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II ENPES ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA SOBRE A ECONOMIA

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II ENPES – ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA SOBRE A ECONOMIA SOLIDÁRIA

A ECONOMIA SOLIDÁRIA SOB DIVERSOS OLHARES

TÍTULO DO ARTIGO: DÁDIVA E ECONOMIA SOLIDÁRIA: PROCESSO

EDUCATIVO NA FORMAÇÃO EM ECONOMIA SOLIDÁRIA

AUTORAS:

Sônia Marise Salles Carvalho - Faculdade de Educação da Universidade de Brasília

Christiane Girard Ferreira Nunes – Departamento de Sociologia de Universidade de Brasília

RESUMO

Este artigo reflete sobre as aproximações entre a Dádiva, Educação e Economia Solidária. Pergunta-se como os estudos sobre a dádiva pode ajudar a compreender a natureza multicultural da relação humana e a qualificar a mediação dialógica entre os sujeitos participantes da Economia Solidária? Entende-se a dádiva como toda ação efetuada, sem garantia de retribuição, com o intuito de criar, manter e reconstituir o vínculo social. O circuito dar-receber-retribuir faz parte da tríplice obrigação de associar ao mesmo tempo obrigação e liberdade, interesse e desinteresse. Há uma perspectiva de refletir como esse caráter paradoxal da ação social pode manter alianças ou não, numa cadeia de obrigações e desafios, na prática pedagógica. Interessa destacar a questão da reciprocidade no circuito da dádiva e perguntar: a quem se dar e de quem se pode receber e como retribuir? A resposta deve ser aportada pela constituição e perduração do laço social e a permitir a possibilidade histórica de humanizar os vínculos sociais por meio do processo educativo nos valores da Economia Solidária.

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INTRODUÇÃO: A TEORIA SOCIAL DA DÁDIVA

Notas Preliminares

O paradigma da dádiva mostra que o fundamento da sociedade está na circulação de bens, pessoas e mercadorias a serviço da manutenção do vínculo social. Destaca-se o valor do vínculo como mais importante que o valor do uso e da troca.

A dádiva é definida sociologicamente como: “toda prestação de serviços ou de bens efetuada sem garantia de retribuição, com o intuito de criar, manter ou reconstituir o vínculo social” (Caillé, 2002). Constitui-se o melhor modelo explicativo dos vínculos sociais no século XXI.

Esse modelo apresenta uma teoria pluridimensional da ação, centrada na inter-relação de homens concretos, cujos vínculos sociais são definidos pela tríplice obrigação de dar-receber-retribuir.

Portanto, toda ação social deve ocorrer a partir dessa tríplice obrigação e de associar ao mesmo tempo obrigação e liberdade, interesse e desinteresse. As quatro dimensões estão imbricadas umas nas outras e encontram-se na existência social dos homens.

Esse caráter paradoxal da ação social, os quatro componentes - obrigação, liberdade, interesse e desinteresse - estão conectados uns aos outros, ou seja, existe um circuito que ligam as pessoas e que mantêm a aliança entre elas.

Segundo Martins (2002) não resta a menor dúvida de que a tensão entre essas quatro dimensões da existência social encontra-se simbolizada em todas as culturas e em todas as religiões do mundo.

O sistema social da dádiva estava alicerçado no pensamento antiutilitarista, expresso por meio do “Movimento Antiutilitarista nas Ciências Sociais-MAUSS1”, que critica a hegemonia imposta pelo modelo do “homo

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Desde os anos 80 grupos de intelectuais críticos do utilitarismo fazem parte do Movimento Antiutilitarista nas Ciências Sociais, cujas idéias são divulgadas pela La Revue du MAUSS, publicada pela Editora La Découverte, em Paris. As idéias reunidas nesta Revista, sob a direção de Alain Caillé, contribuem para desenvolver uma teoria paradoxal e pluridimensional da ação.

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eoconomicus”, onde toda ação social está circunscrita às relações mercantis, a partir do interesse, otimização e utilidade da circulação das coisas.

Os intelectuais da revista MAUSS2, propiciaram reflexões sobre o paradigma da dádiva, afirmando que as sociedades são estruturadas por relações utilitárias, mas também por relações de reciprocidade, onde o social surge sob condições de doação, solidariedade e confiança, tem regras próprias e uma vez reconhecido permite reconstruir os vínculos sociais.

