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Cópias dos acórdãos do Tribunal da Relação de Lisboa e do Supremo Tribunal de Justiça proferidos no processo de registo de marca nacional n

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Cópias dos acórdãos do Tribunal da Relação de Lisboa e do Supremo Tribunal de Justiça proferidos no pro- cesso de registo de marca nacional n.° 238 653. Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa:

Parfums Rochas, S. A., com sede em Paris, recorreu do despacho do director do INPI - Instituto Nacional da Pro- priedade Industrial publicado em 29 de Novembro de 1991 no Boletim da Propriedade Industrial, n.° 5 - 1991, que concedeu protecção à marca nacional n.° 258 653, Monsieur C. da Rocha, com fundamento em esta se confundir com marcas da recorrente.

Foram cumpridos os artigos 206.° e 207.° do Código da Propriedade Industrial.

Em sentença final o M.mo Juiz julgou o recurso impro- cedente, confirmando o despacho recorrido.

Inconformada, Parfums Rochas, S. A., apelou, concluindo as suas alegações pela forma seguinte (com lapso de escrita quanto ao n.° 238 653, e não 238 658):

1 - Está em causa a concessão de protecção à marca nacional n.° 238 653, Monsieur C. da Rocha.

2 - A marca nacional n.° 238 653 destina-se a assinalar produtos da classe 25. , destinados exclusivamente para ex- portação.

3 - A apelante é titular das marcas internacionais Ro- chas Paris, Madame Rochas e Parfums Rochas, que as- sinalam produtos da classe 25. , e ainda das marcas Madame Rochas, Madame Rochas e Monsieur Rochas, destinadas a produtos da classe 3.'

4 - Na sentença da 1.ª instância foi considerado que entre as marcas Monsieur Rochas e Monsieur C. da Rocha existe semelhança, sendo plausível e razoável a confusão do con- sumidor e que a diferença de produtos que assinalam não é bastante para obviar a tal confusão.

5 - Foi ainda ali considerado que no espaço geográfico protegido pelo registo da marca nacional n.° 238 653, Mon- sieur C. da Rocha, não existe possibilidade de concorrência, já que esta marca destina-se a assinalar exclusivamente pro- dutos para exportação.

6 - No entanto, se a marca nacional n.° 238 653 se des- tina apenas a assinalar produtos para exportação, os produtos assinalados pela marca internacional n.° 521 805, Monsieur Rochas, para além de poderem ser vendidos no mercado interno, também podem ser exportados.

7 - Apesar do disposto no artigo 124.°, n.° 4.°, do Có- digo da Propriedade Industrial, mesmo no mercado português pode ocorrer confusão entre os consumidores, dado que os produtos exportados pelo titular da marca sub judice podem circular livremente na Comunidade Europeia.

8 - Não podendo o titular da marca Monsieur C. da Rocha impedir as importações paralelas dada a teoria do es- gotamento do direito à marca, formulado pelo Tribunal das Comunidades Europeias.

9 - Verificando-se, desta forma, verdadeiras situações de concorrência, já que é possível, como se vê, que no mer- cado português viessem a aparecer produtos assinalados com a marca Monsieur C. da Rocha.

10 - O que originaria, inevitavelmente, situações de erro ou confusão entre os consumidores, que poderiam atribuir aos produtos assinalados com uma e outra das marcas uma origem comum.

11 - Nos termos do artigo 212.° do Código da Proprie- dade Industrial, constitui concorrência desleal o acto suscep- tível de criar confusão com os produtos dos concorrentes. 12 - Sendo fundamento de recusa de registo de marca, nos termos do artigo 187.°, n.° 4.°, do Código da Proprie- dade Industrial, o reconhecimento de que o requerente pre- tende fazer concorrência desleal ou que esta é possível in- dependentemente da sua intenção.

13 - Donde resulta que, sendo semelhantes as marcas e os produtos que estas assinalam e podendo estes ser co- mercializados nos mesmos mercados, é manifesta a possibi- lidade de confusão, pelo que deverá ser recusada protecção ao registo da marca nacional n.° 238 653, Monsieur C. da Rocha, com fundamento em concorrência desleal.

