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7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOS

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Academic year: 2021

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7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOS

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Organização Rojefferson Moraes Revisão Zemaria Pinto Diagramação Jackson Abacatu Capa Paulo Kalvo Contato natora.producoes.eventos@gmail.com editoramerdanamao@gmail.com Licença

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7 DIAS CORTANDO AS PONTAS DOS DEDOS PÁTRIA A(R)MADA ASSASSINA

Quando pensamos em produzir um fanzine cujo conteúdo fosse de oposição à instalação de um governo fascista no país, não imaginávamos que chegaríamos ao extremo de ver o extermínio em massa da população brasileira, em decorrência da incompetência governamental do presidente que faz da Esplanada dos Ministérios seu parque de diversão pessoal, onde só quem manda é ele, e onde tudo tem que ser feito conforme suas vontades. Isso somado a total falta de habilidade da sua equipe de militares paus-mandados, incapazes de criar uma estratégia eficaz de combate à pandemia, e cujas medalhas apenas comprovam que o alto escalão das forças armadas do Brasil não passa de um covil de cobras traiçoeiras e interesseiras.

Hoje estamos às vésperas da marca desesperadora de 300 mil mortes decorrentes de complicações do COVID-19. Com uma população completamente desnorteada. Nem mesmo os apoiadores do presidente sabem mais o que dizer pra defender o indefensável. Quanto a nós? Estamos aqui novamente, 30 participantes, de 11 estados, das 5 regiões do país, em um E-ZINE de RESISTÊNCIA, agora contando com o apoio da Editora Merda na Mão, e da Na Tora Produções (AM), ecoando o grito de FORA GENOCIDA!

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SUMÁRIO

ANDRI CARVÃO - pág. 08 AGNER NYHYHWHW - pág. 10

FABIO DA SILVA BARBOSA - pág. 11 EDSON BAPTISTA - pág. 12

TAINÁ VIEIRA - pág. 13

VICTOR HUGO NEVES- pág. 14 ZEMARIA PINTO - pág. 18 GIGIO FERREIRA - pág. 20

MARCOS SAMUEL COSTA - pág. 22 LILIAN MIRANDA - pág. 23

FREDERICO A. PASSOS - pág. 24 DINHO LASCOSKI - pág. 25

ILMAR RIBEIRO - pág. 26

ELIDIOMAR RIBEIRO DA SILVA - pág. 27 MARCO AURÉLIO DE SOUZA - pág. 28

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GILMAL - pág. 29, pág. 33 RAFAEL CESAR - pág. 30 PAULO MONTEIRO - pág. 34 GLAUCO MATTOSO - pág. 36 ROJEFFERSON MORAES - pág. 37 JALNA GORDIANO - pág. 38 MARIANE ALVES - pág. 40 FLÁVIO ANTONINI - pág. 41 ODAIR DE MORAIS - pág. 42 JANETE CHARGISTA - pág. 44 JANER JOSÉ - pág. 45

LAÍS FERNANDA BORGES - pág. 46 DORI CARVALHO - pág. 47

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ELITE MISERÁVEL Cidadão Cristão Brasil Servil Herança rural Questão cultural Regime colonial Atraso industrial Casa senhorial Sociedade patriarcal Racismo estrutural Identidade nacional Burocrata Escravocrata Primata Política Paleolítica Da servidão Da escravidão Da prisão

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Pobre é povo

Classe média é povo Povo é povo

Teleguiado por uma elite miserável

ANDRI CARVÃO, São Paulo – SP e-mail: andricarvao@hotmail.com

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SIMPLES ASSIM

-Essa pandemia já encheu o saco. -É. Muda de canal. Bota no futebol.

AGNER NYHYHWHW Rio de Janeiro – RJ

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ENTERRADOS VIVOS Atacando a criatividade Massacrando a imaginação Não entendem a filosofia Sustentam a limitação

Tem de estar tudo bem limpinho Tudo higienizado

De acordo com a moral Do dito civilizado

Nos enfiam preconceitos Pela garganta até o rabo Paredes de uma grande prisão Nossos membros amarrados Mas repetem o senso comum Como se fosse grande sabedoria A maldita competição

Causando miopia Uma vida sem sentir A música e a poesia

É como a fria verdade mentirosa O retrocesso e a apatia

FABIO DA SILVA BARBOSA Porto Alegre – RS

(12)

EDSON BAPTISTA Rio de Janeiro, RJ @hghquadrinhos gamaebs@gmail.com

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Retalho

Triste de mim atormentada

por minha futilidade

deixei-me levar pela vaidade dessa vida podretorpe.

