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ROL DOS CONFESSADOS FREGUESIA DE S. CLEMENTE DA VILA DE LOULÉ INTRODUÇÃO

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ROL DOS CONFESSADOS

FREGUESIA DE S. CLEMENTE DA VILA DE LOULÉ - 1840

Vera Lúcia Cavaco Pereira (*) INTRODUÇÃO

Em 1801 foi realizado um censo da população portuguesa, onde se visava o apuramento dos efectivos populacionais.

Esta tarefa ficou a cargo das autoridades eclesiásticas, pois era um meio muito eficaz e pouco dispendioso de controlar a população.

Assim, os párocos elaboraram listas e róis sobre os habitantes residentes nas suas freguesias.

Em 1614, o modo de elaborar os Róis de Confessados tinha sido rigorosa-mente regulamentado pela Igreja, quando Paulo V prescreve as normas de elaboração com base no Rituale Romanum.

Havia, porém, alguns róis mais completos do que outros mas seguem todos a mesma linha.

Encontramos nos róis a informação necessária para se conhecer com algum rigor o modo de vida da população, dentro das respectivas estruturas familiares. Isto acontecia porque os róis estavam estruturados por Fogos.

"Fogos" era o que se chamava à organização de indivíduos que tinham em comum a residência. Assim, no fogo encontramos o cabecilha em primeiro lugar porque era este que possuía a autoridade e a chefia da habitação; só depois apareciam os restantes elementos onde era indicado o nome, a idade e a relação para com o cabecilha quer fosse ou não uma relação de parentesco. Por último apareciam os expostos e/ou os criados, quando os havia.

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Apesar de todo este esforço para um maior conhecimento da população, os róis surgem-nos incompletos em termos populacionais e da dimensão dos fogos. Isto acontece porque os párocos não mencionam os menores de sete anos nos róis, visto que estes não recebiam o sacramento. Outros excluídos são os ateus e os praticantes de outras religiões. Então, devido à exclusão de alguns habitantes da freguesia, as percentagens populacionais surgem distorcidas na medida que os fogos poderiam conter mais elementos, mas a informação não chega até nós através dos róis dos confessados.

Por fim, tal como o nome indica, outro objectivo dos róis dos confessados era o controlo dos habitantes que se confessavam e que comungavam e, quando tal não acontecia, também ficava registado nestas listas.

Este trabalho incide no “Roll dos Confessados” da freguesia de S. Clemente – Loulé, de 1840.

Aqui estão presentes todas as características essenciais dos róis. Temos a indicação das ruas onde se situam os fogos, os fogos e seus respectivos elementos (cabecilha e restantes) onde nos é indicado os nomes, idades, profissão estado civil e/ou relação de parentesco com o cabecilha e por fim, se se confessaram e se comungaram. (Quadro 1)

Quadro 1 - Exemplo de organização espacial do Rol dos Confessados: Rua da Igreja

Fogo Profissão Idade # Conf. Comung.

1. José Rafael Pinto Prior 36 Solteiro Confessou Comungou

Mara Madalena --- 80 Viúva Confessou Comungou

Maria Rosa --- 39 Nora Confessou Comungou

Bárbara Joaquina --- 40 Criada Confessou Comungou

Damião --- 11 Criado Confessou

---2. Ana Rosa --- 44 Solteira Confessou Comungou

3. João Rafael Martines Tendeiro 26 Casado Confessou Comungou

Maria Garcia --- 21 Mulher Confessou Comungou

4. Sebastião José Trabalhador 34 Casado Confessou Comungou Maria das Candeias --- 27 Mulher Confessou Comungou 5. Joaquim de Santa Ana Carpinteiro 47 Casado Confessou Comungou

Balbina Jacinta --- 47 Mulher Confessou Comungou

Maria --- 19 Filha Confessou Comungou

Marçal --- 14 Filho Confessou Comungou

Joaquim --- 11 Filho Confessou Comungou

6. Lázaro Maria Frederico Cirurgião 25 Solteiro Confessou Comungou Maria da Assunção --- 53 Criada Confessou Comungou

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Fogo Profissão Idade # Conf. Comung.

