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ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO NO ENSINO PARA MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA URBANA

Rejane PADARATZ Acadêmica e pesquisadora

Departamento de Arquitetura e Urbanismo Universidade Federal de Santa Catarina,

Florianópolis, SC 88040 900 Brasil Tel: +55 14 3319393 Fax: +55 14 3319393 E-mail: rejanepadaratz@yahoo.com

Vera Helena M. B. ELY Professor Adjunto

Departamento de Arquitetura e Urbanismo Universidade Federal de Santa Catarina,

Florianópolis, SC 88040 900 Brasil Tel: +55 14 3319393 Fax: +55 14 3319393 E-mail: vera@arq.ufsc.br Marta DISCHINGER

Professor Adjunto

Departamento de Arquitetura e Urbanismo Universidade Federal de Santa Catarina,

Florianópolis, SC 88040 900 Brasil Tel: +55 14 3319393 Fax: +55 14 3319393 E-mail: mdisch@arq.ufsc.br

Palavras-chave: Escolas, Acessibilidade, Inclusão, Qualidade de vida urbana, Desenho Universal.

RESUMO

A obrigatoriedade da inclusão de alunos com restrições na rede de ensino regular (Lei 9.394/1996), somada à garantia de acessibilidade nos espaços públicos prevista por lei e decreto federal (Lei 10.098/2000; Decreto nº 5.296/2004) torna urgente a provisão de condições efetivas de acessibilidade espacial em escolas. No entanto, a inclusão de crianças com restrições na rede regular de ensino necessita para sua implementação bem mais do que as leis que a tornam obrigatória. A acessibilidade é necessária em diversas escalas, desde a adequação do percurso urbano que leva até a entrada da escola, até a existência de equipamentos e material pedagógico específicos que possibilitem, não só o acesso, como a participação em todas as atividades escolares. A escola é um equipamento urbano estruturador da vida coletiva de uma comunidade, e por isso deve ser acessível e inclusivo, garantindo assim uma maior acessibilidade urbana e melhor qualidade de vida da cidade.

Este artigo trata da avaliação das condições de acessibilidade das escolas da rede de ensino pública do município de Florianópolis. Utiliza métodos de APO, e como resultado apresenta princípios e diretrizes para o projeto arquitetônico de escolas acessíveis.

139 – Apresentação Oral

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ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO NO ENSINO PARA A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA URBANA

V. H. M. B. Ely, R. Padaratz e M. Dischinger

RESUMO

A escola pode ser considerada elemento estruturador da vida coletiva de uma comunidade. Por sua função de formar cidadãos, seu ambiente deve possuir características que o tornem realmente universal e inclusivo, atendendo a todos, independente das restrições de seus usuários. Este artigo trata da avaliação das condições de acessibilidade das escolas da rede de ensino pública do município de Florianópolis. Utiliza métodos de APO, e como resultado apresenta princípios e diretrizes para o projeto arquitetônico de escolas acessíveis.

1 INTRODUÇÃO

A educação é um dos direitos básicos de todos os cidadãos, assim como é a saúde, o transporte e o trabalho. Sendo a escola o primeiro espaço de socialização de uma criança é fundamental iniciar sua participação na vida coletiva, ensinando-lhe seus direitos, deveres e respeito ao próximo, sabendo aceitar a diversidade. Para crianças portadoras de algum tipo de deficiência, seja ela física, sensorial ou cognitiva, o acesso à educação é ainda mais crucial para promover sua inclusão na sociedade e, muitas vezes, também representa sua chance de reabilitação.

No Brasil, a partir de 1996, com a aprovação da “Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional” (Lei nº 9.394), passou a ser obrigatória a inclusão de alunos com restrições na rede de ensino regular a partir da 1996. A acessibilidade espacial destes alunos nos edifícios escolares está amparada pela Lei nº 10.098/2000 e pelo Decreto Federal nº 5.296/2004. No entanto, a inclusão de crianças com deficiências na rede regular de ensino necessita muito mais que leis e decretos. A inclusão efetiva implica numa série de ações combinatórias, incluindo a capacitação pedagógica dos professores, a disponibilidade e acesso de material didático e equipamentos adaptados, o desenvolvimento de atividades de apoio ao ensino, além da necessária acessibilidade nos ambientes físicos que permita seu acesso e uso.

