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PROPOSTA DE REGIONALIZAÇÃO PARA RIO CLARO - SP

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PROPOSTA DE REGIONALIZAÇÃO PARA RIO CLARO - SP

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Silvia Palotti Polizel2 Tatiana Pilachevsky3

1. Introdução

Os estudos regionais correspondem a uma necessidade incontestável dos dias atuais, visto que, seguindo as lógicas das novas dinâmicas globais, profundas modificações em âmbito econômico, social e político ocorreram no território nacional, e as regionalizações utilizadas pelo governo Federal e pelo Estado de São Paulo se encontram defasadas.

O conhecimento da divisão regional facilita a ação dos governantes e o conseqüente planejamento e gestão com vistas à melhoria de diversos setores da economia e da sociedade, principalmente se a regionalização utilizada estiver atualizada.

De acordo com Souza (1976), a escolha da região como quadro do processo de desenvolvimento, apresenta o interesse de permitir uma melhor colocação dos problemas, de facilitar a descentralização das atividades governamentais e de coordenar os diferentes setores da economia, além de possibilitar a integração dos projetos locais.

Assim, a fim de subsidiar suas ações, o governo Federal adota, desde a década de 1990a regionalização baseada nas microrregiões e mesorregiões geográficas. Sob supervisão de Alluizio Capdeville Duarte, o projeto começou a ser formulado em 1987 e se fundamenta na idéia da organização do espaço geográfico, em que as regiões são diferenciadas pelas estruturas espaciais resultantes das dinâmicas dominantes das sociedades em cada porção do território.

1 Trabalho elaborado para a disciplina Teoria Regional e Regionalização, ministrada pelo Prof. Dr. Roberto Braga no primeiro semestre de 2009.

2 Graduanda do Curso de Licenciatura e Bacharelado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista – Campus Rio Claro. E-mail: polizel@rc.unesp.br

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Diferentemente, o governo do estado de São Paulo, adota a regionalização baseada nas regiões de Governo, estabelecida em 1984 com o objetivo de promover a descentralização e o equilíbrio econômico no Estado como um todo.

Porém, diante das transformações ocorridas desde a formulação destas regionalizações, fica evidente que elas se encontram ultrapassadas para poder explicitar as reais condições presentes no território brasileiro.

Além disso, podemos verificar a complexidade e a variabilidade do conceito de região, que se prende à multiplicidade de objetivos para os quais a região é definida, visto que o governo Federal e o Estadual adotaram diferentes regionalizações de acordo com os seus interesses, e que é a “multiplicidade das atividades humanas que promove aquela diversificação do espaço, denotando níveis distintos de desenvolvimento” (Souza, 1976, p.107).

Diante desta situação, o presente trabalho visa contribuir para a verificação da regionalização utilizada no território brasileiro, analisando a regionalização Estadual e Federal empregada para Rio Claro.

A micro-região geográfica de Rio Claro (utilizada pelo governo Federal) insere os municípios de Brotas, Corumbataí, Ipeúna, Itirapina, Rio Claro e Torrinha, já a micro-região de governo utilizada pelo governo do Estado conta com os municípios de Analândia, Brotas, Corumbataí, Ipeúna, Itirapina, Rio Claro, Santa Gertrudes e Torrinha. Portanto, objetiva-se verificar a adequação destas regionalizações segundo a configuração das dinâmicas atuais presentes no município de Rio Claro e nos municípios que estão inseridos na sua micro-região (tanto na região de governo quanto na micro-região geográfica), e posteriormente realizar, caso as regionalizações utilizadas estejam realmente defasadas, uma nova proposta de regionalização.

2. Objetivos

O presente trabalho visa contribuir para a verificação da regionalização utilizada no território brasileiro, analisando a regionalização Estadual e Federal empregada para Rio Claro.

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realizar, caso as regionalizações utilizadas estejam realmente defasadas, uma nova proposta de regionalização.

3. Revisão Bibliográfica

Segundo Fábio Guimarães, em seu trabalho publicado na Revista Brasileira de Geografia (1941), o autor expõe que o conceito de região foi uma das primeiras formas que os geógrafos encontraram para dividir o espaço de maneira específica. Até o início do século XX, havia diversas regiões brasileiras, segundo a classificação e os critérios de cada geógrafo (as regiões do Brasil eram delimitadas segundo vários autores).

