing (SW). Portuguese Language (LP).Deaf. Writing.

1Graduado em Letras LIBRAS-Licenciatura, pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professor Auxiliar Efetivo da Universidade Federal de Rondônia. Pós-Graduado Lato Senso em LIBRAS: Educação Inclusiva, Faculdade São Luís de França. E-mail: leoniramos@hotmail.com

2Mestrando em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Especialistaem Libras - Língua Brasileira de Sinais. Graduação em Letras/ Português. Proficiência em Tradução/intérprete de Libras (PROLIBRAS) e Proficiência em professor de Libras (PROLIBRAS) - realizado pelo MEC - Secretária de Educação Especial. Ex. Presidente da AILES - Associação dos Interpretes de Língua Brasileira de Sinais do Estado de Sergipe. Membro do grupo NUPPIEPED da UFS. E-mail: grlibras@hotmail.com.

3

Graduada em Letras/Português. Pós-Graduada Lato Senso em LIBRAS. Proficiência de Uso e Ensino de LIBRAS, Nível superior (PROLIBRAS). Intérprete no Tribunal de Justiça de Sergipe e Programa Câmara em Ação (TV ATALAIA). Associada da AILES - Associação dos Interpretes de LIBRAS de Sergipe. Drª Honorária em Direitos Humanos. E-mail: rozildaramos@hotmail.com

(2)

INTRODUÇÃO

Alfabetização dos surdos requer, sobretudo, um conjunto de práticas de comunicação sociocultural, com utilização de materiais didáticos, sejam eles escritos ou materiais visuais. Os surdos como minoria linguística, compartilham de singularidades típicas de uma comunidade que tem como marca principal o uso de uma língua, a Língua de Sinais (LS). Portanto, elementos linguísticos e culturais distintos se encontram nessa minoria. As estratégias metodológicas para a alfabetização do surdo se percorrem no contexto do desenvolvimento social, histórico, cultural, e internalizadas a partir de uma linha de pensamento contínuo, não determinado, como práticas sociais orais e escritas, diluindo assim o universo da escrita (KLEIMAN, 1995; ROJO, 2001; SIGNORINI, 2001).

Neste universo da alfabetização, a problemática que vem sendo combatida é a questão da Língua de Sinais (LS) serem ágrafas. Os desconhecedores desta língua, a julgam como inferior, incompleta, ou ainda como um conjunto de códigos criados para suprir uma necessidade comunicativa familiar, e que LS não possuem um sistema de escrita. No entanto, desde a década de 1970, a Escrita da Língua de Sinais (ELS) ou Sign Writing (SW) vem sendo aceito pela comunidade surda. Ressaltamos que outras propostas de Escrita de Sinais foram criadas, anteriormente ou posteriormente do surgimento SW, focamos somente no SW pelo fato que esse sistema ter contribuído em estudos como sistema lingüístico de escrita e possibilitar uma analise descritiva dos elementos manuais e não manuais constitutivos dessa língua. Sendo assim, a escrita ainda não é um sistema lingüístico oficial brasileiro, devido a esta situação, a problemática da língua ainda se mantém.

A realização deste trabalho justifica-se devido à necessidade de maior compreensão sobre a utilização educacional da ELS. Sabemos que conforme a Lei 10. 436/22 de Abril de 2002, que reconhece a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como língua oficial das comunidades surda do Brasil, a Língua Portuguesa (LP) não pode ser substituída, em seu uso oficial, pela Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), mas os surdos, em sala de aula, poderão desenvolver-se melhor com o registro de sua língua natural, atingindo, assim, a aprendizagem significativa. Presume-se que seja relevante o conhecimento da ELS, para que na inclusão educacional dos surdos, estes estejam contemplados em uma proposta que almeja a utilização, na sala de aula, de uma escrita que expresse sentimentos, ideias e opiniões e principalmente a cultura e a identidade surda.

