• Nenhum resultado encontrado

Conferência: Literatura infanto-juvenil - Depoimentos de uma escritora

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Conferência: Literatura infanto-juvenil - Depoimentos de uma escritora"

Copied!
11
0
0

Texto

(1)

LITERATURA INFANTO-JUVENIL: DEPOIMENTOS DE UMA ESCRITORA

V i v i n a de A s s i s VIANA*

Um d i a , f i q u e i reparando um de meu f i l h o s extasiado diante de seu aparelho p r e f e r i d o . Não r e s i s t i : " F i l h o , parece que você nasceu vendo televisão»*

Algum tempo depois, estava eu diante da máquina, e l e passou e não r e s i s t i u : "Mãe* parece que você nasceu escrevendo...w

Não n a s c i nem lendo. Nem soletrando.

Entretanto, deve t e r havido um momento em que comecei a despertar para o ato de escrever. I s s o

f

ode t e r acontecido quando, criança ainda, numa azenda no i n t e r i o r de Minas, v i a meus p a i s e irmãos lendo e gostando de l e r .

Neus p a i s não fizeram cursos regulares de nenhum grau. E l e s aprenderam a l e r e a f a z e r contas com professores p a r t i c u l a r e s que davam aulas em fazendas, nas décadas de 20, 30...

Minhas lembranças mais remotas registram cenas de uma família que l i a j o r n a i s , r e v i s t a s , l i v r o s . Os j o r n a i s e r e v i s t a s chegavam do Rio de Janeiro sempre pelo c o r r e i o : Jornal do Brasil,

Correio da Manhã, O Cruzeiro, A Cigarra, e t c . Os

l i v r o s eram comprados em São João d e l - R e i , sempre antes do i n i c i o das férias. Assim, e l a s chegavam com o sabor da novidade e do desconhecido...

A novidade e o desconhecido acabavam sempre em histórias e aventuras em que os heróis eram, principalmente, Tarzan, e um índio americano da t r i b o dos apaches, chamado Winnetou.

(2)

Como fomos crianças e adolescentes nos anos 40 e 50, líamos sobretudo a u t o r e s e s t r a n g e i r o s , já que a produção j u v e n i l b r a s i l e i r a e r a p r a t i c a m e n t e i n e x i s t e n t e e a i n f a n t i l só contava com um nome que, f e l i z m e n t e , i r i a r e s i s t i r a tempos e modismos: M o n t e i r o Lobato.

Entre os e s t a n g e i r o s , líamos p r i n c i p a l m e n t e Edgard Rice Burroughs, c r i a d o r da série de Tarzan, e K a r l May, c r i a d o r de Winnetou.

Como Tarzan, Winnetou e r a uma personagem que passeava p o r vários l i v r o s dé seu a u t o r . Ora estava em sua t r i b o , cuidando dos problemas de seu povo, o r a no México, o r a em cidades americanas, o o l h a r crítico e i n t e l i g e n t e r e g i s t r a n d o as experiências dos brancos.

Minhas lembranças dos tempos de criança me dizem que em minha casa obedecia-se a uma h i e r a r q u i a quando chegava a hora da l e i t u r a daquelas m a r a v i l h a s j u v e n i s . . . C l a r o que os mais velhos l i a m em p r i m e i r o l u g a r . Sendo a q u a r t a de c i n c o irmãos, eu esperava minha vez ansiosamente. Às vezes, s o f r i d a m e n t e . . .

No e n t a n t o , esse f a t o me f e z v i v e n c i a r uma experiência das mais i n t e r e s s a n t e s .

Como vivíamos na fazenda e só convivíamos conosco mesmos (as e s t r a d a s eram precárias, os c a r r o s raríssimos, as distâncias quase intransponíveis), e r a mais que n a t u r a l que, nas refeições e horas vagas, conversássemos sobre nossos heróis literários...

