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Fármacos e medicamentos

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Academic year: 2021

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Fármacos são substâncias químicas, isto é, moléculas puras que apresentam uma atividade biológica útil para fins de manutenção da saúde humana. Embora sejam estas moléculas que contenham a atividade biológica desejável, sua administração aos pacientes nunca é feita diretamente em estado puro, mas sim por meio de uma formulação mais adequada a sua absorção pelo organismo. Estas formulações são os medicamentos.

O fármaco é pois o insumo fundamental nos mecanismos de controle das doenças, mas só alcança o paciente por intermédio do medicamento e, portanto, a análise da importância do fármaco não prescinde da inclusão da análise dos medicamentos.

Os instrumentos clássicos de intervenção na saúde humana dividem-se em preventivos e corretivos. Os preventivos abrangem todos os recursos de higiene – educação sanitária, água potável, tratamento de esgotos, controle de vetores de doenças infecciosas, coleta e tratamento do lixo, as vacinas, etc. – enquanto que os corretivos alcançam os métodos de diagnóstico e os medicamentos. A Organização Mundial de Saúde, ao longo da década de 90, promoveu esforços no sentido de difundir mundialmente os instrumentos preventivos pois os mesmos, demonstrou-se, apresentam o melhor custo benefício social. Entretanto, há limites para sua eficácia e, constatada a doença, há que se recorrer aos medicamentos para a restauração da saúde.

* Marcos Henrique de Castro Oliveira é vice-presidente da Associação Brasileira de Química Fina

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A indústria dos fármacos e medicamentos apresenta um dinamismo considerável em função do caráter evolutivo dos males que afetam a saúde do ser humano. Em primeiro lugar em função do aparecimento de novas moléstias causadas por agentes vivos – vírus, bactérias, fungos, protozoários, etc. – ou por mutações destes mesmos organismos e, em segundo lugar, por disfunções genéticas do organismo humano, freqüentemente associadas ao processo de envelhecimento.

A recente evolução nos conhecimentos da genética humana abriu um campo vastíssimo de investigação dos mecanismos das doenças degenerativas, por exemplo, com a conseqüente viabilização da descoberta de novos agentes terapêuticos, isto é, novas moléculas capazes de interferir nos processos biológicos das doenças identificadas.

Apesar da enorme importância social dos medicamentos e dos fármacos neles contidos, só perdendo em importância social para a disponibilidade de alimentos e água, a sua distribuição mundial é extremamente desigual: cerca de 80% de todos os medicamentos vendidos no mundo alcançam apenas os mercados da OECD, ou seja, cerca de 20% apenas da população mundial. Pior, a maior parte dos medicamentos disponíveis está orientada para controle de doenças características de sociedades afluentes e as pesquisa de novos medicamentos seguem a mesma orientação. Doenças típicas de países menos desenvolvidos – malária, hanseníase, leishmaniose, leptospirose, tuberculose – não são objeto de interesse dos grandes laboratórios produtores de medicamentos pois a renda das populações dos países mais afetados por aquelas doenças não propiciaria a oportunidade da prática de preços compensadores.

A indústria de medicamentos tem vendas mundiais que ultrapassaram US$ 500 bilhões, em 2004, e está fortemente concentrada em um seleto grupo de empresas multinacionais, todas elas sediadas nos países da OCDE. As dez maiores empresas são responsáveis por 50% das vendas de medicamentos.

No que diz respeito à produção de fármacos, a concentração alcança níveis menores mas mesmo assim significativos, inclusive na nascente área de biofármacos.

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Os países menos desenvolvidos que não possuam uma base produtiva e de pesquisa e desenvolvimento em fármacos e medicamentos correm sérios riscos, de duas naturezas. O primeiro, o da não existência de medicamentos voltados para suas doenças características, as doenças negligenciadas, e da não existência de programas de pesquisa para a descoberta de medicamentos a elas destinados nos países do primeiro mundo. A segunda, a da dependência da importação de remédios para as doenças clássicas, usualmente crônico-degenerativas, de preços em geral elevados, fixados o mais das vezes em função de custos e interesses econômicos prevalentes nas nações afluentes. As necessidades de importação quase sempre representam um ônus financeiro insuportável para as nações mais pobres daí que mais da metade da população mundial não tem acesso adequado aos medicamentos já conhecidos, e produzidos industrialmente.

É importante também ressaltar que, em inúmeras oportunidades, a disponibilidade de medicamentos foi usada como arma de pressão política nas relações internacionais, a despeito dos esforços da ONU em reprovar tal tipo de ação. Vale lembrar as dificuldades enfrentadas pela Argentina no episódio das Malvinas quando as exportações de fármacos para aquele país foram suspensas pelas firmas multinacionais, sob pressão dos governos americano e inglês. Iraque, Cuba, Iugoslávia foram outros países que sofreram sanções semelhantes. As dificuldades de abastecimento de fármacos durante a 2ª Guerra Mundial fizeram com que o Japão colocasse a produção doméstica de medicamentos dentro do rol das prioridades de segurança nacional.

A base produtiva nacional brasileira em fármacos e medicamentos se deteriorou ao longo das duas últimas décadas, em função da política de abertura comercial praticada e da ausência de uma política industrial e de desenvolvimento científico e sobretudo tecnológico.

As importações brasileiras de medicamentos acabados e a granel, em 2004, superaram a marca de 1 bilhão de dólares, cerca de 18% do total de medicamentos vendidos nas farmácias do país. Em meados da década de 90, já com o processo de abertura adiantado, importávamos apenas 6% dos fármacos consumidos no país.

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Em 2004, as importações de produtos químicos orgânicos, onde se concentram os fármacos, atingiram a US$ 2,5 bilhões, ainda sem os números de dezembro.