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quadras esportivas, etc.), até a existência de equipamentos e material pedagógico específicos que possibilitem, na prática, não só o acesso, como a participação em todas as atividades escolares.

A norma técnica atualmente em vigor, revisada recentemente, é a NBR 9050/2003 - “Acessibilidade de Pessoas Portadoras de Deficiências a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos”. No entanto, a simples implementação de suas exigências nos ambientes escolares também não garante a inclusão dos alunos e, muitas vezes, sequer permite o acesso total e independente de alunos especiais, devido à especificidade de cada situação. No ensino fundamental, o principal usuário apresenta características antropométricas e biomecânicas muito específicas. A criança além de ter dimensões e proporções distintas de um adulto, possui coordenação motora ainda em desenvolvimento e força física reduzida, independente de suas restrições. Ainda hoje, a NBR 9050/2003 não aborda todas estas especificidades.

Devido a recente discussão do tema, ao caráter ainda restrito da atual norma técnica (NBR 9050/2003) e à falta de conhecimento específico dos profissionais envolvidos para identificar, avaliar e resolver o problema, foi realizado um projeto de pesquisa e extensão na Universidade Federal de Santa Catarina em conjunto com a Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis. O objetivo deste projeto é avaliar e propor soluções projetuais buscando, assim, a acessibilidade dos diferentes usuários da rede escolar municipal de Florianópolis.

O presente trabalho apresenta o processo realizado no decorrer da pesquisa, explicitando os métodos utilizados e exemplificando a partir da análise de uma das escolas da rede municipal. Abordam-se os principais resultados obtidos, entre eles, princípios gerais e específicos de acessibilidade espacial, aplicando os conceitos do Desenho Universal. Espera-se, desta forma, contribuir para um maior conhecimento técnico sobre o assunto, fornecendo subsídios para o desenvolvimento de futuros projetos de escolas mais inclusivas. E, sendo a escola um equipamento urbano estruturador da vida social, acredita-se que ações nela implementadas podem, conacredita-seqüentemente, maximizar a acessibilidade urbana e a qualidade de vida da cidade.

2 DESENHO UNIVERSAL, ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO

Até pouco tempo atrás, nas escolas de arquitetura aprendia-se a projetar acreditando no conceito de um “homem padrão” ou “homem médio”. No entanto, este processo é um equívoco, pois este padrão é inexistente; a diversidade é uma característica primordial da espécie humana. O Desenho Universal é uma visão de projeto que desenvolve objetos, ambientes e edificações levando em consideração esta diversidade, desde os estudos preliminares do projeto. Portanto, um projeto realmente universal deve atender plenamente as necessidades de todos, tendo como grande desafio a busca de ambientes acessíveis de forma a conciliar diversas necessidades. Para que isto seja possível é necessário conhecer as diferentes deficiências e as restrições na realização das atividades.

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É importante a compreensão, por parte dos projetistas, dos diferentes tipos de restrição, pois é somente entendendo as reais implicações que estas trazem ao uso do espaço que se poderá avaliar as condições de acessibilidade e projetar futuros ambientes mais acessíveis. Acessibilidade significa poder chegar a algum lugar de forma independente, segura e com um mínimo de conforto; entender a organização e as relações espaciais que este lugar estabelece; e participar de todas as atividades que ali se desenvolvem fazendo uso dos equipamentos disponíveis. Acessibilidade depende das condições ambientais de acesso à informação, das possibilidades de deslocamento e de uso, e da organização das atividades permitindo aos indivíduos participar da sociedade e estabelecer relações com as demais pessoas. Para isto, faz-se necessário identificar os diferentes elementos que podem dificultar ou impedir a percepção, circulação, compreensão ou apropriação dos espaços e atividades por parte dos usuários, bem como obstáculos de ordem social e psicológica que impedem seu uso efetivo.