Podre é uma palavra feia, fria e fétida como a vida dos inúteis

dos incultos dos bárbaros dos fascistas dos pedófilos

e dos parentes tolos. Torpe é a alma miserável, sem luz.

Eu preciso de luz,

luz forte e quente para queimar meus pensamentos vazios

e esterilizar meu corpo contaminado.

Eu preciso de luz para queimar minha retina, basta-me o coração para olhar o novo mundo que virá após essa negra neblina.

TAINÁ VIEIRA

Manaus- AM

gielesantos@gmail.com

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O SOL DOS AFOGADOS

Vi! Tive sim aquela angústia no peito, o ar que sumia, a sensação de desmaio, a ansiedade que paralisa. Eu cortava um dos ramais lamacentos da cidade, naquele triângulo das bermudas que são intercessões entre a zona rural e o lado urbano. Sentado no meu cavalo de ferro de 150 cilindradas, o velocímetro apontando tímidos 50 km por hora e uma ladeira sem fim à frente. Como é comum na época de dezembro aqui no norte, aquelas nuvens carregadíssimas formando rios voadores gritavam conosco! Zás! Cada qual traduz de acordo com seu nível de conforto ou perigo. No meu caso, entendi assim: Acelera, senão tu ficas no atoleiro. Fiz o velocímetro ficar mais feroz.

Entre trancos, deslizes, zonas alagadiças, briga entre motor e inclinação da pista improvisada, lá estava eu tombado no chão. Havia uma pedra no meio do caminho. Pontuda, camuflada, capoeirista dando a rasteira final. Eu, caído no chão, no cume da montanha, lá onde não mora ninguém. Lá onde temos uma vista panorâmica das desigualdades sociais. Parecia uma pista medieval, uma ponte que levava à rota dos desamparados. E era isso que eu era, um sujeito no meio da mata, caído no nada, a perna torcida, lama na cara, só podendo olhar o horizonte e esperar alguma resposta. Viro meu rosto em busca de uma placa, um sinal de vida e noto um outdoor. Nele estava a foto de um sorriso asqueroso, com dizeres tipicamente falaciosos, endossados por números inventados, sinal de arminha na mão e aquele personagem dos infernos: o presidente ria da situação dos atolados, dos atingidos, dos desamparados. Com força extrema, tiro a moto de cima de mim e me arrasto com a

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bolsa nas costas até um ponto em que pudesse enxergar as moradias. Abro minha mochila, pego o binóculo de ver os pássaros, e me sento embaixo de uma frondosa jaqueira. O temporal desaba.

Eu via as casas equilibradas em pernas de paus, as janelas tortas e rotas. Acima delas os rios voadores desaguavam pesadamente, unindo-se aos seus filhotes igarapés, poluídos e maltratados. Eu entendia que aquilo era um acordo de vingança tramado entre a chuva e os rios contra décadas de maus-tratos com as águas, que agora subiam vertiginosamente. Aponto meu binóculo para dentro de uma casa. Vejo um semblante feminino, surrado, pálido; contudo, com os olhos cheios de dignidade.

A correnteza balança a palafita. Seus moradores berram em desespero. A senhora ainda mantinha sua fé e sua distinção. Por calejamento do espírito já não se abatia por nada na vida. Os vizinhos sentiam a iminência em que o casebre despencaria, não havia o que fazer. As pernas da casa eram vencidas pelas pancadas das enxurradas. O fluxo joga o barraco no rio sem levá-lo ao fundo, crianças caem em pranto. Adultos, em desespero. Nossa senhora, que cabe qualquer nome, prostava-se de olhos cerrados em sinal de oração.

