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Caracterização do fósforo de alguns solos segundo os métodos de Chang and Jackson (1957) e de Hedley et al. (1982)

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Recebido em 2 de Setembro de 1993

Caracterização do fósforo de alguns solos

segundo os métodos de Chang and Jackson (1957)

e de Hedley

et al.

(1982)

por

MARIA LEONOR VIZEU FERNANDES

Investigador auxiliar da Secção Autónoma de Química Agrícola Instituto Superior de Agronomia

RESUMO

O fraccionamento do fósforo foi realizado em três solos segundo os méto­

dos propostos por Hedley et al. (1982) e Chang and Jackson (1957) com

as modificações introduzidas por Petersonand Corey(1966). Os resultados

indicaram que no solo de Queluz a fracção dominante é a extraída com HC1. No solo de Pegões, as fracções consideradas potencialmente mais utilizadas pelas plantas apresentam os valores mais elevados em ambos os fraccionamentos. No solo de Castelo Branco, verificou-se que no fraccionamento de CHANG e Jackson a soma do P ocluso e residual é muito superior ao P activo e no fraccionamento de Hedley et al. tanto as formas orgânicas como inorgânicas,

consideradas não facilmente utilizáveis pelas plantas, dominam em relação às formas lábeis.

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294 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

SYNOPSIS

Phosphorus (P) fractionation was carried out in three soils by Hedley et al. (1982) and by modified Chang and Jackson (1957) procedure of PETERSON and COREY (1966). In Queluz soil most of P was extracted by HC1 in both fractionations. In Pegões soil both methods showed that the fractions considered potentially available by plants presented high values. In Castelo Branco soil with Changand Jacksonmethod the sum of occluded and

residual P was higher than active P. With Hedleyet al. method, either organic

and inorganic fractions considered not available by plants were dominant in relation to labile forms.

1. INTRODUÇÃO

0 fósforo (P) presente no solo provém principalmente dos ma­ teriais originários e da aplicação de fertilizantes.

A maior parte dos materiais originários do solo contém P prin­ cipalmente na forma de fosfatos de Ca, os quais, por hidrólise, du­ rante a formação e desenvolvimento do solo, libertam o P para a solução do solo. O P da solução do solo pode ser adsorvido à superfície dos minerais, precipitado por diversos catiões ou incor­ porado na biomassa e matéria orgânica do solo. Durante a al­ teração dos solos há perda de bases e de sílica formando-se óxidos e hidróxidos de Al e Fe, permitindo a formação de fosfatos se­ cundários destes elementos (Tiessen et al., 1984).

Segundo Barber (1984), o P encontra-se no solo fundamental­

mente distribuído entre as fracções orgânica e mineral, podendo ser dividido em quatro categorias:

1 - fósforo na solução do solo;

2 - fósforo componente da matéria orgânica;

3 - fósforo adsorvido nas superfícies dos constituintes minerais; 4 - minerais de fósforo cristalinos e amorfos.

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CARACTERIZAÇÃO DO FÓSFORO DE ALGUNS SOLOS 295

É da maior importância o conhecimento das diferentes formas de P e a sua distribuição no solo, quer na avaliação da disponibili­ dade deste elemento para as plantas, quer na melhoria da inter­ pretação dos valores obtidos pelos soil tests em estudos de fertili­ dade do solo (Thien and Myers, 1992).

0 método de fraccionamento de P mais utilizado tem sido o proposto por Chang and Jackson (1957), o qual pretende caracteri-

zar as diferentes formas de P inorgânico do solo tendo como base a sua solubilidade em reagentes selectivos. Chang and Jackson (1957)

concluíram que o fósforo extraído por cada um dos reagentes utiliza­ dos correspondia a uma espécie química definida que se encontra no solo sob a forma de partículas individualizadas (discrete particles), nomeadamente fosfatos de alumínio, de ferro e de cálcio, alguns dos quais oclusos nos óxidos de ferro hidratados. Durante cada extracção, contudo, há um risco real de que parte do fosfato que está sendo libertado seja reabsorvido por outros constituintes do solo. Há assim, simultaneamente, fenómenos de mobilização e imo­ bilização durante a extracção sendo o resultado final a resultante desses dois processos antagónicos.

Este método, ainda que criticado e modificado por vários in­ vestigadores (Olsenand Khasawneh, 1980), tem sido o mais utilizado no estudo das transformações do P no solo e da assimilabilidade dos fosfatos inorgânicos pelas plantas.

