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O JOGO, BRINQUEDO E A BRINCADEIRA NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

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Academic year: 2021

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ISSN 2176-1396

O JOGO, BRINQUEDO E A BRINCADEIRA NO DESENVOLVIMENTO

INFANTIL

Ana Paula Antonello 1 - UNOCHAPECÓ Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo

Este trabalho tem como intuito refletir sobre a importância da ludicidade no desenvolvimento da criança levando em consideração as ideias de alguns autores da educação, e também experiências vivenciadas no estágio obrigatório do curso de licenciatura em Pedagogia da Universidade Comunitária da Região de Chapecó, (UNOCHAPECÓ), partindo do pressuposto que a principal e mais importante atividade da criança em sua formação psicológica, física, cognitiva e social e cultural é o faz-de-conta, o brincar, onde através de jogos, brinquedos e brincadeiras ela desenvolve a capacidade de agir e pensar. Trata-se da interferência cultural no desenvolvimento da criança, bem como das influências sofridas por motivo da evolução e ampliação do campo tecnológico, histórico e cultural, que refletem diretamente na criança através dos jogos digitais, influência da mídia, ambiente escolar, etc. Traz ainda a relação destes aspectos sobre o desenvolvimento da criança na escola. Busca fazer relação entre aspectos lúdicos e o papel dos mediadores diante do contexto das crianças. Levando em consideração que é através do contato com as diferentes culturas, pessoas e objetos que vamos nos descobrindo e nos constituindo seres humanos e desta forma ampliamos nossas capacidades de entendimento sobre a sociedade, sobre o meio e sobre a vida, busca-se através deste trabalho fazer uma relação a fim de problematizar sobre o modo como a ludicidade está presente na educação de modo geral. É através da ludicidade que busca-se explorar os sentidos, conhecer as individualidades de cada um, significando o meio e articulando as atividades desenvolvidas com a realidade vivida.

Palavras-chave: Ludicidade. Jogo. Brinquedo. Brincadeira. Introdução

Este trabalho foi escrito com a finalidade de refletir sobre o desenvolvimento da criança e a importância do brincar a partir da ludicidade, levando em consideração os jogos-

1Acadêmica do 7º período do curso de licenciatura em Pedagogia da Universidade Comunitária da Região de Chapecó- UNOCHAPECÓ. Atualmente, bolsista do Programa Institucional de Iniciação a docência (PIBID) e bolsista do Projeto de pesquisa vinculado ao grupo de pesquisa CNPq: Ensino e formação de professores, da Universidade Comunitária da Região de Chapecó- UNOCHAPECÓ.

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brinquedos- brincadeiras que estão presentes no contexto escolar. A partir de experiências do estágio supervisionado em Pedagogia, etapa obrigatória do curso de licenciatura o qual estudo, foi possível perceber o quão importante é o lúdico no desenvolvimento da criança. Partindo da realidade encontrada no campo de estágio e levando em consideração a ideia de alguns autores, surgirão no decorrer deste relato algumas reflexões em relação a situações do cotidiano, a influência da cultura da sociedade em que a criança está inserida e ainda a aproximação das crianças através destas brincadeiras mediadas pelo meio. É por intermédio das diferentes culturas que vamos nos caracterizando, construindo nossa identidade, formando nossa estrutura psíquica, cognitiva e social, no entanto este processo de formação é longo e exige interferências da sociedade. Este trabalho estrutura-se com a finalidade de explorar os conceitos sobre a importância do brincar no desenvolvimento da criança e busca ainda refletir sobre a aproximação e a interação das crianças através das brincadeiras na escola.

Construindo conceitos sobre a importância do brincar no desenvolvimento da criança “Brincar desenvolve as habilidades da criança de forma natural, pois brincando aprende a socializar-se com outras crianças, desenvolve a motricidade, a mente, a criatividade, sem cobrança ou medo, mas sim com prazer” (CUNHA, 2001, p.14). É através do contato com as diferentes culturas, pessoas e objetos que vamos nos descobrindo enquanto seres humanos, da mesma forma, é através destes contatos que vamos ampliando nossas capacidades de entendimento sobre a sociedade, sobre o meio e sobre a vida. Viver é uma grande aventura e é através da ludicidade, por meio de brinquedos e brincadeiras que descobrimos que nossos limites vão além da nossa imaginação. Através da ludicidade conseguimos explorar nossos sentidos, conhecer a nós mesmos e ao mundo, significando o meio e articulando as atividades desenvolvidas com a realidade vivida.

