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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE PROGRAMA DE ECONOMIA PROFISSIONAL UELSON BARBOSA DA SILVA

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE PROGRAMA DE ECONOMIA PROFISSIONAL

UELSON BARBOSA DA SILVA

SUCESSO ELEITORAL E A INFLUÊNCIA DA PROFISSÃO DE MÉDICO: UMA ANÁLISE PARA A FUNÇÃO DE VEREADOR

NO MUNICÍPIO DE FORTALEZA

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SUCESSO ELEITORAL E A INFLUÊNCIA DA PROFISSÃO DE MÉDICO: UMA ANÁLISE PARA A FUNÇÃO DE VEREADOR

NO MUNICÍPIO DE FORTALEZA

Dissertação submetida à Coordenação do Programa de Economia Profissional - PEP da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Economia. Área de concentração: Economia do Setor Público.

Orientador: Prof. Ronaldo de Albuquerque e Arraes

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca Universitária

Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

S584s Silva, Uerlson Barbosa da.

Sucesso eleitoral e a influência da profissão de médico : uma análise para a função de vereador no município de Fortaleza / Uerlson Barbosa da Silva. – 2017.

45 f. : il.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade, Mestrado Profissional em Economia do Setor Público, Fortaleza, 2017.

Orientação: Prof. Dr. Ronaldo de Albuquerque e Arraes.

1. Sucesso eleitoral. 2. Médico. 3. Vereador. 4. Fortaleza. 5. Modelo de escolha binária Logit. I. Título.

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SUCESSO ELEITORAL E A INFLUÊNCIA DA PROFISSÃO DE MÉDICO: UMA ANÁLISE PARA A FUNÇÃO DE VEREADOR

NO MUNICÍPIO DE FORTALEZA

Dissertação submetida à Coordenação do Programa de Economia Profissional - PEP da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Economia. Área de concentração: Economia do Setor Público.

Aprovada em: 13/12/2017.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Ronaldo de Albuquerque e Arraes (Orientador) UFC/CAEN/PEP

Prof. Dr. Andrei Gomes Simonassi (Coorientador) UFC/CAEN/PEP

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Aos meus pais

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O presente estudo investiga alguns determinantes do sucesso eleitoral para os candidatos ao poder legislativo no município de Fortaleza, tomando por base o período 2008-2016. Especificamente, busca-se quantificar a influência da profissão de médico sobre a probabilidade de eleição, vis-à-vis os gastos de campanha e a experiência do candidato. Para tanto, é estimado modelo de variável dependente binária com a totalidade dos candidatos ao cargo de vereador na capital cearense em três pleitos eleitorais, bem como realizadas simulações para diferentes perfis destes indivíduos. Os resultados das estimações permitem concluir que muito embora a profissão de médico contribua positivamente com o sucesso eleitoral, a experiência política possui efeito marginal superior, bem como os gastos de campanha se mostram igualmente consistentes no incremento desta probabilidade de sucesso, ao passo que a idade do candidato se mostrou insignificante. Em conjunto, os resultados confirmam o impacto econômico sobre o sucesso eleitoral, bem como a influência do profissional de saúde, em um contexto em que o país clama por renovação e mudança na política.

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The present study investigates some of the determinants of electoral success for candidates to the legislative power in the city of Fortaleza, taking as a basis the period 2008-2016. Specifically, it seeks to quantify the influence of the medical profession about the probability of election, vis-à-vis the campaign spending and the expertise of the candidate. To accomplish this goal, a binary dependent variable model is estimated with the totality of the potential candidates in three elections within that period, as well as performed simulations for different profiles of these individuals. The results of the estimations allow us to conclude that although the medical profession contributes positively to the electoral success, the candidate expertise has larger marginal effect, just as the cost of campaign show itself consistent in increasing this probability of success, while the age of the candidate proved to be insignificant. It is also confirmed the significant economic impact on elections outcome, as well as the influence of health professional in such political process, which meet the voters claim for renewal and change in the election political process.

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1 INTRODUÇÃO ... 8

2 ESTRUTURA CONCEITUAL ... 11

3 EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS ... 19

3.1 Conhecendo O Desenvolvimento Humano De Fortaleza...19

3.2 Compondo O IDH Das Zonas Eleitorais De Fortaleza... 21

3.3 Desempenho Eleitoral Dos Médicos...22

3.4 Gasto De Campanha Dos Candidatos...24

3.5 Experiência Política...26

3.6 Faixa Etária Dos Médicos...27

3.7 Variáveis Do Estudo Econométrico...28

4 METODOLOGIA...30

4.1 Base De Dados...30

4.2 O Modelo Econométrico E O Método De Estimação...31

4.2.1 Método De Estimação...31

4.2.2 Equação Estimada...32

5 RESULTADOS...34

5.1 Resultados Estimados Para O Cargo De Vereador De Fortaleza...34

5.2 Simulações...36

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...39

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Tabela 1 - IDH por Zona Eleitoral de Fortaleza ... 22

Tabela 2 - Índice de Desempenho do Médico, por Zona Eleitoral ... 23

Tabela 3 - Gastos Gerais e de Médicos, entre Eleitos e Não-eleitos ... 25

Tabela 4 - Estimações dos Determinantes de Probabilidade de ser Eleito ... 34

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1 INTRODUÇÃO

O estudo investiga os determinantes da probabilidade de eleição de candidatos ao poder legislativo de Fortaleza, com foco no grupo social dos médicos, com o objetivo de avaliar fatores que conduzem o candidato rumo ao seu principal objetivo, que é ser “eleito” (variável a ser explicada), em função do que ao modelo econométrico é incorporado a variável (de interesse) “médico” (explicativa), junto a outras características socioeconômicas dos candidatos.

A campanha eleitoral é de longe o principal fórum de discussão de desempenho dos mandatários de plantão dos cargos políticos, especialmente quanto ao trabalho realizado (ou ao que deixou ser cumprido), culminando com a nova oportunidade de escolha daqueles que melhor atenderão os anseios dos seus representados (a sociedade).

Neste sentido, as eleições são um dos mais importantes instrumentos do sistema democrático, pois permitem alternativas de poder, ao dar oportunidade àqueles (candidatos) que não ocupam ou nunca exerceram cargos eletivos anteriores. Dentre os fatores determinantes do sucesso eleitoral um dos que tem recebido mais atenção por parte de economistas e cientistas políticos são a arrecadação de recursos e o correspondente gasto (dos candidatos) em campanhas eleitorais. É fato que há correlação entre o dinheiro e êxito no resultado eleitoral: é o que aponta diversos estudos, de cujos modelos de análise integram dados socioeconômicos outros, principalmente os disponibilizados pelos órgãos da justiça eleitoral, como a formação educacional, a informação de gênero, bem como a ocupação/ofício e a idade do candidato.

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Pimentel (2015)1, incorporou, ainda que de natureza coadjuvante, a variável

“médico” como um dos fatores no seu estudo acerca da probabilidade de eleição de candidatos ao poder legislativo no Estado do Ceará, cujo resultado, embora não apontasse para a esperada significância estatística, foi a deixa para, através do presente trabalho, melhor conhecer este grupo profissional. O fato de ser médico, conclui, não traz ao profissional da medicina nenhuma vantagem competitiva.

Sabedor da expressiva participação dos médicos no embate eleitoral, com fração não menos louvável de candidatos com acesso ao poder legislativo municipal da capital cearense, questões tão importantes quanto as chances de sucesso eleitoral são conhecer os ambientes e as respectivas performances dos aspirantes ao cargo de vereador de Fortaleza, na condição de médico.

Estaria uma correlação positiva vinculada também ao fato do profissional exercer alguma atividade voluntária, pela atuação beneficente do profissional médico? É mais provável a sua ocorrência em território de baixa provisão de serviços de saúde pelo Estado (leia-se município)? Respostas conclusivas a estas difíceis questões são delicadas, dado que não se dispõe de dados diretamente observáveis, mas uma

proxy, ainda que externo ao modelo econométrico, será utilizada neste sentido, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) das zonas (regiões) nas quais os candidatos médicos foram favorecidos com o voto do eleitor.

Este estudo desdobra-se sobre essa questão – de que ser médico (ofício) no pleito eleitoral, ceteris paribus, é fator de influência no sucesso eleitoral do candidato. Consoante já dito, a questão não se restringe simplesmente a analisar as chances probabilísticas do candidato-médico em face de um modelo de análise econométrica. Propõe-se ainda conhecer a relação entre os espaços nos quais os médicos tiveram os desempenhos eleitorais, no sentido de investigar se os melhores resultados eleitorais foram obtidos em regiões de baixo índice de desenvolvimento humano (IDH).

