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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI FERNANDA MENDES ARANTES COMO ESTRELAS NA TERRA UM ESTUDO SOBRE A TRANSFORMAÇÃO DA INFORMAÇÃO MEDIADA PELA WEB

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Academic year: 2021

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COMO ESTRELAS NA TERRA

UM ESTUDO SOBRE A TRANSFORMAÇÃO DA

INFORMAÇÃO MEDIADA PELA WEB

SÃO PAULO 2015

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FERNANDA MENDES ARANTES

COMO ESTRELAS NA TERRA

UM ESTUDO SOBRE A TRANSFORMAÇÃO DA

INFORMAÇÃO MEDIADA PELA WEB

Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, como exigência para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Comunicação, área de concentração em Comunicação Contemporânea da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação da Profª Dra. Maria Ignês Carlos Magno.

SÃO PAULO 2015

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FERNANDA MENDES ARANTES

COMO ESTRELAS NA TERRA

UM ESTUDO SOBRE A TRANSFORMAÇÃO DA

INFORMAÇÃO MEDIADA PELA WEB

Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, como exigência para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Comunicação, área de concentração em Comunicação Contemporânea da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação da Profª Dra. Maria Ignês Carlos Magno.

Aprovado em __/__/_____

Profa. Dra. Maria Ignês Carlos Magno

Profa. Dra. Márcia Lopes Reis

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha orientadora, professora Maria Ignês Carlos Magno, pela paciência e dedicação incansável com a minha pesquisa.

Aos professores Rogério Ferraraz e Vicente Gosciola que me ajudaram na condução e direcionamento desta pesquisa.

À querida professora Márcia Lopes Reis que me acompanhou no estudo insistente sobre este filme e me proporcionou a ampliação do olhar sobre ele. Agradeço imensamente à confiança depositada e a amizade.

Aos meus familiares (Francisco, Andrea, Gabriela, Vinícius e Ana) pelo amor e inúmeros momentos de compreensão.

Aos meus colegas de Mestrado, em especial Kátia de Jesus pelos momentos de incentivo e por todo apoio durante os meses em que estudamos juntas.

Por fim, este trabalho não poderia ter sido realizado sem o amor e apoio incansável do meu marido João Ricardo e do meu filho João Pedro em todos os momentos. Obrigada por tudo.

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“Assim como as árvores nas Ilhas Salomão, as palavras têm o poder de destruir as pessoas.

Eu aprendi, com o tempo, a tapar meus ouvidos.”

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RESUMO

Esta pesquisa pretende demonstrar a importância da web na divulgação e disseminação de informações específicas voltadas para profissionais e estudantes de educação e saúde no Brasil. Visa, através do estudo das obras de autores da área da comunicação, mostrar o poder da divulgação de informações via rede e, de que forma estas informações podem atingir seu público alvo através de produtos midiáticos diversos como os filmes locais, por exemplo. Ao estudar o fenômeno que envolveu o lançamento do filme Indiano - Como Estrelas na Terra - no Brasil, pretendemos demonstrar que o conhecimento que “cai na rede” pode, muitas vezes, ser transformado e redimensionado de maneira positiva e assim, atingir um público que dificilmente teria acesso a ele, não fosse pelo advento da web e em específico do site YouTube. O estudo aqui realizado está relacionado ao lançamento do filme Como Estrelas na Terra, pelo site YouTube, os produtos midiáticos relacionados à ele, e de que forma o movimento observado em decorrência deste lançamento pode transformar o objetivo inicial do filme, quando rodado na Índia, revelando um novo olhar sobre situação inicial, agora transformada em território brasileiro.

Palavras-chave: Web. YouTube. Disseminação de informações. Transformação do conhecimento. Dislexia.

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ABSTRACT

This work intends to demonstrate the importance of internet in publishing and spreading specific knowledge for professionals as well as education or health students in Brazil. Through a study of works related to communication literature, the aim is to show the power of publishing information through internet and how this information can reach the audience through the media products such as regional movies, for example. Studying the phenomenon that involved the realeasing of an indian movie called “Like Stars on Earth” in Brazil, the intention is to demonstrate that the knowledge that leaks on internet can be transformed and resized in a positive way and reach an audience that could hardly have an access to it if it wasn`t the advent of internet, specifically the website YouTube.The study conducted here is related to the release of the film How Stars on Earth at YouTube site, the media products related to it, and how the movement observed as a result of this release can transform the initial aim of the film, when rotated in India revealing a new look at baseline, now converted into Brazilian territory.

Key-words: Internet. YouTube. Dissemination of information. Transformation of knowledge. Dyslexia.

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LISTA DE IMAGENS

Figura 1...18 Figura 2...20 Figura 3...23 Figura 4...40 Figura 5...45

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

1 A ÍNDIA E SEUS CINEMAS ... 11

1.1 Breve Histórico do Cinema Indiano e suas Regiões Cinematográficas ... 11

2 O FILME TAARE ZAMEEN PAR – COMO ESTRELAS NA TERRA ... 19

2.1 Resumo do filme ... 19

2.2 Contexto do filme na Índia ... 22

3 A WEB COMO FERRAMENTA NA TRANSFORMAÇÃO DE CONHECIMENTOS ... 27

3.1 Caiu Na Rede ... 30

3.2 O Efeito transformador após a disseminação da informação via rede ... 36

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 51

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INTRODUÇÃO

O cenário midiático atual engloba diversas mídias e suas relações. Estamos em um momento onde questionamos o que acontecerá com o cinema nos próximos anos. Juntamente com este questionamento, percebemos um movimento que proporciona uma renovação do cinema, movimento este proporcionado especialmente pelo advento da web.

Filmes sendo compartilhados na rede, elaboração de produtos ligados aos conteúdos cinematográficos, movimentos de fãs alterando configurações e scripts são observados a todo momento. Este cenário seria impensável há poucas décadas.

Atualmente, o lançamento de determinado filme em rede nacional pode não ficar restrito somente às salas de cinema. Filmes são compartilhados pela web, antes, durante e depois do seu lançamento. E a partir deste compartilhamento, diversas ações são observadas.

Este trabalho pretende estudar o movimento observado no Brasil, após a divulgação do filme Como Estrelas na Terra, via YouTube em 2008.

O filme foi elaborado com determinada finalidade na Índia e ao chegar no Brasil, teve esta finalidade transformada.

As discussões que envolvem este filme, Como Estrelas na Terra, e o movimento que aconteceu após sua divulgação via YouTube no Brasil estão divididas em três capítulos. Veremos no primeiro capítulo um breve panorama da indústria cinematográfica indiana tendo como foco a região de Bollywood, na Índia, isto porque o filme aqui estudado foi rodado em Bollywood e apresenta características típicas desta região cinematográfica indiana. No segundo capítulo nosso foco será o filme propriamente dito e no último capítulo a atenção estará voltada para a importância da web na divulgação e veiculação de informações ao redor do mundo. Veremos ainda como este movimento atinge o filme aqui estudado. Por fim, verificaremos os resultados deste movimento através de pesquisa em blogs relevantes ligados ao filme Como Estrelas na Terra.

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1 A ÍNDIA E SEUS CINEMAS

1.1 Breve Histórico do Cinema Indiano e suas Regiões Cinematográficas

No início do século XX, na mesma época em que os irmãos Lumiere iniciavam as projeções da imagem em movimento, surgia no Oriente um cinema, também ligado ao teatro, para contar lendas e histórias mitológicas de deuses e heróis do povo. Começava assim a história do cinema indiano, uma das maiores indústrias cinematográficas do mundo.

Em termos históricos, sabemos que a república da Índia, tornou-se independente em 1947. Apesar de sofrer inúmeras invasões, dominações e influências estrangeiras, percebemos que cada região manteve intacta suas características e cultura que iriam influenciar posteriormente as regiões cinematográficas em que foi dividida.

Entre as décadas de 1910 e 1920, foi fundada a Hindustan Film Co. que teve sua produção sempre crescente até a década de 1930.