Durante o processo de nossa formação social e cognitiva, sofremos mudanças culturais, e sociais que são necessárias para a adaptação ao meio em que vivemos, em consequência disso temos as diferentes formas usadas para a realização deste processo que é continuo e duradouro.

A ludicidade é fundamental nesta “metamorfose” e está presente em todos os aspectos, tanto cognitivo quanto social, principalmente quando se trata do desenvolvimento da criança. Mas o brincar não é nato dos seres humanos, o brincar é algo aprendido e em cada cultura existe uma diferença não só no modo de brincar, mas nas próprias brincadeiras em questão. No entanto, indiferente da cultura de cada região a base para o desenvolvimento das crianças

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são essencialmente os jogos e as brincadeiras segundo as ideias deixadas por Vygotsky e Piaget, pois, é a partir delas que as crianças constroem sua identidade, passam a conhecer elas mesmas e o mundo. Conforme Vygotsky apud Tizuko, a criança manipula os objetos a seu favor, constrói o que é necessário para realizar ou desenvolver a estrutura que irá utilizar para satisfazer suas necessidades, “quando brinca a criança assimila o mundo à sua maneira, sem compromisso com a realidade, pois sua interação com o objeto não depende da natureza do objeto, mas, da função que a criança lhe atribui” (p.59).

Assim o significado que a criança atribui a determinado objeto pode mostrar qual é a origem da brincadeira, o que a criança quer mostrar com determinadas atitudes e ações. Ao brincar a criança desenvolve sua inteligência, seu pensamento e aprende os significados das coisas, começa desenvolver conceitos que se baseiam no verdadeiro significado de cada objeto, passando da abstração para a realidade. Mas esse é um processo longo e demorado, que vai acontecendo conforme o desenvolvimento cognitivo de cada indivíduo.

Pode-se observar o significado que as crianças atribuem para cada objeto que utilizam conforme brincam e interagem com o meio, realizando suas fantasias, seus desejos e necessidades.

Figura 1 - Crianças brincando, explorando objetos e a imaginação

Fonte: Google imagens.

A partir da interação, a criança vai descobrindo o mundo em que está inserida, se desenvolve de acordo com o que lhe é oferecido e permitido. Significa o que está a seu redor, configurando seu próprio mundo, o mundo lúdico, da brincadeira, da imaginação, onde a cada instante tudo se modifica, se completa e se transforma.

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Essa transformação é chamada por Piaget de jogo simbólico, que primeiramente aparece solitário, depois vai evoluindo de acordo com o desenvolvimento da criança, passando para a representação, onde a criança começa a brincar de casinha, papai e mamãe, médico, professor/a, mecânico, piloto, etc. Aqui, a partir do jogo simbólico, a criança começa a atribuir significados aos objetos concedendo novos nomes para os mesmos, por exemplo: “vamos dizer que esse é um cavalinho? ” (Indicando para um cabo de vassoura), “e que esse é o secador de cabelo? ” (Indicando um pedaço de madeira). As crianças também brincam imitando sons dos carros, aviões, armas e até mesmo dos próprios animais tendo em mãos sucatas, madeira ou outros objetos que muitas vezes não tem nada a ver com o que elas atribuem significados, mas em sua imaginação atende as necessidades:

Para Piaget, o jogo simbólico é parte de uma função fundamental do processo cognitivo da criança, a função simbólica. Essa função aparece na criança mais ou menos aos 2 anos e permite que ela possa representar uma coisa (um objeto, um acontecimento, etc.) por intermédio de outra coisa, como a linguagem, o desenho ou o gesto simbólico (FONTANA, 2002, p. 127).

