As Ciências Contábeis
inseridas na sustentabilidade
A Contabilidade Ambiental ou Socioambiental começa a ganhar adeptos
em todo o País. O tema, aliás, pode ser definido como um conjunto de
informações econômico-financeiras resultantes das interações de entidades
que se utilizam da exploração do meio ambiente. Foi no ano de 1998 que
a Contabilidade Ambiental ganhou status de novo segmento da Ciência
Contábil, por meio de relatório financeiro e contábil sobre passivo e custos
ambientais pelo grupo de trabalho intergovernamental das Nações Unidas
de Especialistas em padrões Internacionais de Contabilidade e relatórios
(ISAR – United Nations Intergovernanmental Working Group of Experts on
International Standards of Accounting and Reporting). Para falar sobre o
tema, a RBC convidou três professoras que estudam o assunto com muito
interesse: a conselheira do Conselho Federal de Contabilidade Gardênia
Maria Braga e as contadoras Maísa de Souza Ribeiro e Aracéli Cristina de
Souza Ferreira. A reportagem traz, também, a importância do tema nas
empresas e organizações, quais os seus objetivos e o seu desenvolvimento
em âmbito mundial e nacional.
REPORTAgEM
Rosangela Beckman e
Dandara Lima.
Colaboraram Fabrício Santos
e Maria do Carmo Nóbrega
Em decorrên-cia do progresso crescente, diver-sos segmentos da sociedade voltaram
suas preocupações para uma esfera que até bem pouco tempo não se fa-lava muito: a preservação ambiental e o ônus decorrente dessa expansão mundial. Em vista disso, determi-nados setores da sociedade par-tiram em busca de estratégias controladoras com a finalidade de que fossem produzidas so-luções eficazes para o desen-volvimento sustentável.
A Contabilidade, que é uma ciência que tem como
objeto de estudo o patrimô-nio das entidades, enve-redou-se nessa linha
social e se recoloca como uma ferramenta gerencial fundamental com vistas a conferir os encargos decor-rentes dos impactos ambientais deflagrados pelas atuais atividades econômicas.
Com o objetivo de tornar eviden-te esse relacionamento entre empre-sa e meio ambiente, a Contabilidade Socioambiental, autenticada como mais um segmento das Ciências Contábeis e que vem ganhando espaço privilegiado atualmente na sociedade, foi concebida
para fornecer informações e interpretações pontuais a empresas, governos e demais usuários a res-peito de seu patrimônio
ambiental e seus respectivos efeitos ocasionados pelos danos ao meio ambiente, os quais podem ser men-surados em moeda.
Segundo Gardê-nia Maria Braga,
professora da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e autora do livro
“Contabi-lidade Ambiental: te-oria e prática”, data de quarenta anos atrás o início das discussões quanto às novas formas de desenvolvimento que levassem em conside-ração a sustentabili-dade e a responsabi-lidade para com o
meio ambiente. Essa mudança de comporta-m e n t o p o d e ser observada t a m b é m n o aumento de pu-blicações realizadas na área, mesmo que ainda sejam em uma quantidade conside-rada pequena. Tais publicações enfocam aspectos diversos e complementares so-bre a interação da
entidade com o meio ambiente e as formas de valorar esses resultados aos múltiplos usuários da informa-ção contábil, inclusive, e principal-mente, à sociedade.
O Brasil começou a discutir mais seria-mente a Contabili-dade Ambiental no começo da década de 90, “mas as alterações
econômicas que essas mu-danças ocasionaram ainda são pouco divulgadas ao público externo”, afirma a professora da Universidade de São Paulo (USP) - Campus Ribeirão Preto e autora do livro “Contabili-dade Ambiental”, Maísa de Souza Ribeiro.
Maísa Ribeiro reforça que a Contabilidade Ambiental tem por finalidade identificar, medir e infor-mar quais as transações que tornam evidentes a interação das empresas com o meio ambiente. Segundo
ela, para atender às exigências, as empresas realizaram um reordena-mento das atividades comerciais,
que demandaram investimento em tecnologia e capa-citação de mão de obra. Na opinião da professora, “tratando-se de valores relevantes, os gastos ambientais devem compor o planejamento estratégico das companhias para a definição de priorização e alocação de recursos”. Maísa Ribeiro diz ainda que “como todo investimento, esses gastos requerem a avaliação de retorno em relação ao êxito da apli-cação, demonstrando aos usuários externos o comprometimento e o respeito da entidade para
com o meio ambiente”. A professora, que lamenta também a carência de divul-gação do tema no
Gardênia Maria Braga
Di
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ment, de autoria
dos professores Rob Gray, Jan Beb-bington e Diane Wal-ters, que, segundo Aracéli
Ferreira, ainda hoje é considerado a “bíblia” da Contabilidade Socioam-biental, e seus autores, as maiores referências em nível mundial.
