• Nenhum resultado encontrado

FUTUROS PROFESSORES E SUAS REPRESENTAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO INICIAL E O TRABALHO DOCENTE

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "FUTUROS PROFESSORES E SUAS REPRESENTAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO INICIAL E O TRABALHO DOCENTE"

Copied!
14
0
0

Texto

(1)

FORMAÇÃO INICIAL E O TRABALHO DOCENTE

FARIAS1, Ana Carla Dias de – PUCPR

anaefabi_me@hotmail.com

ENS2, Romilda Teodora – PUCPR

romilda.ens@pucpr.br

Eixo Temático: Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: Fundação Araucária

Resumo

A presente pesquisa ancora-se ao projeto denominado “Representações Sociais, Trabalho Docente e Políticas de Formação de Professores”, projeto que se vincula aos estudos sobre representações de alunos de licenciatura sobre o trabalho docente organizado pelo CIERS-ed/FCC. O trabalho docente percorre um processo de intensas discussões, decorrentes da própria complexidade dos fatores que envolvem a formação humana no contexto atual, exigindo do profissional docente conhecimentos, atitudes e valores para sua própria formação. Fundamentando-se em Ens (2009, 2010), Freire (2009), Jodelet (2001), Moscovici (2003), Nóvoa (2009), o objetivo da investigação é verificar as representações que alunos do Curso de Pedagogia, durante seu processo formativo inicial, indicam sobre o trabalho docente. Nessa pesquisa, optou-se pela abordagem qualitativa. O questionário (organizado pelo CIERS-ed/FCC) é composto por perguntas abertas e fechadas e está dividido em: parte I – questões de associação livre e situacionais; parte II – questões sobre o perfil dos participantes. O questionário foi aplicado a 76 alunos do 1º ano do Curso de Pedagogia de uma IES nos anos de 2010 e 2011. Os dados sistematizados e analisados a partir da análise de conteúdos apontam que, hoje, os alunos que ingressam no Curso de Pedagogia carregam uma representação antecipada do “ser professor”. Essa representação ancora-se no que os estudantes presenciam em seu ambiente escolar durante os anos de escola básica. Sobre as representações que “outros” fazem sobre a profissão professor, principalmente, os amigos qualificam como “quase loucura” a escolha. Apontam a prática como solução para as dificuldades que irão encontrar na construção de sua profissionalidade e parecem bastante idealistas. No entanto, não desconhecem a complexificação da profissão docente, além de

1 Graduanda do Curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR. Bolsista PIBIC 2010/2011 – Fundação Araucária; 2011/2012 – CNPq.

2 Professora e Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação e do curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Pesquisadora associada da Fundação Carlos Chagas, participando do CIERS-Ed (Centro Internacional em Representações Sociais e Subjetividade – Educação). Doutora em Educação: Psicologia da Educação pela PUCSP. Orientadora da pesquisa.

(2)

sentirem-se desvalorizados como professores pela sociedade, principalmente, pelos baixos salários e pelas condições de trabalho que irão encontrar. São representações impregnadas de compromisso com a profissão e que apontam para a necessidade de aprofundamento de pesquisas sobre o trabalho docente.

Palavras-chave: Representações Sociais. Formação Inicial. Trabalho Docente. Introdução

A presente investigação denominada “Futuros professores e suas representações sobre a formação inicial e o trabalho docente” está ancorada ao projeto de pesquisa do professor orientador “Representações Sociais, Trabalho Docente e Políticas de Formação de Professores”, projeto que se vincula aos estudos sobre representações de alunos de licenciatura sobre o trabalho docente desenvolvido pelos 35 grupos de pesquisa associados ao CIERS-ed/FCC (Centro Internacional de Estudos em Representações Sociais e Subjetividade – Educação/Fundação Carlos Chagas).

O estudo do tema possibilita compreender como alunos do curso de pedagogia visualizam o professor nos dias de hoje, além de delinear perspectivas para a profissão “docente”.

Ens (2009, p. 206), apoiando-se em Campos (2003), explica que “documentos produzidos no período de 1999 a 2003 mostram um deslocamento da noção de ‘professor reflexivo’ para a de ‘professor competente’, o que reforça e legitima a competência técnica como fundante da profissionalização”. Outras pesquisas sobre o profissional docente indicam que as reformas da década de 1990 e dos anos 2000-2010 têm repercutido sobre a organização da escola e do trabalho docente, gerando mudanças na profissão e nas condições de saúde do professor. “As representações sobre a profissão do professor, na contemporaneidade, podem ser mais bem compreendidas se analisadas na perspectiva histórica de sua configuração” afirma Ens (2010, p. 55).