(3)

O papel ainda é um recurso bastante utilizado para registrar informações, na nossa sociedade. Por este motivo, a ELS em sincronia com a LIBRAS, possibilita a assimilação do português como Segunda Língua (L2). Pois a partir do conhecimento linguístico de uma Língua Natural (LN), o individuo tem habilidade cognitiva para adquirir conhecimentos linguísticos de uma L2. Isto é muito diferente de meramente utilizar desenhos das configurações de mãos, como o alfabeto manual. Embora, os vídeos ilustrativos produzidos em LIBRAS e a interação da língua dentro da sala de aula, são instrumentos impar para a reflexão do valor da LS para o surdo. No entanto a utilização da ELS torna-se fundamental para a continuidade do processo de alfabetização. A ELS, assim como a LIBRAS, expressa no papel características peculiar das LS como as Configurações de Mãos (CM), Ponto de Articulação (PA), Movimentos (M), Orientações da Mão (Or.) e as Expressões Não manuais (ENM). Para o surdo ter sucesso no desempenho linguístico no processo de aquisição de uma segunda língua, a ELS é uma ferramenta indispensável. Por envolver uma composição de unidades mínimas de significado, ela consegue compor textos.

Para alcançar o objetivo deste artigo, fizemos uma pesquisa qualitativa do tipo bibliográfico. Contamos com teóricos a exemplo de Capovilla (2006); Stumpf (2005); Dallan (2010); Quadros e Karnopp (2004); Strobel e Fernandes (1998) e outros.

1. CRIANÇA SURDA VESUS CRIANÇA OUVINTE: PARADGMA DA

APRENDIZAGEM

No processo da educação infantil ao promover experiências significativas de aprendizagem da Língua Portuguesa (LP), dar-se por meio de um trabalho com a língua oral e escrita, uma vez que a ampliação das capacidades de comunicação e expressão e de acesso ao mundo letrado pelas crianças se institui na sala de aula do ensino regular.

Ser alfabetizado nessa concepção nos indaga a pensar como a noção de aprendizagem, sobre a qual a aprendizagem do LP escrito venha ser uma representação da fala, criando uma dicotomia entra a oralidade e a escrita. Nesta perspectiva, a alfabetização, às vezes, está relacionada ao desenvolvimento das capacidades ligadas às quatro competências linguísticas fundamentais: ler e escrever, falar, escutar (MELLO; MILLER, 2008).

A criança no processo de aquisição da língua que seja oral ou escrita, idealizamos que a criança ao chegar à escola já possui um conhecimento sobre a língua, tanto por meio da

(4)

língua oral durante a interação entre falantes da língua, quanto no convívio com a língua escrita na interação com os outros seres humanos na sociedade. Sendo assim, a criança ao entrar na escola, o professor deve investigar o que ela já sabe a respeito da língua oral ou escrita para dar continuidade ao processo de aprendizagem.

Para Vygotsky (2007) a criança ao rabisca constrói um significado naquilo que esta rabiscando, porem não compreende o objeto como uma representação. Para que a criança consiga alcançar o progresso da aprendizagem, segundo Vygotsky (2007), deve descobrir o além do rabiscar, ou seja, é que a criança também pode desenhar a fala.

No entanto, faz-se necessário que a criança através das descobertas consiga uma aprendizagem eficaz. O que propomos é “ensinar às crianças a linguagem escrita, e não apenas a escrita das letras”. (Vygotsky, 2007, p.157). Segundo Cummins (2000), seria eficaz se a criança fosse alfabetizada em sua própria língua. No entanto vale ressaltar que a escrita alfabética não consegue captar as relações de significados da LS. Porem se torna extremamente importante os surdos adquirirem conhecimentos do português como segunda língua na modalidade escrita, para assim socializar-se com melhor desenvoltura, criando uma independência social. O processo de aprendizagem individual do aluno depende diretamente das ferramentas desenvolvidas pelo professor. Este conhecimento empírico serve de base para possíveis intervenções para um entendimento melhor da própria prática em sala de aula.

Segundo Capovilla (2006) existe uma continuidade quando a criança ouvinte pensa, fala e escreve tudo em sua língua. Codificar e decodificar grafemas com os fonemas favorece a aquisição fonológica da língua. Sendo que com as crianças surdas esse fenômeno inexiste pelo fato dela pensar e falar em LS, cujo canal de produção difere das Línguas Orais (LO). As interações comunicativas entre as LS e a LP escrita possibilitam a conscientização do valor das respectivas línguas e suas especificidades. Essas interações em prática trarão base para aquisição da leitura em ELS, da mesma forma para a o desenvolvimento da leitura e escrita da LP como segunda língua.