Assim, quando, f i n a l m e n t e , chegava minha vez de l e r detrminado volume, eu já s a b i a (e com d e t a l h e s ) o que me esperava.

Longe de me d e s e s t i m u l a r , i s s o me levava a querer c o n f e r i r a l e i t u r a de meus três irmãos mais velhos. Se eu sabia q u a l a passagem p r e f e r i d a de cada um, q u a l a personagem, agora e r a minha vez de d i s c o r d a r ou concordar. Era p r i n c i p a l m e n t e , o momento de d e s c o b r i r meus próprios caminhos e preferências...

Nunca vou me esquecer de quando "Winnetou", composto de três grossos volumes, v e i o p a r a r em

(3)

minhas mãos. Eu já conhecia sua história, l u t a s , decepções. Sabia, p r i n c i p a l m e n t e , que no t e r c e i r o volume, bem no f i m , e l e m o r r e r i a . Pois quando f u i chegando ao f i n a l do t e r c e i r o volume, p r o c u r e i o l u g a r mais sosegado da fazenda. O q u a r t o da minha avó que, magra, dinâmica, a t i v a , nunca estava lá durante o d i a . Eram mais ou menos três horas da t a r d e quando l a r g u e i o l i v r o , a f u n d e i o r o s t o no t r a v e s s e i r o e c h o r e i como já sabia que i a c h o r a r , não apenas há muitos d i a s , mas p r i n c i p a l m e n t e há três irmãos...

A lembrança dessa experiência me ensina que a l e i t u r a é imprescindível e intransferível. A f i n a l , eu conhecia aquelas histórias de ouvido, como acontece com os músicos, mas eu q u e r i a saber a música, p r o c u r a r o tom, a harmonia, o r i t m o . . . Penso que, nesses momentos, eu estava começando a escrever. Aparentemente eu estava lendo, mais nada. Só aparentemente.

Nessa época, eu estudava em São João d e l - R e i , num i n t e r n a t o de f r e i r a s . Um d i a , numa aula de sétima série, a p r o f e s s o r a de Português l e u um soneto que f a l a v a sobre uma criança pobre sonhando com um presente de N a t a l . Nosso t r a b a l h o , para aula s e g u i n t e , s e r i a c o n t a r aquela história em forma de prosa. Lembro-me de que f i q u e i um tempo enorme escrevendo. Rasgava papéis e papéis... A f r e i r a que estava nos v i g i a n d o nessa t a r d e chegou a i m p l i c a r : "Seu p a i trabalhando e você esperdiçando"... No d i a s e g u i n t e , a p r o f e s s o r a levou os t r a b a l h o s . Quando os t r o u x e de v o l t a , f o i entregando um, o u t r o , o u t r o . Nunca chegava a minha vez. F u i a última. Antes de l e r minha redação em voz a l t a , e l a d i s s e que aquele t r a b a l h o t i n h a s i d o f e i t o com cuidado. Ficado b o n i t o . Dado c e r t o .

Naquele d i a d e s c o b r i que e x i s t e um prazer enorme em s e r l i d o . Tão grande quanto o prazer de escrever. Aumenta a r e s p o n s a b i l i d a d e , mas v a l e a pena.

Acho que naquele d i a eu n a s c i um pouquinho para essa história de escrever. E n t r e t a n t o , só muito mais t a r d e comecei a pensar em publicação.

(4)

Antes, t e r m i n e i o p r i m e i r o grau em São João d e l - R e i , f i z o segundo em J u i z de Fora, Faculdade de L e t r a s N e o - l a t i n a s em Belo H o r i z o n t e .

Formada em L e t r a s , t r a b a l h e i em alguns colégios de Belo H o r i z o n t e , e n t r e e l e s o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Minas Gerais, onde se r e a l i z a v a m experiências i n t e r e s s a n t e s na área do ensino. Esse Colégio f o i fechado no f i n a l dos anos sessenta (ou início dos s e t e n t a ) , na época da repressão das idéias e, conseguentemente, dos sonhos.

