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Novo Ciclo Concretizar a mudança

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Academic year: 2021

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e d

t o r i a

Novo Ciclo

Concretizar a mudança

pós três anos de gestão em que os

responsáveis pela Ordem dos Médicos tiveram como objectivo prioritário transformar essa Instituição na Casa de todos os Médic'os, período durante o qual se assistiu a democratização das • suas estruturas, criando-se largos espaços de debate sobre os grandes problemas da medicina portuguesa actual, é chegado o momento de concretizar a mudança.

É nossa preocupação a melhoria da qualidade da Medicina, o que implica profissionais informados com conhecimentos na crista da onda e competentes na gestão e nos comportamentos técnicos, mas também actuando em circunstâncias favoráveis, tanto no capítulo de recursos económicos, como na logística criada para o desenvolvimento das suas actividades.

As cerimónias de posse do novo Bastonário da Ordem dos Médicos e dos npvos órgãos soci�is das Secções Regionais do Norte, Centro e Sul e o projecto de Parecer apresentado pela Eng.ª Maria de Lourdes Pintasilgo ao Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida são os temas em destaque nesta edição da Revista e serão elementos importantés para debates que urge realizar.

Também a.intervenção da Senhora Ministra da Saúde na posse do novo Bas·tonário veio confirmár a

preo.cupação dó Ministélfo neste campo, avançando sugestões que permitem acreditar que num futuro próximo a Tutela poderá iníciar um tipo de relacionamento mais construtivo com a Ordem dos Médicos.

Para os médicos foi também importante ver

reconhecido pela Dra. Maria de Belém a necessidade de cada um de nós ter i.tm papel mais activo nas decisões de fundo e uma participação mais viva no dia-a-dia da saúde em Portugal.

Na sede da Ordem dos Médicos revelou ainda a Senhora Ministra a sua disponibilidade para

"empreender de imediato toda a série de reflexões" sobre temas como a Lei da Gestão Hospitalar, as Carreiras

Médicas e as condições de operacionalidade das diferentes instituições de saúde.

Feitas as promessas resta agora aos médicos esperar pela sua concretização e acreditar que a mudança do ciclo político e a posse dos novos corpos sociais da Ordem dos Médicos se traduza numa colaboração real entre as duas partes, de que os principais beneficiários serão os portugueses.

Do lado dos médicos essa disponibilidade ficou bem demonstrada na intervenção do Prof. Carlos Ribeiro. Porta-voz privilegiado dos principais objectivos da Ordem dos Médicos, o novo Bastonário não esqueceu o1 diálogo como porta importante no relacionamento com a Tutela e lembrou quão negativos foram "os políticos que geraram expectativas que não p�deram concretizar e nos elegeram facilmente como responsáveis pelo fracasso dos projectos como responsáveis da �ituação".

Afirmou que o Ministério para ter êxito deve trabalhar com os médicos e não contra os médicos, como ainda recentemente era regra. Sugeriu ser prioritário investir na melhoria das circunstâncias que poderão facilitar o acto médico, olhando nesta fase pelas condições de trabalho do médico de família.

Por feliz coincidência o documento subscrito pela Eng.ª Maria de Lourdes Pintasilgo "Questões Éticas na Distribuição de Recursos para a Saúde" representa um olhar importante do lado do utente, chamando a atenção para os problemas éticos suscitados pelas dificuldades de acesso da população às novas tecnologias, o que lhe mereceu uma análise tendente a.· desenvolver a equidade na distribuição e utilização dos recursos de saúde.

Perspectiva-se que os meses que se aproximam e que se perfilam no dealbar deste século vão ser difíceis para a medicina portuguesa. lnvade-n�� por isso uma certa dose de temor pelo futuro, matizado todavia pela

oonvicção de que ainda é possível inverter o trajecto para o abismo e tomar algumas decisões que levem a cm1o prazo à melhoria dos cuidados da saúde em Portugal . É necessário que os médicos acreditem nas suas possibilidades e que finalmente a Tutela decida apostar no Homem e não em edifícios ou nos equipamentos.

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Ordem dos Médicos

REVISTA _______ _

Director

Dr.Carlos Alberto de Santana Maia CONSELHO EDITORIAL Norte

Dr. Américo Rui Couto Dr. Luís Filipe Laranjeiro Dr. Victor Sanfins Centro Dr. Armindo Rebelo Dr.ª Isabel Cristina Dr. Rui Pato Sul Dr. Machado Cândido Dr. Pedro Nunes Dr. Silva Santos RECACÇÃO Dr. Adriano Natário Dr.ª Manuela Reis CONSELHO DE TESOUREIROS Dr. António Pessoa (S. R. Norte) Dr. Óscar Gonçalves (S. R. Centro) Dr. Rasiklal Ranchhod (S. R. Sul)

SECRETARIADO

Corália Tiago Marques Maria Teresa de Sousa PUBLICIDADE

Helena Pereira

CONCEPÇÃO GRÁFICA

Gráficos â Lapa, Lda.

Rua de S. Domingos à Lapa, 6 1200 LISBOA Tel. 395 10 85 · Fax 395 33 47 IMPRESSÃO lmprinter S.A. DEPÓSITO LEGAL 7421/85 PROPRIEDADE, ADMINISTRAÇÃO REDACÇÃO E PUBLICIDADE ORDEM DOS MÉDICOS Av. Gago Coutinho, 151 1700 LISBOA

Tel. 847 06 54 · Fax 847 12 15 PREÇO AVULSO 350$00 PUBLICAÇÃO MENSAL TIRAGEM 30 000 EX.

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actual dade. tomada d e p o s s e

Tomada de Posse

do novo Bastonário

Prof. Carlos Ribeiro

,;

Com a presença de Sua Excelência a Senhora Ministra da Saúde,

do Presidente da Comissão Parlamentar da Saúde, do Director-Geral da Saúde

e de várias centenas de colegas, decorreu no dia 6 de Janeiro a tomada

de posse do novo Bastonário. A cerimónia iniciou-se com a leitura pelo

Presidente do Conselho Eleitoral Nacional da acta com o auto

..

de posse do

Prof. Carlos Ribeiro e a imposição da Medalha da Ordem dos Médicos.

Seguidamente o Dr. Santana Maia dirigiu aos presentes algumas palavras.

Senhora Ministra da Saúde

Excelência

Excelentíssimas Autoridades Minhas Senhoras e meus Senhores Caros colegas

Senhor Professor Carlos Ribeiro

A

o empossar Vossa

Excelência como novo Presidente da Ordem dos Médicos, na qualidade de Presi­ dente do Conselho Eleitoral Nacio­ nal, como determinam os estatutos, quero felicitá-lo vivamente e

agra-decer a todos que nos deram a honra da sua presença nesta cerimónia.

O conhecimento pessoal que tenho do Prof. Carlos Ribeiro há cerca de 30 anos e os frequentes contactos que fomos mantendo de carácter profis­ sional como médicos, associativo no âmbito da Sociedade e Fundação Portuguesas de Cardiologia, da própria Ordem dos Médicos onde no último triénio foi escolhido por unanimidade para Coordenador do Conselho Nacional de Ensino e Edu­ cação Médica, na participação em vários Júris de exame da carreira

médica hospitalar, na organização de iniciativas de carácter científico como foram os primeiros Simpósios Luso­ Brasileiros d'e Cardiologia, enfim, numa admiração comum pelo Mestre Prof. Arsénio Cordeiro que, quando em 1972 me propus, com o Dr. Ubach Ferrão, abrir a segunda unidade de cuidados intensivos coronários do país, tinha a gentileza de nos receber em muitas �anhãs de domingo no Hospital de Sta. Maria e nos trans­ mitir os seus inestimáveis conselhos numa área hospitalar que dava os seus primeiros passos em Portugal.

