Notas de aula - MAT5699 (2021)
Produtos Tensoriais de Espaços de Banach
Vinícius Morelli Cortes
10 de junho de 2021
Notação
Todos os espaços vetoriais que vamos estudar estão denidos sobre o corpoK, que pode ser o corpoRdos números reais ou o corpoCdos números complexos.
O conjunto dos números naturais será denotado porN. Se X, Y, Z são espaços vetoriais, denotaremos por L(X, Z) o espaço vetorial de todas as aplicações lineares deX emZ e porB(X×Y, Z)o espaço vetorial de todas as aplicações bilineares deX×Y emZ. SeZ=K, estes espaços serão denotados porX] (o dual algébrico deX) e B(X×Y), respectivamente.
SeX é um espaço normado, a bola unitária fechada deX será denotada por BX. Para cadax∈X eε >0, a bola aberta e a bola fechada de centroxe raio εserão denotadas, respectivamente, porB(x;ε)eB(x;ε).
Dados espaços normadosX, Y, Z, denotaremos porL(X, Z)o espaço de to- das os operadores lineares contínuos deX emZ, munido da norma
kTk= sup
x∈BX
kT(x)k,
e porB(X×Y, Z)o espaço de todas as aplicações bilineares contínuas deX×Y emZ, com a norma
kBk= sup{kB(x, y)k:x∈BX, y∈BY}.
Se Z = K, estes espaços serão denotados por X∗ (o dual topológico de X) e B(X×Y), respectivamente. O subespaço fechado deL(X, Z)dos operadores lineares compactos será denotado porK(X, Z).
A inclusão canônica deX em seu bidual X∗∗ será denotada porJX. Escre- veremos tambémJX(x) =bx, para cadax∈X.
A topologia fraca em X (respectivamente, a topologia fraca∗ em X∗) será denotada porw(respectivamente, por w∗).
Escreveremos sign(0) = 1e sign(α) =|α|/α, seα∈K, α6= 0. Deste modo,
|sign(α)|= 1e sign(α)α=|α|, para todoα∈K.
DadosI um conjunto não vazio, 1 ≤p <+∞e X um espaço de Banach, denotaremos por `p(I, X) o espaço de Banach de todas as famílias (xi)i∈I de elementos deX satisfazendo
X
i∈I
kxikp= sup (
X
i∈F
kxikp:∅6=F ⊂Inito )
<+∞,
munido da norma
k(xi)i∈Ikp=
"
X
i∈I
kxikp
#p1 .
Analogamente,`∞(I, X)denota o espaço de Banach de todas as famílias limi- tadas de elementos deX, munido da norma
k(xi)i∈Ik∞= sup
i∈I
kxik.
Estes espaços serão denotados simplesmente por`p(I)quandoX =K. Escre- veremos ainda`p(N) =`p.
DadosK um espaço de Hausdor localmente compacto eX um espaço de Banach,C0(K, X)é o espaço de Banach de todas as funções contínuas deKem X que se anulam no innito, com a norma
kfk∞= sup
t∈K
kf(t)k.
SeX=K, escreveremos simplesmenteC0(K). SeK é compacto, escreveremos C(K, X) ou C(K). Destacamos o caso em que K é um conjunto não vazioI munido da topologia discreta; neste caso, escreveremos C0(I, X) = c0(I, X) e c0(N,K) = c0. Denotaremos por rcabv(K) o espaço de Banach de todas as medidas de Borelσ-aditivas, regulares e de variação limitada, munido da norma da variação total
kµk=|µ|(K).
Capítulo 1
Denição algébrica e primeiras propriedades
Neste capítulo, vamos construir o produto tensorial de dois espaços vetoriais e apresentar algumas de suas propriedades algébricas que usaremos no decorrer do trabalho.
Dadosx∈X ey∈Y, denotamos porx⊗y o funcional linear emB(X×Y) denido por
(x⊗y)(B) =B(x, y),∀B∈B(X×Y).
O funcionalx⊗y é chamado de tensor elementar.
Denição 1.1. SejamX, Y espaços vetoriais. O produto tensorial deX eY, denotado porX⊗Y, é o subespaço vetorial deB(X×Y)]gerado pelo conjunto {x⊗y:x∈X, y∈Y}.
