Palestra de Stanley Gacek – Congresso Internacional de Direito Sindical, Fortaleza, Ceará – Sindicalismo, Estado e Serviço Público – Sindicalismo e Estado: A Visão da OIT – 14 horas, 11 de abril do 2013
Introdução
1- A Ilustre Dra. Christianne Diógenes, Juíza do Trabalho, Mestre e Presidenta da Amatra VII, O Ilustre Dr. Luís Antônio
Camargo de Melo, Presidente de Honra e o Procurador Geral do Trabalho da República Federativa do Brasil, O Ilustre Dr. Francisco Gérson Marques de Lima, o Organizador e o
Procurador Regional do Trabalho, O Ilustre Dr. Nicodemos Fabrício Maia, Procurador-Chefe/PRT 7ª Região, O Ilustre Lelio Bentes Corrêa, Ministro do TST e Membro da Comissão dos Peritos da OIT, Ministros e Ministras, Juízes, Magistrados, Desembargadores, Procuradores, Promotores, Professores e Professoras de Direito, Companheiros e Companheiras
Sindicalistas, etc.
2- Realmente é uma honra ímpar para nosso Escritório da OIT em Brasília (e também um grande privilégio pessoal) estar presente neste Congresso Internacional de Direito Sindical, e falar no Eixo 2 dessa conferência, intitulado “Sindicalismo, Estado e Serviço Público”. Saudações da Dra. Laís Abramo, da Dra. Elizabeth Tinoco, do Diretor-Geral Guy Ryder.
3- Também tenho a honra de representar a Dra. Cleópatra Doumbia-Henry, Diretora do Departamento de Normas da OIT. Na verdade é impossível substituir à Dra. Cleópatra em termos do conhecimento e da perícia incomparável dela sobre o sistema normativo da OIT, mas vou tentar lhes transmitir algumas reflexões humildes da minha parte sobre o tema “Sindicalismo e Estado: A Visão da OIT.”
Prefácio e Argumento Básico
4- Na verdade esse tema de hoje – “Sindicalismo e o Estado – A Visão da OIT” merece um seminário de alguns dias, e tenho apenas 20 minutos.
5- No entanto, gostaria de registrar a seguinte mensagem: o sindicalismo, ou seja, a representação e a organização coletiva de trabalhadores e de trabalhadoras, é fundamental à visão e ao conceito da OIT sobre o Estado por duas razões básicas:
i- Trabalhadores, trabalhadoras e suas organizações fazem uma parte imprescindível da governança e do direito internacional produzido pela OIT. O sindicalismo é um dos “legisladores” fundamentais na construção do sistema internacional de normas trabalhistas que tem uma aplicação aos Estados do mundo (185 estados membros na comunidade global da OIT), e uma aplicação vinculante no caso de convenções ratificadas pelos estados membros. Com outras palavras, no sistema tripartite da OIT, o sindicalismo - a organização coletiva dos
trabalhadores e trabalhadoras - é um parceiro igual aos empregadores e ao Estado. Não apenas os
governos são responsáveis pela criação desse
direito do trabalho internacional a ser incorporado pelos Estados do mundo, mas também os
empregadores e os trabalhadores representados por sindicatos.
ii- Outra razão básica: para a OIT, além do papel fundamental do sindicalismo na construção do sistema normativo, o sindicalismo é um parceiro fundamental e indispensável ao diálogo social com o Estado em si, inclusive com os empregadores, em todas as instâncias: ao nível nacional, regional e internacional. Na verdade o diálogo social
envolvendo uma relação direta do sindicalismo com o Estado é um alicerce da OIT e tem tudo a ver com a fundação da organização em 1919.
6- Com essas duas razões básicas pela importância da relação do sindicalismo com o Estado na ótica da OIT, há três eixos
básicos para caracterizar a relação do Estado com o sindicalismo na visão da OIT:
i- O respeito e o cumprimento pelo Estado (através dos 3 poderes – executivo, judiciário, e legislativo) com os direitos sindicais reconhecidos e protegidos nas normas da OIT garantindo a liberdade sindical, a organização sindical, a negociação coletiva e o direito de greve. (Explique como o direito de greve oriundo da
jurisprudência da liberdade sindical e da Convenção 87 a respeito, desde os anos 50).
ii- Sindicalismo como parceiro/constituinte (também com os empregadores) no diálogo social tripartite em todos os níveis.
iii- Relação do sindicalismo com o Estado na capacidade do Estado como empregador. Aí entram todas as
modalidades relevantes de relações de trabalho, inclusive as classificações de empregados públicos, servidores públicos e empregados das empresas
excluam alguns trabalhadores e trabalhadoras do setor público da definição de serviço público – por exemplo, empregados de empresas públicas – para a OIT, o setor público em geral, inclusive as empresas públicas, etc., deveria respeitar as normas de liberdade sindical, organização sindical e negociação coletiva.
