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Cursos Online EDUCA. Acredite no seu potencial, bons estudos! Carga horária: 60hs

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Cursos Online EDUCA

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Acredite no seu potencial, bons estudos!

Curso Gratuito

Estatuto

ECA

-II

Adolescente

do

e

Criança

da

Carga horária: 60hs

(2)

Conteúdo

Parte Geral: Fundamentos para o Estatuto da Criança e do Adolescente ... Pág. 8 Direitos Fundamentais ... Pág. 12 Prevenção ... Pág. 32 Parte Especial: Política de Atendimento ... Pág. 36 Entidades de atendimento ... Pág. 37 Medidas de Proteção ... Pág. 41 Prática de Ato Infracional ... Pág. 46 Medidas Pertinentes aos pais ou responsável ... Pág. 53 Conselho Tutelar ... Pág. 54 Acesso a Justiça ... Pág. 56 Crimes e Infrações Administrativas ... Pág. 79 Referências Bibliográficas ... Pág. 98

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PARTE GERAL

1. FUNDAMENTOS PARA O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

A Constituição Federal de 1988 destinou à criança e ao adolescente especial proteção. As regras protetivas em relação a elas estão contidas, basicamente, no Capítulo VII (Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso), do Título VIII (Da Ordem Social).

Estipula a Constituição da República, que a proteção da criança e do adolescente é dever da família, da sociedade e também do Estado. Essa proteção se traduz em assegurar, efetivamente e com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e à convivência familiar e comunitária, colocando as crianças e os adolescentes a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Assim, é dever do Estado promover programas de assistência integral à saúde da criança e do adolescente, admitindo-se a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecidos os seguintes preceitos (art. 227, §1º da CRFB/88):

a) aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-infantil;

b) criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de discriminação.

Conforme salienta o parágrafo terceiro do artigo 227 da Constituição Federal de 1988, o direito a proteção especial deve abranger os seguintes aspectos:

a) idade mínima de 14 (quatorze) anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII, também da Constituição Federal;

b) garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;

c) garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola; d) garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar específica;

e) obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade;

f) estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado;

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g) programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes e drogas afins.

Também é determinação constitucional, que a lei preveja severa punição para o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente (art. 227, §4º da CRFB/88). Sobre este assunto, avançou a legislação penal brasileira, especialmente mediante a recente alteração no Código Penal, promovida pela Lei n.º 12.015/2009, que criou tipos penais específicos em relação aos menores de 14 (quatorze) anos, além de ter majorado as penas abstratamente previstas em relação aos crimes cometidos em detrimento do maior de 14 (quatorze) e menor de 18 (dezoito) anos.

A adoção, consoante determinação constitucional (art. 227, §5º), deve ser assistida pelo Poder Público, na forma da lei, a qual estabelece os casos e as condições de sua efetivação por parte de estrangeiros. Sobre esse assunto também houve recente alteração por meio da Lei n.º 12.010/2009, objeto de estudo no presente curso.

Consoante previsão constitucional, os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, tem exatamente os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação (art. 227, §6º).

A Emenda Constitucional n.º 65/2010 inclui o parágrafo oitavo ao artigo 227 da Constituição Federal de 1988, que dispõe:

§ 8º A lei estabelecerá:

I - o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos jovens;

II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, visando à articulação das várias esferas do poder público para a execução de políticas públicas.

Atualmente, ambos os incisos constitucionais carecem de regulamentação. Os projetos do Estatuto da Juventude e do Plano Nacional de Juventude estão tramitando no Congresso Nacional.

Segundo estipulação constitucional, os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, sujeitando-se, pois, às normas da legislação especial (art. 228).

E há, ainda, o dever recíproco consagrado no artigo 229 da Constituição Federal, segundo o qual os pais tem o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, enquanto os filhos maiores tem o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.

1.1 Disposições preliminares

Consoante previsão do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990, considera-se:

a) criança, a pessoa até os 12 (doze) anos de idade incompletos; b) adolescente, aquela entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos de idade.

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Via de regra, o Estatuto da Criança e do Adolescente aplica-se apenas às crianças e aos adolescentes, mas em hipóteses excepcionais, expressamente indicadas, às pessoas entre 18 (dezoito) e 21 (vinte e um) anos de idade.

À criança e ao adolescente são assegurados o gozo de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, devendo-lhes ser assegurado, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para que eles possam se desenvolver física, mental, moral, espiritual e socialmente, em condições de liberdade e de dignidade.

Nesse contexto, é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (art. 4º, caput, do ECA). E consoante esclarece o parágrafo único do artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente, essa garantia de prioridade compreende:

a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;

b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;

c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;

d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.

Nenhuma criança ou adolescente deve ser objeto de qualquer negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido-se na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais (art. 5º do ECA). Como se terá oportunidade de analisar, o Estatuto da Criança e do Adolescente estipula diversas práticas, comissivas e omissivas, como crimes ou infrações administrativas, só com o que se pode dar efetividade a muitos dos mandamentos nele contidos.

São critérios que devem ser levados em conta para a interpretação do Estatuto da Criança e do Adolescente:

a) os fins sociais a que ele se dirige; b) as exigências do bem comum;

c) os direitos e deveres individuais e coletivos da criança e do adolescente;

d) a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.

Como se vê, o Estatuto da Criança e do Adolescente buscou efetivar a determinação constitucional, de modo a conferir à criança e ao adolescente a mais ampla proteção possível.

Nesse contexto, veja-se pertinente e interessante informativo do Superior Tribunal de Justiça:

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Informativo nº 0381

Período: 15 a 19 de dezembro de 2008 Terceira Turma

RETIFICAÇÃO. REGISTRO. NASCIMENTO.

