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Perceção de controlo na velhice: uma relação entre autoeficácia, autoestima e bem-estar psicológico

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO ALGARVE Faculdade de Ciências Humanas e Sociais Departamento de Psicologia e Ciências da Educação

María Mesa Fernández

Perceção de controlo na velhice: uma relação entre autoeficácia,

autoestima e bem-estar psicológico

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3 Resumo

Neste estudo, pretendemos caraterizar amostra de idosos da cidade de Huelva, Espanha, definindo o perfil de um idoso não dependente, e conhecer as relações entre a autoeficácia, autoestima e bem-estar psicológico como variáveis que influenciam o envelhecimento bem-sucedido. Participaram 148 idosos, procedentes da comunidade e da Universidade da Terceira Idade de Huelva, com idades compreendidas entre os 60 e 96 anos. Os dados foram recolhidos através dos seguintes questionários: Questionário ad hoc de dados sócio-demográficos e familiares; Batería Mínima de Evaluación en la Vejez

(BEV) de Fernández-Ballesteros, Reig e Zamarrón (2009); Escala de Autoeficacia para Envelhecer (Fernández-Ballesteros et al., 2009). Escala de Autoestima de Rosenberg

(1965) e Escalas de Bem-estar Psicológico (Psychological Well-Being Scales) – Versão

espanhola breve (Díaz, Rodríguez-Carvajal, Blanco, Moreno-Kiménez, Gallardo, Valle,

& van Dierendonck, 2006). Os resultados obtidos indicam-nos que um maior bem-estar psicológico tende a aumentar a autoeficácia que, por sua vez, é mediada pelo efeito da autoestima. A saúde percebida um preditor positivo da autoeficácia, e a sua vez, a saúde percebida é um promotor e protetor do bem-estar físico, psicológico e social. Os idosos que frequentam a Universidade da Terceira Idade apresentam maiores níveis de autoeficácia, assim como de saúde percibida. São discutidas as implicações para a promoção do bem-estar dos idosos e como os programas de intervenção, cognitivos e de participação, podem aumentar os níveis de autoeficácia, bem-estar psicológico e autoestima.

Palavras-chaves: Envelhecimento bem-sucedido; Idosos não dependentes; Universidade Sénior; Autoeficácia; Autoestima; Bem-estar psicológico.

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4 Abstract

In this study, our purpose is to establish a profile of the autonomous elderly people of district of Huelva, Spain, and analise the relations between the efficacy, self-esteem and psychological well-being as mediators that influence successful aging. In this study was participated 148 seniors, from the community and the Senior University of Huelva, aged between 60 and 96 years. Datas were collected through the following questionnaires: Ad hoc questionnaire of socio-demographic and family; Short questionnaire for evaluation aging, Fernandez-Ballesteros, Reig and Zamarron (2009); Self-efficacy scale for ageing (Fernandez-Ballesteros et al., 2009). Self-esteem scale of Rosenberg (1965) and scales Wellness Psychology - Spanish version (Díaz Rodríguez-Carvajal, Blanco, Moreno-Kiménez, Gallardo, Valle, & van Dierendonck, 2006).

The results obtained show that self-efficacy is positively related to psychological well-being, and the same time, this relation is mediated by the effect of self-esteem. The perceived health is a positive predictor of efficacy, at the same time, the self-perceived health is a promoter and protector of the physical, psychological and social well-being. The elderly that attended the Senior University had higher levels of self-efficacy and self-perceived health. The self-self-efficacy, self-esteem and psychological well-being can be increased through the cognitive and participation programs such Senior Universities, pensioner’s associations, neighbourhood’s associations, among others.

Key-words: Successful Ageing; Autonomous Elderly; Senior University; Self-efficacy, Self-esteem; Psychology Well-being.

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5 Agradecimentos

À luz profunda, à oscuridão radiante, ao mar calmo e à terra em tempestade. À inspiração e à criatividade. À vida e à morte. À minha musa, pilar e remo, que remamos a vento e marea. Por aquelas correções “orto-gramáticas” de português, paciência infinita e limitada e apoio incondicional. Obrigada nuvem! À minha grande família pelas forças inúmeras para seguir neste sonho suportando momentos de calma e tempestade e pelo apoio infinito e cálido que nunca deixar de dar pese à distância, coações ao ar!

A meus amigos que pelas palavras de apoio e suportar o meu stress quase diário. Às pessoas idosas que narraram sua história de vida e fizeram-me crescer e ver o mundo desde outra luz e visão. Aos professores, Cristina Nunes e Javier Pérez, pelas horas companhia, suporte de stress finito, apoio incondicional e revisão de miles de ideias que às vezes ficavam espanhadas e mais tarde recolhidas. À professora Susana Menéndez e a à “aula de la experiencia de la Universidad de Huelva”, pelo apoio e participação neste projeto. À Cruz Vermelha de Huelva, a Carmen Vázquez e Loren pela colaboração e pela oportunidade de assistir às atividades de envelhecimento saudável.

A todos seres que ajudaram e contribuiram para este sonho. Obrigada!

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6 ÍNDICE

INTRODUÇÃO ... 9

CAPÍTULO I. ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL ... 11

1. A velhice como fenómeno demográfico ... 12

2. A arte de envelhecer: o envelhecimento bem-sucedido ... 12

2,1. Indicadores do envelhecimento bem-sucedido ... 17

2,1,1. Bem-estar psicológico. ... 17

2,1,2. O processo de controlo auto-percebido na velhice. ... 20

3. A promoção do envelhecimento bem-sucedido em diferentes contextos ... 25

CAPÍTULO II. OBJETIVOS E HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO ... 29

CAPÍTULO III. METODOLOGIA ... 31

1. Desenho do estudo ... 32

2. Participantes ... 32

3. Instrumentos ... 32

4. Procedimentos ... 35

5. Plano de análise ... 35

CAPÍTULO IV. RESULTADOS ... 37

1. Caracterização dos participantes ... 38

2. Relações entre a autoeficácia, autoestima, bem-estar psicológico e variáveis sócio-demográficas ... 40

3. Diferenças entre os grupos de participantes. ... 46

4. Preditores da autoeficácia. ... 48

CAPÍTULO V. DISCUSSÃO ... 50

CONCLUSÕES ... 55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 58

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7 ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Descritivos da variável nível e frequência da atividade física. ... 39 Tabela 2. Descritivos das escalas utilizadas. ... 40 Tabela 3. Correlações entre as variáveis sócio-demográficas. ... 41 Tabela 4. Correlações entre as variáveis sócio-demográficas, a autoeficácia e autoestima. ... 42 Tabela 5. Correlações entre as variáveis sócio-demográficas e o bem-estar psicológico. ... 43 Tabela 6. Correlações entre as dimensões, autoeficácia, autoestima e o bem-estar psicológico. ... 44 Tabela 7. Regressões simples e múltipla das variáveis em estudo. ... 45 Tabela 8. Correlações parciais entre a autoeficácia e bem-estar psicológico, com a autoestima como variável mediadora. ... 45 Tabela 9. Comparação entre grupos relativas ao nível educativo e qualificação profissional entre os dois grupos de idosos. ... 46 Tabela 10. Comparações de médias entre grupos relativas ao nível da saúde percibida, atividade física, de cuidados e formal. ... 46 Tabela 11. Comparações de médias entre grupos relativas ao nível de autoeficácia e autoestima. ... 47 Tabela 12. Comparações de médias entre grupos relativas ao bem-estar psicológico. .. 48 Tabela 13. Modelo de regressão hierárquica múltipla da autoeficácia... 49

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Manutenção da capacidade funcional durante o curso da vida (Kalache e Kickbusch, 1997. Fonte: OMS (2002)... 14 Figura 2. Fatores determinantes do envelhecimento bem-sucedido (Fonte: OMS, 2002). ... 16 Figura 3. Esquema do processo de interiorização dos estereótipos na velhice (Fonte: Sáez, Meléndez & Aleixandre, 1994). ... 23 Figura 4. Nível Educativo e quailifação professional por grupos. ... 39

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8 ABREVIATURAS

AVD – Atividades de Vida Diárias.

BEP – Bem-Estar Psicológico.

BEV – Batería Mínima de Evaluación en la Vejez.

CRE – Cruz Vermelha Espanhola.

EAE – Escala de Autoestima.

EAEE - Escala da Autoeficácia para o Envelhecimento.

FEMP – Federação espanhola de Municípios e Províncias.

IMSERSO – Instituto de Idosos e Serviço Social.

INE – Instituto Nacional de Estatística.