7. Padre Mariano Pedro da Cunha Coadjunto 47 Solteiro Confessou Comungou

Ana Rita --- 23 Criada Confessou Comungou

8. Cláudio José Pinto Proprietário 32 Casado Confessou Comungou D. Ana Gertrudes --- 34 Mulher Confessou Comungou Jorge Rafael Pinto --- 9 Filho Confessou

---Maria --- 18 Criada Confessou Comungou

Manuel --- 24 Criado Confessou Comungou

9. Aleixo do Carmo Sapateiro 23 Casado Confessou Comungou Gertrudes de Santa Ana --- 26 Mulher Confessou Comungou 10. Maria da Piedade --- 43 Viúva Confessou Comungou 11. Joaquim José Jorge Alfaiate 68 Solteiro Confessou Comungou

João --- 22 Sobrinho Confessou Comungou

12. José de Sousa Coelho Tendeiro 39 Casado Confessou Comungou

Teresa de Jesus --- 35 Mulher Confessou Comungou

Maria das Dores --- 17 Filha Confessou Comungou

Ana Paula --- 14 Filha Confessou Comungou

Claudina --- 11 Filha Confessou

---13. Maria Caetana --- 55 Viúva Confessou Comungou

Maria do Carmo --- 32 Filha Confessou Comungou

Carlota --- 26 Filha Confessou Comungou

Raimunda --- 17 Filha Confessou Comungou

Caetano --- 18 Filho Confessou Comungou

Joaquim --- 16 Filho Confessou Comungou

14. Maria das Dores --- 38 Viúva Confessou Comungou

Bernarda --- 15 Filha Confessou Comungou

15. Felicidade Cordeira --- 36 Solteira Confessou Comungou

Maria de Nazaré --- 20 Filha Confessou Comungou

16. João Fernandes Sapateiro 27 Solteiro Confessou Comungou

17. Joana Maria Parteira 43 Viúva Confessou Comungou

João --- 20 Filho Confessou Comungou

Igracia --- 14 Exposta Confessou Comungou

18. Francisco António Sapateiro 37 Casado Confessou Comungou Vitória Joaquina --- 27 Mulher Confessou Comungou

Maria Lúcia --- 28 Cunhada Confessou Comungou

19. Francisca de Jesus Taverneira 42 Viúva Confessou Comungou

Júlia --- 12 Exposta Confessou

---20. Dionízio José Sapateiro 29 Casado Confessou Comungou

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Fogo Profissão Idade # Conf. Comung.

21. Maria Igracia --- 42 Viúva Confessou Comungou

Igracia --- 22 Filha Confessou Comungou

22. Joaquim dos Ramos Criado de Servir 24 Casado Confessou Comungou

Teresa de Jesus --- 24 Mulher Confessou Comungou

23. Gertrudes Maria Taverneira 27 Casada Confessou Comungou 24. Carlos André Pinto Boticário 26 Casado Confessou Comungou D. Antónia Henriqueta --- 28 Mulher Confessou Comungou

Perpétua --- 22 Criada Confessou Comungou

Legenda do Quadro 1

# - Estado civil e parentesco em relação ao cabecilha do fogo Conf. - Confissão

Comung. - Comunhão

--- - Não tem Profissão / Não Comungou

OS FOGOS E A DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO

Se atentarmos para o Quadro 2, temos uma ideia mais nítida de como estava distribuída a população, pela vila de Loulé.

Temos, no total, 647 fogos que estão localizados em 38 ruas. Aqui, viviam cerca de 1863 pessoas (idosos, adultos e crianças até aos sete anos de idade).