É importante ressaltar que os estudos das representações sociais de futuros professores sobre o trabalho docente revelam a especificidade desses grupos e fortalece estudos que contribuem para que os cursos de formação de professores estabeleçam propostas voltadas ao compromisso político-social na docência e dos processos pedagógicos e administrativos da escola. Para Nóvoa (2009, p. 14) a

(3)

[...] inflação retórica sobre a missão dos professores implica dar-lhes uma maior visibilidade social, o que reforça o seu prestígio, mas provoca também controles estatais e científicos mais apertados, conduzindo assim a uma desvalorização das suas competências próprias e da sua autonomia.

Em síntese, buscou-se, por meio das análises e discussões realizadas a partir das representações sociais de alunos de licenciatura em Pedagogia, levantar sugestões que subsidiem as políticas de projetos voltados à formação inicial e continuada de professores.

Sendo assim, a presente pesquisa propôs-se a estudar as “representações que futuros professores, estudantes de um curso de Pedagogia, constroem durante seu processo formativo inicial sobre o trabalho docente”, uma vez que “o professor que não leve a sério sua formação, que não estude, que não se esforce para estar à altura de sua tarefa, não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe” (FREIRE, 2009, p. 92).

A Representação Social na Formação do Profissional Docente

A Representação Social é “uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social” (JODELET, 2001, p. 22).

É possível inferir, hoje, que os alunos que ingressam nos cursos de licenciatura carregam consigo uma representação antecipada de ser professor. Essa representação está vinculada tanto no que estes presenciaram em seu antigo ambiente/espaço escolar, quanto nas representações que “outros” fazem sobre a profissão docente, pois a representação se faz no “já pensado” (ALVES- MAZZOTTI, 1994).

Mas não é porque os alunos chegam à Universidade com conceitos preestabelecidos que eles não possam modificar suas representações, uma vez que, a partir de novas vivências, as representações podem gerar novos significados e novas interpretações, pois como explica Jodelet (2001, p. 17), as representações “nos guiam no modo de nomear e definir conjuntamente os diferentes aspectos da realidade diária, no modo de interpretar esses aspectos, tomar decisões e, eventualmente, posicionar-se frente a eles de forma defensiva”.

Arroyo (2010, p. 21), sobre esse posicionar-se para interpretar a realidade, contribui para um entendimento de que “durante as últimas décadas, podemos acompanhar um movimento da afirmação profissional dos professores que vêm se reconhecendo e exigindo ser reconhecidos como categoria, com sua especificidade histórica, social e política”.

(4)

Diante dessas expectativas apontadas por Arroyo (2010), observa-se que as representações atuam diretamente no núcleo da profissionalização docente, pois as discussões que ocorrem na formação inicial em torno do tema geralmente têm contribuído para a elevação da valorização docente.

Metodologia da pesquisa

A presente pesquisa tem como base o uso da abordagem qualitativa, pois envolve “a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes” (BOGDAN, BIKLEN, 1982 apud LUDKE, ANDRÉ, 1986, p. 13).

Para a coleta de dados, foi utilizado o questionário, organizado pelo CIERS-ed/FCC. O questionário é composto por perguntas abertas e fechadas e está dividido em duas partes, sendo que a parte I contém: a) questões de associação livre (nesta parte utilizou-se a evocação de palavras), b) questões situacionais elaboradas como se fossem respostas a uma carta e a parte II, questões sobre o perfil dos participantes. Para aplicar o questionário, foi necessário seguir as orientações do modelo de aplicação colocado pelo CIERS-ed/FCC.

A obtenção dos dados ocorreu no mês de novembro de 2010 e nos meses de fevereiro a março de 2011. O questionário foi respondido por 76 estudantes, todos regularmente matriculados no 1º e 2º período (turnos manhã e noite) do Curso de Pedagogia de uma Instituição de Ensino Superior do Sul do Brasil.

A sistematização dos dados coletados por meio dos questionários foi realizada a partir de uma tabela elaborada pelo CIERS-ed/FCC. As tabelas estão divididas em três: a primeira corresponde à transcrição das palavras evocadas, enumerando-as de acordo com a resposta do aluno; a segunda corresponde às perguntas abertas e fechadas; na terceira tabela, apresenta-se o perfil socioeconômico dos sujeitos da pesquisa.

