• Nenhum resultado encontrado

ASSÉDIO MORAL: UM OLHAR PARA SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR MORAL HARASSMENT: A LOOK AT WORKER'S MENTAL HEALTH

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ASSÉDIO MORAL: UM OLHAR PARA SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR MORAL HARASSMENT: A LOOK AT WORKER'S MENTAL HEALTH"

Copied!
30
0
0

Texto

(1)

http://dx.doi.org/10.35265/2236-6717-211-9263

FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. ASSÉDIO MORAL: UM OLHAR PARA SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR

Fernanda Souza de Oliveira1 Jesuino Silva Boabaid2 Uérlei Magalhães de Morais3

RESUMO

O assédio moral é um fenômeno complexo e uma realidade enfrentada no ambiente laboral, é um tipo de abuso que envolve princípios éticos, que pode comprometer a qualidade de vida dos trabalhadores, levando-os a doenças e sofrimento no ambiente de trabalho. Esse estudo descreve uma pesquisa de revisão bibliográfica do tipo sistemática, utilizando os seguintes descritores: “saúde mental do trabalhador”, “assédio moral no trabalho” e “psicologia da saúde”. Os resultados apresentados evidenciam que as consequências do assédio moral têm sido de grande interesse por diversos pesquisadores, e que de forma geral envolve algum dano na segurança e saúde no trabalho e não somente a questão individual de saúde mental. Espera-se que este estudo possa contribuir com reflexões e debates acerca do impacto do assédio moral na saúde do trabalhador, permitindo visibilidade de uma temática pouco aborda e veiculada nos próprios ambientes laborais.

Palavras-chave: Psicologia. Assédio moral. Saúde mental do trabalhador.

MORAL HARASSMENT: A LOOK AT WORKER'S MENTAL HEALTH

ABSTRACT

Moral harassment is a complex phenomenon and a reality faced in the workplace, it is a type of abuse that involves ethical principles, which can compromise the quality of life of workers, leading them to diseases and suffering in the workplace. This study describes a systematic bibliographic review search, using the following descriptors: "mental health of the worker", "moral harassment at work" and "health psychology". The results presented show that the consequences of bullying have been of great interest to several researchers, and that in general it involves some damage to safety and health at work and not only the individual issue of mental health. It is hoped that this study can contribute to reflections and debates about the impact of moral harassment on workers' health, allowing visibility of a theme that is little addressed and conveyed in the work environments themselves.

Keywords: Psychology. Bullying. Mental health of the worker.

1 Graduanda em Direito pela Faculdade São Lucas – Porto Velho-RO, autora do presente artigo. Endereço

eletrônico: nandadijafe@gmail.com

2 Graduando em Direito pela Faculdade São Lucas – Porto Velho-RO, autor do presente artigo. Endereço

eletrônico: deputadojesuino@gmail.com

3 Mestre em Educação e Especialista em Direito e Processo do Trabalho, orientador do presente artigo, professor do Curso de Direito pela Faculdade São Lucas – Porto Velho-RO. Endereço eletrônico: Uerlei.morais@saolucas.edu.br.

(2)

http://dx.doi.org/10.35265/2236-6717-211-9263

FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. INTRODUÇÃO

O assédio moral no ambiente de trabalho não é um fenômeno recente na história das sociedades organizadas. No entanto, o cenário atual, seja em organizações públicas ou privadas, a discussão pertinente sobre esta temática vem ganhando intensa notatividade nas relações de trabalho, configurando-se enquanto um elemento de forte preocupação social devido aos impactos negativos à saúde e ao bem-estar do trabalhador, assim como, devido aos reflexos na queda da produtividade dos trabalhadores no exercício de suas funções laborais (FREITAS, 2018).

Quanto à sua conceituação, o assédio moral pode ser entendido enquanto um conjunto de atos hostis como também a expressão da violência psicológica, empreendidos por um ou mais indivíduos e que acontece de forma processual, repetitiva e prolongada. De acordo com Hirigoyen (2018), “estas ações configuram-se por serem abusivas e direcionadas a outra pessoa por meio de comportamentos, palavras, gestos ou atitudes.” Tendo o propósito de desqualificar, humilhar, constranger e diminuir a vítima. Para Heloani (2019), “o assédio moral é percebido como um atentado a integridade psíquica do trabalhador, e à medida que a sua ocorrência se intensifica, surgem serias implicações que afetam o bem-estar e qualidade de vida das vítimas.”

No que se referem as suas formas de expressão, o assédio moral pode ser classificado em dois tipos: assédio interpessoal e assédio moral organizacional. Entende-se enquanto assédio moral interpessoal, aquele ocorrido de pessoa para pessoa, tendo como características a ocorrência de ações constantes de humilhação, destruição da identidade e isolamento, de modo a causar dano a uma ou mais pessoas especificas (SOBOLL; GOSDAL, 2019). Já no que concerne o assédio moral organizacional, Soboll (2019) afirma que “este se refere às relações entre indivíduo e a organização.” Ainda segundo os autores Soboll e Gosdal (2019), algumas organizações adotam como práticas o assédio moral para estimular o aumento da produção ou ter mais controle com os seus funcionários.

Alguns fatores são entendidos enquanto facilitadores do assédio moral, dentre estes se destacam: ambientes laborais precários; egocentrismo; falta de solidariedade e empatia; ambientes onde há competição de forma exagerada e instigada pelos superiores, juntamente com cultura e clima organizacional que favorecem as relações entre indivíduos de forma desrespeitosa; e empresas adeptas de práticas de assédios como forma de estimulação de

(3)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. 3 produção. Ao passo que, segundo Soboll e Gosdal (2019), “organizações que promovem relações de solidariedade, empatia e reconhecimento do outro, não permitem condutas abusivas e agressivas, assédio moral ou sexual, bem como outras práticas de violência no trabalho.”

De acordo com Freitas (2018), “o fenômeno em si não é novo, contudo, a sua discussão e a sua denúncia, em particular no mundo organizacional, constituem, sim, uma novidade”. Neste sentido, embora seja um tema bastante comentado nos meios de divulgação, a justificativa para a realização do presente estudo torna-se pertinente por permitir uma discussão em torno dos elementos propulsores da expressão do assédio moral e das implicações na vida do trabalhador. Ademais, propõe-se ainda elucidar maiores contribuições exercidas pela psicologia organizacional no tocante à promoção da saúde e bem-estar dos trabalhadores em seus ambientes laborais.

Ressalta-se, portanto, que estudos voltados para essa linha de pesquisa tem caráter contributivo e proporciona reflexões e debates sobre uma prática que vem trazendo grandes sequelas para o indivíduo, tanto físicas como psicológicas. Neste sentido, levando-se em consideração a importância deste debate e de sua implicação na qualidade de vida do trabalhador, é colocado o seguinte questionamento: qual o impacto do assédio moral na saúde mental do trabalhador?

Acredita-se que o assédio moral, seja este de caráter interpessoal ou organizacional, afeta a vida do trabalhador, especialmente, no tocante a sua saúde mental, uma vez que tal ambiente propulsor é caracterizado por ações de natureza hierárquicas e depreciativas, tendo como função a desqualificação do trabalhador.

Com isso, esta pesquisa tem como objetivo principal analisar as implicações do assédio moral na saúde mental do trabalhador. Além disso, pretende-se: identificar a prevalência dos tipos de assédio moral ocorrido frente ao trabalhador, sua frequência e o responsável pelo ato; verificar o impacto do assédio moral para o bem-estar físico e emocional do trabalhador; detectar os determinantes do assédio moral; e por último, investigar como os trabalhadores percebem as situações de assédio moral no ambiente de trabalho.

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 O ASSÉDIO MORAL E SUAS DEFINIÇÕES

Em detrimento a banalização do assédio moral no ambiente laboral, o trabalho do psicólogo nas organizações é de contribuir para que este acontecimento não cause maiores

(4)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. 4 consequências no ambiente organizacional. O assédio moral consiste na exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, geralmente repetitivas e prolongadas, durante o horário de trabalho e no exercício de suas funções; situações essas que ofendem a sua dignidade ou integridade física (KIEFFER, 2017). É uma modalidade de agressões psicológicas, que podem acontecer independentemente do meio utilizado, sendo eles, textos, e-mails, gestos e/ou atitudes humilhantes e constrangedoras do ponto de vista social.