A progressiva importância que tem vindo a adquirir a fracção orgânica do P na nutrição das plantas levou, a partir dos anos 80, ao estudo de outros procedimentos para caracterizar o P do solo, que permitissem obter um conhecimento tão completo quanto possível da totalidade das formas de fósforo nele existentes (Trasar-Cepeda et al., 1986).

Assim, Hedleyet al. (1982) usaram um método de fraccionamen­

to sequencial para separar o P do solo em várias fracções orgânicas e inorgânicas baseado em extracções químicas que diferenciam grupos de compostos de P de acordo com as suas propriedades químicas. Estes autores consideraram que, no conjunto, o P do solo apresenta a mesma taxa de renovação (tumover) e que o objectivo final da uti­ lização do método seria identificar a dinâmica dos processos a curto prazo condicionadores da distribuição das formas de P no solo, as­ sim como a possibilidade de separar fracções de P relacionadas com a disponibilidade deste para o crescimento das plantas e com as diferentes práticas culturais (0’Halloran et al., 1987).

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296 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Tiessen et al. (1984) reagruparam as várias fracções de P obtidas

com o fraccionamento de Hedley et al. (1982) segundo a sua bioas-

simibiUdade o que dá uma perspectiva mais dinâmica das trans­ formações sofridas por estas formas de P no solo. Os autores referi­ dos classificaram o P extraído do solo pela sua labilidade e veloci­ dade de renovação, agrupando o P orgânico (Po) e P inorgânico (Pi) em formas ditas de slow-tumover e de rapid-tumover, consoante se­ jam, teoricamente, capazes de se renovar lenta ou rapidamente no

solo, influenciando dessa forma a utilização do P pelas plantas. O reagrupamento feito por estes autores foi o seguinte:

Pi turnover rápido - P-resina + Pi bicarbonato Po turnover rápido - Po bicarbonato + Po NaOH

Pi turnover lento - Pi HC1 + Pi NaOH + Pi NaOH U.S. + P residual Po turnover lento - Po NaOH U.S. + P residual

Pi turnover muito lento - Pi solúvel em reductores + Pi ocluso O recurso ao fraccionamento de Hedley et al. (1982) permite distin­

guir as fracções de Pi estável (Pi ocluso e não ocluso) e de Po (P moderadamente lábil e moderadamente resistente), representando uma estimativa da fertilidade do solo a longo prazo, das pools mais lábeis (Pi fracamente ligado e Po lábil) que traduzem, de algum modo, a fertilidade a curto prazo (Sharpley and Smith, 1985).

A avaliação do teor de P orgânico lábil ou facilmente minera- lizável em solos com baixo nível de P inorgânico nativo, em solos ácidos com elevados teores de ferro e alumínio, em solos com teores elevados em carbonatos das regiões áridas a semi-áridas e em certos solos das regiões tropicais onde podem ocorrer elevados teores de P na forma orgânica é da maior importância na previsão de uma mais adequada fertilização fosfatada por ser a fracção de P orgânico lábil a principal fracçáo constituinte do P assimilável (Thien and Myers,

1992).

Trasar-Cepeda et al. (1986) sugeriram que, para ter uma visão

completa da distribuição do P, é necessário combinar os dois tipos de fraccionamento. De facto, o método de Hedley et al. (1982) pro­

porciona mais informação que o de Chang and Jackson (1957), não

só por separar 4 fracções (P-resina, P-HC03, P-NaOH e P-NaOH U.S.), em que nas 3 últimas também é determinado o P orgânico, mas ainda porque estas fracções estão relacionadas com a

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bioassimi-CARACTERIZAÇÃO DO FÓSFORO DE ALGUNS SOLOS 297

labilidade dos fosfatos pelas plantas. Contudo, as formas oclusas de P assim como as “solúveis em reductores”, quer dizer o P tumover muito lento, devem ser estimadas pelo método de Chang and Jack-

son (1957). A solução óptima seria conjugar os dois métodos num

só, utilizando o citrato depois da extracção com NaOH U.S. e con­ tinuando a extracção com NaOH 1M e HC1 1M. Tal procedimento é, contudo, inviável em rotina, pelo que é preferível realizar separada- mente os fraccionamentos e conjugar posteriormente os resultados.

Este trabalho tem como objectivo obter informação básica so­ bre o teor e distribuição das várias formas de P em três solos, com diferentes características físico-químicas, utilizando os métodos de fraccionamento de Chang and Jackson (1957) e de Hedley et al.