Contra-alegando, o apelado pugna pela manutenção da decisão.

Corridos os vistos, cumpre apreciar e decidir, para o que importa considerar os seguintes factos provados:

1) César Augusto Couto da Rocha requereu ao direc- tor do Serviço de Marcas no Instituto Nacional da Propriedade Industrial o registo, para protecção em Portugal, da marca comercial Monsieur C. da Ro- cha, que se destina a produtos exclusivamente de exportação, de «artigos de vestuário e calçado» (do- cumento n.° 1 do processo apenso);

2) Parfums Rochas, S. A., opôs-se invocando ser ti- tular do registo da marca internacional n.° 451 949, cujo elemento designativo é «Rochas Paris», pro- tegida em Portugal por despacho de 8 de Maio de

1981 (documentos a fls. 14 e 17);

3) Parfums Rochas, S. A., é titular das seguintes marcas internacionais protegidas em Portugal:

a) N.° 296 451, Madame Rochas - documen- tos a fls. 18 e 22;

b) N.° 383 428, Parfums Rochas - documentos a fls. 24 e 27;

c) N.° 232 108, Madame Rochas - documen- tos a fls. 28 e 31;

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d) N.° 554 086, Madame Rochas - documentos a fls. 32, 33 e 36;

e) N.° 521 805, Monsieur Rochas - documen- tos a fls. 37 e 40;

4) As marcas referidas nas alíneas a) e b) destinam- -se a assinalar os seguintes produtos da classe 25.ª: «vêtements y compris les bottes, les souliers et les pantufles»; as restantes destinam-se a assinalar di- versos produtos da classe 3.ª (documentos citados); 5) O pedido referido na alínea 1) foi deferido por despacho de 17 de Maio de 1991, publicado no Boletim da Propriedade Industrial, n.° 5 - 1991, de 29 de Novembro de 1991, que concedeu protec- ção à marca nacional n.° 238 653, Monsieur C. da Rocha, na classe 25.' (documento a fl. 12), e re- fere-se a produtos exclusivamente para exportação: artigos de vestuário e calçado (documento a fl. 13). O objecto do recurso, como se vê das conclusões das alegações, restringe-se a dois aspectos:

1.° A confusão entre as marcas Monsieur Rochas e Monsieur C. da Rocha, apesar de se referirem a produtos diferentes, e a concorrência desleal que daí possa resultar;

2.° A possibilidade de serem vendidos em Portugal produtos da marca Monsieur C. da Rocha, apesar de estes se destinarem exclusivamente à exporta- ção, por força da abertura do espaço comunitário. I - As marcas em causa são apenas nominativas porque consistem num sinal ou conjunto de sinais nominativos: uma delas, Monsieur Rochas, e a outra, Monsieur C. da Rocha. Nas marcas nominativas, o primeiro aspecto a considerar é o da semelhança fonética e, logo a seguir, a grafia. E, sem dúvida, que entre elas existe semelhança fonética e gráfica, sobretudo se atentarmos que as palavras portuguesas «C. da Rocha» se seguem à palavra francesa «Monsieur», levando a que se pronunciem «à francesa» as palavras «C. da Rocha». Mas não basta a existência de confusão. É necessário que as marcas se refiram a objectos ou produtos inscritos no re- portório sob o mesmo número ou sob números diferentes, mas de afinidade manifesta (artigo 94.° do Código da Pro- priedade Industrial), isto é, «a marca há-de ser constituída por forma tal que se não confunda com outra anteriormente adoptada para o mesmo produto ou semelhante - princípio da novidade ou da especialidade da marca» (Ferrer Correia, Lições de Direito Comercial, edição de 1965, p. 345). É que a lei, ao pretender evitar a confusão, tem em vista a existência de marcas idênticas ou semelhantes para os mesmos produ- tos e em relação ao consumidor de experiência média. Mas, como ensina ainda Ferrer Correia (ibid., p. 346), «não pode haver confusão entre a marca adoptada para certo produto e a marca adoptada para outro que daquela seja completamente distinto. Por isso, a lei restringe o princípio da especialidade da marca aos produtos da mesma espécie ou afins».