OMS – Organização Mundial da Saúde.

PWBS - Escalas do Bem-Estar Psicológico.

SOC –Seleção, Otimização e Compensação.

UAlg – Universidade do Algarve.

UHU – Universidade de Huelva.

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9 INTRODUÇÃO

“Saber envelhecer é a maior sabedoria e um dos mais difíceis capítulos da grande arte de viver”

(Hermann Melville).

A investigação empírica tem vindo a demonstrar que envelhecer não significa ser dependente, mas sim ter diferentes necessidades (v.g. Bandura, 1986; Baltes, 1987; OMS, 2002; Lima, 2004; Fernández-Ballesteros, 2006; Fernández-Ballesteros et al., 2010). É neste sentido que surgem intervenções, dentro do conceito do envelhecimento bem-sucedido (OMS, 2002), para a promoção da independência e autonomia e a redução dos estereótipos na velhice, através de políticas de promoção de saúde física e psicológica, prevenção do isolamento e promoção de relações sociais e comunitárias. Um exemplo destas intervenções são os programas educativos realizados pela Universidades da Terceira Idade (UTI).

Neste sentido, a presente dissertação enquadra-se dentro do projeto de investigação “Bem-estar em idosos não dependentes”, que está a decorrer entre a Universidade de Huelva (UHU) e a Universidade do Algarve (UAlg), dirigido pela Dra. Susana Menéndez e pela Dra. Cristina Nunes, respectivamente. Trata-se de um estudo descritivo, transversal, correlacional, com o intuito de conhecer o processo de controlo auto-percebido na velhice, mais concretamente a autoeficácia e a sua relação com a autoestima e o bem-estar psicológico.

As investigações desenvolvidas até ao momento nesta área indicam-nos que a autoeficácia é relativamente estável no percurso vital, estando a autoeficácia da saúde relacionada negativamente com a idade, isto é, quanto mais velhos somos, menos confiança temos nas nossas capacidades para resolver problemas relacionados com a saúde (Bandura, 1986).

No que concerne à estrutura da dissertação, no enquadramento conceptual exporemos as definições, conceitos, relações, consequências e estudos sobre o envelhecimento bem-sucedido, bem-estar psicológico e autoeficácia. No capítulo III estabeleceremos o problema, hipóteses e objetivos da investigação. No aquarto descreveremos a metodologia utilizada para cumprir os objetivos propostos, apresentando a caracterização da amostra, grupos constituídos e instrumentos utilizados, encerrando-se com uma descrição dos procedimentos adotados. Os resultados serão apresentados no capítulo

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10 quinto e serão analisados e relacionados com os modelos teóricos no capítulo da discussão. Nos capítulos finais apresentaremos as conclusões e as referências bibliográficas, utilizadas para a elaboração desta dissertação.

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Capítulo I.

Enquadramento Conceptual

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12 1. A velhice como fenómeno demográfico

O envelhecimento populacional é um fenómeno mundial que tem vindo a merecer maior atenção a partir da segunda metade do século XX (Organização Mundial da Saúde [OMS], 2002). Por volta do ano 2050, estima-se que a população mundial de pessoas maiores de 60 anos se triplicará, passando dos 605 milhões a 2000 milhões, 400 milhões terão 80 ou mais anos de idade, e passarão de 11% a 22% da população (OMS, 2015). Na Europa incrementará de 18% para 28% e os maiores de 80 anos passarão de 5% a 12% (EUROPOP 2103, 2014), sendo a Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Espanha os países com a cifra mais elevada de idosos e a Alemanha, Itália, Portugal, Grécia e Suécia os países mais envelhecidos (Abellán-García, Vilches-Fuentes, & Pujol-Rodríguez, 2014). Este incremento populacional deve-se ao aumento da esperança média de vida, a um decréscimo do índice de natalidade e da morbilidade dos idosos e ao fluxo de migrações, originando que em muitos países convivam diversas gerações, as quais possuem necessidades variadas, exigindo políticas sociais diferentes, e representando desafios na saúde pública (OMS, 2002, EUROSTAT, 2012, EUROPOP 2013, 2014).

Em Espanha e Portugal tem vindo a aumentar o número de pessoas idosas e em consequência a taxa de dependência. Em Portugal 19,9% da população é maior de 65 anos (INE, 2014), do mesmo modo, em Espanha, 18,2% da população é idosa estimando-se que existam 8,5 milhões de pessoas maiores de 65 anos. Segundo as projeções demográficas do INE de Espanha (2014), no ano de 2065, 38,7% da população espanhola terá mais de 65 anos (Abellán-García et al., 2014). Embora a taxa de dependência tenha vindo aumentar nos nossos países, envelhecer não significa ser dependente. O INE de Portugal (2011) e o INE de Espanha (2012) mostram que 71,2% e 73,9% da população, respetivamente, é independente ou autónoma, isto é, não possuem doenças graves ou demências, nem necessitam apoio ou ajuda de outras pessoas para as atividades de vida diária (AVD), tais como, comer, assear-se ou levantar-se.

2. A arte de envelhecer: o envelhecimento bem-sucedido

O envelhecimento é um fenómeno multidimensional, entendido como um processo vital inerente ao ser humano, não exclusivo da última etapa do ciclo vital, pois as pessoas começam a envelhecer desde o nascimento (Simões, 2006). O envelhecimento saudável ou bem-sucedido está relacionado com o conceito do envelhecimento ativo e na literatura encontramos muits termos para o designar: envelhecimento com éxito, envelhecimento ótimo, envelhecimento produtivo, envelhecimento positivo e envelhecimento

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bem-13 sucedido, entre outros, sem existir uma definição e um modelo consensual entre os investigadores (Fernández-Ballesteros, 2008).

O conceito de envelhecimento ativo foi adotado no final do século XX, e a primeira conceptualização e a categorização de determinantes de envelhecimento ativo foram feitas respetivamente por Havighurst e Palmore, na década dos 60 e 70 (Fernández-Ballesteros, 2009). A definição mais ampla e aceite foi proposta pela OMS (2002, p. 74), definindo o envelhecimento ativo ou envelhecimento bem-sucecido como “o processo de

optimização das oportunidades da saúde, participação e segurança, com a finalidade de melhorar o bem-estar e a qualidade de vida segundo a pessoa que envelhece”. O conceito

de “ativo” faz referência à participação contínua da pessoa no seu meio a nível social, económico, cultural, físico e espiritual (OMS, 2002).

Como explica Kalache e Kickbush (1997), e tem sido recolhido e descrito pela OMS (2002) no documento de envelhecimento bem-sucedido e mostrado na Figura 1, o envelhecimento bem-sucedido é explicado através de um modelo teórico processual, baseado na perspectiva do ciclo vital (life-span), de Baltes e Baltes (1987), assumindo que as pessoas envelhecem de modo diferente, sendo os idosos um grupo muito heterogéneo, onde a diversidade tem tendência a aumentar com a idade, devido à concepção ontogénica, dinâmica, multidimensional e multidirecional do desenvolvimento humano, influenciado pela experiência vital e por fatores socioculturais, genéticos e biológicos. Assim, deste modo, a velhice é definida como um processo dinâmico de perdas e ganhos em algumas áreas, podendo estas ser compensadas pela capacidade de adaptação, pela experiência de vida (Baltes, 1987) e pelo incremento da sabedoria (OMS, 2002).

O declínio das funções está fortemente determinado por fatores relacionados com o estilo de vida na vida adulta, como o tabagismo, nível de atividade física e dieta, e a fatores externos e ambientais (OMS, 2002). Assim, na velhice, a manutenção de um alto nível de funcionamento, com independência e bem-estar deve-se a que no processo vital se alcançaram altos níveis de desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social. Em contrapartida, as pessoas que não alcançam altos níveis de desenvolvimento pessoal e de capacidade funcional poderão ultrapassar o limiar da incapacidade através da experiência de vida, por exemplo através da idade e da sabedoria (OMS, 2002).

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*As mudanças no ambiente podem diminuir o limiar da deficiência, e reduzir o número de pessoas com incapacidade.