(1982) e sua comparação. A utilização dos três solos referidos, neste estudo, tem como justificação o facto de os mesmos terem sido utilizados na realização de ensaios anteriores efectuados no Horto de Química Agrícola, pelo que as conclusões obtidas poderão con­ tribuir para uma melhor fundamentação dos resultados obtidos.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. SOLOS

Utilizaram-se amostras da camada superficial (0-20cm) de três solos pertencentes às seguintes Famílias de solos, definidas por Car­

doso (1974): Barro Castanho-Avermelhado Não Calcário, derivado

de Basaltos (Cb), com argilas de tipo montmorilonítico, colhido nos terrenos da Estação de Sementes de Queluz; Podzol Não Hidromór- fico, Sem Surraipa de Areias (Ap), com fracção argilosa dominada por minerais do tipo caulinite e minerais micáceos, colhido nos ter­ renos do Posto Experimental de Pegões; Solo Litólico Não Húmico Pouco Insaturado Normal derivado de Granitos (Pg), com pre­ domínio de caulinite, vermiculite, interstratificados (micas abertas) sem gibsite na fracção argilosa, colhido nos terrenos da Escola Su­ perior Agrária de Castelo Branco.

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298 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

2.2. MÉTODOS

As análises de caracterização geral das amostras (Quadro 1) - textura, pH, complexo de troca, carbono orgânico e óxidos de Fe, AI e Mn (totais e livres) - realizaram-se segundo as técnicas seguidas nos Laboratórios de Química Agrícola e de Pedologia do ISA (Póvoas e Barral, 1992). Os teores de Fe203, de A1203 e MnO livres foram determinados, cada um deles, pelo método do piro- fosfato (Franzmeier and Simonson, 1965), pelo método de Tamm

(Schwertmann, 1964) e pelo método de Mehra e Jackson (Mehra

and Jackson, 1960).

O fósforo total e o fósforo inorgânico foram extraídos com H2S04 1M nas amostras calcinadas e náo calcinadas durante 2 horas à temperatura de 550°C. O P orgânico foi calculado por diferença entre o P total e o P inorgânico (Saunders and Williams, 1955). O fósforo total foi ainda determinado por digestão com a mistura ácida de Fleischmann obtida com volumes iguais de ácidos H2S04 e HN03 concentrados (Houba et al., 1979).

No fraccionamento do P inorgânico, seguiu-se o método de

Chang and Jackson (1957) com as modificações introduzidas por Pe-

terson and Corey (1966) e Houba et al. (1979) (Fig. l). O P foi

determinado colorimetricamente pelo método de Murphy and Riley

(1962).

No fraccionamento do P segundo Hedley et al. (1982) não foram

determinadas as fracções de P microbiano e P residual. O processo seguido foi o modificado por Trasar-Cepeda et al. (1987) encontran­

do-se esquematizado na Fig. 2.

Após a obtenção dos extractos de bicarbonato, NaOH e NaOH- -U.S. acidificou-se uma alíquota para precipitar a matéria orgânica extraída e o P inorgânico (Pi) foi determinado no sobrenadante. O P total (Pt) destes extractos foi determinado após digestão com H2S04 e KMn04. O teor de P orgânico (Po) foi determinado por diferença entre os teores de Pt e de Pi. Em todos os extractos o P foi determinado pelo método de Murphy and Riley (1962).

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QUADRO 1

Características físico-químicas dos solos.

Amostra Família

Análise granulométrica A.grossa A.fina Limo Argila

% % % %

pH H20 KC1

Complexo de troca meq/lOOg

Ca Mg K Na T S/T pH8.1 % C % Queluz Cb 7,5 16,8 28,3 47,4 7,2 5,9 26,42 26,61 0,13 0,56 58,27 92,19 1,15 Pegões Ap 80,8 13,2 4,3 1.7 5,9 4,7 0,95 0,17 0,14 0,08 3,04 43,65 0,35 C. Branco Pg 44,2 30,5 14,9 10,4 4,6 3,8 1,49 0,37 0,31 0,16 8,48 27,48 0,73 QUADRO 1 ( Continuação) Amostra Família Fe203 %

Total Pirof. Tamm Mehra Jackson

A1203 %

Total Pirof. Tamm Mehra Jackson

Mn O %

Total Pirof. Tamm Mehra Jackson

Queluz Cb 11,79 0,03 1,28 3,71 18,34 0,05 0,52 0,40 0,65 0,01 0,36 0,30

Pegões Ap 1,15 0,01 0,02 0,03 7,72 0,03 0,00 0,06 0,02 0,00 0,01 0,01

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300 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

FIGURA 1 - Fraccionamento do fósforo segundo o método

de Chang and Jackson (1957).