Mas uma coisa é as marcas destinarem-se a assinalar produtos diferentes e sem qualquer afinidade (para efeitos de imitação ou contrafacção - artigos 93.', n.° 12.', e 94.° do Código da Propriedade Industrial) e outra é apurar se, mesmo assim, existe ou pode existir concorrência desleal.

A marca tem como função identificar a proveniência de um produto ou serviço relacionando-se com um determinado agente económico, e garantir determinadas qualidades do produto ou serviço, do ponto de vista económico, exerce uma função publicitária ou de sugestão - cf. Dr. Carlos Olavo, «Propriedade industrial», Colectânea de Jurisprudência, ano XII, t. 2, p. 21.

Para que haja concorrência desleal «a lei não exige o exercício de actividades económicas que satisfaçam necessi- dades do mesmo tipo» (Dr. Carlos Olavo, «Propriedade in- dustrial», Colectânea de Jurisprudência, ano xii, t. 4, p. 15). Nem o artigo 212.° do Código da Propriedade Industrial nem o artigo 10.°-bis, n.° 3, do parágrafo 3.°, da Convenção da União de Paris o exigem. E o mesmo professor ensina ainda que «as empresas tendem a estender a sua actividade aos sectores económicos mais diversos, o que determina a ne- cessidade de ampliação de âmbito subjectivo de aplicação de protecção contra a concorrência desleal, sob pena de se frustrar, injustificadamente, a expectativa dessas empre- sas de beneficiar, nos novos sectores de actividade, da reputação que os sinais distintivos com que iniciaram e expandiram o seu comércio granjearam. Mas a diversifi- cação actual não se limita à extensão das actividades dos produtores, abrangendo ainda a comercialização, sendo possível obter no mesmo estabelecimento produtos da mais variada espécie, desde artigos de perfumaria a alimenta- ção. Daí também que o público mais facilmente confunda organizações empresariais distintas, habituado como está a que as grandes empresas actuem nos sectores económi- cos mais diversificados, o que justifica inteiramente o re- forço das cautelas estabelecidas por lei para evitar o erro ou confusão dos consumidores. Deve, assim, entender-se que pode haver concorrência desleal entre quaisquer acti- vidades económicas que se insiram no mesmo sector de mercado independentemente de existir entre elas qualquer relação de identidade, substituição ou complementaridade» (idem, pp. 15 e 16), isto é, portanto, independentemente da identidade dos produtos ou serviços.

A diversificação das actividades dos produtores e o alar- gamento da comercialização dos produtos são bem patentes nas marcas internacionais da apelante protegidas em Portu- gal - cinco [cf. o facto provado na alínea 3)]. Grande parte do público consumidor num certo sector de mercado, femi- nino e masculino, mas mais aquele, sabe que Monsieur Rochas e Madame Rochas são marcas ligadas à indústria da perfumaria francesa. E sabe, igualmente, que esta marca com este elemento nominativo «Rochas» também comer- cializa vestuário e calçado, à semelhança do procedimento de outras conhecidas marcas. Assim, o apelado, lançando no mercado produtos com a marca Monsieur C. da Rocha, pode induzir o público consumidor em erro, já que é legítimo que ele pense tratar-se de mais um produto «Rochas», com o mesmo nível de qualidade, credibilidade e garantia. E essa indução em erro advirá, justamente, da palavra antecedente «Monsieur». O que se irá reflectir, pelo menos em dois aspectos: se os produtos Monsieur C. da Rocha forem de qualidade inferior, o prejuízo recairá sobre a apelante, e o apelado, ao comercializar os produtos, irá beneficiar da pu- blicidade feita aos produtos da apelante. Aliás, esta Rela- ção, no Acórdão de 3 de Julho de 1990 (Colectânea de Jurisprudência, ano xv, t. 4, p. 119), já decidiu que o facto de duas marcas se destinarem a assinalar produtos diferen-

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tes e sem afinidade não esgota todas as facetas possíveis da concorrência desleal, em especial quando a que, primeira- mente, obteve protecção é de excepcional renome.