O que nos preocupam é em vê nos ambientes educacionais onde o surdo está inserido. Adquirir um nível de alfabetização é participar das práticas discursivas, seja ela oral (domínio da Língua de Sinais) ou escrita (ELS).

2. ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS (ELS – SIGN WRITNG): SISTEMA LINGUISTICO

(5)

A Escrita da Língua de Sinais (ELS) é sistema linguístico carrega todos os elementos que compõe os sinais, uma vez que o estudo sobre a ELS teve início em 1960, pelo linguista americano William Stokoe, abrindo caminho para outros estudos fonológicos, morfológicos, sintáticos, semióticos, pragmáticos, etc.

Esse sistema de escrita difere dos ideogramas em que várias frases e informações podem se resumir em um símbolo, pois expressa na escrita tudo o que for sinalizado. O fato da LIBRAS possui uma gramática com estrutura própria, facilitando assim o manuseara ELS, ou seja, garante o registro da estrutura sinalizada da LIBRAS para a escrita, sem perder nenhum detalhe, tornando possível que pessoas registrem informações de uma língua visual-espacial.

Segundo os estudiosos Viader, Pertusa e Vinardeledo (1999) assunto, são possíveis o uso da ELS, pois:

“usando suas estruturas, sintaxe e gramáticas próprias, sem o uso simultâneo e alternativo da língua falada. Respeita-se seu status linguístico como língua. Se expressa com elementos prosódicos e reflexões próprias” (VIADER, PERTUSA e VINARDELE, 1999, p. 54).

Se refletíssemos sobre que os surdos deveriam utilizar a escrita conforme a “fala” da LP, seria quase impossível, pois como poderiam expressar-se por regras gramaticais de uma língua oral auditiva à qual não tem acesso natural? Portanto, podemos afirmar que a ELS torna possível a inserção do sujeito surdo num processo de alfabetização que respeita suas especificidades linguísticas.

O estudioso Stokoe (apud Quadros e Karnopp, 2004), ao propor a composição dos sinais, apresentou em três parâmetros principais: configuração de mão – CM; locação da mão – L; movimento da mão – M. Posteriormente, outros parâmetros foram acrescentados às pesquisas da fonologia de sinais, são eles: orientação da mão – O; expressões faciais e corporais – EFC.

Classificados como Unidades mínimas de significado, os parâmetros da LS, como são conhecidos, são compostos pelos cinco itens citados acima. Sendo definido da seguinte forma: a Configuração de Mãos (CM), de acordo com Strobel e Fernandes (1998), é definida como a forma tomada pela mão no decorrer da articulação de um sinal. O Ponto de articulação (PA) é o lugar do corpo ou espaço neutro onde o sinal será executado. Já o Movimento demonstra o deslocamento da mão e do corpo durante a execução do sinal, possuindo

(6)

diferentes formas e direções. Além disso, os sinais podem ter, ou não, movimentos. Orientação (O), de acordo com Quadros e Karnopp (2004), significa a direção que a palma da mão indica na realização do sinal; as Expressões Faciais e Corporais (EFC) distinguem significados entre sinais. Três são seus parâmetros principais ou maiores: a CM, o M e o PA; e outros dois constituem seus parâmetros secundários ou menores: O e EFC (FERREIRA-BRITO, 1990).

Trazendo à tona informações acerca da LIBRAS e da ELS, podemos observar que a ELS permite um decalque de todos os elementos linguísticos presentes na sinalização em LS. De acordo com Silva (2012), o Movimento (M) pode ser classificado em duas categorias: movimentos de dedos e de mãos. O movimento acontece num espaço de sinalização, correspondente à área onde os sinais são realizados, ou seja, a distância que o braço do sinalizador alcança à frente, acima e abaixo. Esse espaço pode estar representado no plano paralelo à parede (vertical), com movimentos para cima e para baixo, escritos com setas duplas, ou ao plano paralelo ao chão (horizontal), com movimentos para frente e para trás, escritos com setas simples. Vejamos a figura 1 e 2 abaixo:

Figura 1: O sinal de Curso Figura 2: O sinal de CASA

FONTE: SILVA; GAUTO; SILVA; PATERNO, 2007 p. 34

FONTE: SILVA; GAUTO; SILVA; PATERNO, 2007 p. 34

Nos últimos anos, verificaram que as mudanças significativas por parte da sociedade no contexto da inserção do surdo, principalmente quanto ao uso da LS. Há muito tempo a LIBRAS, era considerada um tabu e não língua com estrutura e cognição. Falcão (2010) argumenta que como ferramenta cognitiva visual, a LIBRAS permite à pessoa surda viver de forma consciente, participativa, colaborativa e criativa, tornando-se construtora do próprio ser enquanto sujeito cidadão. Como diz Quadros:

(7)

A voz dos surdos são as mãos e os corpos que pensam, sonham e expressam. As línguas de sinais envolvem movimentos que podem parecer sem sentido para muitos, mas que significam a possibilidade de organizar as ideias, estruturar o pensamento e manifestar o significado da vida dos surdos. Pensar sobre a Surdez requer penetrar no “mundo” dos surdos e ouvir as mãos que com alguns movimentos nos dizem o que fazer para tornar possível o contato entre os mundos envolvidos. Permita-se a “ouvir” estas mãos. Somente assim será possível mostrar aos surdos como eles podem “ouvir” o silêncio da palavra escrita. (1997, p.119)

Ferreira-Brito também diz que "a língua é um dos mais importantes veículos de comunicação e de identidade do indivíduo com sua cultura, seu meio, enfim, de inter-relação com a comunidade a que pertence" (1990, p.91). É nisso que reafirmamos a nossa credibilidade e respeito ao cidadão “surdo”: na sua autonomia, como qualquer outro cidadão, com identidade própria e sendo agente numa sociedade que não deveria discriminá-lo pelo seu jeito próprio.

Stumpf (2005) relata que surgiram vários sistemas de notação com a tentativa de romper a problemática da afirmação acerca das LS serem ágrafas. O primeiro foi o de François Neve (1996); o segundo o de Hamburg Notation System – Ham NoSys; o terceiro Sistema D` Sing de Paul Jouison, (1990). Por último, o sistema Stokoe Notation, escrito por Stokoe. De acordo com a mesma autora, de 1919 a 2000, uma equipe de linguistas da Universidade Gallaudet, juntamente com Stokoe, criaram uma notação que parte de cinco elementos: o lugar - correspondendo a 12 posições; as configurações de mãos, que são dez; os movimentos indicando ação, contendo 22 símbolos; e a orientação - com 04 indicações. Segundo Stumpf, este sistema foi criado com o intuito de estudar as LS. Nesse aspecto, os estudos de Stokoe são referenciais para alguns pesquisadores das línguas de sinais.

No entanto, preocupados com a maneira de consolidar os sinais coletados e elaborados, surdos dinamarqueses encontraram uma solução de registrar os sinais da Língua de Sinais Dinamarquesa– LSD (DanskTengsprog – DTS). Exatamente na década de 1970, a Senhora Valerie Sutton, criadora de um sistema de escrita para passos de dança (Dancewriting), em visita a Dinamarca, possibilitou que estes pesquisadores surdos a procurassem, para expor suas implicações e analisar se havia possibilidade para a adaptação. A comunidade surda Dinamarquesa, em contato com a Valerie Sutton, encontrou uma solução para registrar a Língua de Sinais Dinamarquesa através de um novo sistema de escrita, o SW.

Como exemplo do trabalho executado por Sutton, vejamos abaixo nas figuras 3 e 4, com alguns exemplos do Dancewriting:

(8)

Figura 3: Representação escrita dos passos de dança.

Figura 4: representação da dança

Fonte: Stumpf, 2007, p. 30 Fonte: Stumpf, 2007, p. 30

Com a ajuda de Sutton foi criado o “CommitteeActionDeaf (DAC)”, referência mundial a respeito do SW. Em seguida, a ELS ganhou espaço na comunidade surda internacional. Atualmente esse sistema de escrita faz parte do universo cultural dos surdos. Desde então, o SW tem sido aceito e disseminado.