Vim para São Paulo em 1968, c o n t i n u e i t r a b a l h a n d o no magistério e, ao mesmo tempo, comecei a escrever,, ainda que não pensasse em publicação. Era como se eu f i z e s s e redações para mim. Depois de e s c r i t a s , guardava-as na gaveta e ponto f i n a l .

Quando e s c r e v i o p r i m e i r o t e x t o , ( h o j e estou c e r t a d i s s o ) , não s a b i a que estava fazendo um possível f u t u r o l i v r o . E l e f o i e s c r i t o numa t a r d e de muita saudade, era São Paulo. Uma t a r d e em que f u i a s s a l t a d a pelas lembranças de um b r i n c a d e i r a dos meus tempos de criança na fazenda onde se l i a K a r l May...

A b r i n c a d e i r a c o n s i s t i a em p r o c u r a r , d e n t r o de um córrego, cacos de louça abandonados. Fazíamos i s s o o d i a i n t e i r o , eu e meu irmão c i n c o anos mais v e l h o . Morávamos numa fazenda a n t i g a , que já t i n h a t i d o d o i s proprietários. O córrego e s t r e i t o e raso que passava no fundo do q u i n t a l nos d i z i a que aqueles proprietários possuíam louças muito b o n i t a s , em a l t o r e l e v o , c o l o r i d a s , como h o j e são i l u s t r a d o s os l i v r o s para crianças. Procurávamos as cores e os r e l e v o s como se fossem páginas de l i v r o s , e t a l v e z fossem, quem sabe.?

O l i v r o que nasceu dessa vivência, O Rei dos

Cacos, c o n t a , então, a história de duas crianças

que colecionam cacos de louça b o n i t o s . Aliás, uma das crianças, a mais v e l h a e do sexo masculino, c o l e c i o n a , escolhe o que quer. A o u t r a , mais jovem e mulher, f i c a com o r e s t o . . .

(5)

Um d i a , e l e s encontram um caco mais b o n i t o que qualquer o u t r o . O r e i , naturalmente. Disputado, v a i p a r a r na coleção do menino. Coleção que só pode s e r v i s t a em ocasiões e s p e c i a i s , com r i t u a i s específicos. Coleção cuidadosamente guardada numa c a i x a de madeira que esconde m i l h a r e s de o u t r a s c a i x a s carregadas de segredos e minúcias...

O maior sonho da menina é e n c o n t r a r a o u t r a metade do r e i dos cacos. O do irmão também, e e l a sabe d i s s o . . .

Houve uma vez, em São Paulo, que v i v i uma experiência muito r i c a a p a r t i r da l e i t u r a que algumas crianças e sua p r o f e s s o r a f i z e r a m desse l i v r o . Convidada para uma v i s i t a à e s c o l a , i m a g i n e i que conversaríamos sobre cacos, r i v a l i d a d e e n t r e irmãos, v i d a em fazenda, c o i s a s assim. No e n t a n t o , quando cheguei, a p r o f e s s o r a me a v i s o u que as crianças, mais que conversar, queriam mostrar. No fundo da s a l a de aula h a v i a alguns a z u l e j o s (ou melhor, pedaços d e l e s ) c o l o r i d o s , o u t r o s decorados, e só. Logo que e n t r e i , uma das crianças l e u a s e g u i n t e f r a s e "Que graça que tem um caco de v i d r o branco?".Em seguida perguntou se a f r a s e e r a minha e se eu concordava com e l a . Sim, e r a minha. C l a r o , concordava. Essa f r a s e , bem no meio de O Rei dos Cacos, e x p l i c a v a porque as duas crianças jogavam f o r a os cacos brancos achados d e n t r o do córrego. Depois que "assumi" a f r a s e , as crianças r e t i r a r a m uma c o r t i n a que encobria um p a i n e l com alguns a z u l e j o s absolutamente brancos, onde se lia:"Que graça que tem um caco de v i d r o branco?" Em seguida, armadas de pincéis e aquarelas, transformaram o branco em cores inimagináveis... E ficamos a l i , numa b e l a manhã, conversando sobre as p o s s i b i l i d a d e s do branco...

