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A celebração deste acto da vida do Tribunal da Relação de Évora tem um imenso significado simbólico no encontro com a história da instituição.

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Academic year: 2021

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1 1. Cumprimento Vossa Excelência, Senhor Presidente, e as Senhoras e os Senhores Desembargadores do Tribunal da Relação de Évora, neste acto em que celebramos o início do mandato do Senhor Desembargador Bernardo Domingues como Presidente do Tribunal.

Neste momento solene, estamos reconfortados com o prestígio de uma instituição que se afirmou e consolidou como referência na administração da justiça em Portugal.

A celebração deste acto da vida do Tribunal da Relação de Évora tem um imenso significado simbólico no encontro com a história da instituição.

A lei confere-me o privilégio e a honra, e permitam-me que acrescente, o sentimento de incontida gratificação em presidir a esta sessão solene, que constitui um momento histórico na continuidade sempre renovada das instituições judiciais de referência.

Felicito-o, Senhor Presidente, por esta eleição, que exprime o elevado nível da confiança que os seus Pares lhe creditam para o exercício do mandato.

No acto em que celebramos a continuidade institucional da Relação de Évora, interpreto a vossa vontade e cumpro sentidamente o dever de expressar ao Senhor Conselheiro Acácio das Neves o imenso respeito, deixando-lhe o profundo reconhecimento e gratidão no modo como exerceu as funções na presidência da Relação com entusiasmo, intensidade no sentido de missão e total dedicação ao tribunal e à causa da justiça.

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2 2. Vossa Excelência, Senhor Presidente, inicia o mandato num tempo carregado de incertezas.

Vivemos uma época de mudança histórica que corre a um ritmo que a nossa capacidade de compreensão não pode acompanhar.

Em tempos voláteis, na época que é ausência de época, nada está adquirido.

As condições de acção e as previsões estratégicas desaparecem a um ritmo tal que ficam obsoletas antes da oportunidade de apreensão.

Resta a intranquilidade e os medos que tomam conta do quotidiano; estão aí as ameaças ao domínio das nossas previsões: no trabalho que fica escasso e precário; nos factores que eliminam o trabalho, dispensando o humano; no risco da pobreza inesperada; ou na ameaça cibernética envolta numa sedução totalitária da modernidade que traz a ficção para o espaço do real e faz aproximar o limite que pode suportar a ficção.

A precariedade é um estado; a instabilidade é a regra; as relações são frágeis, dissolvendo qualquer continuidade; a velocidade não deixa espaço para o pensamento nem para a reflexão.

O ritmo desta aceleração histórica deixa-nos sem capacidade intelectual e emocional de compreensão.

Os valores da segurança e da confiança, que são a essência da justiça, parecem ficar sem lugar.

A justiça constitui, então, o último recurso ou o último refúgio para enfrentar esta dissolução das certezas e dos valores.

Temos de encontrar o nosso lugar e, até, reinterpretar o sentido da nossa missão nesta contemporaneidade que não dominamos, mas que cada indivíduo, com a fome e sede de justiça na incerteza do seu mundo e da sua vida, nos pede que dominemos.

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3 O lugar do juiz é essencial na democracia e marca um momento importante do processo contínuo de civilização das sociedades.

O juiz reintroduz o sentido do tempo longo da história e a estrutura dos princípios fundamentais, que contribuem para encontrar o sentido de medida das normas contra a sociedade da embriaguez da velocidade; cria a distância contra o imediatismo, a rapidez e a emoção, e assim reequilibra o sentido do tempo.

A justiça é o código de acesso à democracia contínua; traz o sentido da medida ao exercício democrático do poder que garante a liberdade aos cidadãos, tendo presente o alerta de Lacordaire («entre o fraco e o forte é a liberdade que oprime e a lei que liberta»); os juízes actualizam a dimensão democrática da representação, através dos meios que permitem a qualquer um questionar a lei.

Os tribunais têm a função de reconhecer direitos, recolher da lei a solução de conflitos através do processo, reafirmar a validade das normas penais e contribuir para realizar a paz social.

Os desafios e contradições que hoje enfrentamos são incomuns, porventura apenas comparáveis ao combate do séc. XVIII, para dar forma e substância ao princípio da independência.

É um tempo de resiliência também para a justiça. Não uma resiliência mecânica (o termo vem da física dos materiais) e de resistência passiva, mas sim democrática, activa e superadora.

E também de prevenir os riscos de contaminação em ambiente saturado de desvios populistas com perda de sentido da medida, que seria devastador para a justiça.

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4 A serenidade democrática da instituição e a proporcionalidade na acção têm de fazer o caminho por entre as tensões cruzadas do ruído da rua e o sentimento comum da compreensão razoável das maiorias.

Na justiça, o princípio da proporcionalidade deve ser o grande regulador, que se inspira na ética da medida e previne, em cada tempo, a desmesura.

A ética da medida convida cada um a ter o sentido de proporção em todas as intervenções; o princípio «deve dissuadir o cidadão de abusar dos seus direitos, a Administração de exceder os seus poderes, o legislador de enfraquecer as liberdades, o juiz de exasperar o exercício da função e o político de exacerbar os conflitos».

