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Módulo 2 4ª aula Algumas figuras de linguagem

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Academic year: 2022

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Módulo 2 4ª aula

Algumas figuras de linguagem

Não há quem não se encante com a beleza formal de certos textos. Muitas vezes o apreciador não explicita o ponto que o a- trai. Limita-se a dizer: “Mas é tão bonito!”. Talvez repita algu- mas frases, algumas ideias nele contidas. Poucos são os que se interessam por conhecer o processo criativo deles. Os que o fa- zem descobrem os recursos linguísticos que o tornam agradável:

as figuras de linguagem. Veremos algumas delas nesta aula.

“Quem vive no pantanal da incompreensão deve saber voar.”1 Esta frase, dita por Dr. Plinio Corrêa de Oliveira em uma de suas conferências, traz, além de verdades pro- fundas e altamente apreciáveis, uma cativante formulação. O autor se utiliza aqui de uma figura de linguagem, talvez a mais conhecida e usada, que nos remete diretamente ao mundo dos símbolos: a metáfora.

De certo modo, podemos dizer que o universo todo é uma grande metáfora de Deus, pois não é verdade que os seres representam a infinita variedade das qualidades divi- nas? E não é claro que há uma unidade, que faz do conjunto da criação algo deleitável à razão e à sensibilidade humanas? Além disso, a proporção e a complementaridade entre os seres criados são assombrosas, sobretudo em relação ao ponto central da criação, o homem. Apesar de tão pequeno, se comparado às vastidões siderais, o rei da criação tem capacidade de admirar todas as obras de seu Criador e dominá-las, talvez ainda não fisicamente, mas pela grandeza de horizontes espirituais que é chamado a desenvolver.

E, admirando-as, de certa maneira abarcá-las com o coração. Seu próprio ser deve ser objeto de conhecimento, exploração, aprimoramento, para a santificação pessoal e a do seu próximo.

Ora, para expressar esse arrebatamento, a linguagem humana muitas vezes é insufi- ciente. Daí a necessidade de criar símbolos, linguísticos inclusive, para definir aspectos tão variados da realidade. Esses símbolos, estudados pelos linguistas, são as denomina- das figuras de linguagem ou figuras estilísticas. Dentre a grande diversidade delas, es- tudaremos algumas nesta aula.

1https://www.drplinio.com/2009/09/quem-vive-no-pantanal-da-incompreensao-deve-saber-voar/

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A estilística

Quando estudamos a língua portuguesa ou qualquer outro idioma, é indispensável, para bem compreendê-lo e utilizá-lo, ressaltar seu sistema expressivo e sua eficácia es- tética, tanto em autores literários como em simples e despretensiosos falantes.

O campo de estudos próprio a essa particularidade é a estilística, isto é, o estudo do estilo do escritor ou do falante. Segundo Evanildo Bechara, “entende-se por estilo o conjunto de processos que fazem da língua representativa um meio de exteriorização psíquica e apelo.”2 Citando Charles Bally, acrescenta: “[...] o que caracteriza o estilo não é a oposição entre o individual e o coletivo, mas o contraste entre o emocional e o intelectivo. É neste sentido que diferem estilística (que estuda a língua afetiva) e gramá- tica (que trabalha no campo da língua intelectiva).”3

Outro renomado linguista, que temos citado nestas aulas, é Napoleão Mendes de Almeida. A respeito da estilística, afirma, com muito “estilo”: “O estudo da gramática não passa de munição para um combate; quanto maior for o nosso conhecimento de gramática, tanto mais munidos nos encontraremos para a luta. Não basta estar apercebi- do de abundantes e valiosos petrechos, conhecer cabalmente o funcionamento das ar- mas: é preciso servir-se delas. Se a gramática estuda as palavras e a sua combinação para a expressão correta do pensamento, a estilística mira a beleza.”4

Evanildo Bechara apresenta uma divisão no estudo da estilística e, a partir disso, es- tuda as figuras de estilo. Considera ele a estilística fônica, a de palavras ou semântica, a de sintaxe ou de construção e a de pensamento. A estilística se vale de figuras de lin- guagem ou tropos.5

Iniciaremos o estudo das figuras de estilo com aquelas que se valem do valor ex- pressivo dos sons, o que Bechara chama de estilística fônica.