Os autores da revista MAUSS inspiraram suas idéias a partir das reflexões de Marcel Mauss, em sua obra “O Ensaio sobre a Dádiva”, escrita em 19243, que assegura que os princípios do mercado assalariado não são os dispositivos fundamentais da organização da vida social, pois a circulação de bens e pessoas também existe em função da construção e manutenção dos vínculos sociais.

Na teoria maussiana, o paradigma da dádiva defende que qualquer ordem social, mesmo havendo relações de interesse sob o registro do cálculo, deve haver a subordinação desses interesses utilitários aos interesses do campo simbólico associados ao altruísmo, honra ou dignidade.

Os estudos de Caillé (2002) mostram que a dádiva permite explicar a sociedade moderna de cunho individualista, onde os motivos das prestações e contraprestações humanas são de caráter obrigatório. Reforça que essa motivação é insuficiente para manter os laços sociais e que há o desejo dos indivíduos em busca de poder, prestígio, honra e reconhecimento do seu grupo social.

2 A revista MAUSS constitui uma rede de pesquisadores que reúne intelectuais antiutilitaristas, cuja

afinidade teórica é compor fundamentos filosóficos da teoria econômica contra a lógica de mercado, negando a supremacia do homo oeconomicus. Os intelectuais fazem parte da renovação das Ciências Sociais na França, cujas idéias começam a ser divulgadas no Brasil por meio de autores como Paulo Henrique Martins, Christiane Girard, Genauto Filho, Sabourin e outros.

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A obra de Marcel Mauss, autor do Ensaio sobre a dádiva: forma e razão da troca nas sociedades

arcaicas, de 1924 (MAUSS, 2003), que Georges Gurvitch, na apresentação que fez da primeira edição de Sociologie et Anthropologie, define como uma das obras-primas da sociologia francesa. No caso da larga

obra de Mauss – autor com formação em filosofia, filologia, história, etnologia, sociologia e antropologia - é possível relacionar diversas possibilidades de releitura do mesmo. Guardando esta perspectiva, Marcel Fournier, importante biógrafo de Mauss, organizou recentemente, na revista Sociologie et Sociétés, uma coletânea intitulada “Présences de Marcel Mauss” (FOURNIER, 2004), na qual relaciona autores que receberam influências diversificadas de Mauss, como Pierre Bourdieu, Jean-Pierre Vernant e Maurice Agulhon.

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Outro autor que sinaliza a questão da finalidade sob a qual a ação social acontece e quais os princípios norteadores do sentido dessa ação em direção ao outro é Godbout (1999) que afirma:

“a sociedade moderna esta pautada pela característica do vínculo e sua relação com o que circula onde os indivíduos tentam seduzir-se e domesticar-se uns aos outros, rompendo e reatando laços”.

Para esse autor “dar é retribuir, é dar-se" e as trocas devem ocorrer em relações assimétricas, antiequivalentes e antiacumulativas, isto é, as trocas não são submetidas à lei do valor e assim permite que o vínculo social perdure. Essa condição de troca constitui a dívida como o fundamento da permanência do vínculo.

A dádiva é uma teoria que contribui para repensar as instituições sociais, baseada nos fundamentos morais da sociedade, que se apoia num conjunto variado de motivações da ação social, sejam utilitárias e não-utilitárias. Contribui para ampliar o entendimento da ação social porque inspira questões éticas de convivência social.

No Brasil a influência do pensamento maussiano ocorreu por meio de intelectuais4, que não aceitaram o predomínio da esfera econômica sobre a política e a social, recusarando a centralidade da troca mercantil na vida social e reconheceram as relações de reciprocidade como o cerne dos vínculos sociais.

As reflexões desses intelectuais mostram preocupações com as formas de integração social de grupos populares5 por meio do fortalecimento dos

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Em 1998 foram publicados na Revista Brasileira de Ciências Sociais de número 38, dois textos importantes sobre o paradigma do dom: o texto de Gabriel Cohn, “As diferenças finais: de Simmel a Luhman”, no qual o autor propõe revisitar Simmel a partir de sua proximidade de autores como Mauss e Luhman, o artigo de Lygia Sigaud (1999) intitulado “As vicissitudes do Ensaio sobre o dom de 1999”, que realiza uma revisão da leitura empreendida por Lévi-Strauss sobre o dom.

