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IGREJA E SOCIEDADE - DESAFIOS PARA A DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA. Marlene Gomes Guerreiro*

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Academic year: 2021

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Marlene Gomes Guerreiro*

RESUMO: Desde a curiosidade humana às tentativas da ciência, o homem sempre buscou um sentido para a sua existência. Embora não encontrando uma resposta concreta que o fizesse pensar as coisas, e o ver mundo de outra forma, sempre procurou um sentido de pertença onde pudesse expressar suas características propriamente humanas dentro ou fora do contexto religioso, mas não distante da dimensão social. A Igreja ciente da sua missão social, á luz da Mensagem Evangélica, tratou objetivamente através dos seus ensinamentos, fazer com que o homem pudesse corresponder à sua vocação humana. A Doutrina Social da Igreja, através dos princípios e valores que norteiam o ensinamento social, deseja que a sociedade seja transformada pelo respeito entre os indivíduos, que se traduz no amor social. Na relação que se estabelece entre Igreja e Sociedade, a Doutrina Social da Igreja destaca que é imprescindível o respeito pelo principio inalienável da Dignidade da Pessoa Humana, fim e fundamento de todo o discurso social. A DSI é portanto, uma conjunto de ensinamentos que fundamenta-se na fé revelada e na racionalidade humana. Trata-se de um ensinamento cujas perspectivas e intenção volta-se para o alcance e o sentido da fé cristã na vida cotidiana do ser humano.

PALAVRAS-CHAVES: Doutrina Social da Igreja, Sociedade, Homem e Igreja Católica.

CHIESA E SOCIETÀ - SFIDE PER LA DOTTRINA SOCIALE DELLA CHIESA. SOMMARIO: Dalla curiosità umana ai tentativi della scienza, l'uomo ha sempre cercato il senso della sua esistenza. Pur non trovando una risposta concreta per pensare alle cose e vedere il mondo in modo diverso, ha sempre cercato un senso di appartenenza che potrebbe esprimere adeguatamente le sue caratteristiche umane all'interno o all'esterno del contesto religioso, ma non lontano dalla dimensione sociale. La Chiesa consapevole della sua missione sociale, alla luce del Messaggio Evangelico, attraverso i suoi insegnamenti oggettivi, ha fatto in modo che l’uomo ossa corrispondere alla sua vocazione umana. . La Dottrina Sociale della Chiesa, attraverso i principi e i valori che la guidano, desidera che la società sia trasformata nel rispetto tra gli individui, che si traduce in amore sociale. Nella relazione che si instaura tra Chiesa e Società, la Dottrina Sociale della Chiesa sottolinea che è essenziale rispettare il principio inalienabile della Dignità Umana, scopo e il fondamento di ogni discorso sociale. La DSI è quindi un insieme di insegnamenti che si basa sulla fede rivelata e sulla razionalità umana. Si tratta di un insegnamento le cui prospettive e le intenzione sono rivolte verso il significato della fede cristiana nella vita umana di tutti i giorni.

PAROLE-CHIAVE: Dottrina Sociale della Chiesa, Società, Uomo e Chiesa Cattolica.

* Mestre em Doutrina Social da Igreja. Especialista em Psicopedagogia e em Docência Universitária. Graduada em Teologia e Psicologia. Docente do Centro Universitário Católica de Quixadá -

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1 INTRODUÇÃO

A Igreja Católica,enquanto instituição terrena, nos diferentes contextos da história, atuou consciente da sua missão social. Sua função pressupõe muitas realidades objetivas, que vão além de um mero sentimento religioso, para obviamente, garantir e assegurar a vivência dos valores éticos e morais cristãos, dentro da conjuntura social, lugar onde o homem vive e corresponde a sua vocação humana. Por sua vez, sente-se desafiada a cumprir os princípios que caracterizam a Doutrina Social da Igreja a partir de uma experiência que se origina essencialmente do Evangelho. Deseja transformar a sociedade à luz dos ensinamentos de Cristo, fonte da fé cristã. Não obstante, assegura, que “para tornar a vida social mais humana, mais digna da pessoa, é necessário revalorizar o amor na vida social”. (CDSI, 582).