A casa bate em um barranco, vai para a lateral, choca-se com outras residências, é arrastada por metros adentro do bairro. Alguns adultos já pegam botijões de gás e outros objetos flutuantes e saem a nadar. Minha agora amiga senhora resistia, não se preocupava com a televisão afundando, estava mais interessada em traçar um olhar fixo e calmo pela janela. Se Hahnemann Bacelar visse a cena, faria um quadro intitulado Dignidade. E o arrastão continua metros a fio pela comunidade, a velocidade era frenética. Uma nau

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surfando na pororoca do desespero. As pessoas já não gritavam, o momento atônito não deixava distinguir o que era chuva ou lágrimas. A casa ganhava aceleração, quão rápida ela se tornava! Quanta força em suas madeiras caiadas! Quanta vida e morte presentes em madeiras desgastadas e telhados de zinco! Em força constante ela ganha a pista e o lado urbano daquela congruência de abastados e esquecidos.

A senhora percebia todo o movimento com a respiração parca, o olhar tranquilo e um descompasso infindo entre seu corpo enfermo e seu estado de espírito plasmado pela firmeza de seus olhos. A casa dá uns rodopios e para em meio à pista, a janela apontada para a ladeira, como se fosse os olhos do casebre. Cabreiro e irritado, este olhar prosopopeico toma uma decisão: Vou partir para cima! E a casa corre como uma bola de bilhar, certeira e rápida, visando ao final da jogada. Busca um alvo, uma tacada final, o seu apogeu. Seu foco era um comitê político pintado de verd’amarelo, recheado de sorrisos toscos do mesmo crápula que se punha no outdoor. A palafita choca-se contra o comitê. Os playboys que lá se abrigavam, notando que estavam em perigo, se jogam na lama. Seus carrões já não serviam pra nada. O choque foi cruel, exato, calculado a ponto de deixar avarias no salão dos liberaloides. Olho os escombros, os restos de tudo: a paisagem ao lado, o céu acima. A chuva para de cair repentinamente. Procuro ver os detalhes dos transtornos do tsunami, e enxergo os sectários do pretenso ditador caídos na lama, achando-se humilhados. Vejo fotos, paredes e panfletos sujos de merda por todos os lados. Os homens dos prédios e os esquecidos davam-se as mãos buscando encontrar um local mais seguro para todos. Debaixo de um piso de pau, sai a minha tapuia, amiga oculta,

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a nossa senhora. Cabeça erguida, olhar confortador, mirando tudo ao redor, sem ofegância, semblante límpido, curada! Respirando com tranquilidade e saturação perfeita, ela olha pra cima e vê o lindo e tenebroso sol amazônico. Os aplausos apareciam de todos os lados, ao mesmo tempo que o grito dos pássaros anunciando um novo dia.

VICTOR HUGO NEVES Manaus – AM

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A ÚLTIMA MENSAGEM DE ZECA

As duas devoções de Zeca eram cerveja e santa Rita de Cássia. O sábado, que começava na sexta, era para a cerveja. O domingo, para a missa na igreja da padroeira, logo cedo, acompanhando D. Joca. E depois, cerveja, que nem só de fé se alimenta o ser humano. Os apelidos masculinos derivavam dos prenomes: Maria José e Maria João. Filha e mãe. Conheci Zeca quando ainda era sargento do Exército e cursava Letras, na UFAM. Aluna acima da média, destacava-se pelas ideias originais e polêmicas. Tinha o seu cânone particular, onde não cabiam escritores com preocupações sociais. Amava o mundo sórdido e refinado de Rubem Fonseca, os conflitos sexo-religiosos da classe média de Nelson Rodrigues e o intimismo corrosivo de Clarice Lispector – e tinha uma inexplicável paixão por Euclides da Cunha, o cadete rebelde que atirou o sabre aos pés do ministro da Guerra, o jornalista-poeta que denunciou o genocídio de Canudos e a escravização do seringueiro amazônico. Mas escrevia pra caralho, ela justificava com seu habitual poder de síntese. Aliás, Zeca falava mais palavrões que um presidente da república, só que com mais classe e graça.