Figura 1. Manutenção da capacidade funcional durante o curso da vida (Kalache e Kickbusch, 1997. Fonte: OMS (2002)

Esta conceptualização é compatível com o modelo da Seleção, Otimização e Compensação (SOC)1 de Baltes (Baltes 1987; Baltes, 1997; Baltes & Freund, 2007), modelo referencial do paradigma do desenvolvimento ao longo do ciclo vital e do envelhecimento bem-sucedido (Baltes 1987, 1997; Baltes & Freund, 2007). Definido como um modelo do envelhecimento bem-sucedido,explica como as pessoas se adaptam à velhice através de três mecanismos adaptativos: a seleção, optimização e compensação. Para esta adaptação, além destes três mecanismos, é fundamental ter em consideração a experiência de vida, fonte de diferenças individuais na forma de envelhecer ao longo do ciclo vital (Baltes, 1987, 1997; Baltes & Freund, 2007). Assim, o indivíduo otimiza os próprios recursos durante a infância e adolescência, maximizando estes recursos ao longo da vida adulta, e posteriormente, compensando eventuais perdas para manter um ótimo funcionamento na velhice e ultrapassar o limiar da incapacidade.

A seleção é um mecanismo presente ao longo do desenvolvimento e consiste no desenvolvimento, elaboração e compromisso para com as metas estabelecidas pelo indivíduo permitindo escolher as relações, atividades, profissão, em função das preferências, habilidades, saúde, ambiente, entre outros, tendo presente as limitações e recursos se possuem. Distinguem-se dois tipos de seleção: a seleção eletiva e a seleção baseada em perdas. No que respeita à primeira, a pessoa procura o equilíbrio entre suas necessidades e desejos e os recursos de que dispõe. Este mecanismo, no que diz respeito

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15 às perdas, atua quando as competências da pessoa diminuem ou estão danificadas, e suas necessidades e preferências têm de se adaptar a uma nova situação.

A optimização, faz referência ao esforço ao longo do desenvolvimento e crescimento da pessoa para a melhoria contínua dos seus conhecimentos, habilidades, capacidades e recursos tido como relevantes para se alcançarem as metas propostas através da prática, adquirindo e integrando as capacidades, conhecimentos, habilidades e recursos aprendidas.

Por último, a compensação é um mecanismo que permite neutralizar as perdas e declínio, possibilitando manter um nível tido como adequado de funcionamento, através do uso de meios alternativos de resposta, mudando as estratégias utilizadas anteriormente para alcançar as metas por outras mais adequadas, e permitindo manter um funcionamento correto.

O modelo de envelhecimento bem-sucedido descrito pela OMS (2002) contempla o seguinte conjunto de fatores e determinantes biopsicossociais que influenciam o envelhecimento bem-sucedido:

a) Fatores transversais. Referem-se aos valores culturais e tradições específicas que influenciam os comportamentos intergeneracionais e os comportamentos saudáveis vg. as famílias asiáticas convivem diferente gerações numa mesma residência; o tabagismo ser aceite socialmente influencia a conduta de fumar. O sexo é também um fator transversal, pois em muitos países, o papel da mulher repercute no nível de saúde e na contribuição da pobreza devido ao papel assumido nos cuidados familiares, por contrapartida, os homens estão expostos a sofrer doenças incapacitantes devido aos comportamentos de risco como o tabaco, álcool e drogas.

b) Fatores relacionados com os sistemas de saúde e os serviços sociais. Para a promoção do envelhecimento bem-sucedido é crucial a promoção da saúde e prevenção de doenças ao longo do ciclo vital através do acesso equitativo aos serviços de saúde e à assistência de longo prazo, oferecendo um suporte de cuidados formais/informais às pessoas dependentes, assim como possibilitar o acesso aos serviços de saúde mental aos cuidadores das pessoas idosas dependentes e aos idosos que possam sofrer depressão com o intuito de prevenir o suicídio.

c) Os fatores comportamentais. Referem-se aos comportamentos relacionados com a saúde como o tabagismo, a atividade física, a alimentação saudável, o consumo de álcool, a ingesta de medicamentos e à adesão terapêutica.

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16 d) Fatores relacionados com aspetos pessoais. Referem-se aos processos biológicos e genéticos inerentes ao envelhecimento. Também alude aos fatores psicológicos como a inteligência e a capacidade cognitiva, a autoeficácia e as estratégias de coping.

e) Fatores relacionados com o ambiente social. Referem-se ao apoio sócio-familiar, às oportunidades de educação e alfabetização, à promoção da segurança e à prevenção da violência e maus tratos como fatores que estimulam a saúde e a participação, prevenindo o isolamento social, analfabetismo e as deficiências e morte precoce provocadas por conflitos.

f) Os fatores relacionados com o meio físico. A existência de espaços adaptados tanto urbanos como da própria residência propicia a proximidade com outras pessoas idosas e menos problemas de mobilidade física, bem como menor número de quedas e acidentes. g) Os fatores determinantes económicos aludem à renda como indicador da pobreza nas pessoas idosas, devido às reduzidas ou inexistentes pensões de reforma que pode ser atenuadas através do sistema de proteção social. Outro aspecto que recalça é a oportunidade de trabalho digno e o prolongamento da idade da reforma. A reforma pode abrir portas aos idosos qualificados a trabalhos em regime de voluntariadoem escolas, comunidades, negócios e organizações políticas e de saúde.

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17 3. Indicadores do envelhecimento bem-sucedido.

As investigações relativas ao envelhecimento bem-sucedido têm vindo a documentar no âmbito da qualidade de vida e da autoeficácia, conceitos relacionados com o bem-estar e com a adaptação ao processo de envelhecimento. Após a descrição e exposição da definição e modelos teóricos do envelhecimento bem-sucedido, nesta rúbrica vamos analisar em maior detalhe o bem-estar psicológico e a auto-eficácia, indicadores do envelhecimento bem-sucedido, alvo de estudo na presente dissertação.

3.1.O bem-estar psicológico e a qualidade de vida.

Nos estudos sobre a qualidade de vida na velhice, o bem-estar tem vindo a ocupar um papel central, sendo o bem-estar uma componente da qualidade de vida, e assim, um indicador importante no envelhecimento bem-sucedido (Lawton, 1983). Neste sentido, Lawton (1983) propõem um modelo de quatro dimensões inter-relacionadas na avaliação da qualidade de vida na velhice, estas são: condições ambientais, competência comportamental, qualidade de vida percibida e bem-estar psicológico ou subjetivo.

Dentro deste paradigma distinguimos o bem-estar objetivo, bem-estar psicológico e bem-estar subjetivo.

O bem-estar objetivo faz referência aos indicadores objetivos da qualidade de vida como os rendimentos, indicadores de saúde, emprego, residência e condições do ambiente (Kahneman, Diener, & Schwartz, 2003).

De acordo com Ryff (1989a, 1995, 2002), o Bem-Estar Psicológico (BEP), faz referência a uma visão eudámica do bem-estar, conceito relacionado com o desenvolvimento humano. O BEP é identificado a partir dos recursos psicológicos da pessoa como os processos cognitivos, afetivos e emocionais. Ryff (1989a, 1995, 2002) formulou um modelo multidimensional de seis dimensões psicológicas próprias do indivíduo e não componentes independentes que contribuem para o bem-estar. Estas são: (1) aceitação de si, refere-se aos sentimentos e atitudes positivas para consigo próprio e a vida passada; (2) autonomia, relaciona-se com a auto-determinação, necessária para manter a própria individualidade e saber enfrentar da melhor forma possível a pressão social. (3) O domínio do meio, refere-se à capacidade para criar ou escolher ambientes favoráveis para satisfazer as necessidades e desejos; (4) as relações positivas como à capacidade para manter relações próximas com outras pessoas, baseadas na empatia e confiança; (5) os objetivos de vida alude às metas e objetivos que dão sentido à vida; e

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18 (6) o crescimento pessoal, relaciona-se com o desenvolvimento pessoal, é definida como uma dimensão central do BEP.

Por outro lado, o Bem-Estar Subjetivo (BES), faz referência a uma visão hedónica do bem-estar, relacionada com a felicidade (Simões, 1992; Ryff, 2002). O BES inclui uma componente cognitiva e uma componente afetiva. A primeira, refere-se à satisfação com a própria vida, através da percepção e juízos de valor relativamente à qualidade de vida. A componente afetiva são as reações emocionais positivas e negativas face aos juízos de valor da própria qualidade de vida, que pode ser positiva ou negativa. Estas duas componentes, cognitiva e afetiva, são independentes e relacionadas entre si, onde os fatores sócio-demográficos explicam uma pequena parte do BES (Diener, 1984; Simões, 1992; Diener, Suh, Lucas & Smith, 1999; Simões, Ferreira, Lima, Pinheiro, Vieira, Matos & Oliveira, 2003). Em definitiva, o BES é uma avaliação pessoal da própria vida em termos de afetividade e de satisfação com a mesma. Assim uma pessoa com um elevado BES define sua vida como satisfatória, tem tendência a experienciar emoções positivas, e em raras ocasiões, experimenta emoções negativas (Diener, 1984; Diener, Suh, Lucas & Smith, 1999; Simões et al., 2003).