Trata-se de matéria inédita entre os julgamentos deste Superior Tribunal, em que menor, representada por sua mãe, pretende a retificação de seu registro de nascimento para acrescentar o patronímico de sua genitora, omisso na certidão, além de averbar a alteração para o nome de solteira da sua mãe, que voltou a usá-lo após a separação judicial e é grafado muito diferente daquele de casada, tudo no intuito de facilitar a identificação da criança no meio social e familiar. O pai da menor não se opôs, mas o MP recorreu quanto à averbação do nome da mãe concedida pelas instâncias ordinárias, uma vez que o registro de nascimento deve refletir a realidade da ocasião do parto, o que impediria tal averbação nos termos das Leis ns. 6.015/1973 e 8.560/1992. A Min. Relatora observou que, no caso dos autos, conforme comprovado nas instâncias de 1º e 2º grau, há a situação constrangedora de mãe e filha terem que portar cópia da certidão de casamento com a respectiva averbação para comprovarem a veracidade dos nomes na certidão de nascimento, bem como não existe prejuízo para terceiros, o que afastaria o pleito do MP. Os interesses da criança estariam acima do rigorismo dos registros públicos por força do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Ademais, essa é a solução mais harmoniosa e humanizada. Com essas considerações, entre outras, a Turma não conheceu do recurso do MP. REsp 1.069.864-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/12/2008. (sem grifos no original)

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2. DIREITOS FUNDAMENTAIS

Os direitos e garantias fundamentais apontam amplo leque protetivo à pessoa humana, visando-lhes conferir condições existenciais mínimas, sem as quais não é possível admitir o exercício de uma vida digna.

Em sendo a dignidade da pessoa humana um princípio fundamental, desrespeitar qualquer dos direitos elencados a partir do artigo 5º da Constituição de 1988 acarreta, inevitavelmente, em ato atentatório à dignidade da pessoa humana.

Embora exista título próprio à disciplinação dos direitos e garantias fundamentais na Constituição, é importante salientar que estes não se resumem àquele título, vez que encontram-se espalhados por todo texto constitucional, tal como o direito à saúde, especialmente abordado no Estatuto da Criança e do Adolescente. O que confere o status de fundamental a um direito não é sua posição metodológica no texto constitucional, mas suas características.

Hoje, o critério de respeito e proteção à pessoa humana é extremamente diferente do que já se verificou na história constitucional pátria. Desde a primeira Constituição, a Imperial de 1824, visualiza-se a guarida de direitos destinados a proteção das pessoas.

A proteção que se faz necessária na atualidade é exatamente a mesma que se fazia presente durante a vigência de mencionada Constituição, e antes dela também. As pessoas sempre foram carecedores da mais extensa proteção e assistência, de modo a desenvolverem-se plenamente. A diferença está, no que podemos utilizar de um binômio necessidade/possibilidade, não quanto a primeira, mas quanto a segunda. Se a necessidade nunca deixou de existir, a possibilidade era restringida pelo interesse de poucos em detrimento na imensa maioria que sucumbia nas mais básicas necessidades existenciais.

A possibilidade fora majorada com o decorrer dos tempos, com a evolução dos direitos e com os movimentos constitucionalistas, mas ainda está longe de ser realizada na medida da atenção necessária à satisfação da necessidade populacional. Os interesses das minorias ainda prevalecem perante os da imensa maioria, mas em moldes muito diferentes dos pretéritos.

Em se tratando de crianças e adolescentes, há que se lembrar que a eles deve ser dedicada ampla proteção, com absoluta prioridade.

2.1 Direito à vida e à saúde

Os direitos à vida e à saúde são fundamentais à criança e ao adolescente, e se efetivam mediante a adoção de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.

Conforme salienta o caput do artigo 8º do Estatuto da Criança e do Adolescente, é assegurado à gestante, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), o atendimento pré e perinatal.

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A gestante deve ser encaminhada a diferentes níveis de atendimento, segundo critérios médicos específicos, obedecendo-se aos princípios de regionalização e hierarquização do Sistema (art. 8º, §1º do ECA).

É disposição legal, contida no parágrafo segundo do artigo 8º do Estatuto da Criança e do Adolescente, que a parturiente deve ser atendida preferencialmente pelo mesmo médico que a tenha acompanhado na fase pré-natal.

É dever do poder público propiciar apoio alimentar à gestante e à nutriz que dele necessitem.

Ademais, também é dever do poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências do estado puerperal (art. 8º, §4º do ECA). Essa mesma assistência, o poder público também tem o dever de prestar em relação a gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção (art. 8º, §5º do ECA).

Inclusive, e como se terá a oportunidade de analisar, configura infração administrativa, punível com multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três) mil reais), deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso de que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada em entregar seu filho para adoção. Na mesma pena dos profissionais anteriormente mencionados incorre o funcionário de programa oficial ou comunitário destinado à garantia do direito à convivência familiar que deixar de efetuar comunicação da mesma natureza, consoante prevê o artigo 258-B do Estatuto da Criança e do Adolescente.

No caso de gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção, elas devem, obrigatoriamente, serem encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude.

O poder público, assim como as instituições e os empregadores devem propiciar condições adequadas ao aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade (art. 9º do ECA). O Estado cuidou de tutelar a criança, em razão da sua condição de pessoa em desenvolvimento, permitindo que o aleitamento materno, tão relevante no processo de formação da pessoa, não deixe de ser efetuado ainda que a mãe esteja em cumprimento de medida privativa da liberdade.

Conforme prevê o artigo 10 do Estatuto da Criança e do Adolescente, os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes públicos e particulares, são obrigados a:

a) manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários individuais, pelo prazo de 18 (dezoito) anos;

b) identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade administrativa competente;

c) proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como prestar orientação aos pais;

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d) fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato;

e) manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à mãe.

Às crianças e adolescentes assegura-se atendimento integral à saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), garantido o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde (art. 11, caput, do ECA).

No caso de crianças e adolescentes portadores de deficiência, a eles deve ser destinado atendimento especializado, consoante previsão contida no parágrafo primeiro do artigo 11 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Ao poder público incumbe fornecer gratuitamente àqueles que necessitarem os medicamentos, próteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação (art. 11, §2º do ECA).

