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A dança como recurso na intervenção psicomotora : impacto na percepção de qualidade de vida da pessoa com dificuldades intelectuais e desenvolvimentais

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Academic year: 2021

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Universidade de Lisboa

Faculdade de Motricidade Humana

A Dança como Recurso na Intervenção Psicomotora:

Impacto na Percepção de Qualidade de Vida da Pessoa

com Dificuldades Intelectuais e Desenvolvimentais

Dissertação elaborada com vista à obtenção do Grau de

Mestre em Reabilitação Psicomotora

Orientador: Prof. Doutora Ana Paula Lebre Melo

Júri: Doutora Maria Celeste Rocha Simões

Doutora Elisabete Alexandra Pinheiro Monteiro

Doutora Ana Paula Lebre dos Santos Branco Melo

Joana Paula Barreto Santos

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Agradecimentos

Finalmente luz ao fim do túnel! Foi um longo e trabalhoso ano que reflete um trabalho que tem vindo a ser desenvolvido ao longo de 12 anos de luta, conquista, descoberta e muita DANÇA.

Um muito obrigado à minha orientadora Prof. Paula Lebre, que me fez acreditar e motivou para terminar este percurso. A sua sabedoria, conhecimento, sugestões e desafios foram sempre uma lufada de ar fresco e um empurrão motivador quando as engrenagens encravavam. Foi uma caminhada bem preenchida de muita emoção, movimento e expressão.

Tenho de agradecer à CERCIMA, cuja direção sempre acreditou e apoiou o projeto Movimento DansasAparte. À minha equipa do Serviço Sócio-Educativo a compreensão e apoio principalmente na reta final. Às colegas e técnicas Carla, Suzana, Sofia e Cristina que participaram no estudo, a vossa opinião ajudou a torna-lo realidade. Dinora (e Gustavo) as vossas sugestões e correcções são sempre bem-vindas.

Aos intérpretes do Movimento DansasAparte, o core deste estudo e o motivo pelo qual temos, em conjunto, crescido além-fronteiras. O meu muito obrigado! Adoro-vos a todos!

Às famílias dos “meus bailarinos” agradeço confiarem-me os vossos filhos ao longo destes anos e de nos apoiarem neste percurso.

À Patrícia Macedo e Ana Montenegro, minhas companheiras nas (an)Danças agradeço o vosso apoio e ajuda na concretização deste(s) projeto(s), por vezes louco(s) e utópico(s).

À minha família, a minha força motriz e incentivo para dar tudo o que tenho! Pedro o meu pilar, companheiro e suporte; Diogo e Carolina a minha alegria e energia, sem vocês, acredito que este percurso teria ficado a meio.

Ao Movimento DansasAparte que espelha o que a dança representa para mim, aos que passaram por aqui e que deram tanto de si, aos que cá estão e que me ajudam a crescer a nível profissional e pessoal…um muito e sentido obrigado!

(3)

D

anças e dinâmicas

A

vontade de participar

N

o respeito pelo próprio e pelo outro

S

uavidade e harmonia de movimentos

A

uto-crítica, auto-imagem, auto-estima...

S

entimentos e emoções

A

exploração, a criatividade;

P

artilha e união

A

puram-se os sentidos;

R

eflexão e relaxação

T

rabalho em conjunto;

E

xpressividade...Corporalidade...Liberdade...

Movimento DansasAparte (da esquerda para a direita) espetáculo "Gentes com Ir", " Quero SER", "Ligações" e "Auras"

(4)

Índice Geral

Agradecimentos ... i

Índice Geral ... iii

Índice de Tabelas ... v

Índice de Figuras ... v

Enquadramento ... 1

Resumo Geral... 3

General Abstract ... 4

Artigo 1 –A Dança como Recurso na Intervenção Psicomotora – Revisão da Literatura ... 5

Resumo:... 7

Abstract: ... 8

1. Psicomotricidade e Mediação Artística ... 10

1.1 Psicomotricidade ... 10

1.2 Dança, mediação artística e expressiva ... 11

1.3 Psicomotricidade e Dança ... 13

2. Benefícios da Dança na Intervenção Psicomotora em Indivíduos com Dificuldades Intelectuais e Desenvolvimentais ... 17

2.1 O conceito de Dificuldades Intelectuais e Desenvolvimentais ... 17

2.2 Qualidade de Vida ... 19

2.3 Revisão da Literatura: O impacto e/ou os benefícios da dança na intervenção psicomotora e/ou qualidade de vida das pessoas com DID. ... 22

Conclusão ... 30

Bibliografia ... 31

Artigo 2 - A Dança como Recurso na Intervenção Psicomotora: Estudo caso do grupo Movimento DansasAparte ... 39

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Abstract: ... 42

1. Enquadramento – revisão literatura ... 43

1.1 O grupo de dança Movimento DansasAparte: 10 anos de percurso ... 44

2. Fundamentação Metodológica ... 53

2.1 Importância do estudo ... 53

2.2 Objetivo(s) ... 53

2.3 Instrumentos de avaliação ... 54

2.3.1 Escala de Comportamento Adaptativo de Vineland II ... 54

2.3.2 Questionário da Qualidade de Vida (Schalock & Keith, 1993)... 55

2.3.3 WHOQOL-BREF (OMS, versão portuguesa Serra et al, 2006) ... 56

2.3.4 Questionário de Qualidade de Vida relacionada com a dança – DansasAparte (adaptada de Schalock & Keith, Santos & Lebre, 2017) ... 57

2.4 Procedimentos ... 58

2.5 Caracterização da amostra ... 59

3. Apresentação e Discussão dos Resultados ... 62

3.1 Apresentação dos resultados quantitativos ... 63

3.1.1 Objetivos 1 e 2 ... 63

3.1.2 Objetivo 3 ... 67

3.1.3 Objetivo 4 ... 68

3.2. Apresentação dos resultados qualitativos ... 70

Conclusões e Considerações Finais ... 72

Bibliografia ... 75 Anexos ... 77 Anexo A ... i Anexo B ... ix Anexo C ... xxii Anexo D ... xxv

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Índice de Tabelas

Artigo 1

Tabela 1 - Estudos selecionados, especificando a população alvo, instrumentos

utilizados, metodologia/enfoque e principais conclusões ... 27

Artigo 2 Tabela 1 – Exemplo de Programação anual Movimento DansasAparte ... 48

Tabela 2 - Resumo histórico do Movimento DansasAparte ... 49

Tabela 3 - Caracterização dos intérpretes (dados pessoais e funcionais) ... 60

Tabela 4 - Estatística descritiva Vineland II ... 62

Tabela 5 - Estatística descritiva dos Questionários DA, QQV e WHOQOL do Intérprete, Técnico e Família ... 64

Tabela 6 - Correlações entre os valores totais dos instrumentos DA, QQV e WHOQOL, do intérprete, técnico e família ... 66

Tabela 7 - Correlações dos domínios dos três instrumentos relativamente ao intérprete 67 Tabela 8 - Correlações entre os domínios do Questionário DA, do intérprete, técnico e família ... 69

Índice de Figuras

Artigo 1 Figura 1 - Seleção dos estudos a incluir na análise ... 23

Artigo 2 Figura 1 – Wordcloud derivada das respostas obtidas questão 1 do Questionário DA ... 70

Figura 2 – Wordcloud derivada das respostas obtidas questão 2 do Questionário DA ... 71

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Enquadramento

Nesta dissertação pretende-se focar o impacto da dança como um recurso na intervenção psicomotora com a população com Dificuldades Intelectuais e Desenvolvimentais (DID). Foi realizado um estudo de carácter exploratório, tendo como amostra os intérpretes do grupo de dança inclusiva Movimento DansasAparte, por forma a tentar compreender o impacto que a dança tem na percepção de bem-estar e qualidade de vida da pessoa com dificuldades intelectuais que beneficia desta atividade, verificando se esta corresponde à perceção da família e dos técnicos.