Ciente da força que o Evangelho possui, a Igreja através do seu ensinamento social oferece, sobretudo, uma compreensão integral do homem, que se dá em função do reconhecimento da Dignidade inviolável que ele possui. A partir desse entendimento, a Doutrina Social da Igreja, parte da premissa de que o verdadeiro desenvolvimento humano só é possível quando a sociedade permite e cria condições para que todos os indivíduos realizem sua vocação integral, considerando, que é necessário o reconhecimento e respeito pelos aspectos que envolvem as características pessoais e sociais de cada individuo. Assim, “Para a Igreja, a mensagem social do Evangelho não deve ser considerada uma teoria, mas, sobretudo, um fundamento e uma motivação para a ação”. (CA, 57).

Com efeito, a sociedade significa muito mais que um aglomerado de pessoas, que expressam diversas características humanas, transmitidas no tempo, determinada pela cultura, politica e condições econômicas. Constitui o lugar onde as relações humanas acontecem, e ao mesmo tempo chamada a garantir e assegurar o bem comum a todos os indivíduos.

Embora reconhecendo a existência de diversas disparidades sociais, ainda assim, os organismos nela existentes, são incumbidos de promover meios para que a Dignidade da Pessoa Humana, não seja ameaçada, criando, assim, mecanismos em que se sobressaiam a vivencia dos princípios necessários para que relações sociais entre indivíduos ocorram. “Não se pode esquecer que o desenvolvimento integral da pessoa e o crescimento social se condicionam reciprocamente” (CDSI, 581). Neste sentido, a Igreja se expressa com a aquilo que próprio dela, que se traduz na experiência e na transmissão da fé, haja vista, que sua missão é precisamente religiosa.

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2 RELAÇÃO ENTRE HOMEM, SOCIEDADE, E DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA.

Desde a curiosidade humana às tentativas das ciências, o homem sempre procurou uma resposta para saber sobre sua existência e descobrir sua origem. Até mesmo o contexto bíblico nos remete a este questionamento quando o salmista pergunta: Senhor quem é o homem para que cuides dele com tanto carinho. Assim foi-se criando pelas tradições, diversas imagens parciais do homem. Na antiguidade, por exemplo, a ideia de homem como um “pequeno mundo”, que consistia numa pequena parte do universo. O Renascimento, criou o terno “individuo”, o homem “dependendo exclusivamente de si mesmo”(ZILLES, 2011, p. 5). Mesmo sem resposta, o ser humano foi dando um sentido para vida, e buscando um sentido de pertença.

Neste sentido a cultura cristã deu uma grande contribuição á humanidade, deu uma definição precisa e significativa ao conceito de homem, e ao mesmo tempo da sua origem. As Sagradas Escrituras nos asseguram que o homem foi criado a imagem e semelhança do Seu Criador, que por sua vez não o deixou sozinho. Com a criação da raça humana, já era possível perceber uma comunidade de pessoas (Gn 1,27).

O Cristianismo sempre tratou a origem humana como algo muito especial, dado ao fato da criação humana ser um ato de amor sublime do próprio Criador para com a criatura. “Se Deus, em Jesus Cristo se fez homem, fez isso respeitando a natureza humana. Deus falou a linguagem do homem (ZILLES, 2011, p. 5).