A ELS é divulgada para todo o mundo através de um portal na web. Vários países do mundo reconhecem o uso e o benefício dessa modalidade, entre eles se destacam: os Estados Unidos, Alemanha, Brasil, Dinamarca, Portugal, Arábia Saudita e China. Na década de 1990, mais precisamente de 1996, a escrita das línguas de Sinais começou a ser pesquisada e difundida em território brasileiro. Pesquisas na área da ELS fez com que a PUC/RS – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - se tornasse pioneira. Segundo Dallan (2010) em 1996 nesta Universidade surgiram os estudos sobre a ELS, com o professor Antônio Rocha Costa, que constituiu um grupo com as professoras Márcia Borba e Marianne Stumpf – pioneiras no estudo da ELS. Para exemplificar esta escrita, na figura 5 mostra o alfabeto manual:

Figura 5: Escrita do alfabeto no sistema SignWriting.

(9)

É oportuno enfatizar que a ELS tornou-se disciplina obrigatória na graduação em Letras Libras, da pioneira Universidade Federal de Santa Catarina, e de todos os demais cursos de Letras Libras no Brasil. A inclusão da ELS como disciplina do curso em Letras – LIBRAS fortaleceu a cultura surda, carregando assim um novo olhar, cristalizando ideias para viabilizar o processo de aquisição/aprendizado e letramento numa segunda língua para surdos, dessa forma, é possível promovermos uma aprendizagem, construindo subsídios metodológicos para o ensino de português como segunda língua escrita para surdos, com o apoio da ELS.

De fato, a leitura é um processo de decodificação de signos e nos faz interagir com o mundo, desenvolve nossa capacidade intelectual e emocional. Porem o aprendizado da ELS viabilizaria a internalização dos conceitos, pois a mesma agiria em paralelo com a LS contribuindo para o conhecimento linguístico de uma língua majoritária.

De acordo com Stumpf (2005) mesmo se a criança surda for capaz de converter as letras na datilologia, ela não obtém o sinal lexical que diariamente ela está acostumada utilizar em LS, esse é o ponto alto entre o surdo e o ouvinte diante de um processo de alfabetização. Para que ela compreenda a função social da leitura e da escrita, precisa sentir a necessidade e o prazer de ler e escrever, fato que raramente se observa entre crianças, jovens e adultos surdos (SILVA, 2009, p.54).

3. LÍNGUA PORTUGUESA ESCRITA COMO SEGUNDA LÍNGUA (L2): O QUE A ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS (ELS) TEM A AGREGAR?

A busca por uma escrita não alfabética, uma escrita que independe de estruturas fonéticas, uma escrita que mapeie a estrutura e as propriedades das LS favorecerá a continuidade desse processo de aquisição.

Do mesmo modo que a criança ouvinte pode beneficiar-se do uso de uma escrita alfabética para mapear os fonemas de sua língua falada, a Surda poderia beneficiar-se sobremaneira de uma escrita visual capaz de mapear os quiremas de sua LS (CAPOVILLA et al., 2006, p. 1494).

A cultura e a identidade surda se fortaleceriam da mesma forma que o seu conhecimento linguístico. Visto que a LIBRAS constitui um sistema linguístico (QUADROS e KARNOPP, 2004) e funciona como a cultura e identidade surda brasileira.

(10)

No que diz respeito à alfabetização, Quadros (1997) relata que em determinado período do desenvolvimento, as crianças surdas apontam para determinado ponto no espaço e raciocinam, sinalizam, mas, no momento de expressar o seu pensamento por meio da escrita, como fazem as crianças ouvintes em fase de alfabetização, é obrigada a expô-lo em uma escrita oral auditiva, ainda que sua língua natural seja visual e espacial. Seguindo essa linha de raciocínio, pesquisas foram feitas em ambiente educacionais no estado do Rio Grande do Sul, onde foram constatadas que crianças surdas adaptavam-se facilmente com o uso do sistema da ELS.