Após a sistematização e organização dos dados, buscou-se categorizar as informações, fundamentando-se em Bardin (2010, p. 145), que explica que a categorização “é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero, com os critérios previamente definidos”.

Assim, os dados foram submetidos à análise de conteúdo e interpretados à luz da teoria estudada sobre trabalho do professor e representações sociais.

(5)

Representações de estudantes de Pedagogia sobre a trajetória de estudante e a futura profissão

Os resultados aqui apresentados partem da caracterização dos estudantes participantes, procurando-se estabelecer o perfil socioeconômico deles; em seguida, os resultados das questões de associação livre (evocação de palavras); e por último as questões situacionais elaboradas como se fossem respostas a uma carta.

Os 76 estudantes de Pedagogia sujeitos da pesquisa apresentam as seguintes características (Tabela 1).

Tabela 1 – Caracterização dos estudantes participantes da pesquisa

Sexo Regularmente matriculado

76 – Feminino 0 – Masculino 40 – 1° ano 35 – 2° ano 01 – Outro

Idade entre Período que estuda

17 a 19 anos 28 41 – Noturno 35 – Diurno

20 a 23 anos 32 Considera-se

24 a 30 anos 08 62 – Brancos 8 – Pardos 4 – Negros 2 – Amarelos 31 ou mais 08

Fonte: Dados coletados pelo questionário – 2010/2011

Na questão de associação livre ou evocação de palavras, constatou-se que foram evocadas 907 palavras para representar: professor, aluno e dar aula (Quadro 1).

A coleta de dados por meio da evocação de palavras “possibilita trazer à lembrança, à imaginação algo que está presente na memória dos indivíduos”, explica Oliveira et al. (2005, p. 574), apoiando-se no significado de “evocação” na língua portuguesa como “ato de evocar” (FERREIRA, 1975).

Na proposta desenvolvida de coleta de dados, estabeleceu-se uma hierarquização das representações ao solicitar-se que os participantes elencassem dentro das palavras mencionadas as que se apresentam em 1º e 2º lugar. A partir da sistematização desse momento, em que os participantes analisaram suas evocações, tem-se um quadro com o maior significado representativo (Quadro 2).

1ª palavra mais evocada para...

Professor Conhecimento

Aluno Aprender

Dar aula Ensinar

Quadro 1: Palavras mais evocadas por estudantes do 1.º ano de Pedagogia – 2010/2011 Fonte: Dados coletados pelo questionário – 2010/2011

(6)

Mediador como a 1ª palavra de maior importância para representar o... – Conhecimento/ensino/facilitador/mestre/responsabilidade3 – como a 2ª palavra de maior importância para representar o...

... Professor. Quadro 2: Palavras evocadas e ordenadas pelos participantes da pesquisa

Fonte: Dados coletados pelo questionário – 2010/2011

Dando continuidade à busca das representações dos estudantes, as questões situacionais elaboradas como se fossem respostas a uma carta possibilitaram identificar representações sobre: futura profissão (Tabela 2); prática docente (Quadro 3) e diagramas 1 e 2; proposta de disciplinas para compor a formação do futuro professor (Gráfico 1).

Tabela 2: Representação do aluno de formação inicial sobre a expectativa da futura profissão 65 alunas...

10 alunas não... ... pensam em lecionar imediatamente depois de formadas. Fonte: Dados coletados pelo questionário – 2010/2011

Diante dessa expectativa, os estudantes parecem ancorar sua formação no que já vivenciaram como alunos da escola básica. São alguns conhecimentos sobre o ser professor no olhar do aluno, indicações que de acordo com Moscovici (2003, p. 54) são estabelecidas por estratégias dividas em três momentos: Hipótese da desiderabilidade4; Hipótese do desequilíbrio5; Hipótese do controle6. Assim, temos que os estudantes de Pedagogia tiveram que resgatar lembranças de suas vivências para categorizar a profissão docente e os elementos que os envolvem. Segundo Moscovici (2003, p. 63), são momentos em que “categorizar alguém ou alguma coisa significa escolher um dos paradigmas estocados em nossa memória e estabelecer uma relação positiva ou negativa com ele”.