Hirigoyen (2018, p. 31), fala que:

É visível que o assédio moral nasce, na maioria das vezes, quando alguém visa proteger ou manter uma posição alcançada sobre outra pessoa, em outros casos, o assédio surge pela competição, não sendo demais dizer, que esta forma de agir, impregna-se na mente humana desde a tenra idade até o fim dela, colocando, neste período, obviamente, o tempo dedicado ao labor, uma vez que o jovem já é educado dentro de uma rivalidade feroz e chega ao mercado de trabalho achando a violência moral uma ferramenta comum de subida ou de defesa dentro da empresa; atingindo certo status neste meio, o sujeito buscará todas as formas de se manter na posição atingida, principalmente quando se sentir ameaçado por alguém melhor preparado do que ele; beneficiado em nível de posição no emprego, mais forte na relação, se valerá de tal condição para agredir àquele que imagina representar “perigo” para a sua posição.

A compreensão sobre a origem do assédio moral passa por uma reflexão sobre os exercícios sociais e as relações de poder e influência. O assediador é coercivo e intransigente por natureza. Algumas características favorecem o cometimento da prática no âmbito organizacional, segundo Vasconcelos (2018), “problemas em gerenciar competências, anseios e o processo de aprendizagem nas organizações; ambição por controle; arrogância; cobiça desmedida; apego à dominação; dificuldade em reconhecer o valor e o papel da diversidade” para o amadurecimento social; narcisismo demasiado; comportamento de preservação, ainda que se dê na forma de reação; necessidade de autoafirmação profissional e prestígio pelos pares, entre outras. Os principais problemas em identificar o assédio moral são as existências das camuflagens sociais (aparência enganadora), antecipadamente cuidada pelas etiquetas sociais dos ambientes. Essas atitudes corporativas provêm de regras aplicadas, comumente aceitas e cristalizadas pela sociedade.

Alkimin (2017, p. 37), descreve que:

A expressão assédio deriva do verbo assediar que significa perseguir com insistência; importunar, molestar com pretensões insistentes, ao passo que a expressão moral pode ser compreendida em seu aspecto filosófico, referindo-se ao agir ético, ou seja, de acordo com as regras morais ou normas escritas que regulam a conduta na sociedade, o ser e dever-ser, visando praticar o bem e evitar o mal para o próximo.

(5)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. 5 Configura-se então como assédio moral a desordem de nível pessoal que acontece de forma assimétrica no ambiente organizacional, individual ou coletivamente. Esse exercício leva a um processo gradativo e inconsciente de danos psicológicos, que se dá tacitamente por emprego de palavras, atitudes, insinuações hostis e mascaradas, com mensagens subliminares, impregnadas de agressividade, importunando a dignidade do indivíduo (SANTANDER, 2017).

O assédio moral no trabalho pode ser nomeado de diferentes modos, que variam de acordo com a cultura e de cada país. Algumas das expressões usadas são: harcélement moral (assédio moral), na França; bullying, bossing, harassment (tiranizar), na Inglaterra, Austrália e Irlanda; mobbing (molestar), nos Estados Unidos, Países nórdicos, bálticos e na Europa Central; murahachibu (ostracismo social), no Japão; coacção moral, em Portugal; acoso moral, acoso psicológico ou psicoterrorismo, nos países hispânicos; e assédio moral, assédio psicológico, mobbing, no Brasil. Esta variedade de termos usados representa a diversidade cultural e a ênfase dada a alguns dos muitos aspectos que favorecem a ocorrência do assédio moral. (GUIMARÃES; RIMOLI, 2020).

Assim como existem uma diversidade de termos utilizados para se referir ao assédio moral, há também uma variedade de definições que classificam este fenômeno. Percebe-se a seguir, que as definições de assédio moral não são consensuais e visando um melhor entendimento dessas conceituações, reunirmos na tabela abaixo algumas das definições mais citadas em pesquisas encontradas e nos trabalhos científicos que se propõem a analisar e identificar a ocorrência desta violência no Brasil e no exterior.

De acordo com Leymann (1996), “Mobbing/Psycho-terror Envolve comunicação antiética ou hostil, direcionada de maneira sistemática por um ou mais indivíduos que, devido ao assédio, é levado a ficar numa posição sem defesa.” Estas ações ocorrem frequentemente (definição estatística pelo menos uma vez por semana) e por um longo período de tempo (definição estatística por pelo menos seis meses). Devido à alta frequência e longa duração do comportamento hostil, estes maus-tratos resultam em considerável sofrimento psicológico, psicossomático e social.

Segundo Einarsen (2010), “o Mobbing Acontece quando um ou mais indivíduos, repetidamente, são expostos a atos negativos (seja assédio sexual, atormentar, exclusão social, comentários ofensivos, abusos atormentar, exclusão social, comentários ofensivos”, abusos físicos ou similares) conduzidos por um ou mais indivíduos. Adicionalmente é preciso haver disparidade nas relações de poder entre as partes. A pessoa confrontada tem que de poder entre as partes. A pessoa confrontada tem que sentir dificuldades em defender-se. Uma

(6)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. 6 violência que consiste na constante desqualificação da vítima com o objetivo de torná-la neutra em relação ao poder.

Heloani (2019), afirma que “o Assédio Moral Uma violência que consiste na constante desqualificação da vítima com o objetivo de torná-la neutra em relação ao poder.”

Barreto (2020), “Assédio Moral é uma forma sutil de violência que envolve e abrange múltiplos danos tanto de bens materiais quanto moral, no âmbito das relações laborais.” O que se verifica no assédio é a repetição do ato que viola intencionalmente os direitos do outro, atingindo sua integridade biológica e causando transtornos à saúde psíquica e física. Compreende um conjunto de sinais em que se estabelece um cerco ao outro sem lhe dar tréguas. Sua intencionalidade é exercer o domínio, quebrar a vontade do outro impondo término ao conflito quer pela via da demissão ou sujeição

Hirigoyen (2008), “Harcelement Moral Qualquer conduta abusiva expressa por meio de comportamentos, palavras, atos, gestos, escritas que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar ao ambiente de trabalho.”

A definição adotada por Leyman (2017), é a que demarca com mais nitidez a ação do assédio moral. Esta definição é a mais citada nos trabalhos científicos.

O assédio moral pode ser entendido como uma violência frequente, em caráter processual, que por diversos meios atingem a vítima nos seus aspectos físicos, psíquicos e sociais.

O assédio moral sofrido no ambiente organizacional pode acarretar em graves consequências, não apenas no ambiente organizacional mais também na saúde mental do trabalhador, levando o mesmo a desenvolver diversos tipos de transtornos.

O assédio moral pode configurar-se como interpessoal e organizacional. Quando se fala em assédio moral interpessoal, percebemos que há a intenção de prejudicar com ameaças, lesões ou ataques que aparecem de forma velada, não tão evidenciada. Normalmente tem como alvo indivíduos ou pequenos grupos específicos e tem com frequência a intenção de deliberada de humilhar, isolar, causar dano ou destruir uma ou algumas pessoas, o assediador pode ser hierarquicamente superior, do mesmo nível hierárquico ou inferior a pessoa assediada (SOBOLL; GOSDAL, 2019).

Com relação ao assédio moral organizacional, este pode ser considerado como um instrumento de gestão empresarial, cada vez mais reiterado pelas empresas nos dias atuais. É um conjunto de práticas gerenciais voltadas ao aumento da produtividade e da lucratividade

(7)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. 7 das empresas, que por sua vez, acaba se habituando a utilizar dessas práticas e acaba gerando sérios danos a saúde mental dos trabalhadores (RAMOS FILHO, 2019).