No artigo 1 será realizada uma revisão da literatura de modo a enquadrar o estudo. São caracterizados os principais conceitos, tais como psicomotricidade, dança DID e Qualidade de Vida (QV). Foi executada uma revisão de estudos, em várias bases de dados, que focam os benefícios da dança na população com DID, correlacionado com alterações nas áreas psicomotoras e qualidade de vida. Foram seleccionados para análise sete artigos que cumpriam os critérios de inclusão, dos quais três são estudos exploratórios com avaliação pré e pós intervenção e quatro são meta-análises/revisões sistemáticas que focam os benefícios da intervenção pela dança em diversas populações, nomeadamente nas DID.

No artigo 2 será apresentando o estudo caso do grupo de dança inclusiva Movimento DansasAparte da CERCIMA (Cooperativa de Educação e Reabilitação de Montijo e Alcochete), fazendo uma retrospectiva do seu percurso desde a criação até à atualidade, bem como a descrição da percepção de satisfação da QV dos seus intérpretes1 do ponto de vista do próprio, da família e dos técnicos, segundo os construtos da QV de Schalock & Keith (Questionário Qualidade Vida, 1993), da Organização Mundial Saúde (WHOQOL-Bref [OMS], versão portuguesa Serra et al., 2006) e Questionário DansasAparte (Santos & Lebre, 2017). Pretende-se perceber se existe diferença na percepção da QV, dos intérpretes na opinião do próprio, familiares e técnicos; se existe relação entre os instrumentos de avaliação de QV utilizados bem como entre os vários domínios que avaliam; se existe relação na percepção da influencia da dança na QV do intérprete, técnico e família, por forma a tentar compreender o papel da dança enquanto recurso na intervenção psicomotora e benefícios que advém desta atividade na promoção de bem-estar e QV da pessoa com DID.

1

Quando se faz referência aos participantes que integram o grupo de dança Movimento

DansasAparte estes são designados por intérpretes por ser a forma como são chamados na instituição de

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A Dança como Recurso na Intervenção

Psicomotora

Resumo Geral:

A psicomotricidade introduziu a arte não só na sua prática, mas também na sua elaboração clínica e teórica. Existe uma confluência entre a psicomotricidade e a dança, na medida em que ambas incidem nas bases do movimento associadas à exploração do corpo, espaço, tempo e criatividade.

A presente dissertação teve como objetivo estudar o impacto da dança como recurso na intervenção psicomotora na promoção da Qualidade de Vida (QV) de pessoas com Dificuldade Intelectuais e Desenvolvimentais (DID).

No artigo 1 realizou-se uma revisão da literatura concluindo-se que não existem estudos que façam a análise dos benefícios da dança como recurso na prática psicomotora na população com DID, contudo, são referidos benefícios ao nível da perceção de bem-estar e QV.

No artigo 2, adotando uma metodologia de investigação de estudo caso, mista, do grupo de dança Movimento DansasAparte da Cercima, verificámos uma concordância na perceção da QV segundo a opinião do intérprete, familiares e técnicos, e uma relação nos domínios da QV, salientando que a dança enquanto mediação utilizada na prática psicomotora poderá traduzir-se em um recurso promotor do bem-estar e QV da pessoa com DID.

Palavras-chave:

Psicomotricidade, Reabilitação Psicomotora, Dança, Mediação Artística, Dificuldades Intelectuais e Desenvolvimentais, Qualidade de Vida

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Dance as a Resource in Psychomotor Therapy

General Abstract:

Psychomotricity has introduced art not only in its practice, but also in its clinical and theoretical elaboration. There is a confluence between psychomotricity and dance in the means that both focus on the bases of movement associated with the exploration of body, space, time and creativity.

The present dissertation had as goal to study the impact of dance as a resource in psychomotor intervention in the promotion of Quality of Life (QoL) in people with Intellectual and Developmental Disabilities (IDD)

In article 1 we conducted a literature review and concluded that there are no studies reporting the benefits of dance as a resource in psychomotor practice for people with IDD, however benefits are reported that improve the perception of well-being and QOL..

In article 2, using a mixed case study methodology from the dance group Movimento DansasAparte of CERCIMA, we verified an agreement among dancers’, families’ and technical staffs’ opinion regarding the perception of QoL; correlations among Qol domains, emphasizing that dance as a mediation used in psychomotor practice can be translated into a resource that promotes well-being and QoL of the person with IDD

Key-words:

Psychomotricity, Psychomotor Therapy, Dance, Artistic Mediation, Intellectual and Developmental Disabilities, Quality of Life

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Artigo 1

A Dança como Recurso

na Intervenção

Psicomotora – Revisão

da Literatura

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A Dança como Recurso na Intervenção Psicomotora

A Dança como Recurso na Intervenção

Psicomotora - Revisão da Literatura

Resumo:

A psicomotricidade introduziu a arte não só na sua prática, mas também na sua elaboração clínica e teórica. Os métodos de mediação artística são um recurso na intervenção psicomotora por forma a potenciar diversas competências (Albaret, Giromini & Scialom, 2015). Existe uma confluência entre a psicomotricidade e a dança, na medida em que ambas incidem nas bases do movimento associadas à exploração do corpo, espaço, tempo e criatividade.

Neste artigo será realizada uma revisão da literatura de modo a enquadrar o estudo, caracterizando os conceitos principais: psicomotricidade, dança, Dificuldades Intelectuais e Desenvolvimentais (DID) e Qualidade de Vida (QV). Foi executada uma intensiva revisão de estudos tendo sido analisados 7 artigos, que cumpriam os critérios de inclusão, dos quais 3 estudos exploratórios com avaliação pré e pós intervenção e 4 meta-análises/revisões sistemáticas que focam os benefícios da intervenção pela dança.

Pela análise dos artigos na revisão da literatura conclui-se que não existem estudos que façam a análise dos benefícios da dança como recurso na prática psicomotora na população com DID. Contudo, são referidos benefícios para a população com DID, passíveis de serem obtidos através da prática da dança e intervenção pelo movimento que melhoram a perceção de bem-estar e QV ao nível motor, psicológico, cognitivo e social.

Palavras-chave:

Psicomotricidade, Dança, Mediação Artística, Dificuldades Intelectuais e Desenvolvimentais, Qualidade de Vida, Revisão Literatura

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Dance as a Resource in Psychomotor

Intervention - Review of Literature

Abstract:

Psychomotricity has introduced art not only in its practice, but also in its clinical and theoretical elaboration. The methods of artistic mediation are a resource in psychomotor intervention in order to enhance several competences. (Albaret, Giromini & Scialom, 2015). There is a confluence between psychomotricity and dance in the means that both focus on the bases of movement associated with the exploration of body, space, time and creativity.

In this article, a review of literature will be conducted in order to establish the bases of the study, characterizing the concepts: psychomotricity, dance, Intellectual and Developmental Disabilities (IDD) and Quality of Life (QOL). An intensive review of studies was carried out, with 7 articles meeting the inclusion criteria, including 3 exploratory studies with pre and post intervention evaluation and 4 meta-analyzes/systematic reviews focusing on the benefits of dance intervention.

By analyzing the articles in the literature review we can conclude that there are no studies reporting the benefits of dance as a resource in psychomotor practice for people with IDD. However, benefits for the population with IDD are reported, which can be obtained through dance and movement oriented interventions that improve the perception of well-being and QOL, in areas such as motor, psychological, cognitive and social.