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a e u a l

Tem o Prof. Carlos Ribeiro uma carreira brilhante nos aspectos assistencial, de ensino e investigação, o que, aliado ao seu profundo conhe­ cimento dos problemas de Saúde, são um garante do que irá ser o sucesso no exercício do cargo que hoje inicia.

É a Ordem dos Médicos uma instituição complexa, no seu próprio funcionamento interno, nas suas relações com o poder politíco, na intervenção permanente no âmbito de inúmeras organizações nacionais e internacionais em que tem assento e, nunca esquecendo, no impacto que as suas posições têm junto da opinião pública mas para responder a todas as situações, as previsíveis e as que surgem no devir do tempo, têm o Prof. Carlos Ribeiro e toda a equipe que irá liderar, o saber de as melhores condições para as resolver de forma inteligente e superior.

Da minha parte quero afirmar-lhe a minha total, sincera e leal cola­ boração em tudo o que a minha modesta contribuição possa ser considerada de alguma utilidade.

Ao Prof. Carlos Ribeiro quero desejar-lhe as maiores felicidades, o que é desejá-las igualmente à Ordem dos Médicos, a todos os médico� e à saúde do povo português.

d a d

e t o m a d a d e p o s s e

Discur

so

o

Seguidamente, o Prof. Carlos Ribeiro apresentou

um compromisso de acção que pela sua importância

transcrevemos na íntegra.

A

s Ordens são associa­ ções de profissionais de nível universitário, a quem cabe definir, manter e controlar os princípios éticos e deontológicos do exercício profissional, vigiar as condi­ ções de fmmação e especialização dos técnicos e garantir perante a comuni­

dade o desempenho dos seus asso­ ciados, segundo normas adequadas.

Ao contrário dos Sindicatos, a Ordem dos Médicos (OM) tem os seus estatutos aprovados por Decre­ to-Lei, recebendo do Governo como que uma Delegação de poderes para, em relação à matéria estatutária, poder ser equiparada a um Órgão de Estado.

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Como tal não é da sua compe­ tência desencadear uma greve,. discutir contratos de trabalho ou aumentos de nível salarial, matérias da competência dos Sindicatos, mas em contraparti­ da tem a OM o seu protagonis­ mo em toda a problemática ético-político-técnica que envol­

va profissionais de saúde, em circuns tâncias que visem a melhoria da qualidade da medi­

cina e a sua maximização no interesse da comunidade.

Todos os médicos estão obrigato­ riamente inscritos na OM o que jus­ tifica a sua lata capacidade de repre­ sentação, ao contrário dos Sindicatos onde a inscrição é livre.

Ordem e Sindicatos têm pois áreas específicas de actuação, sendo Instituições que se não opõem nos seus trajectos, mas que, pelo contrá­ rio, são complementares nos seus objectivos.

A OM tem um percurso cente­ nário, marcado por fases diversifi­ cadas, tocando ora as raias do êxito, ora as fronteiras do desespero, variá­ veis orquestradas pelas circuns­ tâncias políticas, filhas de mutações nem sempre previsíveis ou lineares.

A minha candidatura a Presidente da OM surge por pensarmos que a minha independência em relação ao poder político ou a "lobbies" organi­ zados seria uma maior valia, que per­ mitiria o diálogo aberto e o entendi­ mento com todos os médicos, visando a defesa da Medicina e da saúde dos portugueses.

A minha visão da Medicina portuguesa, baseada numa prática assistencial, técnica, pedagógica e de investigação de mais de 40 anos

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Prof.

permite-me, de uma forma convicta, afirmar que acredito na capacidade dos médicos portugueses e teste­ munhar como, por esse mundo fora, são respeitados e elogiados os seus desempenhos técnico-científicos.

Sinto que a Medicina portu­ guesa atingiu um alto grau de refmamento técnico, e que em todos os sectores médicos temos especialistas de renome interna­ cional que podem solucionar as situações clínicas mais compli­ cadas e intrincadas. Todavia também me dou nota, que no momen­ to em que atingimos o nosso acme técnico, caímos no nível mais baixo de respeitabilidade profissional junto do público, situação a que não são estranhas campanhas injustas e desonestas orquestradas por indivi­ dualidades, que pretendem, desse modo, ocultar a sua quota de respon­ sabilidade nos fracassos que even­ tualmente atingem ou inviabilizam os sistemas de saúde que implemen­ taram ou pretenderam criar.

Fomos assim vítimas de políti­ cos, que geraram expectativas que não puderam concretizar e que nos elegeram facilmente como os responsáveis pelo fra­ casso dos projectos e da situa­ ção, por sermos a face visível do sistema de saúde.

Em contrapartida tem a Ordem dos Médicos sabido ocupar o seu lugar na panorâmica da saúde em Portugal, particularmente nos últimos anos, quando um grupo de médicos, do qual fiz parte, soube defender há 6 anos e implantar há 3 um conjunto de ideias e de propos­ tas, que iniciaram um projecto de mudança, tendo como objectivo prioritário o de transformar a OM, na casa de todos os médicos.

Cabe aqui uma palavra de home­ nagem ao Sr. Dr. Santana Maia, que protagonizou esse projecto, apoiado

arlos Ribeiro

pelos membros das Direcções dos Conselhos Regionais do Norte, Centro e Sul, que ao serem reeleitos têm oportunidade de concretizar a esperada mudança.

Os objectivos propostos por esses Colegas foram geralmente obtidos, podendo ser aperfeiçoados no pró­ ximo triénio, notadamente no que concerne:

à criação de mecanismos de coordenação e de integração das actividades dos Colégios com os organismos executivos da Ordem; à consolidação da intervenção da OM no Ensino e na Formação Médica com creditação das acções de formação no ensino Pós-graduado e Continuado;

à intervenção mais organizada junto dos organismos inter­ nacionais, particularmente na União Europeia, levando-lhe a pressão do Sul, conscientes do risco da União ser cada vez mais a Europa das Multinacionais que

a Europa dos cidadãos. Fazer com que se assimile e não se exclua o humanismo francês, a tolerância portuguesa, a tradição cristã, o sentir ecuménico luso-espanhol. à continuação da discussão em Forum de temáticas actuais mas, principalmente passar à fase de implantação, de acção e de execu­ ção das conclusões e consensos obtidos.

Além dos nossos objectivos para melhorar a dinâmica interna da OM apontaremos em seguida os nossos objectivos imediatos para a saúde em Portugal.

Imediatos por terem gerado à sua volta uma onda de consensos e por a sua concretização depender exclusiva­ mente da vontade política do Governo.