Os estabelecimentos de atendimento à saúde tem o dever de proporcionar condições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente (art. 12 do ECA), em consagração a regra de ampla proteção e absoluta prioridade que deve ser dedicada às crianças e adolescentes.

O ordenamento jurídico brasileiro assegura à criança e ao adolescente ampla proteção. Dessa forma, caso haja suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente, deve haver imediata comunicação ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais. Esse dever estende-se ao médico, ao professor e ao responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, sob pena de incorrer na infração administrativa descrita no artigo 245 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê a aplicação de uma pena de multa, variável entre 3 (três) e 20 (vinte) salários de referência, valor que pode ser aplicado em dobro em caso de reincidência.

Por derradeiro, consoante previsão do caput do artigo 14 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é incumbência do Sistema Único de Saúde (SUS), promover programas de assistência médica e odontológica para a prevenção de enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, além de campanhas para educação sanitária destinada aos pais, educadores e alunos. Nesse contexto, conforme determina o parágrafo único do artigo 14 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pela autoridades sanitárias.

2.2 Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade

A liberdade, o respeito e a dignidade como pessoas humanas em desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais são fundamentais à criança e ao adolescente, direitos estes revestidos de índole constitucional e legal.

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Consoante previsão do artigo 16 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:

a) ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;

b) opinião e expressão; c) crença e culto religioso;

d) brincar, praticar esportes e divertir-se;

e) participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação; f) participar da vida política, na forma da lei;

g) buscar refúgio, auxílio e orientação.

O direito ao respeito, segundo definição legal (art. 17 do ECA), consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais.

E consoante previsão do artigo 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

2.3 Direito à convivência familiar e comunitária

Toda criança e adolescente tem direito a uma sadia convivência no núcleo familiar e também comunitário. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, apenas excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.

A Lei n.º 12.010/2009 inclui três parágrafos ao artigo 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Segundo o parágrafo primeiro, toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de acolhimento familiar ou institucional deve ter sua situação reavaliada, a cada 6 (seis) meses, devendo a autoridade judiciária competente, com base em relatório elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família substituta, em quaisquer das modalidades previstas no artigo 28 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Já o parágrafo segundo do artigo 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe que a permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional não deve se prolongar por mais de 2 (dois) anos, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária.

E o parágrafo terceiro do mencionado dispositivo salienta que a manutenção ou a reintegração de criança ou adolescente na sua própria família deve ser medida preferencial em relação a qualquer outra

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providência, caso em que esta deverá ser incluída em programas de orientação e auxílio, nos termos do parágrafo único do artigo 23, dos incisos I e IV do caput do artigo 101 e dos incisos I a IV do caput do artigo 129 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Em reprodução ao mandamento constitucional, o artigo 20 do Estatuto da Criança e do Adolescente estipula que os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, tem os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

Se anteriormente falava-se em pátrio poder, hoje fala-se em poder familiar. O homem não detém mais a soberania familiar, a qual deve ser exercida por ambos os pais no melhor interesse dos filhos. Nesse contexto, a Lei n.º 12.010/2009 substituiu todos os dispositivos do Estatuto da Criança e do Adolescente que utilizavam a expressão “pátrio poder” por “poder familiar”.

Dessa forma, o poder familiar deve ser exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma da legislação civil, assegurando-se a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para solução da divergência.

É dever dos pais prover o sustendo, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais (art. 22 do ECA).

O artigo 23 do Estatuto da Criança e do Adolescente apresenta importante disposição, especialmente para concursos públicos. Segundo ele, a mera falta ou carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou suspensão do poder familiar. Assim, não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o adolescente devem ser mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em programas oficiais de auxílio.

A determinação contida no artigo 23 do Estatuto da Criança e do Adolescente, além de extremamente moralizadora, é efetivamente inclusiva. O poder público, por meio da regra legal esculpida no artigo em análise, assume o seu dever constitucionalmente determinado, de conferir absoluta prioridade às crianças e adolescentes, dispensando-lhes ampla proteção. Dessa forma, caso uma criança ou adolescente esteja em um núcleo familiar com dificuldades financeiras, não tem o poder público legitimidade para meramente retirá-la daquele núcleo e incluí-la em outro com melhores condições. Nessas situações, o Estado tem o dever de prestar auxílio a esse núcleo familiar, mantendo a criança ou adolescente no seu núcleo familiar de origem.

A perda e a suspensão do poder familiar somente podem ser decretadas judicialmente, em procedimento no qual se assegure o exercício do contraditório e da ampla defesa. A perda e a suspensão do poder familiar pode ocorrer:

a) em todos os casos previstos na legislação civil;

b) na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o artigo 22 do Estatuto da Criança e do Adolescente, quais sejam, o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores,

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além de, observado o interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.

No último caso, o descumprimento dos deveres inerentes ao poder familiar também acarreta a infração administrativa descrita no artigo 249 do Estatuto em estudo, que sujeita o infrator a uma pena de multa, variável entre 3 (três) e vinte salários de referência, podendo ser aplicada em dobro no caso de reincidência.

2.3.1 Família natural

Família natural, segundo definição legal (art. 25, caput, do ECA) é a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes.

Por sua vez, entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada também por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade (art. 25, parágrafo único, do ECA). A família extensa é, pois, uma espécie de família natural.

Os filhos havidos fora do casamento podem ser reconhecidos pelos pais, de modo conjunto ou separado, no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante escritura ou outro documento público, qualquer que seja a origem da filiação (art. 26 do ECA).

O reconhecimento do filho pode preceder o nascimento, assim como pode suceder ao falecimento, caso existam descendentes.

Prevê o artigo 27 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que o reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça.

2.3.2 Família substituta

Família substituta é aquela em que a criança ou adolescente é posto em virtude da impossibilidade, de qualquer natureza, de ser mantido em seu núcleo familiar original. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, consoante estipula o Estatuto da Criança e do Adolescente.