Relação do Sindicalismo com o Estado na Capacidade do Estado como Empregador---
7- Gostaria de focalizar nessa terceira dimensão: a relação do sindicalismo com o Estado na capacidade do Estado como empregador.
8- Há dois desdobramentos recentes significativos em relação ao esse tema:
i- Primeiro, uma faceta fundamental do tema será um foco de prioridade na próxima Conferência (102ª) da OIT agora em junho, pois o relatório/especial da Comissão de Peritos a ser revisado pelo Comitê de Aplicação das Normas, um comitê permanente e tripartite de todas as conferências internacionais da OIT, é sobre a negociação coletiva na administração pública;
ii- Segundo, através do Decreto Nº 7,994 de 6 de março, a Presidenta Dilma promulgou a Convenção 151 e a
Recomendação 159 sobre as Relações de Trabalho na
Administração Pública, fazendo a ratificação da Convenção 151 inteiramente completa depois da aprovação pelo
9- Para fechar minhas observações de hoje, gostaria de finalizar com comentários rápidos em relação ao seguinte: 1- um
sumário muito breve do trajeto normativo da OIT em relação aos direitos sindicais dos trabalhadores e trabalhadoras no setor público (e o Dr. Furtado vai fazer uma analise bem mais detalhada sobre C. 151 na próxima sessão); 2- o que o Comitê de Peritos da OIT fala sobre os valores de negociação no
serviço público; e 3- as oportunidades e os desafios que
enfrentam o sindicalismo público no Brasil e no mundo inteiro na época da crise econômica global.
Trajeto Normativo da OIT – Direitos Sindicais no Setor Público 10- É muito importante começar com a norma que é
considerada a Magna Carta da liberdade sindical, a Convenção 87 adotada por uma maioria avassaladora na CIT de 1948. Convenção 87 reconhece e protege o direito de organização sindical sem a ingerência do Estado tanto para os
trabalhadores do setor público, quanto para os trabalhadores do setor privado, inclusive todos os servidores públicos,
inclusive na administração pública, pois o Artigo 2 da Convenção fala que “os trabalhadores e as entidades
patronais, sem distinção de qualquer espécie, têm o direito, sem autorização prévia, de constituírem organizações da sua escolha, assim como o de se filiarem nessas organizações...” 11- Segundo o Artigo 9 da C. 87, apenas a polícia e os
militares nas forças armadas podem ser excluídos das aquelas garantias, conforme a legislação nacional.
12- (Mencionar como Brasil pode ser revisado pelo Comitê de Liberdade Sindical da OIT, mesmo sem a ratificação da C. 87.)
13- Para complementar e reforçar os princípios da C. 87, a Conferência de 1949 adotou a Convenção 98 sobre o Direito de Organização Sindical e de Negociação Coletiva. As
proibições da discriminação sindical contra o indivíduo, a proibição da ingerência das organizações dos empregadores nas organizações dos trabalhadores, e vice versa, e as
garantias de negociação coletiva, são inteiramente aplicáveis aos setores público e privado, com a ressalva do Artigo 6 da Convenção, que estipula:
14- “A presente Convenção não trata da situação dos
servidores públicos na administração do Estado e não poderá ser interpretada para prejudicar seus direitos ou seu status.” (A Convenção 98 foi ratificada pelo Brasil em 1952.)
15- Mas finalmente, em abril de 1975, e com o ditame do Conselho da Administração da OIT do ano anterior, uma
conferência técnica sobre o serviço público foi convocada para tampar esse buraco da Convenção 98 em relação à
administração pública. E em 1978, quase 30 anos depois da adoção da Convenção 98, a CIT adotou a Convenção 151 e a Recomendação 159.