Aqui ficam:

Promover a participação da OM na elaboração de documentos no domínio da saúde, particular­ mente incentivando a legislação

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a e u a

sobre o Acto Médico, a Responsa­ b ili dad e Médica e o Segredo Profissional;

É urgente a definição do que caracteriza o acto médico, para entendermos o que significa char­ latanismo, consultas aos farma­ cêuticos, curas da IURD (Igreja

Universal do Reino de Deus), medicinas alternativas, etc, etc ... Alteração das Leis de Gestão Hospitalar e das A.R.S., com reconhecimento da competência técnica específica de cada uma das carreiras existentes nos seus orgãos e eleição das

direcções clínicas, por interpares; Prestigiar os concursos das carrei­ ras médicas actuais e implantar o seu enquadramento_ no sector privado;

Defesa das carreiras médicas, percurso científico e técnico pri­ vilegiado de todos os profissionais e também obrigatório nas áreas clínicas da carreira académica; Assegurar o acesso aos lugares das carreiras médicas, através de concursos públicos externos, evitando-se contratações precá­ nas em regime individual de

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a

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e •

trabalho; não ao contrato por recibo verde;

Alargar as saídas profissionais para jovens médicos no sector pri­ vado, público ou convencionado e na área da medicina liberal, pug­ nando pela abertura de quadros, alargamento do tempo transitório de vínculo à função pública, e pela criação de um sistema de incentivos para início e prosse­ guimento da carreira;

Suspensão do Decreto-Lei 13/93 de 13 de Janeiro e Estatuto do S.N.S; afastando o boicote à actuação dos médicos nos seus níveis técnicos;

Defesa de espaços para a prática da medicina liberal com atenção particular às acções nefastas dos grandes monopólios, que se per­ filam para dominar a Medicina e os Médicos;

Apoio às Associações de Medici­ na Livre na exigência de paga­ mentos a todos os prestadores de saúde em condições de igualdade de prazos legais (farmácias, médicos, fornecedores de equipa­ mentos, víveres, etc);

Implantação da Lei-quadro de convenções, que devem ser feitas sem exclusões, evitando o compa­ drio, facilitado pela tentativa de relação do Estado com apenas alguns especialistas. É desejável que para uma melhoria de quali­ dade da medicina o doente possa escolher o médico convencionado que deseja. Mas que todos os es­ pecialistas possam fazer parte das convenções da sua especialidade ou competência.

Estabelecimento de critérios semelhantes de qualidade para sectores público e privado, bem como criar condições institu­ cionais para a sua avaliação; Defender que a formação e a investigação médica sejam atri­ buições de todos os médicos e de todas as instituições de saúde. Todavia, os médicos têm conhecimento do "déficit" do Ministério da Saúde que ultra­ passa os 150 milhões de contos, números já citados por

respon-10

sáveis pelo período de 1 O anos, autodesignado por Democracia de "sucesso".

"Sucesso" que preocupa os portugueses conscientes, ansio­ sos por ouvirem a actual res­ ponsável pelo Ministério, quanto

às repercussões desta situação fmanceira no futuro da proble­ mática da saúde em Portugal.

Numa tentativa de facilitar a resposta da Senhora Ministra da Saúde vou tirar ilacções de três tipos de intervenções governamentais na área da saúde em Portugal, que quanto a nós são três paradigmas históricos.

1. Era Trigo de Negreiros. Época negativa, eivada de agressividade contra os médicos, recusando transformar os hospícios em hos­ pitais, as gratificações dos médi­ cos em ordenados, ou em criar condições para que os médicos estejam no hospital e não se limitem apenas a visitá-lo. Fracasso total da sua política, por ter sido feita contra a medicina e contra os médicos.

2. Era Martins de Carvalho. Ministro de Salazar que acreditou nos médicos e que promulgou e patrocinou as carreiras médicas. Tal resolução marcou o início da melhoria da "praxis" médica, particularmente a nível hospitalar. :Êxito do empreendimento do Ministro por ter sido feito com os médicos e não contra os médicos. 3. Era Leonor Beleza - Costa Freire.

Nesta época os médicos foram apresentados ao público como os fautores de todas as desgraças que aconteciam na saúde em Portugal. Destroi-se assim perante a população o mito que o médico representava, deixando os portu­ gueses órfãos, por falta desse apoio credível, crime até hoje não suficientemente denunciado. O duo Leonor Beleza-Costa Freire introduziu um projecto economicista para a saúde, afastando os médicos das áreas de decisão. O "deficit" e a situa­ ção actual da saúde em Portugal

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a tal se ficou a devei·, sendo de enfatizar:

o novo-riquismo da maioria das administações;

a política do betão, privilegiando o corte de fitas nas inaugurações mas ignorando uma carta hospitalar; a influência de "lobbies" econó­ micos, determinando que farma­ cêuticos recebam atempadamente as suas convenções enquanto médicos ou outros prestadores de seryiços, equipamentos ou géne­ ros aguardem indefinidamente; incapacidade de liberalizar a distribuição dos medicamentos; o desfazer de estruturas já secula­ res (Hospitais Civis de Lisboa); o de não apoiar o desenvolvi­ mento do sector privado de saúde de forma a ser concorrencial; a privatização de estrnturas hospita­ lares, cedendo posições de inte­ resse público a entidades privadas. o acesso nas carreiras médicas dificultado aos jovens médicos, impossibilitados de concorrer aos lugares por não terem vínculo hospitalar.

Não invejamos pois a herança que a Drª Mal'ia Belém Roseiro

i·eceheu, quando aceitou i·es­ ponsahilizar-se pelo Ministério da Saúde.

P odemos dizer que a Drª

Maria Belém Roseiro foi feita dirigente dmn mundo de ex-con­ ventos ou de estruturas de betão novo, descaractel"izado, sein alma, Rainha dos cori·edoi·es hospitala res, apinhados de inacas, com doentes graves, e, médicos e outros profissionais da saúde ll·abalhando em circuns­ tâncias deploráveis, esgotados e desinotivados, tantas vezes aze­ dos com o circunstancial e não adei·entes a qualquei· projecto.

Não são só os médicos, mas os enfermeiros, os técnicos paramé­ dicos, os farmacêuticos hospitalares, o pessoal auxiliar que clamam contra as condições de trabalho no sistema nacional de saúde português.

Mas são sobretudo os doentes que têm mais razões para protestos.

Será razoável obrigar os doentes a permanecerem em filas de espera desde as 6 horas da manhã, tentando obter a todo o custo urna Consulta médica nos Centros de Saúde ou nas Consultas Hospitalares? E, que dizer das urgências hospitalares pejadas de casos graves, mas também rotineiros

por "deficit" assistencial a montante ... Para facilitar a resposta queremos ainda chamar a atenção para o facto dos Sistemas de Saúde organizados assentarem, segundo Hurst -Reforming Health Care in seven European nations" (1991), nos seguintes postulados

Equidade no acesso aos cuida­

dos necessários, com utilização adequada ao seu caso pessoal;

Pi·otecção financeira na doen­

ça de acordo com a sua real ca­ pacidade económica e a gravidade da situação;

Liberdade de escolha do médico e dos serviços pelo utente, inde­ pendentemente da sua situação económica, raça, credo religioso ou político;

Autonomia técnica dos profis­ sionais, com rigoroso respeito

pelo sigilo profissional, utilizado exclusivamente para defesa do doente;

Eficiência macro-económica visando obter, a nível nacional ou de grandes regiões, os melhores

resultados, dos investimentos realizados com verbas, pessoal e equipamento.

Eficiência micro-económica

visando melhorar a comunicação, os comportamentos e os resul­ tados do binómio médico/utente, a nível local ou institucional.

Todavia se pretendermos maxi­ mizar estes resultados verificamos facilmente que não são em alto grau conciliáveis.

Assim, se a intervenção estatal foi· foi·te facilita-se a universa­ lidade e em certa medida a equidade dos serviços, em detrimento da liberdade da escolha do utente e da autonomia do acto médico.

Se a lihei·alização for aceite, aumenta-se a liberdade de escolha do utente, mas apenas para alguns grupos sociais, melhorando também a autonomia técnica dos médicos, mas reduzindo provavelmente a equidade e a eficiência macro-eco­ nómica do sistema.

Que fazer então?

Não temos receitas definitivas para este magno problema.

Aconselhamos até que os respon­ sáveis fujam da epidemia de medidas avulsas que por aí pululam. Lembro que qualquer medida influencia todo o xadrez social, desregulando-o, por vezes a montante e a juzante da acção e impondo complexos

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proces-sos de auto-regulação correctiva, as mais das vezes levando a um grau de distorsão das realidades, de reper­ cussões imprevisíveis.