Os objetos aqui complementam todas as ações das crianças. A eles são destinadas funções que só a própria criança consegue compreender, de forma que torna real todos os seus desejos e vontades. Mas esse brincar, ainda que seja uma necessidade particular de cada criança, na situação do faz- de- conta, sempre será submetido a regras, onde as crianças terão de enfrentar situações de vitória e derrota assim como aprender lidar com estes momentos. Para tanto, Tizuko nos coloca que:

O brinquedo que comporta uma situação imaginária também comporta uma regra. Não uma regra explicita, mas uma regra que a própria criança cria. Segundo Vygotsky, à medida que a criança vai se desenvolvendo, há uma modificação: primeiro predomina a situação e as regras estão ocultas (não explícitas); quando ela vai ficando mais velha, predominam as regras (explícitas) e a situação imaginária fica oculta (TIZUKO 1999, p.61).

Essas regras são resultadas da própria situação imaginária. É o fato de assumir determinado papel que leva a criança a submeter seu comportamento a regras.

A partir do momento em que a criança encontra disponível suas ferramentas, brinquedos, ela liberta- se e começa a dedicar- se ao seu “trabalho”, encontra seu mundo, passa a participar de um momento que é só seu. Este trabalho, no entanto, pode ser individual ou coletivo, depende da situação em que a criança se encontra. Quando está brincando, a criança dá significado para todo e qualquer objeto, pois, eles fazem parte do seu mundo e não podem ser substituídos:

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A criança não vê o objeto como ele é, mas lhe confere um novo significado. Por exemplo: quando a criança monta em uma vassoura e finge estar cavalgando em um cavalo, ela está conferindo um novo significado ao objeto. Esse significado precisa de um ‘pivô’ que comporte um gesto semelhante à realidade, pois, para Vygotsky, o mais importante não é a similaridade do objeto com a coisa imaginada, mas o gesto. Neste caso a vassoura comporta um gesto em relação ao objeto (cavalo) ao qual ela está conferindo um significado. Dessa forma, no brinquedo o significado conferido ao objeto torna-se mais importante que o próprio objeto (TIZUKO, 1999, p.61-62).

Ao brincar, a criança dá aos objetos significados que acha necessário para complementar a sua brincadeira. Todas as suas ações possuem significados mesmo que estes significados sejam especialmente para ações imaginárias. Neste momento é possível perceber qual é a motivação que a criança recebe do meio para desenvolver sua capacidade de imaginação.

Uma criança criativa obviamente é bastante instigada a ser assim, consegue se destacar na realização de suas atividades, desenvolve elas com mais facilidade e naturalidade. De fato, a ação de brincar é algo natural na criança, uma necessidade e por não ser uma atividade sistematizada e estruturada, acaba sendo a própria expressão de vida da criança, onde cada uma da sua maneira, consegue representar na brincadeira, as ações dos adultos. Conforme Vygotsky (2002 Apud FONTANA 2002, p. 123):

A brincadeira é então, a forma possível de satisfazer a essas necessidades, já que possibilita à criança agir como os adultos (dirigindo um carro, cuidando de um bebê, fazendo ‘comidinha’) em uma situação imaginária. A situação imaginária da brincadeira decorre da ação imaginária da criança. Ou seja, a tentativa da criança de reproduzir as ações do adulto em condições diferentes daquelas em que elas ocorrem na realidade é que dá origem a uma situação imaginária.

A brincadeira é fundamental para o desenvolvimento motor, afetivo, social e psíquico da criança. Quando brinca com brinquedos espontaneamente ela adquire conhecimento, além de criar o hábito de se ocupar.

É através de seus brinquedos e brincadeiras que a criança tem oportunidade de desenvolver uma forma de comunicação e aproximação do mundo dos adultos, o qual oportuniza que ela desenvolva um controle próprio, sua auto- estima, e ao mesmo tempo estabeleça uma relação de confiança com sigo mesma. Brincando, a criança se sente livre, autônoma, capaz, pois, elas constroem uma ponte entre a fantasia e a realidade “A brincadeira aparece assim, como um meio para se projetar num universo inexistente” (BROUGÈRE, 1990, apud TIZUKO, 1999, p. 68)