Na maioria das ruas encontramos entre 5 a 25 fogos. Porém, há quatro ruas que se destacam pelo elevado número de fogos e consequentemente, uma maior concentração populacional:

Ruas Fogos Habitantes % Populacional

Rua da Corredoura 64 189 10,14

Rua de Faro 52 130 6,98

Rua dos Inocentes 35 109 5,85

Praça 35 116 6,23

Total 186 544 29,2

Como podemos observar, só em quatro ruas, encontramos 186 fogos e 544 habitantes; o que perfaz um total de 29.20% da população.

Mas quando falamos de percentagens populacionais, estas são um pouco distorcidas da realidade. Isto acontece porque, como já referi, os menores de sete anos não recebiam o sacramento e como tal, não constavam nos róis.

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Portanto, o número de habitantes era certamente mais elevado pois a popu-lação tinha filhos de idades inferiores a sete anos, sobre os quais não temos conhecimento a partir destas listas.

Segundo o rol, Loulé tinha 1863 habitantes maiores de sete anos; 555 eram adultos do sexo masculino, 907 eram adultos do sexo feminino, 125 eram rapazes dos sete aos catorze anos e 182 eram raparigas também dos sete aos catorze anos de idade.

(Senti a necessidade de distinguir os adultos das crianças e utilizei como barreira, os catorze anos. É certo que com quinze anos ainda não podemos considerar uma pessoa adulta mas, na época, esta era já uma boa idade para casar; encontrei dois casos no rol que me indicaram isso e foi por essa razão que estabeleci o limite da infância para a idade adulta, nos catorze anos.)

Porém, o rol consultado tinha lacunas. Observei 94 casos em que não estava indicada a idade; não sei se eram adultos ou crianças, sei apenas que 46 eram do sexo masculino e 48 eram do sexo feminino:

Casos Homens % Mulheres % Total Populacional

94 46 2,47 48 2,58 5,05

Apesar destas lacunas sobre as idades, e falando em termos percentuais, a população dividia-se assim:

- 29.79% são homens adultos - 48.68% são mulheres adultas

- 6.71% são rapazes dos sete aos catorze anos - 9.77% são raparigas dos sete aos catorze

5.05% têm a idade desconhecida mas: 2.47% são do sexo masculino 2.58% são do sexo feminino Com base nestes dados, verificamos que a população louletana é maioritariamente feminina, pois 61.03% da população são mulheres e raparigas e apenas 38.97% são homens e rapazes.

População louletana

61% 39%

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Quadro 2 - Fogos e respectiva População por ruas

Ruas Fogos Habitantes Adultos Crianças* Idade

H M H M Desconhecida

1 Rua da Igreja 24 63 19 36 4 3

---2 Rua do Carapeto 8 20 5 11 1 3

---3 Rua das Alegres 10 19 5 14 --- ---

---4 Largo do Carmo 9 18 7 9 --- 2

---5 Rua do Carmo 7 19 8 9 1 1

---6 Rua do Arco 7 21 8 9 1 3

---7 Rua de João da Murta 5 9 2 5 --- 2

---8 Rua da Corredoura 64 189 49 110 16 14

---9 Mouraria 15 30 14 13 1 2

---10 Rua de Faro 52 130 42 64 8 9 7 (3H; 4M)

11 Rua dos Grilos 20 44 14 20 2 8

---12 Rua da Graça 14 36 10 18 1 7

---13 Rua do Ricardo 17 50 18 22 4 4 2 (1H; 1M)

14 Rua dos Inocentes 35 109 30 55 7 10 7 (3H; 4M)

15 Rua do Cabo 8 25 6 12 3 1 3 (2H; 1M)

16 Rua de João Fernandes 15 47 13 18 4 10 2 (1H; 1M)

17 Rua da Laranjeira 10 30 8 15 3 4 ---18 Rua do Poço 10 30 10 12 2 4 2 (1H; 1M) 19 Rua de S. Domingos 16 63 21 27 9 6 ---20 Rua de Portugal 23 67 17 35 6 9 ---21 Rua Ancha 20 73 24 33 5 11 1 (1H) 22 Rua do Oiteiro 13 33 10 13 5 5

