17/5/2012
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Suely Xavier dos Santos
Messianismo a partir da Bíblia
Objetivos da Aula
Mostrar os dois
movimentos principais que marcaram a fé bíblica
desde o século XI a.C. até
o alvorecer da comunidade cristã.
•Palavras- chave: •Messias, Siló, pastor e
esperança. Im a g e m 2
I. A expectativa de um líder tribal,
em Israel.
Tudo faz crer que a origem do
messianismo encontra-se no período tribal israelita.
Entre as tribos, havia um anseio por um líder que viesse comandar o povo na defesa das tribos, na manutenção da ordem, na educação da identidade de fé e na preservação da terra para morar, plantar e criar os filhos e filhas.
Nesse período, as características desse líder tribal guardam semelhanças aos juízes libertadores, como Débora e Gedeão, especialmente. Então, onde encontrar uma possível referência direta ao messias, no período tribal?
A história primitiva de Israel aponta para o anseio de uma liderança firme em busca de uma terra para, em paz, morar, plantar e criar os seus filhos e filhas.
I. A expectativa de um líder tribal,
em Israel.
Parece que a mais antiga menção desse anseio encontra-se na coleção dos ditos tribais (Gn 49), mais particularmente no “dito de Judá” (v. 8-12).
Provavelmente, este texto pertence ao período anterior à instalação da
monarquia em Israel, isto é, século XI aC.
I. A expectativa de um líder tribal,
em Israel.
II. Constatações, na história bíblica,
da esperança de um líder tribal.
O período do deserto foi um tempo significativo. Foi um período completo de preparo para receber o presente da terra: Os hebreus deixaram de ser um bando de escravos para tornarem-se um povo com muitos projetos.
II. Constatações, na história bíblica,
da esperança de um líder tribal.
O povo bíblico tinha consciência de sua rica
história de fé, mas não subestimava os desafios
que encontrariam em Canaã:
(a) A terra estava ocupada por cananeus especialmente;
(b) Israel teria que aprender as técnicas da
agricultura;
(c) Também teria que conviver com o politeísmo cananeu;
(d) O povo teria que implantar o seu estilo de vida, bem como educar seus filhos na fé herdada dos pais. Israel sentia
necessidade de um líder.
II. Constatações, na história bíblica,
da esperança de um líder tribal.
É nesse ambiente de preparo que é proferida a bênção de aos doze filhos de Jacó (Gn 49,2-27).
Trata-se de um esboço do destino das tribos de Israel. Cada tribo terá uma característica e uma missão. O verso 1 resume a intenção de Jacó: reunir os filhos para anunciar o projeto de Deus que seria legado aos filhos.
II. Constatações, na história bíblica,
da esperança de um líder tribal.
O último verso (v.28) pertence ao narrador que revela a intenção de Jacó: Ele os abençoou: a cada um segundo a bênção que lhe convinha. Nessa reunião de família, Jacó atribui, a cada filho, uma missão na terra de Canaã. Para tanto, Jacó os abençoa. Nessa conversa de pai para filho não há sentimento egoista, sentimentalismos, mas compromissos a cumprir.
II. Constatações, na história bíblica,
da esperança de um líder tribal.
A bênção (no hebraico, berakah) é um sinal de uma ação silenciosa de Deus na vida de quem a recebe. Há neste texto uma variedade de bênçãos e missões, todavia, a bênção de Judá se destaca dentre todas. O seu dito encontra-se nos versos 8-12. Vamos ler este texto de modo prático
II. Constatações, na história bíblica,
da esperança de um líder tribal.
Gênesis 49,8-12 possui três partes. A
primeira parte contém uma palavra
dirigida a Judá: A ti Judá, teus irmãos renderão homenagem, tua mão passará sobre a nuca de teus inimigos. Diante de ti prostrar-se-ão os filhos de teu pai (v.8). Judá é louvado pelos
A segunda parte é uma metáfora sobre Judá. O verso 9 equipara Judá a um leãozinho para afirmar que ele carrega uma promessa de força, coragem e valentia. Filhote de leão, Judá! Da presa, tu surgiste(ouvoltaste da caçada),meu filho. Agacha-se, e repousa como leão o rei dos animais, quem irá despertá-lo?Eis a descrição da liderança desejada.
II. Constatações, na história bíblica,
da esperança de um líder tribal.
A terceira parte (v.10-12) deixa os adjetivos
introdutórios e revelam uma promessa de
governo sobre as outras tribos irmãs: O cetro não sairá de Judá, nem o bastão de comando de entre seus pés, até que venha Silo, xiloh, a quem prestarão obediência os povos (v.10). Esta palavra hebraica, xiloh, traduzida por Silo,
vem de uma das línguas do Egito, e significa líder, comandante, príncipe.