Um importante fato que deve ser esclarecido, é que a inclusão total de um aluno não é conquistada pelo simples fato de garantir-lhe o acesso espacial a todos os ambientes da escola. É necessário promover o acesso e a compreensão da informação, a possibilidade de deslocamento livre de barreiras, e a garantia de uma participação efetiva nas atividades propostas. Por exemplo, um auditório só será inclusivo se, além de reservar local adequado na platéia para um aluno em cadeira de rodas, permite o uso dos equipamentos e o acesso ao palco de forma fácil e independente. Todos querem e tem direito de fazer as mesmas atividades com o menor grau de impedimento possível.

3 PROCESSOS METODOLÓGICOS

A pesquisa desenvolveu-se em três etapas distintas. Primeiramente, foram realizadas visitas exploratórias com a participação de toda a equipe de pesquisa que visavam escolher, aproximadamente, cinco escolas representativas da situação atual de acessibilidade da rede de ensino municipal de Florianópolis, a partir de critérios pré-estabelecidos, tais como: escola que tivesse em seu quadro alunos com algum grau de restrição; edificações com dificuldade de acesso devido sua implantação; escola com diferentes tipos de ensino (ensino fundamental e núcleo infantil); edificação com projeto modelo para inclusão.

Em seguida, foi efetuada uma ampla revisão bibliográfica, buscando informações em livros, manuais e na internet sobre acessibilidade, especificamente em ambientes escolares, tanto no Brasil quanto no exterior, atualizando assim o conhecimento da equipe e contextualizando a realidade local. Foram coletadas informações sobre os conceitos de deficiência e restrição, inclusão e acessibilidade, legislação e normas técnicas nacionais e estrangeiras, assim como estudos específicos (manuais e projetos) sobre como prover condições de acessibilidade espacial em escolas.

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3.1 Observação direta e entrevista

Para entender os problemas que alunos com restrições diversas enfrentavam para acessar os diferentes espaços da escola e desenvolver suas atividades, utilizou-se o método da Observação Direta - observação dos indivíduos realizando suas atividades cotidianas nos ambientes a que estão acostumados, sem saber que estão sendo observados, utilizando critérios da ergonomia (BINS ELY, 2004). Por exemplo, que tipo de problemas relativos ao conforto, independência e segurança um aluno com restrição severa de movimento enfrenta para chegar até a escola? Como ele chega na escola: de ônibus, em cadeira de rodas, ou com auxílio dos pais?

Em cada uma das situações observadas tentou-se identificar diferentes problemas de acessibilidade relativos a três aspectos centrais. Primeiro, em relação às condições de percepção, legibilidade e compreensão dos ambientes, ou seja, avaliar as informações espaciais que permitem ou impedem o processo de tomada de decisão sobre para onde ir. Em segundo lugar, avaliar as condições de conforto, segurança e independência em que ocorrem os deslocamentos. E, por fim, avaliar as condições de participação efetiva nas diversas atividades fins a serem desenvolvidas pelos alunos.

Para complementar as informações adquiridas nas observações foram realizadas entrevistas abertas, sem formulário específico, com alunos, pais e educadores, buscando entender as reais dificuldades vivenciadas tanto no uso do espaço construído, quanto em relação ao aprendizado e integração social. Estas entrevistas foram individuais e também em grupos homogêneos, como por exemplo, só de professores (focus groups).

3.2 Passeios Acompanhados

Para complementar e aprofundar as informações obtidas através da aplicação dos dois métodos anteriores (observação direta e entrevistas abertas) foi empregado o método dos Passeios Acompanhados (DISCHINGER, 2000). Este método permite observar a realidade do usuário no uso do espaço, identificando aspectos positivos e negativos no exato momento em que ocorrem as atividades. Possibilita, também, conhecer as razões que levam o entrevistado(a) a tomar determinadas decisões de comportamento a partir da verbalização dessas ações.