Keywords: Psychomotricity, Dance, Artistic Mediation, Intellectual and Developmental

Disabilities, Quality of Life, Literature Review

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A Dança como Recurso na Intervenção Psicomotora

Desde a sua criação, a psicomotricidade introduziu a arte não só na sua prática, mas também na sua elaboração clínica e teórica. As modalidades expressivas, tais como a música, a voz, a dança, a mímica, o drama e a expressão plástica são consideradas

métodos de mediação artística, sendo um recurso na intervenção psicomotora por forma a potenciar competências relacionais e de comunicação interpessoal, a perceção sensorial, fatores emocionais, a capacidade de concentração e o desenvolvimento motor. Este conjunto de recursos tem na sua identidade a possibilidade de expressão originada numa experiência corporal vivida caracterizada pela participação ativa e uma conexão corpo-mente. (Albaret, Giromini e Scialom, 2015).

De acordo com Emck & Bosscher (2010), a terapia psicomotora centrada na utilização de atividades de movimento expressivo pode traduzir-se em benefícios adicionais para a pessoa em processo de reabilitação, permitindo ganhos adicionais em saúde.

Podemos porém afirmar que a definição conceptual bem como as fronteiras entre os recursos ligados ao movimento expressivo e à dança, utilizados em psicomotricidade nem sempre são claramente definidos na literatura, sendo por vezes referida uma intervenção, que apesar de ser adotada por estes profissionais, se insere numa prática de dança e, noutros contextos, numa prática psicoterapêutica que implica uma formação especializada em dançaterapia.

É neste contexto que o presente artigo se insere, por forma a realizar uma revisão da literatura que visa esclarecer os conceitos em estudo: psicomotricidade, dança e movimento expressivo, particularmente o estado da arte e da mediação artística e sua utilização enquanto recurso na intervenção psicomotora, bem como os benefícios que advêm para indivíduos com DID em contexto de instituição, nomeadamente na promoção da sua qualidade de vida, bem estar e capacitação para se tornarem indivíduos ativos na sociedade.

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1. Psicomotricidade e Mediação Artística

1.1 Psicomotricidade

Segundo o Fórum Europeu de Psicomotricidade, a Psicomotricidade baseia-se numa visão holística do ser humano, da unidade do corpo e da mente (EFP, 2018). Engloba a interdependência das interações cognitivas, emocionais, simbólicas e corporais, na capacidade de ser e de agir do indivíduo, num contexto biopsicossocial. O conceito de psicomotricidade evoluiu de forma diferente em vários países, desde o enfoque no corpo e mente numa perspectiva psicanalítica; à interação entre a atividade física e a mente (como nos movemos em relação ao nosso meio ambiente) (Probst, et al., 2010). A Associação Portuguesa de Psicomotricidade (APP, 2017) refere que a intervenção psicomotora utiliza diversas metodologias associando sempre as atividades representativa e simbólica, tais como: técnicas de relaxação e consciência corporal; terapias expressivas; atividades lúdicas; atividades de recreação terapêutica; atividades motoras adaptadas; atividades de consciencialização motora.

A intervenção psicomotora centra-se na globalidade da pessoa tendo em consideração que as potencialidades motoras, mentais e emocionais estão em constante interação e que o corpo é o local de manifestação de todo o ser e que para perceber o que exprime o corpo é necessário situá-lo no seu envolvimento ecológico com o qual se relaciona. A prática psicomotora é unificadora no sentido em que reforça os laços entre o corpo e a mente, o real e o imaginário, o espaço e o tempo, melhorando o potencial adaptativo do individuo (Martins, 2001) podendo incluir técnicas psicossomáticas, métodos expressivos, métodos de relaxação e atividades lúdicas (Vayer, 1971 cit. in Fonseca, 2001).

De acordo com Schnydrig (1994 cit. in Martins, 2001) a intervenção psicomotora situa-se nas dimensões da regulação e harmonização tónica (maneira de estar do corpo – atitude, postura, esquema corporal, contração/descontração neuromuscular); dos movimentos funcionais e expressivos (modo de agir com o corpo – coordenações, associações/dissociações, praxias) e da vivência da relação tónico-emocional (modo relacional entre o corpo e o agir).

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1.2 Dança, mediação artística e expressiva

Em muitas sociedades primitivas a dança era tão essencial como comer e dormir, uma vez que fornecia um meio de expressão, de comunicação, de comunhão com a natureza. Os rituais de dança acompanhavam as grandes transformações da vida, dado que possibilitavam uma descarga catártica de tensão e promoviam o insight e resolução de problemas.

A capacidade do corpo para se expressar através do movimento, é entendido como a base para a integração das várias partes do eu (corpo), sendo que o movimento é o próprio alicerce da vida. O movimento está presente em toda a nossa vida, desde o mundo mais interno do nosso corpo físico ao mundo quotidiano social. Apesar de existir movimento em toda a vivência humana, raramente se presta atenção à forma como a pessoa se movimenta e o que expressa nesse movimento (Halprin, 1999). O processo criativo mobiliza a vontade e cultiva a capacidade para responder. A tomada de decisões direcciona a atenção para o que está a acontecer, de modo a determinar o foco e moldar a expressão e a acção de acordo com as mudanças nas situações. Nos momentos de criação, a sensação, o sentimento, a imagem e a história surgem, inicialmente como partes separadas, e gradualmente os elementos são vistos na sua totalidade em relação uns com os outros (Halprin, 2003).

A dança poderá ser considerada uma forma de mediação artística que utiliza o corpo em movimento como veiculo para a expressão criativa (Cone & Cone, 2011) podendo ser um mediador importante para aumentar a consciência sensorial e desenvolvimento pessoal (Dinold, 2000; Green-Gilbert, 2006; Stinson, 1988 cit. in Dinold & Zitomer, 2015), sendo uma abordagem facilitadora para a capacidade de movimento e expressão, bem como para representar sentimentos. Promove bem-estar e saúde, participação e envolvimento com outros e com o ambiente (Dunphy & Scott, 2003).

O movimento estimula o sentido quinestésico que juntamente com o toque é crucial no desenvolvimento da imagem corporal ou seja, a representação mental que o individuo faz do seu corpo. A imagem corporal influência a percepção do ambiente, agindo como uma referência para julgamentos espaciais, influenciando a aquisição de habilidades motoras pelo modo como afeta a capacidade do indivíduo diferenciar, dissociar, controlar e coordenar as partes do corpo (Duggan, 2001).

Segundo Rogers (1999) todas as pessoas têm uma capacidade inata para serem criativas. O processo expressivo fornece importantes mensagens ao individuo, no

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entanto, é durante o processo criativo que se dá a transformação. As artes expressivas guiam-nos até ao inconsciente, sendo que, o crescimento pessoal é atingido através da autocompreensão, autoconhecimento e insight. Esta autora defende o conceito de conexão criativa que se caracteriza pela forma como os modos de arte se inter-relacionam, ou seja, durante o processo de conexão criativa uma forma de arte estimula e alimenta outra, conduzindo-nos até ao nosso “núcleo interior”, facilitando-se a autodescoberta (descortinar das limitações, desejos e pontos fortes, para uma melhor integração na sociedade), ou seja, criamos para nos ligarmos à nossa essência e para nos unirmos ao mundo e universo.

Os processos criativos são processos construtivos globais que envolvem a totalidade da personalidade, o modo como a pessoa se diferencia dentro de si. Criar é tanto estruturar quanto comunicar, é integrar significados e é transmiti-los (Ostrower, 1978 in Andrade, 2000). A nível individual a criatividade é essencial para a resolução de problemas relacionadas com o trabalho ou situações do quotidiano, a um nível social é gerador de novas descobertas científicas e invenções, novos movimentos artísticos ou novos programas sociais (Sternberg & Lubart, 2003). A criatividade implica a confluência da capacidade intelectual, conhecimentos, estilos de pensamento, personalidade, motivação e envolvimento com o ambiente. As pessoas criativas possuem uma capacidade sintética que lhes permite visualizar problemas de formas diferentes das convencionais, uma habilidade analítica para reconhecer as ideias em que devem investir e uma aptidão prática que permite persuadir os outros a acreditarem nas suas ideias (Sternberg & Lubart, 2003).