Diversos estudos empíricos, sobre o bem-estar e o envelhecimento bem-sucedido, tem vindo a demonstrar que as perdas decorrentes do processo de envelhecimento não implicam obrigatóriamente uma redução no bem-estar (Fernádez-Balesteros, 2006, 2008). O bem-estar tem vindo a ser estudado através de variáveis mediadoras sócio-demográficas e individuais que passaremos a descrever.

Bem-estar psicológico e variáveis sociodemográficas.

A idade, o sexo, o estado civil, o nível educativo e o apoio social são as principais variáveis sócio-demográficas no estudo do BEP.

Os estudos transversais sobre o BEP e a idade tem revelado uma correlação negativa entre as dimensões do BEP, excetuando na autonomia, que aumenta com a idade (Ryff, 1989a, 1995; Ryff, et al., 1999). Em contrapartida, o decrescimento das dimensões do crescimento pessoal, e em menor medida com o domínio do meio, pode ser causado pelo contexto, que limita as oportunidades para ter experiências significativas e manter o crescimento pessoal ou pode ser devido às mudanças inerentes ao ciclo vital, adaptando assim a perspectiva da pessoa, posicionando o eu real mais próximo do eu ideal (Ryff, 1989; Ryff, 1995; Meléndez, Tomás & Navarro, 2008; Meléndez, Tomás & Navarro,

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19 2011). Outras investigações, i.e., BASE (Baltes&Mayer, 1999), num estudo com pessoas dos 70 aos 100 anos de idade mostraram que existe uma relação pequena e inversa entre a idade e o BES.

Os homens apresentam valores mais elevados na autonomia, crescimento pessoal, aceitação de si (Ryff, 1989a; Meléndez, Tomás, & Navarro, 2011) e também no domínio do meio (Caprara et al., 2003 cit. in Fernández-Ballesteros, 2009). As mulheres pontuam mais na dimensão de relações positivas (Ryff, 1989a; 1995; Meléndez, Tomás & Navarro, 2011).

Por outro lado os idosos casados apresentam melhores níveis de objetivos de vida, crescimento pessoal, domínio do meio e aceitação de si (Meléndez, 1997; Molina-Sena & Meléndez, 2006; Tomás, Oliver, Navarro, Meléndez, & Molina, 2009) . Por outro lado as pessoas com maior nível de escolaridade apresentam níveis mais elevados de bem-estar psicológico, aceitação de si, objetivos de vida e crescimento pessoal (Ryff, Magee, Kling & Wing, 1999; Ryff, 2002;Tomás, Oliver, Navarro, Meléndez & Molina, 2009).

BEP e variáveis individuais.

Seguidamente mostramos os estudos realizados no campo do bem-estar psicológico e a atividade física, apoio social, voluntariado, personalidade e autoestima. Os estudos sobre a atividade física tem vindo a documentar que está relacionada positivamente com o bem-estar, e por sua vez modula os níveis de autoestima (Pérez, 2006). A atividade física aumenta o BES, melhora as capacidades de aprendizagem, o contacto social, melhora o autoconceito e a autoestima e contribui ao equilíbrio emocional e afetivo reduzindo os sintomas de ansiedade e a depressão (Pérez, 2006; McAuley et al., 2000; García, Marín, & Bohórquez, 2012). Diversos estudos têm demostrado que uma atividade física não vigorosa, como as caminhadas, os alongamentos e a tonificação muscular produz efeitos positivos no BEP (McAuley et al., 2000; Nishiguchi, et al., 2015).

Os estudos realizados no paradigma das tarefas simultâneas (Dual Taks)2, tem vindo a demostrar que uma atividade física e cognitiva melhora a memória e a função executiva, e em consequência, previne o risco de demência e promove as relações sociais (Nishiguchi, et al., 2015). As investigações realizadas sobre as relações sociais e apoio social revelam que as pessoas que sentem maior satisfação com a qualidade da rede de

2 Este Paradigma consiste na realização de duas ou mais tarefas de forma simultánea, partindo do pressuposto que uma tarefa pode interferir na outra. A interferência é entendida como o deterioro produzido na execução de uma tarefa.

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20 apoio social, apresentam melhores níveis de saúde percebida e, em consequência, maiores níveis de BEP (Clemente, Tartaglini, & Stefani, 2008).

Quanto à participação em atividades de voluntariado, os estudos tem vindo a revelar uma relação positiva entre o voluntariado e o bem-estar (Morrow-Howell, Hinterlong, Rozario & Tang, 2003), assim como na redução da mortalidade (Oman, Thoresen, & McMahon, 1999), mediante a redifinição de papeis sociais. Para que o voluntariado promova o BES deve ter um horário estabelecido, o compromisso e as tarefas devem ser definidas e adaptadas a cada pessoa, para evitar ser uma obrigação para o indivíduo (Morrow-Howell, Hinterlong, Rozario & Tang, 2003).

Os estudos de personalidade baseados no NEO-PI-R3 (Costa & McCrae, 1992), têm vindo a demonstrar que uma maior extroversão, um menor neuroticismo e uma maior estabilidade emocional são preditores da satisfação com a vida e com o bem-estar devido à sua função de auto-regulação e coping, que propiciam uma visão positiva da vida e uma adaptação à velhice e uma redução no risco de mortalidade na velhice.

As emoções positivas aumentam com a idade e geralmente as emoções negativas estão associadas à uma má saúde. (Wilson, Krueger, Gul, Bienias, Mendes de Leon & Evans, 2005).

Outras investigações sugerem que a autoestima constitui um fator central na obtenção de bem-estar e, adicionalmente, a existência de uma relação positiva entre ambas (Simões, et al., 2001; Fernández-Ballesteros, 2002) e entre a saúde com o bem-estar (Simões, et al., 2001; Simões et al., 2003). Os indivíduos que presentam níveis elevados de autoestima têm maior bem-estar, e vice-versa, e em consequência, apresentam uma boa saúde.

3.2. A perceção de controlo na velhice. A autoeficácia.

A perceção de controlo tem sido um construto muito estudado, refere-se às crenças pessoais acerca das próprias capacidades para exercer o domínio no meio e na própria vida e é uma capacidade psicológica adaptativa do processo de envelhecimento. Rothbaum, Weisz e Snyder (1982), definem-na como controlo primário, isto é, o esforço para controlar o meio e adaptá-lo as próprias necessidades. Estes autores consideram que

33 Teste de Personalidade NEO PI-R, acrónimo de Revised Neo Personality Inventory, construído por Paul Costa e Robert McCrae, 1992. Adaptado à população portuguesa por Magarida Pedroso Lima e António Simões em 2000 e adaptado à população espanhola por Agustín Cordero, Antonio Pamos e Nicolás Seisdedos em 1999. O teste conta de 240 ítens que avalia cinco domínios da Personalidade: Neuroticismo (N), Extroversão (E), Abertura à Experiência (O), Amabilidade (A) e Conscienciosidade (C).

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21 o controlo secundário, saõ os esforços para se adaptar ao meio em situações onde as metas não foram alcançadas ou ocorreram perdas.

A perceção de controlo é um fator explicativo da saúde objetiva, condição física, capacidade e competência subjetiva, assim como da qualidade de vida e envelhecimento bem-sucedido (Fernández-Ballesteros, 2008). A perceção de controlo integra os conceitos dependentes dos processos de auto-regulação da pessoa como o locus de controlo, a autodeterminação, o sentido de coerência, a confiança nas próprias capacidades e a autoeficácia, conceito explanado com maior detalhe nesta rubrica e alvo de estudo na presente dissertação (Fernández-Ballesteros, 2008).