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Quando criança, o ser humano não tem necessidade de exercer atividades que são impostas a eles, a única necessidade que a criança tem é a de brincar, mas não para passar seu tempo ou descarregar suas energias como dizem os leigos. Elas brincam para se desenvolver, para satisfazer as suas necessidades. Aqui o jogo simbólico é um dos principais meios para que isso ocorra, pois, ele possibilita que a criança modifique o significado dos objetos criando símbolos lúdicos individuais, ou seja, um pedaço de madeira pode virar um secador de cabelo, ou uma cuia de chimarrão, daqui a pouco a criança atribui outro significado para o mesmo objeto ou até mesmo deixa de usá-lo. Desta maneira, o jogo simbólico está relacionado ao aparecimento da capacidade de representar alguma situação. Com a representação, a criança torna- se capaz de pensar em materiais que não estão presentes em seu ambiente, de lembrar- se de fatos, de prever o resultado de suas ações. A função simbólica é, no entanto, indispensável para a ampliação das fronteiras, para a formação social da mente.

É a partir deste exercício de modificação de significados que a criança dá início a ampliação da sua capacidade de pensar, representa na brincadeira algo vivido ou presenciado por ela na vida real. Por meio dos brinquedos e brincadeiras, ela começa se expressar, e assim representar o seu imaginário, conseguindo interagir com o meio social.

Por meio das atividades lúdicas, a criança consegue demonstrar seus sentimentos, angustias, desejos, necessidades, medos e ao mesmo tempo os jogos e brincadeiras, são para elas um refúgio, muitas, encontram no jogo a companhia que não tem em casa. Esta companhia resulta no modo como a criança vai reagir diante de uma situação, pois, a afetividade também tem grande valor no processo de formação intelectual dos seres humanos.

A brincadeira de certa forma é a porta de entrada para a cultura que permeia o ambiente que a criança está inserida, seja em um ambiente calmo ou em um local conflituoso, dentro disso, Tizuko nos mostra que, “As crianças que vivem em ambientes perigosos repetem suas experiências de perigo em suas brincadeiras. Por exemplo: no Brasil, crianças que vivem nas favelas onde predomina a luta entre policiais e bandidos têm como tema preferido de suas brincadeiras esses conflitos” (TIZUKO, 1999 p.67).

Da mesma forma acontece em sociedades filantrópicas, onde as crianças querem ser os heróis que lutam para combater o mal, os príncipes ou princesas de um conto de fadas, etc.

O ambiente em que a criança está inserida é grande influenciador do desenvolvimento psicológico, cognitivo, perceptivo, cultural e social, pois a criança associa a ele suas ações e atitudes. No entanto, além da influência da sociedade temos os meios de comunicação, os quais as crianças dão total atenção, muitas vezes privilegiam tais equipamentos, que em

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alguns locais, acabam sendo o “espelho” das crianças. Desta forma como já foi citado, as crianças brincam representando diversas situações vividas, e Tizuko nos afirma ainda que:

As crianças são capazes de lidar com complexas dificuldades psicológicas através do brincar. Elas procuram integrar experiências de dor, medo e perda. Lutam com conceitos de bom e mal. O triunfo do bem sobre o mal dos heróis protegendo vítimas inocentes é um tema comum na brincadeira das crianças (BETTELHEIM, 1988 apud TIZUKO 1999, p.67).

A ludicidade estabelece a mediação entre a afetividade, o carinho, a interação o desenvolvimento psicológico, espiritual e social da criança, que em muitas situações encontra-se desprovida de todos estes anseios. Encontram nos heróis da televisão o conforto necessário para lidar com a situação em que se encontram. A brincadeira pode ser considerada um universo alternativo, já que permite que a criança consiga fugir da realidade.

A aproximação e interação das crianças através de brincadeiras na escola

Durante o componente curricular Estágio Supervisionado IV, no curso de licenciatura em Pedagogia, presenciou-se situações que possuem referência com as considerações feitas sobre o modo como o jogo, os brinquedos e brincadeiras interferem no desenvolvimento infantil. Durante a etapa de tal disciplina, percebeu-se que a maioria das crianças em suas brincadeiras representam heróis, lutam pelo bem. Todas querem ser o homem mais forte, a mulher mais bonita, ou o mais corajoso, o que vive em uma classe social mais elevada, representam o que é popular, perfeito. Porém muitos espaços de educação não favorecem a estimulação da criança para que ela seja criativa e represente isso. É possível perceber estas características nas brincadeiras que as crianças desenvolvem. Muitas desconhecem brincadeiras que envolvem o imaginário. Percebe-se que atualmente grande maioria das crianças tem acesso a jogos digitais que não acrescentam valores na construção de sua identidade, porém, chamam a atenção das crianças de forma mais significativa do que as brincadeiras populares.