Proposição 1.2. SejamX, Y espaços vetoriais. A aplicaçãoΠ :X×Y →X⊗Y dada por
Π(x, y) =x⊗y,∀(x, y)∈X×Y, é bilinear.
Demonstração. Sejam x, x1, x2 ∈ X, y, y1, y2 ∈ Y e α ∈ K dados. Para cada B∈B(X×Y), temos
((x1+x2)⊗y)(B) =B(x1+x2, y) =B(x1, y) +B(x2, y)
= (x1⊗y)(B) + (x2⊗y)(B) e, analogamente,
(x⊗(y1+y2))(B) = (x⊗y1)(B) + (x⊗y2)(B).
Além disso,
(α(x⊗y))(B) =α(x⊗y)(B) =αB(x, y) =B(αx, y) = ((αx)⊗y)(B)
=B(x, αy) = (x⊗(αy))(B).
Isto prova queΠé bilinear.
Decorre da proposição anterior que todou∈X⊗Y pode ser escrito da forma u=
n
X
i=1
xi⊗yi,
ondex1, . . . , xn ∈Xey1, . . . , yn∈Y. Em geral, esta representação não é única.
No entanto, para cadaB ∈B(X×Y), o valor de uemB, u(B) =
n
X
i=1
(xi⊗yi)(B) =
n
X
i=1
B(xi, yi), não depende da representação deu.
Como saber se n X
i=1
xi⊗yi e
m
X
j=1
x0j⊗y0j
são duas representações de um mesmo tensor u ∈ X⊗Y? Esta pergunta se reduz a determinar sob que condições
n
X
i=1
xi⊗yi
é uma representação do tensor nulo. Uma maneira eciente de fazer isso é dada pela proposição a seguir.
Denição 1.3. SejamX um espaço vetorial eS um subconjunto deX]. Dize- mos queS separa os pontos de X se para todo x∈X temos
ϕ(x) = 0,∀ϕ∈S =⇒ x= 0.
Proposição 1.4. SejamX, Y espaços vetoriais eS⊂X], R⊂Y]subconjuntos que separam os pontos deX e deY, respectivamente. Dado
u=
n
X
i=1
xi⊗yi∈X⊗Y,
são equivalentes:
(i) u= 0; (ii) Pn
i=1ϕ(xi)ψ(yi) = 0, para todo ϕ∈S e todo ψ∈R; (iii) Pn
i=1ϕ(xi)yi= 0, para todo ϕ∈S; (iv) Pn
i=1ψ(yi)xi = 0, para todoψ∈R.
Demonstração. (i) =⇒ (ii): Dados ϕ∈S eψ∈R, sejaB ∈B(X×Y)dada por
B(x, y) =ϕ(x)ψ(y),∀(x, y)∈X×Y.
Então
n
X
i=1
ϕ(xi)ψ(yi) =
n
X
i=1
B(xi, yi) =
n
X
i=1
(xi⊗yi)(B) =u(B) = 0.
(ii) =⇒ (iii): Para cadaϕ∈S eψ∈R, temos ψ
n
X
i=1
ϕ(xi)yi
!
=
n
X
i=1
ϕ(xi)ψ(yi) = 0.
ComoRsepara os pontos deY, obtemos
n
X
i=1
ϕ(xi)yi= 0.
(iii) =⇒ (iv): De forma análoga à implicação anterior, dados ϕ ∈ S e ψ∈R, temos
ϕ
n
X
i=1
ψ(yi)xi
!
=
n
X
i=1
ϕ(xi)ψ(yi) =ψ
n
X
i=1
ϕ(xi)yi
!
| {z }
=0
= 0.
ComoS separa os pontos deX, concluímos que
n
X
i=1
ψ(yi)xi= 0.
(iv) =⇒ (i): Suponhamos que
n
X
i=1
ψ(yi)xi= 0,∀ψ∈R.
Armamos primeiramente que
n
X
i=1
ϕ(xi)yi= 0,∀ϕ∈X]. (1.1) Com efeito, dadosϕ∈X]eψ∈R, temos
ψ
n
X
i=1
ϕ(xi)yi
!