A autoeficácia enquadra-se dentro da teoria social-cognitiva, a qual se define como às crenças e juízos da pessoa sobre as suas capacidades e influencia a sua atuação sobre o meio (Bandura, 1986, 1997). As crenças da autoeficácia regulam o pensamento, a motivação, o afeto e os processos de decisão, deste modo, a autoeficácia é um fator determinante que atua de forma independente das habilidades e integra sub-competências cognitivas, sociais e comportamentais com a finalidade de conseguir propósitos (Bandura 1986, 1997). A autoeficácia, em parte, está mediada pela autoestima, considerando-se que o nível de autoeficácia determina o grau de implicação e persistência numa tarefa, afetando a resolução da mesma e tendo uma repercussão na autoestima. Esta relação não sempre é uniforme, visto que uma pessoa pode considerar-se muito apta para uma atividade da qual não deriva um sentimento de auto-valia, vg. estar bem trinado para um jogo de futebol, ou julgar-se muito ineficaz sem que diminua o sentimento de auto-valia

vg. não saber surfar (Bandura, 1986). Assim, uma elevada autoeficácia possibilita uma

melhor percepção das próprias capacidades, com pensamentos motivadores para a ação. Por contrapartida, uma baixa autoeficácia evocará sentimentos negativos para superar as dificuldades, influindo negativamente na autoestima.

De acordo com Bandura (1997) existem quatro fontes das quais derivam os sentimentos de autoeficácia: 1) as experiências passadas concluídas com êxito; 2) as modelações vicárias; 3) a persuasão social, referente à exposição de juízos verbais dos outros; 4) os estados emocionais e fisiológicos como a ansiedade, depressão, cansaço e o

stresse, que proporcionam um feedback sobre a capacidade de realizar uma tarefa.

A autoeficácia desenvolve-se ao longo do ciclo vital (Bandura, 1986). Na infância, através da família como fonte de informação de autoeficácia, dos grupos de pares como meio privilegiado para expansão e validação da autoeficácia, e da escola como meio para desenvolvê-la. Na adolescência, a autoeficácia é desenvolvida através das experiências

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22 nas relações sociais; na adultez, mediante as rotinas estabelecidas que estabilizam as autoperceções de eficácia, por último, na velhice, através das re-avaliações da autoeficácia, conceito alvo de estudo na presente dissertação e será explicado na seguinte rúbrica.

3.2.1. A Autoeficácia na Velhice.

Na velhice algumas capacidades físicas, psicológicas e sociais diminuem (Baltes, 1987), requerendo re-avaliações da autoeficácia naquelas atividades onde as funções se encontram deterioradas. A re-avaliação compensa as perdas, através dos conhecimentos, capacidades e experiências adquiridas ao longo da vida (Bandura, 1986, 1997Baltes & Freund, 2007).

Na velhice também podem produzir-se avaliações erróneas no que se refere ao decréscimo da autoeficácia em algumas funções, i.e., capacidade executiva, sexual, força física, entre outras (Bandura, 1986). Esta diminuição da autoeficácia está muito relacionada com os estereótipos sociais e auto-estereótipos ou auto-perceçõesque influenciam negativamente o envelhecimento (Sáez, Meléndez, & Aleixandre, 1994; Fernández-Ballesteros, 2008; Caprara, 2009).

Os estereótipos na velhice são crenças, por norma negativas, sobre as funções e capacidades no processo de envelhecimento (Simões, 1990). Por contrapartida, os auto-esteriótipos são percepções sobre o envelhecimento da própria pessoa ao longo do seu processo de envelhecimento (Fernández-Ballesteros, 2008). Quando um estereótipo negativo é assumido pelo indivíduo, este começa a aceitar uma definição negativa de velhice e, em consequência, o indivíduo adapta uma imagem e comportamentos em consonância com o estereótipo, produzindo uma decréscimo do conceito, auto-estima e, por efeito, uma redução da auto-eficácia e do controlo sobre o meio (Sáez, Meléndez, & Aleixandre, 1994) (ver Figura 3).

A diminuição da autoeficácia favorece o aparecimento de processos auto-perpetuadores, decorrentes muitas vezes de profecias de auto-realização, originando um decréscimo do funcionamento cognitivo e comportamental (Bandura, 1986). Assim, a pessoa que se sente insegura na sua eficácia, limita as suas atividades e diminui o esforço para aquelas que realiza, resultando este processo uma perda progressiva de interesse e capacidades (Bandura, 1986).

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23 Figura 3. Esquema do processo de interiorização dos estereótipos na velhice (Fonte: Sáez, Meléndez & Aleixandre, 1994).

Levy e Wurm (cit. in Fernández-Ballesteros, 2008) sugerem que as pessoas com uma atitude e uma imagem positiva acerca do envelhecimento referem maior bem-estar devido ao reforço de controlo. Estas pessoas apresentam uma taxa média de sobrevivência de 7,5 anos superior àquelas que têm uma percepção negativa sobre o envelhecimento. Outras estudos, realizados nas Universidades da Terceira Idade sugerem mudanças dos estereótipos sociais e auto-esteriótipos, promovendo a auto-regulação emocional, o crescimento pessoal e incrementando o bem-estar das pessoas idosas (Fernández-Ballesteros et al., 2013).

O conceito de autoeficácia tem sido um dos mais estudados no âmbito do envelhecimento bem-sucedido, considerando-se um preditor adequado de um processo ótimo do envelhecimento (OMS, 2002). O sentimento de eficácia em situações quotidianas e os hábitos de atividade física são preditores de um adequado funcionamento cognitivo e do bem-estar (Bandura, 1986; Feldberg & Stefani, 2002; Santos, 2002; McAuley, Jerome, Elavsky, Marquez & Ramsey, 2003; Fernández-Ballesteros, 2008; Lachman & Agrigoali, 2010; Silva & Laurent, 2010; Reigal & Videra, 2011; Silva, Farias, Olveira & Rabelo, 2012).

A autoeficácia na saúde tende a diminuir com a idade devido às mudanças e perdas surgidas no processo de envelhecimento que não se conseguem compensar (Ballesteros, Díez-Nicolás, Caprara, Barbarenelli e Bandura, 2002, cit. in Fernández-Ballesteros, 2008; Lachman & Aguigroaei, 2010). As perdas de funcionalidade e de

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24 capacidade física podem potenciar a situação de dependência, devido ao sentimento de vulnerabilidade e de necessitar ajuda nas AVD (Santos, 2005), assim como o medo às quedas (Rodrigues & Ruscalleda, 2009), reduzindo o sentido de autoeficácia e, em consequência, o bem-estar.

De este modo, os indivíduos que apresentam níveis adequados de saúde tendem a possuir níveis elevados de autoeficácia, permitindo ao indivíduo participar ativamente em atividades físicas, sociais e recreativas e, em consequência, possuir um elevado BEP (Silva, Farias, Oliveira, & Rabelo, 2012). Deste modo, a autoeficácia tem um papel de proteção das condutas prejudiciais para a saúde e de promoção da atividade física (Reigal & Videra, 2011), mediante dois mecanismos (Fernández-Ballesteros, 2008):

a) A percepção da autoeficácia, em termos, de crenças sobre os benefícios psicossociais e físicos dos comportamentos saudáveis, que vai permitir e motivar a adesão e continuidade dos comportamentos saudáveis (Silva & Laurent, 2010; Mc Auley, Jerome, Elavsky, Marquez & Ramsey, 2003). Neste sentido, os sujeitos que realizam condutas baseadas em auto-avaliações de eficácia tendem a envolver-se e a manter comportamentos e atividades que favorecem o bem-estar físico, por contrapartida quando as ações são feitas de forma precipitada, sem ter em conta as próprias capacidades, o bem-estar físico é inferior (Bandura, 1986, 1997).

b) A convicção para poder atuar de forma adequada em situações stressantes, mediante a utilização de estratégias adequadas de coping promovendo o bem-estar (Navarro, Bueno, Buz & Mayora, 2006; Fernández-Ballesteros, 2008). Sentir confiança das próprias capacidades para resolver problemas futuros proporciona uma maior adaptação e flexibilidade em situações futuras difíceis, considerando-se a autoeficácia como um fator protetor do bem-estar (Navarro, Bueno, Buz & Mayora, 2006).

Feldberg e Stefani (2002) sugerem que os indivíduos que apresentam uma elevada autoeficácia cognitiva, no que respeita à memória verbal, conseguem manter um maior desempenho e um maior rendimento nas tarefas que requerem estas funções, além possibilitar uma maior participação nas atividades cognitivas e recreativas, como por exemplo ler, pintar, ouvir a rádio, ver a televisão, jogos de tabuleiros, assistir a exposições de arte ou colecionar objetos. Atividades estas que, ao permitir a interação e informação sobre o contexto em o que o indivíduo vive, aumentam a satisfação vital, potenciam as relações sociais, a saúde mental e o BES e, em definitiva, promovem um envelhecimento com éxito.

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25 Por outro lado, os indivíduos que apresentam níveis elevados em autoeficácia emocional, tendem a possuir uma maior capacidade para regular e expressar adequadamente as emoções em diferentes contextos, têm uma maior compreensão e gestão das relações interpessoais na vida quotidiana, promovendo o comportamento pró-social e as relações satisfactórias e o BES (Caprara, 2009).