Os primeiros filmes indianos, de acordo com Magno (2009), possuíam temáticas religiosas ou místicas, além de dramas clássicos e literatura moderna:

Com a introdução do cinema falado, além da dança e da música ser um dos focos centrais dos filmes, começou um movimento pela generalização da língua hindi em todas as produções em oposição ao inglês 1, na época falado pela elite (MAGNO, 2009, p. 147).

Ao pesquisarmos referências bibliográficas que tratam sobre a indústria cinematográfica indiana, é inevitável terminarmos a leitura sendo direcionados à um universo comparativo entre: países, culturas, climas, dados demográficos e indústrias cinematográficas. A comparação mais clara e direta é com a indústria cinematográfica de Hollywood de onde deriva o nome de algumas das principais indústrias cinematográficas Indianas: Bollywood, Kollywood e Tollywood, como veremos a seguir.

1Magno (2009) afirma que, a Índia foi por duzentos anos colônia inglesa e o idioma inglês é comum entre os indianos.

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As demais regiões da Índia somadas, superam o número de filmes, público e indústria de Bollywood, porém esta região merece nossa atenção, pois trata-se do local onde foi realizado o filme que é aqui estudado e ainda, por ser uma região da Índia extremamente envolvida com a globalização, conforme nos sinaliza Magno (2009):

Estende-se desde a conquista e estabelecimento das bases portuguesas em 1509, em Goa, Damião, Diu e Bombaim, à transferência da sede da Cia. das Índias Orientais de Surate para Bombaim, à abertura da ferrovia ligando Bombaim a Thane, em 1853, até a abertura do Canal de Suez, em 1869, que transformou Bombaim em um dos maiores portos marítimos do Mar Arábico.

Bombaim também foi uma importante base do movimento de independência indiano, especialmente o movimento “Deixem a Índia”, iniciado por Gandhi em 1942. E, após a independência da Índia em 1947, passou a ser a capital do estado de Maharashtra. A década de 1950 foi o período de crescimento e expansão da cidade até seus limites atuais. (MAGNO, 2009, p. 147-148).

Conforme afirma Ballerini (2009) em seu livro Diário de Bollywood, o cinema em toda a Índia é a principal fonte de entretenimento de sua população. As salas de cinema são gigantescas, com capacidade para até três mil pessoas e o valor do ingresso é acessível para grande parte da população. A indústria cinematográfica indiana filma o povo para o seu povo, pretende mostrar sua realidade, e para isso, utiliza sempre recursos audiovisuais no sentido de atrair a atenção do seu espectador. Canto, dança, música, troca de roupas constantes, figurinos exuberantes são as marcas principais de seus filmes que tem que conter drama, suspense, comédia e aventura. Não há uma ordem estabelecida para a sua aparição no filme, mas a maioria de seus filmes contém características destes gêneros, em ordem aleatória.

Ballerini escreve: “o indiano quer ver seus dramas, romances e costumes retratados na tela”. (BALLERINI, 2009, p.14). Além disso, os indianos esperam por uma boa dose de imaginação e fantasia.

Seus filmes abusam de músicas, danças, figurinos, romance, suspense, dentre outros fatores porém, poucos deles conseguem realizar a inserção destes elementos harmoniosamente, como podemos observar:

(...)como é o caso de um drama romântico maduro como Bobby (1973), de Raj Kapoor, ou um thriller de ação como Sholay – Flames of the Sun (Sholay, 1975), de Ramesh Sippy. Estes filmes permanecerão como marcos do cinema indiano, não por ser exceções

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à regra, mas pelo modo como conseguiram capturar a imaginação de um país inteiro, atravessando gerações e divisões regionais. (BOSE, 2007, p. 100).

Como veremos a seguir, Bollywood tem seu público alvo dentro da própria Índia:

(...) Marketing cinematográfico na Índia é crucial. (...) Em Bollywoody, quase não há tempo para o boca-a-boca. Quando um espectador falar a um amigo sobre um filme, este já terá saído das telas. Dessa forma, todos devem ser conquistados pela propaganda (BALLERINI, 2009, p. 20).

Apesar de ter seu público interno cativo, também depende do marketing cinematográfico para divulgação de seus filmes. Além desta forma de divulgação, os indianos também estão preocupados com a qualidade de seus filmes e de que forma os espectadores dos outros países irão recebê-los. Por este motivo, dispensam atenção diferenciada à produção, legendagem e dublagem e ao conteúdo do entretenimento de uma forma geral. Deste modo, é necessário que conheçamos as características das regiões cinematográficas indianas.

A Índia é dividida em seis macrorregiões: Bombaim, Délhi, Punjab Oriental, Circuito Oriental, Rajasthan e o Sul, com diversos subterritórios.

Cada um desses territórios é reconhecido por sua identidade cultural, extensão geográfica, traço linguístico, característica demográfica, preferências e sensibilidade dos espectadores:

1. Bombaim (ou Mumbai): inclui partes do estado de Maharashtra, o sul do Estado de Gujarat e o Estado de Karnataka.

2. Délhi: o território engloba os estados de Uttar Pradesh e Uttaranchal e a região da capital nacional.

3. Punjab Oriental: reúne os estados de Punjab, Haryana, Jammu e Caxemira. 4. Circuito Oriental: é formado por Bengala Ocidental, Bihar, Jharkhand, Nepal e Orissa.

5. Rajasthan: inclui Rajastão, Chattisgarh, Madhya Pradesh e norte de Maharashtra.

6. Sul: inclui quatro subterritórios: Nizam, Mysore, Andhra e Tamil Nadu. Nizam é formado por partes de Andhra Pradesh e pelo sul de Maharashtra, enquanto Mysore cobre Bangalore e as áreas de Karnataka que não fazem parte do território de

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Bombaim. Andhra engloba as áreas remanescentes de Andhra Pradesh e Tamil Nadu inclui esse estado inteiro e Kerala. O estado de Kerala se destaca pelas temáticas socialistas, desde 1950 quando a temática ganhou força tratando a partir daí de questões relacionadas às tradições familiares indianas. Conforme afirma Magno (2009):

(...) em 1995 o governo de Maharashta, conduzido pelo partido Shiv Sena, repudiou o nome Bombay em nome da versão marata Mumbai. Repúdio que nos leva ao conhecimento da etimologia da palavra e a uma antiga discussão entre lusófonos e anglófonos sobre o nome Bombaim/Mumbaim ou Bombay/Mombay (MAGNO, 2009, p. 149).

Os filmes produzidos em Bollywood (Mumbai ou Bombaim) não conseguem penetrar em todas as regiões da Índia. Existe uma segmentação dentro do próprio país que acaba criando uma linha imaginária entre as diversas regiões. De acordo com Bose (2007):

Claramente, o nordeste inteiro da Índia, incluindo grandes áreas de Assam, Sikkim, Meghalaya, Manipur, Tripura, Arunachal Pradesh, Mizoram e Nagaland, é excluído do esquema dos distribuidores. Graças, em parte, a razões logísticas e principalmente à insurgência política, os indianos que vivem nessas áreas não conseguem ver os últimos lançamentos nos cinemas. Na verdade, quase não existem cinemas no nordeste da Índia. (BOSE, 2007, p. 99).

Bose (2007), afirma que os filmes musicais ou com emoções urbanas são direcionados para o público de Bombaim e sul do país. Para cada região existe um estilo cinematográfico específico. Por exemplo, no caso de um romance açucarado ou um drama familiar emotivo, os públicos do Rajasthan e do Circuito Oriental tornam-se os alvos principais.

Ao pesquisarmos as regiões cinematográficas indianas, acabamos percebendo que não podemos falar em um cinema indiano e sim, em cinemas indianos, conforme nos aponta Magno (2009):

Estranho talvez seja o fato de que não podemos falar de um cinema indiano e de só nos referirmos ao cinema na Índia no plural: cinemas indianos. Ou, refinando um pouco mais: cinemas regionais, produzidos, em sua maioria, com capitais próprios e falados em suas línguas locais. Línguas e não dialetos, como poderíamos supor. Isso porque “cada indústria se define de acordo com sua língua. Falamos em cinema bengalês, cinema telugu, cinema malayalam, cinema tâmil, cinema marathi, cinema punjab, cinema hindi” para citar os que se destacam na produção interna. (MAGNO, 2009, p. 146).

