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IV Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais de julho de 2013, Belo Horizonte, MG.

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IV Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais

23-26 de julho de 2013, Belo Horizonte, MG.

Painel: Os desafios da governança global do clima: entre a urgência da ciência e a inércia da política

Área temática: Instituições Internacionais

Titulo: O índice de compromisso climático. Um estudo exploratório

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Resumo

Existem dois conceitos centrais que iluminam a área de interação entre clima e relações internacionais: poder climático e compromisso climático. O poder climático avalia o nível de agencia dos atores na área de governança do clima e sustenta as categorias de superpotência, grande potência e potência média climática como agentes centrais dessa estrutura. O compromisso climático avalia a disposição de esses atores adotarem medidas para estabilizar o sistema climático e justifica a distinção entre forças reformistas, conservadoras e conservadoras moderadas. O objetivo desse artigo é discutir de forma exploratória o segundo desses conceitos através da elaboração do “índice de compromisso climático”, um instrumento construído para avaliar de forma qualitativa o grau de assimilação que uma sociedade dada tem da mudança climática como vetor civilizatório principal.

O índice agrupa uma série ampla de variáveis em duas dimensões: situação climática, que faz referencia ao perfil e trajetória de emissões de gases de efeito estufa; e situação política do clima, que faz referência à forma como a sociedade e lideranças políticas assimilam o problema climático, nas esferas doméstica e internacional. Nesse sentido, o maior grau de compromisso climático possível implicaria uma trajetória decrescente de emissões mantida no tempo, uma sociedade consciente do problema e demandando soluções, e uma liderança politica que assimila essa demanda e a traduz em políticas públicas de adaptação e mitigação no âmbito doméstico e em uma atuação internacional que estimula a criação e consolidação de instrumentos de governança global sobre a matéria.

O conceito de compromisso climático e o índice proposto lidam diretamente com a questão dos elementos que influenciam as respostas políticas ao desafio climático, e por tanto, podem se tornar um instrumento útil para abordar a defasagem entre a urgência evidenciada pelo conhecimento científico e a inércia dos processos políticos.

Palavras Chave: Governança Global – Mudanças Climáticas – Compromisso Climático – Política Ambiental Global.

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Introdução

Existem dois conceitos centrais que iluminam a área de interação entre clima e relações internacionais: poder climático e compromisso climático (Viola e Franchini, 2012; Viola, Franchini e Lemos Ribeiro, 2013).

O poder climático avalia o nível de agência dos atores na área de governança do clima e sustenta as categorias de superpotência, grande potência e potência média climática como agentes centrais dessa estrutura. As superpotências são aqueles atores indispensáveis para que qualquer estrutura de governança do clima seja eficaz, já que, além de critérios de poder clássico como o econômico, politico e militar, possuem uma alta proporção das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) global e alto capital humano e tecnológico para uma transição para uma economia de baixo carbono1. As superpotências são três, Estados Unidos, China e a União Europeia. As grandes potências são cinco - o Brasil, a Coreia do Sul, a Índia, o Japão e a Rússia – não são indispensáveis para a governança do sistema climático, no entanto sejam importantes para o rumo da descarbonização global. As potências médias tem peso limitado na arquitetura de governança do clima, embora representem de forma combinada aproximadamente 25% das emissões globais2.

O compromisso climático avalia a disposição de esses atores adotarem medidas para estabilizar o sistema climático e justifica a distinção entre forças reformistas, conservadoras e conservadoras moderadas. O compromisso climático baixo caracteriza às potencias conservadoras, o médio as potencias moderadas e o alto às reformistas.

O conceito expressa como os países se inserem na estrutura de governança global sobre clima. Conhecer essa forma de inserção se torna central em tempos que a questão climática muda ao centro da agenda das relações internacionais e opera cada vez mais como macro-vetor civilizatório principal3, como fronteira planetária central para evitar uma desestabilização do sistema terrestre deletéria ou catastrófica do sistema terrestre (Rockström et al, 2009; Lynas, 2012). Como a maioria dos atores estatais da governança do clima são conservadores, vivemos em um sistema internacional de hegemonia conservadora (Viola, Franchini e Lemos Ribeiro, 2013),

1

A transição para uma economia de baixo carbono é considerada aqui como a principal estratégia para manter a estabilidade do sistema climático. Outros caminhos, como a geoengenharia, ainda são incertos.