=
n
X
i=1
ϕ(xi)ψ(yi) =ϕ
n
X
i=1
ψ(yi)xi
!
| {z }
=0
= 0.
ComoRsepara os pontos deY, obtemos (1.1). Armação provada.
Notemos, agora, que o resultado é imediato se x1 = . . . = xn = 0 ou y1 = . . . = yn = 0. Podemos supor, portanto, que os subespaços E = span{x1, . . . , xn} ⊂ X e F = span{y1, . . . , yn} ⊂ Y são não triviais. Sejam {e1, . . . , er}e{f1, . . . , fs} bases deE e deF, respectivamente. Tomemos tam- bém subespaçosGdeX eH deY tais que
X=E⊕G e Y =F⊕H.
Fixemos B ∈B(X ×Y). Dados j ∈ {1, . . . , r} e k ∈ {1, . . . , s}, denimos os funcionais linearesϕj∈X]eψ(j,k)∈Y] por
ϕj r
X
l=1
αlel+g
!
=αj
e
ψ(j,k)
s
X
m=1
βmfm+h
!
=βkB(ej, fk),
ondeα1, . . . , αr, β1, . . . , βm∈K, g∈Geh∈H. Consideremos a forma bilinear B0∈B(X×Y)dada por
B0(x, y) =
r
X
j=1 s
X
k=1
ϕj(x)ψ(j,k)(y),∀(x, y)∈X×Y.
Observamos queB eB0 coincidem emE×F: B(x, y) =
r
X
j=1 s
X
k=1
αjβkB(ej, fk) =
r
X
j=1 s
X
k=1
ϕj(x)ψ(j,k)(y) =B0(x, y), para todox=Pr
j=1αjej ∈E ey =Ps
k=1βkfk ∈F. Como cada par(xi, yi) pertence aE×F, concluímos que
u(B) =
n
X
i=1
B(xi, yi) =
n
X
i=1
B0(xi, yi) =
n
X
i=1 r
X
j=1 s
X
k=1
ϕj(xi)ψ(j,k)(yi)
=
r
X
j=1 s
X
k=1 n
X
i=1
ϕj(xi)ψ(j,k)(yi) =
r
X
j=1 s
X
k=1
ψ(j,k)
n
X
i=1
ϕj(xi)yi
!
| {z }
=0
= 0,
onde a última igualdade decorre de (1.1). Isto prova que u(B) = 0,∀B∈B(X×Y), isto é,u= 0, como queríamos.
Dado x ∈ X, seja xb ∈ X]] dado por x(ϕ) =b ϕ(x), para todo ϕ ∈ X]. Como o conjunto{bx:x∈X} separa os pontos deX], obtemos o seguinte caso particular importante da Proposição 1.4.
Corolário 1.5. SejamX, Y espaços vetoriais e u=
n
X
i=1
ϕi⊗ψi∈X]⊗Y].
São equivalentes:
(i) u= 0; (ii) Pn
i=1ϕi(x)ψi(y) = 0, para todo x∈X e todo y∈Y; (iii) Pn
i=1ϕi(x)ψi = 0, para todox∈X; (iv) Pn
i=1ψi(y)ϕi= 0, para todoy ∈Y.
Demonstração. Consequência imediata da Proposição 1.4.
Linearização de aplicações bilineares
O objetivo desta seção é relacionar as aplicações bilineares deX×Y emZ com as aplicações lineares deX⊗Y emZ. Veremos que todaB∈B(X×Y, Z)pode ser escrita como a composição de uma únicaB˜ ∈L(X⊗Y, Z)com a aplicação bilinear canônicaΠdada na Proposição 1.2.
Proposição 1.6. SejamX, Y, Zespaços vetoriais. Para cada aplicação bilinear B:X×Y →Z, existe uma única aplicação linearB˜ :X⊗Y →Z satisfazendo
B(x, y) = ˜B(x⊗y),∀(x, y)∈X×Y.
A correspondência
B(X×Y, Z)3B7→B˜∈L(X⊗Y, Z)
dene um isomorsmo de espaços vetoriais deB(X×Y, Z)sobre L(X⊗Y, Z).