A dança inclusiva fornece oportunidades aos participantes, com e sem deficiência, partilharem um espaço de dança comum (Kaufmann, 2006) permitindo que todos se sintam aceites e assim, contribuindo para o processo criativo e aprendizagens (Benjamin, 2002).

Existem variadas abordagens sobre a dança para pessoas com deficiência. Algumas perspetivas centram-se numa vertente artística e performativa, outras tendem a focar-se numa abordagem terapêutica, recreativa e comunitária, havendo, ainda o prisma de uma prática enquanto atividade física e desportiva, podendo ser competitiva. Independentemente do seu foco, em todas estas perspetivas deve estar presente a inclusão e a defesa do direito à igualdade e à participação. (Lebre, Amoedo, Monteiro, Seixas & Falcão, 2016).

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A dança como forma de inclusão (dança inclusiva) é uma atividade artística que envolve pessoas com deficiência no qual os focos terapêuticos e educacionais não são desprezados mas o ênfase encontra-se em todo o processo para o resultado artístico, enfatizando-se a possibilidade de mudança da imagem social e inclusão social pela arte de dançar (Amoedo, 2002).

A presença de intérpretes com deficiência ocorre cada vez com mais frequência possuindo, no entanto, ainda algumas conotações negativas sendo desvalorizadas as suas potencialidades e capacidades. É de ressaltar que só um produto com excelência artística poderá contribuir para uma real mudança na imagem social desta população, que querem ser apreciados como intérpretes dignos e válidos e não como indivíduos que necessitam da nossa condescendência, complacência e benevolência (Amoedo, 2002).

1.3 Psicomotricidade e Dança

Pegando no conceito de pedagogia de dança inclusiva (inclusive dance pedagogy) referido por Dinold (2015), o enfoque não é na aprendizagem de habilidades/técnicas específicas, mas no desenvolvimento holístico do indivíduo. Os benefícios de um ambiente inclusivo, para pessoas com e sem deficiência, poderá ser de carácter psicomotor, cognitivo, emocional e social. Partindo de cinco diretrizes/abordagens sobre as quais assentam a intervenção: abordagem holística (o individuo é visto como uma unidade bio-psico-social); orientada para o desenvolvimento (a curiosidade é a força motriz para o desenvolvimento individual); orientada para a ação (o indivíduo torna-se autónomo ao aprender a autodirecionar-se, ou seja, aprende através da exploração e do “fazer”); a partir das capacidades individuais (inicia-se intervenção a partir das habilidades/áreas fortes); voluntariedade (através da descoberta e tomada de decisões individuais). Estes princípios deverão trabalhados e combinados nas dimensões do corpo, da relação, do tempo, do espaço e da força. O corpo é o elemento fulcral e a ferramenta artística para a expressão e a comunicação, permitindo criar estruturas, formas e figuras rítmicas no espaço, no tempo e com o outro. De modo a que o que é criado tenha sentido é fundamental abrir linhas de comunicação entre os participantes, reforçando as relações e promovendo o respeito pelas necessidades individuais.

A utilização da dança/mediação artística na intervenção psicomotora com alunos com deficiência é uma estratégia e atividade extremamente positiva, uma vez que promove a socialização (cooperação, sentimento de pertença, união), pensamento crítico, capacidade para a resolução de problemas, memorização, pensamento abstrato, análise e avaliação de situações (Kaufmann, 2006). Através da participação em sessões de

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dança, o participante aprende novos padrões de movimento, tem a oportunidade para interagir socialmente, adquire conhecimentos acerca de tradições culturais, melhora a condição física e a criatividade, bem como aprende a expressar e comunicar sentimentos e opiniões, sendo uma ferramenta que capacita e desenvolve o autoconceito e a identidade (Dunphy & Scott, 2003). Quando os participantes percebem que existem várias formas de dançar e diversas maneiras de produzir um mesmo movimento, que todas são válidas e únicas, é valorizada a potencialidade individual promovendo uma aceitação e compreensão da diferença (Cone & Cone, 2011).

Numa investigação realizada por Emck et al. (2012) constataram que crianças com DID e comportamentos de externalização (hiperatividade e défice de atenção, perturbação de oposição, desordens da conduta) apresentaram significativamente mais dificuldades na consciência e experiência corporal, e na regulação emocional e comportamental do que crianças que só apresentam DID. Os autores referem, como muito pertinente a utilização do movimento expressivo e a dança na intervenção com estas crianças, uma vez que proporcionam oportunidades para experimentarem novas e positivas vivências corporais, aumentando a aceitação corporal que contribui para o desenvolvimento da capacidade de regulação emocional.

Dunphy & Scott (2003a), baseadas na sua vasta experiencia profissional com pessoas com dificuldades intelectuais, referem que existem várias evidências do valor da dança movimento terapia e de outros programas de dança com enfoque recreativo, educativo e performativo. Na escolha da modalidade mais adequada é fundamental ter em conta: as necessidades de apoio do participante; as capacidades e interesses do participante em dança; o contrato/objetivo estabelecido entre o facilitador/orientador e o participante/grupo; características do orientador/facilitador.

Segundo Whitehead (2010 cit. in Dinold & Zitomer, 2015) o desenvolvimento pessoal ocorre em quatro grandes áreas: psicomotora, cognitiva, afectiva e social, que se encontram interligadas. Juntas espelham o crescimento corporal e a literacia motora da criança, permitindo levar uma vida ligada ao corpo (embodied) independentemente da sua capacidade ou estrutura. A consciência corporal inicia-se desde cedo na vida sendo inconsciente e involuntário. O desenvolvimento da linguagem, nomeadamente o vocabulário referente ao corpo, parece estar relacionado com o desenvolvimento da consciência corporal (Simons et al, 2011). De um modo geral é referido que tanto a linguagem como a cognição encontram-se profundamente ligadas ao corpo “embodied”. Neste conceito de “embodied cognition” (cognição incorporada) a mente deixa de ser

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vista apenas como, um conjunto de funções, mas um sistema enraizado pela experiência corporal e intimamente ligada à ação corporal e interação com outros (Garbarini & Adenzato, 2004) devendo ser trabalhada ao longo da vida.

O movimento utilizado como um meio para a expressão criativa contribui para aumentar a relação entre a perceção e o movimento, fatores importantes no desenvolvimento psicomotor (Dinold, 2000, 2014) desenvolvem as áreas da força muscular, amplitude de movimentos, capacidade cardiorrespiratória, equilíbrio, postura, coordenação e energia (Kaufmann, 2006). Diversos estudos (Bjorbaekmo & Engelsrud, 2011; Zitomer & Reid, 2011 cit. in Dinold & Zitomer, 2015) indicam que os alunos com deficiência desenvolvem um sentido de competência física resultante da oportunidade de explorar as possibilidades do seu movimento.

Segundo Lesage (2012), a estruturação psicocorporal é construída graças ao

“emaranhado” e ao equilíbrio entre sete bases: fluxo, peso, eixos,

sensação/nomeação/simbolização, utilização do corpo, qualidade do movimento e dentro/fora.