Na década de 30 iniciam-se as redes de integração nacional com a política do Estado Novo. O Brasil se volta para o urbano/industrialização, com o término da política Café com Leite. O projeto de “integração nacional” pautava-se em infra-estrutura concentrada no Centro-Sul, resultante desse Estado Novo que visava a integração e o conhecimento do território nacional (GUIMARÃES, 1941).

No âmbito da discussão do mesmo autor, em 1938 cria-se o IBGE, originado da fusão do Instituto Brasileiro de Estatística (1936) e o Conselho Nacional de Geografia (1937), o qual torna-se responsável pela elaboração da Carta do Brasil ao Milionésimo (primeiro mapa do Brasil na escala de 1: 1.000.000) e o censo de 1940, os fatores primordiais para estabelecer a regionalização brasileira.

A partir dessas medidas, o Estado passa a olhar de maneira específica para as necessidades de cada território (política territorial). O Brasil antes era um país arquipélago voltado para o exterior, sem redes de ligação, porém agora conta com essas políticas integradoras.

Para efetuar a regionalização brasileira, muitos aspectos deveriam ser considerados. Como abordado por Fábio Guimarães (1941), a região verdadeira é a Região Natural, devido a base sólida de seus elementos, possibilitando alguma segurança para os geógrafos trabalharem. Os vários critérios diferentes e o desconhecimento da geografia eram dificuldades encontradas para se considerar a região verdadeira (GUIMARÃES, 1941).

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Para se regionalizar o Brasil, quatro questionamentos foram feitos, considerando as unidades territoriais (considerar a divisão política); qual o critério estabelecido para agrupar essas unidades em regiões; qual a quantidade ideal de regiões e quais unidades devem compor cada região.

O principal atributo de uma região é a unidade geográfica. A região natural é delimitada por dois grandes princípios: da extensão (distribuição dos fenômenos sobre a superfície terrestre) e da conexão (estudo das inter-relações dos fenômenos que ocorrem no mesmo local). Os fatos geográficos ao serem analisados correlacionadamente, irão atribuir a cada região sua unidade característica, assim, “uma região natural só pode, pois, ser determinada após a análise da distribuição dos fatos geográficos e das influências recíprocas que esses fatos exercem entre si numa dada extensão” (GUIMARÃES, 1941, p. 18).

O geógrafo, portanto, precisa dar conta de dois fatores do espaço geográfico: complexidade e unidade. A contribuição da geografia é estabelecer/apreender essas unidades. O objetivo da geografia regional era estabelecer essas conexões/forma de interação desses fenômenos que compreendem a unidade.

Toda região é um fenômeno complexo, uma unidade da diversidade, ela é parte do todo e uma unidade em si. Como assinala o texto de Fábio Guimarães,

É preciso previamente distinguir-se região elementar e região natural, conforme propôs o geógrafo Giuseppe Ricchieri. As primeiras, também denominadas ‘províncias’ por outros autores, correspondem à divisão de um território baseada no estudo de uma só categoria especial de fenômenos; as segundas que Ricchieri denomina de ‘regiões geográficas complexas’, correspondem às áreas nas quais se superpõem diversas regiões elementares (GUIMARÃES, 1941, p. 19).

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Os critérios abordados para a divisão regional são: quantidade de regiões (o menor número possível. O processo de divisão regional é dedutivo, dessa forma apreende-se a unidade regional); o modelo de regionalização, o qual possui três níveis, o da macrorregião, mesorregião e microrregião, e baseia-se na diversidade e complexidade dos processos e fenômenos. O número de regiões não está associado ao tamanho do território, mais sim a complexidade geográfica desses espaços e a delimitação (limites regionais), que neste contexto, as faixas de transição devem ser evitadas. Os limites regionais devem ser precisos (dificilmente a transição regional é abrupta, a passagem de uma região para outra é gradual, pois a região não é estática, e sim, dinâmica) (GUIMARÃES, 1941).

A diferenciação das regionais ocorre por dois graus: contraste (admite-se a menor imprecisão) e diversidade. As regiões naturais tendem a ser homogêneas, enquanto que as regiões humanas/históricas tendem a ser heterogêneas.

