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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR EM SAÚDE CAMPUS ANÍSIO TEIXEIRA JANAÍNA DA CONCEIÇÃO FERNANDES GAMA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR EM SAÚDE

CAMPUS ANÍSIO TEIXEIRA

JANAÍNA DA CONCEIÇÃO FERNANDES GAMA

NUTRIÇÃO ENTERAL PRECOCE E DESFECHOS CLÍNICOS EM PACIENTES DE TERAPIA INTENSIVA.

VITÓRIA DA CONQUISTA 2019

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NUTRIÇÃO ENTERAL PRECOCE E DESFECHOS CLÍNICOS EM PACIENTES DE TERAPIA INTENSIVA.

JANAÍNA DA CONCEIÇÃO FERNANDES GAMA1.

1. Nutricionista residente do Programa de Residência Multiprofissional em Urgência, Hospital Geral de Vitória da Conquista, Universidade Federal da Bahia – UFBA – Vitória da Conquista (BA), Brasil.

Autor correspondente: Janaína da Conceição Fernandes Gama, Rua Professora Francisca Santos, 1.291, Boa Vista. CEP: 45.026-415 – Vitória da Conquista (BA), Brasil. Telefone: (77) 98852-3702. E-mail: janalima8@hotmail.com.

Instituição responsável: Universidade Federal da Bahia – UFBA – Vitória da Conquista (BA), Brasil.

Financiamento próprio.

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RESUMO

Objetivo: Investigar os efeitos da terapia nutricional enteral (TNE) precoce e da oferta calórico-proteica inicial nos desfechos clínicos de pacientes em unidades de terapia intensiva (UTIs) de um hospital geral do Sudoeste Baiano.

Métodos: Coorte prospectiva realizada nas UTIs entre março e novembro de 2018, com triagem e avaliação nutricional dos pacientes, os quais foram agrupados segundo o início da TNE: 1) precoce, quando a dieta foi iniciada nas primeiras 48 horas de admissão e 2) tardia. Os pacientes foram acompanhados até a alta da UTI ou óbito e foram avaliados quanto ao tempo de internação em UTI, tempo de ventilação mecânica e mortalidade. Foram realizadas análises de regressão linear simples e múltipla e de regressão logística binária. Foi usado o software estatístico SPSS, versão 21.0.

Resultados: Foram incluídos 88 pacientes no estudo, dos quais 85 apresentaram risco nutricional à admissão na UTI. A TNE precoce foi recebida por 67 pacientes, com média de 39±11,69 horas para o seu início e variação significativa em relação ao período de início da TNE tardia (77,76±32,112 horas), mas não houve associação com os desfechos clínicos avaliados. As médias de energia e proteínas recebidas nos três primeiros dias de internação foram significativamente maiores no grupo TNE precoce (p=0,000), as quais se associaram com maior tempo de permanência em UTI e de ventilação mecânica.

Conclusão: A TNE precoce não se associou aos desfechos clínicos de pacientes críticos, mas a quantidade aumentada de energia elevou os tempos de permanência em UTI e de ventilação mecânica.

Descritores: Terapia nutricional; Nutrição enteral; Cuidados intensivos; Mortalidade hospitalar; Respiração artificial; Hospitalização.

MeSH Terms: Nutrition therapy; Enteral nutrition; Critical care; Hospital Mortality; Respiration artificial; Hospitalization.