Na atualidade, o assédio moral organizacional tem se tornado cada vez mais frequente, levando em consideração que o mercado se torna cada dia mais competitivo, e exige mais aprimoramento dos serviços, para isso, são impostas metas inatingíveis, treinamentos humilhantes e punições como forma instrumento de gestão.

Para Tarcitano e Gimaraães (2020, p. 19), o assédio configura-se ainda em um novo contexto, tais como:

Novas exigências do ambiente laboral vêm sendo incorporadas gerando múltiplos sentimentos como medos, incertezas, angústia e tristeza. A ansiedade ante uma nova tarefa, o medo de não saber, a avaliação constante do desempenho sem o devido reconhecimento, a requisição da eficácia técnica, excelência, criatividade e autonomia geram tensão e incertezas.

Se tratando ainda de assédio moral organizacional, temos um comportamento mais evidente, que tenta atribuir a vítima à responsabilidade pelo processo desencadeado e não há a intenção de atingir o empregado ou degradar as condições de trabalho, e sim apenas aumentar a produtividade e os lucros fazendo um redução nos custos (SOBOLL; GOSDAL, 2019).

Segundo Hirigoyen (2018), as intenções do assediador são variadas, como danificar a imagem do assediado, fazendo com que fique desacreditado; minar procedimentos organizacionais; alterar o exercício profissional do assediado ou mesmo do grupo; burlar competições; obter júbilo pessoal; atormentar a rede de relacionamentos do indivíduo assediado, fazendo-o fragilizado e vulnerável a novos casos, entre outros. Com essa intenção, isola a vítima socialmente para restringir reações aleatórias e minar as possíveis tentativas de comunicação.

Para Mello e Silva (2019), as empresas que praticam o assédio moral organizacional agem através da sobrecarga de trabalho e da modulação da remuneração, os quais atrelados acabam por romper todo e qualquer laço de solidariedade existente entre membros de uma mesma equipe, os quais acabam se tornando obrigados a exercer suas atividades mesmo que acabem por gerar uma dificuldade aos seus colegas.

1.2 FORMAS DE EXPRESSÃO DO ASSÉDIO MORAL

Levando-se em consideração a classificação do assédio moral, este pode ser dividido em quatro tipos: Assédio moral vertical descendente, assédio moral horizontal, Assédio moral ascendente, Assédio moral coletivo.

Os tipos de assédios verificados distinguem-se por seu agente causador, podendo o mesmo ser causado pelo colega de trabalho, pelo dono, gerente, preposto ou sócio da empresa,

(8)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. 8 pelos subordinados contra seu superior hierárquico, pelos superiores e colegas de trabalho juntos e pelos superiores contra a coletividade (PAULA; SANTOS, 2020).

O assédio moral no trabalho acontece de duas maneiras: o assédio moral vertical e o assédio moral horizontal. Existem ainda classificações para esses tipos de assédio, o assédio moral é classificado em: vertical descendente e vertical ascendente. No vertical descendente que é o mais comum nas organizações, onde o colaborador é assediado por algum superior ou alguma pessoa que tenha uma relação hierárquica com a vítima, e o mesmo tem que está disposto a aceitar pelo fato de necessitar do seu salário.

Ao ver de Guedes (2020), o assédio moral descendente não precisa, necessariamente, ser praticado abertamente pelo superior hierárquico, mas antes, deflagrado e difundido por este, que passa a contar com a cumplicidade ativa de outros subordinados, fato este que leva a situação a desembarcar em uma mescla entre o assédio moral vertical e horizontal.

De acordo com Paula e Santos (2020), o assédio moral vertical descendente é uma demonstração de poder seja ele moral, psicológico ou financeiro. Neste tipo de assédio o agressor é um narcisista, um megalômano, que se acha muito importante, acredita ser especial, tem a necessidade de ser admirado. Sonha com as vantagens conseguidas com seu sucesso na empresa. Imagina ser a engrenagem mestra que movimenta a empresa, e por esse motivo se acha indispensável.

O objetivo principal é fazer com que o indivíduo se sinta mal e totalmente na mão do assediador, muitas vezes o assédio moral vertical descendente começa quando o colaborador adoece e coloca um atestado médico para justificar sua ausência e o superior inicia o processo de chantagem, muitas vezes informando que o indivíduo pode perder seu emprego, e culpando o mesmo pelos “fracassos” da organização.

Alkimin (2017, p. 61-65):

Esse tipo de assédio é proveniente do empregador, compreendido na execução o empregador propriamente dito, bem como qualquer outro superior hierárquico (diretor, gerente, assessor, chefe, supervisor, etc.) que receba a delegação do poder de comando. Deve-se admitir que o assédio cometido pelo empregador é o mais corriqueiro de todos, pois, na relação de emprego, prevalece a desigualdade material entre as partes, sendo que o empregador, para implantar o processo de organização e ajuste do trabalho, poderá enveredar para o abuso de poder, adotando posturas autoritárias, desumanas e antiéticas, valendo- se de sua superioridade econômica e poder de mando e desmando sobre o trabalho subordinado enquanto pessoa e profissional.

Segundo Paula e Santos (2020), o que pode se observar que o agressor deste tipo de assédio acaba agindo sozinho, pois sua posição hierárquica é suficiente para que as pessoas

(9)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. 9 aceitem suas afirmações. Em sua maioria o agressor tem uma imagem positiva aos olhos dos que estão de fora desta relação dificultando a prova deste fenômeno.

Já no assédio vertical ascendente observa-se quando um ou mais subordinados assediam um superior. A esse caso pouca atenção é dada, pois se espera que a própria hierarquia defenda a vítima, o que nem sempre é verdade. Independentemente da posição hierárquica, qualquer pessoa pode ser uma vítima. O assediado não tem a quem recorrer, na maioria dos casos não pode recorrer ao apoio dos sindicatos, a busca de apoio a outros superiores ou mesmo aos subordinados representa mostrar sua fragilidade e inabilidade para resolver o problema, representa mostrar sua ineficiência em ocupar um cargo (HIRIGOYEN, 2018).

Este tipo de assédio pode ser praticado contra o superior que se excede nos poderes de mando e que adota posturas autoritárias e arrogantes, no intuito de estimular a competitividade e rivalidade, ou até mesmo por cometer atos de ingerência pelo uso abusivo do poder de mando. Pode ser ainda que, por insegurança ou inexperiência, o superior hierárquico não consiga manter domínio sobre seus trabalhadores, sendo pressionado ou tendo suas ordens desrespeitadas ou deturpadas, implicando o fortalecimento dos assediantes para se livrar do superior hierárquico indesejado (ALKIMIN, 2017).

O assédio moral horizontal é praticado entre funcionários que ocupam a mesma posição na organização. Este tipo de assédio acontece de acordo com Paula (2020), quando o problema envolve colegas de trabalho que não conseguem conviver com as diferenças, especialmente quando são destaques na profissão ou cargo ocupado, o assédio moral absorve a forma horizontal. Na maioria dos casos pode acontecer por inúmeros motivos, mais na maioria das vezes acontece devido a uma disputa entre os indivíduos, gerando uma concorrência e uma disputa pela atenção do superior.

Guedes (2020, p. 38-39), esclarece que:

O assédio horizontal é a perseguição desencadeada pelos colegas de trabalho. As causas mais imediatas desse tipo de perversão são a competitividade, a preferência pessoal do chefe, porventura gozada pela vítima, a inveja, o preconceito racial, a xenofobia, razões políticas ou religiosas, a intolerância pela opção sexual ou o simples fato de a vítima ser ou comportar-se de modo diferente do conjunto de colegas. Esta espécie de psicoterror tanto ocorre de forma individual quanto coletiva. Neste último caso, o assediado vira o “bode expiatório” do grupo que, colaborando com o perverso, desafoga sua intolerância, preconceitos, frustrações, inveja, agravando, sensivelmente, o sofrimento da vítima.

O agressor nessa situação se qualifica como sendo o melhor funcionário, assim desencadeando atitudes desagradáveis, gerando uma competitividade excessiva entre os demais. Em alguns casos é possível ver empresas que estimulam esse tipo de comportamento,

(10)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. 10 pois acreditam que aumentar a produtividade pode ser saudável para estimular a competitividade no ambiente de trabalho. Embora este tipo de assédio não seja tão comum quanto o assédio moral vertical descendente, pode ocasionar vários danos no ambiente organizacional e também para a saúde mental dos colaboradores.