As crianças sentem dificuldade de brincar sozinhas, são dependentes de um adulto que exerça algum papel na brincadeira escolhida por elas mesmas, pois, grande maioria das crianças não tem autonomia para decidir ou escolher qual brincadeira quer brincar quando está sozinha.

Certas crianças possuem além disso uma insegurança quando se fala em brincar em grupo, em dividir seus brinquedos ou até mesmo de interagir com outras crianças. Mas ao

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mesmo tempo que elas sentem insegurança em brincar em grupo, é através das brincadeiras que irão se aproximar umas das outras. Conforme vão se desenvolvendo, automaticamente se aproximam, pois, uma passa a fazer parte do contexto ou brincadeira da outra, (esta fase de aproximação se caracteriza também pelo fato de as crianças frequentarem a pré-escola, onde o educador dá início ao desenvolvimento de trabalhos grupais, mediando a organização das crianças em determinadas brincadeiras). Neste contexto o faz de conta é inserido no dia a dia das crianças. A partir do momento em que o professor conta uma história, utiliza algum adereço, faz uma dinâmica diferente, ele dá início a situação imaginária e envolve as crianças nesta situação. Por meio desta “fantasia”, faz-de-conta, a criança começa a interagir, se expressar e os sinais de que isso realmente acontece começam a aparecer. O faz-de-conta na escola é fundamental no desenvolvimento das crianças, contribui para o aumento das habilidades linguísticas, aumenta a capacidade de expressão e comunicação.

Ao entrar no mundo do faz-de-conta, a criança estabelece papeis a si mesma, tentando superar algo, seja alegria, dor, felicidade, tristeza, angústia, coragem ou medo, representa aqui qualquer situação, colocando- se na maioria das vezes em uma situação de poder. Neste momento, a criança consegue representar em suas ações o real, de acordo com suas vontades, desejos, anseios e necessidades, e na interação, descobrem características que venham a identificar as semelhanças e diferenças existentes entre cada criança do grupo, assim aprendem compartilhar, se organizar, satisfazer vontades próprias e as dos colegas. Por estes motivos é necessário compreender que brincadeira é coisa séria.

Os jogos e brincadeiras na escola confortam as crianças e oferecem várias situações de aprendizagem a elas, pois a articulação estabelecida entre os jogos e os conteúdos definidos pelo professor são fundamentais para fazer uma ligação entre os aspectos sociais, físicos e cognitivos. Cabe ao professor aqui, analisar o contexto do grupo trabalhado, levando em consideração que ele sempre deve partir da criança, dos conhecimentos que ela já possui, para assim realizar a escolha e elaboração das atividades a serem desenvolvidas, para que as mesmas ofereçam às crianças segurança, e respeito.

Na escola, os jogos estão muito presentes na relação professor- aluno, já que permitem à criança a expressão do conhecimento e experiência sobre estes materiais pedagógicos. O brincar na escola permite que as crianças façam trocas interpessoais, se confrontem, relacionem–se umas com as outras e construam significados para essas ações coletivas:

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Brincar, é sem dúvida, uma forma de aprender, mas é muito mais que isso. Brincar é experimentar-se, relacionar-se, imaginar-se, expressar-se compreender-se, confrontar-se, negociar, transformar-se, ser. Na escola, a despeito dos objetivos do professor e de ser controle, a brincadeira não envolve apenas a atividade cognitiva das crianças. Envolve a criança toda. É a prática social, atividade simbólica, forma de interação com o outro. Acontece no âmago das disputas sociais, implica a constituição do sentido. É a criação, desejo, emoção, ação voluntária (FONTANA, 2002, p. 139).

