Horticultura Brasileira 27: S3712-S3716.
LEVANTAMENTO DAS PLANTAS CULTIVADAS NOS
QUINTAIS DO BAIRRO UNIVERSITÁRIO, MONTES CLAROS,
MINAS GERAIS, BRASIL
Nathália de S Parreiras¹; Tiago Vinícius Batista do Carmo1; Jordany Aparecida de O Gomes¹; Mariana A Franca¹; Giovanna A Queiroz¹; Débora S Brandão¹; Igor de O Xadai¹; Manoel F de Souza¹; Yuri D Jaruche1¹; Cândido A da Costa¹; Ernane R Martins¹
¹ICA/UFMG – Av. Universitária. Bairro Universitário. Nº 1000. Cep. 39400000. Caixa postal 135. Montes Claros – MG; e-mail: nathaliaparreiras@ig.com.br, jordanyufmg@yahoo.com.br, mafranca2@hotmail.com, joalqme@yahoo.com.br, deboranpr@yahoo.com.br, igor.xadai@gmail.com, agromanoel@yahoo.com.br, yuri.zootecnista@gmail.com.br, tvini_@hotmail.com , candidocosta@ufmg.br, ernane_martins@oi.com.br.
RESUMO
Os quintais apresentam uma importância significante na sustentação dos povos e no conhecimento dos ambientes naturais e suas formas de manejo, pois contribuem para a subsistência de determinadas populações. O presente trabalho teve o objetivo de avaliar a diversidade de espécies plantadas nos quintais das casas localizadas no bairro Universitário, assim como as dificuldades encontradas para realizar o plantio. A avaliação foi feita por meio de entrevistas semi-estruturadas. Foram entrevistadas 24 pessoas, sendo 83,33% do gênero feminino. Os participantes da pesquisa apresentavam idade entre 19 e 67 anos. Aproximadamente 70 espécies diferentes são cultivadas nos quintais do bairro Universitário localizado no município de Montes Claros, Minas Gerais – Brasil. O principal impedimento ao plantio é a falta de espaço. Os quintais são de suma importância na melhoria da saúde, alimentação e bem estar da população.
PALAVRAS-CHAVE: quintal, cultivo
domiciliar, agricultura urbana.
ABSTRACT
Lifting of the plants cultivated in the back yards of the Universitário neighborhood,
Montes Claros, Minas Gerais, Brazil
The yards present an significant importance on the support from the people and into the knowledge from the environments natives and his forms of handling, as contributory for subsistence of determinated populations. The work has the purpose of appraising the diversity of species planted on the backyards from the homes located into the district Academic, just as the difficulties encountered to realize the plantation. The appraisal was off the rack by means of interviews semi-structure. Have been interview 24 people, being 83,33% of the sex female. The attendees from research presented age among 19 and 67 years. Approximately 70 different species are cultivated on the backyards of the district Academic located into the county of Montes Claros, Minas Gerais – Brazil. The principal impediment to the plantation is the lack of space. The yards are of summary importance on improvement from health, feed and well-being from did population.
KEYWORDS: backyard, cultivation
INTRODUÇÃO
Quintais são considerados como um sistema agrícola tradicional muito difundido na maioria das regiões tropicais do mundo (Lamont et al., 1999). São denominados, recorrentemente, como áreas ao redor das casas onde são plantadas misturas de espécies vegetais, principalmente árvores frutíferas e raízes. (Soemarwoto, 1987).
Uma das principais finalidades do quintal é a produção alimentar (Fernandes & Nair, 1986). Guimarães (1998) e Ambrósio et al. (1996), em estudos distintos sobre a importância de quintais domésticos com relação à alimentação e rendas familiares, ressaltam a importância do quintal para a diversificação dos alimentos presentes na alimentação diária. A ausência do quintal pode ser um fator de restrição da dieta, em especial dos alimentos fonte de vitaminas, minerais e fibras, como hortaliças e frutas. Outros aspectos muito relevantes referentes aos quintais, seriam a conservação das espécies cultivadas, a introdução de novas espécies conservando-se o germoplasma e a produção de plantas medicinais por populações tradicionais. (Ângelo, 1999) (Angel-Perez, 2004).
A aparência estrutural dos quintais é determinada em grande parte pelo ambiente natural e pela tentativa da família em utilizar tantas espécies localmente adaptadas quanto possível em uma extensão de terra relativamente pequena, para múltiplos propósitos. Os tipos de cultivo encontrados nos quintais são ditados pelo potencial ecológico da região e preferência alimentar cultural (Niñez, 1984 apud Fox, 1999). O desaparecimento dos quintais não implicaria somente na perda de um sistema ecologicamente estável e geneticamente rico, como também, na perda da valiosa herança cultural associada a ele (Nair e Krishnankutty, 1984).