2

Para informações detalhadas sobre o papel das potências na governança de clima ver Viola, Franchini e Lemos Ribeiro, 2013.

3 Em outras obras definimos macro-vetor civilizatório “como as tendências mais profundas da humanidade

em sua relação com a biosfera; a dinâmica populacional, ocupação do planeta, aumento da produtividade do trabalho, utilização crescente dos recursos da Terra e desenvolvimento tecnológico são exemplos dessas tendências de longa duração” (Viola, Franchini e Lemos Ribeiro, 2012; 2013).

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cuja característica central é sua incapacidade para dar respostas adequadas aos desafios da interdependência, que cada vez mais demandam respostas cooperativas.

O objetivo desse artigo é discutir de forma exploratória o segundo desses conceitos através da elaboração do “índice de compromisso climático”, um instrumento construído para avaliar de forma qualitativa o grau de assimilação que uma sociedade dada tem da mudança climática como macro-vetor civilizatório principal. Nessa primeira fase, serão discutidos os fatores ou variáveis que o índice deveria incluir, sem considerar ainda o peso que cada uma dessas variáveis possa ter sobre o nível de compromisso climático, seja alto, médio ou baixo. O interesse aqui é fazer uma primeira identificação dos elementos que, em uma sociedade, estão indicando se existe e em que grau, compromisso climático. Alguns desses elementos serão evidencia direta desse compromisso, como a existência de leis gerais de clima ou a existência de um ministério de energia e clima, outros elementos são indiretos, como os custos previstos de adaptação, que no caso de serem altos, podem operar como estimulantes do compromisso climático. Em definitivo, o intuito aqui é refletir sobre os elementos que devem ser considerados na construção desse índice.

O índice é uma guia básica para indicar que elementos observar no momento de avaliar a transição de cada sociedade para o baixo carbono. Não obstante, é necessário destacar que o mesmo deve ser aplicado considerando as características próprias de cada sociedade.

O índice agrupa uma série ampla de variáveis em duas dimensões: situação climática, que faz referencia ao perfil e trajetória de emissões de gases de efeito estufa, vulnerabilidades aos efeitos do fenômeno e perspectivas frente à transição para uma economia de baixo carbono; e situação política do clima, que faz referência à forma como a sociedade e lideranças políticas assimilam o problema climático, nas esferas doméstica e internacional. Nesse sentido, o maior grau de compromisso climático possível implicaria uma trajetória decrescente de emissões mantida no tempo, uma sociedade consciente do problema e demandando soluções, e uma liderança politica que assimila essa demanda e a traduz em políticas públicas de adaptação e mitigação no âmbito doméstico e em uma atuação internacional que estimula a criação e consolidação de instrumentos de governança global sobre a matéria.

O conceito de compromisso climático e o índice proposto lidam diretamente com a questão dos elementos que influenciam as respostas políticas ao desafio climático, e

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por tanto, podem se tornar um instrumento útil para abordar a defasagem entre a urgência evidenciada pelo conhecimento científico e a inércia dos processos políticos.

Para atingir o objetivo proposto, esse trabalho é dividido em duas partes, a primeira considera as variáveis relativas á situação climática, a segunda, as relativas à situação política do clima, dividida nas categorias de politica doméstica e política externa. O trabalho encerra com algumas considerações finais sobre o desenvolvimento futuro do índice.