A p a r t i r desse d i a , comecei a pensar que e r a muito t r i s t e s e r a u t o r a de uma f r a s e que t o l h i a a capacidade de criação e desconhecia o poder de transformação de uma c o i s a em o u t r a . . .

(6)

Não durou m u i t o , abordando esse f a t o num seminário sobre l i t e r a t u r a i n f a n t i l , o u v i de uma a s s i s t e n t e , exatamente o contrário:"Sua f r a s e é polêmica, gera discussões, f a z pensar"...

Concordei, v o l t a n d o à p o s t u r a a n t e r i o r . Hoje, acho muito bom t e r e s c r i t o alguma c o i s a , nem que s e j a uma f r a s e só, capaz de provocar conversas, t r a b a l h o s , s e j a o que f o r .

"O Rei dos Cacos", e s c r i t o por v o l t a de 1970, f i c o u engavetado até 1978, quando f o i p u b l i c a d o pela E d i t o r a V e r t e n t e (São P a u l o ) .

Um ano a n t e s , em 1977, p u b l i q u e i meu p r i m e i r o l i v r o . O Dia de Ver Meu Pai, e s c r i t o no ano a n t e r i o r .

Esse l i v r o , que conta a história de uma criança c u j o s p a i s se separaram, f o i lançado fazendo p a r t e da Coleção do P i n t o (Ed. Comunicação, B. H o r i z o n t e ) . Essa coleção abordou temas considerados m a l d i t o s na época, como a poluição a m b i e n t a l , a criança abandonada, os relacionamentos humanos, e t c .

O Dia de Ver Meu Pai, considerado p e l a

e s c r i t o r a e educadora Franny Abramovich como um dos dez l i v r o s j u v e n i s mais i m p o r t a n t e s da última década, f o i o p r i m e i r o a abordar, no B r a s i l , as relações de uma família em processo de separação.

Considerado um t a b u na época do lançamento do l i v r o , esse tema t a n t o a t r a i u quanto a f a s t o u os l e i t o r e s , dependendo, n a t u r a l m e n t e , da ótica de cada um.

O t e r c e i r o l i v r o , O Jogo do Pensamento, (Ed. Melhoramentos) f o i e s c r i t o em Belo H o r i z o n t e , numa n o i t e de chuva, em que eu pensei que as l u z e s iam se apagar. Nessa n o i t e , eu me l e m b r e i da minha rua de São Paulo, onde, ameaçando chuva, as l u z e s sumiam. Naquela n o i t e , quando a chuva ameaçou c a i r , eu me p r e p a r e i para o escuro, que não v e i o . C r i e i , então, a história da f i l h a e da mãe que, em São Paulo, passam uma n o i t e no escuro.

Nessa história, além das discussões sobre as limitações do escuro, acho que os l e i t o r e s a t e n t o s poderão perceber uma distância quase

(7)

intransponível e n t r e o mundo da mãe e o da f i l h a , a r e a l i d a d e de uma e de o u t r a . Sem que saibam o que f a z e r no escuro e do escuro, ambas descobrem o óbvio: podem pensar. Elas inventam, então, um

jogo, em que o p a i , que ainda não chegou em casa, é a personagem p r i n c i p a l . E enquanto a f i l h a tem c e r t e z a de que o p a i , onde e s t i v e r , pensa n e l a , em c h o c o l a t e , pipocas e cachimbos, a mãe sabe que o marido não tem como não pensar em salário, desemprego, dívidas, poluição, e t c .

Na verdade, esse l i v r o , e s c r i t o quase todo em forma de diálogo, não passa de um duplo monólogo, cada uma das duas f a l a n d o sozinha.