X×Y Z
X⊗Y
B
Π B˜
Demonstração. DadaB ∈B(X×Y, Z), consideremosB˜ :X⊗Y →Zdada por B˜
n
X
i=1
xi⊗yi
!
=
n
X
i=1
B(xi, yi).
Notemos queB˜ está bem denida: se u=
n
X
i=1
xi⊗yi= 0,
então u(A) = 0, para toda A ∈ B(X ×Y). Em particular, para cada η ∈Z] temos
η◦B∈B(X×Y) =⇒ 0 =u(η◦B) =η
n
X
i=1
B(xi, yi)
!
e, portanto,
n
X
i=1
B(xi, yi) = 0.
Isto prova queB˜ está bem denida. É claro queB˜ é linear e B(x˜ ⊗y) =B(x, y),∀(x, y)∈X×Y.
Agora, sejaI:B(X×Y, Z)→L(X⊗Y, Z)dada por I(B) = ˜B,∀B∈B(X×Y, Z).
DadosB1, B2∈B(X×Y, Z)eα∈K, temos I(B1+αB2)(u) =
n
X
i=1
(B1+αB2)(xi, yi)
=
n
X
i=1
B1(xi, yi) +α
n
X
i=1
B2(xi, yi)
=I(B1)(u) +αI(B2)(u), para todou=Pn
i=1xi⊗yi∈X⊗Y. Logo,I é linear. Além disso, como I(B) = 0 =⇒ I(B)(x⊗y) = 0,∀x∈X,∀y∈Y
=⇒ B(x, y) = 0,∀x∈X,∀y∈Y =⇒ B= 0,
I é injetora. Finalmente, dadaT ∈L(X⊗Y, Z), a aplicaçãoB0:X×Y →Z dada por
B0(x, y) =T(x⊗y),∀(x, y)∈X×Y,
é bilinear e é claro queI(B0) =T. A demonstração está completa.
A aplicaçãoB˜é chamada de linearização deB. Esta propriedade caracteriza o produto tensorial.
Proposição 1.7. Sejam X, Y espaços vetoriais. Suponhamos que existam um espaço vetorial W e uma aplicação bilinear B : X ×Y → W com a seguinte propriedade: dados Z um espaço vetorial e A : X ×Y → Z uma aplicação bilinear, existe uma única aplicação linearL:W →Z satisfazendo A=L◦B. Então existe um isomorsmoJ :X⊗Y →W tal queJ(x⊗y) =B(x, y), para todo(x, y)∈X×Y.
X×Y W
Z
B
A L
Demonstração. Armamos primeiramente que a imagem deB gera W. Com efeito, por hipótese, paraZ =span(Im(B))eA=Bexiste uma única aplicação linearL:W →span(Im(B))tal queB =L◦B. Analogamente, paraZ =W eA=B, existe uma única aplicação linear L0 : W →W tal que B =L0◦B. Como as aplicaçõesL, L0,IdW ∈L(W, W)satisfazem
B=L◦B=L0◦B=IdW ◦B, por unicidade concluímos que
L=L0=IdW. Isto implica que
W =Im(IdW) =Im(L)⊂span(Im(B))⊂W.
Armação provada.
Agora, tomandoZ =X⊗Y eA= Π∈B(X×Y, X⊗Y)a aplicação bilinear denida na Proposição 1.2, obtemos uma aplicação linear LΠ : W → X⊗Y satsifazendo
x⊗y= Π(x, y) = (LΠ◦B)(x, y),∀(x, y)∈X×Y.
Por outro lado, de acordo com a Proposição 1.6, existe uma aplicação linear B˜ :X⊗Y →W tal que
B(x˜ ⊗y) =B(x, y),∀(x, y)∈X×Y. (1.2) Mostremos queB˜ é o isomorsmo procurado. Para cada u =Pn
i=1xi⊗yi ∈ X⊗Y, temos
(LΠ◦B)(u) =˜
n
X
i=1
(LΠ◦B)(x˜ i⊗yi) =
n
X
i=1
(LΠ◦B)(xi, yi) =
n
X
i=1
xi⊗yi=u e, portanto, LΠ◦B˜ =IdX⊗Y. Em particular, LΠ◦B˜ é injetora. Além disso, decorre de (1.2) que
Im(B)⊂Im( ˜B) =⇒ W =span(Im(B))⊂Im( ˜B)⊂W.