Solo

NH4CI 1 M = P solúvel e fracamcnte ligado

NH4FO.5 M pH 8.2 = P - Al NaOH 0.1 M = P - Fe HC1 1 M = P - CaP Citrato Bicarbonato Ditionito = P - solúvel em redutores NH4FO.5 M pH 8.2 *= P - Al ocluso NaOH 0.1 M = P - Fe ocluso H2SO4 HNO3 conc. = P residual

Solo

FIGURA 2 - Método de extracção sequencial do fósforo

segundo Hedley et al. (1982).

Resina aniónica = Pi - resina

NaC03H 0.5 M = Po - , Pi -

CO3H-NaOH 0.1 M = Po - NaOH, Pi - NaOH

NaOH U.S. = Po - NaOH U.S., Pi - NaOH U.S. HC1 1 M = Pi - HC1

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CARACTERIZAÇÃO DO FÓSFORO DE ALGUNS SOLOS 301

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. FÓSFORO TOTAL, ORGÂNICO E INORGÂNICO

Os teores de P total dos três solos são muito diferentes, apre­ sentando o solo de Queluz um valor muito elevado (Quadro 2).

As quantidades de P total determinadas nos solos por digestão das amostras em meio ácido foram muito superiores aos valores obtidos pelo método de calcinação.

Na determinação do P orgânico (obtido sempre por diferença entre o P total e o P inorgânico), o método de calcinação é geral- mente mais utilizado em análise de rotina por ser mais simples que os métodos de extracção. Contudo está sujeito a maior número de erros do que os métodos de extracção, resultando na sub ou so- breavaliação do P orgânico consoante as características dos solos analisados (Saunders and Williams, 1955).

No solo de Queluz o P encontra-se, principalmente, na forma inorgânica (91,7% do P total). O solo de Pegões apresenta um teor muito baixo de P total, repartindo-se em quantidades sensivel­ mente iguais entre a fracção orgânica e inorgânica. No solo de Castelo Branco, a fracção orgânica (59,2% do P total) é superior à inorgânica. As diferenças encontradas em relação às percentagens de P orgânico para os solos de Castelo Branco e de Queluz poderão ser explicadas pelo elevado teor de P total existente no último solo.

3.2. FRACCIONAMENTO DO P INORGÂNICO SEGUNDO O MÉTO­ DO DE CHANG AND JACKSON (1957)

Os valores das diferentes formas de fósforo, expressos em ppm de P, obtidas pelo método de Chang and Jackson (1957), são apre­

sentados no Quadro 3. Os diagramas da Fig. 3, que representam a distribuição percentual das fracções de P inorgânico em relação ao P total (obtido pelo somatório de todas as fracções), evidenciam uma grande diferença na distribuição do P nos três solos em estudo. Foi considerado como P activo a soma das fracções P-NH4C1, P-Al, P-Fe e P-Ca (P ligado ao alumínio, ao ferro e ao cálcio). Como P ocluso considerou-se a soma das fracções P-“solúvel em reduc- tores” e de P-Al e P-Fe extraídos após a extracção do P-“solúvel em reductores”. Embora seja comum na literatura o P residual vir englobado no P ocluso, neste trabalho foi considerado em separado.

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QUADRO 2

Fósforo total, inorgânico e orgânico (ppm de P).

Amostra Família

Método digestão P total

Método Calcinação P total P inorg. P org.

Queluz Cb 2532 2028 1859 169

Pegões Ap 54 30 16 14

C. Branco Pg 401 196 80 116

QUADRO 3

Fraccionamento do fósforo inorgânico segundo Chang e Jackson (ppm de P).

Amostra Família P-NH4CI P-Al P-Fe P-Ca P-red. solúvel P-Al ocluso P-Fe ocluso P-residual P-total Queluz Cb 0,74 5,25 30,93 1505,54 77,14 72,80 41,90 111,75 1846,05 Pegões Ap 1,07 9,56 6,88 1,60 3,30 0,00 1,22 15,07 38,70 C. Branco pg 0,07 15,02 39,27 17,78 63,29 1,85 5,55 86,75 229,53

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CARACTERIZAÇÃO DO FÓSFORO DE ALGUNS SOLOS 303

FIGURA 3 - Distribuição percentual das fracções de fósforo

segundo o método de Chang and Jackson (1957).