Ao nível da intervenção psicomotora, poderão ser utilizadas técnicas e metodologias das terapias expressivas, ligadas ao movimento expressivo, às artes plásticas, à música, e a outras atividades de tipologia artística. A terapia psicomotora é uma terapia orientada para o movimento e para o corpo, assemelhando-se à dança movimento terapia, apesar de existirem algumas diferenças (Emck & Bosscher, 2010). Ambas utilizam a exploração do movimento e as experiências do corpo para otimizar o processo terapêutico e, apesar de terem diferentes raízes históricas, teóricas e métodos práticos, ambas as terapias convergem em vários pontos. Estas terapias fazem uso do movimento e das experiências vividas pelo corpo para estimular o desenvolvimento psicossocial, diminuir os distúrbios psicológicos e comportamentais, aliviar os sintomas psiquiátricos ou diminuir o impacto destes sintomas na funcionalidade e participação da pessoa na sua vida diária. Aumentam a autoconsciência e autoestima, permitindo crescimento e transformação num contexto terapêutico. Dança, improvisação, mudança e o Eu (self) estão em constante interação. O movimento é criativo e de improvisação, incorporando a imaginação através da qual o corpo torna-se o veículo para a autoexpressão e a ponte entre a emoção e o movimento (Payne, 2006).

Segundo a American Dance Therapy Association (ADTA, 2016) a dançaterapia é definida como o uso psicoterapêutico do movimento para promover a integração emocional, cognitiva, física e social do indivíduo. O processo terapêutico foca-se no

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comportamento do movimento que se manifesta na relação terapêutica. Os comportamentos expressivos, comunicativos e adaptativos são todos considerados para tratamento individual ou em grupo e têm o movimento do corpo, como o principal componente da dança, ao mesmo tempo que fornece os meios de avaliação e o modo de intervenção. A base da dançaterapia tem como objetivo procurar modos de atuação na área da psicopatologia, sendo uma técnica psicoterapêutica que utiliza o movimento como um processo que promove a integração emocional e física do indivíduo (ADMT,2003). Apesar de convergir em vários pontos com a intervenção psicomotora com recurso à mediação artística a dançaterapia é uma psicoterapia devendo ser realizada por profissionais especializados e credenciados não sendo o nosso enfoque neste artigo.

É referido que os programas ligados à dança, enquanto terapia, têm um potencial impacto junto das pessoas com ou sem patologia neurológica, havendo evidências da sua eficácia, quando inseridos num programa de tratamento como terapia complementar (Langhorst et al., 2012).

Hemelsdael, Moreau & Vennat (2015) referem que a dança é uma experiência natural nos seres humanos, uma prática universal e ancestral. Dançar permite dar forma e significados ao corpo, caracterizada como o prazer de movimentar, para ser movido e para mover, partilhando com a psicomotricidade os alicerces do movimento: o corpo, o espaço, o tempo, o diálogo tónico e a criatividade. A dança coloca enfoque no corpo como matéria a sentir, a viver e a apropriar-se, estimulando a exploração dos diferentes padrões de movimento. É um trabalho centrado na noção de peso, equilíbrio e desequilíbrio. A espacialidade refere-se à exploração do espaço (alto, médio, baixo; perto, longe), onde é dado ênfase à experimentação das diferentes possibilidades motoras bem como os vários modos de deslocação, desenvolvendo-se o sentido de direccionalidade e orientação. O movimento em dança ocupa uma dimensão temporal, estruturante e organizativa, onde é explorado o rápido, o lento, as paragens/pausas, os ritmos internos (cardíaco, respiratório) e ritmos externos (música, ritmo do grupo) ao corpo. A dança permite descortinar caminhos de acesso à simbolização usando o contacto, a respiração e a voz. O diálogo tónico entre duas corporalidades permite compreender os estados tensionais e emocionais. A improvisação privilegia uma escuta de si e dos outros, um reconhecimento progressivo dos seus gestos, sensações, capacidades criativas, despertando a criatividade, autonomia e autoestima. A improvisação estimula a memória, as capacidades organizacionais do gesto, a consciência do corpo no espaço e o autoconhecimento.

(23)

Com base no que foi apresentado podemos dizer que existe uma confluência entre a psicomotricidade e a dança, na medida em que ambas incidem nas bases do movimento associadas à exploração do corpo, espaço, tempo e criatividade.

2. Benefícios

da

Dança

na

Intervenção

Psicomotora em Indivíduos com Dificuldades

Intelectuais e Desenvolvimentais

2.1 O

conceito

de

Dificuldades

Intelectuais

e

Desenvolvimentais

A definição do conceito dificuldade intelectual e desenvolvimental (DID) sofreu grandes alterações nas últimas décadas, desde termos mais estigmatizantes assentes somente no domínio psicométrico, até ao conceito mais abrangente e multidimensional aceite atualmente, sendo de realçar a existência de uma crescente preocupação no que diz respeito a uma maior compreensão de tudo o que encerra esta problemática bem como nas atitudes face à mesma (Morato et al.,1996).

As revisões da literatura referem que as dificuldades do desenvolvimento intelectual são um grupo de perturbações etiologicamente diversas, englobadas nas perturbações neurodesenvolvimentais, que surgem durante o período desenvolvimental, segundo a classificação do DSM 5 e CID-10, caracterizado por défices funcionais, tanto intelectuais como adaptativos, nos domínios conceptual, social e prático, nas áreas do raciocínio, resolução de problemas, planeamento, pensamento abstrato, juízo de valores, aprendizagens académicas e profissionais. Em relação às funções adaptativas poderão existir dificuldades ao nível da independência pessoal e responsabilidade social que, sem apoio continuado, poderão gerar lacunas que limitam o funcionamento em atividades da vida diária (por exemplo comunicação, participação social, vida autónoma) em diversos ambientes (casa, escola, local trabalho, comunidade).

Com base na definição da AAIDD (American Association of Intellectual and Developmental Disabilities), a DID é caracterizada por significativas limitações ao nível do funcionamento intelectual (capacidade mental necessária para as aprendizagens, resolução de problemas e raciocínio) e do comportamento adaptativo nos domínios conceptual (linguagem e literacia, noção de dinheiro, tempo, números e orientação),

(24)

social (relações interpessoais, autoestima, responsabilidade social, ingenuidade, capacidade para seguir regras) e funcional (atividades pessoais da vida diária, atividades ocupacionais, cuidar da saúde, seguir horários), manifestando-se antes dos 18 anos de idade. Schalock et al., (2010), referem ser fundamental que as limitações funcionais observadas devem ser consideradas no âmbito do contexto onde o indivíduo se insere, nomeadamente em função da expectativa cultural que a comunidade tem para a idade dos demais pares, bem como a diversidade cultural e linguística em aspetos como a

comunicação, motricidade, o comportamento e ao nível sensorial. As

avaliações/observações efetuadas devem assumir que o indivíduo, para além de limitações tem capacidades, sendo que a funcionalidade do indivíduo irá melhorar se beneficiar de apoios adequados e individualizados durante um determinado período de tempo (Morato & Santos, 2007).

Relativamente ao comportamento adaptativo (CA), nas definições que surgiram nas últimas décadas, verifica-se que a importância dada a este conceito foi aumentando, ilustrando a preocupação com o funcionamento global do indivíduo (Morato et al, 1996). Luckasson et al (1992 in Santos, 2007) assumem que o funcionamento do indivíduo com DID possui uma relação direta com as (in)capacidades intelectuais e competências adaptativas, bem como com os envolvimentos onde ocorrem as suas interações e onde se encontra socialmente inserido, dando também enfoque na prestação de apoios necessária para a funcionalidade do indivíduo.

Assim, verifica-se uma tendência para a maior importância representada pelo CA perante o envolvimento, definido não só pelos comportamentos adotados pelo indivíduo, como também pelas características físicas do meio, pelas inúmeras relações interpessoais e pelos diferentes papeis assumidos no processo do desenvolvimento humano (Santos & Morato, 2002).