Existem indicadores que, por terem base matemática, transportam uma carga de "verdade" científica que a todos confunde, sendo um exemplo paradigmático os.valores do Produto Nacional Bruto (PNB) e do Produto Interno Bruto (PIB) que foram arremessados para a mesa dos debates, como entidades fechadas, definitivas, míticas.

. Não podemos todavia importar modelos e aplicá-los no nosso meio sem as devidas correcções. Por exemplo o nosso PIB para atingir a média europeia teria de duplicar e só então faria sentido falar na sua percentagem para a saúde.

Temos necessidade de utilização de outros indicadores, que tomem em consideração a especificidade das populações (grau de escolari­ dade, idade média, esperança de vida, assimetria da distribuição dos sexos, tipo de população, rural/ur­ bana, interior/litoral, grau de acesso aos serviços de saúde, etc. etc.) e particularmente as singularidades portuguesas.

Pa1·ece existir por outro lado mn divórcio ent1·e a informação às vezes optimista das esta­ tísticas da saúde em Portugal e a pobreza do concreto vivido e sentido por médicos e doentes.

É imperioso o combate à arrogância baseada em dados estatísticos, não se deixando que se confunda ciência com sabedoria. Evitar o autismo teórico, facilitando o diálogo entre médicos e economistas ou gestores, ultrapas­ sando as fronteiras da sensibilidade

profissional, interface dos saberes específicos de cada gmpo.

Repare-se que afirmamos que o Ministério falhou quando actuou contra os médicos (exemplo: Trigo de Negreiros na época de Salazar e Leonor Beleza na era pós 25 de Abril), e que fez algo de positivo para a saúde do povo português, quando se uniu aos médicos (exem­ plo: Martins de Carvalho, Ministro de Salazar).

A chave do êxito parece não estar

exclusivamente dependente da política geral vigente no país, mas sim ligada à atitude do Ministério face aos Médicos.

O grande desafio que se põe hoje ao Ministério da Saúde assenta no reconhecimento de que tudo começa com o acto médico.

E, o acto médico consiste na comunicação entre dois seres e ganha em não ter interferência de terceiros.

Mas se tudo começa no diá­ logo médico-doente, a solução 1·evolucionária, mas d�cisiva, assenta na concretização desse objectivo.

Po1·tanto se1·á o médico de família o protag01ústa e o centro do processo de renovação.

Mas torna-se necessário:

Descentralizar, criando poder efectivo de decisão a nível local, com a capacidade econó­ mica para resolver os problemas, facilitada por as relações assis­ tenciais serem próximas, tangíveis e bem definidas.

Participação de todas as partes envolvidas no fenómeno, médicos, doentes, profissionais de saúde, autarquias, gestores, forças polí­ ticas, sociais e económicas, visando a solução do problema a nível das suas regiões.

Temos de ter um médico de família disponível para resolver todos os casos de doença na sua área de intervenção, fazendo a sua pre­ venção e se necessário a reabilitação dos seus doentes.

O recurso às urgências estaria reservado aos casos agudos e graves, e referido ao hospital da área, com condições para o tratamento do caso, de acordo com uma carta hospitalar e uma carta de urgência, definidas a nível nacional.

Só promovendo o exercício dos direitos e deveres dos doentes, a participação dos técnicos e de todas as forças locais responsáveis pelo bem social, se poderá antever um novo sopro de modernidade e de êxito no sistema nacional de saúde português.

A 01·dem dos Médicos através dos seus Conselhos Dist1·itais

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poderá conduzir um estudo piloto em mna ou duas 1·egiões, susceptível de dar resposta a propostas que a OM tem vindo, desde há muito, a difundir.

A prestação de cuidados médicos daria lugar a um contrato que tivesse em vista o volume, a qualidade e o preço dos serviços.

Poder-se-ia desenvolver um merca­ do interno de prestação de serviços interligado, com objectivos e obriga­ ções bem definidos, acautelando in­ centivos, visando a eficiência e a melhoria da qualidade da medicina .

Só incentivando os cuidados clonúciliál'ios e as i.Júciativas ela co111múclacle se 1·esolve1·á o ma­ gno problema elas dificuldades ele atendimento, hoje existentes nas consultas hospitalares e nos Centt·os de Saúde.

A solução da problemática das ur­ gências hospitalares passa pelo ape­ trechamento técnico dos Centros de Saúde, em alternativas aos SAP e desenvolvendo o atendimento domi­ ciliário.

Os SAP não resolveram o proble­ ma do anonimato do doente, inte­ grando o maior defeito das nossas urgências hospitalares sem ter qual­ quer vantagem ou virtude a propor.

Tudo passa pois pelo investimento no Homem, a começar pelo técnico mais próximo da população:

o Médico da família, que tem de ser um técnico que resolva os pro­ blemas major da população, por mais frequentes, de mais fácil ., diagnóstico, de intervenção mell1or codificada. Um conselheiro familiar em assuntos de saúde, mas com capacidade técnica decisória e eficaz por contar em tempo opor-tuno com o recurso a outros profis­ sionais mais especializados, sempre que tal se imponha.

A OM através do Colégio de Medicina Geral-Medicina Familiar deve estimular:

a definição do apetrechamento mínimo dos centros de saúde;

a criação de condições de trabalho em equipa nos centros de saúde;

a melhoria da relação entre médicos de familia e especialistas da rede hospitalar ou privados;

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a creditação de acções de educa­ ção dos médicos de família, com a produção de guias de diagnóstico e de terapêutica;

É este o desafio que lhe fazemos

Senho1·a Ministra.

Sabemos:

que o bom exercício da medicina nem sempre é o mais caro;

que adiar os problemas é sempre má praxis;

que existem custos elevados, quando é preciso corrigir defi­ ciências ou ausências nas inter­ venções.

A OM disponibiliza-se para discutir o benefício/ custo destas intervenções médicas. Dissemos bene­ fício/custo e nunca custo/ benefício.

Em conclusão:

parece que todos temos razão de queixa do Estado.

Os doentes:

metidos em circuitos burocráticos, para os cansar, para os fazer desistir, para os retirar cedo da cama, com direitos constitucionais, que na prática raramente se concretizam.

Os médicos

Esta mos fartos: de construções hospitalares por razões políticas; de comis­ sões oncológicas sem onco­ logistas; da luta contra a Sida ser entregue a uma in­ vestigadora farmacêutica; de sermos afastados de todos os

locais decisórios na saúde; do INF ARMED, com 40 farmacêuticos e um médico em tempo integral.

Todavia, acreditamos que o novo programa do Serviço Nacional de Saúde só será um êxito se depender mais da iniciativa da Sociedade do que da responsabilidade exclusiva do Governo, tal projecto levará partilha de objectivos, tendo os médicos a obrigação da pilotagem desta complexidade social que é a saúde. Será finalmente um convite

certo para um sonho, que garantimos poderá ser uma realidade perene no amanhã.

O desafio passa assim por uma pujante expressão de pluralidade, vivida na sua essência em vez de torturada na sua existência.

Será desejável que o Ministério da Saúde não mantenha sobre esta proposta um silêncio punitivo, choviscando melancolia neste caleidoscópio de situações, que ao ser implementado permitiria que cada um dos intervenientes fosse senhor do seu destino.

Existem na verdade condições para

a mudança, assentes no respeito pelas competências técnicas e específicas de todas as profissões envolvidas.

Termino com dois apontamentos. O primeiro: o império romano sobreviveu durante tanto tempo, sem comunicações rápidas como as actuais, porque os governantes das províncias eram sujeitos a grandes cursos de formação em Roma, que os tornaram os homens certos nos lugares certos.