11 - Estando provado que os produtos a que se refere a marca Monsieur C. da Rocha se destinam exclusivamente à exportação, poderão os mesmos coexistir em Portugal, à venda, com os produtos da apelante, uma vez que desde 1 de Janeiro do corrente ano foram abolidas as fronteiras en- tre os 12 países da CE? Esta abolição, no que respeita à livre circulação de mercadorias, deve interpretar-se «em fun- ção do objectivo a atingir, a saber: a realização de condi- ções comuns e uniformes, permitindo aos produtos circular entre os países da comunidade, como no interior de um merca- do nacional. Para este fim, dois tipos de acções são visados pelo Tratado, um complemento do outro: uma acção repressiva, visando eliminar os entraves ao comércio intracomunitário, e uma acção criadora, visando definir, ao nível comunitário, nor- mas e regras comuns, respeitando à comercialização dos pro- dutos» (Dr. A. Mattera, «Libre circulation des marchandises et articles 30 à 36 du Traité CEE», in Revue du marché commun, n.° 201, Novembro de 1976, pp. 2 e segs.).

Posto isto, logo se verifica a razão das dúvidas da ape- lante, pois o conceito de exportação consagrado no ar- tigo 124.°, n.° 4.°, do Código da Propriedade Industrial, em- bora não desactualizado, carece de interpretação à luz dos novos conceitos de mercado. Assim, a exportação referida no artigo continua a abranger a saída de produtos do País para fora, ou só para os países estranhos à CE? é que qual- quer nacional de qualquer dos «doze» não exporta, mas pode vender os seus produtos no mercado de qualquer Estado membro da mesma forma como o pode fazer no seu pró- prio país. Dentro do espaço comunitário, e tendo em conta os países que o constituem, conceitos como exportação ou importação deixaram de fazer sentido, ou, pelo menos, dei- xaram de ter o sentido que tinham. Sendo assim, é perfeita- mente admissível que possa vir a existir comercialização paralela, sem que os titulares das marcas em confronto pos- sam obstacular a ela, porque «legalizada» pelas normas comunitárias e porque o artigo 8.°, n.° 2, da Constituição da República Portuguesa estabelece o primado das normas de direito internacional convencional (como são as normas co- munitárias) sobre as leis ordinárias. Por isto, não deixa de ser verdade, como refere a apelante, que «os produtos as- sinalados com as marcas em confronto poderiam ser adqui- ridos pelos mesmos consumidores, tanto no mercado externo como no mercado português».

Nestes termos, acordam em julgar a apelação procedente, pelo que se revoga a decisão recorrida, recusando-se protecção ao registo da marca nacional n.° 238 653, Monsieur C. da Rocha.

Custas pelo apelado.

Lisboa, 28 de Outubro de 1993. - (Assinaturas ilegíveis.)

Acordam no Supremo Tribunal de Justiça:

Parfums Rochas, S. A., recorreu em processo a correr termos pelo 14.° Juízo Cível de Lisboa, do despacho do director do INPI - Instituto Nacional da Propriedade In- dustrial de 17 de Maio de 1991, publicado no Boletim da Propriedade Industrial, n.' 5 - 1991, de 29 de Novem- bro de 1991, o qual concedeu protecção à marca nacional

n.° 238 653, Monsieur C. da Rocha, requerida por César Augusto Couto da Rocha, invocando para tal que aquele se confunde com marcas suas.

Deu-se cumprimento ao disposto nos artigos 206.° e 207.° do Código da Propriedade Industrial, tendo respondido o referido Instituto e o César Rocha.

Na 1.3 instância o recurso foi julgado improcedente, desse modo se tendo confirmado o despacho recorrido.

Mas o requerente recorreu, e no Tribunal da Relação de Lisboa essa decisão foi revogada, decidindo-se recusar pro- tecção ao registo da marca em causa.