---23 Rua do Lagar Novo 13 45 16 16 4 9

---24 Rua de Santo António 23 79 22 44 5 6 2 (1H; 1M)

25 Rua de São Sebastião 25 80 22 48 2 7 1 (1H)

26 Largo de São Francisco 7 16 6 10 --- ---

---27 Rua Nova de Quarteira 20 68 20 31 8 3 6 (1H; 5M)

28 Rua dos Ferradores 13 44 9 20 1 3 11 (6H; 5M)

29 Largo do Xafariz 15 43 15 18 2 2 5 (3H; 2M) 30 Rua da Estalagem 13 32 8 11 --- --- 13 (3H; 10M) 31 Praça 35 116 36 49 4 14 13 (9H; 4M) 32 Rua do Postigo 12 34 11 14 2 7 ---33 Rua da Cadeia 13 36 8 18 6 4 1 (1M) 34 Rua Nova 5 15 5 6 1 2 1 (1H)

35 Rua de Martim Farto 10 26 8 14 2 2

---36 Rua de Espírito Santo 8 25 8 12 3 1 1 (1M)

37 Rua da Fonte 22 48 13 25 2 1 7 (4H; 3M)

38 Rua das Cabanas 11 31 8 11 --- 3 9 (5H; 4M)

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Legenda do Quadro 2

* - Crianças dos 7 aos 14 anos de idade. H - Homens

M - Mulheres

As ruas estão organizadas pela ordem de aparência do Rol dos Confessados da Freguesia de S. Clemente - Loulé, 1840

ESTRUTURA DOS AGREGADOS

Nos róis dos Confessados encontramos vários tipos de agregados. Estes podem apresentar várias formas consoante o número de pessoas e as relações que têm entre si. Na maior parte dos casos, os grupos domésticos estão ligados por laços familiares derivados do matrimónio, mas há também aqueles que não têm qualquer relação de parentesco entre si e mesmo assim habitam na mesma residência.

A autoridade e chefia dos agregados fica nas mãos do cabecilha e é em relação a ele que estão organizados os outros elementos dos fogos.

Para fazer uma análise mais completa dos agregados existentes na vila de Loulé em 1840 baseei-me no modelo apresentado pela Dra. Guilhermina Mota, em Estruturas familiares no mundo rural.

Segundo este modelo, os agregados podem ser: 1 – Isolados

2 – Agregados não conjugais 3 – Agregados simples 4 – Agregados alargados 5 – Agregados múltiplos 6 – Indeterminados

Por sua vez, estes seis tipos de agregados subdividem-se.

Temos em primeiro lugar os isolados. Aqui, falamos de um só elemento que habita sozinho; como é o caso dos viúvos(as) – 1a, solteiros(as) 1b, casados(as) que têm o respectivo parceiro ausente – 1c e os indivíduos de estado civil desconhecido – 1d.

Seguem-se os agregados não conjugais. Estes, são compostos por elementos que estão ligados ao cabecilha por relações de parentesco: irmãos – 2a ou outros parentes – 2b.

Nos agregados simples, encontramos várias hipóteses: casal sem filhos – 3a (poderiam ser casais que ainda não tinham filhos ou não estão

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cujos filhos já tinham saído da casa de seus pais), casal com filhos – 3b, viúvos com filhos – 3c, viúvas com filhos – 3d, solteiras com filhos – 3e e outros casos – 3f (por exemplo: elementos casados, cujo parceiro(a) está ausente, com filhos).

Os agregados alargados, segundo Laslett, Peter e Wall, Richard em House-hold and family in past time, formam-se quando temos uma unidade familiar conjugal, com ou sem filhos, e em adição há um ou mais parentes do casal:

4a – Alargamento ascendente – É quando temos presente, no mesmo fogo, elementos de uma geração anterior à do casal central; por exemplo, o pai do cabecilha, uma tia, etc..

4b – Alargamento descendente – Neste caso há a presença de netos e/ou sobrinhos ligados por laços de sangue ao casal central.