A LIBRAS, como idioma oficial da comunidade surda brasileira, cumpre sua função básica, ou seja, permite que o surdo pense, expresse-se, integre-se na sociedade. Nas relações sociais onde aparecem as reproduções da alteridade surda, observamos as relações de poder entre surdos e ouvintes, por isto é importante o enfraquecimento da comunidade surda.

Fernandes esclarece que a língua de sinais é:

[...] uma língua natural em organização em todos os níveis gramaticais prestando-se às mesmas funções das línguas orais. Sua produção realizada através de recursos gestuais e espaciais e sua percepção são realizadas por meio de processos visuais por isso é denominada uma língua de modalidade gestual-visual-espacial (FERNANDES 2001, p.4).

Devido à experiência visual que caracterizam os surdos, a escrita carece de meios complementares não verbais à expressão. Quando alguém escreve para tornar precisos conceitos ou ideias, não há algum interlocutor, como na relação de indivíduos em presença, e o sujeito que escreve o faz para tornar mais exatos seus próprios pensamentos, para verbalizá-los, desenvolvê-los sem nenhum contato mental com outra pessoa. Para Silva, o ato de escrever promove a clarificação das ideias, pois a escrita e a maneira da enunciação tem grande importância na constituição do pensamento. A autora Silva (2012) diz que o sujeito adulto que se encontra num elevado estágio de domínio da língua escrita, escreve como fala e como age.

No processo de alfabetização o surdo é imerso a relações cognitivas estabelecidas por meio da LS para assimilação e organização do pensamento. De acordo com Freire (1982: 20) a leitura do mundo precede a leitura da palavra e a leitura é importante para a continuidade da leitura daquele. Desse modo, o sistema de ELS possibilita a continuidade dessa relação cognitiva estabelecida, pois é possível a criação de hipóteses e assim alfabetizar-se. A leitura faz parte do processo de alfabetização, o português como segunda

(11)

língua ensinada aos surdos com o apoio do sistema de ELS tornará o sujeito surdo capaz de assimilar de forma mais ágil os conceitos. É sabido que esse procedimento didático deve estar intrinsicamente relacionado com os objetivos pedagógicos para tamanho desenvolvimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A forma de instruir os surdos a um letramento significativo e louvável nos trazem inúmeras reflexões acerca do assunto, investigando assim inquietantemente novas teorias e práticas na área da surdez e da educação dos surdos. Diferentes grupos socioculturais compartilham também dessa problemática, porem nos atentamos especificamente à minoria surda, a qual trás como marca principal o uso de uma língua visual e espacial. Metodologias de ensino do português como segunda língua para os surdos requer uma prática, articulada com atividades contextualizadas.

A escrita constitui-se como parte fundamental na construção de sentidos em sujeitos que ainda não foram expostos à aprendizagem formal da escrita. Além disso, a língua de sinais, a identidade e a cultura surda precisam ser respeitadas na Educação de Surdos, com recursos pedagógicos e materiais que contenham a ELS, ou seja: recursos que sejam baseados nas experiências visuais, solidificando assim os conteúdos.

REFERÊNCIAS

CAPOVILLA, F. C. et al. A escrita visual direta de sinais SignWriting e seu lugar na educação surda. In: CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D. Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua Brasileira de Sinais. Volume II: Sinais de M a Z. 3 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo (EDUSP), p. 1491-1496, 2006.

CRUVINEL,F.R. Ensinar a Ler na Escola: A leitura como prática Cultural. Ensino em RE-VISTA Uberlândia, 2010, p.249-276.

CUMMINS, J. (2000). Proficiência na língua em contextos académicos (cap. 3). Em

linguagem, poder e pedagogia: As crianças bilíngües no fogo cruzado. Clevedon,

(12)

DALLAN, Maria Salomé Soares. Escrita de LIBRAS (Signwriting): um olhar para o desenvolvimento linguístico do aluno surdo e para a formação do professor de línguas. In: III

Congresso Latino-Americano de Formação de Professores de Línguas. Universidade de

Taubaté, São Paulo, Brasil, no período de 04 a 06 de novembro de 2010.

FERREIRA-BRITO, L. Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. In: BRASIL. Secretaria de Educação Especial Língua Brasileira de Sinais / organizado por Lucinda F. Brito et. al. -Brasília: SEESP, 1997. V III. - (série Atualidades Pedagógicas, n. 4).