II. Constatações, na história bíblica,
da esperança de um líder tribal.
Ele amarra à videira o jumentinho à parreira escolhida, o filho da jumenta; lava no vinho sua veste, e no sangue das uvas a roupa (v.11).
Seus olhos são mais escuros que o vinho, e os dentes mais brancos que o leite (v.12).
II. Constatações, na história bíblica,
da esperança de um líder tribal.
Os versos 10-12 deixam revelar que havia uma expectativa no meio do povo bíblico: não somente de possuir uma terrra para morar, plantar e criar filhos e filhas. Também, o povo esperava ter um líder, um comandante para estar a serviço das tribos.
II. Constatações, na história bíblica,
da esperança de um líder tribal.
Observem bem o texto. Em nenhum momento, a bênção de Jacó menciona a palavra melek, rei. Também ele não fala da criação do Estado de Judá, mas encaminha esta bênção para um líder tribal.
A palavra hebraica maxiah, messias, não faz parte de Gênesis 49,8-12.
II. Constatações, na história bíblica,
da esperança de um líder tribal.
Para pensar
Se a tradução da palavra hebraica, xiloh, é comandante, líder, principe, o que altera na compreensão do texto de Gn 49,8-12, a frase até que venha Silo?
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Destaque
A frase – até que venha Silo –refere-se a expectativa de um líder e comandante que estaria à serviço das tribos de Israel, de forma permanente. Esse líder é parecido com os juízes libertadores (como Débora, em Juízes 5). Portanto, o texto não promete um rei, nem a criação do Estado de Israel, mas o fortalecimento do sistema tribal.
Vale a pena destacar dois pontos sobre esse
projeto:
(a)É importante ser fiel à intenção do texto bíblico.
Gênesis 49, 8-12 fala de obediência das tribos,
cujo símbolo é o jumento, um animal humilde,
obediente e serviçal. xiloh é uma forma de
liderança que inaugurará um tempo de bênção
em Israel e em toda Canaã.
(b)(b) O texto bíblico não nos permite interpretar xilohcomo um comandante que submete e
Sobre a expressão -no sangue das uvas, trata-se de um uso metafórico. O vinho pode simbolizar momentos alegres como situações desastrosas.
A expressão – lava no vinho sua veste – refere-se ao sonho messiânico de um tempo de fartura e abundância, a ponto das pessoas lavarem suas roupas no vinho (Gn 49,11).
Os profetas descrevem esse momento como vitória e alegria:
As eiras e as tinas transbordarão de vinho e de óleo novo (Jl 2,24).
Aí, Javé providenciará, para todas as nações, um banquete com os melhores vinhos (Is 25,6).
Assim, xilo é o líder esperado para trazer acesso à terra e boa produção.
Sumariando:
(1)A esperança messiânica faz parte da história
do povo de Deus desde as suas origens;
(2)Esta esperança está presente no “dito de Judá”
(Gn 49,8-12);
(3)A frase “Até que venha o comandante, xiloh,
reflete a expectativa desse líder; (4)A característica dessa liderança não tem
semelhança com o rei, mas esse comandante
estaria a serviço das tribos;
(5)A expressão – lava no vinho sua veste –
refere-se ao sonho messiânico de um tempo
de fartura e abundância, sob a liderança de
III. Do tribalismo à monarquia
1. Por voltas de 1030 aC, o povo decidiu pela monarquia;
2. Saul foi um rei sem brilho, com características tribalistas;
3. Por voltas de 1010 aC, Davi assumiu o trono. Seu governo não mostra características tribalistas, mas é semelhante aos governos
vizinhos;
4. Após Davi a monarquia se impôs contra o projeto social tribalista.
Estes são destaques da história de Israel.
Porém, alguns detalhes políticos devem ser
mencionados:
1) A liderança econômica de Israel optou pelo
sistema monárquico;
2) O povo, em geral, manteve-se leal à
expectativa de um líder; por isso:
3) o povo não encontrou em Saul o perfil do
líder esperado;
III. Do tribalismo à monarquia
Durante o período de sua ascensão ao cargo de rei, Davi correspondeu à
expectativa do povo por um líder autêntico. Porém, após assumir o reinado, as
narrativas encontradas em 2 Samuel, a partir do capítulo 6, revelam que a liderança de Davi confrontou-se com a antiga expectativa do povo.
Fatos como a extinção da Guerra Santa, escândalos denunciados por Natan e revoltas do povo como a de Seba fazem parte dos motivos que levaram o povo trabalhador recusar Davi como o seu líder e comandante.