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INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, o suporte nutricional tem emergido como elemento vital no cuidado de pacientes críticos. As atuais diretrizes(1-4) preconizam a nutrição enteral precoce e individualizada, iniciada dentro de 24 a 48 horas na impossibilidade de manter ingestão alimentar voluntária. Embora fórmulas especializadas tenham sido desenvolvidas para atenuar as complicações advindas dos cuidados intensivos, o momento ideal para o início da Terapia Nutricional Enteral (TNE) e os requisitos calóricos e proteicos de pacientes críticos são, ainda, controversos. (5,6)

O suporte nutricional precoce, principalmente pela via enteral, é visto como uma estratégia terapêutica proativa que pode reduzir a gravidade da doença e complicações, diminuir o tempo de permanência hospitalar e de ventilação mecânica e, ter impacto favorável no prognóstico dos pacientes.(7) Contudo, em pacientes hemodinamicamente instáveis, a TNE tem sido considerada problemática, principalmente, pelo risco de isquemia intestinal e pelo desvio do fluxo sanguíneo para o trato gastrointestinal sem aumento no débito cardíaco. Apesar de os impactos desses fenômenos na evolução clínica dos pacientes não estarem claros, a instabilidade hemodinâmica tem sido considerada uma contraindicação ao início da TNE.(8)

Claramente, a primeira semana após a admissão na UTI é o período mais controverso da hospitalização em relação à TNE. É sugerido evitar ou reduzir a alimentação nesse período, devido ao auge do processo da doença, mas um argumento igualmente válido se opõe a essas conclusões e recomenda que a alimentação seja fornecida na primeira semana para promover os benefícios da TNE precoce.(9)

A despeito de alguns estudos que avaliaram a TNE precoce em terapia intensiva, permanecem ainda controversas algumas opiniões, razão que motivou a realização desse trabalho, cujo objetivo foi investigar os efeitos da TNE precoce e da oferta calórico-proteica inicial nos desfechos clínicos de pacientes hospitalizados em Unidades de Terapia Intensiva

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(UTIs). Além disso, não foi realizado nenhum estudo na população e local pretendidos com esse objetivo, bem como a maioria dos estudos encontrados na literatura sobre essa temática não trazem correlação dessas informações com as adequações energéticas e proteicas da terapia nutricional instituída, conferindo originalidade ao trabalho.

MÉTODOS

Trata-se de uma coorte prospectiva(10) realizada nas UTIs de um hospital geral do Sudoeste Baiano, no período de março a novembro de 2018. De forma consecutiva, todos os pacientes internados nas UTIs nesse período foram avaliados quanto aos critérios de inclusão. Pacientes com idade superior a 14 anos, com permanência mínima na UTI por dois dias e que tiveram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) assinado pelo responsável foram incluídos. Para pacientes menores de idade, acrescentou-se o termo de assentimento. Pacientes que receberam algum tipo de nutrição em ambiente hospitalar prévio à admissão na UTI, aqueles cuja nutrição inicial na UTI foi por via oral ou parenteral ou com prontuários incompletos foram excluídos.

Foi realizada triagem nutricional nas primeiras 24 horas admissionais pelo Nutritional Risk Screening (NRS) 2002. Este método é recomendado pela European Society for Parenteral and Enteral Nutrition (ESPEN) e pela American Society for Parenteral and Enteral Nutrition (ASPEN) para identificar o risco nutricional do paciente, de modo a verificar aqueles com maior probabilidade de se beneficiarem da terapia nutricional precoce. O paciente com pontuação igual ou superior a três é considerado em risco nutricional.(2,3)

A avaliação antropométrica inicial foi realizada considerando o peso em quilogramas (Kg) estimado pela equação de Chumlea(12) ou o peso referido para os pacientes com idade inferior a 19 anos, visto que as fórmulas para estimativa de peso não contemplam indivíduos dessa faixa etária. Para todos os participantes, a estatura (cm) foi estimada pela equação de

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Chumlea.(13) O IMC (Kg/m²) foi calculado com base nos dados de peso e altura estimados ou referidos e classificado conforme idade do paciente.(14)

Dados epidemiológicos e clínicos foram coletados do prontuário dos pacientes com auxílio de um instrumento padronizado, no qual foram inseridas informações sobre idade, sexo, diagnóstico de internação na UTI, Simplified Acute Physiology Score III (SAPS 3)(15) e valores energéticos e proteicos recebidos diariamente. Todas essas variáveis foram controladas quanto à possibilidade de viés nos resultados. De acordo com os diagnósticos admissionais mais frequentes nessas unidades, os pacientes foram categorizados em pós-operatório, doenças neurológicas, doenças respiratórias ou outras causas, quando não se inseriam nas anteriores.