4c – Alargamento lateral – Acontece quando vivem irmãos ou primos do cabecilha ou de sua esposa e partilham todos a mesma residência.

4d – Combinações 4a - 4c

Falamos de agregados múltiplos, segundo os mesmos autores, quando temos grupos domésticos que incluem duas ou mais unidades familiares con-jugais, que estão unidas por relações de parentesco ou pelo casamento:

5a – Unidade secundária ascendente – Aqui encontramos o cabecilha e respectiva família a viver com uma geração anterior à sua; por exemplo, os dois pais, onde também podem estar presentes os irmãos solteiros do cabecilha.

5b – Unidade secundária descendente – É quando o cabecilha partilha a sua residência com os filhos, que por sua vez já têm uma unidade familiar.

5c – Unidade secundária lateral – Acontece quando há dois ou mais casais de irmãos na mesma habitação, onde também está presente um dos pais viúvo(a).

5d – Frérèches – Aqui encontramos o grupo doméstico constituído por casais de irmãos a viverem juntos, onde um dos irmãos é eleito cabecilha.

Por último, temos os agregados indeterminados: 6a – Sem unidade familiar aparente.

6b – Inclui unidade familiar.

Quando é feita uma análise dos agregados, é necessário ter em conta que os criados não são incluídos na estrutura dos fogos. Estes não entram em nenhum tipo de agregados que acima referi e como tal pode encontrar-se um fogo com dois ou mais elementos que está classificado como isolado; por exemplo, uma viúva e dois criados, ficando unicamente contabilizada a viúva.

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ESTRUTURA DE PARENTESCO DOS AGREGADOS, EM LOULÉ

No quadro 3, temos a classificação dos agregados quanto ao parentesco, da vila de Loulé em 1840.

É bem visível a predominância dos agregados simples/nucleares, englo-bando 66.61% dos fogos louletanos. Aqui, com 174 casos (26.89%) temos a categoria 3a – casal sem filhos que é o agregado mais frequente; seguindo-se 3b – casal com filhos, com 131 casos (20.25%). Com índice também elevado encontramos os agregados onde o cabecilha é uma senhora viúva que vive com os seus filhos (10.66%), o que contrasta com 1.85% dos agregados com-postos por viúvos com filhos. Menos frequente são os agregados comcom-postos por solteiras com filhos (0.93%). Por último, encontramos a categoria 3f – outros casos, que engloba os restantes agregados simples que não se encai-xam nas outras categorias.

Nos agregados isolados temos 66 casos de viúvos(as), 62 casos de soltei-ros(as), 14 casos de casados(as) cujo parceiro está ausente e apenas 5 casos são de estado civil desconhecido.

Menos frequentes são os agregados alargados e os múltiplos.

Nos alargados temos 2 fogos em alargamento ascendente, 13 com alarga-mento descendente e também 13 com alargaalarga-mento lateral.

Nos agregados múltiplos apenas 2 casos de unidade secundária descen-dente e 4 enquadram-se em outras combinações.

Nos indeterminados, 2 agregados não têm unidade familiar aparente e há 1 que inclui unidade familiar.

Assim, dos 647 fogos apresentados, o índice mais elevado está presente nos agregados simples, com maior incidência nos casais sem filhos. Era desta forma que a maioria dos agregados louletanos estavam constituídos.