O método consiste basicamente na realização de passeios pelo grupo de pesquisa ao local de estudo na companhia de pessoas portadoras de alguma deficiência ou, então, que apresentem alguma característica relevante ao estudo. Durante os passeios, os pesquisadores acompanham os usuários ao longo de percursos previamente definidos, visando identificar os problemas de acessibilidade na realização da atividade. O interlocutor não deve conduzir ou ajudar o entrevistado, pois isto levaria a uma distorção dos dados ao final do exercício. São realizados registros por meio de gravações, anotações e fotografias o que permite recompor de forma espaço-temporal cada percurso realizado.

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As perguntas procuravam incentivar respostas simples e diretas: “Você usa a biblioteca da escola?”, “Como você faz para ir da sua sala de aula até a biblioteca?”, “Você pode nos levar para conhecê-la?”.

4 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE ACESSIBILIDADE EM UMA ESCOLA

Como exemplo, apresenta-se a seguir, um fragmento do estudo realizado para a Escola Básica Donícia Maria da Costa, seguido de comentários sobre atividades diversas analisadas. A escola, localizada cerca de 8km do centro de Florianópolis, é considerada modelo quanto às questões de inclusão de alunos com restrições pela prefeitura, sendo adotada como edifício escolar padrão para o município, pois segue a NBR 9050/97. O edifício, de construção recente (março/abril de 2001), possui um único bloco de dois pavimentos disposto em terreno plano e é dotado de boa infraestrutura se comparada às demais escolas públicas do município. (ver figura 1)

Fig. 1 Vista da Escola Básica Donícia Maria da Costa

Apesar deste projeto padrão atender as recomendações da NBR 9050/2003, identificou-se problemas de acessibilidade no uso do espaço por pessoas com restrições. Mostra-se a seguir, os resultados de um passeio acompanhado com uma aluna deficiente visual e a avaliação do percurso externo (via pública à entrada do edifício) organizado em forma de quadro, resultado das observações e entrevistas.

4.1 Passeio acompanhado com deficiente visual

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Tabela 1 – Exemplo de Passeio Acompanhado

1. Parada de ônibus 2. Acesso à escola 3. Entrada da edificação

4. Anfiteatro 5. Entrada biblioteca

6. Auditório 7. Refeitório 8. Circulação

Vertical 9. Circulação Horizontal 10. Quadra de Esportes

1. O passeio acompanhado teve início no ponto de ônibus. A localização da placa atrapalha o fluxo de pedestres no passeio público. Não há faixa de pedestre na travessia da via o que prejudica a realização do percurso de forma segura e independente. É também inexistente o rebaixe de meio-fio, o que torna o percurso mais difícil.

2. Um trecho do passeio público não é calçado e possui obstáculos como grandes pedras que apresentam risco ao transeunte desatento ou com restrição visual.

3. Não há indicação da entrada da escola para o deficiente visual. A menina só percebeu que chegou a entrada, pois a bengala não mais batia em um plano vertical, ou seja a parede.

4. O anfiteatro da escola é um espaço de socialização que deve promover múltiplas atividades seja no período das aulas, seja nos intervalos entre elas, é um espaço de socialização. Neste caso, apresenta problemas de legibilidade (confunde-se com a entrada do laboratório) e de acesso, sendo que o palco é composto por degraus muito altos e sem o uso da rampa.

5. A biblioteca não apresenta elementos que a distingue dos demais ambientes, podendo ser confundida com uma sala de aula. No entanto, não apresenta problemas de acesso.

6. O auditório apresenta problemas de deslocamento interno – os patamares são vencidos apenas por degraus. A televisão fica posicionada a uma altura muito grande, prejudicando o conforto de todos os alunos, além de praticamente impossibilitar o uso por um portador de deficiência visual leve.

7. Não foram identificados problemas muito graves no refeitório, apesar de não existir informação adicional sobre a existência ou localização do espaço. A única coisa que o diferencia dos demais ambientes internos é a porta.