100 “I 80 60 40 -20 -0 J

Pegões Castelo Branco

P-NH4C1 P-Al I I P Fe I P-solv. red.

wm

P-Al ocluso

rrm

P-Fe ocluso

A fracção P-NH4C1 só foi encontrada no solo de Pegões (2,77% em relação ao total), sendo nos outros solos praticamente inexis­ tente.

No solo de Queluz, o P activo (84% do P total) é constituído quase exclusivamente pelo P-Ca (82%), sendo esta a fracção do­ minante neste solo. No solo de Pegões, o P encontra-se distribuído equitativamente entre a fracção activa (47,4%) e não activa (50,4% -11,7% P ocluso e 38,7% P residual). Na fracção activa, é o P li­ gado ao alumínio a fracção dominante (24,7%). No solo de Castelo

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304 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Branco, o P-Fe, P-ocluso e o P-residual são as fracções mais repre­ sentativas, sendo a soma dos valores destas duas últimas fracções (68,6% do P total) superiores ao valor do P activo (31,4% do P to­ tal). Neste solo, o P residual (37,8%) é ligeiramente superior ao P ocluso (30,8%).

Changand Jackson (1958) fraccionaram o P inorgânico nalguns

Grandes Grupos de solos e concluíram que a distribuição dos fos- fatos está relacionada com o grau de alteração química durante o desenvolvimento do solo segundo a sequência P-Ca —> P-Al —> P-Fe —> P-ocluso. Esta última fracção inclui o P“solúvel em reductores” e os fosfatos de alumínio e ferro oclusos nos óxidos de ferro hidrata­ dos. A medida que a intensidade de alteração aumenta, o P-Fe e o P“solúvel em reductores” tendem a aumentar à custa das fracções P-Ca e P-Al. Estas duas últimas formas parecem ser as menos re­ sistentes à alteração. Estes autores explicam tal facto através da maior actividade dos iões Ca e AI relativamente à dos iões Fe.

No material originário e nos solos pouco evoluídos a fracção do P dominante é constituída por fosfatos de Ca (Ryan and Stroehlein,

1979). A medida que a alteração vai progredindo, a fracção P-Ca é progressivamente transformada nas formas P-Al e P-Fe e finalmente em formas oclusas. O fósforo ocluso é a fracção mais resistente à al­ teração, sendo dominante nos solos mais evoluídos, nomeadamente naqueles com elevada proporção de óxidos e/ou hidróxidos de ferro e alumínio que constituem no geral os minerais do estádio final de alteração química.

O estado de desenvolvimento do solo, indicado pela diminuição do pH e do grau de saturação com bases, está relacionado com a distribuição do P entre as várias fracções. Assim, Westin and De

Brito (1969) referem que nas fracções de P activo, o P-Ca ocorre em

teores mais elevados nos solos menos evoluídos, que têm em geral pH elevado, sendo mínima em solos muito evoluídos, geralmente com pH baixo, enquanto o P-Fe apresenta comportamento oposto.

De acordo com a bibliografia citada, o solo de Queluz revela ser um solo geneticamente pouco evoluído (pH 7,2 e elevado grau de saturação com bases, 92,2%) sendo a fracção P-Ca dominante, o que também é posto em evidência pelo tipo de minerais argilosos presentes no solo (esmectites); as formas de P geralmente utilizadas

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CARACTERIZAÇÃO DO FÓSFORO DE ALGUNS SOLOS 305

pelas plantas (P-NH4C1, P-Al e P-Fe) apresentam valores muito baixos tratando-se, assim, de um solo com formas de P não imedia- tamente disponíveis para as plantas.

O solo de Pegões apresenta um baixo teor de fósforo total; no entanto as formas de P activo (P-NH4CI, P-Al e P-Fe) são bastante representativas em relação ao P total, o que poderá sugerir tratar- -se de um solo com apreciável teor relativo de P disponível para as plantas.

O solo de Castelo Branco, dado os elevados teores de P ocluso e de P residual e ainda devido ao pH (4,6), ao grau de saturação com bases baixo (27,5%) e à mineralogia da fracção argilosa, é um solo que parece ser o resultado de alteração média a relativamente elevada da rocha de substracto; na fracção activa predomina o P-Fe, sendo as outras fracções de P activo muito reduzidas, o que indica ser um solo com um teor muito baixo de P disponível para as plantas.