A família substituta deve ser dada à criança ou adolescente apenas em casos excepcionais. Como já se teve oportunidade de afirmar, é dever do Estado empenhar-se para a manutenção do núcleo familiar original, adotando políticas direcionadas a esse objetivo. No entanto, como se sabe, em diversas situações torna-se impossível manter a criança ou adolescente em sua família original, de modo que a sua alocação em família substituta torna-se necessária.

Sempre que possível, a criança ou o adolescente deve ser previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações da medida, devendo ter sua opinião devidamente considerada (art. 28, §1º do ECA).

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No caso de adolescente, isto é, maior de 12 (doze) anos, é necessário seu consentimento, que deve ser colhido em audiência, só com o que poderá integrar um núcleo familiar substituto.

Para a apreciação do pedido de colocação da criança ou adolescente em família substituta, deve se levar em conta o grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida (art. 28, §3º do ECA).

Segundo redação do parágrafo quarto do artigo 28 do Estatuto da Criança e do Adolescente, incluído pela Lei n.º 12.010/2009 , os grupos de irmãos devem ser colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos laços fraternais.

A todo momento, constata-se que o objetivo do legislador foi manter a criança ou adolescente em seu núcleo familiar original, admitindo apenas excepcionalmente a mitigação dessa regra, e, ainda quando isso ocorra, determinou-se que em todos os casos tente-se ao máximo manter, ainda que de forma reduzida, os laços fraternais.

A colocação da criança ou adolescente deve ser precedida de sua preparação gradativa e acompanhamento posterior, realizados por equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar (art. 28, §5º do ECA).

E também conforme alteração promovida pela Lei n.º 12.010/2009, que acresceu o parágrafo sexto ao artigo 28 do Código de Ética e Disciplina, em se tratando de criança ou adolescente indígena ou proveniente de comunidade remanescente de quilombo, é ainda obrigatório:

a) que sejam consideradas e respeitadas sua identidade social e cultural, os seus costumes e tradições, bem como suas instituições, desde que não sejam incompatíveis com os direitos fundamentais reconhecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pela Constituição Federal;

b) que a colocação familiar ocorra prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia;

c) a intervenção e oitiva de representantes do órgão federal responsável pela política indigenista, no caso de crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, perante a equipe interprofissional ou multidisciplinar que irá acompanhar o caso.

Não se deve deferir a colocação em família substituta de pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a natureza da medida ou que não ofereça ambiente familiar adequado, conforme estipula o artigo 29 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

A colocação em família substituta não admite a transferência da criança ou adolescente a terceiros, nem a entidades governamentais ou não-governamentais, sem expressa autorização judicial (art. 30 do ECA).

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A colocação em família substituta estrangeira, segundo o artigo 31 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é medida excepcional, admissível apenas na modalidade adoção.

2.3.2.1 Guarda

A guarda, via de regra, destina-se a regularizar a posse de fato de criança ou adolescente, podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos procedimentos de tutela e adoção, mas não poderá ser deferida no de adoção por estrangeiros.

A guarda é procedimento de natureza precária, que pode ser revogado a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado, ouvido sempre o Ministério Público (art. 35 do ECA).

De modo excepcional, pode a guarda ser deferida fora dos casos de tutela e adoção, para atender a situações peculiares ou para suprir a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o direito de representação para a prática de determinados atos (art. 33, §2º do ECA).

Nesse sentido, veja-se pertinente informativo do Superior Tribunal de Justiça:

Informativo nº 0407

Período: 14 a 18 de setembro de 2009. Quarta Turma

GUARDA. MENOR. AVÓS. INTERESSE. CRIANÇA. Cuida-se de guarda pleiteada pelos avós para regularização de situação de fato consolidada desde o nascimento do infante (16/1/1991), situação qualificada pela assistência material e afetiva prestada por eles, como se pais fossem. Assim, conforme delineado no acórdão recorrido, verifica-se uma convivência entre os autores e o menor perfeitamente apta a assegurar seu bem-estar físico e espiritual, não havendo, por outro lado, nenhum empecilho ao seu pleno desenvolvimento psicológico e social. Em tais casos, não se tratando de “guarda previdenciária”, o Estatuto da Criança e do Adolescente deve ser aplicado, tendo em vista mais os princípios protetivos dos interesses da criança, notadamente porque o art. 33 está localizado em seção intitulada “Da Família Substituta” e, diante da expansão conceitual que hoje se opera sobre o termo “família”, não se pode afirmar que, no caso, há, verdadeiramente, uma substituição familiar. O que deve balizar o conceito de “família” é, sobretudo, o princípio da afetividade, que fundamenta o direito de família na estabilidade das relações socioafetivas e na comunhão de vida, com primazia sobre as considerações de caráter patrimonial ou biológico. Isso posto, a Turma não conheceu do recurso do Ministério Público. Precedentes citados: REsp 469.914-RS, DJ 5/5/2003, e

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REsp 993.458-MA, DJe 23/20/2008. REsp 945.283-RN, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/9/2009. Portanto, a guarda pode ser concedida:

a) nos procedimentos de tutela;

b) nos procedimentos de adoção, exceto por estrangeiros;

c) para atender a situações peculiares ou para suprir a falta eventual dos pais ou responsável (situações em que a guarda possui termos mais restritos).

Em qualquer caso, a guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo ao seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais (art. 33, caput, do ECA).

A guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários (art. 33, §3º do ECA).

Conforme dispõe o parágrafo quarto do artigo 33 do Estatuto da Criança e do Adolescente, incluído pela Lei n.º 12.010/2009, salvo expressa e fundamentada determinação em sentido oposto, da autoridade judiciária competente, ou quando a medida for aplicada em preparação para adoção, o deferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros não impede o exercício do direito de visitas pelos pais, assim como o dever de prestar alimentos, que devem ser objeto de regulamentação específica, a pedido do interessado ou do Ministério Público.