O segundo: dizia um operário da General Motors: fui despedido porque fabricava viaturas de má qualidade. Mas em 16 anos nunca me pediram uma sugestão para melhorar o meu trabalho. Nunca.

Não devem os responsáveis pelo Ministério da Saúde incorrer no mesmo erro.

Perguntem a todos os interve­ nientes no processo o que está mal, porque está mal e o que se deve fazer para encontrar a solução. E, particularmente, saibam distinguir um médico dum licenciado em

medicina.

Auguramos que, com os médicos, a Senhora Dr.ª Maria Bel é m Roseiro passará à histó­ ria e, tal como Martins de Carvalho, com nota positiva.

Contra os médicos , enfileirará na galeria onde estão registados Trigo de Negreiros e Leonor Beleza.

Mas dado o seu curricu­ lum, a sua coerência entre o pensar e o agir, a atenção permanente aos problemas, com disponibilidade para os c�mpreender e solucionar, podemos afirmar que aceitar� este nosso convite que será a última oportuni­ dade para curar esta doença crónica, que atinge a saúde em P01tugal e que acabamos de diagnosticar propondo tratamento adequado.

Por nossa parte tudo faremos na OM para patro­ cinar todas as acções de informação e formação dos médicos e da população que sejam válidas e úteis, para que a resposta técnica seja homogénea, mas de alto nível como no antigo império romano.

A termin_ar, quero pedir aos Colegas que contem com a minha proverbial honestidade de processos e a minha total disponibilidade para ajudar na OM a Medicina portuguesa na luta contra as dificuldades que surgirão nos próximos três anos.

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a e u a l

d

a

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e • o m a d a d e p o s s e

No final da cerimónia,

Sua Excelência a Senhora Ministra da Saúde

dirigiu algumas palavras à assistência.

Exmo. Senhor Bastonário,

Exmo. Senhor Bastonário cessante, Dr. Santana Maia

Senhor Presidente da Comissão Parlamentar da Saúde

Senhor Director-Geral da Saúde Minhas Senhoras e meus Senhores.

e

omeço por agradecer o honroso convite que me foi dirigido para estar presente nesta ceri­ mónia, tão cheia de sim­ bolismo, mas não posso deixar de fazer um pequeno comentário às palavras com que o senhor Basto­ nário iniciou a sua intervenção. Isto para dizer que estou efectivamente na Ordem, não sei se me porá na ordem, no termo e na acepção co­ mum dessa palavra, na medida em que, por natureza, sou pouco proto­ colar e muitas vezes irreverente.

Peço que me aceitem assim. Penso que será a minha maneira equilibrada de funcionar e, neste sentido, e dentro desta óptica, queria obviamente sublinhar a minha disponibilidade total para, com os médicos e restantes profissionais da saúde, empreender todas as reformas que sejam necessárias neste sector. Penso que não se pode fazer nada contra, nem se deve fazer. Todos nós, todos os 10 milhões de cidadãos que existem neste País, serão necessários para empreender as reformas que queremos levar a cabo e que teremos de ser capazes de levar a cabo.

O senhor Bastonário referiu, e bem, que a herança é pesada. É uma herança que resulta de um somatório de várias décadas. Não é só uma herança recente e é a sobrevivência do sector que está posta em causa, eventualmente. Aliás, se aceitei este desafio foi só por me assumir como militante activa da saúde, valores

que eu considero que são conquistas civilizacionais e que nós não podemos pôr em causa por atitudes que afectam a sobrevivência do sector. Trata­ -se de um sector fundamental e necessário, tendo em atenção as condições sócio-económicas da nossa população, a nossa cul­ tura e a necessidade de preser­ var, para todos, uma vida feliz e com qualidade.

Neste sentido reafirmo que conto convQsco, com a vossa participação e colaboração. Tenhamos no entanto em consi­ deração que os problemas são grandes, o que coloca questões extremamente graves ao desen­ volvimento futuro do sistema.

Para esse efeito entendi propor a criação de um Conse­ lho de Reflexão em Saúde que se debruçará sobre esta proble­ mática, fundamentalmente, nas suas vertentes éticas, porque hoje em dia, a questão do financiamento apre­ senta-se com opções de tratamento e escolha de cidadãos objecto de cuidados de saúde em função da sua idade ou do seu estado. É algo que nós não podemos permitir e em relação ao qual devemos estar extre­ mamente atentos. Coloca questões jurídicas da redefinição do conteúdo do conceito do direito à saúde e coloca também questões de financia­ mento das reformas que nós empre­ endermos e decidirmos levar a cabo. Este Conselho será constituído, numa primeira fase, por um núcleo duro que lançará os problemas e que os equacionará. A sua acção vai começar através do lançamento de dois questionários; um primeiro referente ao nível do agrado que a população tem em relação aos cuidados de saúde e um outro diri­ gido aos profissionais do sector

14

inquirindo também o seu grau de satisfação.

Penso que a partir daí teremos os elementos adequados para ini­ ciarmos uma selecção que tem que ser profunda e alargada. Conto obviamente com a classe médica, porque a considero especialmente responsável pela apresentação de contributos, pelo seu nível de forma­ ção e pelo seu grau de informação. Temos que acabar com aquele com­ portamento, que é muito frequente, de as pessoas estarem sempre de fora, não estarem disponíveis para colaborar ou para opinar, e depois estarem sempre com soluções ime­ diatas e com todo o à vontade para criticar algo para que não conse­ guiram contribuir.

Penso que esta atitude respon­ sável é necessária, é imprescindível e considero que a classe médica tem especiais responsabilidades nesta área. Por isso gostei de ouvir os

(12)

desafios que o senhor Bastonário colocou aos médicos e colocou ao Ministério. Penso que o programa de acção que de certa forma descreveu exigiria muitos anos para a sua concretização, mas se nós não o começarmos nunca mais o temos pronto. E como costumo dizer, não tem que ser quem inicia as coisas quem fica com os louros da sua conclusão. Penso que os únicos louros cabem a cada um de nós. É a nossa capacidade de eficientemente e ao seu nível podermos concretizar as várias fases necessárias para uma mudança.

Queria também dizer ao senhor Bastonário que a actual política do Ministério pretende considerar os cidadãos como o centro do sistema e, portanto, convergindo para ele a nossa actuação. Evidentemente, é imprescindível reganhar a dignidade do médico de família, o médico que eu gostaria que fosse, e já o tenho dito várias vezes, - o médico gestor do doente. A super, a hiper especia­ lização tem levado à compar­ timentação das pessoas, o que de certa forma prejudica a relação que deve existir entre o médico e o doente na sua globalidade. Portanto, o entendimento da pessoa como ser global e não como ser partido às fatias só pode ser conseguido através da figura do médico gestor do doente.

Tencionamos levar a cabo algu­ mas experiências piloto de actuação neste sentido. Essas experiências não poderão, obviamente, numa pri­ meira fase, ser muito alargadas. Têm que ser experiências dirigidas, avaliadas e testadas para que depois se possam corrigir de acordo com aquilo que é mais adequado e também tenhamos a noção que, como o senhor Bastonário frisou, e bem, a melhor solução em Bragança pode não ser a melhor solução em Faro. E temos que quebrar, de certa forma, esta uniformização, esta prisão em que estamos todos envolvidos, de soluções únicas para condições e situações completamente diferentes. V amos ter que ganhar a confiança de outros sectores que tenham uma palavra a dizer nesta matéria para fazer de forma diferente porque queremos todos fazer melhor.