O tempo decorrido até a introdução da TNE foi coletado das fichas de controle de cada paciente já utilizadas nas UTIs. As necessidades energéticas e proteicas foram estimadas individualmente. A meta calórica foi de 30 Kcal/Kg/dia para pacientes desnutridos, 25 Kcal/Kg/dia para eutróficos e 15 Kcal/Kg/dia para pacientes com sobrepeso ou obesidade. A meta da oferta de proteínas foi de 1,2 a 2 g/Kg/dia de acordo o IMC.(2,14,16) A partir dos dados coletados das fichas de controle sobre os volumes de dieta administrados, foi realizada a conversão em calorias e proteínas, de acordo com a composição de cada fórmula de nutrição enteral, para cálculo da adequação individual do Valor Energético Total (VET) e da ingestão de proteína na primeira semana de internação, sendo considerado adequado quando recebido, no mínimo, 80% do valor prescrito.(4)

Os pacientes foram agrupados de acordo com o tempo de introdução da TNE, com base nas recomendações de McClave et al. em 2016(2) e à semelhança de outros estudos que avaliaram a relação entre tempo de iniciação da terapia nutricional e desfechos clínicos em pacientes críticos.(6) O primeiro grupo, TNE precoce, foi constituído pelos pacientes cuja dieta foi iniciada nas primeiras 48 horas após admissão em UTI e os demais pacientes constituíram o segundo grupo, considerado TNE tardia.

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Os dados referentes à nutrição enteral foram analisados nos primeiros sete dias na UTI, considerando que as diretrizes sugerem que os benefícios da TNE precoce são alcançados na primeira semana de internação, (1-4) possibilitando a associação entre o tempo de introdução da dieta e os desfechos avaliados. Os pacientes foram acompanhados até a alta da UTI ou óbito. Os desfechos tempo de internação em UTI, tempo de ventilação mecânica, alta ou mortalidade na UTI foram computados com base nos dados referenciados em prontuário.

Foram realizadas análises descritivas para as variáveis. Após o teste de normalidade, para comparação das distribuições das variáveis contínuas em grupos independentes foi utilizado o teste T de Student, enquanto para as frequências, o teste de Qui-quadrado de Pearson (χ2), ou os seus correspondentes não paramétricos.

Realizou-se análises multivariadas de associação entre a introdução precoce da TNE e os desfechos clínicos avaliados, bem como para associação entre o valor energético recebido nas primeiras 72 horas e o tempo de permanência na UTI e ventilação mecânica. Entraram no modelo variáveis de controle com o p-valor < 0,20 pelo Teste de Wald. A associação entre o desfecho mortalidade e as variáveis avaliadas foi verificada pela regressão logística binária, com os resultados apresentados em Odds ratio (OR). Para os desfechos tempo de internação e tempo de ventilação mecânica, foi utilizada a regressão linear simples e múltipla, com os resultados apresentados em beta (β). O nível de significância foi p < 0,05, com intervalo de confiança (IC) de 95%. Para as análises foi utilizado o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)® versão 21.0.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto Multidisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia, de acordo com as normas estabelecidas pela resolução nº 466 do Conselho Nacional de Saúde(11), sob o número de parecer 2.712.842 e CAAE 80799217.2.0000.5556 .

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RESULTADOS

No período da pesquisa o HGVC contava com 2 UTIs para atendimento aos pacientes com idade igual ou superior a 14 anos, totalizando 19 leitos e com média de 25 admissões por mês em cada. Durante a coleta dos dados houve 471 pacientes admitidos, dos quais 88 foram incluídos no estudo. A amostra foi composta, majoritariamente, por indivíduos do sexo masculino, faixa etária entre 19 e 59 anos e com diagnóstico de doenças neurológicas. Não houve diferença significativa do escore prognóstico SAPS 3 entre os grupos TNE precoce e tardia, indicando semelhante perfil de gravidade entre os mesmos (Tabelas 1 e 2).