4. A promoção do envelhecimento bem-sucedido em diferentes contextos

Para promover as políticas e programas de envelhecimento bem-sucedido que melhoram a saúde, a segurança e a participação, baseadas nos direitos, necessidades, preferências e capacidades dos idosos é necessário conhecer os modelos e indicadores do envelhecimento bem-sucedido, explicados nos capítulos anteriores. Neste capítulo definiremos e descreveremos os diferentes programas existentes, a nível nacional e internacional, para a promoção do envelhecimento bem-sucedido.

Os programas de promoção do envelhecimento bem-sucedido são criados a partir das orientações e diretrizes da OMS (2002), constituindo-se como uma oportunidade para promover a saúde, manter a forma física e mental, participar na vida local e prevenir a dependência (FEMP, 2007). Estes programas da OMS (2002) são de saúde, segurança e de participação.

Os programas de saúde têm o intuito de prevenir e reduzir a incapacidade, as doenças crónicas e a mortalidade, assim como reduzir os fatores de risco relacionados com as causas de doenças graves e promover os fatores de proteção através da formação e educação e a continuidade dos serviços sociais e as de saúde acessíveis.

Os programas de segurança pretendem assegurar a proteção, a segurança e a dignidade dos idosos através dos direitos e necessidades de segurança social, financeira e física, assim como reduzir as desigualdades sociais.

Os programas de participação tem o objetivo de proporcionar oportunidades de educação e aprendizagem ao longo do ciclo vital, reconhecendo e possibilitando a participação ativa em atividades de desenvolvimento económico, o trabalho formal e informal e as atividades de voluntariado, de acordo com as necessidades, preferências e capacidades individuais.

Os programas de aprendizagem ao longo da vida têm vindo a crescer progressivamente, sendo muito heterogéneos, comumente liderados por idosos e caracterizando-se por atividades sócio-educativas como formações, conferências, atividades intergeracionais, entre outros (IMSERSO, 2014). Dentro dos programas de

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26 aprendizagem ao longo da vida, encontramos os programas comunitários e as Universidades da Terceira Idade (UTI).

Os projetos comunitários abordam temas relacionados com a saúde, atividade física, artesanato, teatro, entre outros, sendo desenvolvidos na comunidade e dirigidos a pessoas idosas (IMSERSO, 2014). Mais especificamente, em Espanha estes programas são apoiados e desenvolvidos pelas autoridades estatais4 e municipais, assim como por outras instituições locais das quais são exemplo, as associações de vizinhos, culturais, recreativas, entre outras, departamentos desportivos, centros cívicos ou sindicatos.

Os estudos sobre o impacto dos programas comunitários têm vindo a revelar um aumento na saúde, redução dos riscos e níveis de dependência nas pessoas idosas e, em consequência, maior bem-estar (Wallace, Buchner, Grohaus, Leville, Tyl, LaCroix & Wagner, 1998; Cohen, Perlstein, Chapline, Kelly, Firth, & Simmens, 2006; Lutosa, Oliveira, Santaos, Guedes, Parentoni & Pereira, 2010; Nishiguchi, et al., 2015).

Os programas comunitários de educação para a saúde relativos à prevenção de acidentes na própria residência, hábitos saudáveis relativos ao consumo de álcool e tabaco, exercício físico e alimentação, promovem a saúde e previnem a incapacidade, melhoram a adesão à participação na atividade física, sendo este um fator importante na manutenção as saúde e funcionamento físico (Wallace et al., 1998).

Em relação aos programas comunitários que promovem uma atividade física não vigorosa nem intensa, como caminhadas, alongamentos e tonificação muscular melhoram o equilibro postural reduzindo as quedas (Lutosa et al., 2010) e, por sua vez, uma atividade física e cognitiva melhora a memória e a função executiva, prevenindo o risco de demência (Nishiguchi et al., 2015) e promovendo a independência da pessoa, reduzindo a morbilidade (Lutosa et al., 2010) e produzindo efeitos positivos no BES (Nishiguchi, et al., 2015). Os programas artístico-culturais comunitários tais como a pintura, a costura, o artesanato, a poesia e a escrita, contribuem para a promoção da saúde, reduzindo os fatores de risco, como a solidão e depressão, mantendo o nível de saúde e

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Os programas nacionais são desenvolvidos pelo Instituto de Mayores y Servicios Sociales (IMSERSO), com o intuito de melhorar a qualidade de vida e promover a autonomia. Os programas desenvolvidos são (IMSERSO, 2014):

a) Os programas de turismo social têm o intuito de melhorar a qualidade de vida dos idosos, através da participação em viagens e atividades turísticas.

b) Os programas de termalismo social, com o objetivo de facilitar o acesso aos tratamentos termais a preços reduzidos, previamente prescritos facultativamente, para atuar de forma preventiva, curativa ou reabilitadora de doenças crónicas e incapacitantes contribuindo para melhoria da qualidade de vida.

c) Os programas alternativos à instituição, como a tele-assistência domiciliária básica e a ajuda domiciliária básica (IMSERSO, 2014). A tele-assistência domiciliária é prestada através do telefone, para dar resposta imediata ante situações de emergência e prevenção do isolamento e solidão. A Ajuda domiciliária tem o objetivo dar resposta às necessidades da vida diária incrementando a autonomia, por exemplo, através da realização das ADV, a apoio na realização das necessidades domésticas e a atenção e apoio psicossocial.

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27 minimizando os declínios e, em consequência, reduzindo o nível de dependência nas pessoas idosas (Cohen et al., 2006).

As UTIs enquadram-se num contexto formal possuindo como objetivo potenciar a integração dos idosos no contexto sociocultural representando pela Universidade efavorecer a sua qualidade de vida através da atividade intelectual. As UTIs incluem uma vertente cultural que aumenta o acesso aos bens culturais e a promove atividades de cariz criativo, como o teatro, poesia, leitura e visitas a museus, lugares históricos, atividade física, e formação em disciplinas como psicologia, informática, sexualidade, entre outras (IMSERSO, 2005; 2014). A primeira Universidade Sénior foi fundada em Toulouse, França, em 1973, com o intuito de aumentar a qualidade de vida dos idosos, através dos programas educativos. Em 1975 foi fundada a Associação Internacional de Universidades da Terceira Idade (AIUTA), com o objetivo de favorecer a criação e desenvolvimento das universidades para idosos no mundo. Este conceito expandiu-se pela Europa, Estados Unidos da América (EUA) e Canadá. Em 1985 a Universidade de Quebec passou a ter um programa curricular oferecido pelas Universidades (Lemieux, 1997, cit. in Moreno-Tello, 2009).

Em Espanha, as primeiras aulas de extensão de idosos5 foram criadas no ano de 1978, sendo que a maioria não estava relacionada com as universidades, enquadrando-se nos dentro dos programas culturais de tempos livres e aperfeiçoamento de conhecimentos, cujo objetivo era o de entreter e incentivar as relações sociais entre os idosos, além de oferecer estratégias de como intervir na resolução de problemas. Desde a década de 1980 à atualidade, as aulas de extensão passaram a ter programas estruturados, organizados e regulamentados, com um plano de estudos específico e, em suma, com todas as características formais próprias do contexto universitário (Moreno-Tello, 2009; Requejo-Osório & Cabral-Pinto, 2007). Atualmente, em Espanha, existem programas universitários na maioria das cidades, havendo 43 aulas de extensão com 41,509 alunos inscritos (AEPUM, 2015).

A Aula de Extensão da Universidade de Huelva (AEHU), foi criada em 1999 sob o lema “Atreve-te a saber em qualquer idade”6, como um programa de desenvolvimento social, cultural e científico dirigido a pessoas maiores de 55 anos não inscritas no ensino superior. Os objetivos desta aula são os seguintes: 1) Formação integral a nível cognitivo

5 Tradução livre de Aula de la Experiencia. Nas aulas de idosos desenvolvem-se atividades de índole cognitiva e sociocultural. Noutros países são denominadas Universidades Séniors ou Universidades da Terceira Idade.

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28 e afetivo-social; 2) Propiciar o acesso à cultura, especialmente relacionada com o património andaluz, para melhorar a sua qualidade de vida e fomentar o lazer; 3) Integrar os idosos na universidade para promover a sua formação integral, conhecimento atualizado e enriquecimento pessoal; 4) Favorecer o bem-estar e igualdade de oportunidades, mediante o acesso à informação sobre saúde, comunicação e orientação pessoal, familiar e social (Moreno Tello, 2009).