5 Martins (2003) descreve a difusão da teoria da Dádiva no Brasil: o lançamento do livro O espírito da

dádiva de Jacques Godbout, em colaboração com Alain Caillé, em 1998, pela editora FGV, que atualiza o

valor do dom para explicar fenômenos sociais modernos como a solidariedade social e a doação de órgãos; a visita de Godbout ao Brasil como conferencista da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS); a publicação na Revista Brasileira de Ciências Sociais de autores que se mostram simpático à revisão do debate, o artigo de Alain Caillé “Nem holismo nem

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vínculos sociais, em um país com imensa desigualdade na distribuição da riqueza social.

Segundo Martins (2002) as resistências do pensamento crítico à teoria da dádiva, no Brasil, encontram-se configuradas por três fatores: a representação religiosa da dádiva como caridade; as reações dos defensores do utilitarismo econômico contra uma teoria eminentemente anti-utilitarista e a reação dos simpatizantes da antropologia estrutural contra releituras da obra de Mauss, a partir de um enfoque sociológico e político.

Portanto, a difusão da dádiva na teoria social brasileira necessita de maior visibilidade acadêmica, embora o tema tenha sido apresentado em mesas redondas e conferências, desenvolvidas nas grandes associações científicas como ANPOCS (Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais), na SBS (Sociedade Brasileira de Sociologia), na ABA (Associação Brasileira de Antropologia) e na ALAS (Associação latino-americana de Sociologia).

Um dos importantes atributos da dádiva é a reciprocidade, compreendida pelo redobramento de uma ação ou de uma prestação, entre outras, como a reprodução da dádiva. (Temple,1997). Para ele a reciprocidade distingue do intercâmbio (a troca) porque a operação de intercâmbio corresponde a uma permutação de objetos, enquanto a estrutura de reciprocidade constitui uma relação reversível entre sujeitos.

Temple (1997) parte da mesma constatação da dádiva de Mauss (1924), afirmando que não se pode dar, gratuitamente, sem razão e sem motivo, ou seja, sem reciprocidade, porque é ela que dá o sentido de ser uma troca sem contrapartida obrigatória. As relações de reciprocidade engajam o ser humano na sua totalidade, tanto do ponto de vista material (econômico) quanto no simbólico e social.

Mauss (1931) diferencia assim a reciprocidade direta (prestações materiais ou simbólicas devolvidas entre dois indivíduos ou dois grupos), da reciprocidade indireta, quando os bens simbólicos recebidos não são Individualismo metodológico: Marcel Mauss e o paradigma do Dom” e o de Jacques Godbout, “Introdução à Dádiva”.

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devolvidos a quem os deu, mas a outro grupo que terá que devolvê-los por sua vez a um outro grupo. O modelo dessa reciprocidade indireta é também aquele da circulação dos bens entre as gerações. “É aquilo que seu pai fez para você que você pode devolver ao seu filho” (Mauss, 1931:19). Os valores reforçados por uma geração pode marcar o futuro da outra geração se não bem conduzidos a garantir sustentabilidade material e psíquica do grupo para compartilhar e cooperar.

É nesse sentido que Temple (1998) identifica e associa a produção de certos tipos de valores humanos, éticos ou afetivos, às estruturas de reciprocidade e de redistribuição. A reciprocidade implica na preocupação pelo outro para produzir valores afetivos ou éticos como a paz, a confiança, a amizade e a compreensão mútua.

Uma grande contribuição desse autor foi a sistematização das estruturas elementares de reciprocidade, destacando a reciprocidade binária, representando as relações de aliança e de amizade entre indivíduos, famílias e redes interpessoais. Essa reciprocidade divide-se em reciprocidade binária simétrica, onde se produz a amizade e a reciprocidade binária assimétrica, que gera prestígio do doador.