III. Do tribalismo à monarquia
Em meio aos acontecimentos políticos, como se
deu a expectativa messiânica?
Com a morte de Davi (970 aC), a monarquia foi
perdendo, paulatinamente, a sua vinculação
com os ideais tribalistas, e se distanciou dos antigos projetos do povo israelita.
No Sul de Israel, o filho de David assumiu o
trono. O rei Salomão determinou os destinos do
povo do Sul até a destruição de Jerusalém, em
587 aC.
III. Do tribalismo à monarquia
Simultânea à monarquia, surgiu o movimento profético, em Israel. Entre os israelitas, o profetismo desenvolveu algumas características:
a) São intérpretes e críticos da história; b) Eles falavam em nome de Deus,
advertindo a liderança política da nação por seus maus caminhos. Exemplo: Natan censura Davi (2Sm 12,1-12); Elias repreende Acab (1Rs 18,16-19).
Assim, Davi se tornou a primeira expressão da liderança esperada, tal como descrita em Gênesis 49,8-12. Após sua instalação, como rei, vieram fatos que desgostaram o povo: seu reinado trouxe muita política e ações militares, mas o povo continuou infeliz.
III. Do tribalismo à monarquia
Intervalo
5 minutos
Concomitantemente aos reis de Israel, cresceu
o movimento profético.
Em razão do seu caráter peculiar, os profetas
tinham a consciência que falavam em nome de
Javé.
Assim, eles eram críticos e apontavam os erros
de quem quer fosse. Por eles passava a expectativa de um líder autêntico para o povo. É a partir dos profetas pré-literários que
conhecemos expressões do movimento
messiânico.
1. Davi, uma expressão do messianismo camponês. O nome maxiah, ungido, messias,
como substantivo próprio, começa ser usado
nos dias de Davi. Seu sentido é ungido por
Deus. É com esse objetivo que foi contada a
história da unção do menino Davi (1Sm 16,1-13).
O esperado líder tem que ser ungido, não
importando a sua idade, mas tomado pelo Espírito de Deus. Todavia, a condição de pastor
de ovelhas foi a marca mais saliente.
Messianismo profético.
O messianismo da corte é, basicamente, davidita. A tradição do messias palaciano deve ser vista à luz da “bênção de Judá” (Gn 49,8-12), a história da ascensão de Davi (1Sm 16 a 2Sm 5) e partes de Números 22-24. Contudo, a tradição do messias da corte tem muitos elementos próprios de Jerusalém.
O messias cortesão.
Vamos tomar como base desta tradição a profecia de Natã (2Sm 7,1-29). Ao
contrário das tradições do Davi pastor (1Sm 16,1-13) e rei defensor dos pobres (1Sm 2,1-10), Jerusalém articula uma nova expressão messiânica (2Sm 7,1-29). Em Jerusalém, o messias está ligado ao poder, à beleza e à violência. Para tal, a unção não lhe dota o espírito de Deus, mas de força para matar e violentar os inimigos.
Todavia, a grande novidade da tradição do
messias cortesão é a promessa da dinastia para
Davi.
A primeira promessa é dar à descendência de
Davi o trono:
E quando os teus dias estiverem completos e vieres a dormir com os teus pais, farei permanecer a tua linguagem... e firmarei a tua realeza... e estabelecerei para sempre o seu trono 2Sm 7,12-13).
O messias cortesão.
Portanto, o que se sobressai nessa tradição, de Jerusalém, é a promessa da dinastia. Evidentemente que as palavras de Natã aconteceram antes do reinado de Salomão e os reis que se seguiram, pois seus governos foram medíocres. Eles não levaram a felicidade ao povo.
O messias cortesão.
Resumindo
1. Literariamente, xiloh, Silo, não tem
ligação com maxiah, messias, ungido.
Teologicamente, estas duas palavras
hebraicas têm o mesmo sentido, porque
ambos os termos expressam a
expectativa de uma liderança
Resumindo
2. A expectativa messiânica, segundo Gênesis 49,8-12, precede Davi. Em consequência disso, a messianidade
não é idêntica ao davidismo, de 2 Samuel 7, 1-13.
Daí, conclui-se que há várias expressões do messianismo, a saber: messianismo da corte, messianismo profético, entre outros.
Pesquisa - Destaque
3. Messianismo tem, necessariamente, a ver com expectativa de vida feliz e abundante. Para a “bênção de Jacó”, a esperança é a vinda de um líder que viesse livrá-los dos inimigos e opressores; Para o salmo de Ana, ela pede força ao Ungido para guardar os fiéis; A escolha e a unção de Davi mostram que o líder precisa do Espírito de Deus, mas não de exército;
a.