Quadro 3 - Estrutura de Parentesco dos Agregados

Tipos Classes Casos %

1a. Viúvos (as) 66 10,21

1. 1b. Solteiros (as) 62 9,58

Isolados 1c. Casados (as) 14 2,16

1d. Estado civil desconhecido 5 0,77

2. Agregados 2a. Irmãos 17 2,63

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Tipos Classes Casos %

3a. Casal sem filhos 174 26,89

3. 3b. Casal com filhos 131 20,25

Agregados 3c. Viúvos com filhos 12 1,85

simples 3d. Viúvas com filhos 69 10,66

3e. Solteiras com filhos 6 0,93

3f. Outros casos 39 6,03

4a. Alargamento ascendente 2 0,31

4. Agregados 4b. Alargamento descendente 13 2,01

Alargados 4c. Alargamento lateral 13 2,01

4d. Combinações 4a. - 4c. ---

---5a. Unidade secundária ascendente ---

---5. 5b. Unidade secundária descendente 2 0,31

Agregados 5c. Unidade secundária lateral ---

---múltiplos 5d. Frérèche ---

---5e. Outras combinações 4 0,62

6. 6a. Sem unidade familiar aparente 2 0,31

Indeterminados 6b. Inclui unidade familiar 1 0,15

Total 647 100

COMPOSIÇÃO DOS AGREGADOS

Depois de se distinguirem os tipos de agregados é necessário falar dos elementos que os constituem.

Vejamos o quadro seguinte:

Elementos dos agregados Casos %

Cabecilhas 647 34,73 Cônjuges 335 17,98 Filhos 528 28,34 Parentes 104 5,58 Expostos 18 0,97 Criados 218 11,7 Outros 13 0,7 Total 1863 100

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Temos, em primeiro lugar, os cabeças/cabecilhas. São ao todo 647, um por cada fogo e correspondem a 34.73% da população.

Muitos destes cabeças eram casados e partilhavam as suas vidas com os cônjuges, 335 casos – 17.98%.

Havia casais que não tinham filhos mas normalmente um casal com filhos tinha uma média de 2 a 3 filhos, fora os menores de sete anos sobre os quais não temos conhecimento; mesmo assim encontramos uma percentagem muito elevado no número de filhos: 28.34%.

Em alguns fogos residiam os outros parentes (104 casos, 5.58% dos habi-tantes), e/ou os expostos (elementos órfãos que eram acolhidos por algumas famílias – 18 casos, 0.97%) e/ou os criados (218 casos, 11.70% da população). Por fim, havia pessoas que não tinham qualquer relação de parentesco para com o cabecilha, que estão englobadas em outros casos (13 casos, 0.70%).

Todos estes elementos somam um total de 1863 habitantes.

AS PROFISSÕES

Na vila de Loulé, em 1840, eram praticadas 88 profissões por 471 ele-mentos. – Quadro 4

Foi do rol que retirei as profissões e, como tal, estão presentes todos os ofícios que o pároco registou. Era com estas profissões que os habitantes, normalmente os cabecilhas, se sustentavam e sustentavam os respectivos agregados. Algumas parecem um pouco estranhas se considerarmos o conceito profissão, mas era através delas que a população se provia do necessário. São elas: mendigos (12 casos), proprietários (68 casos), servos (1 caso) e traficantes (1 caso).

Como podemos observar, havia profissões que eram mais praticadas e apresentam, por isso, uma percentagem elevada:

Profissão casos % Almocreve 36 7,64 Arrieiro 10 2,12 Sapateiro 58 12,31 Carpinteiro 10 2,12 Jornaleiro 13 2,76 Mendigo 12 2,55 Oleiro 20 4,25

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Profissão casos % Pedreiro 16 3,41 Proprietário 68 14,44 Taverneira 19 4,03 Trabalhador 27 5,73 Total 289 61,36

Raras eram as mulheres que exerciam uma profissão mas havia ofícios que eram exercidos apenas por elas:

Profissão Casos % Costureira 5 1,06 Estanqueira 2 0,42 Freira 2 0,42 Lavadeira 7 1,47 Lavadeira de forno 1 0,21 Parteira 2 0,42 Taverneira 19 4,03 Tecedeira 1 0,21 Total 39 8,24

Porém, havia também algumas proprietárias (15 casos). Assim, temos uma soma total de 54 trabalhadoras mulheres, contra 417 trabalhadores homens.

Todos os elementos que trabalhavam eram cabecilhas de fogos; logo, em 647 fogos, 72.80% dos cabeças tinham uma profissão. Sobre os restantes 27.20% não sabemos que meios utilizavam para subsistir.