Ao longo do tempo a criatura, foi tomando parte do espaço que foi-lhe dado para então, viver a dimensão propriamente humana, e nessa condição manifestar três características fundamentais que se expressam através: 1). O corpo, em que o ser humano é percebido na sua forma biológica que o permite ser visto concretamente no mundo; 2). O psiquismo, a característica que encontra-se entre o corpo e o espirito, articulando-se entre a liberdade e a consciência, emoção e a razão. 3). E o espirito, que conduz ao homem a uma experiência de transcendência, que vai desde a experiência relacional com o outro á experiência Transcendental. ( BAPTISTA e SANCHEZ, 2011, p. 16 -19) . O homem, sempre viveu essa realidade de forma tão intensa de modo tal que foi capaz de transformar, submeter todas as outras espécies criadas, domesticar os animais, construir cidades, cultivar o solo, plantar colher, enfim, mudou a terra. Mudar a terra significa também reconhecer e transformar o seu espaço que por ora especificamos como sociedade. O Catecismo da Igreja Católica define Sociedade como:

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Um conjunto de pessoas ligadas de maneira orgânica por um principio de unidade que ultrapassa cada um delas. Assembleia ao mesmo tempo visível e espiritual, uma sociedade perdura no tempo; ela acolhe o passado e prepara o futuro. Por ela, cada homem é constituído ‘herdeiro’, recebe, ‘talentos’ que enriquecem sua identidade e com os quais deve produzir frutos (CATECISMO DA IGREJA CATOLICA n. 1880).

Considerando que ela em si é uma abstração, no sentido de não existir sem a presença humana, e das outras espécies que a formam, no entanto, é possível reconhecer que é na sociedade que o homem se realiza, e ao mesmo tempo a realiza, e a transforma, assim, entre o homem e sociedade deve existir, portanto, uma relação de reciprocidade, não obstante a sociedade é a grande responsável pela realização da vocação humana.

A Igreja na Constituição Gaudium Et Spes, ressalta que o homem deve ser o primeiro a tornar-se conhecedor, em função da sua dignidade de filho de Deus, que é superior às coisas materiais.

Pela sua interioridade, transcende o universo das coisas: tal é o conhecimento profundo que ele alcança quando reencontra no seu interior, onde Deus, que perscruta os corações o espera, e onde ela, sob o olhar do Senhor, decide da própria sorte. Ao reconhecer, pois, em si uma alma espiritual e imortal, não se ilude com uma enganosa criação imaginativa, mero resultado de condições físicas e sociais; atinge, pelo contrario, a verdade profunda das coisas (GAUDIUM ET SPES, n. 14)

O fato do homem perceber-se como ser social o coloca numa dimensão que exige o cumprimento de deveres, e digno de diretos, para um estabelecimento ajustado nas relações sociais, e ao mesmo tempo o permite uma complementação quando mantem-se em contato com seu semelhante, isso acontece graças a criação de vínculos que vai desde os vínculos afetivos, as experiência religiosas, finalizando com a relação conveniente de respeito restritamente social. Portanto, “a pessoa humana tem a necessidade de viver em sociedade” (CIC n. 1878).

Dito isto, partiremos para uma reflexão acerca da relação que acontece entre o homem, a sociedade, e a Igreja precisamente no ensinamento social. Essa relação acontece porque o homem enquanto ser social participa efetivamente de uma vida em comunidade, onde vive de acordo com o que aprendeu, graças a sua tradição e cultura transmitidos de geração em geração. O mesmo acontece em relação aos ensinamentos da Igreja, em que nos foi revelado pela tradição cristã, oriundas da vida, pregação, morte e ressurreição de Jesus Cristo, e hoje a Igreja fundamenta-se nesta Verdade e a concretiza na sociedade humana.

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A história nos mostra que a relação da Igreja com a sociedade nem sempre foi uma relação harmoniosa, por diversas vezes a própria Igreja sentiu-se ameaçada com as influências trazidas por ideologias fundamentalistas em que o diálogo pouco acontecia. Mesmo com essa relação ameaçada, a Igreja sempre se voltou -se atentamente para a vida humana dentro do contexto social.