Quando uma criança se aproxima de sua professora com uma panelinha na mão e lhe oferece algo para comer, automaticamente ao aceitar, a professora está entrando no mundo da criança, participando do jogo do faz-de-conta, onde a criança “domina” as ações dos adultos, no caso aqui, a criança sabe se comportar como uma dona de casa, como uma mãe. Refletem em suas ações tudo o que veem em seu lar. Ao interagir com a criança, a professora não só ajudará a organizar seu pensamento como irá proporcionar a ela a oportunidade de enriquecer sua capacidade de imaginação, imitação e representação.

Este processo de construção é contínuo, a criança está em constante evolução, sempre se adaptando ao meio, pois, seus reflexos mudam constantemente e a medida em que ela vai crescendo, suas necessidades aumentam e sempre que ela satisfazer uma, em seguida vem a outra, por isso é um processo de evolução duradouro. Antes para imitar a mãe por exemplo, a menina precisava apenas de uma panelinha e uma colher de brinquedo, agora precisa de um batom vermelho e um salto, e assim por diante. Conforme vai crescendo, vai fazendo associação dos objetos que a mãe utiliza e vai adquirindo eles, e quando não consegue o ideal, ela improvisa. E assim vai se constituindo o processo de desenvolvimento da criança, que embora necessite de objetos para complementar suas atividades, como é ela quem lhes dá significado, só terão importância se a capacidade cognitiva da criança se desenvolver, pois, a ela não dará significado a nada se não tiver capacidade reflexiva para saber o que precisa no momento determinado por ela mesma.

Desta forma, não é possível falar de criança sem falar de jogos, brinquedos e brincadeiras, isso tudo por quê como nos diz Piaget (Apud FONTANA 2002, p. 128):

A brincadeira não tem finalidade adaptativa, não provoca um aprimoramento dos esquemas mentais ou de ação da criança. Sua importância para o desenvolvimento consiste no fato de possibilitar- pela aplicação de esquemas conhecidos a objetos ‘inadequados’- a transformação dos significados dos objetos e a criação de símbolos lúdicos individuais.

Sendo assim, essa criação de símbolos lúdicos é fundamental para ampliação das fronteiras da inteligência, e a medida que o pensamento da criança se desenvolve, sua capacidade de operar com significados e enfrentar situações, se amplia. É através da

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brincadeira que as mudanças mais significativas do processo de desenvolvimento psicológico de uma criança acontecem, e este desenvolvimento abre caminho para a transição de um nível de desenvolvimento para outro um pouco mais elevado, e assim a criança vai aprimorando suas capacidades, como se fosse um ciclo não sistematizado, onde tudo ocorre de maneira espontânea, obedecendo apenas as necessidades das próprias crianças.

Considerações finais

A partir da reflexão exercida, fica possível compreender um pouco que é a partir dos jogos, brinquedos e brincadeiras que as crianças são estimuladas a superar desafios cognitivos e motores. O faz-de-conta leva a criança a desenvolver sua capacidade de interpretar, criticar, solucionar eventos e dar significado aos objetos. O jogo é uma forma divertida que a criança encontra disponível para aprimorar suas habilidades, as quais irão mais tarde fazer parte do adulto que esta criança vai se tornar. Assim a estimulação recebida dos adultos, é fundamental para que a criança consiga se encontrar no faz-de-conta; é necessário a mediação de um adulto para que ela se desenvolva com mais facilidade, pois, tendo alguém para acompanhá-la, automaticamente ela vai se sentir mais confortável e segura, aos poucos vai perdendo o medo de enfrentar situações que para ela são complexas, mas, ao mesmo tempo prazerosas.

É necessário que a escola estabeleça conexão entre a família- cultura- e seu papel enquanto instituição de educação, deixando de ser tão metódica, por que a criança não tem hora exata para desenvolver um aspecto seja ele físico, psicológico, cognitivo ou até emocional, tudo é uma construção continua com a possibilidade de avanço ou regressão.

REFERÊNCIAS

CUNHA, Nylse Helena da Silva. Brinquedo, desafio e descoberta para utilização e confecção de brinquedo.[S.I: s.n.] 2001.

FONTANA, Roseli Ap. Cação; CRUZ, Maria Nazaré da. Psicologia e trabalho pedagógico. São Paulo: Atual, 1997-2002.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida (Org.) Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1999.

VIGOTSKI, Liev Semionovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

Referências

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