Nesse contexto Hirigoyen (2018, p. 65), afirma que:

A experiência mostra que o assédio moral vindo do superior hierárquico tem maiores consequências para a saúde do que o assédio horizontal, pois a vítima sente-se ainda mais isolada e tem ainda mais dificuldades para achar a solução do problema.

A competitividade e o egocentrismo extremo não podem ser explicados unicamente pela peculiaridade do exemplo de produção. Desprezar outras literaturas e visão implica causar o esgotamento de sentidos do problema e desumanizar uma patologia social.

Vasconcelos (2018), fala que independente do tipo de “mobbing”, a subordinação por parte do assediado não implica essencialmente na legítima aceitação, mas, sim, em uma aceitação circunstancial, gerando assim uma inclinação à reação de denúncia e providências. 1.3 O ASSÉDIO MORAL E SUAS IMPLICAÇÕES NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

Dentro de uma organização, aquele que detém o poder, pelos mais alterados motivos expõe seus colaboradores, ou uma vítima em especial, a circunstâncias cada vez mais estressantes, humilhantes ou constrangedoras, durante o seu período de trabalho (DARCANCHY, 2017). Essas ações acontecem de maneira repetitiva e prolongada. O assédio moral humilha o indivíduo, atingindo diretamente a sua autoestima, as condições físicas e psicológicas como um. O assediador ao selecionar sua vitima, estigmatiza-o para que o individuo seja visto como culpado pelos seus “erros, inaptidão, incompetência, falta de sociabilidade, depressão, alterações de ânimo” e outros comportamentos, até que fique desacreditado e se isole dos demais.

Leymann (1990) evidenciou a existência de quatro fases do processo de assédio moral, sendo elas:

FIGURA 1. Fases do processo de assédio moral de acordo com Leyman.

FONTE: Leymann, 2017 - esquematização dos autores (2021).

Fase 1- onde os conflitos interpessoais habituais entre indivíduos com interesses e objetivos distintos ou até mesmo conflitantes geram problemas pontuais, que poderiam ser

(11)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. 11 resolvidos de forma passiva através do diálogo. No entanto, quando estes conflitos começam a condenar o indivíduo, chega a um ponto em que tornam as relações inflexíveis.

Fase 2- onde o assediador põe em prática toda sua tática de humilhações, fazendo-a se isolar do seu convívio social, fazendo uso de comportamentos perversos sistematicamente e por tempo prolongado (GUIMARÃES; RIMOLI, 2020).

Fase 3- onde a gerência da empresa toma ciência do conflito, caso não seja uma tática da organização, onde a origem do problema seria na própria empresa, duas formas de atuação podem ser colocadas em prática, na maioria das vezes pelo setor de recursos humanos ou direção de pessoal, sendo uma delas, solução positiva– onde em uma pequena parte dos casos, a organização da empresa, ao tomar conhecimento do problema, faz uma verificação extenuante do mesmo e decide que o trabalhador ou o assediador seja transferido de seu posto de trabalho, descobre a tática de humilhações empregada e articula mecanismos para que a mesma não volte a ocorrer, castigando neste caso o assediador; a outra forma é a solução negativa do conflito – onde normalmente e sem ter um conhecimento extenuante do caso, devido à sua inexistência ou falta investigação, a direção da empresa apenas encara a vítima como um problema a ser combatido, destacando suas características individuais distorcidas e manipuladas, sem reparar que a origem do mesmo está em outro fator. GUIMARÃES; RIMOLI, 2020).

Desta forma, a organização da empresa se junta ao meio que assedia ativando passivamente a vítima.

Fase 4- onde ocorre à eliminação da vida laboral, possivelmente depois de haver decorrido por vários e demorados períodos de afastamento. Alguns sofrem o agravamento do problema, tanto dentro como fora da empresa. Nos casos mais extremos, os trabalhadores assediados podem chegar ao suicídio.

Os estudos de Piñuel e Zabala (2018), sugerem a existência de uma fase a mais, que estaria entre a Fase de Intervenção e a Fase de Marginalização de Leymann e que institui de “Fase de solicitação de ajuda” onde o trabalhador assediado procura por ajuda especializada externa, psicólogos e psiquiatras, e recebem diagnósticos errôneos, pois não são levados em considerações os aspectos causadores que têm suas origens em situações de agressões externas, continuas e fixas e não na fragilidade constituída do individuo, deixando assim evidenciado que não existem peritos que possam abordar um problema cuja origem está na organização e não na vítima.

(12)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. 12 A competição entre as empresas no mundo capitalista, onde existe uma busca desenfreada pela lucratividade que busca produzir melhores produtos com menores custos. Essa disputa externa acaba contagiando o ambiente interno das empresas, onde quem produz mais acaba se destacando entre os chefes (PAULA; SANTOS, 2020). O ambiente de trabalho muitas vezes se torna hostil, onde as pessoas tomam atitudes individualistas, intolerantes e a falta de solidariedade se faz presente nas atitudes, em alguns casos o agressor utiliza de brincadeiras para humilhar, difamar ou até mesmo envergonhar o colega.

A competição generalizada reforça o sentimento de hostilidade, inveja e indiferença ao outro, que passa a ser visto como objeto de ódio e ressentimento, o que parece uma nova forma de violência social, latente e induzida, que se apresenta em um nível de profundidade diferente daquela que é própria do recalcamento das pulsões. A década de 1990 daria acabamento ao movimento de valorização das empresas, que doravante seriam consideradas as responsáveis pela riqueza das nações, pelo aprofundamento do desenvolvimento tecnológico, pela conquista de mercados nos confins do planeta e pela elevação seguida de índices de produtividade, o que justificaria antecipadamente as reestruturações a serem feitas e servira de álibi aos efeitos colaterais, que dela resultariam (FREITAS, HELOANI, BARRETO, 2018, p. 5).

A força do assediador com relação à vítima, não vem de uma relação de hierarquia e sim de uma força psicológica, neste sentido há certa permissão por parte da chefia que não tem o menor interesse de acabar com problema, tirando maior proveito desta situação, incentivado esta competitividade, buscando aumento da produção (PAULA; SANTOS, 2019). O agressor tem uma inclinação de não compreender o próximo, de sequer percebê-lo, o trabalhador é visto como objeto descartável, utilizado apenas para enaltecimento próprio.

As subversões, segundo Vasconcelos (2015), se iniciam a partir das diferenças, estimuladas por uma gama de motivos: inclinações políticas divergentes; imaturidade pessoal; ambições individuais de poder e autoridade; extremismo; preconceito; descontentamento profissional; presunção; infelicidade; objetivos profissionais em rota de colisão; egocentrismo exacerbado e demandas pessoais diversas.

Estes tipos de atitude das chefias muitas vezes tornam o ambiente mais propicio a ocorrer esse tipo de assédio, muitas vezes gerando nos colegas revolta e vontade de resolver o problema da sua própria maneira.

Vasconcelos (2018), afirma que, o assédio moral afeta diretamente a produtividade, o senso de concretização profissional, seu desempenho, a capacidade criativa e inovação do indivíduo assediado, com dano a sua saúde mental e prejuízos para a organização em que trabalha. Rodízio de pessoal, absenteísmo, conflitos frequentes, improdutividade e comprometimento das condições dos serviços são alguns dos efeitos.

(13)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. 13 1.4 ASSÉDIO MORAL E AS CONSEQUÊNCIAS PARA A SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR

O assédio moral no trabalho, situação de violência psicológica extrema, favorece o sofrimento psíquico, podendo levar ao adoecimento físico e/ou mental do trabalhador vítima (NASCIMENTO, 2018); promove a degradação do ambiente de trabalho, comprometendo a qualidade de vida das pessoas na organização, afetando o ânimo pessoal. Em consequência, cresce a rotatividade funcional, os custos de entrada e saída, e ainda os gastos com reintegração (CUNICO, 2017). Essa prática no ambiente de trabalho, independentemente do tipo de assédio sofrido, trará as vítimas graves prejuízos em sua saúde mental.