Figura 1: O Índice de Compromisso Climático (ICC)

1. Situação climática 1.1 Perfil de emissões

a. Volume, trajetória de emissões de GEE. Medido em Toneladas de CO2e4 b. Emissões per capita. Tendência e perspectivas. Medidas em T de CO2e c. Intensidade de carbono da economia. Medidas em T de CO2e por cada

1000 US$ de PIB

d. Composição da matriz energética. Trajetória e perspectivas. Medida em termos de participação de energia limpas

e. Preço da gasolina

f. Eficiência Energética (CO2/Tep5) 1.2 Impactos do Clima

g. Vulnerabilidades h. Custos de adaptação i. Opções de mitigação 2. Política Climática doméstica 2.1 Sociedade e Mercado

j. Grau de conhecimento geral e preocupação da população

k. Vulnerabilidades percebidas aos impactos das mudanças climáticas l. Percepção dos custos de adaptação

m. Opções de mitigação e percepção de vantagens e desvantagens na transição para uma economia de baixo carbono

n. Presença do tema na mídia 2.2 Politics

o. Presença do tema no discurso eleitoral e plataforma dos principais partidos

4

Dióxido de Carbono equivalente.

5

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e referentes políticos

p. Presença na agenda legislativa e nos processos eleitorais

q. Movimentos de ONGs, empresas e entidades subnacionais em favor da descarbonização

2.3 Policy

r. Estado da estrutura normativa e burocrática da questão climática s. Estado das políticas específicas de mitigação e adaptação t. Estado de políticas convergentes com a mitigação e adaptação

u. Densidade das medidas de estimulo ao baixo carbono nos pacotes de estimulo fiscal no imediato pós-crise 2008

3. Política Externa de Clima

v. Compromisso Voluntário no marco do Acordo de Copenhagen w. Posição de negociação na CQNUMC

x. Atuação em outros foros internacionais relevantes

y. Participação nos mecanismos flexíveis do Protocolo Quioto

z. Participação em fundos de financiamento para adaptação e mitigação

A seguir, detalhamos e explicamos os indicadores em cada uma das três categorias mencionadas, destacando que nenhum deles diz nada isoladamente, mas deve ser considerado em relação aos outros. Também não são absolutos, nem universais, apenas ilustram afinidades eletivas, tendências. Também deve se adaptar à sociedade onde é aplicado, atendendo a características particulares e disponibilidade das informações. O ICC utiliza como base o Índice de Competitividade Climática elaborado por Lee et al (2010), mas agrega fatores de caráter político que o trabalho mencionado tende a considerar com menos relevância.

1. Situação climática

Nessa primeira dimensão do índice, é considerada uma série de variáveis referida à situação objetiva ou material de cada sociedade em relação ao fenômeno das mudanças climáticas e envolvendo basicamente: primeiro, o volume, trajetória e perfil de emissões de gases de efeito estufa (GEE). Segundo, as vulnerabilidades locais aos efeitos da mudança climática e as necessidades de adaptação; e, finalmente, as opções de mitigação. Dessa forma, se considera o nível de impacto que a sociedade estudada tem sobre a evolução da crise climática, o nível de exposição objetiva dessa sociedade aos efeitos da desestabilização do sistema climática, e as eventuais desvantagens e oportunidades na transição para uma economia de baixo carbono.

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Como afirma Viola (2009), esses três elementos são decisivos na hora de considerar as respostas das sociedades aos desafios do aquecimento global. A seguir detalhamos cada um desses elementos.

1.1. Perfil de emissões

a. Volume e trajetória de GEE. Medidos em Toneladas de CO2e (Dióxido de Carbono equivalente). Mede a proporção das emissões globais geradas e sua trajetória ao longo das últimas três décadas. A proporção de emissões globais não é um indicador de compromisso climático per se, mas sim a trajetória. Fontes: WRI6, IEA7, CQNUMC8 – Inventários de Emissões e Comunicações Nacionais.

b. Emissões per capita. Baseado em outra obra (Viola, Franchini e Lemos Ribeiro, 2013), consideramos aqui:

Conceito Limiar

Baixa Abaixo de 4 toneladas

Média De 4 a 8 toneladas

Alta De 8 a 14 toneladas

Muito alta De 14 a 20 toneladas Extremamente alta Acima de 21 toneladas

Maior o nível de emissão per capita menor o nível de compromisso climático. Fontes: WRI, IEA, CQNUMC – Inventários de Emissões e Comunicações Nacionais.

c. Intensidade de carbono da economia. Estado e trajetória. Mede qual é o nível de avanço do vetor baixo carbono em uma determinada sociedade, em toneladas de CO2e/US$1.000 PIB. A categorização segue o desenvolvido em outra obra (Ibid, 2013): Conceito Limiar Baixa Abaixo de 0,5 Média De 0,5 a 0,8 Alta De 0,8 a 1 Muito alta De 1 a 1,4 Extremamente alta Acima de 1,4

6

World Resources Institute, http://www.wri.org

7

International Energy Agency, http://www.iea.org/.