É possível utilizar o CA eficazmente de modo a fornecer dados que permitam organizar uma estrutura baseada no indivíduo para estabelecer objetivos educativos, habilitativos e estratégias de apoio individualizadas, direcionando a atenção para um entendimento multidimensional do funcionamento humano (Tassé, 2012 in Tassé, Luckasson & Schalock, 2016).

Segundo Lambert, Nihira e Leland (1993 in Santos & Morato, 2002) o CA é “composto por um número de capacidades para lidar com as situações que quando combinadas permitem ao individuo a aquisição da integração na comunidade” (p.98), em três grandes áreas fundamentais: o funcionamento independente; a responsabilidade pessoal e a responsabilidade social.

(25)

A noção de CA, enquanto conjunto de habilidades que permitem a adaptação do sujeito às condições com as quais se confronta diariamente no seio do seu grupo sociocultural (Santos, 2007) e de acordo com o escalão etário onde se insere, denota uma continuação neste tipo de avaliação onde se procede à identificação do padrão e intensidade dos apoios que cada indivíduo necessita para que consiga participar ativamente nas atividades diárias e nos diversos envolvimentos onde se insere (Harries, 2005 in Santos & Morato, 2008).

Para Tassé (2012 in Tassé, et al., 2016) o CA é definido como um conjunto de habilidades conceptuais, sociais e práticas que foram aprendidas e são realizadas pelas pessoas diariamente. As habilidades conceptuais englobam capacidades relacionadas com a linguagem, leitura, escrita, conceitos de dinheiro, tempo e números. As habilidades sociais envolvem relações interpessoais, responsabilidade social, autoestima, credulidade, ingenuidade (naiveté) e resolução de problemas. As habilidades práticas abrangem as atividades da vida diária, atividades ocupacionais, utilização do dinheiro, cuidar da saúde, transporte/deslocações, cumprimento de horários e rotinas e utilização do telefone.

2.2 Qualidade de Vida

O conceito de qualidade de vida (QV) tornou-se um ponto de referência quando se trabalha para a melhoria do bem-estar pessoal e psicológico das pessoas com DID. É largamente utilizado para a avaliação objetiva das necessidades individuais, dos níveis subjetivos de satisfação, dos resultados de programas, estratégias e atividades direcionadas para a melhoria da qualidade dos serviços, bem como na recolha de informações relevantes para orientar a providenciar serviços, elaborar e planear políticas viradas para a melhoria da QV e dos direitos das pessoas (Bigby et al., 2014; Brown et al. 2013; Buntinx & Schalock, 2010; Claes et al., 2010; Gómez et al., 2012; Luckasson & Schalock, 2013; Schalock et al., 2007; Van Loon et al., 2013; Verdugo et al., 2012 in Gómez et al., 2016).

A QV é um estado desejado de bem-estar pessoal que é multidimensional, comporta propriedades éticas universais e culturais, tem componentes objetivas e subjectivas, e é influenciada por fatores pessoais e ambientais (Schalock & Verdungo, 2002). O conceito de QV é um constructo social, algo que foi construído pela mente humana e que tem significado para aqueles que a entendem e a empregam, podendo ser medida por um conjunto de indicadores. A medição da QV nas pessoas com DID reflete uma variedade de indicadores normalmente associados aos domínios da vida diária,

(26)

sendo importante utilizar métodos de medição objetivos e subjetivos para uma melhor compreensão da QV de um indivíduo. Os métodos objetivos, ou seja, aqueles que são possíveis de observar e verificar separadamente, tendem a satisfazer o critério da confiabilidade, mas conferem alguns entraves para a medicação da QV se usados isolados. Os métodos subjetivos, ou seja, a perceção individual, tem uma credibilidade que emerge do facto de que representam o modo como um indivíduo, e apenas o indivíduo, percebe/vê o outro, as coisas, os problemas e as situações (Schalock et al., 2002).

Relativamente ao fator multidimensional, Schalock e Verdugo (2002), baseados na meta-análise de vários indicadores de QV encontrados na literatura, definiram oito domínios principais: bem-estar emocional, relações interpessoais, bem-estar material, desenvolvimento pessoal, bem-estar físico, autodeterminação, inclusão social e direitos. Existe também um consenso de que estes oito domínios principais são valorizados pelos indivíduos de forma diferente e que o valor atribuído a cada um varia ao longo da vida (Elorriaga, Garcia, Martinez, & Unamunzaga, 2000; Flanagan, 1982; Stark & Goldsbury, 1990 in Schalock & Verdugo 2002).

Os indicadores de QV são perceções, comportamentos ou condições específicas de uma dimensão que refletem a perceção de uma pessoa sobre o seu próprio grau de qualidade de vida. A medição da QV é baseada na avaliação da perceção do status dos indicadores de qualidade (com base em autoavaliações ou informações de terceiros) (Schalock & Verdugo 2002, 2007).

Estudos recentes têm avaliado a natureza hierárquica do conceito QV. Com base em dados interculturais (Wang et al., 2010; Gomez, Verdugo, Arias & Arias, 2011 in Schalock et al., 2016), foram identificados três fatores de nível superior: a Independência (abarca o desenvolvimento pessoal e autodeterminação); a Participação Social (envolve as relações interpessoais, inclusão social e direitos) e o Bem-estar (engloba o bem-estar emocional, físico e material).

A Organização Mundial da Saúde define a QV como: "... a perceção do indivíduo da sua posição na vida no contexto da cultura e o sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações" (The WHOQOL Group, 1995 in Fleck, 2000, p.34). Esta definição deixa implícita a ideia do conceito subjetivo, multidimensional e inclui elementos de avaliação tanto positivos como negativos. Também reflete a subjetividade do constructo inserida no contexto cultural, social e do meio ambiente.

(27)

Historicamente, a QV foi usada principalmente como um conceito que dava sentido à referência do que era valorizado e desejado da perspectiva do indivíduo. Durante a última década, o seu papel foi alargado para construir um quadro conceptual que permite a avaliação de resultados, constituindo um construto social orientador para a melhoria da qualidade de prestação dos serviços.

Desta forma a QV é considerada um agente de mudança social que encoraja a sociedade a pensar de modo diferente sobre as pessoas com DID, que permite orientar as mudanças ao nível da política e práticas de atuação junto deste indivíduos (Schalock & Felce, 2004 cit. in…) e minimizar desigualdades sociais (Emerson et al., 2005 cit in Lyons).

Segundo Schalock et al. (2008 cit in Lyons, 20) várias organizações (de educação, reabilitação residenciais) têm vindo a fazer alterações nas suas políticas relacionadas com os serviços e apoios prestados à pessoa com DID, adotando práticas baseadas em evidências, com enfoque na melhoria de resultados pessoais, daí salientamos a importância da avaliação da QV na organização e nos diversos serviços prestados em estruturas de reabilitação e em particular a adoção d avaliação baseada na QV no que respeita à prática psicomotora pela mediação artística.

Assim, as boas práticas parecem estar alinhadas com boas políticas e boa investigação tal como descrito por Schalock et al. (2008) in Lyons (2011) e incluem, entre outras medidas: apoio individual como ferramenta para aumentar a QV; a comunidade como um contexto para uma vida de qualidade; organizações que funcionam como pontes para a comunidade; planeamento centrado na pessoa, apoios individualizados e envolvimento da família nos serviços de planificação e avaliação.