Segundo Guimarães (1941), as "regiões humanas" têm a vantagem de levarem em conta fatores físicos e humanos (pois estes dependem, em parte, daqueles) sendo assim uma síntese, o coroamento dos estudos geográficos...Por este fato, o de levarem em conta toda a realidade geográfica, constituem eles uma base muito adequada para a divisão de ordem prática, quando se quer realizar um estudo de um país, tal como ele é num dado momento, comparando-se as suas partes entre si, contudo, possuem a grande desvantagem de serem "instáveis e móveis" (GUIMARÃES, 1941, p. 32).

Já as regiões naturais apresentam justamente a vantagem da estabilidade, porém não podem as ‘regiões naturais’ corresponder a cada momento à realidade geográfica tomada no seu conjunto, essencialmente mutável na parte que resulta da atividade humana...Como quer que seja, podemos afirmar que as condições naturais são o fator básico, e que os fatos econômicos ora se afastam, ora se aproximam dessas condições (GUIMARÃES, 1941, p. 33).

Dessa forma, por três razões principais, a libertação progressiva do determinismo geográfico, tendência à uniformização geral e perpétua instabilidade, não podem as ‘regiões humanas’ coincidir com as ‘regiões naturais' (GUIMARÃES, 1941, p. 28).

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Já na concepção de Jacques Boudeville (1973), a evolução da geografia ocorreu da descrição (extensão) para a explicação e posteriormente uma geografia ativa (organização do espaço e desenvolvimento). Assim, o espaço reflete o desenvolvimento (a organização territorial faz parte de uma política de desenvolvimento). Dessa forma, a organização do espaço além de produto do desenvolvimento é também uma ferramenta para o planejamento territorial. Territórios com uma boa organização territorial são mais desenvolvidos, daí a importância da ordem/organização espacial.

A geografia ativa caracteriza-se pela organização territorial visando o melhor e mais favorável desenvolvimento econômico. Servia para resolver os problemas econômicos e sociais. Ao se avaliar o ordenamento do espaço (cada parte tem seu lugar – organização) como política de desenvolvimento. Assim a regionalização ganha uma nova importância: a de distribuir os meios de produção no espaço visando um melhor desenvolvimento.

O espaço tem seu significado modificado segundo a maneira de ver ou de pensar. O espaço econômico, detalhado por Boudeville, engloba três tipos de região econômica: a homogênea, a polarizada e a de planejamento (região-piloto/região-programa, a qual é adotada até hoje). A região homogênea, define-se segundo Boudeville (1973), como um “espaço contínuo em que cada parte apresenta características econômicas tão semelhantes quanto possíveis às outras”; “as partes de cada região deve ser mais semelhante entre si, do que com as partes de outras regiões”. Nesse sentido, a região ganha subjetividade, deixando de ser uma região concreta/absoluta. Não é mais uma região verdadeira em si, ela é construída para proporcionar uma melhor política de desenvolvimento.

De um modo geral, a região homogênea pauta-se na conexão do espaço, centrado na organização da produção, por critérios descritivos de semelhança. Para essa regionalização, deve-se considerar: os atributos econômicos, atentando-se para os indicadores mais relevantes para a economia da área de estudo; critérios de semelhança e delimitação de conjuntos de lugares.

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cidades são organizadas e polarizadas segundo sua função de produção, ou seja, trocas e consumo).

O espaço é organizado de modo polarizado, gerando um desenvolvimento polarizado. A regionalização em regiões polarizadas dá-se em função: identificação dos pólos dominantes (cidades); determinação da esfera de influência de cada pólo, os quais individualizam-se pela intensidade dos fluxos e pela delimitação das regiões. “Existe uma hierarquia das regiões polarizadas correspondente à hierarquia dos bens especializados por eles produzidos” (BOUDEVILLE, 1973, p. 15). Então, para se desenvolver uma região, a estratégia é a criação de pólos, os quais irão irradiar desenvolvimento.

Em terceiro lugar na composição do espaço econômico, situa-se a região-piloto (região de planejamento), definida segundo Boudeville, como “espaço contíguo cujas diversas partes se encontram na dependência de uma mesma decisão, como filiais que dependem de uma mesma matriz”. São regiões administrativas e finais. As demais são etapas para se chegar na região de planejamento. É a região ativa em si (organização territorial para o desenvolvimento).

A região-piloto “de um modo geral, representa a análise da seleção dos recursos geográficos disponíveis para a realização de uma finalidade situada dentro de um praz previsto” (BOUDEVILLE, 1973, p. 18). Pauta-se na inspiração prospectiva.