O trabalho é um ambiente onde normalmente as pessoas passam a maior quantidade de tempo do seu dia, e qualquer problema nesse ambiente poderá ocasionar graves prejuízos organização e ao desenvolvimento nas funções laborais, como também na sua saúde como um todo. No decorrer da história o trabalho vem assumindo diferentes significados.

De acordo com Nascimento (2018 p. 4), “o trabalho não é apenas uma maneira de subsistência para o ser humano. É, antes de tudo, produto de sentido e significado para a vida das pessoas”. O sentido do trabalho constitui-se como um processo complexo resultante de um contexto de interações e construções sociais que envolvem o campo da autorrealização, da independência da valorização e da sobrevivência (BARRETO, 2018).

As consequências do assédio moral não são apenas para saúde mental do trabalhador, o assédio vivenciado por esse indivíduo pode ocasionar diversos danos à vida social, individual e organizacional que apresentam contínuas interligações na esfera física, afetiva, cognitiva e social, aos poucos o indivíduo vai perdendo sua motivação, pois a pressão vai abrindo as portas para doenças físicas e distúrbios psicossomáticos, problemas afetivos como irritabilidade, ansiedade e insegurança, problemas na cognição do indivíduo e sociais, quer seja junto à família, conjugue ou colegas de trabalho e amigos.

Vasconcelos (2018, p. 831), afirma que:

O assédio compromete a saúde física e mental do indivíduo, alcançando o conjunto na organização, já que influencia os relacionamentos interpessoais e o equilíbrio psicológico do indivíduo no ambiente laboral. O problema pode, inclusive, ocasionar patologias mais severas, culminando no extremo do suicídio, homicídio e outras formas não brandas de violência social.

Cabe acrescentar ainda a observação de Einarsen (2010), acerca da gravidade do assédio moral no trabalho, que, sofrerá variações, provavelmente, em função de traços de personalidade dos assediados, o que corroborado, ainda por Olivares (2004), que sustenta que

(14)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. 14 as reações perante as situações de assédio moral no trabalho são subjetivas e variáveis de indivíduo a indivíduo.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (2004), as consequências podem ser psicopatológicos, psicossomáticos ou comportamentais. Incluem-se no rol dos psicopatológicos todos os sintomas ou síndromes de ansiedade, depressão (incluindo apatia, insônia, pensamento introvertido, problemas de concentração, humor depressivo, perda de interesse por coisas ou situações que antes lhe despertava, introversão, insegurança, falta de iniciativa, melancolia, pesadelos etc.), mudanças de humor (ciclotimia), e irritabilidade (distimia).

Os sintomas psicossomáticos incluem todos os sintomas físicos, mas que têm uma origem ou uma gênese psíquica, como hipertensão arterial, ataques de asma brônquica, úlceras estomacais, enxaqueca, perda de equilíbrio (labirintite ou síndrome de Menière), torcicolos, lumbagos, queda de cabelo (alopecia), dores musculares e/ou articulares de origem tensional, e estresse. Finalmente, os sintomas comportamentais se traduzem em reações agressivas (consigo mesmo ou com outras pessoas do convívio social), transtornos alimentares, aumento no consumo de álcool e/ou drogas, aumento do tabagismo, disfunção sexual e isolamento social (FREIRE, 2019).

São cada vez mais crescentes e diversificadas as exigências sobre os trabalhadores. A intensificação e as consequências do nível de trabalho, acrescentando ainda, as pressões que ocorrem de diferentes ordens, por resultados e mudanças comportamentais, podendo ainda colocar o surgimento de competições, a precarização do trabalho, a fragilização, o sofrimento psíquico e o adoecimento dos trabalhadores como exemplos dessa diversificação de exigências aos trabalhadores. No contexto atual onde o mercado encontra-se cada vez mais produtivo, parece se constituir um cenário propício para a ocorrência de violências psicológica e que possui semelhanças com alguns aspectos organizacionais destacados como contribuintes para a violência no trabalho, tanto física, quanto psicológica (AGÊNCIA EUROPEIA PARA SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO, 2002).

O assédio moral reflete no conjunto como todo, atingindo o biopsicossocial e comportamental do indivíduo, o que alude destruir a qualidade de vida do indivíduo integralmente. Tendo como consequências problemas psicopatológicos, psicossomáticos e comportamentais (SOSSELA; NEVES, 2020).

Para Tarciano e Guimarães (2020), as consequências dessas vivências repercutem na individualidade do trabalhador, interferindo na sua qualidade de vida, levando-o a desajustes

(15)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. 15 sociais e a transtornos psicológicos e o colocando face a face com situações de enfretamento, notadamente, ante ao assédio moral no trabalho. Extensas mudanças que se, por um lado, fortaleceram as grandes empresas que viram seu lucro e riqueza aumentarem, por outro desvalorizaram o trabalho, relegando os trabalhadores a um segundo plano.

O assédio, em geral, é tão grave quanto uma violência física. Estas condutas abusivas, onde a vítima se sente coagido e também constrangido podem atingir diretamente a autoestima do indivíduo, pois em muitas vezes o mesmo (a) se denomina incapaz de procurar seus direitos e até mesmo incapaz de procurar outro emprego em que não seja obrigado a passar por este tipo de situação.

De acordo com Canever (2017 p. 25):

A intensidade e a sobrecarga de trabalho, tarefas mal distribuídas, competição por promoções, condições de trabalho inadequadas, pressão temporal, tarefas monótonas, inadequação e/ou falta de treinamentos, excessivo foco na satisfação do cliente, dentre outros aspectos, estão condicionados a uma violência psicológica relacionada ao trabalho.

Estas situações facilitam e contribuem diretamente para a ocorrência do assédio dentro das organizações. Esse ambiente aterrorizante e hostil é capaz de afetar gravemente a saúde física e psicológica da vítima, gerando sérios danos, como depressão, estresse, fobias sociais e em muitos casos, o suicídio.

Estes sentimentos induzem a erros, desestabiliza afetivamente e geram severas alterações na saúde, o sentimento de ser humilhado é reforçado pelas constantes ofensas do agressor que ocasionam a diminuição do autoconceito, afetando a sua dignidade e o respeito por si mesmo. (FREITAS; HELOANI; BARRETO, 2018).

O termo autoconceito é utilizado geralmente para denominar as percepções que a pessoa tem sobre si. O autoconceito é formado a partir da relação do indivíduo consigo mesmo, da experiência com seu próprio corpo e da relação com seu meio social (PAULINELLI; TAMAYO, 2017). Algumas situações que podem propiciar a diminuição do autoconceito ou mantê-lo rebaixado são: críticas, rejeições, humilhações, abandono, desvalorizações e perdas (GUEDES, 2020). Sendo algumas destas situações, citadas por Guedes, comportamentos característicos do assédio moral no trabalho.

A dignidade do indivíduo não somente na esfera trabalhista, como também em todo o ordenamento jurídico representa um ideal de vida para o ser humano em sua plenitude. É por meio do trabalho que o sujeito se realiza em seu ideal de vida e em suas potencialidades

(16)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. 16 (FREIRE, 2019). O assédio moral acomete diretamente a dignidade, honra, moral e valores do individuo.

A dignidade tem como principio compreender o direito irrenunciável de exercício da autonomia e a julgamento dos limites dos espaços de expressão das vontades, definindo um contraponto à solidariedade social. O sentido desse conceito alcança o conjunto, quando o indivíduo reconhece o outro como seu semelhante, estabelecendo uma conduta ética e respeitosa e, em alguns casos, uma ligação afetiva. Implica-se dizer que o conceito de dignidade aplica-se aos níveis singulares e coletivos (VASCONCELOS, 2018).

Moraes (2018, p.48), define dignidade como:

[...] um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos.