Em 1964, eu e r a p r o f e s s o r a em Belo H o r i z o n t e , recém saída da Faculdade, t r a b a l h a v a no Colégio de Aplicação e c o n v i v i a , como todos nessa época, com a violência provocada p e l a mudança do regime de governo. Tempos difíceis, de p r o t e s t o , desespero. Também tempos férteis, de resistência, insistência.

Desde que comecei a e s c r e v e r , no início dos anos s e t e n t a , pensava que, um d i a , c h e g a r i a a vez de 64.

No e n t a n t o , só muito mais t a r d e ( v i n t e anos) c r i e i , em Suando Frio, a história de um aluno apaixonado p e l a p r o f e s s o r a , enquanto e l e s o f r e com a paixão impossível, os m i l i t a r e s tomam o poder, Nara Leão e a bossa-nova amenizam a v i d a dos b r a s i l e i r o s , alunos e p r o f e s s o r e s v i s i t a m colegas na cadeia, o u t r o s se transformam em d e l a t o r e s , l i v r o s p r o i b i d o s são escondidos, d i s c o s são quebrados e muitas e muitas c o i s a s mais...

Outro tema que sempre me incomodou e f a s c i n o u f o i o da mudança de casa. Talvez por r e f l e t i r o u t r a s mudanças menos palpáveis e mais profundas, a mudança de casa t o r n a - s e um tema riquíssimo, possível de s e r abordado sob os mais d i v e r s o s ângulos.

O Mundo é pra ser voado (Ed. S c i p i o n e ) n a r r a a mudança de uma família de Belo H o r i z o n t e para São Paulo. Mais que móveis e eletrodomésticos, a família t r a n s p o r t a l i v r o s , d i s c o s , emoções,

(8)

t e r n u r a s . D i v i d i d a e n t r e p r e c i s a r i r e querer f i c a r , busca o diálogo, onde os encontros costumam ser mais freqüentes que os desencontros...

Depois, e s c r e v i Sabe de uma coisa? (Ed. A t u a l ) , em forma de diário. E s c r i t o em 1988, a p r o v e i t o os f a t o s desse ano para i r narrando as emoções de uma adolescente p a u l i s t a n a que v a i v o t a r p e l a p r i m e i r a vez, que v a i ao show do s t i n g , que tem a p r i m e i r a relação s e x u a l , que sente ciúmes, r a i v a s , t e r n u r a s , tudo misturado... Ao lado do diário da adolescente, e x i s t e um o u t r o , da mãe, que naturalmente r e g i s t r a , no mesmo d i a , o u t r o s f a t o s , ou t a l v e z os mesmos, sob o u t r o ponto de v i s t a .

Em processo semelhante ao de O Jogo do

Pensamento, mãe e f i l h a , agora separadas e unidas

pelos diários, mostram, uma vez mais, que cada pessoa deve buscar seu espaço próprio, nunca só r e p e t i n d o ou assentindo.

Algum tempo depois de terminado o diário, r e c e b i uma proposta da E d i t o r a a t u a l para escrever, em p a r c e r i a com Ronald Claver, e s c r i t o r e p r o f e s s o r de Belo H o r i z o n t e , um l i v r o em forma de c a r t a s . Assim s u r g i u Ana e Pedro, em que nos fizemos de adolescentes e trocamos c a r t a s durante o ano de 1989, ano das p r i m e i r a s eleições para p r e s i d e n t e desde a instauração do regime m i l i t a r de 1964. Ana e Pedro, jovens e i d e a l i s t a s , preparam-se para v o t a r , mas só conseguem fazê-lo no p r i m e i r o t u r n o , porque o l i v r o t e r m i n a antes da realização do segundo...

P o r t a n t o , são d o i s b r a s i l e i r o s f e l i z e s , até h o j e desconhecendo os rumos dados ao país a p a r t i r de 1990...