Nessas perspectivas, os estudantes de Pedagogia trazem representações ligadas à afetividade ou à cultura irrigada dentro si. Ideias compostas de ideologias, mas que se remetem a um conjunto de significados. Temos como exemplo a palavra “conhecimento”, que foi a mais indicada para professor. Mas o que é conhecimento? Da prática? Do conteúdo? Da metodologia? Ou uma associação de todos os elementos? Ao que parece, nas representações

3 Na classificação, os alunos elencaram estas palavras como a segunda representação mais importante para o professor, sendo cada palavra classificada como 2ª colocada três vezes cada uma.

4 “Uma pessoa ou um grupo procura criar imagens, construir sentenças que irão tanto revelar, como ocultar sua ou suas intenções [...]” (MOSCOVICI, 2003, p. 54).

5 “Todas as ideologias, todas as concepções de mundo são meios para solucionar tensões psíquicas ou emocionais [...]” (MOSCOVICI, 2003, p. 54).

(7)

dos estudantes fica clara a necessidade do domínio da área de conhecimento para ser professor. Ao submeter-se a representação a uma classificação, a realidade modifica-se, pois as representações são inúmeras, mas os significados para cada pessoa não.

Nessa perspectiva, pode-se dizer que a maioria dos estudantes busca a formação inicial com a expectativa de realizar uma prática que está disposta a aprender – “ser professor”, como mostra a tabela 2. Os dados indicam que os estudantes ingressam no curso superior convictos de que sairão prontos para “ser professor”. No entanto, a caminhada para ser professor é longa e complexa e o “ser professor” está se complexificando cada vez mais frente às exigências para o trabalho do professor, uma vez que a autonomia profissional “vai se construindo na experiência de várias, inúmeras decisões, que vão sendo tomadas [...]. Pois, ninguém é estudante da autonomia de ninguém”, diz Freire (2009, p. 107).

Os estudantes participantes da pesquisa mostram-se confiantes em relação à futura profissão (Diagrama 1). Nesse diagrama, visualizam-se aspectos que confirmam a confiança de que serão professores e darão uma resposta às dificuldades encontradas. Além disso, parecem conhecer um pouco da realidade das escolas, na contemporaneidade.

Diagrama 1: Motivação pela prática que irão desenvolver Fonte: Dados coletados pelo questionário – 2010/2011

A docência não é fácil, mas não é impossível e os estudantes sabem que para que haja boa mediação entre aluno e professor, é necessário que alguns elementos estejam em harmonia, tais como: professores, alunos, escola e família. Os estudantes revelam algumas angústias que consideram que seus futuros alunos terão: “sem base para o curso”, “práticas inadequadas”, “a escola distante da realidade do aluno” e “famílias que não se envolvem”, ou seja, esse futuro professor ingressará na profissão tendo que encarar dificuldades, mas tendo

Motivação para ser professor

66 alunas se sentem desafiadas a buscar novos

métodos de ensino

Nenhuma aluna está descrente do processo de

ensino

8 alunas se sentem num impasse: entre o desafio da busca e o desânimo por não

(8)

que trabalhar da melhor forma possível e para isso precisa de formação adequada e condições de trabalho (Quadro 3).

As dificuldades de aprendizagem dos alunos referem-se a fatores ligados: aos alunos, aos professores, à escola e aos pais. Em relação:

A eles mesmos, o fator primordial é que eles: – 43 pessoas dizem: Encontram-se sem base para o curso.

– 10 pessoas dizem: São indisciplinados.

– 22 pessoas dizem: Estão desinteressados pelo curso. Aos professores, o fator primordial é que estão: – 20 pessoas dizem: Sem oportunidade de

aperfeiçoamento.

– 38 pessoas dizem: Com práticas docentes inadequadas.

– 17 pessoas dizem: Sem autonomia pedagógica. A escola, o fator primordial é que está: – 19 pessoas dizem: Com turmas superlotadas.

– 5 pessoas dizem: Com classes heterogêneas. – 6 pessoas dizem: Sem material didático.

– 39 pessoas dizem: Distante da realidade do aluno. – 6 pessoas: Optaram por duas alternativas. A família, o fator primordial é que: – 7 pessoas dizem: Faltam condições para os pais

orientarem seus filhos.

– 11 pessoas dizem: Há interesse dos pais pela educação dos filhos, porém sem conhecimento do caminho a seguir.

– 56 pessoas dizem: Faltam participação e envolvimento nas atividades da escola.