Os grandes acontecimentos que marcaram a sociedade e a vida do individuo, nos atestam que a Igreja fez-se sempre presente buscando medidas para amenizar ocasiões de desrespeito pela dignidade da pessoa humana, e firmar a igualdade de todos os filhos de Deus. Não pretendemos, aqui, fazer um balanço, deste período, mas apenas apontar o que significou a reação da Igreja, e sobretudo destacar a mudança que por hora se exigia, fazendo com que Igreja olhasse para a realidade social, cuja a compreensão das relações sociais, e as formas de como as pessoas passaram a se organizar fosse motivo de compreensão, e consequentemente um principio de uma nova visão social.

2 A DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA (DSI).

A formação do magistério social da Igreja marcou um novo compromisso da Igreja com a sociedade. Um exemplo disso, temos com o Papa Leão XIII, que iniciou a elaboração do magistério social que resultou numa proposta de superação ás divergências entre a Igreja e o pensamento moderno, e ainda a superação da postura medieval de poder e o envolvimento com a politica para então centrar-se no poder da Palavra, oferecendo princípios e valores éticos procedentes do Evangelho, e assim orientar e organizar um convivência social justa. Deste modo, a Igreja reconhece que sua missão também consiste em investigar e interpretar à luz do Evangelho, os sinais do tempo, para que saiba responder de maneira condizente as indagações acerca do sentido da vida, trazidas por cada geração (GS n.4).

A formação do magistério social da Igreja intensifica-se neste contexto, quando Leão XIII volta-se para a causa dos trabalhadores e publica a Rerum Novarum (Das Coisas Novas), mas não significa que a Doutrina Social da Igreja nasce ali, não é demais afirmar que desde a Igreja primitiva os cristãos já demostravam atenção com questões de cunho social. Basta lembrar os textos bíblicos em que se sobressaem o cuidado pelo órfão, pela viúva, por pessoas que viviam a margem de uma sociedade centrada no poder, e não na distribuição igualitária do bem comum.

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A pedido do Papa João Paulo II, o conselho de Justiça a Paz, publica em 2004 o Compêndio da Doutrina Social da Igreja (CDSI). Este documento apresenta de forma clara e objetiva o ensinamento social da Igreja. Com o Compêndio, a Igreja objetiva contribuir para que o homem encontre seu lugar na natureza, e na sociedade e se sinta parte integrante delas (CDSI n. 14).

Segundo o CDSI, a DSI, é “parte integrante do mistério de evangelização da Igreja” (CDSI n. 66). O documento ainda ressalta quanto à sua natureza afirmando que ela “não foi pensada desde o principio como um sistema orgânico; mas foi se formando pouco a pouco, com progressivos pronunciamentos do magistério sobre os temas sociais” (CDSI, n. 72). Afirma, ainda, que a “DSI é de natureza teológica e especificamente teológico-moral, tratando-se de uma doutrina destinada a orientar o comportamento das pessoas” (CDSI n.73).

Quanto ao objetivo da DSI o compêndio, assim o define:

O objetivo da Doutrina Social da Igreja é essencialmente o mesmo que constitui e motiva a sua razão de ser: o homem chamado a salvação e como tal confiado por Cristo à cura e a responsabilidade da Igreja. Com a Doutrina social da Igreja, a Igreja se preocupa coma vida humana na sociedade, ciente de que a qualidade da experiência social, ou seja, das relações de justiça e de amor que tecem, depende de modo decisivo a tutela e promoção das pessoas, para as quais toda comunidade é constituída. Efetivamente, na sociedade estão em jogo a dignidade e os direitos das pessoas e a paz nas relações entre comunidades de pessoas. Bens estes que a comunidade social deve perseguir e garantir. (CDSI n. 81).