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9. No cruzamento principal de dois corredores da escola, identificou-se a importância de um piso diferenciado facilitando a tomada de decisão, pois neste ponto a aluna sempre perdia sua orientação.

10. Por se ter apenas um acesso pavimentado até a entrada da quadra de esportes, fica fácil o seu acesso. No entanto, o restante do pátio da escola é completamente inacessível a um aluno com restrição visual, pois este não apresenta referencial algum.

Apesar de se ter realizado o passeio com uma deficiente visual, identificou-se problemas que não são exclusivos desta restrição. A ausência de pavimentação do passeio público, por exemplo, prejudica o acesso a todas as pessoas, principalmente pessoas com dificuldades de deslocamento. A falta de informação adicional é outro fator que dificulta o deslocamento e a tomada de decisão por todos os indivíduos, portadores de deficiência visual ou não.

4.2 Observações e entrevistas

Para organizar as informações adquiridas nos levantamentos e análises, foram criados os Quadros de Observação dos Usos e das Atividades. Os quadros de observação pretendem apresentar, ao mesmo tempo, um diagnóstico detalhado e também sintético das condições espaciais de acessibilidade para a realização das atividades desempenhadas na escola, a partir de uma avaliação baseada no Desenho Universal.

Estes estão organizados em três colunas principais: Ambientes e elementos, onde consta o elemento analisado, ilustrado por uma imagem da situação identificada; Avaliação, apresenta uma avaliação da situação observada, descrevendo tanto os aspectos positivos quanto os negativos do ambiente; e Recomendação, onde sugerem-se algumas recomendações para solucionar as questões negativas apontadas anteriormente. A tabela 2 é um fragmento do quadro realizado para a escola Básica Donícia Maria da Costa, onde se avalia a chegada à escola.

Tabela 2 – Exemplo do Quadro de observação de usos e atividades

Ambientes e elementos Avaliação Recomendação

Condições de deslocamento

-O passeio possui desníveis. Na maior parte do percurso, o piso de revestimento está em mau estado de conservação e contém materiais inadequados como brita. Não há rampa no meio-fio.

Utilizar pisos de material apropriado e rampas no meio-fio.

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edifíci o Do a brigo de ônibus à entra da Contraste -+

O piso do passeio possui contraste de cor e textura em apenas um trecho.

A cor neutra do piso de concreto não causa desconforto visual. Os abrigos de ônibus, com cores contrastantes são facilmente identificados.

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Os quadros de observação e uso efetuados a partir da avaliação da Escola Básica Donícia Maria da Costa, permitiram identificar alguns fatores que dificultam a acessibilidade. Por exemplo, a escola possui uma Sala de Recursos Visuais que visa atender alunos vindos de diversas instituições de ensino do município. No entanto, o percurso do abrigo de ônibus à escola e do estacionamento à entrada do edifício, apresenta inúmeros obstáculos, tanto físicos como de acesso a informações espaciais. O uso de materiais inadequados (como brita no estacionamento) e a ausência de informações adicionais e de sinalização no piso prejudicam a acessibilidade do edifício. Sugere-se, portanto, a utilização de marcações com cor e texturas diferenciadas no revestimento do piso do passeio externo e o rebaixe de meio fio, como mostra a figura 2. Estas modificações permitiriam o deslocamento seguro e independente de uma pessoa portadora de deficiência visual ou física até a entrada da escola, sendo essenciais para possibilitar o acesso a uma das poucas salas de recursos visuais da rede escolar.

Fig. 2 – Situação Atual da escola – Proposta de solução

Este é apenas um exemplo dentre os diversos aspectos negativos identificados na escola. Isto revela que, mesmo com a preocupação de conceber um projeto universal, ambientes

Condições de deslocamento

-No estacionamento, não há rampas de transição para o passeio. O piso é de brita, que dificulta a locomoção de pessoas em cadeira de rodas.