16- Convenção 151, nos artigos 4 e 5, reforça os
requerimentos contra a discriminação e a ingerência anti sindical que se constam na C. 98, e também protege os direitos civis e políticos essenciais dos servidores públicos como o exercício de liberdade sindical no artigo 9.
17- E embora que não haja nenhuma referência explícita ao direito de greve na C. 151, como no caso da C. 87, há uma jurisprudência assim oriunda das referências explícitas à liberdade sindical e aos direitos civis na Convenção.
18- E quanto à questão da negociação coletiva na
administração pública, a C. 151 estipula o seguinte no artigo 7:
“Deverão ser adotadas, sendo necessário, medidas adequadas às condições nacionais para estimular e fomentar o pleno desenvolvimento e utilização de procedimentos de negociação entre as autoridades públicas competentes e as organizações de empregados públicos sobre as condições de emprego,
ou
de
quaisquer
outros
métodos
que permitam aosrepresentantes dos empregados públicos participar na determinação de tais condições.”
19- Nos termos literais da Convenção 151, o direito de negociação coletiva na administração pública obviamente está reconhecido, mas também, como os Peritos comentaram no relatório especial para a próxima conferência internacional da OIT, os Estados Membros às vezes tentam evitar a
obrigação de negociação coletiva com a referência na Convenção “as quaisquer outros métodos..”
20- Portanto, segundo os Peritos, é muito importante ler e aplicar a Convenção 151 com a Convenção 154 adotada pela CIT em 1981, e que promove a negociação coletiva em todos os ramos da economia, tanto no setor público quanto no setor privado, inclusive na administração do Estado. Uma leitura do Artigo 7 da Convenção 151 com a Convenção 154 significa claramente a prioridade da negociação coletiva para resolver as questões coletivas e individuais na administração pública. 21- E há um detalhe muito importante: este país ratificou a
uma leitura e uma aplicação conjunta das duas convenções será absolutamente viável e fundamentada no Brasil.
O que os Peritos falam sobre a negociação coletiva na Administração Pública e no Serviço Público ---- uma observação inteiramente positiva
22- “ A Comissão quer destacar que a negociação coletiva, longe de prejudicar a qualidade dos serviços públicos e o
interesse geral (nacional), pode contribuir ao estabelecimento de relações de trabalho harmoniosas, contribuir à maior
eficácia e efetividade dos serviços, e sobretudo, criar as condições de um trabalho decente, no qual se respeita a dignidade humana dos empregados públicos. De fato, os países que têm a negociação coletiva na administração pública demonstram também uma evolução positiva, que é reconhecida pelos próprios governos.”
Uma palavra final sobre os desafios e as oportunidades para o sindicalismo público
23- Há uma grande oportunidade para o sindicalismo público quanto ao processo de negociação coletiva na
administração pública: enquanto o sindicalismo público tentar a negociação das suas próprias demandas e melhorias nas condições do trabalho, também ele poderá pautar ideias sobre melhorias na qualidade dos serviços públicos e mais investimentos e melhores instrumentos para efetuar políticas públicas básicas.
24- É assim que o sindicalismo público poderiam promover mais transparência e mais discussão sobre a aplicação dos investimentos públicos, ganhando também o apoio da sociedade em geral, mudando o senso comum que o
sindicalismo público só pensa nos interesses corporativos dele.
25- Mas os óbvios desafios e ameaças ao sindicalismo
público de hoje têm tudo a ver com a crise econômica global, e com todas as pressões para cortar os orçamentos públicos com o objetivo de reduzir os enormes déficits fiscais. Agora é notória a grande ameaça ao sindicalismo público na Europa e na América do Norte por conta dessa situação.
26- E muito antes da grande eclosão da crise global em 2008, o sindicalismo público estava enfrentando os desafios de
privatizações sistemáticas e da desregulamentação dos
serviços públicos através dos acordos de livre comércio, como no caso do TLC entre EUA, Canada, e México, o NAFTA, uma situação que eu conheço bem como um norte-americano. 27- Não tenho nenhuma receita pronta para os desafios
mencionados. Mas também acredito que a promoção de melhores práticas sistematizadas de relações de trabalho no setor público, e especialmente na administração pública, e com o apoio do sistema normativo da OIT a respeito, pode ser parte da solução. Tomara.