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De acordo com Ballerini: “Mesmo assim, como o hindi é a língua que une o país – embora nem todos o utilizem -, os filmes de Bollywood ainda detêm 40% do market share2 nacional anualmente”. Apesar de verificarmos uma pequena segregação interna, estes filmes correspondem à quase metade da participação no mercado cinematográfico indiano.

Os filmes indianos possuem características específicas que visam atingir o maior número de pessoas e regiões, e até mesmo o público externo. Bose, 2007, nos alerta que:

Nessas circunstâncias, todo cineasta tenta fazer uma mescla de elementos como ação, canção e dança, intriga familiar, romance, comédia e suspense no mesmo filme – a fim de atingir em um só golpe o maior número possível de territórios (BOSE, 2007, p. 100).

Estima-se que, nos últimos anos, 150 milhões de indianos tenha ascendido à classe média e se tornado frequentadores dos caros cinemas multiplex 3 instalados nas grandes cidades. De acordo com Bose (2007):

Os indianos dominam uma fatia de mercado extremamente reduzida, graças a óbvias limitações de idioma. O preço dos

ingressos não chega nem a um décimo do cobrado pelos cinemas dos EUA e da Europa. A distribuição é desorganizada e, pior ainda, a demanda não atendida continua a se expandir no nível da bilheteria. Talvez o único consolo neste cenário desigual seja que, na Índia, os cineastas de língua hindi vendem mais ingressos que seus colegas de Hollywood. (BOSE, 2007, p. 89, grifo nosso).

2 De acordo com SOUSA, Market Share significa participação no mercado, ou seja, é a fatia

das vendas de um produto que cada empresa detém. No caso do cinema, podemos interpretar como a fatia de mercado de cada região cinematográfica.

3 O site brasilcultura.com.br, afirma que o conceito de multiplex surgiu há 20 anos nos EUA e

chegou ao Brasil no final da década de 90. Segundo o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), ele proporcionou um aumento da receita para os exibidores, tanto pelo crescimento do público como pela oferta de serviços adicionais, que incluem salas de jogos eletrônicos, estacionamento e praças de alimentação. Esses cinemas passaram a explorar de forma mais rentável a publicidade, exibida nas telas e nas áreas de alimentação. Com menos empregados para manter uma infraestrutura maior do que a dos cinemas tradicionais, esse modelo também se tornou vantajoso em relação a custos.

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Há uma forte comparação entre a Índia e outros países com relação aos índices de market share. O Irã é o país com o mais elevado market share em cinema – 99% -, seguido pela Índia, e pelos Estados Unidos, o terceiro. O Brasil só possui 11%. E por fim, observamos a comparação inevitável Brasil e Índia que enfoca diversidade cultural, clima, etnias, dentre outros aspectos.

Conforme dito anteriormente, verificamos que nos trabalhos científicos analisados, é difícil conseguirmos enxergar o cinema indiano em sua singularidade, sem termos que nos preocupar com cópias, reproduções, dados e comparações.

Um aspecto interessante a ser observado, quando estudamos a indústria cinematográfica de Bollywood, é que esta produz muitos filmes, porém estes estão voltados para seu consumo interno, doméstico. De acordo com Ballerini (2009), enquanto Hollywood produz, anualmente, cerca de 700 filmes (dados de 2005), Bollywood chega à marca de 1000 filmes anuais.

É importante ressaltarmos que existe outro movimento que pode ser observado atualmente na indústria indiana e no seu panorama nacional relacionado às opções midiáticas de entretenimento. De acordo com o Bose (2007):

Do rádio e da televisão ao telefone móvel, fitas e CDs de música, internet banda larga, home video (VCDs e DVDs), animação e videogames, cada alternativa representa um sólido fluxo de renda com o potencial de transformar um fracasso de bilheteria consumado em uma eterna máquina de gerar lucros. Analistas de marketing descrevem essas alternativas como delivery platforms (plataformas de distribuição). Em outro nível, contudo, cada uma dessas plataformas oferece ao consumidor a oportunidade adicional de exercer seu direito de escolher um meio de entretenimento segundo seus próprios critérios. Ele não é mais obrigado a participar do entretenimento cinematográfico esperando em filas e comprando um ingresso, apenas para ser trancado na escuridão de um cinema e assistir a um filme até o fim, mesmo que perca o interesse no meio. A tecnologia tornou possível que ele opte pelo entretenimento cinematográfico fora dos cinemas. (BOSE, 2007, p. 92).

Neste momento, chegamos a temática que envolve este trabalho. Ou seja, tanto na Índia quanto no Brasil, sabemos que não é mais necessário esperar o filme ser lançado no cinema para que possamos assisti-lo. Atualmente, antes mesmo do lançamento oficial do filme, podemos acessar a rede e suas cópias piratas disponibilizadas pelas mais diversas pessoas ao redor do mundo. Após o lançamento nos cinemas também acontece um movimento interessante. Nas décadas de

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80/90/2000, tínhamos que esperar longo tempo até que o filme visto no cinema fosse disponibilizado em VHS e posteriormente, em DVD.

Nos dias atuais, filmes que ainda estão em exibição nos cinemas podem ser acessados tanto na rede mundial de computadores como em TV´s por internet, como por exemplo a NetFlix 4. Neste ponto percebemos que, nosso espectador não espera mais tanto tempo para poder compartilhar o conhecimento, a rede mundial de computadores possibilita esta comunicação de maneira “quase” instantânea. O filme aqui estudado está disponível na rede, vamos conhecer agora um pouco de sua história e enredo e posteriormente veremos como se deu o movimento que o lançou da rede para o mundo.

Nos perguntamos então, porque a indústria cinematográfica indiana continua sendo uma das maiores indústrias mundiais, tendo números anuais de produção cada vez maiores? E a resposta desta pergunta vem ao encontro à resposta da temática desta pesquisa:

Para o cidadão comum, o cinema normalmente é a forma mais barata de entretenimento legítimo disponível. Com frequência, é a única forma de entretenimento disponível. Não surpreende que o cinema indiano mainstream5 tenha aderido tradicionalmente a uma fórmula bem rígida de histórias de fundo moral, inspiradas principalmente no épico Ramayana6. (BOSE, 2007, p. 89).

Neste ponto, podemos destacar o objeto de estudo deste trabalho, o filme Como Estrelas na Terra. Em seu enredo, apesar de não apresentar claramente um vilão, fica claro que estamos tratando de uma luta entre o “bem” e o “mal”. O bem sendo representado pelo menino protagonista do filme Ishaan, e seu professor

4 Netflix é uma empresa norte americana que oferece serviço de TV por internet, mediante

pagamento de assinatura mensal: https://www.netflix.com. Disponível em diversos países no mundo, inclusive no Brasil.

5 Mainstream, traduzido, quer dizer “Corrente principal”. Trata-se de um termo inglês que

designa o pensamento ou gosto corrente da maioria da população. É muito utilizado atualmente referindo-se às artes em geral (música, literatura, etc.).

6 De acordo com o blog cinemaindianobollywood.blogspot.com.br, Ramayana, é um filme

épico, onde o herói sempre representa o príncipe Rama, o modelo da masculinidade – atraente, protetor e corajoso – enquanto a heroína assume a persona da deusa Sita – bela, submissa e abnegada. O rei-demônio Ravana é o vilão arquetípico e o rei-macaco Hanuman é sempre o comediante – um amigo ou irmão do herói. Não se tem notícia de nenhum sucesso de bilheteria que não celebrasse o triunfo do bem (herói) sobre o mal (vilão).

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Nikumb, e o mal sendo representado pelo pai do menino e as condições impostas por ele.