Vários estudos sugerem que cerca de 50 milhões de brasileiros não têm acesso ao mercado regular de medicamentos. Para seus cuidados de saúde eles dependem exclusivamente dos medicamentos dispensados pelo Sistema Único de Saúde. É possível inferir, ainda, que uma outra fração da população brasileira tenha acesso limitado aos medicamentos vendidos em farmácia, em função do nível baixo da renda.

O governo brasileiro tem uma razoável capacidade de produção de medicamentos e domina boa parte das técnicas de produção. Uma ampliação desta base produtiva poderia melhorar o atendimento às populações de baixa renda e os mecanismos e conhecimentos tecnológicos para este processo de ampliação estão disponíveis. Entretanto, o sistema continuaria com uma fraqueza fundamental, qual seja a da continuada dependência de fontes externas para os fármacos. Ora, a existência de um mercado estatal de porte para os fármacos é uma arma poderosa para viabilizar o crescimento da produção local. O poder de compra do Estado tem sido, historicamente, um forte indutor do desenvolvimento tecnológico e é ainda hoje utilizado em larga escala pelos países tecnologicamente avançados. Veja-se, por exemplo, o significativo esforço que vem sendo desenvolvido pelo governo americano

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objetivando a diminuição da dependência de combustíveis fósseis, via financiamento de pesquisa e aquisição de especialidades químicas industriais oriundas de biomassa.

A produção de medicamentos, que já conta com uma boa base industrial no país, não envolve apenas o fármaco. A indústria de medicamentos mobiliza uma ampla gama de fatores, quer de materiais quer de serviços, muitos deles incorporando tecnologias de ponta.

Na formulação de um medicamento juntam-se ao princípio ativo outros ingredientes com importantes funções algumas vezes ligadas à absorção do fármaco pelo organismo, outras relacionadas à segurança da administração ou ainda à conservação do produto ativo. Não raro são usados produtos para alterar as reações organolépticas ao produto tornando sua ingestão mais aceitável, especialmente para crianças. Corantes, emulsificantes, reguladores de pH são freqüentemente empregados.

Os equipamentos que servem a esta indústria apresentam um grau de sofisticação avançado, seja em suas características físicas, em seus materiais construtivos, seja no seu grau de precisão e automação. Um aumento do parque produtivo nacional de fármacos e medicamentos certamente terá reflexos na demanda de equipamentos propiciando uma retomada do crescimento do setor no Brasil.

A indústria de medicamentos é forte demandante de embalagens especiais – vidro, papelão, papel, alumínio – para a confecção de blisters, fracos, caixas, bulas, etc.

A indústria de fármacos é fortemente demandante de capacitação no campo do conhecimento químico, mas não só nele. Mais e mais o conhecimento nas área da biologia torna-se fundamental. Até há algum tempo, a pesquisa por novos fármacos centrava-se na descoberta de estruturas biologicamente ativas, por um processo de tentativa e erro, e a partir daí por um refinamento da aplicação desta estrutura, determinação das características farmacodinâmicas e farmacocinéticas de sua atuação, estudo da melhor forma de absorção pelo organismo, etc. Os recentes e espetaculares avanços no conhecimento da biologia celular propiciaram uma nova forma de abordagem no combate às doenças e na descoberta de novas moléculas biologicamente ativas. Hoje se estudam os mecanismos de atuação em nível das molécula constituintes do organismo, a função das proteínas na regulação dos processos

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vitais, o que ocorre nas reações químicas intra-celulares e que caracterizam as anomalias de comportamento – as doenças – e destes estudos derivam novas formas de intervenção no combate as doenças.

A indústria dos medicamentos e dos fármacos está longe de envolver conhecimentos apenas do âmbito da química. Físicos, biólogos, médicos, farmacêuticos, engenheiros de processo, especialistas em materiais, para citar apenas os exemplos mais corriqueiros, são mais e mais necessários para o desenvolvimento do setor.

O setor produtivo privado é composto pelas subsidiárias de empresas multinacionais, que dominam cerca de 80% do mercado de medicamentos, e por um número considerável de empresas nacionais, de porte médio, responsáveis pelo atendimento aos 20% restantes do mercado. Até a segunda metade dos anos 80, havia um movimento crescente de produção de fármacos no país, envolvendo empresas nacionais de médio porte e algumas multinacionais. Com o processo de abertura este movimento cessou e o atendimento nacional das necessidades de fármacos passou a ser feito preferencialmente por importações como já demonstrado acima. A nova situação atende ao desejo das empresas transnacionais de otimizarem seus ganhos por meio da alocação de seus recursos produtivos segundo uma lógica interna da empresa, dissociada dos interesses dos países consumidores e hospedeiros de suas ações de produção.

Entretanto, o país possui uma base empresarial diversificada, atuante e desejosa de prosperar e progredir. São, em sua maioria, empresas de pequeno e médio portes mas que, com políticas de proteção e incentivo adequadas, poderiam facilmente dar conta de prover o país de uma base produtiva em fármacos e medicamentos capaz de lhe assegurar uma independência estratégica. Não se trata, é claro, de aspirar à autarquia. Nenhum país do mundo, nem mesmo a nação líder, é auto-suficiente em um setor dinâmico como este. Trata-se, isto sim, de ter no país uma base industrial de pesquisa e produção capaz de atender as necessidades básicas ditadas pelo quadro epidemiológico nacional e a capacitação tecnológica para acompanhar os progressos científicos gerados ao redor do mundo.

Há uma evidente vontade nos meios empresarial, de ensino e de pesquisa em química fina e medicamentos de fazer parte de um tal processo de desenvolvimento.

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