Para finalizar a discussão sobre regiões, baseando-se na obra de Bernard Kayser (1980), no capítulo I, intitulado "A região como o objeto de estudo da Geografia", o autor aborda de maneira bem detalhada a definição de região e expõe a grande contribuição do geógrafo como condutor das regionalizações. Ele inicia discorrendo que a região é de qualquer forma um fenômeno geográfico. O geógrafo pode definí-lo, explicá-lo, querer delimitá-lo.

Nos dias de hoje, o geógrafo se dispõe, sem complexos, a reconhecer que o desenho dos limites regionais já não é mais o objeto principal de sua pesquisa: ele tende a considerar a região como o campo de ações concomitantes de intensidades variáveis, mais do que como a inscrição espacial precisa de equilíbrios fundamentais. Os limites regionais são múltiplos, dinâmicos. Os conceitos de região são diversos, aplicados efetivamente a diferentes estágios de desenvolvimento econômico (KAYSER, 1980).

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são suficientes para produzir uma região se não forem criadores de uma organização econômica e social.

Uma região se organiza em torno de um centro. A organização, tradução concreta do fenômeno de regionalização, deve assentar-se sobre um eixo, um "pólo", um "núcleo", se assim se quiser dizer, e este, baseados em atividades da população empregada em comércio, bancos, companhias de seguros, hotéis, etc, somente tem lugar na cidade.

Uma região só existe como parte integrante de um conjunto. É a sua função no conjunto nacional, e mesmo internacional, numa economia global. Espaço limitado, a região participa de um estado mais amplo; neste sentido, ela é dominada, porque ela é ao mesmo tempo aberta e integrada. O poder financeiro e político, isto é, a capacidade superior de decisão, escapa sempre a região, ele é "deslocalizado".

Uma região é, sobre terra, um espaço preciso, mas não é imutável, inscrito em um quadro natural, e que responde a três características essenciais: os laços existentes entre seus habitantes, sua organização em torno de um centro dotado de certa autonomia, e sua integração funcional em uma economia global. Ela é o resultado de uma associação de fatores ativos e passivos de intensidades variáveis, cuja dinâmica própria está na origem dos equilíbrios internos e da projeção espacial (KAYSER, 1980, p. 282).

No que tange a região e espaço econômico, o único espaço admissível, em termos de uma definição da região, é portanto o espaço polarizado: a região é um espaço polarizado. O espaço polarizado é elástico. Para os geógrafos o pólo, ou o centro, é antes de mais nada um organismo concreto: uma cidade. O espaço polarizado que se organiza em torno de uma região é o espaço polarizado.

As regiões são organismos vivos e complexos. Nascem, isto é, tomam corpo e se cristalizam - desenvolvem-se, isto é, se estruturam de uma maneira cada vez mais firme, ganham coesão. Também podem morrer bruscamente, devido a intervenção de um agente exterior, ou por lenta desintegração.

Em relação aos fatores naturais e históricos de formação de uma região, nem os fatores naturais nem os fatores históricos da formação regional podem ser negligenciados, eles desempenham freqüentemente um papel de primeira grandeza para os limites. Mas não são nunca motores. O que explica a região em seu dinamismo, seu mecanismo vivo e, definitivamente, sua formação, são seu centro ou centros, e suas vias de comunicação (KAYSER, 1980).

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região será tanto mais bem formada e mais madura quanto for a importância relativa do centro e sobretudo quanto maior for a influência que o centro exerce sobre todo o território considerado.

Sobre as comunicações, as vias de comunicação são necessárias as funções externas de determinado território, mais não criam automaticamente a solidariedade regional. Assim as vias de comunicação não se mostram instrumentos submissos, ou de manejo fácil, para a formação das regiões; sua função é decisiva, reconhecida como tal mas as vias de comunicação supõem tais esforços coletivos e conscientes, que é mais comum salientar a influência negativa de sua ausência ou de sua insuficiência do que sua ação diretamente construtiva.