Cerca de 97% dos pacientes apresentaram risco nutricional à admissão, embora quase metade deles estivessem com diagnóstico nutricional de sobrepeso ou obesidade. A TNE precoce foi recebida por 76% dos pacientes, com média de 39±11,69 horas para o seu início, o que variou, significativamente, em relação ao período de início da TNE tardia (77,76 ± 32,11 horas) (p=0,000). As médias de energia e proteínas recebidas nos três primeiros dias foi significativamente maior no grupo TNE precoce (p=0,000), contudo, em ambos os grupos, a grande maioria dos pacientes não obteve adequação calórica e, principalmente, proteica, destacando-se que nenhum paciente do grupo TNE tardia alcançou adequação do aporte de proteínas na primeira semana (Tabelas 1 e 2).

A prevalência de mortalidade foi ligeiramente maior no grupo TNE tardia, porém sem significância estatística. Já o grupo TNE precoce apresentou maiores períodos de internação em UTI e de ventilação mecânica, com diferença significativa para este último (p=0,014) (Tabelas 1 e 2). As análises multivariadas não evidenciaram associação entre introdução precoce da TNE e os desfechos clínicos avaliados, mesmo após ajuste para as variáveis de controle (Tabela 3). A maior quantidade de calorias recebidas, principalmente, nos segundo e terceiro dias de internação, independentemente do tempo de introdução da TNE, aumentou o tempo de permanência na UTI e de ventilação mecânica (p=0,011; p=0,032; p=0,023, respectivamente).

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Essa associação mostrou-se ainda mais significativa após a análise ajustada pelo risco nutricional (p=0,011; p=0,018; p=0,021) (Tabela 4).

DISCUSSÃO

Neste estudo não foi encontrada associação entre TNE precoce e melhores desfechos clínicos, mas foi evidenciado que a quantidade aumentada de energia elevou os tempos de permanência em UTI e de ventilação mecânica. Verificou-se que a maioria dos pacientes recebeu dieta precoce, ou seja, nas primeiras 48 horas de internação na UTI, conforme as atuais recomendações de terapia nutricional(1-4) e semelhantemente a outros estudos que avaliaram a TNE precoce em pacientes de terapia intensiva.(6,8,17)

Diferentemente dos nossos resultados, na coorte de Khalid et al.,(8) envolvendo 1.174 pacientes de terapia intensiva, aqueles cuja TNE foi precoce tiveram redução significativa da mortalidade, do tempo de permanência em UTI e do tempo de ventilação mecânica quando comparados aos que receberam TNE tardia. Contudo, as análises de subgrupos indicaram que o efeito benéfico da nutrição precoce foi observado apenas nos pacientes mais críticos. Ressalta-se que, na atual pesquisa, o perfil de gravidade indicado pelo SAPS 3 foi Ressalta-semelhante entre os grupos, levantando a necessidade de utilizar outros indicadores para a gravidade do paciente.

Por outro lado, uma recente metanálise de Tian et al.,(18) comparando TNE precoce com todos os outros tipos de suporte nutricional na UTI não encontrou redução da mortalidade e do tempo de ventilação mecânica e constatou, apenas, uma tendência na redução do tempo de permanência em UTI. De igual modo, o “European Society of Intensive Care Medicine” (ESICM)(7) divulgou não ter encontrado evidências de que a TNE precoce reduza a mortalidade em pacientes com traumas neurológicos, abdominais ou submetidos a cirurgias do trato gastrointestinal, reforçando os achados do nosso estudo, considerando que tais diagnósticos prevaleceram na amostra avaliada.