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Como regra geral, menor intensidade de carbono, é indicador de maior compromisso climático. Fontes: WRI, BM9, IEA, CQNUMC – Inventários de Emissões e Comunicações Nacionais.

d. Composição da matriz energética. Estado e trajetória. Mede a participação de energia limpas e fósseis na matriz. Maior proporção de energia limpas se associa com maior compromisso climático. Fontes: WRI, BM, IEA, CQNUMC – Inventários de Emissões e Comunicações Nacionais.

e. Eficiência energética: intensidade energética do PIB, (Co2/Tep). Maior eficiência no uso de energia se associa com maior compromisso climático. Fontes: BM, IEA, CQNUMC – Inventários de Emissões e Comunicações Nacionais.

f. Preço da gasolina. Como bem de consumo generalizado na maioria das sociedades, a preço pode operar como indicador da disposição das sociedades de pagar custos econômicos para lidar com a crise climática. Fontes: FMI10, BM, IEA, CQNUMC – Inventários de Emissões e Comunicações Nacionais.

g. Vulnerabilidades: grau de exposição aos efeitos do clima e magnitude das capacidades adaptativas da sociedade. Fontes: BM, PNUD, CQNUMC – Inventários de Emissões e Comunicações Nacionais.

h. Custos de adaptação. Magnitude dos custos econômicos projetados dos efeitos da mudança climática. Fontes: CQNUMC – Inventários de Emissões e Comunicações Nacionais, relatórios de empresas de seguros e bancos.

i. Opções de mitigação. Perspectivas de uma determinada economia em relação à transição para uma economia de baixo carbono em termos de custos econômicos. FMI, BM, IEA, CQNUMC – Inventários de Emissões e Comunicações Nacionais.

Os primeiros seis itens (a-f) são indicadores diretos de compromisso climático, os outros três (g-i) são condições materiais que apenas cobram relevância em termos de compromisso quando intermediados por instituições sociais, como mostrado no segmento seguinte.

2. Situação política do clima

Essa dimensão diz respeito à forma em que uma determinada sociedade interpreta a crise climática, incluídos os itens listados na primeira dimensão, e como essa interpretação se reflete no jogo político doméstico, em políticas públicas e na política externa de clima. Para facilitar a analise, dividimos essa dimensão em duas categorias: política climática doméstica e política externa de clima.

9

Banco Mundial, base dedados, http://www.worldbank.org

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2.1. Política climática doméstica

j. Grau de conhecimento geral e preocupação da população em relação à crise climática. Um maior grau de conhecimento e preocupação tem afinidade com maior compromisso climático. Fonte: pesquisas opinião nacionais e internacionais, CQNUMC – Comunicações Nacionais.

k. Vulnerabilidades percebidas aos impactos das mudanças climáticas. Uma alta percepção de vulnerabilidades locais pode operar como estimulo do compromisso climático, assim como alta vulnerabilidade material pode estimular uma maior percepção de vulnerabilidade. No entanto, o grau de correlação é muito variado11. Fonte: pesquisas opinião nacionais e internacionais, CQNUMC – Comunicações Nacionais, discursos de lideranças políticas e sociais relevantes.

l. Percepção dos custos de adaptação. Vinculado com o ponto anterior, a percepção de altos custos de adaptação às consequências das mudanças climáticas pode operar como estimulo do compromisso climático. Fonte: pesquisas opinião nacionais e internacionais, CQNUMC – Comunicações Nacionais, discursos de lideranças políticas relevantes, status do risco climático na consideração das empresas de seguros.