Um dos resultados alcançado com as UTIs têm sido a mudança nos estereótipos relativos ao envelhecimento e às pessoas idosas, e a redução dos sentimentos negativos, pomovendo a auto-regulação emocional e o próprio crescimento pessoal, e por consequência, incrementando o bem-estar das pessoas (Fernández-Ballesteros et al., 2013). Outros estudos tem sugerido que as pessoas idosas das UTIs conseguem atualizar e adquirir novos conhecimentos e competências assim como complementar conhecimentos previamente adquiridos, estimulando o pensamento, além de criar e favorecer o estabelecimento de relações sociais o que permite atenuar o isolamento na velhice, estimular o sentimento de atividade, aumentar a percepção de autoeficácia, autoestima e o bem-estar dos idosos (Pérez-Albeñiz et al., 2015; Irigay & Schneider, 2008; Requejo-Osório & Cabral-Pinto, 2007).

Após analisarmos o envelhecimento bem-sucedido e fatores preditores do mesmo, elencando os seus conceitos principais e delineando a sua relação com a autoeficácia, autoestima e o bem-estar psicológico na velhice passaremos a descrever os objetivos e hipóteses do presente estudo.

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Capítulo II.

Objetivos e hipóteses de investigação

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30 II – OBJETIVOS E HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO

Após a revisão da literatura, definimos como objetivo geral do estudo conhecer os níveis, relações e diferenças entre os grupos de idosos não dependentes ao nível da autoeficácia, autoestima e bem-estar psicológico.

1. Objetivos específicos e hipóteses:

1. Caracterizar o perfil sociodemográfico de uma amostra de idosos não dependentes que frequentam a aula de extensão e outra de idosos que não a frequentam;

H1 - Os idosos da Aula de Extensión de la Univerisdad de Huelva (AEHU)

apresentarão um maior nível educativo, laboral, de saúde e de atividade física e formal;

2. Analisar, em função do grupo de idosos, as diferenças significativas nos níveis de autoeficácia, autoestima e bem-estar psicológico;

H2a - Os idosos da AEHU apresentarão níveis superiores de autoestima.

H2b – Os idosos da AEHU apresentarão níveis superiores de autoeficácia.

H2c - Os idosos da AEHU apresentarão níveis superiores bem-estar psicológico;

3. Analisar os factores que predizem a autoeficácia.

H3a – A saúde percebida será um preditor da autoeficácia.

4. Examinar as relações existentes entre a autoeficácia, autoestima, bem-estar psicológico e variáveis sócio-demográficas;

H4a – Existirão relações positivas e significativas entre a autoestima, autoeficácia e

bem-estar psicológico.

H4b - A autoestima será uma variável mediadora entre a autoeficácia e o bem-estar

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Capítulo III.

Metodologia

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32 III- METODOLOGIA

Desenho de Estudo

Trata-se de um estudo com um desenho transversal de plano descritivo e correlacional7. Permite-nos avaliar as relações existentes entre as variáveis e quantificá-las, sem poder estabelecer inferências causais entre as mesmas (Alferes, 1997).

Participantes

Para a concretização dos objetivos desta investigação, constituímos uma amostra por conveniência ou intencional, sendo os critérios subjacentes à constituição da amostra os seguintes: 1) ter idade igual ou superior a 60 anos de idade8; 2) ser residente no concelho de Huelva e 3) ser não dependente9. Neste estudo, seguindo os critérios anteriormente referidos, participaram 148 idosos maiores de 60 anos, não dependentes e residentes no concelho de Huelva, em Espanha. Desta amostra, 76 idosos eram procedentes da comunidade10 (51,40%), e os restantes 72 eram da AEUH (48,60%). A maioria eram mulheres, 75 (51,0%) e 72 eram homens (49,0%), com idades compreendidas entre os 60 e 96 anos, com uma idade média total de 70,34 anos (DP = 7,41).

Instrumentos

Questionário de dados sócio-demográficos e familiares.

Foi contruído um questionário ad-hoc que permitiu recolher a seguinte informação sobre os participantes: idade, sexo, estado civil, nível de estudos; onde e com quem vive;

7 Trata-se de um estudo correlacional por não haver manipulação das variáveis independentes (autoeficácia, autoestima e bem-estar psicológico) e por não existir controlo dos fatores classificatórios (variáveis associadas a diferenças individuais) através da aleatoriedade, sendo a amostra construida por grupos naturais.

8Embora a revisão da literatura expresse que a idade adulta avançada começa nos 65 anos, o projecto de investigação e o questionário decorrente considera pessoas maiores de 60 anos.

9 Quando falamos de idosos não dependentes referimo-nos aquelas pessoas que não possuem doenças graves ou demências necessitando de apoio e ajuda de outros para atividades de vida diária. Embora possam apresentar alguns problemas, são de pouca gravidade e estes são autónomos e independentes e abordam a velhice tratando de se manter ativos e implicados no seu contexto social.

10 Idosos do concelho de Huelva e idosos voluntários e utentes da Cruz Vermelha Espanhola de Huelva, pertencentes pontualmente aos programas de envelhecimento saudável (assistência domiciliária, escola de avós, formações e oficinas de envelhecimento ativo, atividades de seguimento médico como a monitorização de presão arterial e nível de glicémia). Estes idosos não eram estudantes da Universidade de Huelva.

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33 número de filhos, de netos e nível de contacto familiar e situação laboral anterior e atual e profissão.

Questionário breve por items da Batería Mínima de Evaluación en la Vejez (BEV) de Fernández-Ballesteros, Reig e Zamarrón (2009).

Questionário composto por 7 itens da BEV de Fernández-Ballesteros, Reig e Zamarrón (2009) que recolhe informação sobre o nível de autonomia, saúde, atividade física, atividades de cuidados informais e atividades na comunidade, como as atividades recreativas, cognitivas11 e de voluntariado.

O nível de autonomia foi avaliado por dois itens e recolhe informação sobre a necessidade, tipo e frequência de ajuda nas actividades da vida diária (v.g.,“Habitualmente, conta com o apoio ou ajuda de alguma pessoa para atividades

quotidianas como a limpeza da casa, a comida…?). O estado de saúde percebido foi

avaliado por três itens (v.g.,“No geral, diria que sua saúde é:”; “Em comparação com o

ano passado, como é sua saúde”). A atividade física foi avaliada por um item (“Como descreveria a sua atividade física durante o último ano?”), permitindo a recolha de

informação sobre o tipo de exercício físico que a pessoa realizava, regularidade e frequência do mesmo, medido em horas por semana.

Relativamente às atividades de cuidados informais, este questionário proporcionou também a recolha de informação sobre o nível de responsabilidade (primário, secundário, ocasional ou nenhuma) nas tarefas de cuidado relativamente a outras pessoas, como o parceiro, pessoa idosa ou netos (“Muitas pessoas da sua idade

dedicam uma parte do seu tempo a ocupar-se do cuidado e à atenção de outras pessoas da sua família. No seu caso, qual é o grau de implicação ou responsabilidade no cuidado de outras pessoas?”). As questões das actividades formais permitiram recolher

informação sobre a implicação e participação em actividades comunitárias voluntárias, recreativas e/ou cognitivas (v.g.,“Participa habitualmente em actividades desenvolvidas

desde associações, voluntariado, programas educativos, etc.?”).

Escala de Autoeficacia para Envelhecer (Fernández-Ballesteros et al., 2009).

Esta escala avalia o controlo do processo de envelhecimento estando constituída por dez itens, apresentados numa escala de quatro pontos (1= nada; 2=, 3= e 4= muito).

11 Quando falamos de atividades cognitivas referimo-nos aquelas atividades de estimulação cognitiva ou aquelas que requerem funções cognitivas como a poesia e a escrita.

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34 A pontuação total varia entre 10 e 40. Apresenta quatro dimensões: Saúde, itens 1 e 6, (v.g., “Perante um problema de saúde, creio que o poderei resolver”), Cognitivo, itens 3 e 9, (v.g., “Penso que poderei manter o meu rendimento intelectual como até agora”), Físico/funcional, itens 4, 8, 10, (v.g., “Creio que vou ser capaz de ser independente”) e Sócio-emocional, itens 2, 5, 7, (i.e., “Se tiver um problema nas minhas relações com a

família ou amigos serei capaz de resolvê-lo”). O estudo original (Fernández-Ballesteros et al., 2009) indica um adequado índice de validade, com um alfa de Cronbach de 0,84.