Já na visão de Martins (2017, p. 47), explica que:

A dignidade da pessoa humana é a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada pessoa que a faz merecedora do mesmo respeito e estima por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a ela tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como lhe garantam condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.

Desse modo, os indivíduos que se sentem inferior em relação aos seus colegas de trabalho, tendem a se submeter às exigências dos seus superiores, caracterizando- os assim, como acima de suas competências.

Visando compreender o fenômeno e identificar a raiz patológica do problema Zabala (2018), “descreve sobre possíveis personalidades do assediador, dando ênfase para as personalidades paranoide, psicopática e a narcisista.”

Na Personalidade Paranoide, os indivíduos apresentam nível elevado de desconfiança e ciúme, com suspeitas invasivas, infundadas e injustificáveis (CROMBERG, 2018; GABBARD, 2017; RIGOLIN e CAMARGO, 2018; ZABALA, 2018).

O assediador com personalidade paranoides usualmente segundo Cromberg (2018), vitimiza-se, desqualifica os motivos dos outros, desenvolvem rancores duradouros, reagem fortemente a conflitos, criam barreiras invisíveis.

Ainda segundo Cromberg (2018, p. 25-26):

Indivíduos paranoides apresentam-se estáveis especialmente se seu trabalho não exigir muita cooperação com outras pessoas; mas podem apresentar dificuldade com

(17)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. 17 figuras de autoridade e em relacionamentos íntimos, que evitam pelo medo de dominação e vulnerabilidade.

Na Personalidade Psicopática, os indivíduos podem apresentar a seguintes características no comportamento: irresponsabilidade para com o outro, autoritarismo, assertividade, autoconfiança, problemas em demonstrar afeição para com os outros, falta de empatia, autovalorização, impulsividade, uso de encanto (para envolver), indiferença para com os seus atos, idealização de um mundo a parte onde suas ideias são válidas (ZABALA, 2018).

Zabala (2018), ainda destaque que “Eles são astutos, carismáticos, atraentes e dotados de habilidades sociais. Eles geralmente produzem uma ótima primeira impressão quando são conhecidos”.

O indivíduo dotado com a Personalidade Narcisista centraliza todas as atividades em torno de si, criando assim, expectativas de comentários sociais, que geralmente são frustrados, apresenta ainda uma necessidade incomum de admiração, sentem-se diferenciados.

Os narcisistas são caracterizados por fantasias imaginárias de sucesso e sentem-se excepcionais, sendo hipersensíveis à avaliação de outros, com anseio de autoridade e almejam tratamento especial. Apresenta ainda, sentimento de superioridade, exagero de suas capacidades e aptidões, necessitam de atenção constante, são presunçosos e contém comportamentos autorreferentes (DORFMAN et al., 2017, p. 609).

As ações de assédio moral surgem de um anseio do assediador em habilitar indivíduos a seu redor, para que satisfaçam suas expectativas (SIMM, 2008). O clima organizacional da empresa contribui para que ocorra a incidência desse comportamento assediante.

Freire (2019), relata que “as condições sociais e materiais em que se realiza o trabalho podem afetar o estado de bem-estar das pessoas de forma negativa”. Tais condições influenciam a qualidade de vida do trabalhador, essa expressão vem sendo empregada em diversos contextos. No entanto, se a qualidade de vida do trabalhador é vista, pelo menos como uma política de relações públicas, ou como uma meta repetitiva, deve-se investigar o que no ambiente laboral pode ser notado como fonte característica de nocividade para a saúde mental. A ligação em que essa questão está submersa é quase evidente: a luta para sobreviver leva a uma jornada demasiada de trabalho, e as condições em que o trabalho se realiza ecoam diretamente na fisiologia do corpo (HELOANI; CAPITÃO, 2019).

Portanto, torna-se, nesse ponto de vista, estratégico para a sobrevivência e desenvolvimento posteriores das organizações. Os danos à saúde mais evidentes e visíveis são os acidentes de trabalho. De igual importância são as doenças profissionais, ainda que se saiba menos sobre elas. Os danos à saúde causados pelo trabalho resultam da combinação de

(18)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. 18 diversos fatores e mecanismos. Diante do sofrimento psicológico a vítima do assédio se torna vulnerável e frágil, pois seu psicológico se encontra afetado diante das pressões sofridas e isso se torna uma abertura para causa de acidentes de trabalho.

Ainda de acordo com Freire (2019, p.104):

Os trabalhadores, no entanto, hesitam em questionar as normas impostas pela organização do trabalho – constroem e conservam culturas e ideologias autoprotetivas no ambiente de trabalho. Estão tomados por forte receio de sofrer as tenebrosas consequências dos corolários das novas estratégias organizacionais, como o desemprego. Vivenciam o sofrimento pelo sentimento de fracasso e impotência subjetivos. E o mais insólito, nesse fato, é que a verdadeira causa do seu sofrimento, que é a sua exposição constante e intermitente às violências e injustiças do contexto social do trabalho, não fica subliminarmente implícita.

Sendo assim, no mundo organizacional, o assédio moral configura-se como:

O uso de poder ou influência psicológica, na forma de ameaça contra terceiros, com potencial de causar prejuízos, danos psicológicos, privações, ou até mesmo transtornos ao desenvolvimento psicofísico do indivíduo (VASCONCELOS, 2017, p. 824).

Essa influência psicológica que ameaça o potencial subjetivo de cada indivíduo causa efeitos segundo Vasconcelos (2017), “como síndrome psicossocial multidimensional, ou seja, uma síndrome que comporta sintomas físicos e psíquicos, denominação esta que os autores justificam a seguir:”

Uma vez que comporta sintomas físicos e psíquicos peculiares e prontamente diagnosticáveis que, em conjunto, definem uma patologia, apesar da dificuldade de se obter uma configuração típica; Psicossocial: porque as disfunções decorrentes afetam o indivíduo e o ambiente social que o mesmo integra; Multidimensional: porque é multifacetado e multicausal, afetando o todo organizacional, independente de nível hierárquico, com repercussão fora do meio laboral.

Diante de tais afirmações é possível ver que o assédio moral é uma grave violência psicológica, que pode acometer o indivíduo a diversos problemas psicológicos, como: síndrome de bornout, depressão, ansiedade generalizada, fobias sociais, estresse pós-traumático entre outros tipos de doenças psicopatológicas ou psicossomáticas. Essas práticas hostis muitas vezes aniquilam a capacidade do ser humano de se defender e reagir a tais agressões, se tornando então uma vítima vulnerável a este sofrimento psicológico e às próprias emoções.

No que se refere ao levantamento bibliográfico, inicialmente localizou-se cinquenta e sete publicações, dos quais dez estavam em duplicidade entre as bases. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão previamente elaborados, onze foram excluídos e mediante a leitura dos resumos, excluíram-se ainda vinte e quatro artigos após leitura na integra, totalizando nove artigos restantes, os quais compuseram o corpus de análise da presente

(19)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. 19 revisão. Na Tabela 2 estão sintetizados os artigos utilizados, levando-se em consideração as características dos estudos.

(20)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. 20

TABELA 2. Caracterização dos estudos empíricos analisados sobre Assédio Moral segundo base de dados, autor, ano e

objetivos do estudo, Brasil, 2017 a 2020.

BASE DE

DADOS AUTOR/ANO REVISTA OBJETIVO GERAL

Relatar as principais

LILACS

CESCATTO BOBROFF, Maria Cristina; TREVISAN MARTINS,

Júlia. 2020; Bioética

repercussões à saúde dos trabalhadores.

LILACS

SCHLINDWEIN, Vanderléia De Lurdes Dal Castel. 2018.

Psicologia & Sociedade

Discutir as vivências de humilhação e de sofrimento de trabalhadoras afastadas do trabalho por adoecimento e acidente.

LILACS

NASCIMENTO, Ana Paula Tôrres do; MACIEL, Regina Heloisa. 2018.

Anais do XII Encontro de Pós- Graduação e Pesquisa

Verificar a natureza e tipo das pesquisas realizadas, especificamente em relação aos profissionais que trabalham na área da saúde e a relação entre assédio moral e precarização do trabalho.