m. Opções de mitigação e percepção de vantagens e desvantagens na transição para uma economia de baixo carbono. A percepção positiva de parte relevante dos setores econômicos em relação a ganhos potenciais na transição para o baixo carbono opera como estimulo do compromisso climático. Fontes: pesquisas opinião, CQNUMC – Comunicações Nacionais, entrevistas com lideranças empresariais.

n. Presença do tema na mídia. Uma alta densidade de noticias considerando o clima como vetor civilizatório é convergente maior compromisso climático. Fontes: Principais meios gráficos e digitais.

o. Presença do tema no discurso eleitoral e plataforma dos principais partidos e referentes políticos. Uma maior presença da problemática do clima na politica partidária é indicador de maior compromisso climático. Fontes: plataformas dos partidos políticos, Memorias de organismos públicos.

p. Presença na agenda legislativa e nos processos eleitorais. Maior presença na agenda política doméstica opera como indicador de maior compromisso climático. Indicador: Projetos de lei relacionados com clima nos poderes legislativos nacionais, presença dos tópicos nos discursos de campanha eleitoral e legislativos

11 Ponto relacionado ao anterior, embora diferente, uma população pode estar preocupada com o

fenômeno da mudança do clima, não pelos impactos locais e próprios, mas pelo impacto sobre bens globais, como a mitigação do sofrimento humano ou a proteção da biodiversidade

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e desempenho eleitoral dos partidos ambientalistas. Fonte: organismos eleitorais, memorias de organismos públicos.

q. Movimentos de ONGs, empresas e entidades subnacionais em favor da descarbonização. A presença do tema em documentos de entidades empresariais, na agenda de entidades subnacionais relevantes, e das maiores ONGs, são indicador de compromisso climático. Fontes: Documentos de entidades empresariais, plataformas de ONGs, discursos de referentes subnacionais.

r. Estado da estrutura normativa e burocrática da questão climática. A existência de leis específicas de clima e de burocracias especializadas e relevantes é indicador de compromisso climático. Fontes: CQNUMC – Comunicações Nacionais, documentos públicos, BM.

s. Estado das políticas específicas de mitigação e adaptação. A implementação de planos de redução de emissões e de redução de vulnerabilidades é um indicador de compromisso climático. Fontes: CQNUMC – Comunicações Nacionais, documentos públicos, BM.

t. Estado de políticas convergentes com a mitigação e adaptação12. Politicas públicas que afetem positivamente a intensidade de carbono da economia e o nível de resposta a extremos climáticos, mesmo sem essa intenção, são um indicador de compromisso climático. Fontes: CQNUMC – Comunicações Nacionais, documentos públicos, BM.

u. Densidade das medidas de estimulo ao baixo carbono nos pacotes de estimulo fiscal no imediato pós-crise 2008. Maior densidade é convergente com maior compromisso climático. Fontes: BM, HSBC13, documentos públicos, CQNUMC – Comunicações Nacionais.

2.2 Política Externa de Clima

v. Compromisso Voluntário no marco do Acordo de Copenhagen. Um compromisso claro e ambicioso em termos de metas de mitigação é indicador de compromisso climático. Fontes: CQNUMC.

w. Posição de negociação na CQNUMC, especialmente em relação aos 4 pilares do Plano de Ação de Bali e no processo que derivou no “Doha Climate Gateway” em 2012. Uma posição que defenda maiores esforços próprios e cooperativos é indicador de compromisso climático. Fontes: CQNUMC.

12

Maiores setores emissores. É um elemento chave para depois considerar o escopo e efetividade das políticas climáticas. Se elas se focarem em setores emissores marginais, isso afeta negativamente o nível de compromisso climático.

13

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x. Atuação em outros foros internacionais relevantes: OCDE, G-20, processos de integração regional. Uma posição que defenda maiores esforços próprios e cooperativos é indicador de compromisso climático. Fontes: CQNUMC – Comunicações Nacionais, Documentos públicos.

y. Participação nos mecanismos flexíveis do Protocolo Quioto. Uma maior participação nos mecanismos é convergente com maior compromisso climático. Fonte: CQNUMC.

z. Participação em fundos de financiamento para adaptação e mitigação. Uma alta participação nesses mecanismos é indicador de compromisso climático. Fonte: BM, PNUD, CQNUMC.