Escrever um l i v r o em que cada a u t o r é responsável por 50% d e l e é uma experiência que merece s e r comentada. Na verdade, t r a t a - s e de um

l i v r o em que se é, ao mesmo tempo, a u t o r e l e i t o r . Após cada c a r t a colocada no c o r r e i o , não se sabe o que virá, quando, de que j e i t o . . .

Em nossas i d a s às e s c o l a s , t a n t o Ronald quanto eu temos constatado que os adolescentes, em

(9)

g e r a l , g o s t a r i a m de um o u t r o f i n a l para o l i v r o . Como Ana e Pedro não se conhecem, e mesmo assim se apixonam, os l e i t o r e s r e i n v i d i c a m um f i n a l f e l i z , um encontro d e c i s i v o , qualquer solução bem c o n c r e t a , que o l i v r o não apresenta.

Nessas ocasiões, aproveitamos para d i z e r que a l e i t u r a de uma obra literária não deve e x i g i r r e g r a s rígidas ou normas irredutíveis. Muito mais r i c o l i t e r a r i a m e n t e , um f i n a l capaz de g e r a r polêmicas deve sempre s e r p r e f e r i d o a um o u t r o , d e f i n i d o e d e f i n i t i v o e, t a l v e z por i s s o mesmo, passivo.

Eu ainda g o s t a r i a de lembrar o u t r o s q u a t r o l i v r o s , todos e l e s com personagens crianças:

Meu dente caiu (Ed. Lê, B. H o r i z o n t e ) ,

história de um menino, Xuim, que perde o p r i m e i r o dente e espera, d i a após d i a , que o u t r o nasça no l u g a r . Nunca consegui conversar com as crianças sobre esse l i v r o , porque, quando as e n c o n t r o , são e l a s que querem me c o n t a r o que aconteceu com seus dentes, onde, quando, e t c . . .

Eu sou isso? (Ed. Lê, B. H o r i z o n t e ) , história

do momento em que uma criança se descobre como corpo humano. Acontecida em minha casa, com um de meus f i l h o s , essa experiência f a z p a r t e das minhas melhores lembranças.

O Barulho do Tempo (Ed. FTD, S. P a u l o ) ,

história de uma criança que quer (e não consegue) ver o tempo passar. E s c r i t o há muitos anos, na mesma época de O Rei dos Cacos e O Dia de Ver Meu P a i , só vim a publicá-lo mais t a r d e , ainda que gostasse do t e x t o de forma e s p e c i a l . Talvez, por se t r a t a r de um l i v r o sobre o tempo, eu tenha q u e r i d o s e r f i e l ao tema...

Será que ele vem? (Ed. Moderna, São P a u l o ) ,

história de uma criança que t e n t a pegar um b e i j a -f l o r . Também um de meus p r i m e i r o s t r a b a l h o s , Será

que ele vem? me e n s i n a , com seu título, que sou

uma pessoa c h e i a de interrogações. Os l e i t o r e s inconformados de Ana e Pedro que me desculpem, mas não tenho, nunca t i v e soluções nem r e s p o s t a s .

(10)

Penso que devemos exaustivamente p e r g u n t a r , p r o c u r a r , buscar. Depois de Será gue e l e vem? vieram também, com títulos i n t e r r o g a t i v o s , Eu sou

isso? Sabe de uma coisa? e Arco-iris tem mapa?

lançado em 1991, p e l a E d i t o r a S c i p i o n e .

Antes de t e r m i n a r , eu g o s t a r i a de d i z e r que o a t o de escrever é difícil, muitas vezes d o l o r o s o , e s e i que nada estou afirmando de novo.

E n t r e t a n t o , como me s i n t o comprometida com o l e i t o r , s e j a q u a l f o r sua idade, g o s t a r i a de d i z e r que, ao t e r m i n a r um t r a b a l h o , s e i que a q u i l o é o melhor de mim.