É dever do poder público estimular, por meio de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente afastado do convívio familiar (art. 34, caput, do ECA). Nesse contexto, deve ser dada preferência ao acolhimento familiar em detrimento do institucional, observando-se, em qualquer caso, o caráter temporário e excepcional da medida. A pessoa ou casal que, nesses casos, receber a criança ou adolescente mediante guarda, deve estar cadastrada em programa de acolhimento familiar, observados os artigos 28 a 33 do Estatuto da Criança e do Adolescente (disposições gerais acerca da família substituta).

2.3.2.2 Tutela

A tutela é o procedimento passível de deferimento à pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos (art. 36, caput, do ECA). Para que se fale em tutela, há que se falar em prévia decretação da perda ou suspensão do poder familiar. A tutela implica, necessariamente, o dever de guarda (art. 36, parágrafo único, do ECA).

A tutela se assemelha ao poder familiar, mas com restrições. Exerce-se a tutela mediante inspeção judicial.

(16)

2.3.2.3 Adoção

A disciplina legal da adoção deixou de ser objeto do Código Civil após o início da vigência da lei n.º 12.010/2009, tanto que do capítulo destinado à adoção, restaram apenas dois dispositivos. O artigo 1.618 do Código Civil dispõe que a adoção de crianças e adolescentes será deferida na forma prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Já o artigo 1.619 estipula que a adoção de maiores de 18 (dezoito) anos dependerá de assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva, aplicando-se, no que couber, as regras do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Conforme já se teve a oportunidade de mencionar, sempre que possível, a criança ou o adolescente deve ser previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações da adoção, devendo ter sua opinião devidamente considerada. E na hipótese de maior de 12 (doze) anos de idade, é necessário seu consentimento, que deve ser colhido em audiência.

Os grupos de irmãos devem ser colocados sob adoção da mesma família substituta, exceto se houver comprovado risco de abuso ou de outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, a todo momento, evitar o rompimento dos vínculos fraternais. A colocação de uma a criança ou adolescente em família substituta deve ser precedida de preparação gradativa e acompanhamento posterior, realizados por equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude.

A adoção é uma medida excepcional, de caráter irrevogável, à qual se deve recorrer apenas quando esgotados todos os recursos para a manutenção da criança ou do adolescente na família natural ou extensa. Há que se lembrar, pois, que a família extensa é uma espécie da família natural, formada pelo convívio da criança ou adolescente com parentes próximos, com os quais são mantidos laços de afinidade e afetividade.

É expressamente vedada a adoção por procuração, conforme determina o parágrafo segundo do artigo 39 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

O direito de adotar é conferido ao maior de 18 (dezoito) anos de idade, independentemente do estado civil. Se a adoção for conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou que mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família.

Admite-se a adoção conjunta realizada por divorciados, por separados judicialmente ou por ex-companheiros, desde que eles estejam de acordo sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do período de convivência, além de comprovada a existência de vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, de modo a justificar a excepcionalidade da concessão. Neste caso, uma vez provado o benefício ao adotando, assegura-se a guarda compartilhada. Há que se lembrar, pois, que em se tratando de crianças e adolescentes vige o princípio do melhor interesse do menor, o qual fundamenta a excepcionalidade dessas medidas.

Os ascendentes e os irmãos da criança ou do adolescente não podem adotá-lo, haja vista o vínculo de parentesco já existente entre eles.

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Exige-se que o adotante seja, ao menos, 16 (dezesseis) anos mais velho que o adotando. E, ainda, que o adotando conte com, no máximo, 18 (dezoito) anos de idade à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes.

A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres dos demais filhos, inclusive sucessórios, e tem o condão de desligá-lo de qualquer vínculo com pais e parentes biológicos, exceto quanto aos impedimentos matrimoniais (art. 41, caput, do ECA).

Nos termos do parágrafo segundo do artigo 41 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e colaterais até o 4º (quarto) grau, observada a ordem de vocação hereditária.

Para que possa ser deferida, a adoção deve apresentar reais vantagens para o adotando e deve ser fundada em motivos legítimos.

Em se tratando da adoção do tutelado ou curatelado, por seu tutor ou curador, há que se lembrar que ela só se viabiliza a partir do momento em que os últimos prestarem contas de sua administração e saldarem todo o necessário.

A adoção é ato que depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando. Entretanto, dispensa-se esse consentimento se os pais da criança ou do adolescente forem desconhecidos ou tiverem sido destituídos do poder familiar. E, lembrando-se, em se tratando de adotando maior de 12 (doze) anos de idade, exige-se seu consentimento, que deve ser colhido em audiência.

2.3.2.3.1 Procedimento para adoção

Incumbe a autoridade judiciária manter, em cada comarca ou foro regional:

a) um registro de crianças e adolescentes em condições de serem adotados; e

b) um registro de pessoas interessadas na adoção.

O deferimento da inscrição dar-se-á mediante prévia consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Ministério Público.

Não será deferida a inscrição de família que revele incompatibilidade com a adoção ou que não ofereça um ambiente familiar adequado.

A inscrição dos postulantes à adoção deve ser precedida de um período de preparação psicossocial e jurídica, orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar.

Sempre que possível, esse período de preparação deve incluir o contato com crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou institucional, em condições de serem adotados, a ser realizado sob orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, com o apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar.

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Deverá haver, nos termos do parágrafo quinto do artigo 50 do Estatuto da Criança e do Adolescente, a criação e implementação de cadastros estudais e nacional de crianças e adolescentes em condições de serem adotados, bem como de pessoas ou casais habilitados à adoção.

Os cadastros para pessoas ou casais residentes fora do país devem ser diferentes, e consultados somente na inexistência de postulantes nacionais habilitados.