Logo,B˜ é sobrejetora. Isto prova queB˜ é um isomorsmo deX⊗Y sobreW, como desejado.
Produto tensorial de aplicações lineares
Duas aplicações linearesT :X→Z eS:Y →W induzem uma aplicação linear deX⊗Y emZ⊗W da seguinte maneira.
Proposição 1.8. SejamX, Y, Z, W espaços vetoriais eT :X →Z, S:Y →W aplicações lineares. Então existe uma única aplicação linear
T⊗S :X⊗Y →Z⊗W satisfazendo
(T⊗S)(x⊗y) = (T(x))⊗(S(y)),∀x∈X,∀y∈Y.
Demonstração. Basta considerar a aplicação bilinearB:X×Y →Z⊗W dada por
B(x, y) = (T(x))⊗(S(y)),∀(x, y)∈X×Y, e aplicar a Proposição 1.6.
A aplicação T ⊗S pode herdar algumas propriedades de T e S (veja o Exercício 1.9). Veremos alguns exemplos dessa situação nos Capítulos 2 e 3.
Tensores como aplicações lineares
Nesta última seção, veremos como um tensoru∈X⊗Y pode ser identicado com uma aplicação linear de X] em Y (ou de Y] em X). Esta ideia será explorada no Capítulo 3 para introduzir a norma injetiva emX⊗Y.
Cada u = Pn
i=1xi⊗yi ∈ X ⊗Y induz duas aplicações lineares de posto nito, que denotaremos porLu:X]→Y eRu:Y]→X. Estas aplicações são dadas por
Lu(ϕ) =
n
X
i=1
ϕ(xi)yi,∀ϕ∈X], e, analogamente,
Ru(ψ) =
n
X
i=1
ψ(yi)xi,∀ψ∈Y].
De acordo com a Proposição 1.4, as aplicaçõesLu e Ru não dependem da re- presentação escolhida deue, além disso, as funções
X⊗Y 3u7→Lu∈L(X], Y) e
X⊗Y 3u7→Ru∈L(Y], X) são aplicações lineares injetoras.
Quando algum dos espaços envolvidos é um dual, temos as seguintes iden- ticações mais simples: cada u = Pn
i=1ϕi⊗yi ∈ X]⊗Y induz a aplicação L0u:X →Y denida por
L0u(x) =
n
X
i=1
ϕi(x)yi,∀x∈X.
De maneira análoga, cadav=Pn
i=1xi⊗ψi∈X⊗Y]induzRv0 :Y →X dada por
R0v(y) =
n
X
i=1
ψi(y)xi,∀y∈Y.
Exercícios
Exercício 1.1. Mostre quex⊗y= 0se, e somente se,x= 0ouy= 0. Exercício 1.2. Mostre que x⊗0 = 0⊗y = 0, para todo x ∈ X e y ∈ Y. Conclua que cada u ∈ X ⊗Y admite representação única se, e somente se, X=Y ={0}.
Exercício 1.3. Mostre que seE, Fsão subconjuntos linearmente independentes de X e de Y, respectivamente, então {x⊗y : x ∈ E, y ∈ F} é linearmente independente em X ⊗Y. Conclua que se BX,BY são bases de X e de Y, respectivamente, então{x⊗y:x∈ BX, y∈ BY}é base deX⊗Y.
Exercício 1.4. Mostre que, para cada n ≥ 1, Kn⊗X e Xn são isomorfos.
(Sugestão: use o Exercício 1.3 para provar que{ei⊗x: 1≤i≤n, x∈ B}é uma base deK⊗X, onde {e1, . . . , en} é a base canônica de Kn eB é uma base de X. Conclua queKn⊗X eXn têm a mesma dimensão. Outra opção é mostrar que a linearização da aplicação bilinear
Kn×X 3(α1, . . . , αn, x)7→(α1x, . . . , αnx)∈Xn é um isomorsmo.)