De acordo com Fernandes (1987), pode concluir-se que, com excepção dos solos alagados em que normalmente o P-Fe é a fonte predominante para as plantas, a fracção P-Al constitui em geral a principal fonte de fósforo e que a fracção P-Ca, mesmo nos solos ricos em carbonatos, é relativamente menos utilizada.

3.3.FRACCIONAMENTO DO P SEGUNDO O MÉTODO DE HEDLEY et al. (1982)

Os valores das diferentes fracções de fósforo obtidas por este método encontram-se expressos no Quadro 4 e a distribuição per­ centual das diferentes fracções em relação ao P total encontra-se representada na Fig. 4. Tal como verificado através do fracciona- mento proposto por Changand Jackson(1957), os três solos apresen­

tam comportamentos muito diferentes. Assim, no solo de Queluz, a fracção Pi-HCl é dominante (94,77% do P total extraído), sendo as outras fracções muito reduzidas. No solo de Pegões, o P ex­ traído por resinas (17,86%) e o Pi-HC03 (25,05%) têm um valor elevado; a representação do Po em cada uma das fracções alcali­ nas foi nula ou muito reduzida (3,57% no extracto Po-NaOH U.S.)

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306 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

dado o valor muito baixo de carbono orgânico do solo. No solo de Castelo Branco, dominam as formas que são dificilmente utilizadas pelas plantas (Po-NaOH e Po-NaOH U.S.).

O reagrupamento das várias fracções de P obtidas pelo frac- cionamento de Hedley et al. (1982), segundo o critério proposto por

Tiessen et al. (1984) em que o P orgânico e inorgânico são divididos

em formas de turnover rápido e lento, é apresentado no Quadro 5 e a Fig. 4 representa a sua distribuição percentual.

Verifica-se que o P inorgânico (Pi) se encontra nos três solos principalmente nas fracções turnover lento e o P orgânico (Po) nas fracções turnover rápido.

No solo de Queluz, a fracção de P turnover rápido (com Pi e Po da mesma ordem de grandeza) é muito pequena (2,03%) em relação à de P turnover lento (98,24%) que é quase exclusivamente inorgânica. No solo de Pegões, tanto as formas turnover rápido (42,86%) como lento (57,13%) são constituídas por Pi. No solo de Castelo Branco, o P turnover rápido (45,45%) é principalmente orgânico e o P turnover lento (54,54%) é constituído por formas inorgânicas e orgânicas da mesma grandeza.

4. CONCLUSÕES

Relativamente aos métodos de fraccionamento estudados, o método de fraccionamento desenvolvido por Hedley et al. (1982),

proporciona mais informação que o método de Chang and Jackson

(1957) distinguindo as formas lábeis das formas mais estáveis, tanto do P orgânico como do inorgânico, parecendo ser mais conveniente na caracterização do P do solo uma vez que considera fracções de P orgânico teoricamente relacionadas com a bioassimilabilidade dos fosfatos do solo.

No que respeita aos solos estudados podem retirar-se as seguin­ tes conclusões principais:

(15)

QUADRO 4

Fraccionamento do fósforo segundo Hedley et al. (1982) (ppm de P ).

Amostra Família P-resina P-Bicarbonato Total Inorg. Org.

P-NaOH Total Inorg. Org.

P-NaOH U.S. Total Inorg. Org.

P-HC1 P-Extraído

Total Inorg. Org. Queluz Cb 7,61 3,40 5,91 35,34 23,23 12,11 20,53 5,98 14,55 1214,39 1281,27 1257,12 24,15

Pegões Ap 4,92 6,51 7,31 7,94 7,76 0,18 4,88 3,97 0,91 2,63 26,88 26,59 0,29

C. Branco Pg 3,07 9,28 8,15 1,13 63,67 11,25 52,42 46,94 9,87 37,07 19,86 142,82 52,20 90,62

QUADRO 5

Reagrumento das fracções de fósforo segundo Tiessen et al. (1984).