É dever da autoridade judiciária providenciar, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e adolescentes em condições de serem adotados que não tiveram colocação familiar na comarca de origem, e das pessoas ou casais que tiveram deferida sua habilitação à adoção, nos cadastros estadual e nacional, sob pena de responsabilidade.

A manutenção e alimentação dos cadastros estaduais e nacional compete à Autoridade Central Estadual e à Autoridade Central Federal Brasileira, respectivamente. Já a fiscalização desses cadastros e das convocações aos postulantes à adoção será realizada pelo Ministério Público.

Enquanto não encontrado pessoa ou casal interessado em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre que possível, deve ser mantido sob a guarda de família cadastrada em programa de acolhimento familiar.

Embora faça-se necessário a inserção prévia em cadastro, para apenas então deferir-se a adoção, o Estatuto da Criança e do Adolescente estipulou algumas exceções. Assim, poderá ser deferida adoção em favor de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previamente quando:

a) se tratar de pedido de adoção unilateral;

b) for formulada por parente com o qual a criança ou adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade;

c) for oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a ocorrência de má-fé ou qualquer dos crimes previstos nos artigos 237 (subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto) ou 238 (prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou recompensa), ambos do Estatuto da Criança e do Adolescente.

A adoção deve, ainda, ser precedida de estágio de convivência com a criança ou o adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, observadas as peculiaridades do caso (art. 46, caput, do ECA).

Esse estágio de convivência pode ser dispensado se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da constituição do vínculo familiar (art. 46, §1º do ECA).

Conforme previsão do parágrafo segundo do artigo 46 do Estatuto da Criança e do Adolescente, a simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dispensa da realização do estágio de convivência.

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Na hipótese de adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do país, o estágio de convivência deve ser cumprido, obrigatoriamente, em território nacional e não pode ser inferior a 30 (trinta) dias.

O estágio de convivência deve ser acompanhado por equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política de garantia do direito à convivência familiar, que tem o dever de apresentar relatório minucioso acerca da conveniência do deferimento da medida (art. 46, §4º do ECA).

Ultrapassadas todas as etapas, o vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão. Essa inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, bem como o nome de seus ascendentes.

O mandado judicial que determina a inscrição no registro civil, que será arquivado, tem o condão de cancelar o registro original do adotado, consoante prevê o parágrafo segundo do artigo 47 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

No novo registro, nenhuma observação sobre a origem do adotado poderá constar nas certidões do registro (art. 47, §4º do ECA).

A sentença conferirá, ainda, o nome do adotante ao adotado e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a alteração do prenome, caso em que é obrigatória a oitiva do adotando. Também a pedido do adotante, o novo registro poderá ser lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua residência.

A eficácia da sentença de adoção é ex nunc, e sua natureza jurídica é constitutiva, mas há uma importante exceção, pois caso o adotante morra no curso do procedimento de adoção e antes de prolatada a sentença, a adoção poderá ainda assim ser deferida, caso em que sua sentença terá eficácia retroativa (ex tunc), a partir da data do óbito do adotante. A finalidade da exceção é conferir ao adotado acesso à herança do falecido, já que esta se transmite no exato momento da morte (princípio da saisine).

Findo o processo de adoção, este deve ser mantido em arquivo, podendo ser consultado a qualquer tempo, nos termos em que orienta o parágrafo oitavo do artigo 47 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Ao adotado é dado o direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos. Excepcionalmente, também se admite que o menor de 18 (dezoito) anos tenha acesso ao processo de adoção, a seu pedido, caso em que deve à ele ser assegurada assistência jurídica e psicológica.

Por derradeiro, há que se salientar que a morte dos adotantes não restabelece o poder familiar aos pais biológicos (ou naturais), conforme estipula o artigo 49 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Considera-se adoção internacional aquela na qual a pessoa ou o casal postulante é residente ou domiciliado fora do brasil, nos termos do artigo 51 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

(20)

Como se sabe, a adoção internacional é medida excepcional. Ademais, só terá lugar a adoção internacional de criança ou adolescente brasileiro ou domiciliado no Brasil quanto restar comprovado:

a) que a colocação em família substituta é a solução adequada ao caso concreto;

b) que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação da criança ou adolescente em família substituta brasileira, após consulta aos cadastros estaduais e cadastro nacional;

c) que, em se tratando de adoção de adolescente, este foi consultado, por meios adequados ao seu estágio de desenvolvimento, e que se encontra preparado para a medida, mediante parecer elaborado por equipe interprofissional, após oitiva da criança ou adolescente menor de 12 (doze) anos, quando possível, e mediante consentimento, colhido em audiência, no caso de maior de 12 (doze) anos.

Os brasileiros residentes no exterior possuem preferência aos estrangeiros nos casos de adoção internacional de criança ou adolescente brasileiro (art. 51 §2º do ECA).

A adoção internacional pressupõe a intervenção das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria de adoção internacional (art. 51, §3º do ECA).

Além das regras gerais quanto à colocação da criança ou do adolescente em família substituta, a adoção internacional deve ser realizada de acordo com as seguintes adaptações:

a) a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em matéria de adoção internacional no país de acolhida, assim entendido aquele onde está situada sua residência habitual; b) se a Autoridade Central do país de acolhida considerar que os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, emitirá um relatório que contenha informações sobre a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio social, os motivos que os animam e sua aptidão para assumir uma adoção internacional;

c) a Autoridade Central do país de acolhida enviará o relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal Brasileira;

d) o relatório será instruído com toda a documentação necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada da legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova de vigência;

e) os documentos em língua estrangeira serão devidamente autenticados pela autoridade consular, observados os tratados e convenções internacionais, e acompanhados da respectiva tradução, por tradutor público juramentado;

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f) a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigências e solicitar complementação sobre o estudo psicossocial do postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país de acolhida;

g) verificada, após estudo realizado pela Autoridade Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangeira com a nacional, além do preenchimento por parte dos postulantes à medida dos requisitos objetivos e subjetivos necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe o Estatuto da Criança e do Adolescente como da legislação do país de acolhida, será expedido laudo de habilitação à adoção internacional, que terá validade por, no máximo, 1 (um) ano;

h) de posse do laudo de habilitação, o interessado será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança ou adolescente, conforme indicação efetuada pela Autoridade Central Estadual.