Exercício 1.5. Mostre que a transposição T :X⊗Y →Y ⊗X dada por
T
n
X
i=1
xi⊗yi
!
=
n
X
i=1
yi⊗xi,∀u=
n
X
i=1
xi⊗yi∈X⊗Y,
é um isomorsmo deX⊗Y sobreY ⊗X.
Exercício 1.6. Mostre que(X⊗Y)⊗Z é isomorfo a X⊗(Y ⊗Z).
Exercício 1.7. SejamX, Y, Zespaços vetoriais,B:X×Y →Z uma aplicação linear eB˜ :X⊗Y →Z sua linearização. Mostre que span(Im(B)) =Im( ˜B). Exercício 1.8. Usando a notação da demonstração da Proposição 1.7, mostre queLΠ= ( ˜B)−1.
Exercício 1.9. SejamX, Y, Z, W espaços vetoriais e T :X →Z, S : Y →W aplicações lineares. Mostre que seT eS são ambas injetoras (respectivamente, sobrejetoras), então T ⊗S também é injetora (respectivamente, sobrejetora).
Conclua que seX é isomorfo a Z eY é isomorfo aW, entãoX⊗Y é isomorfo aZ⊗W.
Exercício 1.10. Usando a notação da seção anterior, mostre que a função X⊗Y 3u7→Lu∈L(X], Y)
está bem denida e é uma aplicação linear injetora.
Exercício 1.11. Dadou∈X⊗Y não nulo, o ranque deué o menor número natural n ≥ 1 tal que existe uma representação de u da forma Pn
i=1xi⊗yi. Mostre que o ranque deucoincide com o posto deLu (e deRu).
Exercício 1.12. O objetivo deste exercício é identicar o produto tensorial com espaços de aplicações bilineares.
(a) Mostre que a aplicaçãoB1:X×Y →B(X]×Y])dada por
B1(x, y)(ϕ, ψ) =ϕ(x)ψ(y),∀(x, y)∈X×Y,∀(ϕ, ψ)∈X]×Y], é bilinear. Mostre também que sua linearizaçãoB˜1∈L(X⊗Y, B(X]×Y])) é injetora.
(b) Faça o mesmo para a aplicaçãoB2:X]×Y]→B(X×Y)dada por B2(ϕ, ψ)(x, y) =ϕ(x)ψ(y),∀(x, y)∈X×Y,∀(ϕ, ψ)∈X]×Y], e sua linearização.
Exercício 1.13. O produto tensorial simétricoX⊗sX é o subespaço deX⊗X gerado pelos tensores da forma x⊗sy = (x⊗y+y⊗x)/2. Analogamente, o produto tensorial alternado X ⊗aX é o subespaço de X ⊗X gerado pelos tensores da formax⊗ay= (x⊗y−y⊗x)/2.
(a) Dizemos que uma aplicação bilinearB:X×X→Y é simétrica seB(x, y) = B(y, x), para todox, y∈X. Mostre queB ∈B(X×X, Y)é simétrica se, e somente se, existe uma única aplicação linearB˜:X⊗sX →Y satisfazendo
T(x⊗sy) =B(x, y),∀x, y∈X.
(b) Mostre queX⊗X = (X⊗sX)⊕(X⊗aX).
Capítulo 2
A norma projetiva
Como podemos introduzir uma norma emX ⊗Y a partir das normas deX e deY? Nosso objetivo, neste capítulo, é estudar a norma natural mais simples denida no produto tensorial, chamada de norma projetiva.
SejamX, Y espaços de Banach. É razoável exigir que uma norma emX⊗Y satisfaça
kx⊗yk ≤ kxkkyk,∀x∈X,∀y∈Y.
Por outro lado, dado
u=
n
X
i=1
xi⊗yi∈X⊗Y,
pela desigualdade triangular devemos ter kuk ≤
n
X
i=1
kxi⊗yik.
Combinando estas duas exigências, obtemos kuk ≤
n
X
i=1
kxikkyik.
Esta desigualdade deve permanecer válida para todas as representações de u. Deste modo,
kuk ≤inf ( n
X
i=1
kxikkyik:n≥1,(xi)ni=1⊂X,(yi)ni=1⊂X, u=
n
X
i=1
xi⊗yi
) .
