Da liberdade
e de sua negação
A questão é muito complicada.
Apresenta-se em sequência algumas ideias chaves.
Segundo o liberalismo
Os filósofos políticos liberais distinguem, com frequência, um conceito clássico liberal de
liberdade de um conceito clássico democrático de liberdade.
No conceito liberal, liberdade significa ausência de coerção.
No conceito democrático, significa autonomia, a saber, o poder de autodeterminação.
Isaiah Berlin
Em “Dois conceito de liberdade”, esse autor opôs liberdade negativa e liberdade positiva. Liberdade negativa é estar livre de coerção. A liberdade negativa é sempre liberdade contra
a possível interferência de alguém. A liberdade negativa é liberdade do ser
Liberdade positiva
Ao contrário, a liberdade positiva é liberdade do ser humano como ser social.
A liberdade positiva é a possibilidade de se autogovernar e de manter como ser
autônomo no seio da sociedade.
Como Marx vê essa liberdade
Na Questão Judaica há uma frase em que Marx mostra que a liberdade negativa se
interverte em não liberdade.
Trata-se de um a sociabilidade que “faz com que cada homem veja no outro homem, não a
realização, mas, ao contrário, a restrição de sua liberdade”
A crítica de Marx em O capital
O modo de produção capitalista cria
historicamente uma liberdade formal que vigora na aparência do sistema, em especial
na esfera da circulação de mercadorias. Por quê? Por que o modo de produção capitalista esta baseado em relações de
produção indiretas e, portanto, coisificadas e prenhes de fetichismo. Como tal, assim ele
Parece mas não é...
Trata-se, para ele, porém, de um sistema de coerção institucionalizado como sistema de
liberdade – esta é aparente, mas
funcionalmente necessária.
Assim, fica garantida uma certa liberdade formal (a negativa por meio do mercado e a
positiva por meio da democracia). O limite dessa liberdade se mostra tanto na produção
E porque não é
Não é porque o contrato de trabalho pressupõe ex-ante a liberdade do
trabalhador, mas também a sua subordinação ex-post ao “despotismo da fábrica”.
Não é porque a democracia representativa pressupõe a liberdade do eleitor e do voto, mas também que tal voto e a tal vontade do eleitor serão necessariamente sabotados em
certa medida por aqueles que exercem a representação.
Ora, esse sistema não é
harmônico
Engels menciona que diversas contradições atravessam o sistema da relação de capital:
Produção organizada x anarquia dos mercados Produção social x apropriação privada
Sistema: a meta é acumulação de valor x o meio é o consumo e investimento de valores de
uso.
Solução histórica
A solução que apareceu para a crise do capitalismo
de laizez-faire foi sempre a regulação estatal.
A crise do laissez-faire (começa antes de 1914 e culmina na crise de 1929) redunda em duas
soluções:
a) Sistema de acumulação centralizado (socialismo real no Oriente);
b) O capitalismo regulado (social democracia e neoliberalismo no Ocidente).
Governanças
Na história do capitalismo desde o século XVIII até o presente, nota-se a existência três
governanças sucessivas:
a) Liberalismo clássico b) Liberalismo social
c) Neoliberalismo
b) e c) nasceram na década dos anos 30 com a crise do liberalismo clássico ( e a crise de 29).
Liberalismo clássico
O sistema econômico é visto como uma
ordem natural em que o Estado não deve ser intrometer.
Defende o império da liberdade de iniciativa
fora do Estado, propõe limites estreitos para a ação governamental. Eis que o sistema deve funcionar e se desenvolver espontaneamente.
Liberalismo social
(keynesianismo)
O sistema é uma ordem social que produz riqueza crescente, mas falha. E que, por isso,
deve ser organizado pelo Estado.
A liberdade individual não é para uns, mas para todos, fortes e fracos. Deve prosperar, pois, em consonância com a pacificação do conflito social e com o crescimento econômico
Neoliberalismo
O sistema econômico é uma ordem moral baseada na auto realização por meio
competição que deve ser preservado, nutrido e mesmo reposto pelo Estado.
A liberdade individual é a possibilidade de agir como auto empresário de si mesmo e de
Segundo Dardot e Laval
“O neoliberalismo é a razão do capitalismo contemporâneo, de um capitalismo
desimpedido de sua referência arcaicas e plenamente assumido como construção
histórica e norma geral de vida. O
neoliberalismo pode ser definido como o conjunto dos discursos, práticas e dispositivos
que determinam um novo modo de governo dos homens segundo o princípio universal da
Crises terminais
No começo do século XX, ocorreu a crise terminal do
capitalismo de laissez-faire. A solução encontrada foi a
regulação estatal. Houve grosso modo três formas de estatização: o socialismo real (a partir de 1917), a socialdemocracia e o neoliberalismo (a partir de 1929).
No fim do século XX teve a falência do socialismo real. E
do capitalismo regulado de modo keynesiano. No
começo do século XXI, estamos diante da crise do
capitalismo regulado de modo neoliberal e, portanto, da crise do capitalismo regulado pelo Estado...