Caso a legislação do país de acolhida autorize, admite-se que os pedidos de habilitação para adoção internacional sejam intermediados por organismos credenciados (art. 52, §1º do ECA).

À Autoridade Central Federal Brasileira incumbe o credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros encarregados de intermediar pedidos de habilitação à adoção internacional, com posterior comunicação às Autoridades Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de imprensa e em site próprio para esta finalidade, conforme previsão contida no parágrafo segundo do artigo 52 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

E nos termos do parágrafo terceiro do mesmo artigo 52, só será admissível o credenciamentos de organismos que:

a) sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção de Haia e estejam devidamente credenciados pela Autoridade Central do país onde estiverem sediados e no país de acolhida do adotando para atuar em adoção internacional no Brasil;

b) satisfizerem as condições de integridade moral, competência profissional, experiência e responsabilidade exigidas pelos países respectivos e pela Autoridade Central Federal Brasileira;

c) forem qualificados por seus padrões éticos e sua formação e experiência para atuar na área de adoção internacional;

d) cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Autoridade Central Federal Brasileira.

E, os organismos internacionais deverão ainda (art. 52, §4º do ECA): a) perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições e dentro dos limites fixados pelas autoridades competentes do país onde estiverem sediados, do país de acolhida e pela Autoridade Central Federal Brasileira;

b) ser dirigidos e administrados por pessoas qualificadas e de reconhecida idoneidade moral, com comprovada formação ou experiência para atuar na área de adoção internacional, cadastradas pelo Departamento

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de Polícia Federal e aprovadas pela Autoridade Central Federal Brasileira, mediante publicação de portaria do órgão federal competente;

c) estar submetidos à supervisão das autoridades competentes do país onde estiverem sediados e no país de acolhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento e situação financeira;

d) apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, bem como relatório de acompanhamento das adoções internacionais efetuadas no período, cuja cópia será encaminhada ao Departamento de Polícia Federal, sob pena de suspensão de seu credenciamento;

e) enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. O envio do relatório será mantido até a juntada de cópia autenticada do registro civil, estabelecendo a cidadania do país de acolhida para o adotado;

f) tomar as medidas necessárias para garantir que os adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal Brasileira cópia da certidão de registro de nascimento estrangeira e do certificado de nacionalidade tão logo lhes sejam concedidos.

O credenciamento de organismo nacional ou estrangeiro encarregado de intermediar pedidos de adoção internacional tem validade de 2 (dois) anos, e poderá ser renovado mediante requerimento perante a Autoridade Central Federal Brasileira, observado o prazo de 60 (sessenta) dias anteriores ao término do respectivo prazo de validade, conforme orientam os parágrafos sexto e sétimo do artigo 52 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

É importante destacar que não será permitida a saída da criança ou do adolescente adotando antes de transitada em julgada a decisão que concedeu a adoção internacional (art. 52, §8º do ECA).

Transitada em julgado a decisão que concede a adoção, a autoridade judiciária deve determinar a expedição de alvará com autorização de viagem, bem como para obtenção de passaporte, devendo constar, obrigatoriamente, as características da criança ou adolescente adotado, como idade, cor, sexo, eventuais sinais ou traços peculiares, assim como foto recente e a aposição da impressão digital do seu polegar direito, instruindo o documento com cópia autenticada da decisão e certidão de trânsito em julgado (art. 52, §9º do ECA). A finalidade de todas essas exigências é a conferir o máximo de segurança ao procedimento, evitando qualquer manobra ilícita envolvendo crianças ou adolescentes, visando sempre o melhor interesse das mesmas.

A qualquer momento a Autoridade Central Federal Brasileira poderá solicitar informações sobre a situação das crianças e adolescentes adotados.

Prevê o parágrafo onze do artigo 52 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que é causa de descredenciamento do organismo credenciado, a cobrança de valores que sejam considerados abusivos pela Autoridade Central Federal Brasileira e que não ostentem a devida comprovação.

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Ademais, a Autoridade Central Federal Brasileira possui autonomia para limitar ou suspender a concessão de novos credenciamentos sempre que julgar necessário, mediante ato administrativo fundamentado (art. 52, §15 do ECA).

Admite-se que uma mesma pessoa ou seu cônjuge sejam representados por mais de uma entidade credenciada, com objetivo de cooperação na adoção internacional. A habilitação de postulante estrangeiro ou domiciliado fora do brasil tem validade máxima de 1 (um) ano, passível de renovação.

Veda-se, no entanto, o contato direto entre representantes de organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, e dirigentes de programas de acolhimento institucional ou familiar, assim como com crianças e adolescentes em condições de serem adotados, sem a devida autorização judicial (art. 52, §14 do ECA).

Sob pena de responsabilidade e descredenciamento, é vedado o repasse de recursos provenientes de organismos estrangeiros encarregados de intermediar pedidos de adoção internacional a organismos nacionais ou a pessoas físicas (art. 52-A, ECA).

Eventuais repasses somente poderão ser efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente e estarão sujeitos às deliberações do respectivo Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente (art. 52-A, parágrafo único, do ECA).

Há ainda que se mencionar, que nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país de acolhida, a decisão da autoridade competente do país de origem da criança ou do adolescente deverá ser conhecida pela Autoridade Central Estadual que tiver processado o pedido de habilitação dos pais adotivos, que deve então comunicar o fato à Autoridade Central Federal e determinar as providências necessárias à expedição do Certificado de Naturalização Provisório (art. 52-C, ECA). Nesse caso, a Autoridade Central Estadual, após manifestação do Ministério Público, somente deve deixar de reconhecer os efeitos daquela decisão se ficar demonstrado:

a) que a adoção é manifestamente contrária à ordem pública; b) que não atende ao interesse superior da criança ou adolescente. E no caso de não reconhecimento da adoção, o Ministério Público deverá imediatamente requerer o que for de direito para resguardar os interesses da criança ou adolescente, dando comunicação das providência adotadas à Autoridade Central Estadual, que deve comunicar a Autoridade Central Federal Brasileira e à Autoridade Central do país de origem (art. 52-C, §2º do ECA).