Na presente investigação, este instrumento evidenciou adequados níveis de validade, com α = 0,91 total, para a subescala de saúde α = 0,63, cognitivo α = 0,62; físico/funcional α = 0,81 e sócio-emocional α = 0,69.

Escala de Autoestima de Rosenberg (1965).

Criada inicialmente por Rosenberg para a avaliação da autoestima em adolescentes, esta escala avalia a satisfação que uma pessoa possui em relação a si mesma (v.g., “Sinto-me uma pessoa tão valiosa como as outras”; “Creio que tenho algumas

qualidades boas”; “No geral, sinto-me satisfeito comigo mesmo”). É composta por dez

itens, apresentados numa escala de quatro pontos (1 = muito de acordo, 2 = de acordo, 3 = em desacordo, 4 = totalmente em desacordo) e formulados em positivo e negativo. Para a sua correção, devem inverter-se as pontuações dos itens enunciados negativamente (2, 5, 8, 9, 10) e posteriormente somar as pontuações positivas. A pontuação total tem uma amplitude que varia entre os 10 e os 40 pontos. A versão espanhola apresenta níveis elevados de consistência interna entre 0,80 e 0,87 (Atienza, Moreno & Balaguer, 2000; Baños & Guillén, 2000; Vázquez, Jiménez & Vázquez-Morrejón, 2004). A análise da fiabilidade da escala no presente estudo revelou valores aceitáveis α = 0,74.

Escalas de Bem-estar Psicológico (Psychological Well-Being Scales) – Versão espanhola breve (Díaz, Rodríguez-Carvajal, Blanco, Moreno-Kiménez, Gallardo, Valle, & van Dierendonck, 2006).

A Escala de Bem-estar Psicológico, proposta por Ryff (1989) e adaptada numa versão breve à população espanhola por Díaz e colaboradores (2006), avalia o bem-estar psicológico com 29 questões, numa escala de seis pontos (de 1=totalmente em desacordo a 6=totalmente de acordo), distribuídas por seis subescalas: Aceitação de si, itens 1-7-17-24 (v.g., “Quando revejo a história da minha vida estou contente como têm resultado as

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tenho poucos amigos íntimos com quem partilhar minhas preocupações”); Autonomia,

itens 3-4-13-18-23 (v.g., “Não tenho medo de expressar as minhas opiniões, inclusive

quando são opostas à da maioria das pessoas”); Domínio do meio, itens 5-10-14-19-29

(v.g., “Custa-me organizar a minha vida de uma forma que me resulte satisfatória”); Crescimento pessoal, itens 21-26-27-28 (v.g., “No geral, com o tempo sinto que continuo

a aprender mais sobre mim próprio”) e Objetivos de vida, itens 6-11-15-16-20 (v.g., “Desfruto ao fazer planos para o futuro e trabalhando para torna-los realidade”). Na

versão breve, os níveis de consistência interna das subescalas aumentaram os da versão original, variando entre 0,70 e – 0,74. No presente estudo, a análise da fiabilidade evidenciou um valor total adequado (α = 0,86) e valores adequados para as subescalas que a compõem, de aceitação de si (α = 0,80) e objetivos de vida (α = 0,82), não tendo sido considerados aceitáveis os índices das subescalas autonomia (α = 0,41); domínio do meio (α = 0,48); crescimento pessoal (α = 0,53); relações positivas (α = 0,26).

Procedimentos

A recolha de dados realizou-se através de um protocolo intitulado “Circunstâncias Vitais e Bem-estar nas Pessoas Idosas”, que incluía as medidas acima descritas, de acordo com o seguinte procedimento: Em primeiro lugar contactámos com as instituições para solicitar sua participação, no que concerne à CRE de Huelva, em conjunto com os técnicos seleccionamos os idosos não dependentes da base de dados de utentes e voluntários maiores de 60 anos e solicitamos autorização aos técnicos responsáveis dos projetos para fazer a recolha em vários dias. Uma vez concertados os dias de entrevista12 com os idosos, informámos sobre a colaboração voluntária, os objectivos da investigação e a confidencialidade e anonimato das respostas. Os questionários foram aplicado por entrevista que durou aproximadamente 45 minutos, No que concerne à UHU os questionários foram preenchidos pelos participantes num só dia, previamente concertado.

Plano de análise

Os dados recolhidos foram analisados através do programa SPSS® (Statistical

Package for the Social Sciences), através de análises específicas, segundo as variáveis,

os seus níveis e relações. Em primeiro lugar, descrevemos os dados relativamente às características gerais dos participantes, nomeadamente os dados sócio-demográficos, e

12 A maioria dos idosos comunitários não eram escolarizados e não conseguiam ler e/ou compreender as perguntas para a realização do questionário de modo auto-aplicável.

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36 dos instrumentos utilizados. Para as variáveis quantitativas foram feitas análises descritivas utilizando a média, mediana, máximo, mínimo e desvio padrão. Para as variáveis nominais apresentamos o tamanho da amostra e distribuição de percentagens. Seguidamente analisamos as associações entre as várias variáveis sócio-demográficas e autoeficácia, autoestima e bem-estar subjectivo e respectivas subescalas. O coeficiente r de Pearson foi realizado quando eram utilizadas variáveis quantitativas e o coeficiente r de Spearman quando eram variáveis qualitativas. Seguidamente apresentamos as comparações intergrupo, realizando o teste T-student, para testar as diferenças significativas entre os idosos nas dimensões avaliadas. Por último, realizamos uma regressão linear com o intuito de analisar e determinar as variáveis que predizem a autoeficácia e o valor explicativo das mesmas.

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Capítulo IV.

Resultados

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38 IV – RESULTADOS

1. Caracterização dos participantes

Relativamente às características gerais dos sujeitos, a maioria dos idosos eram casados (71,0%) sendo a média de anos de relação matrimonial de 41,02 anos (DP = 13,02; amplitude = 1- 61), seguidos de viúvos (14,50%) e numa minoria solteiros (11,0%) e separados e ou divorciados (3,40%). A maioria dos participantes residia num município que não o de nascimento (55,78%), em média, há 37,80 anos (DP = 15,49; amplitude = 2 - 72), vivendo na sua própria casa com seu parceiro (53,52%), com algum familiar (20,42%), o qual se verificou ser, em termos de moda, os filhos, ou sozinho na sua própria casa (23,94%).

Desta amostra, 76 idosos eram procedentes da comunidade, dos quais 45 (60%) eram mulheres e 31 (43,05%) eram homes, e os restantes 72 eram da AEUH dos quais 30 (40%) eram mulheres e 41 (56,94%) eram homes. Os idosos comunitários possuíam um nível de estudos baixo, sem estudos primários completados (37,33%) e com o ensino primário completado (30,66%), sendo poucos os que tinham finalizado o ensino secundário (16,00%), possuindo uma atividade laboral não qualificada (54,66%), seguidos de uma qualificação média (24,00%) e baixa (12,00%), trabalhando até a idade da reforma (38,15%), sendo oito idosos ativos laboralmente (10,52%), As mulheres realizavam trabalhos não qualificados (72,72%), sendo donas de casa ou executando trabalhos não remunerados, como costureira, limpadora ou cuidadora, em contrapartida, os idosos da AEHU, possuiam um elevado nível de habilitações académicas, havendo concluído o ensino superior (40,84%) e o ensino secundário (32,39%), havendo possuido uma atividade laboral13 de qualificação alta (42,64%) e média (44,11%) e trabalhando praticamente até a idade da reforma (76,05%) e atualmente seguem trabalhando três pessoas (4,22%), ver figura 3.

13 No que concerne ao nível de atividade laboral fazemos diferenças entre: 1) trabalhos para os quais não é necessária nenhuma qualificação, vg. limpeza, cuidados, costureira, entre outros; 2) qualificação baixa, aquelas que requer certas habilidades, competências ou conhecimentos v.g. secretária, cabeleireira; 3) Qualificação média v.g. mecânico, electricista; 4) Qualificação alta trabalhos para os que são necessários uma formação específica v.g. professor, médico, advogado, químico, engenheiro.

Imagem

Figura 1. Manutenção da capacidade funcional durante o curso da vida (Kalache e Kickbusch, 1997
Figura 2. Fatores determinantes do envelhecimento bem-sucedido (Fonte: OMS, 2002).
Tabela 1. Descritivos da variável nível e frequência da atividade física.
Tabela 2. Descritivos das escalas utilizadas.
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Referências

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