Prover rampa de acesso entre o estacionamento e o passeio. O piso deve ser de material resistente e estável, que ofereça conforto, segurança e mobilidade ao usuário.

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A cor neutra do piso de concreto não causa desconforto visual.

Fluxos Cruzamento -

Há cruzamento entre os fluxos de pedestre e de

veículos no estacionamento. Porém,

há percurso alternativo em que o cruzamento não ocorre.

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acessíveis são, sobretudo, o resultado de um conjunto de medidas provenientes da análise das diferentes necessidades dos usuários, e não a adoção de medidas parciais que contemplem apenas algumas restrições.

5 CONCLUSÃO

Com a realização desta pesquisa, identificou-se realmente, a falta de preparo técnico sobre a questão da acessibilidade dos profissionais projetistas. Visando então nortear o desenvolvimento e a realização de projetos mais acessíveis e inclusivos, foram definidos Princípios Gerais e Específicos de Acessibilidade Espacial1 a partir da sistematização dos problemas encontrados. A seguir, descreve-se resumidamente estes princípios.

Princípios Gerais - estabelecem de que forma o ambiente físico deve ser projetado para possibilitar a integração de alunos com restrições:

1. Direito à eqüidade, participação - Todos os ambientes devem ser desenhados de forma a não segregar ou excluir pessoas, promovendo a socialização e a integração entre indivíduos com diferentes condições físicas, mentais e sensoriais.

2. Direito à independência - Todos os espaços físicos – pátios, caminhos, salas, etc...- e seus componentes – brinquedos, pisos, rampas, carteiras, etc... – devem permitir o desempenho de atividades de forma independente por todos os usuários.

3. Direito à tecnologia assistiva - Todos os alunos portadores de necessidades especiais têm direito à utilização de equipamentos, instrumentos, recursos e materiais técnico-pedagógicos adaptados de uso individual ou coletivo necessários para o desempenho das atividades escolares.

4. Direito ao conforto e segurança – Todos os ambientes e equipamentos devem possibilitar seu uso e a realização de atividades com conforto e segurança, de acordo com as necessidades especiais de cada indivíduo. O desenho deve minimizar o cansaço, reduzir o esforço físico, evitar riscos à saúde e acidentes dos usuários.

5. Direito à Informação Espacial – Deve estar prevista a possibilidade de acesso à informação espacial necessária para a compreensão, orientação e uso dos espaços a todos os alunos, independentemente de suas habilidades. A informação espacial é fornecida através das qualidades dos elementos arquitetônicos ou adicionais (mapas, totens, sinalização sonora,...) que permitem a compreensão da identidade dos objetos no espaço.

Abaixo é apresentado um pequeno resumo dos princípios específicos para projetos de escolas:

1. Implantação da escola no terreno – Objetiva-se salientar aspectos que estão diretamente ligados à fase de implantação do projeto arquitetônico, fase esta que envolve elementos como relevo, vegetação, acessibilidade e informação.

2. Zoneamento de usos e fluxos – Considera-se a organização interna e externa da edificação escolar quanto a sua funcionalidade e hierarquização de usos.

1 Estes princípios são descritos por completo no relatório final da pesquisa “Acessibilidade na Rede Escolar Municipal de

Florianópolis”. DISCHINGER, Marta. ELY, Vera Helena M.B. ANTONINI, Camile. DAUFENBACH, Karine. PADARATZ, Rejane. SOUZA, Thiago R. M. de. Acessibilidade na Rede Escolar Municipal de Florianópolis.

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3. Acessos na área pública e na escola - Este princípio visa trabalhar as questões envolvidas com todo o processo de aproximação da escola pelo pedestre. As condições de conforto e segurança devem ser garantidas ao longo de todos os percursos externos existentes.

4. Percursos externos e internos na área da escola – Busca-se expor a influência dos percursos na percepção dos usuários, e como utilizá-los para facilitar a leitura dos espaços e a orientação dos alunos.