Foi então a vez de, inconformado, recorrer para este Tri- bunal o César da Rocha, o qual nas suas alegações formulou as seguintes conclusões:

A marca nacional n.° 238 653, Monsieur C. da Rocha, que lhe foi concedida, destina-se a assinalar produ- tos da classe 25.', destinados exclusivamente à ex- portação;

As marcas internacionais da recorrida não podem so- frer prejuízo em Portugal, pois a marca nacional dele, recorrente, não pode ser levada ao comércio nacional;

As marcas da titularidade da recorrida são marcas in- ternacionais, sendo esta uma sociedade de direito francês, e não de direito português, pelo que não existe aqui qualquer fenómeno de exportação de Portugal para o estrangeiro, mas sim de importação de França para Portugal;

É somente nos Estados que receberem a marca nacio- nal dele, recorrente, que se porá o problema de sa- ber da sua conformidade em face das respectivas legislações;

No quadro da concorrência desleal, o acto só poderá ser qualificado como desleal quando possa originar um prejuízo a outro agente económico, através da subtracção de clientela, efectiva ou potencial; tudo se resume, assim, à questão da subtracção ilícita de clientela no âmbito de um determinado mer- cado;

Os mercados que estão em causa nas marcas em con- fronto são o mercado português (para as marcas da titularidade da recorrida) e o mercado de exporta- ção (para a marca nacional da titularidade dele recorrente);

A marca nacional da titularidade do recorrente nunca poderá ser utilizada em Portugal, sob pena de cadu- cidade;

Os produtos a exportar pelo recorrente sob a marca na- cional da sua titularidade poderão ser por si fabri- cados, sendo irrelevante saber quem os fabrica; É o próprio recorrente que exportará directamente os

produtos sob a marca nacional da sua titularidade; Compete ao recorrente salvaguardar que a marca na- cional da sua titularidade não seja comercializada em Portugal;

Não há qualquer possibilidade de confusão entre as marcas em confronto que conduza ao engano o consumidor ou produza prejuízos à recorrida; O recorrente não praticou qualquer acto de concorrên-

cia desleal quer na sua forma dolosa quer na sua forma negligente, nem sequer a mesma é possível face ao enquadramento fáctico e direito descrito;

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O acórdão recorrido violou o disposto no artigo 124.°, n.° 4.°, do Código da Propriedade Industrial, pelo que deve ser revogado, com a consequente protec- ção e registo da marca nacional n.° 238 653, de- signada Monsieur C. da Rocha.

A recorrida contra-alegou, defendendo o decidido. Corridos os vistos legais, cumpre decidir.

I - Matéria de facto assente.

No acórdão recorrido considerou-se assente a seguinte matéria de facto:

O recorrente requereu ao director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial o re- gisto, para protecção em Portugal, da marca comercial Monsieur C. da Rocha, que se destina a produtos exclusivamente de exportação de «artigos de vestuá- rio e calçado» (documento n.° 1 do processo apenso); Parfums Rochas, S. A., opôs-se, invocando ser titular do registo da marca internacional n.° 451 949, cujo elemento designativo é «Rochas Paris», protegida em Portugal por despacho de 8 de Maio de 1981 (documentos a fis. 14 e 17);

Parfums Rochas, S. A., é titular das seguintes marcas internacionais protegidas em Portugal:

a) N.° 296 451, Madame Rochas - documentos a fls. 18 e 22;

b) N.° 383 428, Parfums Rochas - documentos a fls. 24 e 27;

c) N.° 232 108, Madame Rochas - documentos a fis. 28 e 31;

d) N.° 554 086, Madame Rochas - documentos a fis. 32, 33 e 36;

e) N.° 521 805, Monsieur Rochas - documentos a fls. 37 e 40;

As marcas referidas nas alíneas a) e b) destinam-se a assinalar os seguintes produtos da classe 25 a: «vête- ments y compris les bottes, les souliers e les pantu- fles»; as restantes destinam-se a assinalar diversos produtos da classe 3.ª (documentos citados); O referido pedido de registo foi deferido por despa-

cho de 17 de Maio de 1991, publicado no Boletim da Propriedade Industrial, n.° 5 - 1991, de 19 de Novembro de 1991, que concedeu protecção à marca nacional n.° 238 653, Monsieur C. da Rocha, na classe 25.' (documento a fl. 12), e refere-se a produtos exclusivamente para exportação: artigos de vestuário e calçado (documento a fl. 13).