Por derradeiro, prevê o artigo 52-D do Estatuto da Criança e do Adolescente que nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no país de origem porque a sua legislação a delega ao país de acolhida, ou, ainda, na hipótese de, mesmo com decisão, a criança ou o adolescente ser oriundo de país que não tenha aderido à Convenção de Haia Relativa a Proteção das Crianças e a Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, o processo de adoção deverá seguir as regras da adoção nacional.

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2.4 Direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer

A educação é o melhor meio para o desenvolvimento das pessoas. Assegurar às crianças e adolescentes uma educação de qualidade é o mesmo que assegurar-lhes potenciais condições para uma futura vida digna. Em sentido oposto, manter crianças e adolescentes longe do caminho da educação é fechar-lhes as portas das oportunidades, e, com isso, minorar-lhes as possibilidades de pleno desenvolvimento.

Nesse sentido, prevê o artigo 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que crianças e adolescentes tem direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes:

a) igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; b) direito de ser respeitado por seus educadores;

c) direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;

d) direito de organização e participação em entidades estudantis; e) acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.

Neste último caso, note-se que não há uma determinação, mas sim a previsão de um benefício ao menor. Dessa forma, as finalidades do direito à educação não podem ser deixadas de lado. Nesse sentido, veja-se interessante manifestação do Superior Tribunal de Justiça:

Informativo nº 0443

Período: 16 a 20 de agosto de 2010. Segunda Turma

MATRÍCULA. ESCOLA PÚBLICA. GEORREFERENCIAMENTO.

A Turma negou provimento ao recurso especial para manter a decisão do tribunal a quo, a qual afastou o critério de georreferenciamento e garantiu o direito de rematrícula da recorrida no estabelecimento público de ensino em que havia concluído o ano letivo. Segundo a Min. Relatora, a regra disposta no art. 53, V, do ECA, que garante à criança e ao adolescente o acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência, não constitui imposição, mas benefício. O referido dispositivo deve ser interpretado de acordo com as peculiaridades de cada caso, ponderando-se qual a solução mais favorável ao aluno: a proximidade da instituição ou a continuidade em escola mais distante, onde o menor, porém, já esteja ambientado. Ressalvou-se que tal concepção não tem o intuito de fazer que o estudante escolha livremente o local em que queira estudar, o que poderia inviabilizar a prestação do serviço. Pretende-se, de acordo com as circunstâncias da demanda ora em exame, buscar o

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entendimento que melhor se ajuste à real finalidade da lei, qual seja, facilitar o acesso à educação e, com isso, garantir o pleno desenvolvimento da criança. REsp 1.194.905-PR, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 17/8/2010. (sem grifos no original)

Para melhor integração do sistema educacional, o parágrafo único do artigo 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente, por bem reconheceu aos pais ou responsáveis o direito de terem ciência do processo pedagógico, assim como de participar da definição das propostas educacionais.

Segundo o artigo 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:

a) ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;

b) progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

c) atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;

d) atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 (zero) a 6 (seis) anos de idade;

e) acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;

f) oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador;

g) atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.

O acesso ao ensino obrigatório e gratuito configura um direito público subjetivo, uma vez que efetiva a ampla proteção que deve ser destinada à criança e ao adolescente.

Como direito público subjetivo, o não oferecimento do ensino público obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente (art. 54, §2º do ECA).

Enquanto o poder público tem o dever de disponibilizar, os pais ou responsável tem o dever de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.

Prevê o artigo 56 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que é dever dos dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicar ao Conselho Tutelar:

a) maus-tratos envolvendo seus alunos;

b) reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares;

c) elevados níveis de repetência.

No primeiro caso, o dirigente de estabelecimento de ensino fundamental que deixar de comunicar ao Conselho Tutelar a suspeita ou

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confirmação da prática de maus-tratos contra criança ou adolescente incorre na infração administrativa descrita no artigo 245 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê a aplicação de uma pena de multa, variável de 3 (três) a 20 (vinte) salários de referência, que pode ser aplicada em dobro no caso de reincidência.

Por fim, cumpre mencionar que também é dever do poder público estimular pesquisas, experiências e novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório (art. 57 do ECA).

2.5 Direito à profissionalização e à proteção no trabalho

O trabalho é extremamente importante para o desenvolvimento da pessoa humana. Contudo, em relação as crianças e adolescentes deve-se estar atento para que ele não implique no contrário.

Nesse contexto, é vedado aos menores de 18 (dezoito) anos o exercício de trabalho noturno, perigoso ou insalubre e de qualquer tipo de trabalho aos menores de 16 (dezesseis) anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14 (quatorze) anos.

O trabalho realizado sob a modalidade de aprendizagem consiste numa formação técnico-profissional, que deve ser ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação educacional em vigor.

Assim, essa formação técnico-profissional deve obedecer aos seguintes princípios:

a) garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regular; b) atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente; c) horário especial para o exercício das atividades.

Ao adolescente aprendiz são assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários, conforme previsão do artigo 65 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Ao adolescente portador de deficiência é assegurado trabalho protegido (art. 66 do ECA).

Prevê o artigo 67 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade governamental ou não-governamental, é vedado o trabalho:

a) noturno, realizado entre as 22 (vinte e duas) horas de um dia e as 5 (cinco) horas do dia seguinte;

b) perigoso, insalubre ou penoso;

c) realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social;

d) realizado em horários e locais que não permitam a frequência à escola.

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