5. Uso de ambientes e equipamentos – Este princípio busca garantir a igualdade de direitos para os usuários, independente de suas necessidades, tanto no acesso aos ambientes e equipamentos quanto no desenvolvimento das atividades do cotidiano escolar.

6. Informação espacial – Pessoas com restrições sensoriais recebem informação do ambiente através de diferentes fontes: elementos constituintes do ambiente e suportes adicionais de informação. A informação espacial deve auxiliar na compreensão da hierarquia e identidade dos espaços, evitando excesso de informação (poluição visual), assim como a uniformização excessiva dos ambientes.

7. Conforto ambiental – térmico, acústico e lumínico – O projeto do edifício escolar deve considerar as características naturais do entorno (insolação, ventos dominantes, presença de fontes de ruído, vegetação) para possibilitar iluminação, ventilação, conforto térmico-acústico adequado.

8. Segurança – A escolha dos materiais de revestimento deve incentivar a exploração dos ambientes por todas as crianças, sem expô-las a riscos. A escolha ainda deve levar em consideração a facilidade de manutenção dos ambientes externos e internos e dos equipamentos. Deve-se utilizar elementos arquitetônicos para o controle de entrada e saída de pessoas, restringindo o acesso a áreas perigosas. Também é válido facilitar a visualização dos acessos a partir do interior da edificação.

Acredita-se que na utilização destes princípios quando no ato da concepção de projetos de edifícios escolares, seja possível criar escolas mais acessíveis e consequentemente, mais inclusivas. Isto a partir do momento em que se permite o uso deste espaço e a participação efetiva das atividades ali desenvolvidas por todas as pessoas, levando-se em consideração a diversidade. Se a escola, e o edifício desta instituição, admitem e respeitam crianças com restrições, estará na realidade respeitando a toda a comunidade, alem de estar ensinando aos futuros “cidadãos” à responsabilidade social e a importância do respeito à diversidade humana.

As escolas são responsáveis pela criação e a instrução de comunidades. A partir do momento que esta possibilitar o seu uso por todas as pessoas (independente de suas habilidades), dando a indivíduos com deficiências as mesmas possibilidades de obter um ensino digno e de qualidade, se poderá considerar este como elemento beneficente para a melhoria da qualidade de vida nas cidades.

6 REFERÊNCIAS

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BRASIL.Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. https://legislacao.planalto.gov.br/legislacao

BRASIL.Lei nº 10.098 de 19 de Dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com

mobilidade reduzida, e dá outras providências.

https://legislacao.planalto.gov.br/legislacao.nsf/0/ec1ed2e96dc75fff032569fb003a519f?Op enDocument&AutoFramed

BRASIL.Decreto nº 5.296 de 2 de Dezembro de 2004. Regulamenta as Leis nºs 10.048, de 8 de novembro de 2000, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000.

http://www.trt02.gov.br/geral/tribunal2/Legis/Decreto/5296_04.html

Dischinger, M. (2000) Designing for all senses: accessible spaces for visually impaired citizens. Thesis for the degree of doctor of philosophy – Department of Space and Process, School of Architecture, Chalmers University of Technology. Götemborg, Suécia.

Dischinger, M.; ELY, V. H. M. B.; Machado, R.; Padaratz, R.; Daufenbach, K.; Antonini, C.; Souza, T. R. M. (2004) Desenho Universal nas escolas: Acessibilidade na rede municipal de ensino de Florianópolis. Ed. Secretaria Municipal de Florianópolis. Florianópolis, SC, Brasil.

Ely, V. H. M. B. Moraes, A. (2004) Acessibilidade Espacial: condição necessária para o projeto de ambientes inclusivos. In: (org.). Ergodesign do Ambiente Construído e Habitado. 2 ed. Rio de Janeiro: iUsEr,

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Fig. 1 Vista da Escola Básica Donícia Maria da Costa
Tabela 1 – Exemplo de Passeio Acompanhado
Tabela 2 – Exemplo do Quadro de observação de usos e atividades
Fig. 2 – Situação Atual da escola – Proposta de solução

Referências

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