II - Imitação de marca.

A marca tem por finalidade distinguir os produtos de uma actividade económica: aquele que a adoptar «gozará da pro- priedade e do exclusivo dela desde que satisfaça as prescri- ções legais, designadamente a relativa ao registo» - este e os mais que se citarem são do Código da Propriedade In- dustrial, com as alterações do Decreto-Lei n.° 27/84, de 18 de Janeiro:

«A marca pode ser constituída por um sinal ou conjunto de sinais nominativos, figurativos ou emblemáticos, que, aplicados por qualquer forma num produto ou no seu invó- lucro, o façam distinguir de outros idênticos ou semelhan- tes» - artigo 79.°

«Considera-se imitada ou usurpada no todo ou em parte a marca destinada a objectos ou produtos inscritos no reportório sob o mesmo número, ou sob números diferentes mas de afini- dade manifesta, que tenha tal semelhança gráfica, figurativa ou fonética com outra já registada que induza facilmente em erro ou confusão o consumidor, não podendo este distinguir as duas se- não depois de exame atento ou confronto» - artigo 94.°

A primeira questão que se coloca neste recurso é a de decidir se há ou não imitação entre as marcas Monsieur Rochas e Monsieur C. da Rocha.

A semelhança gráfica é evidente, bastando, para tal con- cluir, visualizar as duas ao mesmo tempo.

E entendemos que também há semelhança fonética: «Monsieur Rochas» são palavras francesas e por isso natu- ralmente que se lêem com a correspondente pronúncia; na marca Monsieur C. da Rocha há uma primeira palavra fran- cesa (como é permitido pelo § 2.° do artigo 78.°) e depois palavras portuguesas; mas aquela primeira palavra influen- cia decisivamente a leitura de toda essa marca, provocando na generalidade das pessoas a tendência para que toda ela seja lida com pronúncia francesa, sendo certo que desse modo a semelhança fonética é também clara.

Mas só isto não basta para se poder considerar que há a imitação prevista na lei; é mais necessário que a marca se refira a objectos ou produtos idênticos ou afins.

Ora, a este respeito verificamos que a marca Monsieur C. da Rocha se refere a artigos de vestuário e calçado, en- quanto a marca Monsieur Rochas se refere a «savons, par- fumerie, huiles essentielles, cosmétiques, lotions pour les cheveux, dentifrices» (fl. 37).

Tais produtos não são idênticos, como é óbvio, e tam- bém não se podem considerar afins.

Na verdade não há afinidade confundível entre artigos de vestuário, por um lado, e artigos de higiene pessoal, per- fumes e cosméticos, por outro.

Assim, concluimos que, com fundamento em imitação, não se pode recusar o registo em causa - artigo 93.°, n.° 12.°

III - Concorrência desleal.

Segunda questão que temos para decidir: os factos assen- tes caracterizarão a concorrência desleal?

Nos termos do artigo 212.° e seu n.° 1, «constitui con- corrência desleal todo o acto de concorrência contrário às normas e usos honestos de qualquer ramo de actividade eco- nómica. São como tais expressamente proibidos todos os actos susceptíveis de criar confusão com o estabelecimento, os produtos, os serviços ou o crédito dos concorrentes, qual- quer que seja o meio empregado».

Embora não haja - como já vimos - imitação de marca, o certo é que há duas palavras das marcas em causa que se prestam a confusão: «Rocha» e «Rochas»; e é sabido que a marca Rochas corresponde a uma marca francesa muito conhecida e prestigiada comercialmente, pelo que tal pala- vra é predominante na respectiva marca.

Por isso quem ler ou ouvir falar da marca Monsieur C. da Rocha é naturalmente levado a associá-la à marca ou marcas da recorrida, julgando que é comum a proveniência de todas as marcas em causa neste processo, inclusivamente porque alguns dos produtos com a marca Rochas também são da classe de vestuário e calçado.