O presente trabalho está dividido em seis seções. Após esta introdução, a próxima traz a teoria geral que delineia as razões dos desempenhos dos candidatos médicos nas campanhas políticas. A terceira descreve as evidências empíricas, contemplando o conhecimento das variáveis do modelo proposto, bem como dar a

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2 ESTRUTURA CONCEITUAL

É praticamente nulo trabalhos acadêmicos no Brasil2 sobre a participação

política do grupo social “médico”, tomado isoladamente, e sua ascendência aos cargos políticos, e por extensão do legislativo brasileiro. Sobre o tema de interesse (a participação do segmento sócio-ocupacional “médico” no legislativo municipal de Fortaleza), especialmente no formato que se pretende ser aqui delineado, encontram-se produções intelectuais de modo esparso.

Neste sentido, o presente estudo busca preencher essa lacuna, ao capturar frações dessa biblioteca de conhecimento, reduzindo a um modesto sistema de informação, que versa sobre os médicos como importante grupo social a transitar e a fixar-se com habilidade nos poderes da república brasileira, e com especial notoriedade nos parlamentos, utilizando-se ainda de dados disponibilizados por órgãos da justiça eleitoral e da prefeitura municipal de Fortaleza, referentes aos pleitos eleitorais ocorridos nos anos de 2008, 2012 e 2016, para acesso às cadeiras da Câmara Municipal de Fortaleza.

Rodrigues (2002)3, com o objetivo de estudar a relação dos partidos

políticos com os grupos sociais e, de algum modo, com a sociedade, evidenciou em termos agregados que os profissionais liberais, com destaque para os “médicos” em efetivo exercício, estão entre as categorias que encabeçam a lista da classe política a representar o povo brasileiro na Câmara Federal.

A ocupação profissional está entre um dos atributos de posição social mais revisitados no estudo das elites políticas, e Codato, Costa e Massimo (2014)4 o fez

inspirados nos preceitos propostos por Max Weber (1994) e acostado em Norris e Lovenduski (1997), de que determinadas profissões são mais propícias ao político profissional, tanto mais quanto mais possa (i) dispor de uma carreira flexível e economicamente independente, (ii) gozar de status social elevado junto à sociedade e (iii) ter afinidade com os valores e as práticas do mundo político. Neste sentido

2 A julgar por uma rápida busca na web sob o termo frasal “o médico como vantagem comparativa na

disputa eleitoral”; acesso [em 01/10/2017].

3 RODRIGUES, L. M. (2002); “Partidos, Ideologia e Composição Social”. Revista Brasileira de

Ciências Sociais (RBCS), 2002, v. 17, n. 48, p. 33; cf. ainda CORADINI (2012, p. 112).

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[continua], prescreve a observação de Ranney (1965), segundo a qual a ocupação de médico assume características apropriadas para o desenvolvimento de uma carreira política, pois, além de permitir maior dedicação à vida política (tempo), dispõe de estabilidade financeira e status social elevado junto à sociedade, o que lhe proporciona maior liberdade para assumir riscos e custos de tentar uma posição no parlamento. Contudo [continua], o risco por se afastar da atividade é maior para os profissionais da medicina do que para os advogados, por exemplo, uma vez que o médico que passa muito tempo longe do consultório perde muito da evolução do conhecimento e inovações que rotineiramente acompanha o setor de saúde.

Com a profissionalização da política e a concorrência cada vez mais acirrada, o alcance do sucesso eleitoral indubitavelmente passa pelo financiamento de campanha, dado o impacto que exerce sobre os resultados eleitorais, evidências de que são testemunhas a literatura internacional e nacional. Nos Estados Unidos Jacobson (1990)5, um dos principais referenciais sobre a matéria, observou, a partir

de dados das eleições norte-americana para o parlamento, que o dinheiro não é tudo, mas é absolutamente essencial, com os seus efeitos apresentando-se de forma distinta entre os mandatários e os desafiantes6. Palda & Palda (1998)7, para as

eleições da França, também comprovou que os resultados eleitorais são influenciados pelos gastos de campanha, com os efeitos positivos do dinheiro sendo igualmente mais favoráveis aos desafiantes.

No Brasil, a análise dos efeitos da aplicação de recursos em campanha sobre os resultados eleitorais intensificou-se a partir de 2002, quando a justiça eleitoral passou a gerar e a disponibilizar os dados relativos à prestação de contas de todos os candidatos, de todos os cargos políticos. Sobre a literatura brasileira produzida de 2001 a 2012, interessante observar a compilação de Mancuso (2015)8. Um dos

primeiros trabalhos de referência é atribuído a Samuels (2001)9, que em análise das

5 JACOBSON, G. C. (1990); “The Effects of Campaign Spending in House Elections: New Evidence for Old Arguments”. American Journal of Political Science, 1990, v. 34, n. 2, p. 357.

6 Entende-se como “desafiantes” os que pela primeira vez (não-político) tentam assentar-se no cargo

político. A constatação, segundo o qual o impacto eleitoral dos gastos de campanha é maior para os candidatos desafiantes do que para os mandatários (exercente do cargo), é conhecido como “efeito Jacobson”.

7 PALDA, F.; PALDA, K. (1998); “The impact of campaign expenditures on political competition in the French legislative elections of 1993”. January 1998, 94:157.

8 MANCUSO, W. P. (2015); “Investimento eleitoral no Brasil: balanço da literatura (2001-2012) e agenda de pesquisa”. Revista de Sociologia e Política, 2015, v. 23, n. 54, pp. 155-183.

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eleições nacionais concluiu que há relação direta entre o investimento financeiro e o sucesso eleitoral, mas sem antes pontuar que o sistema é deletério para a democracia, à medida que tende a perpetuar os laços entre as elites políticas conservadoras e os interesses empresariais.

Arruda et al. (2014)10 igualmente percebe que a receita exerce efeito

positivo sobre o número de votos obtidos pelos candidatos, bem como confirmou o “efeito Jacobson”11. Apesar do efeito marginal do dinheiro ser mais favorável aos

desafiantes (e quiçá por isso), os mandatários de cargos políticos no Brasil tendem a ter mais acesso aos recursos de financiamento eleitoral, cujos campeões (de arrecadação e gasto), segundo Mancuso e Speck (2015)12, têm maiores chances de

serem eleitos que os demais candidatos.

Cervi et al. (2015)13, além de mostrar a forte correlação entre o dinheiro e o

sucesso eleitoral nas eleições nacionais, em especial para deputado federal, perceberam em sua análise que os recursos são direcionados mais claramente para aqueles que já são políticos (político profissional), o que fazem destes, segundo Perissinotto e Bolognesi (2010)14, candidatos com maiores probabilidades de serem

(re)eleitos.

A questão mais recente sob análise busca encontrar (novas) regras política e eleitoral mais democráticas, que possibilite um processo mais equilibrado de escolha dos representantes da sociedade, com a solução passando necessariamente pela redução da influência do poder econômico no financiamento de campanhas eleitorais, de modo que o poder do voto não se torne um mero slogan, mas um verdadeiro elemento de controle social (SIMONASSI; ARRAES; OLIVEIRA, 2015)15.

10 ARRUDA, M. V.; COUTO, A.; FERRAZ, N.; FERREIRA, T.; MEDEIROS, L. (2014); “O Preço do

Poder: Financiamento de Campanha e Voto no Brasil”. Revista Política Hoje, 2014, v. 25, n. 2,

passim.

11 Sobre a influência do dinheiro e o “efeito Jacobson”, ver também MARCELINO, D. (2010), “Sobre Dinheiro e Eleições: Um Estudo dos Gastos de Campanha para o Congresso Nacional em 2002 e 2006”. Universidade de Brasília, Brasília, 2010, pp. 1-123.

12 MANCUSO, W. P.; SPECK, B. W. (2015); “Financiamento Empresarial na Eleição para Deputado Federal (2002-2010): Determinantes e Consequências”. Revista Teoria & Sociedade, 2015, v. 23, n. 2, passim.

13 CERVI, E. U.; COSTA, L. D.; CODATO, A.; PERISSINOTTO, R. (2015); “Dinheiro, profissão e partido: a vitória na eleição para deputado federal no Brasil em 2010”. Revista Sociedade e Estado, 2015, v. 30, n. 1, p. 189 et seq.