Penso que há outros aspectos que o senhor Bastonário referiu que são importantes e que queria sublinhar. Um deles que é a questão da carta de equipamento hospitalar, que é fundamental. Nós continuamos a tomar decisões com base em pres­ sões, as mais diversas, que polarizam

o sistema no seu conjunto e que não são as soluções mais adequadas. Refiro-me, objectivamente, à cons­ trução de grandes unidades hospita­ lares, com uma dimensão hoje em dia até já não usada em nenhuma parte do mundo, que condicionam gravemente a gestão e que provocam em si mesmas desperdícios, que depois recaem contra todos nós e sobretudo não permitem através de um adequado planeamento e de uma adequada afectação de recursos produzir os cuidados de saúde com a qualidade que hoje em dia os cida­ dãos são credores. Eu entendia, até numa óptica que gostei aqui de ouvir, e que o senhor Bastonário referiu, que em Portugal é muito frequente, é chocantemente frequen­ te, que as pessoas ou estão no exercício do poder e são muito res­ peitadas ou se, de certa forma se retiram ou são retiradas, passam a não ser ouvidas, a não ser

conside-radas. Penso que a instituição do Conselho de Honra é uma marca diferente de actuação que eu su­ blinho. Sempre fiz questão, no meu percurso profissional, de dedicar mais atenção às pessoas que não são protagonistas de nada que áquelas que estão a sê-lo neste momento,

porque essas têm sempre muita gente que quer falar com elas, que as quer dignificar. Neste sentido, eu própria já tinha tomado a iniciativa de convidar o senhor Dr. Santana Maia para presidir ao grupo que vai ter como incumbência proceder à elaboração da Carta Hospitalar. Conto com a colaboração empenhada do Dr. Santana Maia e penso que concerteza vamos poder chegar a um objectivo comum que é o de adequar o investimento às reais necessidades da população e conseguir dessa forma uma adequação dos recursos às necessidades.

Considero também fundameptal, e é uma tónica 'da nossa actuação, a interligação de todos os interve­ nientes locais e regionais. A actual estrutura orgânica do Ministério da Saúde não está adequada. As recém­ criadas Administrações Regionais de Saúde, em meu entender, criaram mais um patamar de intervenção,

(13)

não conseguiram aproximar as deci­ sões da população a que se dirigem. V ai haver um estudo aprofundado, depois deste período de teste que já decorreu, no sentido de ajustar a orgânica regional e também a orgâ­ nica central àquilo que terá de ser um bom desempenho do Ministério. Penso, que se conseguirmos ajustar e garantir a acessibilidade dos cida­ dãos, teremos de certa forma, resol­ vida uma parte dos grandes proble­ mas que hoje em dia descarac­ terizam aquilo que o cidadão espera do Serviço Nacional Saúde e dos sistemas de saúde em geral. Para além daquelas questões de fundo que vão ser reflectidas a nível desse Conselho, com a participação alar­ gada que já sublinhei, com a recolha de contributos individuais e colectivos indispensáveis, vamos também empreender, e desde já, toda uma série de intervenções pontuais que penso serem desejadas, e desejáveis e que são concre­ tizáveis. É neste âmbito que envida­ remos todo o nosso· esforço e todo o nosso empenho.

Estou convicta que vou poder contar com a Ordem, como com todas as Associações que tenho recebido até ao momento e que registo o enorme empenhamento que têm em fazer diferente para fazer melhor. V ou terminar esta interven­ ção agradecendo mais uma vez o convite que me fizeram para estar aqui presente e manifestando ao senhor Bastonário a .minha total abertura ao diálogo, também na convicção de que estamos em campos de certa forma separados, mas convergentes ..

É indispensável que as divergên­ cias que existem sejam potencia­ doras de encontro para a melhor solução para cada uma das questões concretas que se nos colocam e obviamente manifesto toda a minha disponibilidade para empreender de imediato toda uma série de reflexões sobre aspectos pontuais que o senhor Bastonário referiu no que se refere às carreiras médicas, no que se refe­ re obviamente à Lei de Gestão Hospitalar, de que o principal não é, no meu entender, a nível dos

pró-prios conselhos de administração, mas a nível das próprias condições de operacionalidade das instituições em que eu pretenderia avançar para um maior grau de autonomia, acom­ panhada obviamente de um maior grau de responsabilização.

Penso que atribuir às experiên­ cias do sector privado condições privilegiadas em relação ao sector público nunca nos permitirá compa­ rar os dois modelos e tirar as conclu­ sões adequadas.

Há lugar para todos, mas as re­ gras têm que ser iguais. Desenvol­ verei um enorme esforço nesse sentido, porque é preciso também ganhar a adesão das pessoas para uma nova forma de estar e de fazer.

Quero desejar-lhe senhor Basto­ nário as maiores felicidades nas novas funções que entendeu assumir e penso que sobre a sua direcção avisada e experiente concerteza que a Ordem conhecerá uma época de dignificação com a qual Lodo o país ganhará.

Muito obrigada e muitas felici­ dades.

ORDEM DOS MÉDICOS . SECÇÃO REGIONAL DO SUL

Curso de Bridge

lnído:

29.01.96

Horário:

18h às 20h

Local:

Ordem dos Médicos

Inscrição: Limitada a 8 alunos Preço: 15 000$00

Orientação Técnica: Dr. Lima e Silva

Sector de Cultura - Secretariado -

Manuela Zagalo

·

2

ª

a

6

ª

Feira das 1 O às

13

h

e das 14 às 18h

Av. Almirante Gago Coutinho, 151 - 1700 Lisboa· Telefone: 01-847 06 54 · Fax 01-84712 15

FICHA DE INSCRIÇÃO

Nome

Cédula Profissional N

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_______ _

Morada---Telefone ________ _

Curso Pretendido

Lisboa

/

D

Iniciação

D

Aperfeiçoamento

/

"'

·

(14)

- - -

� -- --- -

-

.

actual dade.med camento

2

ª

Reunião sobre

Política do Medicamento

A Ordem dos Médicos

levou a efeito no dia 12

de Dezembro a segunda

Reunião sobre Política

do Medicamento.

Os trabalhos

desenvolveram-se em

três grupos de reflexão,

cujas contribuiç6es e

conclus6es qui se

present m.

A Ordem dos Médicos propõe:

1. Um amplo debate sobre o

tema envolvendo todos os

parceiros e tutelas

2. Revisão do enquadramento

legislativo actual que deverá,

mantendo sempre em primeiro

lugar a defesa do doente, ser

suficientemente abrangente a

todos os tipos e fases da

Investigação.

3. A constituição e operacionali­

dade das Comissões de Ética

em todas as Unidades de

Saúde.

4. A formação duma Comissão

Nacional de Ética para a

Investigação Clínica, a fim

de emitir parecer sobre a

validade técnico-científica de

projectos de âmbito

populacional.

5. Que sejam criados incentivos

para os investigadores e para

quem investe na Investigação.

6. Estar disponível para

dinamizar um consenso

nacional nesta área do

Desenvolvimento.

Grupo 1

Responsabilidade da

Prescrição/ Automedicação/Racionalização

O

médico é por inerência dos seus conhecimentos técni­ co-ci«:ntíficos o profissional habilitado para a prescrição de terapêuticas medicamentosas. É também o profissional habilitado para o seguimento da terapêutica e vigilância dos efeitos dos medica­ mentos.

A Ordem dos Médicos defende a liberdade de prescrição do médico e opõe-se terminantemente à substi­ tuição.

A utilizacão de medicamentos prescritos pelo médico é da respon­ sabilidade do médico prescritor. A utilização de medicamentos não sujeitos a receita médica e que não tenham sido objecto de prescrição médica, é da responsabilidade individual do cidadão ou de quem dispensa o medicamento.