3. Níveis de compromisso climático

O compromisso climático não opera como uma categoria dicotómica, mas como um continuo em cujos extremos se encontram as categorias baixo e alto, existindo uma variedade ampla de categorias intermediárias. A categorização definitiva de uma sociedade em termos de compromisso climático dependerá do peso dado a cada uma das variáveis consideradas e será foco de desenvolvimento futuro do ICC. No entanto, existem certos fatores que são centrais na avaliação, como o nível e trajetória das emissões per capita e intensidade de carbono, a densidade das políticas climáticas domésticas e o nível de ambição dos compromissos internacionais. Se algum desses três fatores falta, o caso não pode ser categorizado como de alto compromisso climático. Da mesma maneira, elevadas emissões per capita e alta intensidade de carbono, e em trajetória ascendente, serão muito provavelmente indicadores de baixo compromisso climático. Nas categorias intermediarias o mix de variáveis se torna mais complexo, tendo que considerar de forma mais precisa o impacto de cada uma delas. Por exemplo, uma sociedade com baixíssimas emissões per capita, como a Índia, é caraterizada como potência conservadora pela trajetória crescente dessas emissões, a alta intensidade de carbono e a quase total ausência de políticas, domésticas e externas, orientadas a lidar com as causas e consequências do problema climático.

Insistindo em que os fatores listados não operam como determinantes, mas assinalam inclinações prováveis, eles operam da seguinte forma:

Figura 2: indicadores de compromisso climático

Variável ou fator Compromisso Alto Compromisso Baixo a. Trajetória de emissões Estável o decrescente Crescente

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b. Emissões per capita Baixas Altas

c. Intensidade de carbono Baixo Alta

d. Matriz energética Limpa Suja

e. Preço da gasolina Alto Baixo

f. Eficiência energética Alta Baixa

g. Vulnerabilidade material Alta Baixa

h. Custos de adaptação Altos Baixos

i. Opções de mitigação Baratas Custosas

j. Grau de conhecimento geral e preocupação da população Alto Baixo k. Vulnerabilidades percebidas Alto Baixo

l. Percepção dos custos de adaptação Alta Baixa m. Percepções sobre descarbonização Positiva Negativa n. Presença do tema na mídia Alto Baixo o. Presença no discurso eleitoral e nos principais partidos e referentes políticos Alto Baixo p. Presença na agenda legislativa e nos processos eleitorais Alto Baixo q. Movimentos de ONGs, empresas e entidades subnacionais em favor da descarbonização Relevante Irrelevante r. Estrutura normativa e burocrática Relevante Irrelevante s. Políticas específicas de mitigação e adaptação Relevante Irrelevante t. Políticas convergentes com a mitigação e Relevante Irrelevante

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adaptação

u. Estimulo ao baixo carbono nos pacotes de estimulo fiscal

Alto Baixo

v. Compromisso Voluntário Relevante Irrelevante w. Posição de negociação

na CQNUMC

Comprometido14 Não-comprometido

x. Atuação em outros foros internacionais relevantes Comprometido Não-comprometido y. Participação nos mecanismos flexíveis do Protocolo Quioto Alta Baixa z. Participação em fundos de financiamento para adaptação e mitigação Alta Baixa Considerações finais

A própria natureza exploratória desse trabalho limita a possibilidade de termina-lo com uma conclusão. Em consequência, fechamos o artigo com uma serie de considerações que serão centrais para a construção futura do índice:

Como já foi dito, não é possível nessa altura assignar valores a cada uma das variáveis. De todos os modos é possível afirmar que o peso das variáveis relativas à situação climática, em particular a trajetória de emissões, as emissões per capita e a intensidade de carbono da economia, terão peso significativo na elaboração do índice, porque no final, discursos e políticas são apenas relevantes se tem impacto sobre a dinâmica de descarbonização da sociedade em questão. No entanto, a trajetória de emissões por se só não é evidência de compromisso climático, tal o caso dos países da ex-União Soviética após a implosão do sistema de organização econômica no fim da década de 1980. Ou, no caso do Brasil, se a queda do desmatamento a partir de 2005 não tivesse sido acompanhada por alguns movimentos societais relevantes pro descarbonização (empresas, ONGs e estados amazônicos) e com a sanção da lei de clima, não teria sido evidência de compromisso climático.

