Análise estatística do perfil dos usuários do sus em tratamento quimioterápico
paliativo em um estado do sul do Brasil
Statistical analysis of profile of sus users under paliative chemotherapy treatment
in a state of southern Brazil
DOI:10.34117/bjdv6n11-382
Recebimento dos originais: 18/10/2020 Aceitação para publicação: 18/11/2020
Sérgio Luiz de Abreu
Programa de Pós Graduação em Engenharia Biomédica, Mestrado Profissional, Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR
Endereço: Av. Silva Jardim, 807 – Bloco V3, Centro, Curitiba-PR E-mail: abreu.sergiol@gmail.com
Claudia Regina Biancato Bastos
Programa de Pós Graduação em Tecnologia em Saúde, Doutorado, Escola Politécnica - Pontificia Universidade Católica do Paraná – PUC/PR. Mestre em Tecnologia em Saúde
Endereço: Rua Imaculada Conceição, 1155 – Prado Velho, Curitiba/PR E-mail: claudiabiancatobastos@gmail.com
RESUMO
Este estudo objetivou avaliar o perfil dos usuários do SUS no Estado do Paraná que receberam tratamento de quimioterapia paliativa. Método: Análise exploratória de dados secundários de APAC de quimioterapia no Estado do Paraná. Os resultados apontaram que a maioria dos usuários pertencem ao sexo masculino e encontram-se com a doença avançada. Tais achados demonstram a emergente necessidade de desenvolver estratégias para diagnóstico precoce e adesão dos usuários aos programas de prevenção.
Palavras-chave: Cuidados paliativos, Quimioterapia, Tecnologia, Análise Estatística. ABSTRACT
This study aimed to evaluate the profile of SUS users in the State of Paraná who received palliative chemotherapy treatment. Method: Exploratory analysis of secondary APAC data from chemotherapy in the State of Paraná. The results showed that the majority of users are male and have advanced disease. Such findings demonstrate the emerging need to develop strategies for early diagnosis and adherence of users to prevention programs
1 INTRODUÇÃO
O câncer constitui um grupo amplo e complexo de doenças, suas causas e mecanismos patogênicos são muito variados e afetam todas as raças, sexos e idades. A evolução natural da doença é progressiva, até o fim da vida do indivíduo, e a única maneira de combatê-la é através do trabalho preventivo, nos casos em que isso é possível, ou através do diagnóstico precoce, no qual uma terapia eficaz e curativa pode ser estabelecida (FUENTES PELÁEZ et al., 2018).
O câncer é uma doença relevante para a saúde pública devido a sua incidência e mortalidade, sendo considerada como a principal causa de óbitos, antes dos 70 anos, em todos os países do mundo no século XXI (BRAY et al., 2018).No Brasil, a estimativa para cada ano do triênio 2020-2022 aponta que ocorrerão 625 mil casos novos de câncer (BRASIL. INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (INCA), 2019).
Existem três formas de tratamento do câncer: cirurgia, radioterapia (RT) e quimioterapia (QT), são usadas em conjunto no tratamento das neoplasias malignas, variando apenas quanto à importância de cada uma e a ordem de sua indicação, sendo importante uma assistência integral com a integração de serviços oncológicos, em estrutura hospitalar credenciada e habilitada (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019) no Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (SCNES) do Sistema Único de Saúde (SUS).
As possibilidades de cura do câncer são relacionadas principalmente com o diagnóstico precoce e o estadiamento primário da doença, tais informações irão nortear o tipo de tratamento ao qual o paciente irá submeter-se (INSTITUTO ONCOGUIA, 2014). Dentre os tratamentos existentes, o paliativo requer maior atenção tanto pelo o usuário quanto para sistema de saúde, pois segundo a Organização Mundial da Saúde (2012), terapias paliativas são indicadas para pacientes com estágios avançados do câncer e têm como objetivo amenizar os sinais e sintomas decorrentes do câncer, bem como promover conforto e bem-estar para o paciente e para a família. Entre as terapias disponíveis para o tratamento paliativo, a quimioterapia (QT) é a terapêutica específica de primeira escolha para pacientes com câncer avançado (NAVARRO JIMÉNEZ; CRUZADO; BOYA CRISTIA, 2017). Nesse sentido, este estudo objetivou analisar estatisticamente o perfil dos usuários do SUS no Estado do Paraná que receberam tratamento com QT paliativa, no ano de 2018.