14 PERISSINOTTO, R.; BOLOGNESI, B. (2010); “Electoral success and political institutionalization in the federal deputy elections in Brazil (1998, 2002 and 2006)”. Brazilian Political Science Review, Rio de Janeiro, 2010, v.4, n.1, pp. 26-27.

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Além do dinheiro, não é incomum os candidatos eletivos fazerem uso de outros meios, de natureza social e/ou institucional, com o fim de convertê-los em capital político, especialmente aqueles, segundo Coradini (2007)16, oriundos de

ocupações que trazem consigo uma forte aplicabilidade prática e caro à sociedade – caso do médico. O relacionamento do profissional da medicina [continua] com os diferentes agentes de interesse permite ao médico (com destaque para os titulares de cargos eletivos ou de “confiança”) extrair dividendos políticos, ao mediar demandas por políticas de assistência médica para a população (por princípio um dever constitucional do Estado) ou pela atuação profissional direta, instrumentalizados por sua atuação (do médico) no serviço público ou por meio da medicina “privada” filantrópica e/ou assistencialista, esta financiada não raramente com apoio direto de políticas governamentais e/ou de outras organizações sociais.

Apesar da participação política dos médicos nas instâncias do poder legislativo ser preponderante, a categoria dá sinais de insatisfação política, especialmente nos momentos em que são atingidos em seus interesses corporativistas caso da introdução do “mais médicos” em território brasileiro17, motivo

pelo qual a categoria, através do seu órgão representativo, exortou a classe (médica)18

a participar ativa e diretamente dos pleitos políticos, e assim ocupar cadeiras do legislativo, e até de outros poderes, seja federal, estadual e/ou municipal.

Até mesmo a possibilidade de um bloco parlamentar no Congresso Nacional do tipo “bancada ruralista”, e mais ainda a criação de um partido próprio, já

de Economia da Anpec), passim. Sobre a temática, ver também Arruda et al. (2014), op. cit., e

SAMUELS, David (2007); “Financiamento de Campanhas no Brasil e Propostas de Reforma”.

Revista do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (Suffragium), Fortaleza, 2007, v. 3, n. 4, p. 11 et

seq.

16 CORADINI, O. L. (2007); “Engajamento associativo-sindical e recrutamento de elites políticas:

tendências recentes no brasil”. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, 2007, n. 28, passim.

17 Com o objetivo de recrutar profissionais bolsistas para regiões carentes, oriundos inicialmente de

Cuba, o programa governamental foi objeto de batalha judicial, que foi finalizado com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que julgou improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5035, que questionava a legislação que o criou, rejeitando pedido formulado pela Associação Médica Brasileira (AMB), para declarar inconstitucional vários pontos da Medida Provisória 691/2013, depois convertida na Lei 12.871/2013.

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foram sugeridos por profissionais médicos, a fim de defender seus interesses (MACHADO, M. H., 1997)19.

De acordo com Monte (2002)20, os profissionais da medicina, assim como

a de qualquer categoria de trabalhador, foram fortemente afetados pelo receituário neoliberal, de implementação de uma economia de livre mercado, que elevou o espírito concorrencial, abalando o espírito de solidariedade geral entre os seus membros.

Há quem21 observe que o problema da falta de integração política dos

médicos passa pela formação política adequada, com absorção de conhecimentos teóricos e práticos de princípios e ações políticas, através de lideranças orientadas no sentido da defesa de valores morais e materiais tão caros e necessários à classe médica, e à sociedade.

Então a questão se volta à identificação dos principais fatores que contribuem para o sucesso eleitoral da categoria profissional da medicina, já que, ao que se apresenta, não há uma atuação mais direta e eficaz dos órgãos representativos da classe (médica), como os sindicatos e os conselhos, o que de certo modo contradiz Coradini (2007)22, que constatou um crescente e relevante vínculo dos políticos de

atuação nacional com instituições de cunho associativo e sindical, desde a retomada do processo democrático mais recente, o identificando como fonte de recurso eleitoral. Assim como notado por Lemos, Marcelino e Pedriva (2010a)23, não há

como desconsiderar o papel central de cada candidato na condução da campanha rumo à vitória, até porque ele é o maior interessado, inclusive quanto ao uso do capital associativo-sindical como capital político, mas principalmente em razão de características próprias do sistema eleitoral brasileiro, que torna custoso e arriscado apostar num candidato ao legislativo.

19 MACHADO, M. H. (1997); “Os médicos no Brasil: Um retrato da realidade”. Editora Fiocruz, Rio de Janeiro, 1997, p. 196.

20 MONTE, F. Q. (2002); “A ética na prática médica”. Revista Bioética, 2002, v. 10, n. 2, p. 39.

21 Cf.artigo de Hélio Angotti Neto, publicado [em 25/06/2015], intitulado “O problema da Ausência de Formação Política entre Médicos”; disponível em [<https://academiamedica.com.br/blog/o -problema-da-ausencia-de-formacao-politica-entre-medicos>].

22 CORADINI (2007, op. cit., pp. 197 e 201). Segundo seus achados, dos 10,9% dos políticos

vinculados a associações-sindicatos, 38,3% eram ligados aos cursos de medicina, advogados, engenheiros e assemelhados (profissionais liberais).

23 LEMOS, L. B.; MARCELINO, D.; PEDERIVA, J. H. (2010); “Porque dinheiro importa: a dinâmica das

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De modo inquietante desde já assume-se o pressuposto de que o fato de ser médico é fator que o difere dos concorrentes na corrida eleitoral, e essa distinção é conferida pelo eleitorado ao médico-candidato por razões que extrapolam a sua associação com os investimentos financeiros e/ou a sua experiência política, mas também devido a fatores socioeconômicos e/ou demográficos da sociedade de Fortaleza, uma metrópole (assim como de resto o Brasil) de abissal desigualdade social, em que a oferta de serviços de saúde pelo Estado não é suficiente para atender a demanda, mormente as de regiões carentes (de renda, inclusive).

Para robustecer esta hipótese, indispensável é o conhecimento das nuances desses espaços com carência de serviços de saúde, e o faremos através de uma proxy– o IDH, que de modo indireto (não incorporado ao modelo econométrico) servirá para tirar inferências acerca da relação entre as regiões com melhor desempenho eleitoral do médico-candidato e os respectivos índices de desenvolvimento humano dos seus eleitores.

Da mesma forma que o candidato à “reeleição” possa levar consigo, em princípio, vantagens competitivas, pelo fato do exercício parlamentar permitir o alcance a benefícios diversos (MAYHEW, 2004 apud LEMOS, MARCELINO e PEDRIVA, 2010b)24, o exercício da atividade da medicina de cunho “voluntário” pode

dar ao médico vantagem no desafio de ser membro (titular) de uma corporação político-legislativa.

Na concepção de Sapiro e Mattiello (2016)25, a atividade de “voluntariado”

caracteriza-se pelo ato de doar tempo e conhecimento em prol da sociedade em que se vive, com ações não remuneradas, de valor para a comunidade ou o próximo, e ao permitir o contato direto com comunidades e pessoas, especialmente aquelas em condições de vulnerabilidade social, promovem um maior envolvimento humano e consequentemente em gestos e atitudes que trazem benefícios mútuos na saúde, tanto na de quem presta quanto na do receptor.

Antonello (2016)26, ao tecer reflexões sobre o trabalho de Sapiro & Mattiello

(2016)27, concorda com o benefício à saúde que a prática do “voluntariado”

24 LEMOS, L. B.; MARCELINO, D.; PEDERIVA, J. H. (2010, p. 370).

25 SAPIRO, A.; MATTIELLO, R. (2016); “Voluntariado: benefício a quem presta e a quem recebe”. Scientia Medica, 2016, v. 26, n. 4, p. 1 et seq.

26 ANTONELLO, I. C. F. (2016); “Voluntariado e suas razões”. Scientia Medica, 2016, v. 26, n. 4, pp. 1-2.

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proporciona, mas levanta questionamentos acerca dos sentimentos que estão por trás daqueles que o exercem, se de cunho altruísta ou movido por interesses pessoais, sendo que os defensores de ambas as visões defendem que tanto uma quanto a outra conduzem à felicidade. Para ilustrar, cita Dalai Lama: “Se você gostaria de ser egoísta, faça de maneira inteligente; o modo estúpido é a busca da felicidade para nós mesmos; o inteligente trabalha para o bem-estar dos outros.” (tradução nossa)28. Por

fim, sugere estudos adicionais que possam esclarecer os mecanismos causais da ação beneficente.