À luz da verdade, a Igreja de Cristo através da DSI busca trazer a sociedade premissas de uma comunidade fraterna a exemplo de Cristo que com a partilha do pão quis estabelecer um mandamento novo, sobretudo fundamentado na vivência do amor fraterno. A Igreja reconhece que na sua caminha histórica, nem sempre sua relação com o poder e com a politica foi digna de aprovação, por isso, se coloca como santa e pecadora, que busca incansavelmente a perfeição. É a partir dessa condição que a Igreja se coloca como sacramento de salvação, em vista do Reino definitivo, mas enquanto não se concretiza, a Igreja afirma seu valor inestimável pelo homem, contribuindo para realização dos projetos que desejam construir.

Resumidamente todo o discurso social direciona-se para a vivência de princípios e valores que norteiam e fundamentam o ensinamento social contido na DSI. Trataremos aqui de seis princípios e três valores. Todos eles são importantes e não estão organizados por uma ordem de importância, exceto o princípio inalienável da Dignidade Humana, que sempre

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ocupará uma condição privilegiada, fazendo com que os outros que se seguem estejam em função dele.

O Catecismo da Igreja Católica nos assegura que “A dignidade da pessoa humana radica na sua criação à imagem e semelhança de Deus e realiza-se na sua vocação à bem-aventurança divina. (CIC,1700). Dada a importância desse fato, compreende-se que a Dignidade humana não é adquirida com convívio social. A sociedade ela não torna o homem mais ou menos digno. A dignidade, consiste numa condição ontológica de todo ser humano, porque este já nasce uma pessoa digna, a sociedade, destarte, tem o dever de responsabilizar-se para que ela não responsabilizar-seja instrumentalizada em decorrência do desrespeito pelo individuo. Em função do Principio da Dignidade humana, vem o Bem comum; a Distribuição Universal dos Bens; o Trabalho sobre o Capital; A Solidariedade, o Principio da Subsidiariedade, formando assim, os princípios da DSI. Além destes princípios, como já foi mencionado, a DSI também estabelece três princípios básicos, que são: a Verdade, a Liberdade e a Justiça, acentuando que entre os princípios e os valores deve existir uma relação reciproca, para que desse modo, haja entre eles pontos de referências para a condução ordenada da vida em sociedade. (CDSI, 179).

A DSI ajusta-se no que afirma o Papa Paulo VI, na encíclica Populorum Progressio, que se deve pensarno “desenvolvimento do homem todo e de todos os homens” (PP n.42). Assim é possível pensar o desenvolvimento humano de forma integral, em que todos os aspectos da sua vida devem ser considerados. Para melhor compreender este aspecto nos utilizaremos de dois exemplos que julgamos necessários, e importantes fontes que poderão dar origem a outras experiências cristãs, seja pessoal ou comunitária.

A primeira reside na abertura ao Absoluto. Deus estabelece uma relação dialógica com o homem permitindo-lhe uma experiência única e exclusiva, fazendo com que o homem se sinta pessoa e não só mais uma espécie criada. Essa experiência é tão marcante para o homem, que o Próprio Deus, na história, quebra mais um paradigma, em função do homem. Em Jesus Cristo, Ele faz a experiência de ser pessoa, ser gente, ser da espécie humana, Deus com características humanas realiza uma relação dialógica entre humano e divino. Outro aspecto observado, e que não deve ser ignorado na compreensão do desenvolvimento integral do homem, direciona-se para suas necessidades, que vão desde as básicas à busca de uma melhor qualidade de vida. Evidentemente, o aspecto que nos toca de perto, diz respeito ao tratamento que cada pessoa vivencia no contexto social no qual está inserido.

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Nesse sentido, é de bom grado avaliar também o papel do estado, e de outros poderes públicos, segundo o CDSI, estes deve confrontar-se com o principio da subsidiariedade e da solidariedade, devem, igualmente, estabelecer limites de autonomia entre as partes para defender aquele cuja situação parece mais vulnerável. O compêndio acentua a importância dos dois princípios se harmonizarem, para que se evite o perigo de cair no assistencialismo, ou práticas egoístas isoladas (CDSI n.351).

