MEDULA ESPINHAL
Prof. João M. Bernardes
FUNÇÃO
• A medula desempenha duas funções principais:
– Conduz os impulsos nervosos do encéfalo para a periferia e vice-versa;
– Processa informações sensitivas de forma limitada, tornando possível o início de ações
reflexas (reflexos espinhais) sem ação dos
ANATOMIA MACROSCÓPICA
• A medula situa-se no canal vertebral; • Estende-se desde o forame magno do
crânio até o nível da primeira ou segunda vértebra lombar (coluna vertebral cresce em uma proporção maior do que a medula espinhal);
• A medula tem a forma de um longo cordão, que apresenta dois engrossamentos: as intumescências cervical e lombossacra;
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• Anteriormente, de cima até embaixo, a medula apresenta uma pequena fissura, a fissura mediana anterior;
• Em ambos os lados da fissura mediana anterior trafega, de cima para baixo, o cordão (funículo) anterior;
• Posteriormente, de cima até embaixo, a medula apresenta uma pequena fissura, o sulco mediano posterior;
• Em ambos os lados do sulco mediano posterior trafega, de cima para baixo, o cordão posterior;
• Lateralmente, entre os cordões anterior e posterior, trafega o cordão lateral;
• Inferiormente, a medula termina no cone medular, a partir do qual se liga à terminação caudal do canal vertebral através do filamento terminal;
• No final da medula, o conjunto de raízes nervosas lombares e sacrais lembram um rabo de cavalo e, portanto, é denominada cauda equina.
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1 - Cone medular 2 - Filamento terminal
• Entre o cordão anterior e lateral forma-se o sulco ântero-lateral, no qual se
encontram as raízes anteriores dos nervos espinhais;
• Entre o cordão posterior e lateral forma-se o sulco póstero-lateral, no qual se encontram as raízes posteriores dos nervos espinhais;
• Os nervos espinhais que saem da coluna vertebral entre as vértebras cervicais são denominados de cervicais (8); aqueles que saem entre as vértebras torácicas são denominados torácicos (12). Da mesma forma, lombares (5), sacrais (5) e coccígeo (1) são os nervos que saem entre as vértebras de mesmo nome.
• Com base na saída dos nervos espinhais a medula pode ser dividida em:
– Medula cervical; – Medula torácica; – Medula lombar; – Medula sacra; – Medula coccígea.
• Cada um deste trechos da medula pode ser divido, ainda, em segmentos;
• Um segmento corresponde à porção da medula, da qual saem as fibras para um par (direito/esquerdo) de nervos
espinhais;
• Na região da coluna cervical a raiz do nervo espinhal é denominado segundo a vértebra imediatamente abaixo do mesmo (ex: raiz que sai entre as vértebras C5 e C6 é denominada de raiz C6);
• Já, a partir do segmento torácico, a raiz é nomeada segundo a vértebra logo acima (ex: raiz que sai entre as vértebras L5 e S1 é denominada de raiz L5).
ESTRUTURA INTERNA
• A medula consiste de duas áreas:
– Substância branca; – Substância cinzenta.
Substância cinzenta da medula
• Localizada centralmente; • Apresenta formato da letra “H”;
• As duas metades da “letra H” são ligadas através da comissura cinzenta, no meio da qual encontra-se o canal medular; • Inicialmente, a substância cinzenta pode
ser dividida em três regiões: anterior, posterior e lateral.
• A porção anterior, denominada corno anterior, contém neurônios, chamados de neurônios motores ou motoneurônios, cujos axônios irão sair pela raiz ventral dos nervos espinhais para enviar informações para os músculos esqueléticos;
• A porção posterior, denominada corno posterior, contém neurônios que, através dos neurônios sensitivos dos gânglios espinhais, recebem informações
relacionadas à sensibilidade e, que, por sua vez, dão origem a fibras que subirão através da substância branca da medula levando estas informações à níveis mais altos do SNC;
• Correspondente à divisão ventral/motor -dorsal/sensitivo encontram-se nos cornos anteriores as raízes motoras e, nos cornos posteriores, as raízes sensitivas dos nervos espinhais;
• Ambas as raízes juntam-se formando o nervo espinhal;
• Na região da medula torácica e - menos visível - da medula lombar, encontra-se a porção lateral, denominada corno lateral, que contém grupos neuronais do SNA; • Em cada um dos cornos podem ser
encontrados núcleos nervosos isolados.