Monte (2002)29 admite a habitualidade dos médicos na política, em face da

qual reconhece o desvio ético como uma questão a ser enfrentada, como a do exercício da prática profissional para ganhar eleitores em prol de si ou em apoio a colegas candidatos, criando muitas vezes um vínculo de dependência psicológica com o paciente/eleitor e com um agravante: pressionado pela necessidade de ter muitos votos, pratica serviço médico a elevado número de pacientes, geralmente de má qualidade, negligente e mal-intencionado.

Respeitante ao problema, a própria classe médica, sobrepondo o interesse coletivo (da categoria inclusive) ao individual, codificou o tema30: é vedado ao médico

aproveitar-se de situações decorrentes da relação médico-paciente para obter vantagem física, emocional, financeira ou de qualquer outra natureza.”.

Esses breves recortes sobre a atividade do “voluntariado”, que trazem evidências de possíveis benefícios mútuos entre os agentes envolvidos, mas também de ceticismo, se a prática é de cunho altruísta ou egoísta, permitem introduzir um tema que recorrentemente tem sido objeto de estudo entre os que fazem as ciências políticas e sociais – o “clientelismo”31, que, na perspectiva de D’avila Filho (2003)32,

ancorado em Bahia (2003)33, é um fenômeno de trocas políticas, de natureza

28 Texto original: “If you would like to be selfsh, you should do it in a very intelligent way. The stupid

way to be selfsh is … seeking happiness for ourselves alone. … the intelligent way to be selfsh is to

work for the welfare of others.”.

29 MONTE, F. Q. (2002, p. 42).

30 Cf.Código de ética médica”. Resolução CFM nº 1.931/2009, artigo 40; disponível em [<https://portal.cfm.org.br/images/stories/biblioteca/codigo%20de%20etica%20medica.pdf>].

31 Para uma vistoria conceitual do “clientelismo” em sua perspectiva temporal e comparativa com o

“coronelismo”, ver Carvalho, J M (1997), em “Mandonismo, Coronelismo, Clientelismo: Uma Discussão Conceitual”. Revista de Ciências Sociais, vol. 40, nº 2, Rio de Janeiro, 1997; disponível em [<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200003#v1>],

32 D’AVILA Filho, P. M. (2003); “O Clientelismo como Gramática Política Universal”. Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 2003, v. 13, n. 2, passim.

33 BAHIA, Luiz Henrique Nunes (2003); “O poder do clientelismo: raízes e fundamentos da troca

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clientelista, caracterizado por relações de assimetria entre quem tem ou não acesso ao poder público (aos bens e serviços), gestado em espaços informais (sem garantia legal) e tão mais intensa quanto maior for a indisponibilidade desses bens e serviços públicos, seja pela ineficácia ou falta de eficiência do Estado e/ou ainda por questões de desigualdades socioeconômicas.

É senso comum da literatura contemporânea, emenda D’avila Filho (2003)34, que o fenômeno do clientelismo é endógeno às organizações sociais,

inclusive àquelas consideradas mais avançadas, cujo objetivo é, antes de tudo, uma disputa pelo poder e conseguintemente pelo acesso e apropriação dos instrumentos, benefícios e recursos patrimoniais de um Estado sobre o qual pesa uma responsabilidade cada vez maior sobre a organização econômica e social, derivando daí uma expansão de recursos disponíveis, pelos quais os legítimos (ou não) atores sociais e políticos concorrem.

O pressuposto é que o uso da prática clientelista resulta do comportamento racional dos atores envolvidos (político e eleitor), que a partir de análise dos custos e benefícios objetivam maximizar as suas utilidades.

Ressalte-se que aqui não se objetiva tirar conclusões acerca da verdadeira intenção do candidato pela eventual atuação clientelista, mas para além de conhecer o papel do dinheiro e do político como fator de sucesso eleitoral, compreender o espaço geográfico no qual o candidato médico a vereador de Fortaleza tem o seu desempenho eleitoral, a partir do qual tirar inferências sobre as causas dessa relação. Para isso, utilizaremos (i) dados socioeconômicos e geográficos disponibilizados pelos órgãos da justiça eleitoral, (ii) conceitos e estrutura sistêmica do índice de desenvolvimento humano, o IDH, que surgiu dentro do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e (iii) indicadores de desenvolvimento humano, por bairros, o IDH-B, desenvolvidos pela prefeitura municipal de Fortaleza, a partir dos quais (iv) construiremos um indicador que represente o desempenho do candidato em suas respectivas zonas eleitorais, estas devidamente classificadas por IDH.

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3 EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS

O foco desta seção é conhecer o conjunto demográfico e espacial no qual o médico atua, em termos de qualidade da saúde, aqui representado pelo índice de desenvolvimento humano (IDH), no sentido de dar a resposta ao pressuposto inicial, de que o sucesso eleitoral do candidato médico também está associado à sua atuação em territórios de baixa atenção à saúde. Neste sentido, “médico” será a variável de interesse. O conjunto de variáveis que serão controladas no modelo econométrico também é conhecido, com destaque para “gastos de campanha” (gasto) e “experiência política” (político). A “idade”, igualmente uma variável de controle, atua como coadjuvante.

3.1 Conhecendo O Desenvolvimento Humano35 De Fortaleza

O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDH é um qualificador do estágio de uma região quanto ao seu desenvolvimento social, que se traduz em qualidade de vida e bem-estar social, e leva em conta fatores como longevidade (saúde), acesso ao conhecimento (educação) e padrão de vida (renda) de uma população. Ao longo de suas três décadas de existência o índice tem sido motivo de críticas (algumas já absorvidas), como o número limitado de dimensões e indicadores, que poderiam ser ampliados não fora a confiabilidade e a disponibilidade desses dados em atender os pressupostos de análise do IDH.

O índice, que varia de 0 (zero) a 1 (um), sendo que 0 representa nenhum desenvolvimento humano e 1, desenvolvimento humano total, é classificado atualmente em cinco faixas escalares que vai de “muito alto” (0,800 –1,000) a “muito baixo” (0,000 – 0,499), intermediado por faixas categorizadas como índice de “alto” (0,700 – 0,799), “médio” (0,600 – 0,699) e “baixo” (0,500 – 0,599) desenvolvimento humano.

A “saúde”, uma das três dimensões que são consideradas para se medir o progresso econômico-social de uma nação (ou sub-região), tem como indicador a

35 O conteúdo inicial desta seção, de caráter informativo, tem como referência o estudo de Prearo,

(22)

“esperança de vida ao nascer”, a partir do qual se cria o respectivo subíndice (ver equação abaixo a seguir). Para isso, são tomados os maiores e os menores valores observados no período estipulado, para cada variável e em relação a cada unidade observada, sendo que para a longevidade o mínimo esperado é de 20 anos (esperança de vida).

Í𝑛𝑑𝑖𝑐𝑒 𝑑𝑎 𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑠ã𝑜 =𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑜𝑏𝑠𝑒𝑟𝑣𝑎𝑑𝑜−𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑚í𝑛𝑖𝑚𝑜𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑜−𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑚í𝑛𝑖𝑚𝑜

Criado os índices das dimensões (longevidade, educação e renda), eles são agregados para produzirem o índice geral (o IDH), por meio da média geométrica dos três (sub) índices obtidos, conforme equação:

𝐼𝐷𝐻𝑖 = √𝐼𝐷𝐻𝑙𝑜𝑛𝑔𝑒𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑖+ 𝐼𝐷𝐻𝑒𝑑𝑢𝑐𝑎çã𝑜𝑖+𝐼𝐷𝐻𝑟𝑒𝑛𝑑𝑎𝑖 3

De acordo o relatório PNUD 2012 (dados do Censo 2010), o Brasil alcançou o 85º entre os 187 países no ranking global de desenvolvimento humano, apresentando um índice de 0,730.

Para os municípios brasileiros também são produzidos os índices de desenvolvimento humano, o IDH-M36, em que são compilados, além das três

dimensões do IDH global, indicadores municipais que ampliam a compreensão dos fenômenos e dinâmicas locais, motivo pelo qual o PNUD ressalta a falta de comparabilidade entre os dois índices (IDH e IDH-M). Para Fortaleza, o IDH-M (Censo 2010) é de 0,754.