Na administração nada é mais desacreditado pelos teóricos do espaço econômico do que a "região administrativa". A hierarquia administrativa cria, de alto a baixo na escala e de ponta a ponto no território, laços poderosos. A administração tende assim a reforçar a região e faz ainda mais: contribui para criar solidariedades e polarizações no interior dos limites, sem dúvida imperfeitamente traçados e freqüentemente imbricados, mas grosso modo válidos. A organização dos serviços administrativos constitui, assim, um dos fatores-chave da formação das regiões

Paralelamente à sua urbanização e ao seu desenvolvimento econômico, o mundo de hoje conhece uma regionalização acelerada. Assim, a vida regional tende a nascer e a tomar corpo em um espaço cada vez mais amplo do nosso globo. A região está em perpétua evolução. O essencial é que a rapidez e que a flexibilidade dos transportes automobilísticos, assegurando uma dominação eficaz da capital regional, consolidam a região, conferindo-lhe ao mesmo tempo mais força e estabilidade, ou seja, quanto mais sólida for a região significa que mais bem integrada no espaço nacional ela está (KAYSER, 1980).

A região é uma criação humana. Por sua ação e vontade social, o homem age sobre a região como produtor, transportador, distribuidor, organizador etc. Coletivamente, por sua simples presença como habitante da região. O apego do homem ao pedaço de terra ou à cidade que o viu crescer, a solidariedade real que ele tem com seus conterrâneos, constituem forças estabilizadoras do quadro regional. Elas se opõem as modificações rápidas, e sobretudo as modificações provocadas, dirigidas.

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coerentes e poderosas, que tem tendência a cristalizá-la no espaço; mas os fatores antagônicos que a fazem evoluir, por outro lado, voltam continuamente a por em questão seus limites e suas relações exteriores (KAYSER, 1980).

Precisamente, são as "vinculações funcionais" que permitem avaliar o dinamismo de uma região. O conhecimento da rede urbana leva diretamente à compreensão geográfica da situação regional. Como a própria região, a rede urbana só aparece em um certo estágio de progresso técnico e do desenvolvimento industrial. As redes urbanas dos países subdesenvolvidos são, portanto, em geral, simples mais sem vigor; elas são a expressão de uma hierarquia muito elementar e de uma estrutura regional ainda muito vaga. Ao contrário, em países industriais, as redes urbanas podem se revelar hoje como hiperevoluídas; sua própria complicação acaba por prejudicar a estrutura equilibrada da região.

Os elementos da análise de uma região devem ser decompostos em um série de elementos simples: a população (aspectos demográficos e sociológicos); os recursos (produção e equipamentos); o consumo (os níveis de consumo informam o resultado do confronto populações-recursos); as trocas exteriores (integração da região no conjunto nacional, trânsitos de marcedorias como elemento importante da função regional) e a estrutura geográfica (a divisão da região em zonas homogêneas, de um lado, e o estudo das redes urbanas, de outro) (KAYSER, 1980).

De um modo geral, a análise regional efetuada do "ponto de vista" dos economistas, pauta-se pela apreensão global do fenômeno regional e pelas possibilidades diversas de sua medida ou de sua expressão. Já na análise dos geógrafos, por estar habituado ao exame dos fenômenos de convergência, ele possui esta "vocação de síntese" que deveria fazê-lo animador e o responsável dos estudos regionais.

A partir disso, pode-se apreender que a região geográfica é uma região como uma coisa em si, um dado objetivo da realidade (concretude da região). O espaço é visto como um sistema de regiões. O conceito é o resultado de um processo histórico. Assim sendo, toda região tem um embasamento geográfico e é fruto de um processo histórico de formação (KAYSER, 1980).

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Segundo Kayser (1980), três elementos são essenciais à região (pois nem tudo é região). São eles: a solidariedade existente entre os habitantes dessa região; a organização em torno de um centro que organiza essa região e a participação em um conjunto (toda região é parte de um todo). A solidariedade está sempre ligada a idéia de identidade, é praticada entre iguais. Implica a idéia de que toda região deve ter sua identidade (algo que a distingue das demais).

A organização em torno de um centro que organiza essa região caracteriza a região como sendo um espaço organizado, com uma estrutura regional, que é constituída/organizada em rede (rede urbana – principal elemento estruturador do espaço regional). Por fim a participação em um conjunto (toda região é parte de um todo) corresponde a identidade da região, a qual se faz com sua relação com o todo e possui funções/papéis dentro desse todo, organizando-se, portanto, em função de suas relações com o todo.

Se estas três características não estiverem bem definidas não haverá regiões, mas sim meios geográficos não estruturados. Só os territórios maduros teriam regiões. Portanto há vários estágios de desenvolvimento da região (são “corpos vivos”).