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A categoria comprometido se refere ao fim último da CQNUMC: a estabilização da concentração de GEE na atmosfera em níveis suficientes para prevenir interferência antrópica perigosa do sistema climático.

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Dessa forma, o índice é uma guia básica para indicar que elementos observar no momento de avaliar a transição de cada sociedade para o baixo carbono. Não obstante, é necessário destacar que o mesmo deve ser aplicado considerando as características próprias de cada sociedade. Por exemplo, a avaliação de políticas públicas de mitigação deve ser convergente com o perfil de emissões da economia estudada. Para o caso do Brasil, por exemplo, são fundamentais às medidas referidas a desmatamento e transporte, na Argentina, energia e agricultura, e nos EUA, energia elétrica e transporte. De forma similar, é necessário considerar o tipo de sistema político quando é medido o grau de consciência sobre a problemática nas sociedades e lideranças políticas: não é a mesma coisa avaliar esses elementos em regimes autoritários que pouco consideram as logicas societais que em regimes democráticos com alta participação cidade, onde a variável consciência climática na sociedade tenderá a pressionar de maior forma sobre as lideranças políticas. Isso não implica, de todos os modos, que as sociedades democráticas sejam tenham necessariamente maior nível de compromisso climático, apenas que os canais de construção desse compromisso é variável dependendo de cada sociedade.

Sobre a validade do índice, ele não tem pretensão de universalidade, apenas procura assinalar os elementos fundamentais do compromisso climático. A tarefa deve ser conduzida caso por caso. Não tem pretensão teórica, no sentido de identificar vínculos causais entre fenômenos, ao máximo, permitira identificar afinidades eletivas entre fatores. Ao mesmo tempo, o ICC está profundamente influenciado por noções de espaço e tempo: a sociedade e o período estudado a relevância e impacto de cada um dos fatores. Por exemplo, o desmatamento no Brasil como estratégia de mitigação, pode ser evidencia de compromisso climático em um tempo (2005 quando representava mais de 60% das emissões) mas não tanto em outro (2013, quando representa menos de 30%). Um plano de eficiência no uso de energia elétrica pode ser muito importante para China, que depende do maciçamente do carvão para geração, mas não para o Brasil, que tem uma das matrizes elétricas menos intensivas em carbono do mundo.

Como já afirmamos, o ideal de compromisso climático envolveria uma trajetória decrescente de emissões mantida no tempo, uma sociedade consciente do problema e demandando soluções, e uma liderança politica que assimila essa demanda e a traduz em políticas públicas de adaptação e mitigação no âmbito doméstico e em uma atuação internacional que estimula a criação e consolidação de instrumentos de governança global sobre a matéria. Um nível de compromisso climático quase nulo implicaria emissões crescendo, uma sociedade e lideranças políticas ignorando o

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problema e como consequência, a inexistência de esforços para reduzir vulnerabilidades próprias e sistêmicas. No entanto, a maioria das sociedades se encontra em situações intermediarias. O compromisso climático não é uma variável dicotômica, é um continuo entre os extremos reformista e conservador. A existência dessas situações é mais uma expressão da complexidade das sociedades na fase de globalização avançada e opera complicando a análise e diluindo o potencial generalizante das conclusões. Nesse caso, o Brasil é um caso interessante, porque tem uma lei de clima, redução na curva de emissões, compromisso voluntario no âmbito internacional, no entanto, sua posição internacional na área de clima converge com potências mais conservadoras como a China e a Índia, e o G77 em geral.

Referencias Bibliográficas

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Referências

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