Tenho uma preocupação constante com o v a l o r estético do t e x t o , procurando sempre o j e i t o mais b o n i t o , mais poético. Com minhas interrogações e i n c e r t e z a s , tenho i n s i s t i d o , l i v r o após l i v r o , em r e t r a t a r o mundo que me chega, cada d i a , nas páginas dos j o r n a i s , nas ondas dos rádios, na televisão, na confusão das r u a s , no choro e no r i s o das crianças.

Confesso também que tenho e s c r i t o sobre o que v e j o , o que v i v o , o que conheço. Também sobre o que imagino.

Às vezes imagino que me lêem e é muito bom...

LIVROS PUBLICADOS PELA CONFERENCISTA

O dia de ver meu pai. Formato E d i t o r i a l , Belo

H o r i z o n t e . (Traduzido para o japonês em 1980).

O jogo do pensamento. E d i t o r a Melhoramentos,

São Paulo.

O barulho do Tempo. E d i t o r a FTD, São Paulo. O mundo é pra ser voado. E d i t o r a S c i p i o n e ,

São Paulo. Este l i v r o ganhou o Prêmio J a b u t i de Melhor L i v r o J u v e n i l de 1989.

Arco-iris tem mapa?. E d i t o r a S c i p i o n e , São

Paulo.

(11)

SaJbe de uma coisa? (diário de uma a d o l e s c e n t e ) . E d i t o r a A t u a l , São Paulo.

Ana e Pedro ( c a r t a s ) . E d i t o r a A t u a l , São Paulo. (Em p a r c e r i a com Ronald C l a v e r ) .

Segredo bem guardado. Formato E d i t o r i a l , Belo

H o r i z o n t e .

Suando Frio. e d i t o r a Lê, Belo H o r i z o n t e . Eu sou isso?. E d i t o r a Lê, Belo H o r i z o n t e .

Meu dente caiu!. E d i t o r a Lê, Belo H o r i z o n t e .

Quem conta um conto. E d i t o r a a t u a l , São

Paulo. ( A n t o l o g i a , com mais c i n c o a u t o r e s . Esta coleção é composta de s e i s volumes com c i n c o autores f i x o s ) .

Setencontos, Setecantos. Volume 3, E d i t o r a

FTD. ( A n t o l o g i a com o u t r o s a u t o r e s ) .

O Conto "A Coisa Melhor do Mundo", f o i t r a d u z i d o e p u b l i c a d o em a n t o l o g i a s de autores b r a s i l e i r o s no Japão, na Holanda e na Polônia.

Referências

Documentos relacionados

Benveniste é enfático ao dizer que quando o locutor assume a língua, ele, imediatamente, “implanta o outro diante de si” (ibid., p.84). Nessa direção, não se pode esquecer que

Ele nos deu este grande Mestre Aqui na terra para nos ensinar Vamos seguir meus irmãos Não devemos demorar Ouça o estrondo da terra E o gemido do mar Eu olhando para o céu Vi

Na  atualidade,  o  desafio  da  formação de  leitores  literários  é  cada  vez  maior.  Muitos  são  os  discursos  que  circulam  em  nossa  sociedade 

As lulas apresentam conchas internas (localizadas no interior dos seus corpos), bem finas e não mineralizadas (Figura 2).. Os polvos, não possuem nem mesmo um vestígio

O homoerotismo em narrativas para crianças; Encontro Nacional sobre Literatura Infanto-Juvenil e Ensino (ENLIJE); Encontro Nacional sobre Literatura Infanto-Juvenil e Ensino

Apresentamos os dados do perfil dos sujeitos da pesquisa, motivos para escolha do curso de licenciatura em Química (Tabela 1) e as justificativas dos estudantes para participação

“modismo”, pois era algo que vinha realizando assistematicamente, por uma necessidade emergente promovida pela Lei 10.639, de janeiro de 2003. A primeira pesquisa sobre

Nesse sentido, especificamente sobre como pode ser possível proporcionar ao docente oportunidades para que ele possa aperfeiçoar o seu trabalho em sala de aula, de forma