Com o objetivo de conhecer com mais detalhe a realidade socioeconômica da população fortalezense, a Prefeitura criou o seu próprio IDH interno, o IDH-B37, que

por adaptação à realidade local, igualmente não cabe comparações com o IDH (global), nem com o IDH-M.

Para o IDH-longevidade (subíndice), a Prefeitura de Fortaleza utilizou a percentagem da população maior de 64 anos residente no bairro, de modo a buscar traduzir as condições sociais e sanitárias do bairro, sendo que os bairros periféricos,

36 O IDH-M tem como criador o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) da

ONU, o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) – órgão do governo federal e a Fundação

João Pinheiro, do governo de Minas Gerais.

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como era de se esperar, figuram com os piores IDH-longevidade (como também com os piores IDH-Renda), como Canindezinho (0,111), Genibaú (0,112) e Conjunto Palmeiras (0,131), que se apresentam com as menores proporções de população idosa ali residentes.

3.2 Compondo O IDH Das Zonas Eleitorais De Fortaleza

Dado a necessidade de se conhecer o IDH da zonas eleitorais, para os propósitos deste trabalho, passemos à concepção do IDH por zona (IDH-Z), para o qual utilizaremos, além do IDH-B, as informações do TRE-Ce (Tribunal Regional Eleitoral do Ceará)38, que disponibiliza os bairros dos 125 “Locais de Votação” por

zona eleitoral (média de 9,6 locais por zona) e os correspondentes eleitores aptos a votar nas 13 zonas eleitorais existentes em Fortaleza, com média de 86.398 eleitores por zona (dados referentes aos pleitos de 2008, 2012 e 2016). O IDH-Z de cada zona, que corresponde à sua média ponderada, é desenvolvido a partir do IDH-B, de cada bairro da zona, com peso do respectivo contingente populacional apto a votar, e é definido pela equação

𝐼𝐷𝐻𝑍𝑖 =

∑ (𝐼𝐷𝐻𝐵𝑎𝑖𝑟𝑟𝑜𝑗𝑥𝐸𝑙𝑒𝑖𝑡𝑜𝑟𝐵𝑎𝑖𝑟𝑟𝑜𝑗)

∑ 𝐸𝑙𝑒𝑖𝑡𝑜𝑟𝑍𝑜𝑛𝑎𝑖

em que:

→ 𝐼𝐷𝐻𝑍𝑖 é o índice de desenvolvimento humano da 𝑍𝑜𝑛𝑎𝑖; 𝑖 = 1, 2, ..., 13;

→ 𝐼𝐷𝐻𝐵𝑎𝑖𝑟𝑟𝑜𝑗 é o IDH-B definido pela Prefeitura de Fortaleza para o 𝐵𝑎𝑖𝑟𝑟𝑜𝑗;

𝑗 = 1, 2, ..., 125;

→ ∑ 𝐸𝑙𝑒𝑖𝑡𝑜𝑟𝐵𝑎𝑖𝑟𝑟𝑜𝑗 é o total de eleitores aptos a votar no “Local de Votação”

do 𝐵𝑎𝑖𝑟𝑟𝑜𝑗;

→ ∑ 𝐸𝑙𝑒𝑖𝑡𝑜𝑟𝑍𝑜𝑛𝑎𝑖 é o total de eleitores aptos a votar na 𝑍𝑜𝑛𝑎𝑖.

Em ordem decrescente de IDH-Z, e os respectivos limites extremos (mostra a variabilidade dos índices dos bairros), tem-se a Tabela 1, que se segue.

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Tabela 1 - IDH por Zona Eleitoral de Fortaleza

ZONA IDH-Z IDHZmed IDHZmin IDHZmax

3 0.679979 0.638206 0.284686 0.953077

1 0.619968 0.615437 0.223566 0.953077

113 0.557250 0.525306 0.176845 0.694796

112 0.465147 0.445764 0.255031 0.859690

82 0.416762 0.418103 0.253842 0.628401

115 0.397322 0.359589 0.232791 0.472814

2 0.355518 0.357318 0.246111 0.571863

83 0.353529 0.355430 0.218649 0.472814

114 0.298366 0.345837 0.215708 0.628401

116 0.279750 0.235900 0.138642 0.361725

94 0.277897 0.273305 0.182121 0.348285

117 0.257863 0.250895 0.135189 0.418919

118 0.248266 0.244190 0.119471 0.395270

Fonte: Elaborada pelo autor, a partir dos dados do Tribunal Superior Eleitoral.

O IDH-Z representa o índice de desenvolvimento humano, por zona eleitoral, ponderado pelos respectivos quantitativos de eleitores aptos a votar em cada local de votação (bairro). Em seguida a tabela apresenta o correspondente índice médio (simples) do IDH por bairro (IDHZmed), bem como os valores mínimos (IDHZmin) e máximos (IDHZmax) dos bairros observados em cada zona.

Baseado na escala de classificação do índice estabelecido pelo PNUD (abre-se permissão para a comparação), quase todas as zonas eleitorais (exceto 3, 1 e 113) situam-se na faixa de IDH-Z “muito baixo” (0,000 – 0,499), sendo que cinco delas (Zonas 114, 116, 94, 117 e 118) nem ultrapassam 0,299 (IDH).

3.3 Desempenho Eleitoral Dos Médicos

(25)

Para isso utilizaremos os resultados eleitorais disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral e a equação-modelo utilizada para o cálculo do índice de dimensão do IDH

𝐼𝐷𝐶𝑤𝑖 = 𝑉𝑜𝑡𝑜𝑠𝑀𝑎𝑥𝑉𝑜𝑡𝑜𝑠𝑤𝑖− 𝑉𝑜𝑡𝑜𝑠𝑀𝑖𝑛𝑖 𝑖 − 𝑉𝑜𝑡𝑜𝑠𝑀𝑖𝑛𝑖

em que 𝐼𝐷𝐶𝑤𝑖 (índice de desempenho do candidato) mensura a performance relativa do candidato 𝑤, 𝑤 = 1, 2, ... 2890 na 𝑍𝑜𝑛𝑎𝑖, 𝑖 = 1, 2, ... 13; 𝑉𝑜𝑡𝑜𝑠𝑤𝑖 é o número de votos que o candidato 𝑤 obteve na zona eleitoral 𝑖; 𝑉𝑜𝑡𝑜𝑠𝑀𝑖𝑛𝑖 é o menor número de votos obtidos por um dos candidatos da zona 𝑖; 𝑉𝑜𝑡𝑜𝑠𝑀𝑎𝑥𝑖, o valor máximo observado para a zona 𝑖. O resultado se acha na Tabela 2, adiante.

Tabela 2 - Índice de Desempenho do Médico, por Zona Eleitoral

ZONA IDH_Z IDC-Z_2008 IDC-Z_2012 IDC-Z_2016

3 0.679979 0.090040 0.098619 0.056544

1 0.619968 0.040300 0.044448 0.028883

113 0.557250 0.151758 0.118601 0.080252

112 0.465147 0.071250 0.082528 0.046936

82 0.416762 0.042245 0.071756 0.069554

115 0.397322 0.090909 0.074036 0.046608

2 0.355518 0.054768 0.038322 0.039469

83 0.353529 0.081324 0.087324 0.058593

114 0.298366 0.078726 0.055793 0.056826

116 0.279750 0.076315 0.066537 0.028130

94 0.277897 0.036039 0.029165 0.021544

117 0.257863 0.056267 0.046656 0.020230

118 0.248266 0.083864 0.108297 0.063266

Fonte: Elaborada pelo autor, a partir dos dados do Tribunal Superior Eleitoral.

(26)

(parte da Aldeota e Meireles, Varjota, Cidade 2000 e Dionísio Torres, etc), sempre figurou como uma das piores regiões de retorno eleitoral do candidato-médico.

Bons resultados nas urnas obtidos pelos candidatos-médicos também ocorreram em quatro das seis zonas de piores indicadores de saúde, como as de números 83, 114, 116 e 118, esta última com o pior IDH-Z, com bairros de periferia extrema, como Barroso, Conjunto Palmeiras, Parque Santa Maria, Pedras e Planalto Ayrton Senna.