Ou seja, o potencial consumidor logo confia que os pro- dutos com a marca Monsieur C. da Rocha possuam o mesmo elevado nível de qualidade que já sabe terem os produtos da recorrida.

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«O critério para aferir essa confusão há-de radicar-se na reacção normal do consumidor médio, no seu comportamento face a uma dada actuação; um determinado acto de um empresário integrará o critério de concorrência desleal, a partir do momento em que o consumidor médio não for ca- paz de distinguir entre uma actividade e outra actividade empresarial» (Carlos Olavo, «Propriedade industrial», Colec- tânea de Jurisprudência, ano XII, t. 4, p. 17).

Quer isto dizer que o recorrente, ao lançar no mercado a sua aludida marca, está a beneficiar do prestígio e da publi- cidade da marca da recorrida, o que tem como consequên- cia o correspondente prejuízo da recorrida, nomeadamente pelo desvio da sua clientela.

Estamos, portanto, e claramente, perante um acto de con- fusão.

Efectivamente o que já se disse é suficiente para se con- siderar caracterizada a concorrência desleal, sendo pois dis- pensável a alegação e prova de outros quaisquer factos, como, por exemplo, a eventual inferior qualidade dos produ- tos do recorrente e o preço mais baixo porventura praticado, sendo este último elemento bem susceptível de determinar o consumidor a comprar, na convicção de ter o produto a mesma qualidade normal dos produtos da recorrida.

Como se diz a fl. 15 da Colectânea de Jurisprudência, t. 4, já citada, «as empresas tendem a estender a sua activi- dade aos sectores económicos mais diversos, o que deter- mina a necessidade de ampliação de âmbito subjectivo de aplicação da protecção contra a concorrência desleal, sob pena de se frustrar injustificadamente a expectativa dessas empresas de beneficiar, nos novos sectores de actividade, da reputação que os sinais distintivos com que iniciaram e ex- pandiram o seu comércio granjearam.

Mas a diversificação actual não se limita à extensão das actividades dos produtores, abrangendo ainda a comercializa- ção, sendo possível obter, no mesmo estabelecimento, pro- dutos da mais variada espécie, desde artigos de perfumaria a alimentação».

Entendemos assim que, em princípio, há concorrência desleal no caso presente.

IV - Marca só para exportação - registo internacional. Assente que em princípio há concorrência desleal, importa apreciar de seguida os argumentos do recorrente tendentes a contrariar tal conclusão.

Alega o recorrente que a sua marca se destina só à exportação, que o registo da recorrida tem apenas a fina- lidade de protecção dos seus interesses em Portugal e que, consequentemente, nenhum prejuízo é susceptível de so- frer a recorrida.

Vejamos.

Começaremos por dizer que consideramos boas e pertinen- tes as razões com as quais o acórdão recorrido se justifica: Na verdade a abolição das fronteiras da Comunidade Económica Europeia - CEE (actualmente União Europeia - UE) alterou o conceito de exportação, na medida em que entre os países da CEE as mer- cadorias passaram a poder circular «como no inte- rior de um mercado nacional»;

Sendo assim, os produtos exportados pelo recorrente para qualquer país da CEE podiam depois reentrar livremente em Portugal, assim frustrando inteira- mente a finalidade e eficácia do registo da marca da recorrida.

Mas podemos acrescentar, por exemplo, que quando o importador negociasse a compra dos produtos do recorrente, já aí se estava a concretizar, em relação a ele, importador, a confusão caracterizadora da concorrência desleal.

Ainda se poderia defender que então a marca do recor- rente sempre podia ser válida para os países que não fazem parte da UE. Mas esta hipótese tem de ser desde logo colo- cada de lado, porque é evidente que ainda que fosse possí- vel restringir a validade de uma marca apenas a alguns países, o certo é que não foi nesses termos que o recorrente pediu o registo da sua marca.

Mas avancemos um pouco mais.