A Ordem dos Médicos, tendo em vista a defesa da saúde pública, vê com preocupação a utilização de alguns dos medicamentos não sujei­ tos a receita médica, tal como o pre­ visto no Dec.Lei 209/94.

A Ordem dos Médicos defende uma racionalização da prescrição assente num uso do medicamento personalizado e criterioso, apoiado em bases científicas consensuais da terapêutica e com a melhor relação efectividade/custo.

A Ordem dos Médicos preconiza a formulacão de consensos de orien­ tação terapêutica.

A Ordem dos Médicos é contra

qualquer tipo de racionamento de medicamentos em resultado de polí­ ticas economicistas.

A Ordem dos Médicos nunca se opôs à introdução de medicamentos genéricos com identificação do La­ boratório na marca e com garantia de qualidade.

A Ordem dos Médicos compar­ tilha a preocupacão da necessidade da contenção de custos com os medicamentos e, nessa perspectiva, preconiza a dispensa dos medica­ mentos aos seus utilizadores, ao P.V.P. aprovado, em farmácias junto dos serviços e unidades de sa�de pú­ blicas, sob responsabilidade técnica de Farmacêuticos.

PARTICIPANTES

Dr. Adriano do Rosário Natário Dr. António dos Reis Marques Dr. Carlos Alberto Raposo de Santana Maia

Dr. Francisco José Madail Rosa Prof Dr. Jorge Manuel Silva Junqueira Polónia

Dr. José Luis Sacadura Biscaia da Silva Pinto

Dr. José Miguel Marques Boquinhas

Prof. Dr. Manuel António Vaz de Silva e Sousa

Dra. Maria Ermelinda da Silva Mendes Assis Camilo

Dra. Maria Paula Broeiro Gonçalves

Prof. Dr. Virgílio Manuel Prego Durão

(15)

a c t u a l d a d e

Grupo 2

Acções de Formação,

Informação e Acreditação.

Aprofundamento do Protocolo

Médicos-Indústria-Estado

A

Ordem dos Médicos irá encetar acções que tornem transparentes as relações entre os interventores na área do medicamento (Médicos, Estado, indústria farmacêutica, farmácias e consumi­ dores). Entre estas medidas considera necessário aprofundar e regulamentar o protocolo actualmente existente entre APIF ARMA e Ordem dos Médicos.

A Ordem dos Médicos propõe-se estabelecer com carácter experimental um sistema de creditacão de acções de formação.

A Ordem dos Médicos considera útil a criação de uma alta autoridade para a publicidade do medicamento.

PARTICIPANTES

Dr. António Manuel Martins Ricardo Romão Prof. Dr. Carlos Soares Ribeiro

Prof. Dr. Henrique Fernando da Silva Luz Rodrigues Dr. João Carlos Leitão Ribeiro dos Santos

Dr. Joaquim Machado Cândido

Dr. Joaquim Pedro Ferreira Canas Mendes Dra. Maria Perpétua Gomes Rocha

Dr. Pedro Manuel Mendes Henriques Nunes Dr. Rui Simões Bento

m e d c a m e n t o

Grupo 3

Investigação e

Desenvolvimento

A

Investigação e Desenvolvimento de novos medicamentos e formulações é uma necessidade de qualquer Sociedade que pretende progredir e para a qual deve contribuir todo o cidadão informado, na medida das suas possibilidades.

Sendo exígua a componente de Investigação Básica no nosso País, dispõe-se em contrapartida duma boa base para Investigação Clínica, seja em infraestruturas seja em recursos humanos.

No presente estão reunidas em grande medida, a maioria das condicionantes para a realização de Ensaios Clínicos, no estrito respeito pelos direitos humanos e dignidade do sujeito passivo da investigação, conforme consagrado no recente Decreto Lei sobre Ensaios Clínicos. Este é no entanto demasiado limitativo para abranger todas as áreas da investigação actual.

A investigação clínica representa um esforço de colaboração multidisciplinar em que estão envolvidos diferentes técnicos e profissionais da Saúde. Esta colaboração é geralmente multicêntrica e integrada em grandes espaços regionais e/ou comunitários.

PARTICIPANTES

Dr. António Fernando Neves da Silva Dr. Miguel António Ponces de Carvalho Vigeant Gomes

Dr. Rasiklal Ranchhod

,

ORDEM DOS MEDICOS • CONSELHO NACIONAL EXECUTIVO

AVISO QUOTIZAÇÕES PARA 1996

O Plenário dos Conselhos Regionais realizado em 3 de Junho de 1995 apoiou uma recomendação do Conselho

acional Executivo referente à actualização regular e periódica das quotizações à Ordem dos Médicos de acordo com o Índice de Preços no Consumidor (IPC) publicado pelo Instituto acional de E tatfstica.

Em conformidade com os dados disponíveis o IPC foi de 5% pelo que as quotas a emitir em 1996, sofrerão um aumento de 5%, o que se traduz para as quotas de maior montante em 100 00 mensais.

Este aumento, embora pouco ignificativo, vem repôr parcialmente a desvalorização da quotização dos últimos 3 anos em que não se verificou qualquer aumento.

Nova Tabela de quotizações

1

º

Escalão a) Anuais - 15 720 Semestrais - 7 860 Escalão b) Anuais - 25 200 Semestrais - 12 600

a) Médicos frequentando o Internato Geral (exercício tutelado)

b) Todos os médicos inscritos na Ordem em pleno exercício profissional

Escalão e)

Anuais - 7 560$ emestrais - 3 780$

c) 1édicos com 70 ou mais anos de idade, mediante requerimento específicamente dirigido ao Tesoureiro da cção Regional

(16)

actual dade. tomada d e p o s s e

Conselho

de Honra

O Prof. Carlos Ribeiro

deu posse ao Dr. Carlos Santana Maia

como primeiro Presidente do Conselho

de Honra da Ordem dos Médicós.

E

ste Conselho é um órgão permanente de aconselhamento do CNE e do Presidente da Ordem dos Médicos. Tem como funções a assessoria na representação internacional, bem como em matérias de í ndole técnico-científica e profissional. Poderá desempenhar outras funções delegadas pelo CNE em organismos nacionais ou internacionais. É constituído por ex-dirigentes que não desempenhem quaisquer funções noutros órgãos da Ordem dos Médicos, nomeadamente de natureza executiva.

O Conselho de Honra possui membros inerentes e membros nomeados, no total de 11 membros. São membros inerentes os médicos que Lenham desem­ penhado as funções de Presidente da Ordem dos·

Médicos, pelo menos durante um mandato completo. São membros nomeados os médicos que pela sua dimensão humanista, ética e técnico-científica adquiri­ ram prestígio nacional. Os membros nomeados são pro­ postos pelos Conselhos Regionais e apreciados em Conselho Nacional Executivo.

TOMADA DE POSSE · 18 de Dezembro

Secção

Regional

do Sul

(17)

actualidade. tomada de' posse

TOMADA DE POSSE · 3 de Janeiro

Secção

Regional

do Centro

TOMADA DE POSSE · 3 de Janeiro

Secção

Regional

do Norte

(18)

O Conselho Nacional de Ética

JUSTIFICAÇÃO DO

PARECER

para as Ciências da Vida ( onde a Ordem

dos Médicos está representada pelo

seu Bastonário) aprovou recentemente

ordenamento político com que se dota. Desde o nível das decisões pessoais quan­ to à própria saúde ou aos cuidados de saúde a prestar a outros, ate as decisões relativas a sociedade e as

um importante documento sobre

as questões éticas na distribuição

1. Tem-se debruçado o

Conselho sobre problemas éticos suscitados por técni­ cas muito recentes advindas no domínio das Ciências da vida. Paralelamente, desde o incío do seu funcionamen­ to que o Conselho indicou

e utilização dos recursos para a saúde.