A Tabela 2 chama atenção ainda para um fato: a queda vertiginosa no desempenho do candidato-médico no último pleito eleitoral (2016), em todas as zonas eleitorais. Na verdade, este foi o ano em que foi observado um dos maiores índices de renovação da classe política na Câmara Municipal de Fortaleza, em torno de 60%, atingindo diferentes categorias profissionais, que sugere uma rejeição da sociedade pela classe política de plantão. Metade dos novatos, contudo, apresenta o “parentesco com políticos” ou exerceram “cargos de confiança”39, que são atributos inerentes a

candidatos vitoriosos, conforme constatações de Oliveira (2016)40 e Pereira e Renno

(2007)41.

Investigar as causas dessa abrupta ruptura da curva de sucesso eleitoral poderia ser uma fonte de inspiração para quem se interessar possa, e os resultados eleitorais trazem uma pista: dois dos vereadores (médico) de plantão (Iraguassú Teixeira e Adelmo Martins) passaram o bastão a seus herdeiros (ambos advogados de formação) em 2016, o que implica em menor disposição dos médicos em continuar na representação popular junto à Câmara Municipal de Fortaleza. Ao todo foram três vereadores com titulação de médico a se afastar da Câmara Municipal de Fortaleza em 2016. Um dos veteranos a desistir da política confessou: ““Quando iniciei era um outro momento. Atualmente, acho que a classe política está mais desprestigiada. Os novos políticos devem seguir os caminhos da democracia ...”42.

39 Pelo menos 14% dos vereadores eleitos em 2016, que não estavam na última legislatura, exerceram

cargos de direção no poder executivo local.

40 OLIVEIRA, R. C. (2016); “Famílias Políticas e Desempenho Eleitoral nas Eleições e 2014. Família como variável política nas eleições”. Revista Núcleo de Estudos Paranaenses, 2016, v. 2, n. 4, pp. 1 et seq.

41 PEREIRA, C.; RENNO, L. (2007); “O que é que o reeleito tem? O retorno: o esboço de uma teoria

da reeleição no Brasil”. Revista de Economia Política, 2007, v. 27, n. 4, p. 664 et seq.

(27)

3.4 Gasto De Campanha Dos Candidatos

Evidências efetivas de que o dinheiro importa é uma constatação (LEMOS, MARCELINO e PEDRIVA, 2010)43, de sorte que o que se tem observado é um ímpeto

cada vez maior dos candidatos em ter acesso a financiamento de suas campanhas eleitorais, especialmente pelos ora titulares do cargo político, o que de certo modo revela um paradoxo, já que, uma vez em exercício o candidato poderia utilizar o seu desempenho como uma vantagem comparativa (a não ser que o seu rating deponha contra si), do que se traduziria em menor necessidade de financiamento no período de campanha eleitoral.

A Tabela 3 (a seguir) exibe um sumário de gastos de campanha (médio, mediana e desvio) realizados pelos candidatos, em termos comparativos, em que se revela de maneira perceptível a distância média entre os gastos dos candidatos eleitos e os não-eleitos para a Câmara Municipal de Fortaleza, com os gastos dos médicos em destaque comparativo44.

Tabela 3 - Gastos Gerais e de Médicos, entre Eleitos e Não-eleitos Em unidades de reais (R$)

Fonte: Elaborada pelo autor, a partir dos dados do Tribunal Superior Eleitoral.

Os eleitos gastaram em média mais que os não-eleitos, cujo padrão vale também para os médicos, mas os destes em menor proporção. A diferença

43 LEMOS, L. B.; MARCELINO, D.; PEDERIVA, J. H. (2010, p. 388).

44 Caso em que se é levado em conta apenas os dados dos médicos candidatos.

Ano Gasto Resultado Média Mediana Desvio

2008

GASTO GERAL NÃO-ELEITO 5.797,81 960,00 16.641,06

ELEITO 54.052,37 51.207,00 38.044,43

GASTO MÉDICO NÃO ELEITO 11.379,36 3.747,00 17.249,04

ELEITO 33.884,50 26.175,50 24.675,44

2012

GASTO GERAL NÃO ELEITO 6.214,42 681,00 23.978,37

ELEITO 95.328,95 68.260,00 92.409,94

GASTO MÉDICO NÃO ELEITO 13.983,67 6.733,50 16.337,59

ELEITO 159.584,00 135.053,00 132.112,32

2016

GASTO GERAL NÃO ELEITO 4.979,84 1.095,00 14.673,72

ELEITO 59.134,02 50.926,00 45.771,84

GASTO MÉDICO NÃO ELEITO 10.042,31 3.551,00 12.325,45

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proporcional da média do “gasto médico”, entre eleito e não-eleito, em 2008 e 2012, é de 2,98 e 11,41 vezes, que é significativamente inferior quando comparado ao “gasto geral” entre eleitos e não-eleitos (média de 9,32 e 15,34, respectivamente). A variabilidade dos gastos dos médicos é significativamente inferior ao dos gastos gerais, o que evidencia uma maior homogeneidade do volume de recursos investidos entre os profissionais de medicina (candidatos). Não se observa variância em 2016 entre o gasto dos médicos (eleito) devido ao ano atípico experimentado pela categoria, que conseguiu elegeu um só representante45.

Os gastos declarados da grande massa de candidatos estão centrados em torno de zero. Há registro de gasto zero também entre os médicos, mas a sua média, no montante de R$ 26.050,90, é superior ao do candidato médio. Considerando apenas os candidatos médicos vitoriosos, sua média salta para 55,5 mil reais.

3.5 Experiência Política

Os políticos brasileiros passam por avaliação plebiscitária a cada quatro anos. Continuar com a atividade de representação política é o foco dos “políticos de carreira”, que são aqueles que se autodeclaram ocupantes de um cargo político, como vereador, e que, portanto, concorre à reeleição.

No caso de Fortaleza, 31% dos vereadores eleitos para as legislaturas de 2008 e 2012 da Câmara Municipal de Fortaleza tinham como atributo o fato de já ocupar a cadeira naquela casa legislativa; para a atual legislatura (eleição 2016), apenas 13% conseguiram ser reeleitos. A taxa dos médicos eleitos, que se autodeclararam político (vereador) é surpreendentemente alta (73%), isso em relação aos plebiscitos de 2008 e 2012, porquanto em 2016 o único médico a alcançar o objetivo não estava na função de vereança.

45 É possível que na atual legislatura haja mais de um médico no exercício do mandato na Câmara

(29)

3.6 Faixa Etária Dos Médicos

Em nível local, a predominância de médicos em espaços no legislativo somente é observada em municípios equivalentes às metrópoles46, como Fortaleza,

cujos habitantes, devidamente habilitados, elegeram nos três últimos pleitos eleitorais para a Câmara Municipal duas vezes mais médicos que o conjunto do universo (8,86% contra 4,39%), desempenho justificado principalmente (i) pelo investimento realizado (a 5ª média de gasto mais alta entre as ocupações observadas) e (ii) pelas circunstâncias favoráveis oportunizadas pela prévia ocupação do cargo eletivo (reeleição).

Considerando o que sugere a teoria, de que o engajamento na política local por profissionais da medicina tende a ocorrer mais tardiamente (apenas após encontrar-se profissional e economicamente estável), corroborada com a percepção de que a sociedade fortalezense concede representação política a indivíduos mais jovens, é de se supor (e há evidências neste sentido) que, a depender do momento social e político vivenciado, a idade seja um obstáculo aos médicos que buscam o acesso a uma das cadeiras do legislativo municipal de Fortaleza, o que o faz se valer de outros recursos.

A perda de habilidades e as possíveis consequências decorrentes de um revés eleitoral, consoante já ponderado, pode explicar porque a idade média de ingresso dos médicos na política é mais elevada, observação válida para a atividade de vereança na cidade de Fortaleza, em que a média de idade dos médicos eleitos (60 anos) é superior à (média) do universo dos eleitos (47,7 anos). A idade (média) dos médicos não deve atuar positivamente nas chances da escolha plebiscitária para o cargo de vereador de Fortaleza.

(30)

3.7 Variáveis Do Estudo Econométrico

O foco desta subseção é conhecer o conjunto de variáveis que serão controladas no modelo econométrico que, se espera, traga a resposta esperada: o exercício da medicina em regiões de baixo desenvolvimento humano e, consequentemente, de baixa oferta de serviços de saúde, acarreta impacto eleitoral positivo ao profissional de medicina. E o espaço geográfico a ser estudado é o município de Fortaleza, e como figura central o candidato a vereador. O período de abrangência está circunscrito aos períodos (eleitorais) de 2008, 2012 e 2016. Os dados (agregados), oriundos dos órgãos da justiça eleitoral e do poder executivo municipal da capital cearense.