– 1 pessoa: Optou em responder duas alternativas. Quadro 3: Representações da prática docente

Fonte: Dados coletados pelo questionário – 2010/2011

Com relação à estrutura curricular do curso de formação inicial para professores (Pedagogia), esta se configura para atender ao estabelecido na Resolução CNE/CP n. 01/2006, que estabelece as diretrizes curriculares dos Cursos de Pedagogia – Licenciatura, no Brasil, dentro das configurações internacionais que tiveram início na década de 1990, como um dos desdobramentos da Lei 9394/96 (BRASIL, 1996 e 2006).

No entanto, as representações dos estudantes propõem uma matriz curricular com disciplinas assim redistribuídas:

(9)

0 10 20 30 40 50 60

Sujeito 03 Sujeito 09 Sujeito 20 Sujeito 37 Sujeito 40 Sujeito 59 Sujeito 73 Sujeito 76

Conteúdo especifico Conhecimento didático e metodológico de ensino Prática de Ensino

Gráfico 1: Reestrutura curricular segundo estudantes de Pedagogia Fonte: Dados coletados pelo questionário – 2010/2011

Ao pensarem na formação do professor, os estudantes propuseram estudos sobre: a) Pesquisa.

b) Temas sobre dificuldades de aprendizagem. c) Educação especial.

d) Conhecimento psicológico, biológico do aluno. e) Questões de afetividade dos alunos.

f) Dinâmicas de grupo. g) Trabalhos voluntários. h) Experiência. i) Autonomia pedagógica. j) Atividades físicas. k) Cursos de aperfeiçoamento.

l) Outras áreas de atuação do profissional sem ser a docência.

m) Considerar que o aluno já tem algum conhecimento para saber como lidar com as ideias do aluno.

Ao falarem sobre o que “outros” pensam sobre a escolha profissional do “ser professor” que fizeram, indicam que para os familiares sempre foi uma boa escolha, apontam dificuldades em relação a não valorização profissional, como confirmam os depoimentos a seguir:

A minha família toda atua na área da educação e meus pais acham que educar não é apenas uma profissão, mas um dom. (Estudante 6)

(10)

[...] acreditam que o professor se com sua prática docente fizer os alunos se interessarem, vamos ter um futuro melhor nas escolas e querem que eu faça parte desse diferencial. (Estudante 24)

[...] acham que devo fazer aquilo com o que me identifico e que é uma profissão bonita, apesar de não ser valorizada. (Estudante 37)

[...] minha mãe sempre me apoiou na minha escolha como professora, pois sempre foi meu sonho. (Estudante 69)

Para o(s) amigo(s), é uma profissão desgastada, como mostram os depoimentos abaixo:

Infelizmente a “profissão” professor ainda não tem o reconhecimento necessário, tanto financeiramente como na sociedade. (Estudante 1)

[...] não é valorizada. (Estudante 4)

[...] acham que é coisa de maluco trabalhar com educação por ser uma profissão mal remunerada. (Estudante 22)

[...] é muito empenho para pouco retorno financeiro. (Estudante 41)

[...] não é uma profissão valorizada pela sociedade e ocorrem muitos problemas com a indisciplina, o que é muito desgastante. (Estudante 72).

Cabe aqui mencionar que as representações dos estudantes sobre a profissão docente frente a outras profissões (Tabela 3) estão relacionadas à profissão do psicólogo.

Tabela 3: Profissões similares à docência segundo os alunos

16 ... médico 02 ... padre/pastor 06 ... pedreiro 01 ... engenheiro 40 ... psicólogo 07

Aluna(s) iguala(m) a profissão docente a/ao...

... um conjunto de várias profissões Fonte: Dados coletados pelo questionário – 2010/2011

Diante da complexidade do “ser professor”, os estudantes deixam um recado de otimismo àqueles que desejam ser professor (Diagrama 2), conforme depoimentos a seguir:

(11)

Diagrama 2: Conselho que os estudantes dariam a um amigo sobre ser professor Fonte: Dados coletados pelo questionário – 2010/2011

Vivemos em uma sociedade totalmente à mercê de educação, onde o profissional é totalmente desvalorizado, onde ainda não houve a consciência de que a educação é a base de um 'ser' (indivíduo) que transforma uma sociedade e constrói novos sonhos. (Estudante 1)

[...] a prática docência não é fácil, mas a participação na formação de um cidadão é algo muito gratificante, é instigante lidar com as ciências humanas, pois nos propicia conhecer e entender na prática que as pessoas são diferentes umas das outras. (Estudante 12)