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É possível que no nosso estudo, pacientes que não tenham recebido a TNE nas primeiras 48 horas de admissão na UTI, tenham recebido mais medidas terapêuticas do que o grupo TNE precoce, visto que pacientes considerados mais graves não são alimentados precocemente e, ao mesmo tempo, recebem medidas de suporte mais intensivo, tais como drogas vasoativas e procedimentos diagnósticos. Logo, pode ter sido essa conduta que impactou positivamente no tempo de ventilação mecânica e de internação na UTI de pacientes do grupo TNE tardia e não a ausência do suporte nutricional precoce.

Outros autores de coortes observacionais também tiveram seus resultados confundidos pela gravidade da doença.(19) Houve uma tentativa de controlar esse viés por meio das análises multivariadas ajustadas para gravidade da doença, mas ainda assim não foi observada associação entre as variáveis.

Vale ressaltar que o estado nutricional de admissão na UTI não foi o fator preponderante para a determinação do risco nutricional, visto que, embora a grande maioria dos pacientes apresentasse escore elevado para o NRS 2002, cerca de 47% da amostra tinha IMC indicativo de sobrepeso ou obesidade. Esse resultado sugere, tal como é considerado nas mais recentes diretrizes brasileiras de terapia nutricional(4), que o estado inflamatório e hipercatabólico dos doentes críticos e a gravidade da doença são fatores mais importantes para a definição dos pacientes que se beneficiarão da nutrição precoce, uma vez que aceleram o processo de desnutrição.

Outra constatação desse estudo foi a associação entre quantidades aumentadas de calorias nas primeiras 72 horas de admissão na UTI e maiores tempos de internação e de ventilação mecânica. A avaliação da quantidade de energia e proteína recebida pelos pacientes foi de grande relevância, na medida em que, cada vez mais tem se observado que a ingestão limitada de nutrientes pode ser benéfica durante as primeiras 72 horas da doença aguda,(7) conforme indicam outros autores.(19-21) No estudo de Allingstrup et al.(22) não foram observados

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melhores desfechos para os pacientes que receberam a meta calórica prevista nas primeiras horas de internação na UTI.

Apesar da possibilidade que a TNE normocalórica não altere o processo catabólico e a resposta imune associada à fase aguda da doença, vale ressaltar que os pacientes que receberam nutrição normocalórica nos primeiros dias de internação, avaliados nesses estudos,(19-21) foram submetidos à TNE contínua ao invés de intermitente, assim como ocorreu no presente estudo.

Mesmo configurando-se como prática mais comum em hospitais de todo o mundo, a administração contínua da TNE contraria a fisiologia normal e limita a síntese proteica, pois altera a resposta hormonal à ingestão de nutrientes.(23) Embora sejam escassos estudos que avaliem o melhor método de administração da nutrição enteral em pacientes críticos, estudos em humanos saudáveis sugerem que a administração intermitente da TNE melhora a síntese proteica e a secreção de hormônios gastrointestinais quando comparada à infusão contínua, podendo, portanto, ser preferida em pacientes críticos.(24)

Pacientes que receberam TNE precoce tiveram um aporte calórico nas primeiras 72 horas de internação na UTI significativamente maior do que os pacientes cuja TNE foi tardia. Além disso, a progressão do volume da dieta nesse grupo não ocorreu de forma gradativa, conforme preconizado(1-4), mas aumentou cerca de quatro vezes a cada 24 horas, o que pode ter sido deletério para os pacientes alimentados precocemente, mesmo quando em risco nutricional.

Argumentos contra a ingestão elevada de calorias durante a fase inicial da doença crítica incluem evidência de que ocorre produção endógena de glicose correspondente a 50% a 75% da necessidade energética nos primeiros dias após a lesão, além da supressão da autofagia por macronutrientes exógenos,(25) levando a um aumento da morbidade.(26)

A associação negativa entre quantidades aumentadas de calorias nas primeiras 72 horas de admissão na UTI com o tempo de ventilação mecânica e de internação permaneceu após o ajuste para o risco nutricional, mostrando que até pacientes com maiores escores no NRS 2002

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não se beneficiaram de uma terapia nutricional mais calórica. Uma metanálise recente(27) sugeriu que a ingestão inicial de calorias por via enteral parece ser mais benéfica quando com aporte moderado, em comparação com o aporte calórico mínimo ou máximo.