4. Metodologia

Análise das regionalizações do IBGE (Microrregião Geográfica de Rio Claro) e da Secretaria de Planejamento (Região de governo de Rio Claro) para Rio Claro e de todos os dados e indicadores (demografia e centralidade; distâncias rodoviárias; números de linhas de ônibus diárias para Rio Claro; emprego por setor de atividade urbana – 1990; estatísticas agrícolas – 1995/96; quadro do desmembramento territorial e administrativo dos municípios; dados da Secretaria a Agricultura, da Educação e da Saúde), através da interpretação de dados secundários, qualitativos e quantitativos; interpolação das informações e, caso necessário, proposta de uma nova regionalização de Rio Claro.

5. Análise Regional

5.1. Microrregião Geográfica de Rio Claro

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por combinações de fatos sociais, físicos e econômicos) foi instituída em 1990 a divisão regional com base nas Meso e Microrregiões Geográficas.

Com os princípios semelhantes aos adotados por Bernard Kaiser, a divisão institucionalizada para fins estatísticos pelo IBGE utiliza-se do conceito de organização do espaço e do processo de análise dedutivo. O “conceito de organização do espaço refere-se às diferentes estruturas espaciais resultantes da dinâmica da sociedade sobre um suporte territorial” ( IBGE, 1990, p. 07).

De modo geral, além do caráter estatístico, esta regionalização pode servir para “subsidiar o sistema de decisões quanto à localização de atividades econômicas, sociais e tributárias; subsidiar o planejamento, estudos e identificação de estruturas espaciais de regiões metropolitanas e outras formas de aglomerações urbanas e rurais” (IBGE, 2009).

As mesorregiões foram definidas de acordo com a determinação do processo social e o condicionamento do quadro natural, além dos elementos de articulação espaciais constituídos pela rede de comunicação e de lugares (IBGE, 1990).

Já as microrregiões, objeto de nosso estudo, “foram definidas como partes das mesorregiões que apresentam especificidades, quanto à organização do espaço” (IBGE, 1990). As especificidades podem resultar da presença de elementos do quadro natural ou de relações econômicas e sociais particulares.

As dimensões para a identificação das microrregiões se concentram, assim, na estrutura da produção primária (uso da terra, relações de produção, orientação da agricultura, nível tecnológico e emprego de capital, grau de diversificação da produção agropecuária, etc); na estrutura da produção industrial (valor da transformação industrial e pessoal ocupado); e na interação espacial (área de influencia dos centros sub-regionais e centros de zona).

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Tratando-se de uma regionalização realizada entre as décadas de 1980 e 1990 podemos notar que mudanças no âmbito da estrutura produtiva, e da interação espacial, ocorreram, fazendo com que Rio Claro não possua a mesma centralidade de cerca de 30 anos atrás. O nível hierárquico que o município ocupa no sistema de fluxos de bens e serviços deixou de ser o mesmo, havendo a necessidade de uma nova regionalização que contemple essas mudanças ocorridas ao longo do tempo.

5.2. Região de governo de Rio Claro

Com o objetivo de descentralizar as ações do governo, em 1984 foi realizada no Estado de São Paulo, pelo “governo Montoro”, a divisão das chamadas “Regiões de Governo”, consideradas unidades territoriais básicas da descentralização e regionalização de ação do Governo Estadual.

Ao todo foram definidas 42 “Regiões de Governo”, baseadas no conceito de região homogênea (em que o fator de homogeneidade se destaca para definí-la, sendo então, um espaço contínuo em que as partes de cada região são mais semelhantes entre si, do que entre as partes de outras regiões vizinhas). Dentre elas, a região de governo de Rio Claro conta com os municípios de Analândia, Brotas, Corumbataí, Ipeúna, Itirapina, Rio Claro, Santa Gertrudes e Torrinha.

Em 1987 a região de governo de Rio Claro passou a integrar à região administrativa de Campinas, já que a partir deste ano as regiões administrativas e de governo compatibilizaram seus limites, ou seja, cada Região Administrativa (baseada no conceito de regiões polarizadas) passou a abranger a área territorial das Regiões de Governo agrupadas.

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Apesar de metodologicamente diferente da microrregião geográfica, a região de governo de Rio Claro também se encontra defasada. A expansão da cultura de cana na cidade e outras mudanças fizeram com que o município se diferenciasse demasiadamente de algumas cidades que compõe sua região de Governo.

A explicação da regionalização proposta abaixo explicita mais detalhadamente as razões pelas quais houve a necessidade da atualização das regionalizações ainda utilizadas em âmbito Estadual (Região de Governo) e Federal (Meso e Microrregião geográfica).