O ínmo acima é o maior candidato possível a uma norma natural emX⊗Y. Denição 2.1. SejamX, Y espaços de Banach. A função
k · kπ:X⊗Y →[0,+∞)
dada por kukπ= inf
( n X
i=1
kxikkyik:n≥1,(xi)ni=1⊂X,(yi)ni=1⊂X, u=
n
X
i=1
xi⊗yi )
,
para todou∈X⊗Y, é chamada de norma projetiva em X⊗Y. Quando for necessário explicitar os espaçosX eY, escreveremos
kukπ=πX,Y(u).
Proposição 2.2. DadosX, Y espaços de Banach,k·kπé uma norma emX⊗Y. Além disso,
kx⊗ykπ =kxkkyk,∀x∈X,∀y∈Y.
Demonstração. Usando a representação 0⊗0 do tensor nulo, concluímos que k0kπ= 0. Reciprocamente, suponhamos queu∈X⊗Y seja tal quekukπ = 0. Fixemos(ϕ, ψ)∈X∗×Y∗ e sejaB∈ B(X×Y)dada por
B(x, y) =ϕ(x)ψ(y),∀(x, y)∈X×Y.
Dadoε >0, pela denição de ínmo,uadmite uma representação u=
n
X
i=1
xi⊗yi
satisfazendo n
X
i=1
kxikkyik<kukπ+ε=ε.
Então temos
|u(B)|=
n
X
i=1
ϕ(xi)ψ(yi)
≤
n
X
i=1
kϕ(xi)kkψ(yi)k ≤εkϕkkψk.
A arbitrariedade deεimplica queu(B) = 0. Agora, seu=Pm
j=1x0j⊗yj0 é uma representação qualquer deu, temos
m
X
j=1
ϕ(x0j)ψ(yj0) =u(B) = 0.
Pelo Teorema de Hahn-Banach ([7], Teorema 2.2, pg. 55), os duais X∗ eY∗ separam os pontos deX e deY, respectivamente. Aplicando a Proposição 1.4, concluímos queu= 0.
Para mostrar quek · kπ é homogênea, sejamu∈X⊗Y,α∈Knão nulo e u=
n
X
i=1
xi⊗yi
uma representação deu. Então αu=
n
X
i=1
(αxi)⊗yi
é uma representação deαue, portanto, kαukπ≤
n
X
i=1
kαxikkyik=|α|
n
X
i=1
kxikkyik.
Como a desigualdade acima é satisfeita para qualquer representação deu, con- cluímos que
kαukπ≤ |α|kukπ. (2.1) Agora, comou= 1α(αu), decorre de (2.1) que
kukπ= 1 α(αu)
π
≤ 1
|α|kαukπ =⇒ kαukπ ≥ |α|kukπ. Isto prova que
kαukπ=|α|kukπ.
Mostremos, agora, a desigualdade triangular. Dados u, v∈X⊗Y eε >0, podemos tomar representações
u=
n
X
i=1
xi⊗yi e v=
m
X
j=1
x0j⊗yj0
deue devtais que
n
X
i=1
kxikkyik<kukπ+ε 2
e m
X
j=1
kx0jkky0jk<kvkπ+ε 2. Assim,
u+v=
n
X
i=1
xi⊗yi+
m
X
j=1
x0j⊗yj0
é uma representação deu+v que satisfaz ku+vkπ≤
n
X
i=1
kxikkyik+
m
X
j=1
kx0jkky0jk<kukπ+kvkπ+ε.
Isto implica que
ku+vkπ≤ kukπ+kvkπ
e, portanto,k · kπ é uma norma.
Finalmente, sex∈X ey∈Y, então
kx⊗ykπ≤ kxkkyk,
por denição. Por outro lado, pelo Teorema de Hahn-Banach, existemϕ∈BX∗
eψ∈BY∗ tais que
ϕ(x) =kxk e ψ(y) =kyk.
