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Nessa rua tem um bosque: topofilia e valoração ambiental dos fragmentos florestais urbanos em Manaus

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Academic year: 2021

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Nessa rua tem um bosque: topofilia e valoração ambiental dos fragmentos

florestais urbanos em Manaus

Henrique dos Santos Pereira1; Stephany Anry Kudo Resumo

Estudos que consideram a percepção e a valoração ambiental permitem trazer ao debate componentes importantes para a compreensão das relações sociedade e ambiente, mesmo no contexto urbano e podem ser estratégicos para ações que visem o envolvimento dos moradores nas ações de conservação da biodiversidade urbana. Avaliaram-se os fatores que podem influenciar a percepção de grupos de vizinhança quanto à permanência de dois fragmentos florestais (FFU) na paisagem urbana de Manaus: “Mundo Novo” na Zona Norte, e “da Ilha” na Zona Centro Oeste. A maioria dos moradores (59%, N=69) mencionou sentimentos positivos (topofilia) em relação à proximidade do fragmento. As vantagens ressaltadas foram: a melhoria da qualidade ambiental, a proximidade com a natureza e o embelezamento do local. As desvantagens seriam: a criminalidade (refúgio de assaltantes e usuários de drogas), o lixo (local de disposição de resíduos) e proliferação de animais peçonhentos. Para o emprego das metodologias de pile sorting (agrupamento) seguida de ranking (ordenamento), a cada entrevistado foram apresentadas cartas que expressavam 14 diferentes tipos de atributos que o FFU poderia representar.Os atributos que receberam os maiores valores positivos foram o “ecoético” (V14), seguido de “diversidade biológica” (V3), “futuro” (V6) e “sustentar a vida” (V9). Por outro lado, os atributos “subsistência” (V13) e “econômico” (V11) receberam os valores mais negativos. A distância entre a residência e o fragmento influenciou a percepção moradores, dependendo do fragmento. Enquanto que zona Centro Oeste os moradores adjacentes tenderam a valorizar o fragmento mais do que os moradores distantes, o contrário foi observado na zona Norte, provavelmente devido à associação que este moradores fazem entre o FFU e a violência.A análise de componentes principais revelou 4 grupos de padrões de respostas. Na análise discriminante passo a passo, tendo-se como variáveis explicativas: Idade, Gênero, Escolaridade, Tempo de Moradia, Renda, Fragmento e Estrato (Adjacente e Distante), somente a variável Tempo de Moradia permaneceu no modelo final (p = 0,018). Conclui-se que independentemente do contexto (fragmento) e da distância (adjacente ou distante), o tempo de convivência com o fragmento é o principal fator que determina o modo como os indivíduos valorizam as áreas verdes florestais em suas vizinhanças. Palavras-chave: Ecologia Urbana, Indicadores ambientais, Gestão Ambiental. Abstract

Studies that consider the perception and environmental valuation allow bring to the debate important components to understanding the relationship society and environment, even in the urban context and can be strategic for actions aimed at the involvement of residents in conservation actions of urban biodiversity. We evaluated the factors that can influence the perception of neighborhood groups about the permanence of forest fragments (FFU) in the urban landscape of Manaus, "New World" in the north, and "Island" in the Midwest Region. Most residents (59%, N = 69) mentioned positive feelings (topophilia) in relation to the proximity of the fragment.

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The advantages highlighted were the improvement of environmental quality, closeness to nature and the beautification of the site. The disadvantages are crime (refuge of robbers and drug users), waste (waste disposal site) and proliferation of poisonous animals. For the use of methodologies pile sorting (grouping) followed by ranking (order), each respondent letters were submitted expressing 14 different types of attributes that the FFU could represent. The attributes that received the highest positive values were "ecoethic" (V14), followed by "biological diversity" (V3), "future" (V6) and "sustain life" (V9). On the other hand, the attributes "subsistence" (V13) and "economical" (V11) received the most negative values. The distance between the residence and the fragment influenced the perception residents, depending on the fragment. While Midwest area adjacent residents tended to value the fragment more than the distant resident did, the opposite occurring in the north zone, probably due to the association that the residents assign between the FFU and violence. The principal component analysis revealed four groups of responses patterns. In the discriminant step-by-step analysis, taking as predictor variables: Age, Gender, Education, Real Time, Income, Fragment Stratum (Adjacent and Distant), only the House time variable in the final model (p = 0.018). We conclude that regardless of the context (fragment) and distance (adjacent or distant), the time of interaction with the fragment is the main factor that determines how individuals value the forest green areas in their neighborhoods.