O quintal é compreendido como um sistema de produção complementar a outras formas de uso da terra e se destaca pelo valor econômico que desempenha na residência, constituindo uma fonte disponível de recursos alimentícios e medicinais (Pasa et al. 2005). Deve-se enfatizar, também, a sua contribuição na conservação da estrutura física e da fertilidade do solo, pois, na maioria das vezes, utiliza insumos naturais, como dejetos de animais, restos vegetais, cinzas e terra transportada das matas, a fim de promover o fortalecimento do espaço que é ocupado por uma variedade de plantas (Lok & Mendez 1998). A agricultura urbana não se resume apenas ao plantio de espécies destinadas à alimentação, mas a todos os aspectos ligados ao manejo da biodiversidade e ao meio ambiente. Arborização, jardins, aves, animais e plantas ornamentais fazem parte do desenho urbano e se ligam à prática da agricultura urbana. Dessa forma, todos os espaços da cidade podem constituir um contorno verde entre prédios, casas, vias públicas, praças, parques, encostas e alterar as condições climáticas locais, contribuindo para incrementar a umidade, reduzir a temperatura, melhorar o odor, capturar gases do ar poluído, proteger do vento e interceptar a radiação solar, criando lugares sombreados e protegidos (Machado & Machado, 2002). O presente trabalho teve o objetivo de avaliar a diversidade de espécies plantadas nos quintais das casas localizadas no bairro Universitário, assim como as dificuldades encontradas para realizar o plantio.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado no bairro Universitário localizado no município de Montes Claros, Minas Gerais. As entrevistas foram realizadas utilizando-se questionário semi estruturado composto por 15 questões, enfocando os seguintes itens: quais as plantas cultivadas, método
de obtenção de mudas e sementes, preferências, por que não utiliza o quintal para plantio, quais as dificuldades encontradas no cultivo, onde consegue material para realizar a adubação, freqüência com a qual rega as plantas, principais pragas que aparecem ao realizar o cultivo e qual método realizado para o controle de pragas. As entrevistas foram conduzidas durante as visitas domiciliares, com 24 (vinte e quatro) questionários aplicados no bairro. Com base no número de casas (aproximadamente 240 casas), 10% da população local foi entrevistada. As entrevistas foram feitas aleatoriamente pelas ruas do bairro, buscando-se abranger todos os pontos do local. As visitas foram feitas em horários diurnos distintos buscando-se diversificar o perfil da amostra.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A maioria dos entrevistados era do gênero feminino (83,33%), a predominância de mulheres também foi registrada em Indianópolis, outro município de Minas Gerais (Calábria et al., 2008). Entretanto a predominância de mulheres não é necessariamente uma regra (Rodrigues & Carvalho, 2001). Os participantes da pesquisa apresentavam idade entre 19 e 67 anos, 79,17% dos entrevistados cultivam algum tipo de planta em casa e revelaram que adquirem suas mudas com vizinhos e amigos (78,95%).
Enquanto 31,43% dos pesquisados dizem preferir cultivar plantas ornamentais, seguidos das frutíferas e das medicinais (28,57%). Foram citadas cerca de 70 plantas diferentes incluindo: medicinais, ornamentais, frutíferas e hortaliças. Destas, as quinze mais citadas foram: hortelã (Mentha sp), manjericão (Oncimum minimun L.), capim Santo (Cymbopogon citratus), mamoeiro (Carica papaya L.), samambaia (Phlebodium decumanum), mangueira (Mangifera indica), roseira (Rosa x grandiflora Hort.), poejo (Mentha pulegium L.), Tanchagem (Plantago major), babosa (Aloe vera), acerola (Malphighia glabra L.), coqueiro (Butia arenicola), erva Cidreira (Lippia alba), Pimenta (Capsicum sp.), saião (Bryophyllum pinnatum). Valadão et al. (2006), identificou 92 espécies de plantas alimentícias pertencentes a 40 famílias botânicas em estudo realizado em um assentamento rural no Estado de São Paulo. Todavia, apesar do número reduzido de unidades amostrais da pesquisa realizada no bairro, obteve-se resultado semelhante ao dos outros estudos, como por exemplo: Florentino et al. (2007) que identificou 84 espécies, pertencentes a 68 gêneros e 35 famílias em 25 quintais amostrados, em estudo realizado na Caatinga. Já Peroni et al. (2007), citado por Lacerda (2008), verificou a presença de 94 espécies e 41 famílias botânicas em 102 quintais em três comunidades próximas ao Sertão do Ribeirão ( Florianópolis, Santa Catarina) e Moura et al. (2007) que registrou 220 espécies vegetais, distribuídas em 64 famílias, em estudo realizado no bairro da Muribeca, Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, com relação à diversidade de plantas presente nos quintais.
Dentre as pessoas que plantavam 50% disseram que a grande dificuldade para realizar o plantio é a falta de espaço, e entre as pessoas que não plantam 80 % disseram que não o fazem por não se interessarem pelo cultivo de plantas.