Uma limitação desse estudo foi a utilização do SAPS 3 como único indicador de gravidade, pelo fato de que esse escore avalia o uso de substâncias vasoativas somente no momento anterior à UTI,(15) podendo ter subestimado a instabilidade hemodinâmica em alguns pacientes que receberam a TNE precoce.

Além desse fator, as necessidades dos pacientes podem ter sido sub ou superestimadas, não só pela dificuldade de avaliar a necessidade energética no paciente crítico pelas equações preditivas,(26) mas também, pela ausência de fidedignidade na antropometria do paciente, dado que o peso considerado para o cálculo das necessidades energéticas foi aquele referido ou estimado pelas equações disponíveis(12).

Outras limitações da pesquisa foram o reduzido número de pacientes na amostra e o seu caráter observacional. Todavia, devido aos rigorosos critérios de inclusão no estudo visando minimizar os vieses, não foi possível avaliar uma amostra maior em um período relativamente grande, o que reforça o rigor metodológico como ponto forte do estudo. Acredita-se que um estudo multicêntrico, prospectivo e randomizado poderia fornecer uma avaliação mais consistente dos benefícios da TNE precoce, bem como indicar o aporte calórico ideal nas primeiras 72 horas de internação do paciente crítico na UTI.

CONCLUSÃO

Não foi observada associação entre nutrição enteral precoce e melhores desfechos clínicos em pacientes de terapia intensiva. Entretanto, foi possível demonstrar que o maior aporte de calorias na fase aguda da doença crítica associou-se com o maior tempo de permanência em UTI e com o maior tempo de dependência da ventilação mecânica,

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principalmente, quando o aumento da energia ofertada a cada 24 horas foi quatro vezes maior do que o valor inicial.

Visto a grande controvérsia ainda encontrada nos resultados dos estudos referentes à terapia nutricional do paciente crítico, o presente estudo enfatiza a importância de uma avaliação mais criteriosa para iniciar a TNE precoce, bem como a adoção de protocolos nas UTIs que minimizem a variedade de condutas entre as equipes de intensivistas.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Hospital Geral de Vitória da Conquista por nos ter confiado o seu campo de pesquisa e às nutricionistas Júnia Maria e Carine Luz pelo auxílio na coleta dos dados.

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Tabela 1 - Características epidemiológicas e clínicas dos pacientes, segundo o tempo de introdução da Terapia Nutricional Enteral (TNE). Variáveis TNE Precoce (67) TNE Tardia (21) p-valor n % n % Sexo Masculino Feminino 44 23 65,7 34,3 13 8 61,9 38,1 0,753*

Faixa etária (anos) ≤ 18 anos 19 a 59 anos ≥ 60 anos 6 43 18 9 64,2 26,9 2 12 7 9,5 57,1 33,3 0,832** Diagnóstico admissional Pós-operatório Doenças neurológicas Doenças respiratórias Outras causas 8 39 10 10 11,9 58,2 14,9 14,9 3 10 2 6 14,3 47,6 9,5 28,6 0,844**

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Estado nutricional admissional Eutrofia Desnutrição Sobrepeso/ Obesidade 25 8 34 37,3 11,9 50,7 10 2 9 47,6 9,5 42,9 0,725** Risco nutricional Sem risco nutricional Com risco nutricional

2 65 3 97 1 20 4,8 95,2 0,695*

Adequação calórica da TNE recebida na 1ª semana ≥ 80% < 80% 15 52 22,4 77,6 1 20 4,8 95,2 0,068*

Adequação proteica da TNE recebida na 1ª semana ≥ 80% < 80% 8 59 11,9 88,1 0 21 0 100 0,097*

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Mortalidade Alta Óbito 49 18 73,1 26,9 15 6 71,4 28,6 0,878* *Qui-quadrado de Pearson. **Teste Exato de Fisher.