[...] ser professor é um trabalho árduo. Mas que eu considero como uma gigantesca missão que Deus me deu de educar os pequeninos. (Estudante 20)

[...] apesar do que meus amigos dizem, serei professora ajudando na construção de conhecimentos, tijolo por tijolo, assim como o pedreiro. (Estudante 40)

[...] estar cursando pedagogia é uma experiência única que certamente marcou minha vida, é algo que guardo com muito amor e que me dá muita satisfação. (Estudante 64)

[...] é uma profissão muito importante, pois trabalha com pessoas, exigindo muito cuidado e dedicação. (Estudante 75)

Esses aspectos contribuem para que se possa compreender o que diz Imbernón (2009, p. 39) sobre “o processo de formação deve ser dotados de professores de conhecimento, habilidades e atitudes para desenvolver profissionais reflexivos ou investigadores” (IMBERNÓN, 2009, p. 39). Assim, pode-se dizer que as representações que os estudantes de Pedagogia trazem para sala de aula do “ser professor” parecem estar um pouco distantes do professor proposto por Imbernón (2009), como nos mostram os depoimentos "a prática docência não é fácil, mas a participação na formação de um cidadão é algo muito gratificante [...], pois nos propicia conhecer e entender na prática que as pessoas são diferentes umas das outras” (Estudante 12), e se aproximam de representações próprias desse grupo quando dizem

Conselho da futura profissão

1 aluna coloca que não se deve esperar muito dos alunos

39 alunas colocam que não se pode deixar escapar o sonho de ensinar

seus alunos

35 alunas afirmam que os alunos só aprenderão se estiverem

(12)

"apesar do que meus amigos dizem, serei professora, ajudando na construção dos conhecimentos, tijolo por tijolo, assim como o pedreiro” (Estudante 40).

Ens, Gisi e Eyng (2010, p. 52) explicam que “compreender o sentido e as trajetórias das profissões é complexo, consequentemente, conceituar a profissão docente não é uma tarefa fácil”. Por esse motivo, as representações sociais agregam tal importância na educação, pois norteiam novos pressupostos para novas opiniões.

Pensando na sua própria formação, o estudante se vê preocupado com o que vai aprender no curso. Cada pessoa, com sua individualidade, acresce mais valor aos elementos que mais o instiga. Hoje se encontram pessoas que se preocupam mais com o conteúdo, outros, com a prática e a metodologia. As expectativas em relação à formação, geralmente, geram ansiedade nos estudantes e muitos dos elementos indicados fazem parte de sua formação, assim, parece que pela preocupação se “atropelam” nas expectativas, pois antes de “fazer o bolo, deve-se ter os ingredientes”. Uma formação inicial é fundamental, ou seja, a teoria e a prática são indissociáveis. Pode-se dizer que a teoria expressa a prática e vice-versa.

O “desafio” é grande e os estudantes sabem e afirmam que não se pode “deixar um sonho de lado”, ou seja, a busca do conhecimento é necessária, pois segundo Freire (2009, p. 85), “como professor, devo saber que sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino”.

Considerações Finais

“Pensar o futuro é um exercício arriscado e, muitas vezes, fútil. Mas, apesar dos avisos, não resistimos à tentação de imaginar o que nos irá acontecer, procurando, assim, agarrar um destino que tantas vezes nos escapa” (NÓVOA, 2009, p. 71). “Ser professor” é desafiador, uma vez que a prática da docência se modifica constantemente. Assim, é um desafio representar a profissão docente, pois “as representações sociais devem ser vistas como uma maneira específica de compreender e comunicar o que nós já sabemos” (MOSCOVICI, 2003, p. 46).

É possível inferir que as representações dos 76 futuros professores apontam para o compromisso com o trabalho docente, rompendo barreiras e abrindo novos caminhos para novas reflexões em torno da profissão. Pois as representações dos estudantes estão centralizadas, de um modo geral, na afetividade, na responsabilidade e na capacidade de busca.

(13)

Os depoimentos dos futuros professores (estudantes de Pedagogia) corroboram para se elaborar um perfil de como está a formação inicial desses estudantes, em tempos atuais, quais as expectativas e dificuldades do ser professor. Os alunos que ingressam no curso de Pedagogia carregam consigo uma representação antecipada do “ser professor”. Essa representação está vinculada tanto na experiência tida na escola básica, com seus professores, como nas representações que “outros” fazem sobre a profissão. A imagem do profissional docente está ancorada a questões: afetivas, culturais, além da desvalorização devido à má remuneração.