Quando começou a pandemia, Zeca e D. Joca recolheram-se, como mandava o figurino e o bom senso. Elas e o vira-lata Mandrake. Contatos externos, só o essencial. A casa de bairro, com quintal, varanda e churrasqueira, árvores frutíferas e flores, que vivia cheia de amigos, quedou deserta e silenciosa. Grupo de risco, mano, conversa fiada só no uatizapi. Pois foi pelo aplicativo que eu testemunhei uma transformação inimaginável em Zeca. Sua aversão às posições de esquerda terminara em apoio incondicional

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ao fascismo emergente – só esse doido pra detonar a petralhada, ela dizia. Andamos meio afastados, depois das eleições. À minha incompreensão – como uma professora pobre, preta e homossexual pode apoiar alguém que odeia professores, pobres, pretos e homossexuais? – respondia com meia dúzia de impropérios. Foi o coronavírus que mostrou a ela, afinal, quem eram os fascistas genocidas: em duas semanas de pandemia, a confiança se transformou em aversão. Tu é doido, mano, esse filho da puta quer matar a gente! Não caio nessa, não!

Zeca foi enterrada no dia 6 de maio, aos 63 anos, às 5 e pouco da tarde. Choviam finos cristais de luz à beira da cova coletiva, onde meia dúzia de amigos choravam sem discrição. Sua última mensagem, datada de quatro madrugadas antes, era um resumo do país pedindo socorro: mano, eu tô fudida!

ZEMARIA PINTO Manaus – AM

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FUMO DE ROLO

O desespero não morrerá nunca Pois o óbvio só me traz infelicidade O fingimento sim – e todas as águas!

Desse jeito – melhor afogarmos as mágoas Não somos Pessoa.

E antes de tudo

Por aqui as questões estão abertas O Brasil possui um rosto perfeito E a maioria quer apenas rimas

É preciso que se diga – não somos Pessoa. E por altivez da banana – estamos satisfeitos! Não somos Pessoa.

Nossa blague voa próximo de qualquer lua Os doentes mentais possuem muita sorte Não faria o menor sentido

Um ruidoso suicídio

Por isso não somos Pessoa.

Ultimamente temos montado em palavras São velhas – é bem verdade

Imagine transformando as outras pessoas? Isso custa caro

Ao crédito amordaçado na praça Por isso não somos Pessoa.

Os olhos já murchos sinalizam abatimento Estamos já com receio de ver a esquina

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Onde os pombos brincam de tormento Por isso não somos Pessoa.

Toda continuidade é um atrito Afeto das aves de rapina Por isso não somos Pessoa. Nosso grito é muito curto

A fronteira sólida é um traço obscuro Esse mártir presidiário dos poemas Por isso não somos Pessoa.

O deus que amamentou nossas forças A farda que vestiu a formiga de fogo O prazer de ver ossos como espinhos Por isso não somos Pessoa.

O dom de equilibrar a honra Que há na comida estragada Por isso não somos Pessoa.

Até agora fui médico de mim mesmo O inteligente acaba indo embora Por isso não somos Pessoa. Vossa majestade está suando

Nossa miséria deixando rastros de beleza

A estrada talvez tenha entendido nossa Máquina de falar pulsando e inexpugnável.

GIGIO FERREIRA Belém - PA

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VOZ

Desenterro da voz um rio brando calmo como canção sem ritmo

com suas águas cheias de argila o rio caminha para terras distantes e abundantes de fracassos ninguém escreverá sobre a paz de um sonho talvez as visões da poeta Cecilia Pavón sejam reais, talvez todos os gays procurem seu paraíso o peito para descansar a cabeça

um colo masculino para suportar suas tristezas mas a vida de um gay é feliz

quem disse que não? Tantas luzes brilhos, conquistas, disputas

avanças, tudo é alegria reparadora

desenterro da voz o corpo do meu ex-namoro que tem gosto de algo amargo que dói

que é negro e magro, um rapaz bonito mas que me feriu a ponto de eu não o ter em nenhuma rede social,

ao ponto de ter apagado todos as suas fotos esse rio do passado que passeia nas

lembranças tristes

o rio o trouxe para minha memória

este hombre que es más amargo que el limón al final del trago

mais amargo que o final do drink

enterro na voz o sofrimento de parecer

todos os dias o membro mais sem função do corpo da minha casa e da minha família

um membro que faz uma função que não deveria que não é sua por natureza

como uma perna que escreve ao invés de correr...

MARCOS SAMUEL COSTA Pará

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LILIAN MIRANDA BELÉM – PA

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O bajulador da maldade

Como estão os seus parentes hoje?

E os seus amigos?