Podemos dizer que está, perante nós, o destino da lei e da democracia.

3. O discurso, supostamente indiscutível, da razão técnica sobrepõe-se à possibilidade das escolhas; a lei perde força na função compensatória que assegure as expectativas na identificação fundamental entre norma e valores.

Os tribunais têm de intervir numa função sucedânea para suprir carência de meios democráticos imediatos.

Aqui os tribunais da relação ocupam uma posição fundamental, pois exercem, ao mesmo tempo, função jurisdicional e orientadora da jurisprudência.

Têm sido, ao longo da nossa história judicial, tribunais de apelação, que garantem os direitos individuais e o interesse geral; a função dos tribunais da relação exige uma concepção equilibrada do regime de recursos, sempre

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5 com a prevenção de que o recurso de apelação não poderá ser uma «segunda primeira instância».

A função da primeira instância deve ser completa e acabada; o recurso deve ser apenas escrutínio das etapas da primeira instância para encontrar e decidir sobre a superação de alguma falha.

O regime dos recursos deve ser, por isso, construído por forma a responder à contingência de cada tempo e do seu modo.

Entre as construções teóricas e o efeito da realidade, os equilíbrios são delicados e difíceis.

Nesta circunstância, a capacidade intra-sistemática de resposta dos tribunais da relação enfrenta tensões de sinal contrário.

Pode revelar maior intervenção no encontro da pluralidade de perspectiva de interpretação com melhor contributo para o desenvolvimento do direito, mas por outro tem o risco de geral uma multiplicidade de jurisprudências com efeito negativo nos valores da segurança e da confiança.

A construção da concordância prática nesta tensão de sinal contrário exige que seja repensado o regime dos recursos, que, há que dizer, foi profundamente modificado em 2007 (penal) e 2008 (civil) de forma silenciosa, sem estudos adequados, sem análises quantitativas nem perspectivas sistémicas.

Basta salientar que, em processo penal, o STJ está, de facto, afastado desde 2007 da intervenção e decisão em matéria e questões de processo penal, especialmente quando esteja em causa a concretização e o respeito por direitos fundamentais.

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6 No regime de recurso em processo civil, a alteração de 2008 foi mal pensada, em parte incompreendida por distanciamento cultural quanto a novas perspectivas que traziam alguma novidade, distanciada da habituação a modelos estabilizados.

A este respeito, como tenho repetidamente referido, a complexidade do recurso em matéria de facto deve merecer ponderação, com detalhe e tempo, tanto sobre a construção do modelo, como sobre a proporcionalidade na eficácia e nos resultados.

É hoje bem patente que as Relações se debatem com um modelo de recurso em matéria de facto que não responderá na comparação entre a proporcionalidade e a eficácia; temos de encontrar, certamente, outras hipóteses de resposta.

Permitam-me, nesta circunstância, que sublinhe, uma vez mais, que é insustentável o enfraquecimento da colegialidade no regime de recurso em processo penal, a carecer, por isso, de urgente revisão.

Permitam-me que partilhe, como tenho feito em contexto semelhante, uma outra reflexão.

A racionalidade no acesso aos tribunais de recurso tem imposto, na última dezena e meia de anos, alterações em vários sistemas judiciais, por meio da criação de mecanismos de filtragem do recurso para os supremos tribunais.

A restrição do recurso aos supremos tribunais, com o direito de recurso limitado a um grau, coloca as mais das vezes os tribunais da Relação no lugar de instância última.

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7 A responsabilidade jurisprudencial dos Tribunais da Relação fica, assim, acrescida.

Com competências de última instância mais vastas, cabe-lhes a missão essencial da criação de certeza e segurança das relações jurídicas por meio de jurisprudências coerentes, construídas decerto na discussão e nas convergências, mas não na fragmentação, que afecta a confiança, perturba a compreensão externa e abala o direito à certeza do direito.

Por tudo isto, como garantia da coerência e da certeza, para dar segurança aos cidadãos, a colegialidade efectiva deve ser a essência dos tribunais superiores, fomentando a cultura do diálogo plural nas formações de julgamento.

A coerência deve ser conseguida no estudo cuidado, no debate, no diálogo, na humildade intelectual dos espíritos fortes abertos à aceitação das divergências, que permitam reconstruir, a cada tempo, as certezas muitas vezes provisórias.

4. Os três últimos anos não têm sido fáceis para os Tribunais da Relação.

Nas dificuldades conjunturais por que têm passado, é meu dever reconhecer a dedicação, o trabalho e o espírito de serviço de todos os juízes deste Tribunal, que permitiram, apesar de todas as dificuldades, garantir o cumprimento da nossa obrigação.

Agradeço, a todos, muito reconhecido.

Presidir hoje a um Tribunal da Relação é uma função intensa e muito exigente, mas estimulante.

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8 Vossa Excelência, com o seu saber e elevada competência, a superior inteligência, a força das convicções, a dedicação e o elevado sentido de missão, vai superar os desafios, para bem do Tribunal da Relação de Évora e dos cidadãos a quem devemos o cumprimento da obrigação de justiça.

Estou seguro que terá o maior êxito no exercício do mandato.

4 de Abril de 2018

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