Quadro 4 - Profissões praticadas na Vila, em 1840

Profissões Casos % Advogado 1 0,21 Albardeiro 3 0,64 Alfaiate 5 1,06 Almocreve 36 7,64 Amanuense 2 0,42 Amolador 1 0,21

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Profissões Casos % Andador 1 0,21 Apontador do Bilhar 1 0,21 Arrieiro 10 2,12 Avaliador 1 0,21 Barbeiro 6 1,27 Boticário 4 0,85 Cabouqueiro 1 0,21 Caiador 3 0,64 Caixeiro 1 0,21 Caldeireiro 2 0,42 Canteiro 2 0,42 Capador 2 0,42 Sapateiro 58 12,31 Capelão 1 0,21 Capelão do Hospital 1 0,21 Carcereiro 1 0,21 Carpinteiro 10 2,12 Chamiceiro 1 0,21 Cirurgião 1 0,21 Coadjuntores 1 0,21 Comerciante 2 0,42 Comissário da 3ª Ordem 1 0,21 Cordoeiro 1 0,21 Carteiro 1 0,21 Cortador 1 0,21 Costureira 5 1,06 Criado de servir 7 1,47 Eclesiástico 5 1,06 Escrivão 3 0,64 Estalagedeiro 1 0,21 Estanqueira 2 0,42 Ferrador 8 1,71 Ferreiro 7 1,47 Fogueteiro 1 0,21 Forneiro 4 0,85 Freira 2 0,42 Jornaleiro 13 2,76 Lavadeira 7 1,47 Lavadeira do forno 1 0,21 Lavrador 3 0,64 Maioral 2 0,42 Marchante 1 0,21 Médico 2 0,42

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Profissões Casos %

Mendigo 12 2,55

Mercador 4 0,85

Professor de Ensino Básico 2 0,42

Moleiro 1 0,21 Negociante 4 0,85 Oleiro 20 4,25 Hortelão 1 0,21 Ourives 1 0,21 Padeiro 3 0,64 Padre 1 0,21 Parteira 2 0,42 Pedreiro 16 3,41 Peneireiro 6 1,27 Pintor 1 0,21 Pregoeiro 1 0,21 Presbítero 1 0,21 Prior 1 0,21 Professor de Latim 1 0,21 Proprietário 68 14,44 Relojoeiro 1 0,21 Rendeiro 1 0,21 Sacristão 1 0,21 Sangrador 2 0,42 Serralheiro 1 0,21 Secretário de Câmara 1 0,21 Servo 1 0,21 Soldado Reformado 1 0,21 Sombrereiro 3 0,64 Sub-Delegado 1 0,21 Surrador 7 1,47 Tabelião 2 0,42 Tanoeiro 1 0,21 Taverneira 19 4,03 Tecedeira 1 0,21 Tendeiro 13 2,76 Trabalhador 27 5,73 Traficante 1 0,21 Tosquiador 1 0,21 Vendedor 4 0,85 Total 471 100

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CONDIÇÃO SOCIAL, SEGUNDO A PROFISSÃO

Através do rol dos confessados torna-se muito difícil realizar a caracte-rização social da sociedade através da profissão, pois a fonte consultada não nos fornece informações suficientes.

A profissão é já um ponto de partida, mas qualquer conclusão sobre a con-dição social torna-se muito duvidosa porque não temos qualquer indicação sobre quanto dinheiro ganhavam os trabalhadores no seu ofício.

Mas podemos diferenciar dois estratos sociais. O estrato social mais pobre era onde estavam enquadrados os mendigos e servos pois tinham poucas con-dições de vida e o dinheiro era escasso. Em contraste aparecem os proprietários que possuíam bens, propriedades, alguns criados e tinham um elevado estatuto social.