Keywords: Urban Ecology, Environmental indicators, Environmental management.

Introdução

Fragmentos florestais urbanos (FFUs) são áreas cobertas com vegetação que se encontram isoladas em meio à malha urbana. Melhoram a qualidade de vida nas cidades, pois a vegetação ameniza os impactos causados pela ação antrópica (VALERI e SENÔ, 2003; FEIBER, 2004). No entanto, grupos de vizinhança podem desenvolver um elo afetivo (topofilia) ou de desafeto e aversão (topofobia) em relação a essas paisagens (TUAN, 1980).

A avaliação da percepção e valoração ambiental (AMORIM FILHO, 2007; KAHN e RIVAS, 2014) permite compreender os comportamentos socioambientais desses grupos e planejar ações de gestão que permitam o envolvimento desses grupos na conservação da biodiversidade urbana. Este estudo teve por objetivo investigar os fatores que influenciam a valoração ambiental declarada por grupos de vizinhança próximos e distantes em relação à permanência de fragmentos florestais na paisagem urbana de Manaus.

Metodologia

Sujeitos da pesquisa e localização das áreas de estudo – Para amostragem dos

entrevistados foi considerada a localização da residência (distância) em relação ao fragmento. A população do entorno foi classificada em dois estratos: (1) moradores adjacentes (no limite do fragmento) e (2) moradores distantes (mais de duas quadras - ou ruas de distância do fragmento). No fragmento Mundo Novo (Zona Norte) foram entrevistados 38 moradores e no fragmento Da Ilha (Zona Centro-Oeste), 31. Totalizando assim, 69 representantes dos grupos de vizinhança dos dois fragmentos florestais estudados.

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Valoração ambiental - Para aferir-se a valoração ambiental dos FFU, foram

empregadas as metodologias de pile sorting (agrupamento) seguida de ranking (ordenamento). A cada entrevistado foram apresentadas cartas que expressavam 14 diferentes tipos de atributos que o FFU poderia representar (Tabela 1).

Tabela 1 – Descrição dos atributos considerados na valoração ambiental de FFUs. Atributos

socioambientais

Valor ambiental do fragmento florestal urbano Estético (1 Aprecia a sua paisagem, imagens, cheiros e sons.

Recreativo (2) Um lugar para a realização de atividades de recreação tais como caminhadas. Diversidade biológica (3) Abriga uma variedade organismos, ecossistemas terrestres e aquáticos. Intrínseco (4) Por sua existência em si, não importando o que os outros pensam sobre ele.

Histórico (5) Lugares naturais e da história humana importantes para você e a comunidade. Futuro (6) As gerações futuras conhecerão e experimentarão o fragmento como é

agora.

Terapêutico (7) Faz as pessoas se sentirem melhor física e mentalmente.

Cultural (8) Transmite conhecimentos, tradições e modo de vida dos seus antepassados.

Sustentar vida (9) Ajuda a produzir, preservar, limpar e renovar o ar, solo e água.

Espiritual (10) Um lugar sagrado, religioso, espiritual, a ser reverenciado e respeitado.

Econômico (11) Fornece madeira, pesca, minerais e outros bens e serviços.

Aprendizagem (12) Permite aprender sobre o meio ambiente.

Subsistência (13) Fornece alimentos e outros suprimentos necessários para se sustentar. Ecoético (14) Nele habitam seres não humanos que também têm direito à vida.

Adaptado de Brown e Reed (2000).