Nos termos do artigo 6.°-bis, n.° 1, da Convenção da União de Paris (CUP), na redacção que lhe foi dada em Estocolmo (Decreto n.° 22/75, de 22 de Janeiro), «os países da União comprometem-se a recusar ou invalidar, quer ofi- ciosamente, se a lei do país o permitir, quer a pedido de quem nisso tiver interesse, o registo e a proibir o uso de marca de fábrica ou de comércio que constitua reprodução, imitação ou tradução, susceptíveis de estabelecer confusão, de uma marca que autoridade competente do país do registo ou do uso considere que nele é notoriamente conhecido como sendo já marca de uma pessoa a quem a presente Conven- ção aproveita e utiliza para produtos idênticos ou semelhan- tes. O mesmo sucederá quando a parte essencial da marca constituir reprodução de marca notoriamente conhecida ou imitação susceptível de estabelecer confusão com esta»; e diz o artigo 10.°-bis da mesma Convenção:

1 - Os países da União obrigam-se a assegurar aos nacionais dos países da União protecção efectiva con- tra a concorrência desleal.

2 - Constitui acto de concorrência desleal qualquer acto de concorrência contrário aos usos honestos em matéria industrial ou comercial.

3 - Deverão proibir-se especialmente:

1 ° Todos os actos susceptíveis de, por qualquer modo, estabelecer confusão com o estabele- cimento, os produtos ou actividade industrial ou comercial de um concorrente;

2.° As falsas afirmações no exercício do comér- cio, susceptíveis de desacreditar o estabele- cimento, os produtos ou a actividade indus- trial ou comercial de um concorrente; 3.° As indicações ou afirmações cuja utilização

no exercício do comércio seja susceptível de induzir o público em erro sobre a natureza, modo de fabrico, características, possibili- dades de utilização ou quantidade de mer- cadorias.

Relacionado com estes textos legais, diz Ferrer Correia, nas Lições de Direito Comercial (1985) - IV, p. 357: «Se perante a Repartição da Propriedade Industrial for apre- sentado um pedido de registo de certa marca, esse pedido pode ser indeferido, a requerimento do interessado, com fun- damento de que a marca registada se confunde com outra notoriamente conhecida como pertencente a um cidadão de outro país da União.»

E refere Carlos Olavo, na Colectânea de Jurisprudência, ano xii, t. 4, p. 13: «Podemos afirmar, numa primeira de- finição, que acto de concorrência é aquele acto susceptível de, no desenvolvimento de uma dada actividade económica,

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prejudicar um outro agente económico que, por sua vez, exerce também uma actividade económica determinada, pre- juízo esse que se consubstancia num desvio de clientela própria em benefício de um concorrente.»

Verificamos assim que a lei portuguesa tem de conceder protecção aos cidadãos dos países pertencentes à União de Paris, nomeadamente e de um modo especial aos dos países da União Europeia, uma vez abolidas que estão as frontei- ras entre estes últimos países, que a marca Monsieur Ro- chas é notoriamente conhecida em Portugal, que tal marca se distingue pela sua alta qualidade, que basta a palavra «Rochas» para estabelecer confusão com a marca do recor- rente e que uma das marcas que inclui a palavra «Rochas» também se refere a vestuário e calçado.

Ora, se há justificação legal para se proteger uma marca estrangeira ainda que não registada em Portugal, por maio- ria de razão se há-de proteger a marca estrangeira já com registo internacional no nosso país, pois este registo tem precisamente como finalidade defender o respectivo produto no país em que é feito - artigos 103.° e seguintes.

Nos termos do artigo 187.°, n.° 4.°, é fundamento de re- cusa de registo «o reconhecimento de que o requerente pre- tende fazer concorrência desleal ou que esta é possível inde- pendentemente da sua intenção».

Consequentemente, justifica-se a recusa de protecção do registo em causa.

V - Conclusão.

Pelo exposto, e em conclusão, acorda-se em negar a revista. Custas pelo recorrente.

Transitado em julgado este acórdão, cumpra o disposto no artigo 210.° do Código da Propriedade Industrial e de- volva o processo apenso.

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