Estão todos bem? Onde andará o fantasma que nos assola

todas as noites em nossos sonos fingidos? Viveremos para ser testemunhas

do julgamento dos culpados? Impávidos, seguiremos silenciosos

em nossa covardia vã? Distinto e abjeto senhor,

como chegaste até aqui?

Ora bolas, bastaram os votos de um punhado de ignorantes!

Reflito sobre a questão, sem atentar que são milhares. Algozes da vida, a vibrar com a morte de seus opositores.

Néscios a vaguear como cegos em busca de abrigos na chuva. Onde pretendem chegar?

Silenciosas são as manhãs de despedida de atores desconhecidos, Ladeados em covas com dezenas de anônimos. Ouso chamar-te de genocida, asqueroso, sórdido.

Bajulador da maldade, tua morada é a treva e teu cobertor é a morte. Mao, 25/01/2019

FREDERICO A. PASSOS fred_passos@yahoo.com.br

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DINHO LASCOSKI Indaial - SC

dinholascoski@gmail.com Instagram: @dinholascoski

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MÁSCARAS

Mês de janeiro seguindo

Fevereiro com esperança da vacina Políticos em desacordo

Muitas pessoas sem máscara Está virando bagunça

Ninguém se entendendo Bares e praias lotados E hospitais sem leitos Tudo sem controle

Preço dos alimentos aumentando Chuvas destruindo casebres Sempre o mais pobre que sofre!

ILMAR RIBEIRO Rio de Janeiro – RJ

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MARIPOSAS-BRUXAS E O BICHO-HOMEM Num universo alternativo

Bem diferente do nosso Um bicho-homem entrou Voando pela janela aberta Na casa das mariposas-bruxas Indo pousar na parede

Bem no alto, quase no teto Vovó mariposa-bruxa Ao ver o intruso medonho Logo narrou a crendice

Que diz que é de mau agouro Ter um bicho-homem em casa E que quando isso acontece Vai morrer alguém da casa

Pra não morrer alguém da família Tem que matar o bicho-homem Mas ali ninguém matou

Pois as mariposas-bruxas Não acreditam em crendices E em qualquer universo

São melhores que o bicho-homem ELIDIOMAR RIBEIRO DA SILVA Rio de Janeiro – RJ

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BESTIÁRIO DE EXCEÇÃO Sempre que alguém reclama Melhor memória à ditadura – ‘Foi ditabranda’ –

Eu penso em ratos

Eu lembro de uma ratazana Sempre quando vejo e ouço Um velho a celebrar o tempo “Em que as ruas eram tranquilas” Eu penso em vermes

Penso num porco a urinar sobre A face do Humano

Sempre que a moral é invocada À defesa de um suplício

Penso em abutres

E rezo e suspiro pelas dores do Homem Lembrando o pau-de-arara

Antes da coroa de Cristo Eu penso numa ratazana Introduzida em Cristo E penso em ratos E penso em vermes Penso em abutres : penso no porco-humano E noutros corpos De exceção

MARCO AURÉLIO DE SOUZA Ponta Grossa – Paraná

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GILMAL Manaus – AM

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AFETOS ANTIFASCISTAS

Ordeno que a fúria em meu peito resista mais um pouco. Que não se dissipe em medo ou desespero

Que suporte mais um dia, mais uma hora – o quanto for necessário.

E, como consequência, que essa fúria gere em meus lábios palavras quentes, que possam acalentar os irmãos de luta que estão no front, já exauridos.

Ordeno que essa fúria nunca, jamais, vire ódio – Sobretudo seja sempre coragem –

E que eu nunca me iluda sobre a importância do meu peito a ponto de deixar de ser um alvo, diante do perigo iminente em que um irmão se encontre.

Eu ordeno a essas pernas: nunca fraquejem frente ao adversário,

ainda que as quebrem,

que a ânsia em seguir seja eterna! [Que nada e nem ninguém

possa arrancar desse couro, dessa pele, a certeza da liberdade.]

Eu ordeno que diante do canhão eu seja escudo,

diante da opressão

eu seja um tanque de palavras e ações. Eu ordeno que, se requisitadas

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pelas balas de um cachorro de farda, minhas entranhas e eu venham ao mundo.

E que eu nunca, NUNCA, me torne uma alma atormentada por seguir um destino de manada...