A APAC dispõe informações epidemiológicas e assistenciais tais como: Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, Décima Revisão (CID10), tipo de tumores, estadiamento, envolvimento de linfonodos, procedimentos quimioterápicos e radioterápicos a serem realizados, e informações sobre o paciente: cartão nacional de saúde (CNS), sexo, raça, idade, município de residência do paciente e dados do estabelecimento de saúde que
executará o tratamento, por exemplo, localidade, número do cadastro nacional de estabelecimento de saúde (CNES).
2 MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de estudo de análise exploratória de dados (TONETTO; BRUST-RENCK; STEIN, 2014), desenvolvido em cinco etapas, sendo elas: extração dos dados; exportação dos dados; categorização e análise das variáveis; análise estatística dos resultados. A etapa de extração dos dados foi realizada por meio dos arquivos “AQ - APAC de QT” da base de dados do Sistema de Informação Ambulatorial (SIA/SUS) disponibilizados no portal datasus.gov.br (vale ressaltar que o banco de dados disponibilizados no portal são anonimizados). Os dados extraídos foram exportados para planilhas do Excel® e em seguida para um banco de dados (BD) do Access®. Nesta etapa foi considerado como critério de inclusão usuários que realizaram QT paliativa no ano de 2018 no Estado do Paraná. Como critérios de exclusão foram considerados: usuários menores de 21 anos, usuários com carcinoma in situ e atributos que continham variáveis em branco no BD. Tais fatores foram considerados de exclusão pois, o tratamento dos mais jovens costumam ser diferente, mesmo em relação a autorização de APAC no SUS (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019) tumores identificados com estágio clínico 0 (carcinoma in situ) são difíceis de diferenciar histologicamente e podem ser classificados como benignos ou incertos, benignos e malignos (BUSTAMANTE-TEIXEIRA; FAERSTEIN; LATORRE, 2002). Na categorização e análise das variáveis foi utilizado o software IBM®, SPSS® Statistics versão 26 a fim de transformar as variáveis (α) numéricas em variáveis nominais e ordinais. Na análise estatística foi considerado um nível de significância de 5% (α = 0,05). O teste do qui-quadrado (χ2) foi empregado na comparação das neoplasias malignas de cólon, pulmão, de mama e próstata em tratamento de QT paliativa em relação aos estágios clínicos da doença.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O banco de dados do ano de 2018 é constituído de 235.091 procedimentos ambulatoriais realizados nos serviços de oncologia, destes 90.178 (38,4%) se referem aos procedimentos de QT paliativa. Este quantitativo de procedimentos está distribuído entre 13.475 usuários, com idade média de 65,3 anos (DP=12,8). A maioria do sexo masculino (56,0%), com predomínio da raça branca (74,7%).
A frequência enquanto sexo, localização de neoplasias malignas, assim como o estádio geral estão representados na tabela 1.
Tabela 1. Características de usuários da base de dados APAC/SIA/SUS-PR, 2018. Características Coorte (n=235.091) QT paliativa (n=90.178) Sexo Masculino Feminino Neoplasias Malignas
Cólon, junção retossigmóide Traqueia, brônquios e dos pulmões Mama Próstata Outras neoplasias Estadios I II III IV 32,9% 67,1% 7,6% 2,6% 53,3% 17,6% 18,9% 15,3% 25,3% 28.6% 30,7% 56,0% 44,0% 12,0% 4,6% 26,1% 38,2% 19,1% 7,1% 10,7% 17,7% 64,5%
Legenda: I – invasão local inicial; II – invasão local regional mínima; III - invasão local regional extensa e IV – tumor localmente avançado.