 Aliteração- É a repetição de fonema, vocálico ou consonântico, igual ou parecido, para descrever ou sugerir acusticamente o que temos em mente e expressar, quer por meio de uma só palavra ou por unidades mais extensas.

As asas ao sereno e sossegado vento” (utilização do fonema fricati- vo alveolar sonoro e surdo /s/ /c/).

Quem com ferro fere, com ferro será ferido.

2 Bechara, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2006. p. 617

3 Idem, ibidem

4MENDES DE ALMEIDA, NAPOLEÃO. Gramática metódica da Língua Portuguesa. 46. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 592

5 Emprego figurado de palavra ou locução, figura.

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“Bramindo o negro mar de longe brada” (utilização principal dos fo- nemas b, r e d). (Camões)

A aliteração tanto pode servir ao estilo solene e culto, como nos exemplos acima, como pode estar presente nas manifestações de espontânea expressividade popular, conforme se vê nos provérbios, nas frases-feitas, nos modos de dizer populares: são e salvo, cara ou coroa, de cabo a rabo, o rato roeu a roupa do rei de Roma, etc.

 Paronomásia – é a repetição de palavras cujos sons são parecidos.

E saberemos de antemão qual o jeito, o trejeito... ou o estertor com que tomarão atitude em breve, para "superar" os efeitos da derro- ta.(Plinio Corrêa de Oliveira, Folha de São Paulo, “Jeito, trejeito ou estertor” 15 de abril de 1982)

 Assonância - é a repetição de sons vocálicos.

“Para a corda de aço, escravos” (Plinio Corrêa de Oliveira, Folha de São Paulo, “Para a corda de aço, escravos”,6 24 de outubro de 1982)

 Onomatopeia - É o emprego de fonema em vocábulo para descrever acusticamente um objeto pela ação que exprime. São frequentes as onomatopeias que traduzem as vozes dos animais e os sons das coisas:

As locomotivas também traziam um conjunto de estrondos e de odores.

Às vezes, eu ia a certas fazendas de contraparentes meus, na zona de Ribeirão Preto, naquele tempo riquíssima.

Em algumas ocasiões, em meio àquele silêncio do campo, eu estava sozinho na clássica varanda que há em toda fazenda, vendo o jardim e, de repente, ouvia: “Piuuuu! Tcham-tcham, tcham-tcham…” Era o trem que vinha a toda a pressa. (Plinio Corrêa de Oliveira, Notas Autobio- gráficas, vol. II)

O tique-taque do relógio, o marulho das ondas, o zunzunar da abelha, o arrulhar dos pombos.

6 Artigo em que o autor trata da construção do Gaseduto de Yamal, executado com trabalho escravo de vietnami- tas, amplamente documentado.

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Observação: não confundir onomatopeia com vocábulo expressivo. Este não imita um ruído, mas sugere a ideia do ser que se quer designar com a ajuda do valor psico- lógico de seus fonemas: romper, tagarelar, tremeluzir, jururu, ziriguidum, borogodó.

Estilística de palavras ou semântica

Segundo José de Nicola, “A figura de palavra consiste na substituição de uma pala- vra por outra, isto é, no emprego figurado, simbólico, de uma palavra por outra, quer por uma relação muito próxima (contiguidade), quer por uma associação, uma compa- ração, uma similaridade. Esses dois conceitos básicos – contiguidade e similaridade – permitem-nos reconhecer dois tipos de figuras de palavras: a metáfora e a metonímia.” 7

A estilística de palavras ou semântica lida com a significação ocasional e expressi- va de certas palavras. Refere-se, dentre muitas outras, às seguintes figuras: metáfora, comparação, metonímia, catacrese, sinestesia e perífrase.