Núcleos do corno posterior
• Núcleo dorsal (Stilling-Clarke ou torácicoposterior):
– Recebe principalmente impulsos
proprioceptivos;
– Estes impulsos são enviados deste núcleo para o cerebelo via trato espinocerebelar.
• Substância gelatinosa
– Recebe impulsos referentes à nocicepção (dor);
– Estes impulsos são enviados ao tálamo via trato espinotalâmico.
Núcleos do corno anterior
• No corno anterior situam-se osneurônios, cujos axônios suprirão os músculos esqueléticos;
• Podem ser agrupados em dois grupos ventromedial e dorsolateral;
• Ventromedial: inervam a musculatura relacionada ao esqueleto axial;
• Dorsolateral: inervam a musculatura relacionada às extremidades.
Núcleos do corno lateral
• Núcleo intermédio lateral– Encontrado principalmente na medula torácica e, ainda na lombar e sacra;
– É o local onde se encontram os neurônios
• De acordo com a distribuição dos
neurônios a substância cinzenta pode ser dividida, ainda, em camadas celulares (lâminas) menores, que são numeradas com os algarismos I a X da região dorsal para a ventral, onde localizações
funcionais mais precisas podem ser feitas.
Substância branca da medula
• Circunda completamente a substância cinzenta;
• Em cada metade da medula a substância branca está dividida pela substância cinzenta em três áreas: cordão (funículo) posterior, lateral e anterior;
• No interior de cada cordão existem feixes de fibras nervosas denominados tratos ou fascículos;
• Alguns fascículos são ascendentes (sensitivos) e levam impulsos que atingem a medula espinhal rumo ao encéfalo;
• Outros fascículos são descendentes (motores) e levam impulsos do encéfalo para neurônios motores situados na coluna anterior ou lateral da medula.
Fascículos ascendentes
• Levam impulsos aferentes (sensitivos) dereceptores periféricos sensitivos para vários centros do encéfalo;
• Todos os tratos ascendentes passam para o outro lado do SNC (na medula ou no bulbo), assim sendo impulsos
sensitivos iniciados em receptores do lado direito do corpo são interpretados no lado esquerdo do cérebro;
• Em geral os fascículos apresentam 3 neurônios sucessivos:
– Neurônio de 1ª ordem: neurônio sensitivo, com o dendrito no nervo espinhal e o corpo celular no gânglio da raiz dorsal;
– Neurônio de 2ª ordem: transmite o impulso do neurônio de 1ª ordem para o de 3ª ordem, seu corpo celular se encontra na medula ou no bulbo;
– Neurônio de 3ª ordem: seus corpos celulares estão no tálamo de onde transmitem os impulsos sensitivos para o córtex cerebral, atingido o nível consciente.
• Os principais fascículos ascendentes da coluna são: fascículo grácil, fascículo cuneiforme, tratos espinotalâmicos e tratos espinocerebelares.
• Fascículos grácil e cuneiforme
• Neurônios situados nos gânglios dorsais dos nervos espinhais trazem informações para as células do corno posterior da medula espinhal; • Estas, então, dão origem a axônios que sobem em
direção ao bulbo através do funículo posterior; • Suas fibras terminam nos núcleos grácil e
cuneiforme, localizados no bulbo;
• Destes núcleos parte um novo feixe de fibras que alcança o cérebro, tornando essas informações conscientes.
– Levam impulsos referentes ao tato
discriminativo, posição articular
(propriocepção consciente) e vibração de diversas partes do corpo (cuneiforme: MMSS, tronco e pescoço / grácil: MMII e partes inferiores do tronco).
Tato discriminativo e propriocepção formam a sensibilidade epicrítica.
• Trato espinotalâmico
• Neurônios situados nos gânglios dorsais dos nervos espinhais trazem informações para as células do corno posterior da medula espinhal; • Estas, então, dão origem a axônios que tomam a
direção anterior, cruzam a linha média e sobem pela medula no limite entre os cordões anterior e lateral, dividindo suas fibras em uma porção anterior e uma porção lateral;
• Suas fibras irão terminar em núcleos localizados no tálamo.