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2 O FILME TAARE ZAMEEN PAR – COMO ESTRELAS NA TERRA

2.1 Resumo do filme

Figura 1 - O garoto Ishaan na primeira fase do filme, onde ele e sua família desconhecem a dislexia.

http://ipe-ce.blogspot.com.br/2011/01/como-estrelas-na-terra.html

O filme Taare Zameen Par – traduzido para o Brasil: Como Estrelas na Terra, retrata a história do menino Ishaan e sua conturbada trajetória escolar devido ao que “aparenta ser” problemas intelectuais e sociais. Em casa, enquanto seu pai, mãe e irmão mais velho seguem vidas produtivas e atarefadas, Ishaan permanece em marcha lenta em quase tudo que faz. Os contrastes destes dois mundos ocorrem tanto no lar quanto no ambiente escolar e são recorrentes no filme, tendo como objetivo retratar o mundo lúdico de Ishaan em contraposição ao mundo rígido e intransigente dos adultos. Indiretamente também mostram os sinais de uma possível deficiência cognitiva que passam despercebidos tanto pelos pais quanto os professores e que só mais tarde são apontados pelo professor de arte.

Na sala de aula Ishaan é distante, sofre humilhações dos colegas e é repreendido constantemente pelas professoras em virtude da sua falta de atenção. Consequentemente é rotulado como sem-vergonha, preguiçoso e engraçadinho

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enquanto o verdadeiro problema, sua dificuldade de aprendizagem, é ignorado e tão pouco enxergado pelos professores, apesar dos sinais serem evidentes. Ele mesmo chega a exclamar para a professora, ao não conseguir ler uma passagem de um livro, que: “as letras dançam no papel”.

Não é de surpreender quando seu pai decide mandá-lo para um colégio interno como castigo pela falta de dedicação e esforço aos estudos, já que, de acordo com as professoras, seus erros e indisciplina são feitos “de propósito”.

Neste instante a vida de Ishaan sofre um retrocesso enorme. Se antes ele era um menino alegre e curioso, fascinado pelo mundo, suas formas e cores que serviam de inspiração para suas belas pinturas, agora ele se torna uma criança reclusa e tristonha, anestesiado contra as humilhações, mas sentindo na pele o abandono, principalmente da mãe, e a decepção de estar sendo castigado por algo que é essencialmente incompreensível a ele. A mãe, submissa ao pai, como ditam as normas de algumas famílias tradicionais indianas, não se manifesta, aceitando a decisão do marido em enviar o filho para um colégio interno, localizado em outra cidade.

Mesmo na nova escola ele é visto como um menino com deficiência intelectual e acaba aceitando esse rótulo, abrindo mão de desenhar e até de se comunicar com os outros, se tornando indiferente ao mundo ao seu redor. Consequentemente, a nova escola, de padrão rígido e tradicional, reconhecida por “domar cavalos selvagens” nada serve para melhorar o desempenho dele, pois o verdadeiro motivo da sua dificuldade, a dislexia, ainda não foi diagnosticado. Além de não auxiliar na sua melhora escolar, o novo colégio acaba atrapalhando seu desenvolvimento social e emocional.

O fato de sua família e seus professores estarem despreparados para perceber os sinais deste transtorno torna o processo de alfabetização deste garoto um tanto mais complexo, chegando até a prejudicar seu desenvolvimento.

O professor temporário de arte no colégio interno percebe que há em Ishaan uma peculiaridade, um comportamento díspar aos dos outros meninos e um ar de tristeza e desinteresse.

O professor percebendo esse distanciamento do garoto e determinado a salvá-lo, recorre aos cadernos escolares do menino na tentativa de entender a raiz do problema. Neste momento percebe certo padrão nos erros de grafia de Ishaan condizentes aos erros apresentados por disléxicos, isto porque o próprio professor é

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disléxico e reconhece em Ishaan todas as dificuldades por ele sofridas em sua infância. O professor decide então, se aproximar de Ishaan a fim de salvá-lo.

A aproximação afetiva e a dedicação do professor, em conjunto com alguns recursos pedagógicos, apresentaram novas maneiras de apropriação e construção de conhecimento ao garoto.

Neste momento, e através da atenção e tempo dispensados por este professor, Ishaan consegue entender o processo de alfabetização e o que são realmente as letras, sílabas, palavras, frases e números. Esta característica do aluno disléxico será explicada no próximo capítulo.

O filme termina demonstrando um processo de superação do garoto Ishaan com auxílio de seu professor de artes, e a resolução do problema até então desconhecido por todos.

Figura 2 - O garoto Ishaan retratado por seu professor Nikumb, após sua superação.

http://filmes.film-cine.com/como_estrelas_na_terra-m3953

Um dos fatos mais marcantes é a atitude do pai que tenta se livrar do problema, enviando o filho para um colégio interno e assim limpando a imagem de sua família, já que seu primogênito é o aluno número um de sua turma.

E por fim, observamos claramente a luta entre o bem (Ishaan e seu professor de artes) e o mal (atitude severa do pai). Ao final do filme, e através do auxílio do

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professor de artes, o pai consegue compreender e aceitar seu filho frente às suas dificuldades; e consegue entender também as suas próprias dificuldades.

2.2 Contexto do filme na Índia

A temática deste filme, segue os padrões atuais do cinema Indiano, apesar de não ser um dos filmes mais famosos da Índia. O filme também não alcançou fama em território brasileiro, porém possui notoriedade entre os setores envolvidos com a sua temática: saúde, educação e em específico a educação especial e/ou inclusiva.

Como já foi dito anteriormente, tanto o consumidor brasileiro, quanto o indiano, buscam novas opções de entretenimento fora dos cinemas. Este movimento não é recente. Desde o advento do vídeo cassete até os dias atuais, os espectadores buscam opções para que possam assistir confortavelmente e a qualquer momento seus títulos favoritos. Podemos observar esta situação na afirmação de Bose:

O home vídeo, os sistemas de DVD e VCD, estão presentes há bastante tempo como alternativas mais convenientes à visita aos cinemas para assistir aos últimos lançamentos. Pouca coisa além disso é vendida ou alugada para o uso doméstico. Como os aparelhos de vídeo estão ficando mais baratos, enxutos e eficientes, o sistema de home theater representa uma séria ameaça à indústria cinematográfica – ainda mais com a livre circulação de cópias piratas em alta resolução de DVDs e VCDs. Em regiões da Índia como o nordeste, onde filmes em hindi têm pouquíssima presença, floresce, paralelamente, uma indústria de aparelhos de vídeo, fitas e DVDs falsificados. (BOSE, 2007, p. 94).

De acordo com Lipovetsky e Serroy (2009), no capítulo Rumo a um hipercinema, do livro: A Tela Global, o cinema atualmente vive um momento em que se questiona a sua identidade. Este questionamento acontece em função das diversas mídias (telas) existentes e que aparentam dominar a atenção dos espectadores ao redor do mundo. A concorrência mais forte e que se estabelece diretamente é, sem dúvida, com a web.

Diversos autores perguntam se poderá o cinema sobreviver à escalada das indústrias de programas e estratégias multimídia. E, como o cinema irá se reinventar para poder superar esta competição.

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Sem dúvida, o cinema mundial tem que se reinventar, de outra forma não sobreviverá ao atual momento midiático que vivemos. Não existe uma crise declarada em função da competição entre as diversas telas, mas, podemos observar movimentos diferenciados no cinema mundial que visam atrair novamente cada vez mais espectadores para suas salas de cinema.

E, como competir com uma mídia (web) extremamente imediatista e onipresente?

Verificamos o surgimento de ligações/relações entre as diversas mídias oriundas de determinado produto, como por exemplo um longa-metragem, um game, dentre outros. Ou seja, a partir do lançamento de um determinado longa metragem ou de um seriado de televisão, por exemplo, diversos produtos, subprodutos e mídias surgem como uma espécie de rede midiática adjacente ao produto principal. Um exemplo bastante conhecido desta situação é o longa Matrix. De acordo com o site telacritica.org, a partir da trilogia do filme foram lançados: desenhos animados, história em quadrinhos e um jogo.