OS AGREGADOS E SUA DIMENSÃO NAS PROFISSÕES MAIS PRATICADAS

Atentemos para o quadro seguinte:

Tipo de agregados Almocreves Casos — — 36 — — — 36 % — — 100 — — — 100 Sapateiros Casos 9 2 45 2 — — 58 % 15,5 3,45 77,6 3,45 — — 100

Oleiros Proprietários Trabalhadores Casos — — 18 2 — — 20 % — — 90 10 — — 100 Casos 10 4 44 9 1 — 68 % 14,7 5,88 64,71 13,24 1,47 — 100 Casos 1 — 26 — — — 27 % 3,7 — 96,3 — — — 100 Isolados Não conjugais Simples Alargados Múltiplos Indeterminados Total

Quando falamos de fogos onde a profissão exercida é almocreve, encon-tramos todos os casos (36) enquadrados nos agregados simples.

Já com os sapateiros encontramos os quatro primeiros tipos de agregados (isolados, não conjugais, simples e alargados) onde é bem visível a predomi-nância de agregados simples, que constituem 77.59% dos casos. Seguem-se os isolados (15.52%), os agregados não conjugais (3.45%) e agregados os

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alar-gados (3.45%).

Os oleiros dividem-se em agregados simples com 90% dos casos e em agregados alargados onde temos os restantes 10%.

Os proprietários têm agregados mais diversificados, mas a maior tendência são os agregados simples (64.71%). Os isolados apresentam 14.71%, os agre-gados alaragre-gados 13.24%, os agreagre-gados não conjugais 5.88% e com apenas 1 caso estão os agregados múltiplos (1.47%).

Com os trabalhadores, a regra é a mesma; maior incidência nos agregados simples (96.30%) e um caso isolado (3.70%).

Como podemos constatar, a maioria dos agregados são simples ou nu-cleares, com 55.78% dos casos. A restante percentagem divide-se pelos restantes agregados.

CONCLUSÃO

Este trabalho mostra, de uma forma mais detalhada, como estava consti-tuída a vila de Loulé, em 1840.

Estão apresentadas as 38 ruas existentes onde estão distribuídos 647 fogos e 1863 habitantes com idades compreendidas entre os 7 (os menores de sete anos não constavam nos róis porque não recebiam o sacramento) e os 93 anos de idade (idade do elemento mais velho do rol).

A população é maioritariamente feminina – 61.03%, restando 38.97% de população masculina.

Nos fogos encontramos o cabecilha/cabeça como o indivíduo mais impor-tante, pois é ele(a) que sustenta o grupo doméstico e tem a autoridade e chefia da residência e é em função dele que estão organizados os outros elementos.

Assim, encontramos vários tipos de agregados: isolados, agregados não conjugais, agregados simples, agregados alargados, agregados múltiplos e agregados indeterminados. Em Loulé predominam os agregados simples (66.61%), com maior incidência nos casais sem filhos (26.89%) e casais com filhos (20.25%).

Nestes agregados, juntamente com os cabecilhas, podíamos encontrar os cônjuges dos cabeças, os filhos, outros parentes, os expostos, os criados e aqueles que não tinham qualquer relação de parentesco para com o cabecilha.

Para o sustento do grupo doméstico, 72.80% dos cabeças exerciam uma profissão (11.46% eram mulheres a trabalhar) e 27.20% não tinham qualquer

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ofício.

As profissões com mais praticantes eram: almocreves (36 casos), oleiros (20 casos), proprietários (68 casos), sapateiros (58 casos) e trabalhadores (27 casos). Os cabecilhas que praticavam estas profissões viviam essencial-mente em agregados simples – 55.78%.

Falar em estratos sociais é muito difícil visto que não temos dados sufi-cientes no rol dos confessados, e seria necessário recorrer a outra fonte para fazer uma análise correcta.

E era assim que estava constituída a vila de Loulé.

FONTE

“Roll dos Confessados” da freguesia de S. Clemente – Loulé, de 1840.

BIBLIOGRAFIA

LASLETT, Peter; WALL, Richard

Household and family in past time - Cambridge University Press, 1972. MOTA, Guilhermina

Referências

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