Antes de prosseguir, necessário se faz o entendimento acerca do sistema eleitoral brasileiro, especialmente o que recebe a denominação de “proporcional em lista aberta” e elege o parlamentar de um modo geral, vereador por exemplo. Mas proporcional em relação a que, se determinado candidato pode ser eleito com menos voto que outro? O principal referencial dessa proporcionalidade é a legenda/coligação partidária, em função e dentro do qual as vagas são escolhidas, desta feita de modo proporcional aos votos recebidos pelo candidato. O sistema (misto), não obstante as críticas recebidas, objetiva equilibrar as forças nas urnas: do partido político (ou coligação) e do próprio candidato, ambos geradores de voto, em função dos quais o eleitor tem a opção de escolha.

Dito isto, em função da natureza não linear entre o sucesso eleitoral do candidato e o exercício do voto pelo eleitor, utilizaremos um modelo econométrico para o qual a variável explicada é do tipo binária (dummy), representada em nosso modelo pelo cognome “eleito”.

Passemos, pois, a descrever o conjunto de fatores que probabilisticamente mensura as chances de sucesso eleitoral do candidato a vereador de Fortaleza, e que será utilizado em nossa pesquisa:

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cargos políticos, e em especial no poder legislativo. Espera-se uma relação positiva com o resultado eleitoral de Fortaleza, portanto;

b) “político” (vereador): o termo refere-se ao candidato que já é vereador e busca a reeleição, para o qual é atribuído o valor “1”; “0”, de outro modo. Estar em efetivo exercício no parlamento traz proveito político ao candidato, pelas vantagens institucionais proporcionadas pelo sistema. Destarte, é esperada uma correlação positiva, apesar de se observar uma elevada renovação dos quadros do legislativo, especialmente no último pleito eleitoral;

c) “gasto” (campanha): em reais; embora a informação possa não refletir o volume efetivo de recursos empregados na campanha, devido a informalidades aplicadas sobre haveres não expressos em dinheiro, bem como ao elevado número de irregularidades detectadas, os valores podem servir como uma boa proxy, dado o padrão observado em todos os segmentos representativos da política brasileira; o esperado é que gastos mais elevados exprime maiores chances de ser eleito;

d) “idade” (anos): a lógica sugere que quanto maior a experiência o candidato tenha maiores probabilidades de ser eleito; não obstante a constatação de que a idade possa ser fator significativo de decisão política, não se espera do presente estudo uma relação significativa do fator etário com a eleição do candidato de Fortaleza, uma vez que praticamente não se observa diferença significativa entre as médias de idade entre os que concorreram à eleição e os eleitos;

e) “d12” e “d16” (dummies temporais): objetiva capturar um eventual efeito de mudanças eleitorais que não estão nos controles, inclusive o efeito inflacionário, tendo em vista os dados dos gastos de campanha estar a valores nominais (não deflacionados), em função das quais toma-se como ano-base (eleição) 2008, atribuindo-se valor 1 (um) para a dummy

“d12”, se eleição 2012, 0 (zero) caso contrário; o mesmo vale a dummy

(32)

4 METODOLOGIA

Para testar a hipótese de que a ocupação profissional “médico” é visto com distinção pelos eleitores de Fortaleza e conseguintemente influenciador do resultado eleitoral, a utilizaremos como variável de interesse a partir dos dados fornecidos ao repositório oficial do Tribunal Superior Eleitoral pelos candidatos a vereador do município em 2008, 2012 e 2016, conjuntamente com outras variáveis (de controle), como o investimento financeiro e a experiência política, estas já versadas no estudo das ciências políticas, além da idade. O Logit será o modelo de resposta binária através do qual serão estimados os efeitos parciais de cada variável e as respectivas significâncias.

4.1 Base de Dados

A base de dados foi construída a partir de informações disponíveis no repositório (cloud storage)47 do Tribunal Superior Eleitoral TSE, relativos a informações fornecidas pelos próprios disputantes quanto às candidaturas (perfil dos candidatos), prestações de contas eleitorais, resultados de cada eleição, além das estatísticas do eleitorado e dos candidatos.

Da unidade regional no Ceará do órgão da justiça eleitoral (TRE-Ceará), também foram baixadas as informações sobre as zonas eleitorais do Ceará48 e seus respectivos espaços geográficos, que na capital cearense é em número de 13 (zonas). Quanto aos dados relativos à prestação de contas, há um certo ceticismo quanto à veracidade das informações de gastos de campanha (dado o uso sistemático e generalizado de recursos não-contabilizados), por se tratar de dado autodeclarado pelos candidatos aos órgãos da justiça eleitoral, e de difícil checagem, mas segundo Samuels (2001a, apud LEMOS; MARCELINO; PEDRIVA, 2010, p. 372), os dados disponíveis “[... trazem padrões embutidos, ...] que permitem uma apropriada análise.

47 Disponível em [<http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/repositorio-de-dados-eleitorais>]; acesso em [Abril/ 2017].

(33)

Da Prefeitura Municipal de Fortaleza49 acessamos o caderno que resume o estudo sobre o Índice de Desenvolvimento Humano do Município Fortaleza, por bairro (IDH-B), de 125 bairros de Fortaleza.

A amostra é formada por observações relativas às eleições de 2008, 2012 e 2016, em número de 859, 984 e 1047, respectivamente, totalizando um conjunto de 2.890 (agrupados) indivíduos, representados por candidatos que pelo TSE foram deferidos como aptos a serem sufragados nas urnas e que receberam pelo menos 1 (um) voto dos eleitores de Fortaleza.

4.2 O Modelo Econométrico e o Método De Estimação

4.2.1 Método de Estimação

A resposta dada pela variável dependente está limitada a dois valores, estar ou não eleito, para a qual as técnicas apropriadas e principais de estimação são o Probit e o Logit, ambas geradoras de distribuições normal e logística bastante similares. No caso presente far-se-á uso do Logit, cujo modelo estima a probabilidade P (y = 1 | x).

O objetivo é determinar a probabilidade de sucesso eleitoral no legislativo municipal de Fortaleza, em que a variável dependente assume o valor “1” se candidato eleito (sucesso eleitoral); zero, caso contrário.

A distribuição cumulativa de uma variável aleatória padrão, no caso Logit, é dado pela função logística

𝑃 = 𝑔(𝑧) = 𝑒(𝛼+𝑥𝛽)

[1+𝑒(𝛼+𝑥𝛽)]2 =

𝑒(𝛼+𝛽1𝑥1+𝛽2𝑥2+⋯+𝛽𝑘𝑥𝑘)

[1+𝑒(𝛼+𝛽1𝑥1+𝛽2𝑥2+⋯+𝛽𝑘𝑥𝑘)]2 = 𝑒𝑧

[1+𝑒𝑧]2 =

1

1+𝑒−𝑧 (1)

onde 𝑒 é a base natural do logaritmo natural, 𝛼 e 𝛽 são os parâmetros e 𝑥𝛽 as variáveis independentes, cujos coeficientes, estimados pelo método de máxima verossimilhança, não podem, ao contrário da regressão linear, ser interpretados diretamente.

49 Disponível em

(34)

Para evidenciar o efeito parcial (provável) de uma variável explicativa binária (𝑥𝑗), no modelo Logit, simplesmente estima-se a variável de interesse em dois momentos, com 0 e 1, e subtraem-se os resultados, que em termos equacionais é denotado por

𝐺(𝛼0+ 𝛽1𝑥1 + 𝛽2𝑥2+. . . +𝛽𝑘𝑥𝑘) − 𝐺(𝛽0+ 𝛽1𝑥1+ 𝛽2𝑥2+. . . +𝛽𝑘−1𝑥𝑘−1)

ou ainda por

𝐺(𝑧) =1+𝑒−(𝛼+𝛽1𝑥1+𝛽2𝑥2…+𝛽𝑘𝑥𝑘)1 −1+𝑒−(𝛼+𝛽1𝑥1+𝛽2𝑥2…+𝛽𝑘−1𝑥𝑘−1)1 (2)

4.2.2 Equação Estimada

A decisão de eleger ou não um candidato está condicionado a um índice de utilidade dos eleitores, determinado pela combinação de variáveis x, que em nosso modelo está representado por (i) gasto (campanha), (ii) político (vereador), (iii) médico

(profissão) e (iv) idade (anos), além de (v) “c”, um parâmetro que está relacionado a preferências outras (desconhecidas) do eleitorado em relação ao candidato. Neste caso, “y = 1” corresponde ao sucesso eleitoral (eleito).