 Metáfora - A metáfora é o tropo que aplica um símbolo linguístico a outro, mas de ordem diferente. Esta aplicação é baseada em qualquer ponto de semelhança. Ela é uma comparação implícita, em que o elemento comparativo – como – não aparece.

Aqueles dois olhos eram para mim um firmamento! (Rev. Dr. Plinio, março de 2018, nº 240)

O universo é uma catedral, cujo fim é a glorificação de Deus.

O mar é o jardim de um palácio de sonhos.

A música é uma ordem de notas. O universo é uma música de realidades.

A lua é a grande resistente, que não se conforma com as trevas, que pro- longa a luz do sol, quando o sol está longe; que dá saudades do sol que não está presente, e que faz, amigavelmente, as vezes do sol, para conso- lar aqueles que choram o sol.

O gato é um verdadeiro bibelô vivo. (Revista AE, mar. 2012, n. 123, p. 50)

Quem vive no pantanal da incompreensão deve saber voar.

(Rev. Dr. Plinio, setembro de 2009)

7 Nicola, 1998, p. 370.

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Retidão: limpa como uma paisagem alpina! (Rev. Dr. Plinio, março de 2013)

 Comparação - chamada de comparação explícita, ao contrário da metáfora. Neste caso são utilizados conectivos de comparação (como, assim, tal qual).

Jerusalém, Jerusalém .... quantas vezes Eu quis reunir os teus filhos como a galinha recolhe os seus pintainhos debaixo das asas, mas não quiseste!" (Lc. 13, 34)

 Metonímia - Ocorre quando uma palavra é usada para designar alguma coisa com a qual mantém uma relação de proximidade ou posse.

A fiel Jerusalém canta um hino triunfal... (Liturgia das Horas, vol. II) Corações retos, cantai jubilosos! (Salmo 31)

A metonímia ainda pode ser dar substituindo:

o autor pela obra:

Ouvir Corelli é altamente repousante.

o lugar pelo produto:

Sempre que ele toma um Borgonha, se lembra dos bons tempos em que jantava diariamente com seus avós.

o particular pelo geral:

Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar." (Gênesis 3, 19) o continente pelo conteúdo:

Diferenças...

Parábolas são histórias metafóricas em que a intenção do narrador é estabelecer relações simbólicas com outras situações.

Fábulas são metáforas que envolvem a personificação de animais.

Ambas são alegorias que, por sua vez, não são senão “linguagem continuada. [...] desenvolvem a comparação acumulando imagem sobre imagem.” (Silveira Bueno)

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Quão poucos - se os houve – morreram de fome entre nós; quantos morrem por excesso de mesa? (Plinio Corrêa de Oliveira, Fome x fartura, Folha de São Paulo, 25 de abril de 1983)

o indivíduo pela espécie:

Todos desconfiavam que ele era o Judas da turma.

a matéria pelo artefato:

Os bons vinhos são envelhecido em carvalho.

A instituição pelas pessoas que dela fazem parte:

Fiocruz investiga ação de antirretrovirais contra Covid-19.

 Catacrese - É o uso de um termo figurado pela falta de outro mais próprio.

O dente de alho - O braço da cadeira - A perna da mesa - A asa do a- vião.

Os braços de um rio vêm trazer alegria à morada de Deus... (Salmo 45/46)

 Sinestesia - É a aproximação de sensações diferentes, a mistura dos sentidos.

Naquele momento, sentiu um cheiro vermelho de ódio.

(cheiro, olfato - vermelho, visão)

A escuridão vai sendo rasgada pelo fogo sagrado... (Revista AE, abril 2012)

O brilho macio do cetim do vestido da princesa agradava os olhos admirativo da criança. (visão + tato)

O doce afago materno enchia de confiança aquele menino tão frágil.