Neste estudo em específico, pretendemos verificar as relações estabelecidas nas diversas mídias através da divulgação do filme Bollywoodiano Como Estrelas na Terra, tanto na Índia quanto no Brasil. Neste caso, serão analisados os produtos derivados a partir do filme, os principais produtos analisados serão os blogs, produzidos na Índia e no Brasil. A análise acontece no sentido de verificar a reação do público brasileiro após o lançamento deste filme, feito através do site YouTube. Vale ressaltar que foram criados também, diversos grupos de discussão sobre o filme, assim como páginas em redes sociais (Orkut e Facebook) além de um abaixo assinado virtual que solicitava a visita da equipe de produção e atores do filme ao Brasil. Este abaixo assinado, ou petição como foi denominada por seus criadores, pode ser acessado em < http://cinemaindiano.blogspot.com.br/2008/06/taare-zameen-par.html>.

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Figura 3 - Foto oficial de divulgação do filme.

http://appreciate-here.blogspot.com.br/2012/02/como-estrelas-na-terra-toda-crianca-e.html

Conforme mencionado anteriormente, neste trabalho quando pensamos no cinema Indiano, o exemplo utilizado é o filme Como Estrelas na Terra.

O título do filme traduzido para o Português é Como Estrelas na Terra – Toda Criança é Especial, o título original é Taare Zameen Par, que traduzido literalmente significa Like Stars on Earth. Este filme foi rodado em Mumbai, antiga Bombaim onde se localiza a casa do personagem principal (menino Ishaan) e Panchgini onde se encontra o colégio interno para o qual o menino é encaminhado em determinada parte do enredo. Esta região é também conhecida como Bollywood (Hollywood + Bombaim) e, como vimos, esta é a região cinematográfica mais forte da Índia em termos de popularidade e lucros. Em segundo lugar encontra-se o cinema Telugu e em terceiro lugar está a região de Tamil também conhecida como Kollywood.

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Em 2010 a Walt Disney Home Entertainment comprou seus direitos para exibição no Reino Unido, Estados Unidos e Austrália com o título Like Stars on Earth. Através de pesquisas realizadas em blogs do cinema Indiano (por exemplo, cinemaindiano.blogspot.com.br), verificamos que este filme foi lançado em 2007 na Índia e tinha como objetivo principal trazer maior humanidade à sociedade Indiana através de uma crítica social à educação e à família tradicional.

Com a temática central do filme o diretor e também ator principal Aamir Khan, pretendia juntamente com o produtor Amole Gupte, fazer a sociedade indiana refletir sobre temas como: o que é ser pai na Índia? Qual a responsabilidade dos pais na criação dos filhos? O que implica ser filho (criança) na Índia? Qual o papel do educador na Índia? Qual a importância da escola na formação de um novo ser humano? Qual a função social e educacional da escola? E por fim, os responsáveis pelo filme queriam alertar principalmente para as consequências da negligência verificada na Índia com relação à diversidade presente em suas crianças, tendo como foco a Educação Especial. Ou seja, a mensagem principal transmitida é a de que toda criança é especial e não somente aquelas diagnosticadas como tal.

Neste contexto, o filme situa a dislexia e relata através da ficção, o caso de um garoto disléxico, suas dificuldades, seu cotidiano, suas potencialidades, a superação de problemas decorrentes da dislexia e demonstra através de exemplos, como lidar com este transtorno (ou dificuldade) de aprendizagem no dia a dia seja na escola ou na família.

Cabe aqui uma pequena explicação: a dislexia é um transtorno específico de aprendizagem relacionado à leitura e escrita. Alguns autores como Muskat (2011) também a consideram como uma dificuldade de aprendizagem. O aluno disléxico apresenta necessidades educacionais especiais e por este motivo precisa de acompanhamento multiprofissional em seu cotidiano. Estas necessidades estão relacionadas à origem neurológica do transtorno, ou seja, a dislexia é um transtorno que é diagnosticado por uma equipe multidisciplinar composta por médico neurologista, psicopedagogo, psicólogo, fonoaudiólogo, dentre outros. Pais, professores, fonoaudiólogos, psicopedagogos, psicólogos devem estar preparados para lidar com este transtorno e saber quais técnicas podem ser utilizadas no sentido de facilitar o desenvolvimento escolar destes alunos.

O filme apresenta de maneira didática todos os sinais apresentados pelo paciente com dislexia, a maneira ideal para seu tratamento e acompanhamento visto

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que a dislexia não é uma doença e não tem cura. O paciente disléxico aprenderá a lidar com este transtorno de aprendizagem e dependendo do grau da dislexia conseguirá “sobreviver” no ambiente escolar podendo chegar à graduação e pós-graduação.

Por todos estes aspectos aqui relacionados, consideramos o filme Como Estrelas na Terra um importante exemplo produzido pela indústria cinematográfica de Bollywood, e, ao verificarmos sua utilização no Brasil 7, percebemos a influência da web neste novo movimento que, acaba re-significando este filme e utilizando-o como instrumento de divulgação e estudo da dislexia no país.

7 No Brasil, este filme tornou-se referência entre os estudiosos do assunto. A ABD –

Associação Brasileira de Dislexia - entidade reconhecida internacionalmente - indica em suas palestras informativas sobre o tema que, tanto profissionais quanto pacientes, assistam ao filme para que possam vivenciar de maneira didática este transtorno.

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3 A WEB COMO FERRAMENTA NA TRANSFORMAÇÃO DE

CONHECIMENTOS

André Gorz em seu livro O Imaterial (2005), especificadamente no capítulo III – Rumo a um comunismo do saber? - nos fala sobre a importância do compartilhamento do saber:

O saber não é uma mercadoria qualquer, seu valor (monetário) é indeterminável; ele pode, uma vez que é digitalizável, se multiplicar indefinidamente e sem custos; sua propagação eleva sua fecundidade, sua privatização a reduz e contradiz sua essência. (GORZ, 2005, p. 59).

Sabemos que até há pouco tempo as pessoas utilizavam a televisão e a mídia impressa para atualizarem suas informações diariamente, porém hoje o que verificamos é que a Web, em específico sites como Google, Portal de notícias (Terra, Yahoo, Globo, UOL, dentre outros) tornaram-se a principal ferramenta utilizada para mantê-las informadas sobre o mundo que as rodeia.

No Brasil, atualmente, a maioria das pessoas utiliza a web tendo como finalidade principal o entretenimento seja em redes sociais, sites específicos, vídeos compartilhados, superando em algumas regiões, a televisão. Sem dúvida, estamos diante de outras formas para compartilharmos o saber.

Mas, o que significa saber/conhecimento na era da informação? A tecnologia atualmente nos remete a novas formas de perceber e nos apropriarmos dos conteúdos e transformarmos estas informações através de novas formas de linguagem. Segundo Castells, (1986):

O que mudou não é o tipo de atividades em que participa a humanidade, o que mudou é sua capacidade tecnológica de utilizar como força produtiva direta o que distingue a nossa espécie como raridade biológica, isto é, sua capacidade de professar símbolos (CASTELLS, 1986 apud MARTÍN-BARBERO, 2014, p. 79).

Vivemos em uma sociedade onde o saber é circulante, não-estático, vivo. Mas, nem sempre foi assim. Jesus Martín-Barbero nos conta que, o saber desde as épocas

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dos monastérios, fora controlado e centralizado, e hoje, com o avanço da tecnologia, não possuímos mais este controle:

Dos monastérios medievais até as escolas de hoje, o saber havia conservado o caráter de ser ao mesmo tempo centralizado territorialmente, controlado através de dispositivos técnico-políticos, e associado a figuras sociais de classe especial. Daí que as transformações nos modos como circula o saber constitua uma das mais profundas transformações que uma sociedade pode sofrer. A dispersão e a fragmentação, cuja culpa atribui-se aos meios, como se se tratasse de um efeito perverso, adquirem no plano das relações entre produção social e conhecimento um sentido outro, já que é disperso e fragmentado que o saber está podendo escapar ao controle e à reprodução que imperam em seus lugares legitimados de circulação (MARTÍN-BARBERO, 2014, p. 80).