Amostra Turnover Turnover rápido Pi Po Turnover lento Pi Po Turnover rápido lento Queluz 13,52 12,11 1243,6 14,55 25,63 1258,15 Pegões 12,23 0,18 14,36 0,91 12,41 15,27 C. Branco 11,22 53,55 40,98 37,07 64,77 78,05

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308 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

FIGURA 4 - Distribuição percentual das fracções de fósforo

segundo o método de Hedley et dl. (1982) e reagrupamento segundo Tiessen et al. (198\).

100 “ 80 ~ 60 40 -20 -0

-Queluz Pegões C. Branco

P-resina PÍ-HC03 □ Po - HC03 gg] Pi-NaOH m Po-NaOH E23 Pi - NaOH U.S.

rmn

Po-NaOH U.S. iH Pi - HC1 C. Branco rápido rápido lento Po - lento

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CARACTERIZAÇAO DO FOSFORO DE ALGUNS SOLOS 309

1- 0 solo de Queluz apresenta um teor de fósforo total muito elevado. A fracção mais importante é a extraída com o HC1 em ambos os fraccionamentos correspondendo à fracção P- Ca obtida pelo método de Chang e Jackson e à forma P

turnover lento obtida pelo fraccionamento de Hedley et al..

A quase totalidade de P neste solo está, assim, provavel­ mente presente em formas muito pouco solúveis e, tendo em conta o pH do solo, é provável tratar-se de apatite ou de fosfatos de cálcio básicos muito pouco disponíveis para as plantas. Poderemos concluir que o solo de Queluz é um solo ainda pouco evoluído. De facto, dado que a rocha do subs- tracto é básica, o Ca proveniente dos minerais primários poderá contribuir para a fracção P-Ca, que domina neste solo e que nos leva a concluir, conjuntamente com a minera­ logia da fracção argilosa, que o grau de evolução deste solo é bastante baixo. Sendo assim, justifica-se a relativamente baixa disponibilidade de P para a nutrição das plantas. 2- 0 solo de Pegões tem um teor de P total muito baixo.

De facto, as areias sobre as quais se desenvolveu este solo parecem ser mineralogicamente pouco ricas como potenci­ ais fornecedores de P ao solo. Além disso, a fracção textural mais fina deste (< 20 ^m) corresponde apenas a 6%. Tanto no fraccionamento de Chang e Jackson como no fracciona­

mento de Hedley et al., as fracções consideradas potencial­

mente mais utilizadas pelas plantas (P-NH4C1 -f P-Al e P- resina + P-bicarbonato) apresentam valores elevados pelo que se poderá concluir ter este solo um elevado teor rela­ tivo de P disponível para as plantas. No fraccionamento de Hedley et al., as formas orgânicas são nulas ou muito

reduzidas e a fracção Pi turnover rápido é inferior à lenta. No fraccionamento de Chang e Jackson, oP activo é ligeira-

mente inferior à soma do P-ocluso e residual. Tratando-se de um solo formado a partir de materiais muito grosseiros, e com proporção muito pequena de materiais finos, não é fácil caracterizar com rigor o seu grau de evolução. No en­ tanto, o facto de terem sido detectados minerais do tipo caulinite na fracção argilosa em solos desta Família e de o P ocluso e residual terem uma representação apreciável indica-nos haver já um certo grau de evolução neste solo.

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310 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

3 - No solo de Castelo Branco, verificou-se que no fracciona- mento de Chang e Jackson a soma de P-ocluso e P resi­ dual é muito superior ao P activo. Usando o fracciona- mento de Hedley et al., tanto as formas orgânicas como as

inorgânicas consideradas não facilmente utilizáveis pelas plantas dominam em relação às formas lábeis, sendo a fracção de P turnover lento ligeiramente superior à rápida. Poderá concluir-se que este solo é medianamente evoluído, em que alguns dos minerais constituintes da rocha de subs- tracto parecem ter sofrido uma alteração química sensivel­ mente elevada, embora ocorram ainda na fracção argilosa minerais do tipo 2:1, provavelmente resultantes da trans­ formação das micas. Contudo, a probabilidade de uti­ lização de P pelas plantas é muito baixa, sendo a proporção de P activo baixa (31,4%) em relação à restante (68,6%) re­ ferente à soma das fracções P-ocluso e P-residual.

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Imagem

FIGURA 1 - Fraccionamento do fósforo segundo o método  de Chang and Jackson (1957).
FIGURA 3 - Distribuição percentual das fracções de fósforo  segundo o método de Chang and Jackson (1957).
FIGURA 4 - Distribuição percentual das fracções de fósforo  segundo o método de Hedley et dl

Referências

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