LILACS MENDONÇA, Giovana Maciel de et al., 2017.

Tese de Doutorado.

Compreender a questão do assédio moral no campo do trabalho.

LILACS

MELO ELGENNENI, Sara Maria; CRUCIOL, Cristiane Vercesi. 2019. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho Analisar as implicações

comportamentais do assédio moral para o indivíduo, para a organização e para a sociedade.

LILACS CANIATO, Angela Maria Pires; DA

(21)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 211. V.9. ANO 2021. 21 Cadernos de

Psicologia Social do Trabalho.

Gerar reflexões que venham de alguma forma, contribuir para o debate sobre as consequências na subjetividade do trabalho no contexto socioeconômico contemporâneo.

SCIELO FREIRE, Paula Ariane. 2019

Trabalho, Educação e Saúde.

Discutir a hipótese de assédio moral como fator de risco para saúde física, mental e social dos trabalhadores.

BVS

L’’LUONGO, Jussara; FREITAS, Genival Fernandes de;

FERNANDES, Maria de Fátima Prado. 2017

FONTE: Autores

(2021).

Cultura de los Cuidados.

Refletir sobre os conceitos e significados atribuídos a assédio moral nas relações laborais.

(22)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2021.

>>Preenchimento Exclusivo da Revista 22

11%

22%

Trabalhadores de forma geral (sem publico alvo definido) 67% Trabalhadores já em situação de vulnerabilidade física ou psíquica Trabalhadores do serviço bancário

Conforme apresentado na Tabela 2, a divulgação dos estudos ocorreu em seis periódicos, distribuídos em quatro áreas do conhecimento: Psicologia e Saúde; Psicologia e Sociedade; Psicologia Social e do Trabalho; Trabalho, Educação e Saúde.

No que diz respeito aos periódicos de publicação, todos eles tiveram mais de uma publicação sobre a temática no período analisado. Deixando evidenciado que conforme apresentado na Tabela 2, os periódicos da LILACS se destacam pelo seu considerado número de publicações a cerca do tema.

Outra característica analisada nos artigos selecionados foi relacionada ao público amostral das pesquisas mencionadas, a qual foi dividida em três grupos distintos, os quais seguem expressos no gráfico a seguir.

(23)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2021.

>>Preenchimento Exclusivo da Revista 23

FONTE: Autores (2021).

Conforme descrito acima, seis dos artigos utilizados nesse estudo contemplam trabalhadores de forma geral sem público-alvo definido, outros dois artigos levaram em consideração, trabalhadores já em estado de vulnerabilidade física e ou psíquica e por último apenas um estudo com foco no serviço bancário.

Concernente à metodologia dos artigos utilizados, observa-se o predomínio do método qualitativo, totalizando as nove publicações (100%), dentre essas se destacam três (33,3%) que realizaram estudos de caso. Os estudos de revisão foram utilizados em seis das publicações analisadas (66,7%), sendo uma reflexão narrativa.

Em relação aos instrumentos utilizados nos estudos, foi observado que seis das publicações são artigos de revisão bibliográfica e as três restantes tratam-se de estudo de caso. Os resultados acerca dos objetivos das pesquisas apontam a concentração de estudos a respeito das consequências do assédio moral para os trabalhadores, entretanto, o que se observa é um baixo aprofundamento dessa temática, reforçando a necessidade de publicações mais detalhadas sobre essas consequências como também o crescente número dos estudos que foca apenas nos trabalhadores em geral, todavia, àqueles que priorizam determinadas classes trabalhadoras, que destaquem suas respectivas rotinas e características de trabalho, também são importantes, tanto para compreender as peculiaridades de tais ocupações quanto para entender quais as diferenças e semelhanças do processo que envolve o assédio moral e a saúde mental entre as diversas profissões.

Os trabalhadores que se encontravam em estado de vulnerabilidade física ou psíquica também foram alvo de dois artigos utilizados nesse estudo (BORSOI et al, 2009; SCHLINDWEIN, 2018), resaltando assim, que se devem investigar casos em que o assédio moral trouxe resultados variados à saúde, como doenças e distúrbios.

A pesquisa mostra que 78% dos estudos analisados tinham como prevalência o assédio moral do tipo Vertical Descendente, é o mais comum nas organizações, onde o colaborador é assediado por algum superior ou alguma pessoa que tenha uma relação hierárquica com a vítima. Fica evidenciado ainda um crescente número de estudos (22%), em que o assédio moral Vertical Descendente juntamente com o assédio moral do tipo Horizontal, aquele que segundo Guedes (2020) é a perseguição desencadeada entre colegas que ocupam a mesma

(24)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2021.

>>Preenchimento Exclusivo da Revista 24

posição na organização; são exercidos ao mesmo tempo, fazendo com que o individuo assediado acabe sucumbindo mais rapidamente se comparado ás outras modalidades de assédio evidenciado nesse estudo, pois essa nova denominação de assédio faz com que a vítima sinta-se acuada e atacada por todas as partes, se vendo sem saída e sem ter com quem contar, já que seus colegas também fazem parte do grupo agressor.

De modo geral, os resultados ora apresentados, evidenciam que as consequências do assédio moral têm sido de grande interesse por diversos pesquisadores, e que de forma geral envolve algum dano na segurança e saúde no trabalho e não somente a questão individual de saúde mental, conforme mencionado anteriormente, o assédio vivenciado pode ocasionar diversos danos à vida social, individual e organizacional, apresentando interligações nas esferas física, afetiva, cognitiva e social. Para a OMS (2004), as consequências podem ser psicopatológicas, psicossomáticas ou comportamentais, onde a depressão, o transtorno do estresse pós- traumático, a ansiedade generalizada e a síndrome do pânico são as doenças psiquiátricas mais repetidamente diagnosticadas em indivíduos que sofreram assédio moral. Pode-se observar também que entre aqueles que sofreram assédio moral no trabalho o chamado “transtorno adaptativo”, que consiste em uma condição psiquiátrica decorrente de uma resposta individual a estressores, assim como algumas mudanças sociais na vida do indivíduo afetado e incluem sintomas que indicam aflição e incapacidade para trabalhar ou desempenhar outras atividades. (FREIRE, 2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo desse estudo foi analisar as implicações do assédio moral na saúde mental do trabalhado, respondendo ao questionamento do impacto que o assédio moral traz para saúde mental do trabalhador.

Analisando os dados ora reportados, percebeu-se que o assédio moral tem sido elemento de diferentes estudos em relação às suas teorias e sintomatologia. Algumas vezes, entretanto, falta questionar o que leva o empregador a admitir ou até mesmo incentivar tais práticas, bem como analisar os efeitos disso na vida privada do empregado.

Todas essas consequências, que já foram apontadas anteriormente a cerca do tema, faz com que estudos de intervenção venham ganhando espaço, na tentativa não apenas de

(25)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2021.

>>Preenchimento Exclusivo da Revista 25

identificar o assédio moral no ambiente de trabalho, mas também como suas formas de prevenção.

Esta pesquisa elucidou que existe uma preocupação em ampliar o entendimento dos comprometimentos a saúde mental diante da presença do assédio moral, assim os estudos existentes de investigações precisam ser complementados, sobretudo se tratando de termos indicativos à prevenção e programas eficazes de combate e conscientização da problemática.

Os indivíduos narram casos vivenciados que poderiam ser classificadas como assédio moral, mas não se deram conta disso; existe ainda um desconhecimento geral a cerca o assunto. O assédio moral tem que ser assunto do cotidiano, precisa ser falado sobre.

Foi identificado ainda que, os objetivos das pesquisas publicadas apontam uma concentração de estudos sobre as consequências do assédio moral para os trabalhadores, contudo, observa-se um baixo índice de aprofundamento dessa temática. Reforçando assim a necessidade de estudos mais aprofundados sobre essas consequências. A grande maioria dos artigos publicados tem como focos trabalhadores em geral, contudo, estudos que veem priorizando determinadas classes trabalhadoras, destacando suas rotinas e distinções com as demais, são extremamente importantes para abarcar as características, entender quais as diferenças e semelhanças das tais classes no que se refere ao processo de envolvimento quanto ao assédio moral e a saúde mental entre diversas profissões.