Com o advento da web, o saber e o conhecimento não se encontram mais centralizados, seja em um local, seja em determinadas pessoas. Porém, podemos observar uma dispersão e fragmentação do saber, e neste ponto, nosso trabalho visa perceber como este novo saber descentralizado pode ser corretamente utilizado por nossa sociedade, tendo como base o movimento observado através da divulgação do filme Como Estrelas na Terra, pela web.

Martín-Barbero nos revela que, em primeiro lugar, o saber é descentralizado pelo seu primeiro local de ocupação, desde a invenção da imprensa: o livro. Hoje, o livro impresso está repaginado, sabemos que não será substituído, mas percebemos que o centro da informação não encontra-se mais nele. Temos e-books e mais ainda, hipertextos que nos levam à lugares e informações antes não pensados. Há 20 anos, poucas pessoas possuíam computadores em suas casas e menos pessoas ainda, possuíam acesso à web. Hoje, qualquer pessoa que tenha um smartphone tem acesso rápido e fácil, não somente às notícias vinculadas na web mas também: às redes sociais, aplicativos dos mais diversos tipos, desde aqueles direcionados à games, compras, comunicação, informação, saúde, alimentação, gastronomia, dentre outros.

A web é sem dúvida, um meio de comunicação de massas. Segundo o Dicionário de Comunicação (1987), os meios de comunicação de massa possuem as seguintes características:

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a) são operados por organizações amplas e complexas, envolvendo diversos profissionais, com diferentes habilidades;

b) são capazes de difundir suas mensagens para milhares ou até milhões de pessoas, utilizando grandes recursos tecnológicos (os veículos de massa), sustentados pela economia de mercado (através da publicidade, principalmente);

c) falam para uma audiência numerosa, heterogênea, dispersa geograficamente e anônima;

d) e, principalmente, exercem uma comunicação de um só sentido, ainda que possuam algum sistema de feedback (índices de audiência, por exemplo).

Quando falamos em web, sabemos que este último item não se aplica pois, a comunicação via rede não precisa ocorrer em um só sentido. A web permite que sua audiência trace seu próprio caminho para o acesso aos conteúdos, determinando quando e quais informações quer receber.

Atualmente, a web torna disponível uma imensa quantidade de informações, sendo, além de um meio de distribuição destas informações, um importante meio de produção destas. Segundo Castells: “usuários e criadores podem tornar-se a mesma coisa” (CASTELLS, 1999).

Martín-Barbero reforça esta capacidade transformadora da tecnologia, da web em si:

A capacidade transformadora da tecnologia vai em muitos sentidos, tanto criativos quanto destrutivos, tanto emancipadores como escravizantes, porém a única certeza é que hoje não se sabe onde vai parar essa mutação na circulação do conhecimento e da informação (MARTÍN-BARBERO, 2014, p. 129).

Percebemos uma verdadeira revolução digital propiciada primeiramente pelo advento da web e posteriormente pela utilização em massa de sites como Google e YouTube, por exemplo.

Este saber descentralizado de que fala Jesús Martín-Barbero em seu livro, que antes era contido nas escolas e livros, transforma-se na situação atual em que

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vivemos, onde o saber acontece sem lugar próprio e proporcionado por uma aprendizagem contínua. Trata-se de um saber que pode estar nas redes, em sites, debates, discussões, ambientes virtuais de aprendizagem, entre outros lugares virtuais. O que queremos destacar desta ideia de Martín-Barbero é a não-localização do saber que pode e deve ser compartilhado via rede. Assim como o filme Como Estrelas na Terra, diversos assuntos podem ser compartilhados via rede, por diversos países ao redor do mundo. Desta forma, o conhecimento que antes estava restrito passa a ser amplamente divulgado, alterado e transformado.

Segundo Martín-Barbero (2014), “O deslocamento implica a disseminação do conhecimento, isto é, ficam borradas as fronteiras que o separavam do saber comum (...) e a particularidade do saber da experiência” .

Não existe mais local fixo para o compartilhamento dos saberes. A discussão de Martín-Barbero se refere à escola, mas podemos aproveitar muitas de suas ideias para a nossa discussão, visto que o filme aqui estudado só chegou ao conhecimento do público brasileiro especificamente, em decorrência deste saber compartilhado via rede (web).

Este capítulo busca investigar como esta revolução aconteceu e seus benefícios atuais, principalmente através da divulgação de filmes locais (regionais) entre os diversos países do mundo, isto porque, através do YouTube os brasileiros puderam ter acesso, como em nosso exemplo, ao filme indiano Como Estrelas na Terra, que trata da educação na Índia e que no Brasil, acabou sendo utilizado de maneira diferente.

3.1 Caiu Na Rede

O filme aqui estudado ao “cair na rede”, sendo divulgado através do YouTube, e principalmente ao chegar ao Brasil em 2008, teve sua função principal alterada. Podemos afirmar que todos os questionamentos feitos pela produção e direção do filme se mantêm e podem ser utilizados também para a realidade brasileira, porém, sua mensagem principal em nosso país está vinculada diretamente à dislexia (que é a necessidade educacional apresentada por Ishann – personagem principal do filme juntamente com o professor Nikumb vivido pelo ator que também é diretor deste filme). Através de pesquisas realizadas em sites relacionados ao tema, pudemos perceber que este filme é um dos poucos que retrata de maneira adequada a visão

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do disléxico e as demais pessoas envolvidas em seu cotidiano e por este motivo é amplamente utilizado tanto na área da saúde quanto da educação.

André Gorz é defensor da ideia de acesso livre a web e ao conhecimento, ele acredita na distribuição livre do saber e afirma que “De fato, os programas de computador são ao mesmo tempo meios de criação de redes e meios de transmissão, de comunicação, de partilha, de troca e de produção”. (GORZ, 2005, p. 59). Com a disseminação via rede deste filme podemos afirmar que acontece realmente o acesso livre ao conhecimento, ou seja, muitas pessoas aqui no Brasil passaram a conhecer o que é a dislexia através dele e a partir dele puderam se interessar e aprofundar noções e conceitos apresentados no filme.

Estudantes universitários que antes não sabiam o que é a dislexia passam a conhecê-la através deste filme e posteriormente se interessam por este transtorno de aprendizagem a partir deste primeiro contato. Este fato pode ser comprovado através de cursos de extensão que ministrei nos anos de 2010, 2011 e 2012. A temática dos cursos era sempre a dislexia em sala de aula. Em 2010, ao iniciar a realização destes cursos oferecidos por uma Universidade particular de São Paulo para a comunidade interna e externa, os alunos que se interessavam pelo tema não conheciam o filme. Já nas últimas edições por mim realizadas em 2012 deste curso, os alunos chegavam ao curso já tendo assistido ao filme previamente. Ou seja, em dois anos, o filme transformou-se em mola propulsora para o interesse destes alunos com relação a dislexia. De conhecimento complementar, passou a ser referência básica de acesso ao tema em si.

Claro que não somente o filme pode ser responsável por esta mudança de cenário. O interesse pela dislexia também pode ter sido despertado através de outra grande mídia, a televisão. Em 2008, a Rede Globo veiculou a novela Duas Caras onde a personagem da atriz Bárbara Borges era disléxica e sua mãe, interpretada por Renata Sorrah a auxiliava em casa e nas dificuldades do dia a dia.

Em 2011, o programa matinal Mais Você também da Rede Globo, veiculou uma reportagem fazendo alusão à novela e esclarecendo um pouco mais sobre a dislexia. Posteriormente, diversos outros programas da emissora veicularam reportagens sobre o tema. Sabemos que este esclarecimento feito por uma grande mídia e por uma grande emissora do país favoreceu e muito, o conhecimento deste transtorno e do filme relacionado a ele.

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Em seu livro Cultura da Convergência (2008), Henry Jenkins nos mostra qual será o próximo estágio da comunicação e sua evolução, que passa de interativa para participativa. O conceito de convergência elaborado por Jenkins avalia que: “Convergência representa uma transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos midiáticos dispersos”.