Hoje, propõe-se que o trabalho docente seja visto como profissão, como as demais profissões, com tensões e dificuldades. Mas falta-lhe a valorização, pela sua importância na sociedade, apesar de ser objeto de discurso das políticas educacionais.

A análise das representações de estudantes de Pedagogia sobre o trabalho docente na atualidade pode contribuir para a discussão de propostas de formação do professor, com qualidade. São representações que indicam uma profissão docente com muitas expectativas tanto sobre o curso de formação do professor como a futura profissão. Mas com muitas contradições, pois ao mesmo tempo em que acreditam que estarão preparados integralmente para exercerem a profissão ao se formarem, acreditam que a prática poderá dispensar a teoria. Esse é um dos problemas que precisam ser mais bem estudados por futuras pesquisas, bem como quando apontam a prática como solução para as dificuldades que irão encontrar na construção de sua profissionalidade, pois são idealistas.

No entanto, não desconhecem a complexidade da profissão docente, além de sentirem-se desvalorizados como professores pela sociedade, principalmente, pelos baixos salários e pelas condições de trabalho que irão encontrar.

Todavia as representações de futuros professores sobre a formação inicial e o trabalho docente apontam para a necessidade de novas pesquisas que aprofundem os estudos aqui iniciados.

REFERÊNCIAS

ALVES-MAZZOTTI, Alves. Representações sociais: aspectos teóricos e aplicações à Educação. Em Aberto, Brasília, ano 14, n. 31, p. 60-68, jan./mar. 1994.

ARROYO, Miguel. Ofício de mestre: imagens e autoimagens. 12. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

(14)

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdos. Lisboa: Edições 70, 2010.

BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Legislativo,

Brasília, DF, 23 dez. 1996. p. 27833. Disponível em:

<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=75723>. Acesso em: 23 abr. 2010.

BRASIL. Ministério da Educação. Resolução 01 de maio de 2006. Fixa as diretrizes curriculares dos Cursos de Pedagogia – Licenciatura. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>. Acesso em: 15 maio 2010.

ENS, Romilda Teodora; BOTH, Laura Garbini. Políticas educacionais e trabalho docente

na rede estrado em 2006. Caderno de Pesquisa: Pensamento Educacional, v. 4, p. 206, 2009.

ENS, Romilda Teodora; GISI, Maria Lourdes; EYNG, Ana Maria. Profissão docente em questão: tensões e desafios. In: ENS, R. T.; BEHRENS, M. A. (Org.). Formação do

professor: profissionalidade, pesquisa e cultura escolar. Curitiba: Champagnat, 2010. p.

43-74.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2009.

IMBERNÓN, Francisco. Formação docente e profissional. 7ª. ed. São Paulo: Cortez, 2009. JODELET, Denise. As representações sociais. Tradutora Lilian Ulup. Rio de Janeiro: Editora UERJ, 2001.

LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. (Temas básicos de educação e ensino).

MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. Tradução Pedrinho A. Guaresschi. Petrópolis: Vozes, 2003.

Referências

Documentos relacionados

Unidade 2: Aspectos introdutórios da contabilidade básica Exercícios de revisão de lançamentos contábeis (constituição de empresa, adiantamentos a fornecedores, despesas

17 CORTE IDH. Caso Castañeda Gutman vs.. restrição ao lançamento de uma candidatura a cargo político pode demandar o enfrentamento de temas de ordem histórica, social e política

O âmbito da proteção da segurança e saúde no trabalho vem se ampliando graças à ratificação das Convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT), bem como

Os termos para a contratação da Sabesp, tem como base: (i) concessão dos serviços de abastecimento de água e parte do esgotamento sanitário do município; (ii) investimentos da

Aguardaremos mais informações sobre a oferta para mensurar mais precisamente o impacto para os demais acionistas.. No comunicado divulgado pela empresa, a Gerdau detalhou

Esta pesquisa parte do pressuposto de que a quantidade de amostras, bem como sua distribuição espacial, pode afetar a representação espacial das variáveis peso de frutos por

§ 3.º O representante eleito, ao assumir a coordenação de curso, terá o prazo de sessenta dias para convocar o colegiado para o processo eleitoral da escolha do coordenador de

Amanda Pereira dos Santos Rocha Técnico(a) de Enfermagem. Ana Carolina Leite de Souza