Resultados

A maioria dos moradores (59%, N=69) mencionou sentimentos positivos (topofilia) em relação à proximidade do fragmento. As vantagens ressaltadas foram: a melhoria da qualidade ambiental, a proximidade com a natureza e o embelezamento do local. As desvantagens seriam: a criminalidade (refúgio de assaltantes e usuários de drogas), o lixo (local de disposição de resíduos) e proliferação de animais peçonhentos.

Os atributos que receberam os maiores valores positivos foram: o “ecoético” (V14), seguido de “diversidade biológica” (V3), “futuro” (V6) e “sustentar a vida” (V9). Por outro lado, os atributos “subsistência” (V13) e “econômico” (V11) receberam os valores mais negativos (Figura 1)

A distância entre a residência e o fragmento influenciou a percepção moradores, dependendo do fragmento. Enquanto que zona Centro Oeste (Fragmento 2 – Da Ilha) os moradores adjacentes tenderam a valorizar o fragmento mais do que os moradores distantes, o contrário foi observado na zona Norte (Fragmento 1 – Mundo Novo), provavelmente devido à associação que este moradores fazem entre o FFU e a violência (Figura 2).

A análise de componentes principais revelou 4 grupos de padrões de respostas, sendo 2 grupo topolíficos e dois topofóbicos. Na análise discriminante passo a passo, tendo-se como variáveis explicativas: Idade, Gênero, Escolaridade, Tempo de Moradia, Renda, Fragmento e Estrato (Adjacente e Distante), somente a variável Tempo de Moradia permaneceu no modelo final (p = 0,018) (Figura 3).

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Figura 1 - Gráficos boxplot da distribuição de valores de ranking de 14 atributos socioambientais (Vn) de dois fragmentos florestais urbanos de Manaus.

Figura 2 - Média da soma dos valores de ranking aferidos pelos grupos de entrevistados adjacentes (0) e distantes (1) aos 14 atributos socioambientais para o Fragmento 1 (Mundo Novo) e Fragmento 2 (Da Ilha).

Figura 3 – Média do mínimos quadrados para tempo de moradia para os 4 grupos de padrões de resposta dos moradores. (1) Topofílicos ecocêntricos; (2) Topofílicos humanistas; (3) Topofóbicos estéticos; (4) Topofóbicos terapêuticos.

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Conclusões

Independentemente do contexto (fragmento) e da distância (adjacente ou distante), o tempo de convivência com o fragmento é o principal fator que determina o modo como os indivíduos valorizam as áreas verdes florestais em suas vizinhanças. No entanto, a proximidade do fragmento pode resultar em uma “desvalorização” (topofobia) do espaço natural decorrente da sensação de insegurança. Desse modo, a gestão efetiva dos FFU deve prever o seu uso público em condições segurança e de modo a conquistar a participação dos moradores em ações de proteção.

Referências bibliográficas

AMORIM FILHO, O. B. A Pluralidade da Geografia e a Necessidade das Abordagens Culturais. In: Salete Kozel; Josué da Costa Silva; Silvio Fausto Gil. (Org.). Da Percepção e Cognição a Representação: Reconstruções Teóricas da Geografia Cultural e Humanista. 1ed.São Paulo/Curitiba: Terceira Imagem, 2007, v. , p. 15-35.

BROWN, G.; REED, P. Validation of a forest values typology for use in National Forest planning. Forest Science, v. 2, n. 46, p. 240-247, 2000.

FEIBER, S. D. Áreas verdes urbanas imagem e uso: o caso do passeio público de Curitiba, PR. R. RA’E GA, Curitiba, n. 8, p. 93-105, 2004.

KAHN, J. R.; RIVAS, A. A economia e a falha dos mercados. In: In. RIVAS, A. (Org.). Economia e valoração de serviços ambientais utilizando técnicas de preferências declaradas. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas. p. 137-173. 2014.

TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Tradução: Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel, 1980.

VALERI, S. V.; SENÔ, M. A. A. F. A importância dos corredores ecológicos para a fauna e a sustentabilidade de remanescentes florestais. In: Congresso Internacional de Direito Ambiental. Anais... São Paulo: Imprensa oficial, v. 1, p. 699-709, 2003

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