A Doutrina Social da Igreja trás o proposito de apresentar a sociedade uma verdadeira compreensão do humanismo integral e solidário. Com sua teoria e prática objetiva conscientizar o homem para as dimensões pessoais e sociais, no momento onde se apresenta um desenfreado crescimento material e pouco humano.

Tudo isso só é possível, porque o homem é um ser que vive em comunidade que se traduz na convivência humano enquanto seres sociais, e a Igreja tem uma relação permeável com essa realidade, porque é na sociedade onde o homem manifesta aquilo que ele é, inclusive sua fé. Neste aspecto destaca-se o Concilio Vaticano II, precisamente na Constituição Gaudium Et Spes quando afirma que “a fé ilumina todas as coisas com uma luz nova, e faz conhecer o desígnio divino acerca da vocação integral do homem e, dessa forma, orienta o espirito para soluções plenamente humanas” (GP n. 11).

Todo cristão, como membros atuantes da sociedade, é convocado a transmitir valores, fundamentados em princípios morais e éticos, elementos condizentes com a postura e a conduta cristã, no intuído de construir uma sociedade justa, e principalmente comprometida como outro.

A Doutrina social da Igreja é, portanto, o conjunto de princípios e valores que a Igreja católica defende como apoio imprescindível para a vivência na comunidade humana ocorra de maneira saudável, fundamentada na fé revelada e na racionalidade humana. Trata-se de um ensinamento cujas perspectivas e intenção volta-se para o alcance e o sentido da fé cristã na vida cotidiana do ser humano.

3 IGREJA E SOCIEDADE SOB O OLHAR DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA

O CDSI é muito preciso, quando afirma que “ a primeira destinatária da DSI é a comunidade eclesial em todos os seus membros, porque todos tem responsabilidades sociais a assumir” (CDSI n. 83). A Igreja deve ser para cada fiel a forma de corresponder à graça divina dentro da condição humana aqui na terra.

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Das várias definições de Igreja dadas pelo Vaticano II, temos em LG,8 “Estrutura visível”, “grupo visível”(LG 14), Sociedade dotada de “organismos Hierárquicos” (LG 14,20,20) “ Igreja terrena” , “ estabelecida e estruturada neste mundo como uma sociedade” ( SALVADOR, 1998, p. 35). A última expressão tem sido a mais usada e a mais adequada desde de S. Belarmino, sobretudo, para combater as ideias dos reformadores, e principalmente firmar a Igreja como única na qual os féis que pertencem a ela são unidos pela fé e pelo mesmos Sacramentos.

Com toda a caminhada de fé da Igreja no decorrer da história, é sobretudo no Concilio Vaticano II que a Igreja da um conceito de si mesma, na constituição Lumem Gentium: “E, porque a Igreja é em Cristo como que sacramento isto é, sinal e instrumento, da união intima com Deus e da unidade de todo o gênero humano (...)”, (LG n. 1). Na verdade consiste numa intima união de Deus com o homem, revelado por Jesus Cristo, por meio do Espirito Santo. É importante destacar as palavra do concilio quanto este menciona a “intima união com o gênero humano”, pode-se então compreender a condição que o próprio Deus permite o gênero humano assumir, respeitando sua condição humana. Embora, compreendendo que a Igreja reflete o rosto do seu fundador, Jesus Cristo, não devemos ignorar seu lado humano. A Igreja é de Cristo, é, pois, uma verdade que nunca se perderá no tempo, mas é uma instituição que se organiza no tempo, e no espaço de modo que a condição humana sempre se fará presente no seu interior. Todos aqueles que deram continuidade a pregação de Jesus eram pessoas que procuravam viver sua fé de maneira comprometida com o Evangelho, não eram santos e santas, eram pessoas simples que a exemplo de Cristo iniciaram um novo jeito de dar razões da sua fé, num contexto social marcado por injurias, discriminação, desrespeito, injustiça e tantas outras situações que feriam a Dignidade da Pessoa humana.