KLEIMAN, A. Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre prática social

da escrita. Campinas: Mercado das Letras, 1995.

MELLO, S; MILLER, S. O desenvolvimento da linguagem oral e escrita em crianças de 0

a 5 anos. Pró-Infantil: Curitiba, 2008.

QUADROS, Ronice Müller de; KARNOPP, Lodenir. Língua de Sinais brasileira: estudos lingüísticos. Porto Alegre: ARTMED, 2004. 221 p.

ROJO, R. Letramento escolar, oralidade e escrita em sala de aula: diferentesmodalidades ou gêneros do discurso? In SIGNORINI, I. (org.) Investigando a relação oral/escrito e as teorias do Letramento.Campinas: Mercado de Letras, 200.(ColeçãoIdéias sobre Linguagem).

SIGNORINI, I.. Construindocom a escrita “outras cenas de fala”. In Signorini, I. (org.) Investigando a relação oral/escrito e as teorias do Letramento.Campinas: Mercado de Letras, 2001. (ColeçãoIdéias sobre Linguagem).

SILVA, F. I.; REIS, F.; GAUTO, P. R.; SILVA, S. G. L.; PATERNO, U. Aprendendo

LIBRAS como segunda língua. Nível básico. Caderno pedagógico I. Curso de LIBRAS.

CEFET/SC, NEPES. Santa Catarina, 2007.

SILVA, Rafaela Cota da. SignWriting: um sistema de escrita das línguas gestuais. Aplicação à Língua Gestual Portuguesa. In: EXEDRA, Revista Cientifica ESEC. Português: Investigação e Ensino Número temático - dezembro 2012.

SILVA, Rafaela Cota da. Signwriting: um sistema de escrita das línguas gestuais – aplicação à língua gestual portuguesa. Dissertação de Mestre em Comunicação Alternativa e Tecnologias de Apoio. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Escola de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação Lisboa 2012.

STAINBACK, Susan, STAINBACK, William. Inclusão: um guia para educadores. Porto Alegre: Arte Médicas, 1999.

(13)

STROBEL, Karin Lilian; FERNANDES, Sueli. Aspectos linguísticos da LIBRAS. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Departamento de Educação Especial. Curitiba: SEED/SUED/DEE.1998.

STUMPF, M. R. Aprendizagem da escrita de língua de sinais pelo sistema de

SignWriting: língua de sinais no papel e no computador. Tese de Doutorado. Porto Alegre,

UFRGS, 2005.

VIADER, M. P. F.; PERTUSA, E.; VINARDELL, M. Importancia de lasestrategias y recursos de la maestra sordaenelproceso de enseñanza/aprendizaje de lalengua escrita. In

Skliar, C. (org.). Atualidade da educação bilíngüe para surdos. Porto Alegre, S: Mediação,

1999. 47-57 p.

VYGOTSKI, L.S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

Referências

Documentos relacionados

Também pode enviar um Preset seleccionado para um outro aparelho: para este efeito, mude para o modo EDIT, premindo simultaneamente as duas teclas de cursor no aparelho

Tendo em vista as considerações apresentadas, acredita-se que são necessários estudos na área de alfabetização de surdos para aquisição da Língua Portuguesa escrita,

Teoricamente existe, mas na prática é só para os adultos, e não passa para as crianças. Vocês não compreendem os nossos rituais nem percebem a natureza dos

found that the predictive value of TWA compared favorably to other conventional variables associated with arrhythmic risk (late ventricular potentials, reduced left

miogênese para aumentar o número de fibras musculares é uma estratégia importante para aumentar a massa

Contém este livro 200 (duzentas) páginas numeradas de 1 (um) a 200 (duzentos), que, rubricadas pelo (cargo e nome do responsável pelo livro), des- tinaram-se ao registro

sempre foi difícil. No entanto, eles não se dão conta que a utilizam para todos os setores importantes da vida, entre eles, que seguem: na- morar, brigar, vender, convencer,

Na busca da perfeição linguística, acabamos radicalizando e assumimos uma postura preconceituosa diante das várias formas de expressão da Língua Portuguesa no Brasil.