Aracéli ainda explica que o cres-cimento da degradação ambiental e das pesquisas sobre o assunto fez com que a sustentabilidade chegasse à mesa de trabalho dos profissionais de Ciências Contábeis e que países como Portugal, Espa-nha e China já tomaram iniciativas
oficiais, muito em parte pelo que ficou discutido no Protocolo
de Kyoto.
Durante o Congresso de Contabilidade Ambiental, nos dias 27 e 28 de julho de 2009, realizado na UFRJ, que contou com a presença do professor Rob Gray, a professora Aracéli Ferreira foi indi-cada como representante do Brasil e dos países vizinhos no International
Associates do CSEAR. “O Congresso
foi um sucesso e considerado pelo professor Gray como o maior even-to, no âmbito do CSEAR, já realizado fora da Escócia até aquele momen-to”, orgulha-se Aracéli.
Como representante do CSEAR, Aracéli Ferreira revela que sua pri-meira tarefa foi cumprida e que o
II South America CSEAR Conference
será realizado no ano de 2011 na USP-Ribeirão Preto. “A outra tarefa é de modus continuum e, para isso, estamos trabalhando em um banco de dados com os pesquisa-dores da área, com vistaS a inte-grar uma rede de pesquisadores brasileiros aos pesquisadores da CSEAR”, concluiu.
Para saber mais
De acordo com a professora da UFPI, Gardênia Braga, “fe-País, destaca que
“al-gumas informações ambientais são encon-tradas sobre efeitos nos resultados, em
contra-partida ao reconhecimento d a s respectivas provisões”. Ela chama a atenção para o fato de que os sistemas de gerenciamento am-biental e os cursos de educação ambiental não estão sendo eviden-ciados da forma como deveriam. Na opinião do professor Rob Gray, membro do Centre for
Social and Environmental Ac-counting Research (CSEAR) e
um dos autores do livro Ac-counting for the Environment, o primeiro trabalho que deve ser feito é mostrar aos estudantes de Ciências Contábeis a importância da Contabilidade Social e Ambien-tal, assim como realizar pesquisas de forma mais rígida, para depois expor à sociedade civil, per-mitindo que se reconheça
o quanto os contadores podem ajudar no futuro. “É necessário saber mais sobre as organizações sociais, ambientais e interações sustentá-veis, e somente uma Contabilidade realmente desenvolvida vai efetuar isso”, completa.
Já a autora do livro “Contabili-dade Ambiental: uma informação para o Desenvolvimento Sustentá-vel” e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Aracéli Cristina de Souza Ferreira, define, em primeiro lugar, que “o reconhecimento contábil das relações entre a empresa e o meio ambiente é, atualmente, chamado de Contabilidade Socioambiental, pois hoje não se pode entender a questão am-biental dissociada dos
impactos que as altera-ções do meio ambiente causam à sociedade”. A partir disso, Ara-céli Ferreira afirma que foi nos anos 70 que a Contabilidade se aproximou dos ques-tionamentos sociais que vinham sendo realizados desde a década anterior e que, graças ao professor escocês M. R. Mathews, cujos trabalhos na área foram desenvolvidos principalmen-te na Austrália e na Nova Zelândia, a Contabilidade foi inserida na busca pela sustentabilidade.
Mas foi na década de 90 que as publicações eclodiram, entre elas, o livro Accounting for the
Environ-Aracéli Ferreira Di
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lizmente, po-demos dizer que as Ciên-cias Contábeis, por meio de diversos estudos já realizados, têm apresentado solu-ções consideradas relevantes para inserção da Contabilidade no gran-de circuito da sustentabilidagran-de”.
Segundo ela, além de um bom número de livros, vários artigos têm sido publicados e diversos trabalhos são apresentados em eventos nacionais da área contá-bil relacionados à Contacontá-bilidade Ambiental. “Isso certamente am-pliará, em um futuro próximo, a quantidade de publicações sobre o tema, principalmente em virtu-de dos questionamentos vincula-dos ao assunto, que é palpitante e atual”, comemora Gardênia.