Outro conceito importante explorado por Jenkins e que cabe neste momento para justificar esta pesquisa é o de Cultura Participativa. Para o autor, este conceito vai ao sentido contrário às noções de passividade dos espectadores e acontece no cérebro de cada um a partir de pedaços e informações extraídos do fluxo midiático e transformados em recursos através dos quais compreendemos nossa vida cotidiana. Os conceitos elaborados por Jenkins: convergência, cultura participativa e também o de inteligência coletiva tornam-se viáveis a partir do surgimento de um novo perfil de consumidor de produtos midiáticos, um consumidor que é: ativo, migratório, leal a redes ou meios de comunicação, conectado socialmente, barulhento e público.

O último conceito explorado por Jenkins que será tratado aqui, diz respeito a inteligência coletiva, trata-se de um termo de Pierre Lévy que segundo Jenkins:

Se refere à capacidade de comunidades virtuais de alavancarem o conhecimento e a especialização de seus membros, normalmente pela colaboração e discussão em larga escala. Lévy considera a inteligência coletiva uma nova forma de poder, com os mesmos efeitos do poder das migrações, do Estado-nação e do capitalismo de massa. (JENKINS, 2008, p. 337).

O novo consumidor barulhento de produtos midiáticos que procura o conhecimento quer transformá-lo e poder assim compartilhar em sua rede de contatos, ele é um espectador que tem expectativa e não um espectador que somente vê ou assiste passivamente determinado produto midiático.

Com a transformação proposta a partir do surgimento de novas mídias, e da conexão entre elas, verificamos que está acontecendo também uma reavaliação por parte dos educadores do valor da chamada educação informal, isto é, o público está exigindo participar ativamente da cultura, e ao compartilhar vídeos, postar mensagens em blogs, criar ambientes de discussão, este conhecimento se torna possível e

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acessível. Este mesmo público é composto pela grande massa que vê na web a possibilidade de ter acesso a um conhecimento anteriormente restrito a bibliotecas, grupos de pesquisa e discussão.

Clay Shirky (2011) em seu livro A cultura da participação: criatividade e generosidade no mundo conectado, no capítulo intitulado Meios, fala sobre este conhecimento excedente, ou seja, que transborda e faz com que as pessoas queiram sempre compartilhar:

O direcionamento do nosso excedente cognitivo permite que as pessoas se comportem de forma cada vez mais generosa, pública e social, em comparação com seu antigo status de consumidoras e bichos-preguiça. A matéria prima dessa mudança é o tempo livre disponível para nós, tempo que podemos investir em projetos que variam da diversão à transformação cultural. Se tempo livre fosse a única coisa necessária, entretanto, as atuais mudanças teriam acontecido há meio século. Agora temos à nossa disposição as

ferramentas e as novas oportunidades que elas viabilizam.

Nossas novas ferramentas não causaram esses comportamentos,

mas o permitiram. Uma mídia flexível, barata e inclusiva nos oferece agora oportunidades de fazer todo tipo de coisas que não fazíamos antes. No mundo da “mídia”, éramos como crianças,

sentadas quietas nas margens de um círculo e consumindo o que quer que os adultos, no centro do círculo, produzissem. Isso criou um mundo no qual muitos tipos de comunicação, pública e privada, estão de alguma forma à disposição de todos. (SHIRKY, 2011, p. 61, grifo nosso).

Esta nova mídia possibilitou uma transformação não somente no perfil de seu usuário, mas também fez com que surgissem novas necessidades, oportunidades que favoreceram o surgimento de um novo comportamento: generoso, público e social. Ao acessar o filme Como Estrelas na Terra através do YouTube, o público no Brasil percebeu um novo olhar sobre a educação e especificamente na educação especial ao tratar da dislexia tão de perto.

Queremos ressaltar a importância do ato de compartilhar filmes relacionados aos temas como direitos sociais, educação e saúde dentre outros via web, em particular através do site YouTube. Juliano Spyer em seu livro Conectado, no capítulo Existe educação colaborativa? amplia esta discussão e fala sobre a importância da web em sala de aula. Segundo ele “a internet é uma ferramenta de aprendizado na medida em que seu combustível são as trocas de informação e conhecimento”. (SPYER, 2007, p. 168). A principal discussão que o autor aborda neste ponto é de

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que maneira a web como um todo pode contribuir no processo educacional e favorecer uma mudança de rotinas relacionadas à disciplina, avaliações e didática.

Segundo Mercado (2001), a internet funciona como ferramenta didática a partir do momento que colabora para uma reflexão crítica, para o desenvolvimento de pesquisas e facilita a aprendizagem de forma permanente e autônoma incentivando, assim, o surgimento de novas tecnologias. Podemos observar este movimento através da citação de Jean Piaget, feita ainda no início dos anos 70:

O principal objetivo da educação é criar homens que sejam capazes de fazer novas coisas e não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram; homens que sejam criativos, inventores, descobridores. O segundo objetivo da educação é formar mentes que possam ser críticas, que possam analisar e não aceitar tudo que se lhes é oferecido (PIAGET, 1970, p. 28)

Aproveitamos este trecho para ressaltar que podemos utilizar o conhecimento que “caiu na rede” para diversas atitudes colaborativas: propagar novos saberes, promover debates, instigar e incentivar a pesquisa, criar grupos de discussão entre outras ações. Nicolau (2009) afirma que: “Além da descentralização da produção, o ciberespaço traz outra característica básica, a desterritorialização da cultura, ambas possíveis devido à imaterialidade dos discursos”. Neste sentido, o filme aqui estudado se encaixa nesta característica proposta por Nicolau, ou seja, o filme, produzido na Índia, com determinados objetivos relacionados diretamente à uma crítica da sociedade indiana, chega ao Brasil, aqui, seus espectadores apropriam-se de outro aspecto importante do filme e acabam utilizando-o de maneira diversa àquela ideia original.

Até pouco tempo atrás, a web era utilizada como troca de informações entre centros militares localizados nos Estados Unidos. De acordo com Monteiro, (2001):

A internet atual surgiu de uma rede idealizada em meados dos anos 60, como uma ferramenta de comunicação militar alternativa, que resistisse a um conflito nuclear mundial.Um grupo de programadores e engenheiros eletrônicos, contratados pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, desenvolveu o conceito de uma rede sem nenhum controle central, por onde as mensagens passariam divididas em pequenas partes, que foram chamadas de “pacotes”. Assim, as informações seriam transmitidas com rapidez, flexibilidade e tolerância a erros, em uma rede onde cada computador seria apenas um ponto

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(ou “nó”) que, se impossibilitado de operar, não interromperia o fluxo das informações.

Baseado neste conceito, em outubro de 1969, com uma comunicação entre a Universidade da Califórnia e um centro de pesquisa em Stanford, entrou em operação a ARPAnet (Advanced Research

Projects Agency Network), inicialmente ligando quatro computadores.

Posteriormente, mais computadores se juntaram a estes, pertencentes a outras universidades, centros de pesquisa com fins militares e indústrias bélicas (MONTEIRO, 2001, p. 28).

No início da sua disseminação entre os consumidores brasileiros, na década de 1990, o hit da web era o e-mail. Atualmente, o e-mail está ultrapassado. As redes sociais são o hit do momento. Tudo é compartilhado via rede social, desde uma foto de amigos, até lugares visitados, pratos experimentados chegando até fotos íntimas. Nosso cotidiano está exposto na rede, tanto para o lado bom quanto para o lado ruim.

Acreditamos que todos podem utilizar a web de maneira benéfica e, ao estudar o fenômeno do filme Como Estrelas na Terra, no Brasil, podemos comprovar esta afirmação.

Se não fosse a web, talvez, ainda hoje, no ano de 2015 não tivéssemos tido contato com este filme. Talvez, ele não tivesse adquirido este novo significado imposto e/ou criado pela legião de fãs brasileiros que o acompanhou. E ainda, não estaria sendo utilizado como importante instrumento de divulgação didática do transtorno de aprendizagem nele estudado: a dislexia.

Sabemos que a cada dia, a psicologia, educação, comunicação, negócios, enfim, as mais diversas áreas do conhecimento evoluem com novas descobertas.