Constatou-se, com relação à adubação, que os principais adubos utilizados foram o esterco curtido (45,83%) e a terra preta (37,5%). A maioria das plantas era irrigada uma vez ao dia (68,42%). A respeito das pragas, 84,21 % dos entrevistados identificaram nas suas plantas, dentre estes, 50% não realizou nenhum controle das pragas. Já dos que efetuaram algum tipo de intervenção 57,14 % buscou uma forma alternativa de combate às pragas, como por exemplo, cinzas e água de café.
Conclui-se que os quintais abrigam uma enorme diversidade de espécies, sendo as medicinais, hortaliças e frutíferas as mais cultivadas. Todavia, a falta de espaço é o maior empecilho para o cultivo destas.
REFERÊNCIAS
AMBROSIO LA; PERES FC; SALGADO JM. 1996. Diagnóstico dos produtos do quintal na alimentação das famílias rurais: microbacia d’ água f, Vera Cruz. Informações Econômicas 26: 27-39.
ANGEL-PERÉZ ALD; MENDOZA MA. 2004. Totonac homegardens and natural resources in Veracruz, Mexico. Agriculture and Human Values 21: 329-346.
ANGELO GA. 1999. Produção de alimentos e manejo de quintais do distrito de Ferraz município de Rio Claro – SP. Rio Claro: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. 34p (Monografia).
CALÁBRIA L; CUBA GT; HWANG SM; MARRA JCF; MENDONÇA MF; NASCIMENTO R C; OLIVEIRA MR; PORTO J PM; SANTOS DF; SILVA BL; SOARES TF; XAVIER EM; DAMASCENO AA; MILANI JF; REZENDE CHA; BARBOSA AAA; CANABRAVA HAN. 2008. Levantamento etnobotânico e etnofarmacológico de plantas medicinais em Indianópolis, Minas Gerais, Brasil. Revista Brasileira de Plantas Medicinais 10: 49-63.
FERNANDES ECM; NAIR PKR. 1986. An evaluation of the structure and functions of tropical homegardens. Agricultural Systems 21: 279–310.
FLORENTINO ATN; ARAÚJO EL; ALBUQUERQUE UP. 2007. Contribuição de quintais agroflorestais na conservação de plantas da caatinga, Município de Caruaru, PE, Brasil. Acta Botanica Brasílica 21: 37-46.
FOX VC. 1999. Diversidade e uso de plantas nos quintais de Ferraz, município de Rio Claro – SP. Rio Claro: Universidade Estadual Paulista. 64p (Monografia).
GUIMARÃES RG. 1998. A importância de quintais domésticos com relação à alimentação e renda familiar. Rio Claro: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. 40p (Monografia).
LACERDA VD. 2008. Quintais do Sertão do Ribeirão: agrobiodiversidade sob um enfoque etnobotânico. Florianópolis: UFSC. 61p (Monografia).
LAMONT SR; ESHBAUGH WH; GREENBERG AM. 1999. Species composition, diversity, and use of homegardens among three Amazonian villages. Economic Botany 53: 312-326.
LOK, R. & MENDEZ, E. 1998. El uso del ordenamiento local del espacio para una clasificación de huertos na Nicaragua. Pp.129-149. In: R. Lok (ed.). Huertos tradicionales de América Central: características, beneficios e importancia, desde um enfoque multidisciplinario. Turrialba, Costa Rica, CATIE/EGUILA/IDR/ETC Andes.
MACHADO AT; MACHADO CTT. 2005. Agricultura Urbana. Planaltina, DF: Embrapa Cerrados. 25p.
MOURA CL; ANDRADE LHC. 2007. Etnobotânica em quintais urbanos nordestinos: um estudo no bairro da Muribeca, Jaboatão dos Guararapes-PE. Revista de Biociências 5. supl. 1: 219-221.
NAIR, CTS; KRISHNANKUTTY CN. 1984. Socio-economic factors influencing farm forestry: a case study of tree cropping in the homesteads in Kerala, India. In: Community forestry: socio-economic aspects. Bangkok, FAO/East-West Center.
PASA MC; SOARES JN; GUARIN-NETO G. 2005. Estudo etnobotânico na comunidade de Conceição-Açu (alto da bacia do rio Aricá Açu, MT, Brasil). Acta Botânica Brasilica 19: 195-207.
RODRIGUES VEG; CARVALHO DA. 2001. Plantas Medicinais no Domínio dos Cerrados. Lavras: UFLA. 180p.
SOEMARWOTO MT. 1987. Homegardens: a traditional agroforestry system with a promising future. In: Steppler, H.A., Nair, P.K.R. (eds.). Agroforestry: a decade of development. Nairobi, Kenya: International Center for Research in Agroforestry (ICRAF).
VALADÃO LM; AMOROZO MCM; MOTAM DG. 2006. Produção de Alimentos na Unidade Domiciliar, Dieta e Estado Nutricional: A Contribuição dos Quintais em um Assentamento Rural no Estado de São Paulo. In:Albuquerque, U.P.; Almeida, C.F.C.B.R. (org.) Tópicos em conservação e etnobotânica de plantas alimentícias. Recife: NUPEEA, p.93-118.