A probabilidade de que um candidato seja eleito, portanto, é dado pela equação

𝑃(𝑒𝑙𝑒𝑖𝑡𝑜𝑖) = (𝛼 + 𝛽1𝑔𝑎𝑠𝑡𝑜𝑖 + 𝛽2𝑝𝑜𝑙í𝑡𝑖𝑐𝑜𝑖+ 𝛽3𝑚é𝑑𝑖𝑐𝑜𝑖 + 𝛽4𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑖+ 𝜋1𝑑12 + 𝜋2𝑑16)

em que 𝑒𝑙𝑒𝑖𝑡𝑜𝑖 é a variável de resposta binária, 𝑔𝑎𝑠𝑡𝑜𝑖, o volume de recursos financeiros despendido na campanha pelo candidato 𝑖, 𝑝𝑜𝑙í𝑡𝑖𝑐𝑜𝑖 indica que o candidato 𝑖 concorre à reeleição, 𝑚é𝑑𝑖𝑐𝑜𝑖 é o qualificador da categoria profissional do candidato 𝑖, 𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑖 representa o número de anos (de vida) do candidato 𝑖 e, por fim, lembrando que as variáveis 𝑚é𝑑𝑖𝑐𝑜 e 𝑝𝑜𝑙í𝑡𝑖𝑐𝑜 são do tipo binária, 1 ou 0, bem assim os 𝛼 e 𝛽𝑖 são os coeficientes das variáveis que representam a contribuição respectiva para as chances de um candidato ser eleito, P(y =1|x), além das dummies temporais (𝑑12 e 𝑑16) e seus respectivos coeficientes (𝜋1 e 𝜋2).

(35)

resultado corresponderá ao valor que fornecerá a probabilidade acumulada, no caso, a chance de o candidato ser eleito para o cargo de vereador.

(36)

5 RESULTADOS

O objetivo desta seção é evidenciar os determinantes de probabilidades de um candidato a vereador de Fortaleza ser eleito, com a aplicação de técnicas econométricas apropriadas ao caso, que exige um modelo de resposta binária 1 (um) e 0 (zero), já delineado em seções anteriores, cujos resultados estão na Tabela 4 (abaixo).

Tabela 4 - Estimações dos Determinantes de Probabilidade de ser Eleito

Fonte: Elaborada pelo autor, a partir dos dados do Tribunal Superior Eleitoral. Nota: estatística t entre colchetes. (**) significante a 1%; (*) significante a 5%.

5.1 Resultados Estimados Para O Cargo De Vereador De Fortaleza

A Tabela 4 mostra os resultados da estimação pelo método Logit com (i) os coeficientes das variáveis estimadas, (ii) os respectivos valores de estatística t [entre colchetes], seguido pelo (iii) número de observações da amostra, (iv) a estatística da razão de verossimilhança (LR) e a respectiva probabilidade LR, que atesta a hipótese de que as variáveis explicativas x, em conjunto, tem um efeito sobre y, vale dizer, são

Variáveis Modelo Logit

c -3,229228[-6,49] **

gasto 0,000035** [12,24]

político 1,796234[4,93] **

médico 1,024662[2,17] *

idade -0,015324 [-1,50]

d12 -0,373289 [-1,33]

d16 0,091276 [0,35]

Amostra 2.890

LR 323,90

Prob (LR) 0,000

(37)

fatores determinantes do sucesso eleitoral dos candidatos à eleição para a Câmara Municipal de Fortaleza, bem assim (v) a média probabilística dos candidatos que tiveram sucesso eleitoral, em relação à única variável explicativa que não dummy. O LR, indicador baseado nas log-verossimilhanças, também conhecido como “Pseudo R-Quadrado” valida o conjunto das variáveis que explicam o sucesso eleitoral.

As estimações dos determinantes da probabilidade de sucesso eleitoral na disputa a uma das vagas da Câmara Municipal de Fortaleza, utilizando-se do modelo

Logit de estimação de máxima verossimilhança, só não apontou significância estatística para o fator idade (além das dummies temporais). De certo modo, o resultado da variável “idade” era esperado, uma vez que a média encontrada no universo dos candidatos é praticamente a mesma dos que pela sociedade foram distinguidos como seus representantes no legislativo. Enfim, as evidências dos três últimos pleitos eleitorais no município de Fortaleza demonstram que o cidadão fortalezense tem preferência por eleger candidatos relativamente jovens. As dummies

d12 e d16 também são denunciadas como sem importância relativa, conforme p-valor de ambos exibidos, o que equivale a dizer que a estimativa por máxima verossimilhança da variável de interesse (médico), ceteris paribus, é consistente.

Importa registrar que a variável de interesse(médico) e as de controles tem significância estatística. Além de apresentarem os sinais esperados, “gasto” e

“político” são estatisticamente significantes a qualquer nível de significância convencional. A variável “médico” apresentou moderada capacidade preditiva.

Em conformidade com a hipótese inicial e evidências empíricas, a atividade de medicina (estar médico) é fator contributivo do sucesso eleitoral do candidato a vereador de Fortaleza, embora a magnitude do seu efeito no conjunto das variáveis estudadas seja reduzida, conforme análise tratada na subseção seguinte, em

Simulações.

Ser “político”, concorrer à reeleição, traz vantagem comparativa ao candidato, que segundo Lemos, Marcelino e Pedriva (2010, p. 370)50, está

representado, dentre outros, por benefícios diversos atrelados ao exercício da função parlamentar, como ter seu nome conhecido, staff e franquias. No caso de que se cuida não foi diferente, conforme estimado por Logit, com o efeito médio se apresentando com estatística altamente significante (não sendo possível rejeitar a hipótese nula [𝐻0]

(38)

mesmo em nível de 1%). A sua magnitude é tornada evidente por ocasião da simulação adequadamente proposta, na qual a probabilidade de ser eleito um

candidato médio é positiva e significativamente alterada pelo simples fato de agregar o atributo “político”.

As chances de se eleger vereador de Fortaleza são relativamente reduzidas, se o investimento financeiro situar-se em torno da média da amostra observada (R$ 8.459,58), embora nota-se que 8 (nenhum médico ou político) dos 127 candidatos eleitos, dos quais 5 da atual legislatura (2016), tiveram investimentos na campanha política (declarados) abaixo da média, o que certamente utilizaram-se de outros fatores para alcançar o sucesso eleitoral, com características que devem ter sido valoradas pela sociedade, como ser filho de político, profissional da mídia, líder comunitário, etc.). O efeito médio sobre o sucesso eleitoral, olhando somente para a variável “gasto”, portanto, é de 5,0%, conforme estimado pelo Logit, observando-se uma variação positiva na probabilidade à medida que o candidato despende recursos adicionais (ver particularidade em Simulações).

5.2 Simulações

O propósito agora é fazer simulações com o objetivo de melhor visualizar a particularidade de certas variáveis explicativas nas probabilidades de eleição dos candidatos ao cargo de vereador de Fortaleza, com especial atenção para as do tipo binária (“médico” e “político”), que são estatisticamente significantes, junto com o investimento de campanha (gasto), com o objetivo de conhecer a magnitude de seus efeitos, cujo modelo equacional proposto é

𝑒𝑙𝑒𝑖𝑡𝑜𝑖 = 𝛼0+ 𝜃1𝑔𝑎𝑠𝑡𝑜𝑖 + 𝜃2𝑝𝑜𝑙í𝑡𝑖𝑐𝑜𝑖 + 𝜃3𝑚é𝑑𝑖𝑐𝑜𝑖+ 𝑒𝑖

Para tanto, as probabilidades de sucesso eleitoral de um candidato médio, estimadas pelo método Logit, servirão de parâmetros para as projeções condicionadas, em que os atributos “médico” e “político” (variáveis binárias) interagem com o gasto médio dos candidatos, conforme Tabela 5 a seguir:

a) Simulação 1: O candidato é “político” e seu investimento (gasto) é o mesmo do candidato médio;

Imagem

Tabela 1 - IDH por Zona Eleitoral de Fortaleza
Tabela 2 - Índice de Desempenho do Médico, por Zona Eleitoral
Tabela 3 - Gastos Gerais e de Médicos, entre Eleitos e Não-eleitos
Tabela 4 - Estimações dos Determinantes de Probabilidade de ser Eleito
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Referências

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