Foi relator a deste documento a Senhora

Doutora Maria de Lourdes Pintassilgo.

suas estruturas, encon­ tram-se zonas problemáticas onde se inscrevem interroga-um outro campo de idêntica impor­

tância e de impacto mais universal como cabendo dentro do exercício do seu mandato. Trata-se da "distri­ buição e utilização dos recursos para a saúde "e das questões éticas que levanta.

2. Compete ao Conselho "analisar sistematicamente os problemas morais suscitados pelos progressos científicos nos domínios da biologia, da medicina ou da saúde em geral". Não podem ficar de fora desta análi­ se os chamados "cuidados de saú­ de", quer na sua componente técnica quer na sua componente política.

3. A saúde é hoje considerada,1 com a educação e os mass-media, como uma das produções culturais que ocupam o lugar central na sociedade e, em grande parte, a determinam. O funcionamento da saúde na socie­ dade é assim necessariamente um campo onde se articulam e se medem as vontades actuantes na' sociedade quanto a sua capacidade de responder aos direitos e as necessidades dos seus membros. As questões que se levantam n ão podem deixar de ter a sua raiz na ética e a sua plena adequação prá­ tica na esfera do entendimento que a sociedade tem de si própria e do

ções do domínio dos fundamentos éticos.

1 PARTE • OS CONCEITOS

4. O problema da gestão da saúde foi até o século XVIII um problema de filosofia moral aplicada, relativo aos deveres de cada um para

consigo próprio. Face ao sofri­

mento humano, a Igreja e outras

instituições, movidas pela com­

paix ão, fizeram do cuidado aos doentes uma das suas iniciativas de maior alcance social. Contribuíram assim, de modo decisivo, para a

noção da responsabilidade social na gestão da saúde.

(19)

a e u a

Com a civilização industrial, a gestão da saúde, iniciada pela necessidade e promoção da higiene pública e, mais tarde, pela expansão dos bene­ fícios da vacinação, tornou-se tam­ bém uma responsabilidade do Estado.

5. Definir em que consiste "a saúde" tem sido uma constante em cada época. Reflectem-se nessas definições os conhecimentos biológi­ cos da época, a relação da pessoa com o corpo e o grau de represen­ tação de cada função do corpo, o entendimento da morte.

No nosso tempo, a "saúde" surge conceptualmente ligada não só a eliminação ou redução da doença mas também a todas as condições da história pessoal, do contexto fami­ liar, de trabalho e de ambiente que dete�minam o funcionamento optimal dos sistemas físicos e psíquicos que constituem a pessoa. O nosso século integrou, de forma definitiva, no conceito de "saúde" tanto a interde­ pendência psico-somática do indiví­ duo como o que está subjacente à "construção social da doença", i.e., a interdependência entre o bem-estar da pessoa2 e as características do meio social e ambiental que a rodeiam.

6. A comunidade internacional tem vindo a elaborar, desde o fim da II Guerra Mundial, os conceitos de 'saúde' bem como os critérios que podem guiar os indivíduos, as comunidades e os Estados a criar condições de melhor saúde para todos.

Está consagrada a definição de 'saúde' elaborada pela OMS:

"A

saúde é um estado de bem-estar físico, mental e social, e não uni­ camente a ausência de doença ou de enfermidade.".

E no seu mais recente documento3, a OMS enuncia as condições funda­ mentais para a saúde: " ... a paz, a habitação, a educação, a alimen­ tação, o rendimento, um eco-sistema estável, recursos 'sustentados', justiça social e equidade".

7.

Os textos normativos aprovados internacionalmente, ao reconhe

-da de

cerem a 'saúde' como um 'bem' em íntima relação com outros bens', fornecem o quadro para a formulação das questões neste domínio não em termos dialécticos mas sim em termos holísticos. As dicotomias frequentes ('isto' ou 'aquilo'), sucede hoje uma perspectiva que comple­ xifica o problema mas que, parado­ xalmente, lhe abre outras perspec­ tivas.Com a 'descoberta' da inter­ penetração de todos os sectores da vida humana, a noção de 'saúde' contida nas suas próprias fronteiras alarga-se e torna-se um 'facto social' da maior importância. É reconhecido como "força unificadora " do tecido social, factor decisivo do desenvol­ vimento, elemento-chave na erradi­ cação da pobreza4.

Conceitos tais como 'segurança na saúde"5 ganham aceitação ao torna­ rem a noção de 'saúde' um conceito abrangente, indo bem para além dos processos e esquemas que garantem o acesso aos cuidados de saúde.

A SAÚDE

E OS DIREITOS SOCIAIS

8. Já em 1944 havia sido afirmada a necessidade de assegurar a "certeza de um dado mínimo de sustento para todos" sob a forma de "um mínimo de alimento, teclo e vestuário suficiente para preservar a saúde e a capacidade de trabalhar".

O Preâmbulo da Declaração Univer­ sal dos Direitos do Homem é elo­ quente nesta direcção. Faz notar que "a maior aspiração para as pessoas" consiste "no advento de um mundo em que os seres humanos possam gozar de liberdade de palavra, de religião e de liberdade em relação ao medo e às necessidades".

9.

Liberdade em relação ao 'medo' e as 'necessidades' - aqui se inscreveu historicamente a formulação dos direitos não só cívicos (liberdade em relação ao 'medo') mas também de natureza social (liberdade em relação às 'necessidades'). Aqui se inscrevem 'a liberdade e as condi­ ções da liberdade', fórmula consa­ grada desde o princípio dos anos 80 para exprimir a indivisibilidade de todos os tipos de direitos.

23

10.

Apesar destas fórmulas e inten­ ções, não conseguimos chegar ao fim do século com a garantia de que os direitos sociais são respeitados enquanto direitos. Verifica-se a não­ aceitação prática da natureza de 'direito' aplicado ao campo social, económico e cultural (e, logo, o não­ reconhecimen to do imperativo inerente ao respeito pela 'saúde' enquanto 'direito').

Esta foi uma das áreas mais contro­ versas no debate que se seguiu à proclamação da Declaração U ni·ver­ sal dos Direitos do Homem. Pre­ tendia-se então elaborar uma convenção internacional que com­ prometesse politicamente todos os actores sociais e, em particular, os Governos na prossecução, das condi­ ções, necessárias para a efectivação de todos os direitos humanos. Não foi possível chegar a consenso sobre uma tal convenção. Em sua substi­ tuição foram elaborados e votados dois Pactos Internacionais: o Pacto Internacional dos Direitos Cívicos e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Sociais, Económicos e Culturais.

11.

Através do debate que, durante grande parte dos anos 50 e 60, caracterizou a elaboração e o proces­ so de votação dos dois Pactos não foi possível entrosar uns nos outros os vários tipos de direitos. Mas o espí­ rito essencial desse entrozamento foi mantido na expressão preambular dos dois Pactos que considera os dois tipos de direitos como 'indivi­ síveis e interdependentes'.

12. Um dos textos contemporâneos de maior vigor na explicitação da indivisibilidade dos direitos é o discurso de João Paulo II à ONU em 2 de Outubro de 19796:

"Que me seja permitido enumerar alguns (direitos) entre os mais importantes que são universalmente reconhecidos: o direito à vida, à liber­ dade e à segurança da pessoa; o direito à alimentação, ao vestuário, à habitação, à saúde, ao repouso e ao lazer; o direito à liberdade de expres­ são, à educação e à cultura; o direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião e o direito de manifestar a sua religião,

Referências

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