As estruturas de reciprocidade ternária podem ser unilateral, como exemplo a dádiva inter-gerações (relação entre pais e filhos), que produz responsabilidade e bilateral no caso do compartilhamento de recursos comuns, ela produz então a justiça e a confiança. O objetivo do doador na estrutura de reciprocidade ternária unilateral é de dar o máximo possível, porque, quanto mais ele dá, mais ele gera laço social. A educação dos filhos passou a constituir uma das primeiras estruturas de reciprocidade ternária unilateral inter-generacional (Temple 1998).

Na estrutura ternária bilateral há a submissão do sentimento de responsabilidade a uma obrigação nova, por exemplo, a obrigação de equilibrar as dádivas que vêm de um lado com aquelas que vão para outro. Na reciprocidade ternária bilateral, aquele que se situa entre dois doadores deve reproduzir a dádiva de um e a do outro de maneira apropriada.

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No campo da economia solidária6 evita-se a reciprocidade assimétrica, que gera sujeição moral. Há um esforço coletivo pela dádiva-partilha, onde todos adquirem o mesmo valor e atenção nas relações sociais.

Na Economia Solidária propõe-se que o processo formativo ao associar a dádiva à função da palavra, não desenvolva uma relação assimétrica e unilateral entre os atores sociais e sim uma interação que suscita a construção da autonomia (Godbout,1996).

Em síntese, a reciprocidade está ligada a valores democráticos de justiça, gratidão e responsabilidade pelas gerações futuras. (L C Becker,1986). Esses valores são propostos pela Economia Solidária.

DESENVOLVIMENTO: DÁDIVA E ECONOMIA SOLIDÁRIA

Uma das aproximações entre dádiva e Economia Solidária pode ser observada pela prática da economia plural, o que traduz o registro de diferentes comportamentos econômicos, para além da dimensão mercantil, regida pela troca utilitária.

Na economia plural há também a dimensão não-mercantil, regida pela troca obrigatória e fundada na redistribuição e a dimensão não-monetária, cuja relação de troca está baseada pela dádiva, com o objetivo de manter o laço social.

O resgate dessa pluralidade na Economia possibilita o fortalecimento e a manutenção do vínculo social como fundamento da dimensão humana, dado que a raiz do projeto de economia solidária está nas formas comunitárias de organização popular, mas que se estende para uma reprodução ampliada das condições de vida na sociedade.

A Economia Solidária contém experiências capazes de gerar e manter o laço social, porque a solidariedade que produz não resulta do interesse calculado. Isto não quer dizer que o cálculo não esteja presente, mas aparece como interesse desinteressado.

6 Entendemos por Economia Solidária iniciativas econômicas organizadas com princípios de

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Dentre as experiências da economia solidária no Brasil, refletiremos sobre duas na perspectiva da dádiva: as incubadoras de empreendimentos de economia solidária e as redes de colaboração solidária.

A partir de 2004, uma das políticas públicas de formação em Economia Solidária foi a criação de incubadoras de empreendimentos econômicos solidários, com o objetivo de desenvolver o trabalho associado, por meio de uma pedagogia autogestionária, para permitir a possibilidade de gerar renda e trabalho aos trabalhadores(as) em condições precárias de trabalho ou desempregados(as).

Nos estudos de Kirsch (2007) a ação da universidade com a criação de incubadoras significa uma obrigação da dádiva do Estado por meio de uma política pública, variando entre uma estrutura de redistribuição ou de reciprocidade centralizada. È um serviço público que reforça formas de relação entre o Estado e a Sociedade baseada na lógica da economia não mercantil.

Essa autora nos coloca que:

“a teoria da reciprocidade fornece elementos para a análise dos processos educativos da ES, pois, permite caracterizar as relações construídas no processo de incubação dos empreendimentos e os valores tanto instrumentais como éticos produzidos por essas relações. Além disso, a teoria compreende outra dimensão de análise, antagônica ao princípio do intercâmbio material que predomina em nossa sociedade, auxiliando na concepção de outra economia”. (KIRSCH, 2007)

Parece-nos que o objetivo para o qual as incubadoras se tornaram parte de uma política pública, advinda de uma das bandeiras de luta do movimento social da Economia Solidária, tem sido o de compreender as transformações, as permanências e as rupturas dos vínculos sociais, constituídos nos Empreendimentos de Economia Solidária.