É neste contexto que Jesus Cristo nos chama a assumir nossa identidade de Igreja. Ser Igreja não significa ir à missão ou o encontro promovido pela pastoral a qual pertencemos. Significa, acima de tudo, assumir o compromisso com Cristo e com o outro. Os princípios e os valores da DSI, fazem a tentativa de resgatar e promover a Dignidade do ser humano, tão machucada pela sociedade do descarte. A Igreja é uma comunidade, uma família de fé, onde cada cristão é impulsionado pelo o espirito da caridade fraterna para acolher os irmãos marginalizados que sofrem pelo abandono social.

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Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e comodidade de se agarrar ás próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida. Mas do que em temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerramos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta, e Jesus repete-nos sem cessar: “Dai-lhes vós mesmo de comer” (Mt 6,37) (EVANGELIUM GAUDIUM n. 49).

Trata-se da condição humana numa perspectiva social, o papel do magistério social da Igreja, e da sociedade frente os processos sociais que envolvem a todos e a cada um em particular. Urge evidenciar, portanto, que o ensinamento social da Igreja, contidos no CDSI, deixa também evidente que “A Igreja não se ocupa da vida em sociedade em todos os seus aspectos, mas com a sua competência própria, que é a do anúncio de Cristo Redentor” (CDSI n. 68). Haja vista, que a missão confiada a Igreja, por Cristo, não é de ordem politica, econômica e social, mas sim de ordem religiosa. Em decorrência desta verdade, a DSI não interfere em questões técnicas, nem sugere sistemas e modelos de organizações sociais, porque não faz parte da sua natureza missionária (CDSI n.68). Através da DSI, a Igreja assiste ao homem enquanto caminha rumo a salvação.

Portanto, a Igreja deseja, com a DSI, oferecer, especialmente, uma visão integral do homem, bem como uma compreensão acerca de sua dimensão pessoal e social. (CDSI n. 522). Propor a vivência dos princípios e valores que possam sustentar uma sociedade digna para acolher o homem.

CONCLUSÃO

A Igreja convida, em particular, a cada fiel a empenhar-se da difusão do Evangelho. Hoje a Igreja e desafiada, através do seu ensinamento social, atualizar a mensagem evangélica pondo em realce a luta pela igualdade, justiça e tanto outros valores que oportuniza o homem a perceber o valor da sua própria Dignidade, dada pelo próprio Deus no ato da Criação.

Todavia, o evangelho contém em si uma grande mensagem social, quando entendido que desde seus primórdios da sua pregação, a Igreja através dos Santos Padres, com Cristo e com o a pregação dos Apóstolos, já era confrontada com problemas de origem social. Na

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contemporaneidade, principalmente com os resquícios da Revolução Industrial, onde a sociedade foi acometida por uma grande ferida que marcou a vida do operário, a Igreja, com a encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, denuncia o desrespeito pela Dignidade humana na pessoa do trabalhador. Esta iniciativa marca um novo período da Doutrina Social da Igreja, e nos anos seguintes outros papas, inclusive, o Concilio Vaticano II, se manifestam em favor da causa social, formando assim o Magistério Social da Igreja.

O verdadeiro sentido do discurso social está na prática fundada na caridade fraterna, que aproxima o homem do próprio homem e principalmente de Deus. Com a finalidade essencialmente religiosa, a Igreja, traz uma proposta social de tornar a sociedade numa verdadeira civilização do amor. Assim, o compêndio destaca que, “a Doutrina Social da Igreja é um instrumento necessário para uma eficaz educação cristã ao amor, à justiça, a Paz, assim como para amadurecer a consciência dos deveres morais e sociais no âmbito das diversas competências culturais e profissionais”, (CDSI, 532).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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PAULO VI, Papa. Carta Encíclica Populorum Progressio. São Paulo: Paulinas, 1990.

PONTIFICIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ. Compêndio da Doutrina Social da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2005.

Referências

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