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Tabela 2 – Horas para iniciar Terapia Nutricional Enteral (TNE), dias de internação na UTI, dias de ventilação mecânica, SAPS 3 e valores energético e proteico recebidos nos três primeiros dias de internação, segundo o tempo de introdução da TNE.

Variáveis TNE Precoce (67) TNE Tardia (21) p-valor Média ± DP Média ± DP

Horas para iniciar TNE 39,12 11,69 77,76 32,112 0,000

Dias de internação na UTI 15,06 9,994 12,1 5,338 0,084

Dias de ventilação mecânica 11,85 9,641 7,81 4,976 0,014

SAPS* 3 58,85 13,854 54,81 12,564 0,237

Energia recebida (Kcal/Kg) no 1º dia de internação 2,78 4,932 0 0 0,000

Energia recebida (Kcal/Kg) no 2º dia de internação 13,16 8,323 0 0 0,000

(21)

Proteínas recebidas (g/Kg) no 1º dia de internação 0,13 0,231 0 0 0,000

Proteínas recebidas (g/Kg) no 2º dia de internação 0,65 0,413 0 0 0,000

Proteínas recebidas (g/Kg) no 3º dia de internação 0,82 0,26 0,26 0,322 0,000

* Simplified Acute Physiology Score III. Teste T de student.

(22)

Tabela 3 – Relação entre mortalidade, tempo de internação e tempo de ventilação mecânica com o tempo de introdução da Terapia Nutricional Enteral (TNE).

Variáveis Análises brutas Análises ajustadas

OR/β IC (95%) p-valor OR/β IC (95%) p-valor

Mortalidade na UTI +1,089 0,366;3,239 0,878 +1,355 0,429-4,278 0,605

Dias de internação na UTI -2,964 -7,501;1,572 0,197 +0,981 -4,761;6,723 0,735

Dias de ventilação mecânica -4,041 -8,406;0,324 0,069 -1,632 -6,703;3,439 0,524

Regressão logística binária para mortalidade: Odds Ratio (OR); Regressão linear para dias de internação na UTI e dias de ventilação mecânica: Beta (β); Nível de significância de 5% (p<0,05). Análises ajustadas para SAPS 3 e valor energético recebido (Kcal/Kg) no 2º e 3º dias de internação. Para ajuste, p-valor < 0,20 pelo Teste de Wald.

(23)

Tabela 4 – Relação entre tempo de internação e tempo de ventilação mecânica com o valor energético recebido nos três primeiros dias de internação na UTI.

Variáveis Análises brutas Análises ajustadas

β IC (95%) p-valor β IC (95%) p-valor

Dias de internação na UTI

Energia recebida (Kcal/Kg) no 1º dia de internação +0,073 -0,367;0,513 0,742 +0,049 -0,392;0,490 0,824

Energia recebida (Kcal/Kg) no 2º dia de internação +0,175 -0,035;0,386 0,101 +0,188 -0,022;0,399 0,078

Energia recebida (Kcal/Kg) no 3º dia de internação +0,278 0,066;0,490 0,011 +0,277 0,066;0,488 0,011

Dias de ventilação mecânica

Energia recebida (Kcal/Kg) no 1º dia de internação +0,100 -0,327;0,528 0,643 +0,066 -0,358;0,489 0,759

(24)

Energia recebida (Kcal/Kg) no 3º dia de internação +0,242 0,035;0,449 0,023 +0,241 0,037;0,445 0,021

Regressão linear para dias de internação na UTI e dias de ventilação mecânica: Beta (β); Nível de significância de 5% (p<0,05). Análises ajustadas para Risco Nutricional. Para ajuste, p-valor < 0,20 pelo Teste de Wald.

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