6. Resultados e Discussão

A partir da análise das regionalizações do IBGE (Microrregião Geográfica de Rio Claro) e da Secretaria de Planejamento (Região de governo de Rio Claro) para Rio Claro e de todos os dados e indicadores, a região proposta neste trabalho engloba os municípios de Corumbataí, Rio Claro, Ipeúna e Santa Gertrudes e pode ser visualizada na Figura Final.

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De acordo com a análise dos indicadores selecionados (demografia e centralidade; distâncias rodoviárias; números de linhas de ônibus diárias para Rio Claro; emprego por setor de atividade urbana – 1990; estatísticas agrícolas – 1995/96; quadro do desmembramento territorial e administrativo dos municípios; dados da Secretaria a Agricultura, da Educação e da Saúde), considerou-se condizente a realização de uma nova regionalização de Rio Claro.

Esta nova regionalização abrange os municípios de Corumbataí, Ipeúna, Santa Gertrudes e Rio Claro, como já foi mencionado. Os critérios avaliados para tal regionalização compreendem o elevado número de linhas de ônibus diárias desses municípios para Rio Claro (Corumbataí – 07; Ipeúna – 08 e Santa Gertrudes – 14) (Figura 1); semelhança na produção agrícola (cultivo de cana-de-açúcar) (Figura2); as baixas distâncias rodoviárias que separam estes municípios e a boa acessibilidade; a média centralidade de Rio Claro como um centro local para essas cidades; semelhança no enquadramento desses municípios na mesma Secretaria (Agricultura, Educação e Saúde) que Rio Claro, e principalmente, consideramos as pessoas empregadas no setor de comércio e serviços (Figura 3), no qual essas cidades apresentam baixos índices, sendo, portanto, estreitamente relacionadas à Rio Claro.

Da Região de Governo de Rio Claro – SEP/1984 e da Microrregião Geográfica de Rio Claro – IBGE/1990, excluímos na regionalização do grupo os municípios de Brotas, Torrinha, Itirapina e Analândia. Os municípios de Brotas e Torrinha foram reenquadrados na região de Jaú, pois estes estão mais próximos do município de Jaú e assemelham-se à maioria dos indicadores deste município. Os municípios de Itirapina e Analândia, além de serem mais próximos a São Carlos, não possuem pedágio no trecho da estrada que os unem e aproximam-se dos indicadores da região de São Carlos. Já o município de Cordeirópolis pertence à região de Limeira.

Portanto, com os dados disponibilizados, a melhor proposta de regionalização que o presente trabalho pode elaborar foi esta, juntamente com o reenquadramento dos demais municípios em sua respectivas regiões.

7. Considerações Finais

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interligam os municípios antes distantes e possibilitam o acesso a estes, os quais podem, portanto configurar novas regionalizações.

Com base nas três regiões, natural, econômica e geográfica, que fundamentaram este trabalho, em conjunto com a análise dos indicadores selecionados, ficou evidente que a dinâmica que rege o mundo atual exige que as regionalizações sejam repensadas, redefinindo a organização geográfica dos municípios em uma distribuição diferente, a qual atenda suas realidades e necessidades específicas.

Deste modo, à geografia cabe a função inestimável de integrar e relacionar esses fatores, antes estudados individualmente, a fim de compreender o processo como um todo, redefinindo as regionalizações vigentes e propondo novas, as quais poderão otimizar e contribuir para uma melhor qualidade de vida e desenvolvimento regional.

8. Referências Bibliográficas

BOUDEVILLE, Jacques R. Os espaços econômicos. DIFEL, São Paulo, 1973.

FUNDAÇÃO IBGE. Divisão do Brasil em Microrregiões Geográficas. IBGE, Rio de Janeiro, 1990.

GUIMARÃES, Fábio Macedo Soares. Observações sobre o sistema da divisão regional. Revista Brasileira de Geografia, ano III, n. 2, 1941.

KAYSER, Bernard. A região como objeto de estudo da Geografia. In: A Geografia Ativa. GEORGE, Pierre. São Paulo: Difel, 1980.

SOUZA, Maria Adélia A. de. Regionalização: tema geográfico e político - o caso paulista. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, n. 50, março de 1976.

Disponível em: http://www.ibge.gov.br . Acesso em 21/06/2009.

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