...rumo ao abatedouro.

Eu ordeno que essa fúria em meu peito seja refúgio, abrigo, bunker, biblioteca, enfermaria – qualquer coisa –

mas nunca um quartel.

Eu ordeno a mim e só a mim

– gestado, parido e criado por uma guerreira –

que nunca me faltem lágrimas de indignação frente à injustiça e à opressão.

Que nunca me falte humanidade, mesmo em meio ao escombro do massacre dos gananciosos.

Ordeno que meu sangue seja gasolina ou diesel, combustível para meu abraço-molotov.

Eu ordeno que essa fúria em meu peito se atire em direção a qualquer outro peito que se sinta igualmente humano

requisitando calor, afago e afeto.

Que nunca, nunca falte esperança em cada um dos meus malditos dias

e versos.

Eu ordeno que eu não seja mais um verme sobre a terra; um bandido de gravata e terno.

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Que eu honre a sorte de caminhar sobre a superfície da Mãe Terra Gaia.

Eu ordeno que eu aceite meu destino de peregrino e que canto nenhum me seja estranho ou suficiente, que irmão nenhum me baste,

que minha família seja a humanidade inteira.

Eu ordeno que eu nunca esqueça as palavras do velho Xamã: Ivy Marã

A terra sagrada, que só é encontrada com a comunidade junta,

inteira, de uma só vez, ao mesmo tempo. Eu ordeno lembrar ao meu irmão

“NÃO há o que temer, lembra daquele poema?

Não há o que lamentar aqui diante do pelotão de fuzilamento” Não há cárcere pior do que estar trancado no medo de viver. No suspiro derradeiro,

ainda ordeno:

Fúria, faça-me ser amor por inteiro.

RAFAEL CESAR Manaus -Am

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(34)

O Manifesto Anarko Poético I

quero a queda de todas as instituições de todos patrões, padres e pastores de todas as fábricas, igrejas e governos de toda a forma de opressão que for colocada

que não exista nada além do ser livre e do coração selvagem.

II

quero as praças ocupadas por vagabundos,

[bêbados e poetas – profetas artistas possuídos até o sol nascer

que nas escolas ensinem Hakim Bey transformando adolescentes em poetas – terroristas

que caia a moral e os bons costumes que os filmes de Pasolini passem em loop

[nos cinemas e que somente a palavra exista nada além da palavra

nada além AVE, PALAVRA! III

quero a queda de toda lógica

a queda de todas as celas de ideias de toda a limitação

das correntes que prendem o ser de toda, . ; ! ?

(35)

quesomenteosentirsejaanaoregradetudo queoabsurdocorralivrenosolhoseouvidos. IV

que bandeiras, pátria ou ídolos não fiquem [acima de nós

quero a distância do lema: Deus, pátria e [família

e distância dos fascistas mascarados que

[fazem dessa frase uma oração diária pessoas que conservam o ódio no olhar e

[veneno na boca produtores da barbárie e filhotes de líderes

[messiânicos que são alegres em sua estupidez e

[cegueira. V

que os sonhos, desejos e sorrisos não [sejam retirados e mesmo quando o tempo virar apenas

[cinzas

e as sombras obscuras rasgarem meu [ventre

MINHAS VÍSCERAS GRITARÃO MEU ÚLTIMO POEMA PAULO MONTEIRO

Belo Horizonte – MG

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MEME DO NEGATIVISMO [6157] Estamos é fodidos, Glauco! Nada se pode fazer para deter isso!

Só perdem tempo, prestam desserviço aquelles que toparam a parada!

Crear immunidade de manada nos resta, mas nem ella dá sumiço no virus que, mutante, ja mestiço será pelas nações, um para cada! Aos poucos, morreremos! Quem não for agora, Glauco, vae anno que vem! Mas, caso sobreviva, ainda, alguem, terá tanta sequela, tanta dor!

Não! Pode perguntar a algum doutor! Vão todos desistir! Não irão nem tentar uma vaccina! São tambem incréus, como você, que é perdedor!

GLAUCO MATTOSO São Paulo – SP

No facebook: www.facebook.com/glauco.mattoso.9 Na blogosphera: https://blogocular.wordpress.com/

Este poema é do LIVRO DE RECLAMAÇÕES, no link para accesso gratuito.