Podemos observar que o sexo feminino é o de maior frequência entre todos que receberam QT (67,1%) no ano de 2018, porém ao avaliar as QT paliativas o sexo masculino (56,0%) é o que predomina. Desta forma podemos inferir que os homens possuem um diagnóstico mais avançado da doença quando iniciam o tratamento quimioterápico. Práticas do autocuidado ainda são percebidas como atributos femininos e que a masculinidade hegemônica pautado na força física e na invulnerabilidade são fatores que podem influenciar no diagnóstico tardio da doença (MODENA et al., 2013). Nesta mesma perspectiva evidenciamos por meio da tabela acima que o câncer de mama é o que recebe maior tratamento QT (53.3%), porém ao analisar sob a ótica do tratamento paliativo, o câncer (MODENA et al., 2013) de próstata assume a primeira posição (38.2%). Tal achado corrobora com estudo que aponta o câncer de próstata entre doenças crônicas não transmissíveis que mais afetam os idosos e a baixa procura pelos serviços de saúde é o que mais compromete o diagnóstico precoce (KRÜGER; CAVALCANTI, 2018). Os cânceres de próstata, pulmão e intestino são os mais comuns nos homens (BRASIL. INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (INCA), 2019).
O diagnóstico clínico por localização da neoplasia maligna, considerando o tratamento paliativo, está descrito na tabela 2.
Tabela 2. Tabulação cruzada, neoplasia maligna e estadiamento. Paraná, 2018. Neoplasia Maligna Estadio I Estadio II Estadio III Estadio IV
Cólon, junção retossigmóide 0,7% 5,2% 14,1% 80,0%
Traqueia, brônquios e dos
pulmões 1,0% 1,9% 11,0% 86,1%
Mama 11,5% 15,1% 21,3% 52,2%
Próstata 9,4% 13,2% 17,6% 59,7%
Total 7,1% 10,7% 17,7% 64,5%
Legenda: I – invasão local inicial; II – invasão local regional mínima; III - invasão local regional extensa e IV – tumor localmente avançado.
Ao utilizar o teste qui-quadrado (χ2), encontramos o valor de 2155,788 e o valor de p < 0,00001, sendo o resultado significativo em p < 0,05, mostrando que existe diferença entre as neoplasias malignas, que receberam tratamento em quimioterapia paliava em relação ao grau clínico de estadiamento, principalmente os estádios III e IV.
4 CONCLUSÃO
O diagnóstico precoce de cânceres aumenta a chance de seu tratamento. Por esse motivo, vários pesquisadores tentam criar sistemas inteligentes para auxiliar os médicos no diagnóstico precoce de cânceres (OSKOUEI; KOR; MALEKI, 2017).
As desigualdades regionais e sociais no acesso e na qualidade da atenção em saúde representam a impossibilidade do acesso a um diagnóstico precoce e da chance de realizar um tratamento curativo, e não paliativo. A realidade oncológica aponta para a chegada aos centros de referência de alta complexidade com doença avançada ao diagnóstico (ALCANTARA; SANT’ANNA; DE SOUZA, 2013).
A alta proporção de pacientes diagnosticados em estádios avançado desperta interesse da necessidade de gestão estadual/municipal de saúde priorizar medidas de prevenção primária da doença, melhorar a rede de atenção à pessoa com neoplasia, bem como novas estratégias para o diagnóstico precoce e rastreabilidade em indivíduos assintomáticos por meio de exames periódicos.
O Brasil na construção de um sistema de saúde universal apresenta situação contraditória, de existência de um sistema público de dimensões expressivas, baseado na diretriz de universalidade, com mercados privados dinâmicos e em ascensão, que disputam recursos do Estado, privando a possibilidade de consolidação de um sistema de saúde igualitário (MACHADO; LIMA; BAPTISTA, 2017).
REFERÊNCIAS
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