A dislexia é um transtorno de aprendizagem descoberto recentemente (a partir do início década de 80) e podemos afirmar que, após o advento da web, pode ser amplamente divulgado e com isso facilitamos e muito, o cotidiano de pacientes disléxicos, seus familiares e professores.

Ao verificarmos a quantidade de visualizações do filme via YouTube, chegamos a aproximadamente 482 mil visualizações desde 2008. Durante a realização desta pesquisa (2013 a 2015), observamos um aumento de 157 mil visualizações. Como um exemplo, no sentido de comparar a quantidade de visualizações, podemos citar em um período de 2 semanas (30/dezembro/2014 a 14/janeiro/2015) que o filme que trata da biografia de Tim Maia teve 220 mil visualizações.

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Isto quer dizer que, a tímida quantidade de visualizações deste filme (Como Estrelas na Terra), comparada com outros “assuntos do momento” não traz números expressivos, mas, no universo da educação especial, este pouco já é muito.

Em suma, o efeito Caiu na Rede, é devastador, tanto para o bom uso das mídias, quanto para o seu mau uso. O filme aqui estudado teve um efeito transformador positivo e interessante ao ser exportado do continente asiático para o continente Sul- Americano, no Brasil, em específico. Além da divulgação, houve uma ressignificação de seu conteúdo extremamente importante para determinadas áreas do conhecimento.

3.2 O Efeito transformador após a disseminação da informação via rede

Trataremos aqui do efeito transformador observado no Brasil, após o filme Como Estrelas na Terra ter sido compartilhado via YouTube . Percebemos este efeito, ou este novo olhar, através de manifestações via blogs, sites e redes sociais.

Na sequência da sua divulgação via internet, criou-se uma página específica sobre o filme, voltada para o público Brasileiro, dentro do blog cinemaindiano.blogspot.com.br . Esta página tinha por finalidade, trazer a equipe do filme (atores, produtores e direção) para que o público brasileiro pudesse conhecê-los pessoalmente, e ainda, pudessem conversar sobre a temática do filme. Este é apenas um exemplo de como a cultura participativa influenciou o movimento deste filme em nosso país.

Mas, para falarmos do efeito transformador via rede, temos que nos ater primeiramente ao veículo ou ferramenta que propiciou este efeito: o YouTube .

Em seu livro YouTube e a Revolução Digital, Jean Burgess e Joshua Green afirmam categoricamente “Quer você o ame, quer você o odeie, o YouTube agora faz parte do cenário da mídia de massa e é uma força a ser levada em consideração no contexto da cultura popular contemporânea” (BURGESS e GREEN, 2009, p. 11).

O YouTube não é mais um simples site onde as pessoas compartilham vídeos próprios ou de interesses particulares. Hoje em dia, é uma ferramenta importantíssima tanto para a cultura em geral quanto para a educação. Esta afirmação pode ser facilmente comprovada através da criação da página YouTube Edu, conforme afirma o histórico do site:

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Sobre o YouTube Educação: Se você estiver fazendo uma pesquisa para um projeto, precisando de ajuda com uma tarefa escolar, ou apenas querendo aprender algo novo, o YouTube EDU apresenta alguns dos vídeos de educação mais populares do YouTube. Uma parceria entre a Fundação Lemann e Google, criamos uma página exclusiva do YouTube na qual professores, escolas e alunos podem encontrar conteúdos educacionais gratuitos e de qualidade, em português. A curadoria dos vídeos foi feita por professores especialistas e altamente capacitados, selecionados e coordenados pela Fundação Lemann. Num primeiro momento, os conteúdos disponíveis são voltados para o Ensino Médio e englobam as seguintes disciplinas: Língua Portuguesa, Matemática, Química, Física e Biologia. O canal será constantemente atualizado com novos vídeos e, em breve, incluirá também conteúdo do Ensino Fundamental e Ensino Superior. (YouTube Edu, Disponível em: <https://www.YouTube.com/channel/UCs_n045yHUiC-CR2s8AjIwg> Acesso em: 08/fevereiro/2015).

Ou seja, o sucesso foi tão grande de vídeos ligados à Educação, que foi criado um novo “braço” do YouTube voltado exclusivamente à esta finalidade. O filme aqui estudado está dentro deste contexto educacional. Já vimos que sua intenção ao ser filmado na Índia era uma e, ao ser compartilhado via rede, alcançou outros objetivos no Brasil, objetivos estes que não foram previamente planejados pela equipe produtora do filme.

Neste momento é necessário que conheçamos o surgimento do site YouTube. De acordo com o livro de Burgess:

Fundado por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, ex--funcionários do site de comércio on-line PayPal, o site YouTube foi lançado oficialmente sem muito alarde em junho de 2005. A inovação original era de ordem tecnológica (mas não exclusiva): o YouTube era um entre os vários serviços concorrentes que tentavam eliminar as barreiras técnicas para maior compartilhamento de vídeos na internet. Esse site disponibilizava uma interface bastante simples e integrada, dentro da qual o usuário podia fazer o upload 8, publicar e assistir

vídeos em streaming9 sem necessidade de altos níveis de

conhecimento técnico e dentro das restrições tecnológicas dos programas de navegação padrão e da relativamente modesta largura de banda.

8 O site tecmundo.com.br afirma que upload é o caminho feito pela máquina do usuário quando

envia algum conteúdo para o “server” (servidor) na internet.

9 De acordo com o site techtudo.com.br a tecnologia streaming é uma forma de transmissão

instantânea de dados de áudio e vídeo através de redes. Por meio do serviço, é possível assistir a filmes ou escutar música sem a necessidade de fazer download, o que torna mais rápido o acesso aos conteúdos online.

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(...) o momento de sucesso chegou em outubro de 2006, quando o Google pagou 1,65 bilhão de dólares pelo YouTube. Em novembro de 2007, ele já era o site de entretenimento mais popular do Reino Unido, com o site da BBC ficando em segundo. No começo de 2008, de acordo com vários serviços de medição de tráfego da web, já figurava de maneira consistente entre os dez sites mais visitados do mundo. Em abril de 2008, o YouTube já hospedava algo em torno de 85 milhões de vídeos, um número que representa um aumento dez vezes maior em comparação ao ano anterior e que continua a crescer exponencialmente. (BURGESS, 2009, p. 17, 18).

Trata-se de um caso específico dentro da rede mundial de computadores. Nem todo site que se propõe a compartilhar vídeos alcança este sucesso. E qual seria o segredo? Podemos dizer que seria o resultado de uma mistura de elementos: em primeiro lugar o fato de seus usuários conseguirem além de assistirem aos vídeos preferidos, compartilhar seu próprio conteúdo. Ou seja, qualquer pessoa, registrada no site pode disponibilizar seu vídeo ficando assim, acessível para visualização de milhões de pessoas ao redor do mundo.

Em segundo lugar, seria a facilidade desta atividade, ou seja, não há grandes dificuldades técnicas ao se compartilhar um vídeo via YouTube, tornando-o assim, extremamente popular entre a massa nas grandes cidades.

Além disso, a possibilidade de poder comentar sobre qualquer vídeo dentro do site, recomendar outros vídeos, relacionando-os, e poder reproduzir o vídeo em outros sites da internet (por exemplo, redes sociais como o Facebook), tornam o YouTube tão popular e atual.

Somando-se a todos estes fatores, podemos incluir o fato de que, mesmo que o vídeo (ou filme) não esteja com as legendas ativas feitas pelo seu produtor, no próprio site, o usuário consegue ativar esta possibilidade.

Ainda tentando compreender o que é o YouTube, e como consegue alcançar tantas pessoas ao redor do mundo, Burgess ainda afirma que:

(...) É entendido de vários modos: como plataforma de distribuição que pode popularizar em muito os produtos da mídia comercial, desafiando o alcance promocional que a mídia de massa está acostumada a monopolizar e, ao mesmo tempo, como uma plataforma para conteúdos criados por usuários na qual desafios à cultura comercial popular podem surgir, sejam eles serviços de notícias criados por

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