(paladar + tato)

Um vestido de cor verde azedo era o seu traje de festa. (visão + pala- dar)

Nada há de mais desagradável do que o aroma gritante das bombas de gasolina. (olfato + audição)

Apesar de sua beleza áspera, a pequena aldeia era acolhedora. (Visão + tato)

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 Perífrase - é o uso de um dos atributos de um ser ou coisa que servirá para indicá-lo.

Na floresta, todos sabem quem é o rei dos animais.

A Cidade Maravilhosa foi enobrecida com a imagem do Cristo Redentor.

Cada etapa da vida da Esposa de Cristo é marcada por um estilo artísti- co próprio, o qual reflete, à sua maneira, o espírito da Igreja, que é o Espírito Santo.

 Ironia - consiste em, aproveitando-se do contexto, utilizar palavras que devem ser compreendidas no sentido oposto do que aparentam transmitir. É um poderoso ins- trumento para o sarcasmo.

“Ao meio-dia Elias começou a zombar deles, exclamando: “Gritai mais alto, já que ele é um deus; pode ser que esteja conversando com outras pessoas ou ocupado com outros negócios ou mesmo viajando.

Talvez esteja até dormindo e precise ser despertado!” (1 Reis, 18)

Observações

Sem serem consideradas figuras de estilo temos o uso expressivo das formas gra- maticais. Entre os usos expressivos deste campo lembraremos:

o plural de convite: põe-se o verbo no plural como se quisesse incentivar uma pes- soa a praticar uma ação trabalhosa ou desagradável. É o caso da mãe que diz à filhi- nha que insiste em não tomar o remédio:

Olha, filhinha, vamos tomar o remedinho.

o plural de modéstia: o autor, falando de si mesmo, poderá dizer:

Nós, ao escrevermos este livro, tivemos em mira dar novos horizontes ao ensino do idioma.

o emprego expressivo dos sufixos (mormente os de gradação):

paizinho, mãezinha, poetastro, padreco, politicalha

o emprego de tempos e modos verbais, como, por exemplo:

a) o presente pelo futuro para indicar desejo firme, fato categórico:

Amanhã eu vou ao cinema.

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b) o imperfeito para traduzir pedido:

Eu queria um quilo de queijo (em vez do categórico e, às vezes, ame- açador quero).

c) o presente pelo pretérito para emprestar à narração o ar de novidade e poder comover o ouvinte:

Aí César invade a Gália.

 A mudança de tratamento, de um período para outro, para indicar mudança da situa- ção psicológica entre falante e ouvinte, ou entre escritor e leitor. No soneto Última Folha, Casimiro de Abreu chama a Deus por “Meu Pai” e ora o trata por tu, ora por vós. É que em “Meu Pai” o poeta vê Deus como seu íntimo, ligado a ele tão intima- mente que lhe cabe o tratamento tu. Mas, ao poeta, Deus se apresentava também como o criador de todas as coisas, o poder supremo a quem só podia caber a fórmula respeitosa e cerimoniosa assumida por vós.

Meu Deus! Meu Pai! Se o filho da desgraça Tem jus um dia ao galardão remoto,

Ouve estas preces e me cumpre o voto - A mim que bebo do absinto a taça!

- "Feliz serás se como eu sofreres,

"Dar-te-ei o céu em recompensa ao pranto" - Vós o disseste - E eu padeço tanto!...

Que novos transes preparar me queres?

Tudo me roubam meus cruéis tiranos:

Amor, família, felicidade, tudo!...

Palmas da glória, meus lauréis do estudo, Fogo do gênio, aspiração dos anos!...

Mas o teu filho já se não rebela Por tal castigo, pelas mágoas duras;

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- Minh’alma ofereço às provações futuras...

Venha o martírio... mas - perdão p’ra ela!...

A doce virgem se assemelha às flores...

O vento a quebra no seu verde ninho.

- Velai ao menos pelo pobre anjinho,

- Pagai-lhe em gozo o que me dais em dores!

Referências

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