– Transmite impulsos referentes à sensibilidade grosseira de tato e pressão (fibras
anteriores), assim como a sensibilidade
térmica e dolorosa (fibras laterais).
Sensibilidade térmica, dolorosa e sensibilidade grosseira de tato e pressão formam a sensibilidade protopática.
• Trato espinocerebelar
• Neurônios situados nos gânglios dorsais dos nervos espinhais trazem informações para as células do corno posterior da medula espinhal; • Estas, então, dão origem a axônios que podem
seguir dois caminhos diferentes;
• Alguns axônios seguem pelo cordão lateral do mesmo lado (ipsilateral) até chegar ao cerebelo, formando o trato espinocerebelar posterior;
• Enquanto outros axônios cruzam de lado e sobem pelo cordão lateral contralateral, contudo essas mesmas fibras tornam a se cruzar ao entrar no cerebelo, formando o trato espinocerebelar anterior.
– Alimenta o cerebelo com estímulos
proprioceptivos de receptores musculares e
Fascículos descendentes
• Conduzem impulsos do encéfalo paraos neurônios motores que regulam a atividade dos músculos esqueléticos; • São dois os tratos descendentes:
– Tratos piramidais; – Tratos extrapiramidais.
• Tratos piramidais (córtico-espinhais)
– Têm origem no córtex motor cerebral; – Têm como função a inervação motora da
musculatura distal das extremidades;
– As fibras desses tratos são denominadas
neurônios motores superiores.
– Formados por duas porções: lateral e anterior;
– Trato córtico-espinhal lateral:
• Os corpos dos neurônios presentes neste feixe se encontram no córtex motor cerebral;
• Seus axônios descem até o tronco encefálico, onde atingem uma estrutura denominada
decussação das pirâmides, nessa altura, a maior
parte das fibras cruza de lado;
• Após cruzar de lado, descem no cordão lateral da medula;
• Terminam em contato com neurônios motores do corno anterior.
– Trato córtico-espinhal anterior:
• Neste trato algumas das fibras vindas do córtex motor cerebral não cruzam na decussação das
pirâmides e descem no cordão anterior da medula;
• As fibras do trato córtico-espinhal anterior também terminam em contato com neurônios motores do corno anterior contralateral, pois cruzam ao nível
da medula espinhal pouco antes de sua terminação;
– O trato lateral tem mais fibras e, portanto, é mais importante que o anterior;
– Como ambos os tratos são cruzados o córtex cerebral do lado direito controla a
• Tratos extrapiramidais
– Originam-se principalmente dos núcleos do tronco encefálico;
– Tem como função a inervação motora da
musculatura proximal das extremidades e do tronco;
– Formados por três porções: rubro-espinhal, vestíbulo-espinhal e retículo-espinhal.
– Trato rubro-espinhal:
• Tem início no núcleo rubro, situado no mesencéfalo, e suas fibras descem no cordão lateral da medula.
– Trato vestíbulo-espinhal:
• Tem origem nos núcleos vestibulares, situados na altura do bulbo e da ponte, e suas fibras descem no cordão anterior da medula.
– Trato retículo-espinhal:
• Tem origem na formação reticular do tronco encefálico, e suas fibras descem no cordão anterior da medula.
As fibras destes tratos terminam em contato com interneurônios que irão, por sua vez, ligar-se aos neurônios motores.
ARCO REFLEXO
• Nem todos os impulsos nervosos que chegam à medula através dos neurônios sensitivos atinge os tratos ascendentes e são levados para áreas superiores do SNC;
• Alguns destes neurônios, transmitem os impulsos para neurônios motores do corno anterior da medula, estas vias são
• A presença dos arcos reflexo medulares possibilita a realização de movimentos automáticos e estereotipados, denominados reflexos, de forma inconsciente;
• Um arco reflexo medular está composto de pelo menos cinco componentes:
– Receptor: terminação nervosa periférica; – Neurônio sensitivo: leva os impulsos para a
medula espinhal;
– Sinapse: entre neurônios sensitivos e motores na medula. Pode ser:
• Monossináptico: sensitivo + motor;
• Polissináptico: sensitivo + interneurônio + motor;
– Neurônio motor: transmite o impulso nervoso da medula para um órgão efetuador; – Efetuador: responde ao impulso eferente.
BIBLIOGRAFIA
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