O principal objetivo para qualquer individuo é de desfrutar e ter uma boa qualidade de vida. Para as pessoas com DID as instituições e organizações, como as Cerci’s, ocupam um papel fundamental no acesso e facilitação deste processo. Segundo as diretrizes da AAIDD (2018), passiveis de serem adoptadas por qualquer organização/estrutura as pessoas com DID devem ter a oportunidade para levarem a cabo uma vida que lhes ofereça uma qualidade de vida significativa, ou seja, devem receber, em todas as fases da sua vida, o apoio, incentivo, oportunidade e recursos para explorar e definir como querem viver e com quem querem viver a vida; escolher e direccionar os serviços e apoios de que necessitam e recebê-los onde e quando necessitam; levar uma vida preenchida por amigos e familiares e ter oportunidades para relacionamentos íntimos responsáveis; usufruir dos mesmos direitos e respeito pela

(28)

dignidade e privacidade, que as pessoas sem deficiência; ter oportunidade para desenvolver habilidades de autodeterminação e tomada de decisão bem como ter acesso a formação ao longo da vida; ter um emprego significativo. Deste modo, as políticas sociais, regulamentos e financiamentos disponíveis devem tentar promover estes resultados.

2.3 Revisão da Literatura: O impacto e/ou os benefícios da

dança na intervenção psicomotora e/ou qualidade de vida

das pessoas com DID.

Procedeu-se a uma pesquisa intensiva da revisão de estudos realizados, entre 2000 e 2017, relacionados com o impacto e/ou os benefícios da dança na intervenção psicomotora com pessoas com DID.

Para a presente análise foram realizadas pesquisas nas bases de dados da B-on, Scielo, RCAAP e Medline, utilizando como palavras-chaves (tanto em português como em inglês) “dificuldades intelectuais e desenvolvimentais”, “dança ou movimento expressivo ou dança terapia”, “psicomotricidade ou psicomotor”, “qualidade vida”; “revisão sistemática ou meta-análise”.

Os critérios para inclusão dos estudos para análise foram:

a) População alvo com diagnóstico com DID:

Estudo de intervenção com componente experimental com e sem grupo de controlo, preferencialmente com dois momentos de avaliação (pré e pós teste)

ou meta-análise/revisão sistemática dos benefícios/efeitos da

dança/movimento terapia na população com DID;

b) Enfoque na dança/movimento expressivo e que promovam/estejam descritos benefícios para qualidade de vida e/ou área psicomotora;

c) Realizados entre 2000 e 2017.

Não se colocaram restrições relativamente à idade e género da população alvo, duração da intervenção. Foram analisados artigos e estudos publicados e não publicados.

Como apresentado na figura 1, a pesquisa eletrónica nas bases de dados identificou 538 publicações que continham as palavras-chaves e uma busca manual encontrou 29 estudos potencialmente relevantes. Após remoção dos registos duplicados

(29)

permaneceram 438 estudos. Fez-se o rastreio dos artigos através da leitura dos seus títulos e resumos,

identificando-se 42 estudos

potencialmente relevantes para análise, tendo-se procedido à sua leitura na íntegra. Destes, 6 artigos cumpriam os critérios de inclusão, sendo que três são estudos de intervenção com avaliação pré/pós intervenção (Claro, 2012; Lamond, 2010), um com grupo de controlo (Barnet-Lopez, Testor, Sanromà, Ovied & Balic, 2016), três são

revisões

sistemáticas/meta-análises (Fonseca, Liberali, Artaxo & Mutarelli, 2011; Hardee & Fetters, 2017; Koch, Kunz, Lykou & Cruz, 2014) que incluíam estudos com a população alvo pretendida

e/ou a área de intervenção

(dança), tal como apresentado na tabela 1. Os principais motivos para a exclusão dos artigos foram: não terem componente experimental e/ou os estudos limitarem-se a fazer somente uma descrição detalhada das sessões/observações realizadas durante a prática psicomotora; a população alvo dos estudos não ter diagnóstico de DID; o enfoque ser somente a análise de aspetos emocionais/ou sintomas clínicos. Para a análise final foi acrescentada a meta-análise de Ritter & Low (1996), excluída inicialmente devido à data de realização, mas posteriormente incluída nesta revisão devido ao conteúdo da mesma ser de grande relevância, fazendo-se deste modo a análise com base em 7 estudos.

Nos três estudos de intervenção incluídos nesta análise foram realizadas avaliações pré e pós intervenção, contudo somente um contemplava grupo de controlo. Relativamente à população alvo dois centraram-se em crianças e jovens (idades entre os 10-16 anos) com DID e multideficiência, e um em adultos com dificuldades intelectuais

Registros identificados na pesquisa de banco de dados (n = 538) Registros identificados noutras fontes (n = 29)

Registros após eliminar os duplicados (n = 438)

Estudos incluídos na análise quantitativa (n= 6) Estudos incluídos na análise qualitativa (n = 7) Registros rastreados (n = 438) Registros excluídos (n = 396) Artigos na íntegra avaliados para elegibilidade (n = 42) Artigos na íntegra excluídos (n = 36) - Sem componente experimental (20) - População alvo não correspondente (4)

- Sem enfoque área pretendida (11) - Data realização (1)

(30)

(idades entre 19-66 anos). O enfoque dos estudos, apesar de se centrarem na dança e movimento, tiveram objetivos diferentes, desde a análise do bem-estar emocional relacionado com a qualidade de vida (Barnet-López et al, 2016), avaliação do impacto em incluir dança no currículo da criança com multideficiência como forma de melhorar as suas capacidades (Lamond, 2010) e testar a aplicabilidade de um modelo de observação que permita identificar o impacto da dança em jovens com necessidades educativas especiais (Claro, 2012).

No programa realizado por Barnet-López et al. (2016) os resultados indicaram melhorias significativas no bem-estar emocional do grupo de intervenção, comparativamente ao grupo de controlo nas áreas das relações interpessoais, autoconceito, ansiedade, autoconfiança, identificação de emoções e consciência corporal, tendo sido considerado, que a intervenção pela dança e movimento é uma abordagem adequada no trabalho com adultos com DID por forma a proporcionar uma estrutura de suporte e melhorar o bem-estar emocional, influenciando diretamente a QV.

No estudo de Lamond (2010) é referido que cada sessão de dança focava a resposta corporal imediata das crianças relativamente aos sons e à música apresentada em que os participantes eram retirados das suas cadeiras de rodas permitindo uma maior liberdade de movimentos. No final do ano foram comparados os resultados das áreas de interação e trabalho com o outro; atenção; autonomia e capacidade de organização, do sistema de avaliação PIVATS© com os resultados obtidos no ano anterior nestas áreas, em que as crianças não beneficiaram de dança, havendo diferenças estatísticas significativas entre os dois resultados. Contudo, como os participantes beneficiavam de uma variedade de atividades na escola não conseguiram concluir que as diferenças se deviam somente à intervenção da dança. Os colaboradores da escola consideraram que o programa de dança contribuiu significativamente para as vidas dos participantes.

Em relação ao estudo efetuado por Claro (2012), observou-se que em todos os domínios existiu uma evolução positiva dos participantes, contudo da análise diferencial somente no domínio do sentimento de prazer e bem-estar é que foram registadas diferenças significativas entre o momento de observação inicial e final. Relativamente à fidedignidade da escala, todos os domínios apresentaram valores apropriados, situando-se a fiabilidade da escala nos quatro momentos de observação com valores bons e muito bons.

(31)

As duas meta-análises revistas têm como objetivo avaliar a eficácia da dança e movimento terapia bem como o uso da dança em contextos terapêuticos, referindo os efeitos na saúde, problemas psicológicos e físicos em amostras variadas (crianças,

adultos, idosos) e diagnósticos diferentes (doença mental, dificuldades

desenvolvimentais, doentes com cancro), sendo que cada meta-analise incluiu 23 estudos, todos com grupo de controlo e dados estatísticos necessários para a análise (Koch et al., 2014; Ritter & Low, 1996).