Outro ponto para reflexão é sobre os resultados dos estudos apresentados, que se preocupam em sua maioria, apenas com as consequências do assédio moral no trabalho, vendo os possíveis danos dessa violência para a vítima, poucos apontam para o prejuízo das organizações como um todo ou sugere medidas efetivas para redução da realidade.

Sobre as limitações desta pesquisa, ela consiste no fato de que o número de artigos encontrados e utilizados neste estudo permitiu apenas discutir sobre algumas informações generalistas evidenciadas por eles. Faz-se indispensável à utilização de algum instrumento especifico de análise de dados para que seja realizada uma avaliação de qualidade a cerca dos estudos. Este estudo limitou-se a um levantamento de artigos científicos publicados nas bases de dados mencionadas e, portanto, o objetivo foi alcançado.

Ao analisar os estudos sobre a analogia entre o assédio moral no trabalho e as implicações na saúde mental dos trabalhadores, mostrou a importância de desenvolver estudos mais específicos. Estudos voltados para intervenção e prevenção, são de grande importância,

(26)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2021.

>>Preenchimento Exclusivo da Revista 26

assim como ações efetivas de combate ao assédio moral no ambiente laboral e estratégias de coping adotados que possam evitar ou atenuar as consequências para os trabalhadores.

Espera-se que este estudo possa contribuir com reflexões e debates acerca do impacto do assédio moral na saúde do trabalhador, permitindo visibilidade de uma temática pouco aborda e veiculada nos próprios ambientes laborais. Pretende-se ainda chamar a atenção da comunidade como um todo, sobre essas consequências tanto físicas quanto psicológicas que o assédio trás na saúde do trabalhador, dando notatividade aos efeitos negativos na diminuição de sua qualidade de vida e ainda enquanto fator preponderante na influência de outros agravos em sua saúde.

Neste sentido, cabe a psicologia enquanto uma ciência teórica e prática, fornecer subsídios para se pensar em ações que venham minimizar o impacto do assédio moral na vida dos trabalhadores, e assim, contribuir com elementos que possam combater esse tipo de agressão que há muito tempo tem influenciado negativamente na saúde mental dos trabalhadores. A psicologia organizacional precisa estar presente e ativa no dia a dia da organização para que se possam perceber todos os movimentos característicos do assédio moral e possíveis violações que afetem a moral e o bem-estar dos indivíduos ali presentes, contribuindo com intervenções e ações do tipo preventivas a fim de buscar a melhoria no relacionamento interpessoal e grupal como também buscar um ambiente laboral um pouco menos degradante, visando sempre o bem-estar de todos.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA EUROPEIA PARA A SAÚDE E A SEGURANÇA NO TRABALHO. O assédio no local de trabalho. FACTS, Bélgica, n. 23. 2002. Disponível em: <https://osha.europa.eu/pt/publications/fatsheet23>. Acesso em: 06 abr. 2021.

ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio Moral na Relação de Emprego. Curitiba: Juruá, 2017. p.37.

BARRETO, Margarida Maria Silveira. O que é assédio moral? In: BARRETO, Margarida Maria Silveira. Uma jornada de humilhações. São Paulo: Fapesp/PUC, 2020. Disponível em: <http://www.assediomoral.org/spip.php?article1>. Acesso em: 06 abr. 2021.

CANEVER, Daniela Tezza. Assédio moral: consequências para a saúde mental do

trabalhador. 2017. Disponível em: <

http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/5342/1/DANIELA%20TEZZA%20CANEVER.pdf >. Acesso em: 01 abr. 2021.

(27)

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2021.

>>Preenchimento Exclusivo da Revista 27

CANIATO, Angela Maria Pires; DA COSTA LIMA, Eliane. Assédio moral: 2018. Disponívelem:<http://bases.bireme.br/cgibin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis& src=google&base=LILACS&lang=p&nextAction=lnk&exprSearch=510352&indexSearch=I D >. Acesso em: 24 abr. 2021.

CUNICO, Miriam Machado. Saindo do silêncio: o assédio moral quase destruiu minha vida.

Curitiba: Cunico, 2017. 9-18 p. Disponível: <

https://www.redalyc.org/pdf/3232/323242132010.pdf>. Acesso em: 01 abr. 2021.

CRESWELL, John W. Projeto de Pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2018.

CROMBERG, Renata Udler. Paranóia. Casa do Psicólogo, 2018.

DARCANCHY, Mara Vidigal. Assédio moral no meio ambiente do trabalho. Justiça do

Trabalho, 2017. Disponível em:

<http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/23319-23321- 1-PB.pdf>. Acesso em: 01 abr. 2021.

PAULA, Sinval Nunes; DOS SANTOS, Sérgio. CAUSAS E TIPOS DE ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO. Prof. Dr. Leonardo Schmitt de Bem, p. 39, 2020. Disponível em: <http://ava.consensusjuridico.com.br>. Acesso em: 22 abr. 2021

DORFMAN, S. et al. Transtorno de personalidade narcisista. Psiquiatria para estudantes de medicina. Porto Alegre: EDIPUCRS, p. 609-612, 2017.

EINARSEN, Stale. Harassment and bullying at work: A review of the Scandinavian approach. Aggression and violent behavior, vol. 5, n. 4. p. 379-401, 2010. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1359178998000433>. Acesso em: 01 abr. 2021.

FREIRE, Paula Ariane. Assédio moral e saúde mental do trabalhador. Trabalho, Educação e Saúde, v. 6, n. 2, p. 367-380, 2019. Disponível em: <https://www.redalyc.org/pdf/4067/406757015012.pdf>. Acesso em: 16 abr. 2021.

FREITAS, Maria. Ester de. Quem paga a conta do assédio moral do trabalhador?RAE- eletrônica, São Paulo, v. 6, n. 1, Art. 5, 2018. Disponível em: <www.scielo.br-pdf- raeel>. Acesso em: 01 abr. 2021.

_______. Assédio moral e assédio sexual: faces do poder perverso nas organizações. RAE- Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v.41, n. 2, p. 8-19, 2001.

_______. HELOANI, Roberto. BARRETO, Margarida. Assédio Moral no Trabalho. São

Paulo: Cengage Learning, 2018. Disponível em:

<https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/10628>. Acesso em: 09 abr. 2021. GABBARD, Glen O. Psiquiatria Psicodinâmica na Prática Clínica. 4ª. 2017.

GODOI, Christiane Kleinübing; BANDEIRA-DE-MELLO, Rodrigo; SILVA, AB da. Pesquisa Qualitativa em Estudos Organizacionais: paradigmas, estratégias e métodos. São Paulo: Saraiva, v. 2, p. 89-107, 2017.

Referências

Documentos relacionados

Por fim, fica evidente que as consequências proporcionadas pelo assédio moral não somente repercutem na saúde (física e/ou psíquica) do trabalhador, mas também no seu desempenho e

É a exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, que normalmente são retiradas diariamente ao longo da jornada de trabalho e no exercício de suas

“DANO MORAL. VALOR E CRITÉRIO PARA FIXAÇÃO DA INDENIZAÇÃO. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. Na hipótese, a lesão sofrida pelo Reclamante não se concretizou em ato isolado do

A escolha do objeto deste trabalho – o desafio do ensino jurídico na modernidade Baumaniana: a formação de juristas fraternos – parte da ideia de que os

Characterization of acute occupational poisoning accidents and chronic diseases caused by occupational exposure to xenobiotics: respiratory and lungs diseases;

ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO pode ocorrer de superiores para subordinados, entre colegas de trabalho ou mesmo de subor- dinados para superiores.. O Assédio Moral pode ser

O assunto assédio moral, dadas suas conseqüências nocivas em prejuízo da saúde física e mental dos trabalhadores e tão presente nas relações de trabalho tem sido motivo

O assédio moral no local de trabalho é um problema grave entre a população ativa, com custos signifi- cativos para o trabalhador e para organização.. Além disso, o