No processo de incubação há a preocupação com a construção e a perduração dos vínculos sociais e por isso é relevante refletir sobre as racionalidades que permeiam a Incubadora e os grupos incubados, os conflitos

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e superações possíveis entre a perspectiva da reciprocidade e do intercâmbio na construção dos laços sociais.

Essa questão tem surgido nas avaliações das incubadoras universitárias de empreendimentos de economia solidária quanto à necessidade de obter renda e ao mesmo tempo desenvolver a autogestão.

A dimensão técnica e política no processo de formação dos grupos incubados envolvem o esforço de desenvolver valores que promovam a justiça, o respeito, a solidariedade e a generosidade na partilha, valores estes que nos desafiam a sempre reafirmar os vínculos sociais.

Nesse sentido, compreender os vínculos sociais pertinentes ao campo de interações dos empreendimentos e das conseqüências que os laços sociais possam ter, no desenvolvimento local, nos suscita a repensar a gradação entre o social e o individual, num espaço determinado por relações sociais, com diferentes racionalidades de ação.

As incubadoras de Empreendimentos de Economia Solidária têm sido o lugar da pertinência da dádiva, num processo de dar sentido à ação econômica, quanto às formas de gerar renda e trabalho, valorizando as trocas sociais onde a reciprocidade constitui-se no sentido da ação entre seus membros.

A outra experiência são as redes de colaboração solidária, porque uma vez constituídas em células laborais, que somente existem mediante a possibilidade de estabelecerem conexões, pressupõe ações coordenadas na perspectiva da dádiva, estabelecendo fluxos no circuito das trocas sociais de dar-receber-retribuir.

Um bom exemplo tem sido a constituição da Rede de Socioeconomia Solidária, que integra consumidores e produtores para obter conhecimentos, renda, trabalho, mais participação e estimulo à solidariedade.

CONCLUSÃO

O reconhecimento de que estamos diante de uma realidade complexa, validada por vínculos sociais utilitaristas e anti-utilitarista, nos levou à reflexão da dádiva ao destacar o valor do vínculo como centralidade da interação social.

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A forma de circulação dos bens e das pessoas, num sistema mercantil, pode ser um aspecto explicativo para a dificuldade que se tem para conviver como o outro, pois ao apostar na força do economicismo, como um único móbil da ação humana, e reforçar que apenas o interesse individual é suficiente para estabelecer os vínculos sociais contraria o que se tem mostrado na vida cotidiana, cujas práticas estão circunstanciadas pela busca da segurança, de reconhecimento e de proteção social, mediante uma sociedade que é, naturalmente, diversificada.

Por isso a teoria da dádiva antecipa os pressupostos de Economia Solidária, quando põe em destaque a ética da economia. Valoriza-se as condições materiais de vida, mas fundamentalmente as condições psíquicas de pertencimento ao coletivo, pelo trabalho.

A universalidade da tríplice obrigação “dar, receber e retribuir”, que permite entender o princípio de reciprocidade, se torna a ancoragem das relações sociais e qualificadas nos princípios da Economia Solidária.

Os estudos sociológicos sobre os vínculos sociais e as formas que assumem na Economia Solidária põe em destaque a possibilidade histórica de emancipação do ser humano.

REFERÊNCIAS

Becker L.C. 1986. Reciprocity, London, Routledge & Kegan Paul (Paperback edition issued by the University of Chicago Press, 1990).

Caillé, A. 2002. Antropologia do Dom: o Terceiro Paradigma. Petrópolis: Vozes.

Godbout, Jacques; Cailé, Alain. 1999. O Espírito da Dádiva. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas.

Mauss M. [1924], 2003, Ensaio sobre a dádiva in Sociologia e Antropologia edição brasileira São Paulo, Cosac e Naify.

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Martins, P.H. 2005. A sociologia de Marcel Mauss: dom, simbolismo e associação » In Revista Crítica de Ciências Sociais, n.73, dezembro, Coimbra.

Temple, D. 1998. Les structures élémentaires de la réciprocité Revue du MAUSS, n°12, (2): 234-242.

KIRCH, Rosana. Incubação de empreendimentos da Economia Solidária e as implicações das relações de reciprocidade. Brasília, 2007. Dissertação de Mestrado.

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