Koch et al. (2014) incluíram na sua meta-análise (23 estudos) dois estudos em população com perturbações do desenvolvimento em crianças dos 3 aos 7 anos e adultos dos 16 aos 47 anos, com enfoque nos efeitos da dança na imagem corporal, bem-estar, humor, afeto (Koch et al., 2013) e competência interpessoal (Hartshorn et al., 2001). Foi referido que nos estudos que analisaram o efeito da dança no bem-estar, humor e afeto (n=7) verificaram-se melhorias em todos, havendo consistência de dados nos vários estudos, sendo o mesmo citado nos seis estudos que analisaram a imagem corporal. Relativamente à competência social cinco estudos focaram este domínio, tendo concluído que a dança e o movimento terapia influenciam positivamente a área. Contudo, como os vários estudos não se centraram na mesma variável, não foi possível aferir a consistência, sugerindo mais investigação no tema.

Na meta-analise de Ritter e Low (1996) é mencionado que os inúmeros estudos referem os efeitos positivos da dança e movimento terapia em pessoas com deficiência intelectual, tais como melhorias nas capacidades físicas, coordenação, melhoria na realização de atividades da vida diária, da autoimagem e de habilidades ocupacionais. Nesta meta-análise foram incluídos quatro estudos com população com DID, com diferentes graus de funcionalidade que focavam os efeitos da dança no autoconceito, na consciência corporal e na qualidade do movimento. Num estudo é referido que a melhoria nos resultados da imagem corporal foi maior num grupo com deficiência intelectual que beneficiou de um programa anual de dança terapia do que o grupo de controlo que beneficiou de atividade física. Outro estudo reforça a ligação entre o corpo e a emoção, sendo observadas alterações psicológicas tais como o aumento da criatividade, da sensibilidade, da expressividade e da capacidade de liderança (Franklin, 1979; Kavaler, 1974; Ohwaki, 1976; Wislochi, 1981 in Ritter & Low, 1996).

Analisaram-se ainda dois artigos que fizeram uma revisão sistemática relativamente aos benefícios da dança e atividade física para a população com

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dificuldades intelectuais, nomeadamente trissomia 21 (Fonseca, Liberali, Artaxo & Mutarelli, 2011; Hardee & Fetters, 2017)

Na revisão sistemática de Fonseca et al. (2011) foram incluídos para análise 5 estudos, sendo que quatro apresentam amostra com diferentes faixas etárias de indivíduos com trissomia 21 e um centra-se em profissionais que trabalham com crianças com trissomia 21. Todos os estudos apresentaram aspetos positivos quer na manutenção, desenvolvimento e/ou melhoria de características clínicas, capacidades físicas, psicológicas e intelectuais que advêm da dança e movimento expressivo, nomeadamente potencialização da motricidade e equilíbrio, melhoria da perceção espácio-temporal, aumento das relações sociais, estimulação global do indivíduo. Constataram que a dança poderá ser uma excelente alternativa (terapêutica, desportiva e lúdica) para o trabalho com indivíduos com trissomia 21.

A revisão de Hardee e Fetters (2017) englobou 11 estudos com a população com trissomia 21 dos quais 3 tinham enfoque na dança. As amostras destes estudos tinham idades compreendidas entre os 3 e 14 anos e o tipo de intervenção variou entre aulas de artes cénicas, com enfoque na dança, voz e teatro; sessões de dança e fisioterapia focando as fases de aquecimento, atividades de solo, controlo postural, ballet, sapateado e tumbling, sessões com estrutura Laban, com base no espaço, peso, tempo e fluidez. Os autores concluíram que existe uma série de intervenções que contribuem para aumentar a participação e nível de atividade de indivíduos com trissomia 21 tais como, treino de bicicleta, dança, judo e treino de força. Estas são as atividades mais atraentes e motivantes para promover o cumprimento de um programa a longo prazo, contribuindo para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos. Foram encontrados em todos os estudos vários resultados positivos da intervenção pelo exercício, tais como melhorias do domínio do corpo, estrutura e funções (segundo a classificação internacional de funcionalidade), no equilíbrio, na resistência cardiovascular, na força e resistência muscular. Também houve melhorias nas habilidades motoras globais e específicas (escalada, andar de bicicleta, performance, salto, ritmo e dança); bem como melhorias no domínio da participação (avaliado com o PedsQL, Escala de Barreiras Emocionais e Cognitivas relativas ao Exercício, Escala de Perceção de Exercício e Escala de Satisfação de Vida).

(33)

Tabela 1 - Estudos selecionados, especificando a população alvo, instrumentos utilizados,

metodologia/enfoque e principais conclusões

Âmbito/Autor Participantes Instrumentos Métodos Resultados

Programa de Dança e Movimento Terapia na promoção do bem-estar (Barnet-Lopez, et al.,2016) Grupo de intervenção - 22 adultos com DID, idades: 19-66 anos. Grupo controlo - 20 adultos com DID, idades: 19-66 anos. Teste da Figura Humana de Koppitz Enfoque terapêutico. Grupo intervenção, 3 meses, 26 sessões de DMT, bissemanal – 60min. Aplicação teste pré e pós intervenção. Análise estatística descritiva e inferencial das variáveis. 95% nível de confiabilidade no estudo.

Os participantes com DID que frequentaram as sessões DMT apresentaram melhorias significativas relacionadas com vários aspetos emocionais tais como relações interpessoais, autoconceito, ansiedade, autoconfiança, identificação de estados emocionais e consciência corporal, melhorando o bem-estar emocional e influenciando diretamente a qualidade de vida. Avaliação de um programa de dança em jovens com necessidades educativas especiais (Claro, 2012) (Tese de Mestrado em Reabilitação Psicomotora)

7 jovens com DID, idades 14-16 anos, a frequentar o Ensino Especial LMA adaptada – Freedom to Move (Dunphy&Scott) Observação sessões dança/movimento e aplicação da grelha avaliação em 4 momentos distintos. Sessões movimento e expressão, semanal durante um ano letivo. Análise estatística e correlação dos dados.

Evolução positiva nos vários domínios. O domínio sentimento de prazer e bem-estar registou diferenças significativas entre o momento inicial e final. Quanto à aferição da grelha de observação, a fiabilidade da escala situa-se nos valores bons e muito bons. Avaliação do impacto da inclusão da dança no currículo de crianças com multideficiência (Lamond, 2010) 10 crianças, 10-16 anos com multideficiência, PIVATS © (Performance Indicators Value Added Target Setting) nas áreas: interação e trabalho com o outro, atenção, autonomia e capacidade organização Enfoque educativo. Sessões semanais de 60 minutos, com bailarinos da companhia de dança LUDUS durante um ano letivo. Foram comparados os resultados das áreas de interação e trabalho com o outro, atenção, autonomia e capacidade de organização dos valores do sistema PIVATS© com os resultados do ano anterior em que as crianças que não beneficiaram de dança, havendo diferenças estatísticas significativas entre os dois resultados. Como os participantes beneficiavam de várias atividades na escola não conseguiram concluir se as diferenças se deviam somente à intervenção da dança. No entanto, os colaboradores consideraram que a dança contribuiu significativamente para as vidas dos participantes.

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Figura 1 - Seleção dos estudos a incluir na análise
Tabela  1  -  Estudos  selecionados,  especificando  a  população  alvo,  instrumentos  utilizados,  metodologia/enfoque e principais conclusões
Tabela  1  (continuação)  -  Estudos  selecionados,  especificando  a  população  alvo,  instrumentos  utilizados,  metodologia/enfoque e principais conclusões
Tabela  1  (continuação)  -  Estudos  selecionados,  especificando  a  população  alvo,  instrumentos  utilizados,  metodologia/enfoque e principais conclusões
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