Para aqueles que querem se aprofun-dar no assunto, a professora apre-senta abaixo um levantamento da bibliografia editada sobre o tema no Brasil, nos anos 2000, e tece comentários sobre cada publi-cação.
- SILVA, Benedito de Albuquerque. Conta-bilidade e Meio Ambiente: considerações teóricas e práticas sobre o controle dos gastos ambientais. Editora Annablume/Fapesp, 2003.
Gardênia - Apresenta um estudo de caso aplicado a uma empresa industrial e mostra a utilidade e a necessidade da aplicação das técnicas e informações contábeis ao controle de gastos ambientais realizados pela empresa.
- FERREIRA, Aracéli Cristina de
Souza. Contabilidade Ambien-tal: uma informação para o
Desenvolvimento Sus-tentável. Editora Atlas, 2003. Gardênia - Realiza um r e t r o s p e c -to histórico das questões ambientais e dá uma visão geral da gestão ambiental, tratando da evolução da Con-tabilidade Ambiental e discorrendo sobre as abordagens teóricas relacionadas à Contabilidade Financeira Ambiental e a Conta-bilidade Gerencial Ambiental.
- PAIVA, Paulo Roberto. Con-tabilidade Ambiental: evi-denciação dos gastos am-bientais com transparência e focada na prevenção. Editora Atlas, 2003.
Gardênia - O livro é dividido em três partes. Na primeira, o au-tor discorre sobre Contabilidade e gastos ambientais; na segunda, ele
fala sobre evidenciação dos gastos ambientais; e, por fim, na terceira, demonstra o resultado de uma pesquisa exploratória que apresenta o grau de evidenciação de gastos ambientais por empresas brasileiras do setor do papel e celulose.
- TINOCO, João Eduardo Pru-dêncio, e KRAEMER, Maria Eli-sabeth Pereira. Contabilidade e Gestão Ambiental. Editora Atlas, 2004.
Maísa de Souza Ribeiro Di
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Gardênia - Demonstra como o Sistema de Ges-tão Ambiental (SGA) é importante nas orga-nizações que buscam o controle mais eficaz de
seus processos, aspectos e impac-to ambiental, e como é possível identificar os impactos ambientais, controlá-los e minimizá-los por meio da adoção de indicadores de desempenho ambiental.
- RIBEIRO, Maísa de Souza. Con-tabilidade Ambiental. Editora Saraiva, 2005.
Gardênia - Apresenta os concei-tos relacionados com a área, define e discute os gastos que podem ser reconhecidos como ambientais, demonstrando que o sistema de custeio por atividades é adequado à apuração desses custos ambien-tais. Traz também a importância da gestão estratégica econômica dos gastos ambientais.
- BRAGA, Célia. Contabilidade Ambiental: ferramenta para a gestão da sustentabilida-de. Editora Atlas, 2007.
Gardênia - O livro reúne seis artigos relacionados aos seguintes temas: Gestão Ambiental e Desen-volvimento Sustentável; Dano Am-biental; Contabilidade AmAm-biental; Evidenciação Contábil Ambiental; Metodologia para o Acompanha-mento Contábil do Sistema de Ges-tão Ambiental da Coelce; e Software Sistema de Informação Contábil Ambiental (SICA).
- CARVALHO, Gar-dênia Maria Braga. Contabilidade Am-biental: teoria e prá-tica. Editora Juruá, 2008.
Gardênia – A publicação é dividida em três partes. Na pri-meira, discorre-se sobre temas de outras áreas do conhecimento que embasam a Contabilidade Ambiental, inclusive aqueles re-lacionados à valorização ambien-tal; na segunda, fala-se sobre a Contabilidade Ambiental especi-ficamente: histórico, princípios contábeis e contas ambientais; e na terceira parte, apresentam-se diversos modelos de
lançamentos relacionados a fatos contábeis ambientais.
- SILVA, Benedito Gonçalves. Contabilidade Ambiental: sob a ótica da contabilidade finan-ceira. Editora Juruá, 2008.
Gardênia - Mostra como a Con-tabilidade Financeira das entida-des pode registrar os fatos contá-beis que, direta ou indiretamente, modificam o meio ambiente, os quais darão origem aos demons-trativos contábeis, apresentando também, como auxílio aos usuá-rios, as demonstrações chamadas “Destaque Ambiental”.