(37)

IMORTALIDADE

Acendi o derradeiro cigarro enquanto mirava o horizonte turvo. Os fascistas dominaram novamente o mundo, e nosso peito encharcado de adeuses prematuros parece aquele jardim pisoteado pelos coturnos dos capitães imbecis que se vangloriam de sua burrice, enquanto recebem aplausos de religiosos fanáticos. Os dinossauros talvez estejam felizes, e os mamutes, e as preguiças gigantes, e as crianças prematuras que se tornaram estrelas, talvez todos estejam felizes... Quando o mundo olha para o fundo do precipício, e nos falta oxigênio nos pulmões, e as balas de O2 também choram com nossos filhos, mulheres e amigos, durante a festa de algum político patético que nunca se importou com a vida alheia o mundo fica mesmo parecendo um quadro do Portinari. Acendi o derradeiro cigarro, e o copo de vodca ficou bailando sobre a mesa feito uma bailarina abandonada. É impossível não lembrar dos golpes levados durante a vida, não lembrar dos golpes que não demos quando fomos passados para trás, impossível não lembrar das vaginas límpidas, e dos puteiros lotados e alegres. A casa cheia à meia noite, e vazia durante o vômito de domingo. Os campos regurgitaram mais uma oportunidade de guardar as cinzas das memórias no peito, enquanto a eternidade nos sorri timidamente com toda a franqueza da sua mortalidade.

ROJEFFERSON MORAES Manaus - AM

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DESOLAÇÃO

Existe uma espada mais afiada Mais pesada sobre meu pescoço

E sobre os pescoços dos meus amores também

Mas apenas eu vejo isso, malditos olhos que enxergam a desgraça!

Eu acordo sob efeito de remédio barato pra dormir Flerto com a ausência da minha sombra na parede Sou toda um não existir

Sou um piscar de olhos entre a garra de continuar viva E a completa loucura

Minha casa claustrofóbica me engole todos os instantes! Estou lambendo a insanidade e seus doces vermes Não há boas notícias

Apenas escolher

Entre a morte lenta e dolorosa

Da asfixia por negligência de quem não se importa Ou a lentidão e agonia da fome que trará doenças, desespero, violência

Humilhação e fim

Hoje eu quis um revólver

Hoje eu quis um revólver de novo Eu quis

Um apenas pra mim.

Olhar o futuro e não dar de cara com tijolos

Ver as rugas no rosto da minha mãe e não sentir medo Ouvir a risada dos meus filhos e não sentir medo Desejar o desejo sem medo

De que fosse a última vez

Minha alma agoniza num poço de apatia Afogada

São vários novos modelos das velhas câmaras de gás Discursos nazistas de que devemos doar nossas vidas...

(39)

Eu ouço gargalhadas diante o meu fim Estou cercada de deboche

De religiosos

De gente que não consegue enxergar nem a si próprio Eu sinto uma enorme vontade de gritar

Explodir Mutilar

Mas não tenho mais forças, estou cansada

Todos os dias acrescentam mais um cadáver nas minhas costas

Estou carregando corpos de amigos, pessoas que amo E desconhecidos

Estou recolhendo os restos mortais da humanidade Sem levantar mais o braço

Sem forças

Pra continuar arrastando meu cemitério particular Essa máscara serve apenas para cobrir

Minha boca cheia de dentes que mastigam a mais pura tristeza

Sou uma pessoa calma Acovardada Prestes a explodir Pedaços putrefatos de desolação 22 01 2021 JALNA GORDIANO Manaus – AM jalnagordiano14@gmail.com

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PÁTRIA Pátria Armada Fuzil. MARIANE ALVES Triunfo-PE Contato: poetizandoarotina@hotmail.com

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FLÁVIO ANTONINI Tobias Barreto – SE

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CENAS

Verde, quase no fim. Amarelo. Os carros vão parando.

Alguns motoristas, no entanto, aproveitam o intervalo para furar o sinal.

Arrancam feito doidos. Eu, hein?, ela pensa. Pra que isso?

Pronto. Vermelho. Agora pode ir.

Conta até três antes de colocar o pé no asfalto, exatamente como aprendeu com o pai, que a observa de longe, embaixo da árvore, do outro lado da avenida.

Os transeuntes atravessam na faixa de pedestres. Caminham em direção ao shopping.

Também parecem apressados.

A menina segue entre os automóveis oferecendo um punhado de flores vermelhas de papel crepom.

Tem seis anos, no máximo, mas seu riso apresenta o ar injustiçado dos que tão cedo experimentaram os dissabores da vida.

Com a língua presa, apresenta-se ao lado dos carros sem nenhum outro argumento, senão o olhar.

Que, por si só, já denota fragilidade e abandono. Os motoristas evitam olhá-la.

Ou, fingem não vê-la, enquanto ela toca macio no vidro lateral do carro.

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Na ponta dos pés, a menina percebe que alcança o retrovisor, contudo, evita tocá-lo, pois, como o pai falou, tem homem que é estressado.

Ela é distraída, mas sabe exatamente quando o sinal se abrirá de novo, por isso escorrega entre os carros como quem, ao nadar em águas marítimas, prevê a chegada de uma grande onda.

Errou o cálculo, uma vez, e um motoqueiro quase a atropela. Pensou em se desculpar, mas ele seguiu com pressa

largando no tráfego apenas um gesto violento e um bruto palavrão.

Tem quase certeza que o sinal abriu antes da hora. Sorri, ingênua, e acena, com doçura, ao correr com o ramalhete erguido.

Entrega tudo o que conseguiu ao homem que retribui com um sorriso de poucos dentes e exalando um forte cheiro de álcool no final da calçada.

O que arrecadaram no dia não dá sequer para comprar um saco de arroz, ele calcula, e guarda, em silêncio, as moedas no bolso da calça.

Ela pensa nos irmãos mais novos enquanto se abraçam. Sozinhos na ilha, sorriem para o caos.

ODAIR DE MORAIS Cuiabá-MT

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JANETE CHARGISTA São Paulo -SP

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O PROTESTO SOLITÁRIO DO POETA Começo de inverno MANAUARA

Vento frio

E eu todo molhado, amanhecido Vou andando na direção do viaduto

Penso no cara que construiu aquela aberração...

Sorte que sou um cara normal, seu eu fosse doido varrido Descolava uma arma e dava um tiro

Na cara desse presidente da república... Tropego... Bêbado... Entorpecido... Ouço uma sirene é o carro funerário Logo depois outro cortejo fúnebre Porra! Que pandemia desgraçada! Quando me dou conta

Estou na parte mais alta do viaduto

Que prefiro chamar de elefante branco, inaugurado E logo em seguida interditado por conta de problemas na estrutura

Eu na parte mais alta do elefante de concreto tiro a roupa Fico completamente nu pendurado em um dos postes E GRITO GRITO o estalo do meu grito!

Até não ter mais fôlego

Depois visto a roupa desço do elefante branco E minhas lágrimas salgadas se misturam Com a chuva doce

Continuo caminhando pela rua comercial Me perco entre as pessoas

sem nenhum centavo no bolso mangueio um café E volto a ser apenas mais um na multidão

JANER JOSÉ Manaus - AM

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LAÍS FERNANDA BORGES Manaus – Am

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TODO DIA O TEMPO TODO...

todo dia o tempo todo... amigos conhecidos colegas companheiros

mães avós pais irmãos filhos

indo embora, sofrendo, morrendo, não tem fim essa agonia...

enquanto isso, os governantes

brincam com nossas vidas e os negociantes calculam os lucros...

os milhões roubados, os medicamentos perdidos, o ar que nos falta...

as centenas de milhares de seres humanos

mortos, mortes banalizadas... números, estatísticas...

nem lembramos mais os nomes daqueles que perdemos... tantos, tantas vidas tantos sonhos

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enquanto isso,

os inumanos riem brincam se divertem e tripudiam sobre nossas dores e sofrimentos...

e não me digam que não há culpados, porque há! e não me digam que estamos no mesmo barco, porque não estamos!

enquanto isso,

fico me perguntando quando serei eu, se serei... até quando a sorte

me protegerá? até quando serei eu a fazer as exéquias a trazer a triste notícia

a dizer o poema de despedida, quando será? no minuto seguinte na próxima hora quando serei eu a desesperada notícia? 26/01/21 DORI CARVALHO Manaus – AM doricarvalho55@gmail.com

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Referências

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