SejaB∈ B(X×Y)dada por
B(z, w) =ϕ(z)ψ(w),∀(z, w)∈X×Y,
e sejaB˜ :X⊗Y →Ka linearização deB (Proposição 1.6). Notemos queB˜ é k · kπ-contínuo, pois
|B(u)| ≤˜
n
X
i=1
|B(x˜ i⊗yi)|=
n
X
i=1
|Bϕ,ψ(xi, yi)| ≤
n
X
i=1
kxikkyik,
para todou=Pn
i=1xi⊗yi∈X⊗Y. Isto implica que
|B(u)| ≤ kuk˜ π,∀u∈X⊗Y e, em particular,
kx⊗ykπ≥ |B(x˜ ⊗y)|=|ϕ(x)||ψ(y)|=kxkkyk, como queríamos.
O espaçoX⊗Y munido da normak · kπ será denotado porX⊗πY. SeX eY são espaços de Banach de dimensão innita, entãoX⊗πY não é completo (veja o Exercício 2.24). Denimos, então:
Denição 2.3. SejamX, Y espaços de Banach. O completamento deX⊗πY é chamado de produto tensorial projetivo deX eY e é denotado porX⊗bπY.
Duas aplicações lineares T : X → Z, S : Y → W induzem uma única aplicação linearT⊗S:X⊗Y →Z⊗W satisfazendo
(T⊗S)(x⊗y) = (T(x))⊗(S(y)),∀x∈X,∀y∈Y.
Veremos a seguir queT⊗S é um operador linear contínuo em relação à norma projetiva.
Proposição 2.4. Dados espaços de Banach X, Y, Z, W e operadores lineares contínuosT :X →Z, S:Y →W, existe um único operador linear contínuo
T⊗πS:X⊗bπY →Z⊗bπW satisfazendo
(T⊗πS)(x⊗y) = (T(x))⊗(S(y)),∀x∈X,∀y∈Y.
Além disso,
kT ⊗πSk=kTkkSk.
Demonstração. De acordo com a Proposição 1.8, existe uma única aplicação linearT⊗S:X⊗Y →Z⊗W tal que
(T⊗S)(x⊗y) = (T(x))⊗(S(y)),∀x∈X,∀y∈Y.
Vamos mostrar que T ⊗S é πX,Y-πZ,W-contínua. Dado u = Pn
i=1xi⊗yi ∈ X⊗Y, temos
k(T ⊗S)(u)kπ=
n
X
i=1
(T(xi))⊗(S(yi)) π
≤ kTkkSk
n
X
i=1
kxikkyik.
Como a representação deué arbitrária, obtemos
k(T⊗S)(u)kπ≤ kTkkSkkukπ,∀u∈X⊗Y.
Isto prova queT⊗S é contínua e
kT ⊗Sk ≤ kTkkSk.
Por outro lado, para cada0< δ <1existemx∈BX ey∈BY tais que kT(x)k ≥(1−δ)kTk e kS(y)k ≥(1−δ)kSk.
Comokx⊗ykπ =kxkkyk ≤1, concluímos que
kT⊗Sk ≥ k(T⊗S)(x⊗y)kπ =kT(x)⊗S(y)kπ
=kT(x)kkS(y)k ≥(1−δ)2kTkkSk.
Decorre da arbitrariedade deδque
kT ⊗Sk ≥ kTkkSk.
Para encerrar a demonstração, basta tomarT⊗πScomo sendo a única extensão linear e contínua (de mesma norma) deT⊗SaX⊗bπY (veja o Exercício 2.2).
Sejam X, Y espaços de Banach e Z um subespaço fechado de Y. Embora X⊗Z seja um subespaço vetorial de X⊗Y, a norma πX,Z não é, em geral, equivalente à restrição deπX,Y aX⊗Z. Dadou∈X⊗Z, para calcularπX,Z(u) tomamos o ínmo sobre o conjunto de todas as representações deucomo somas de tensores elementaresx⊗z, comx∈X ez∈Z. Já a normaπX,Y(u)envolve todas as representações deuemX⊗Y, de modo que
πX,Y(u)≤πX,Z(u). (2.2)
Isto motiva a seguinte denição:
Denição 2.5. SejaX um espaço de Banach. Dizemos que o produto tensorial projetivo comX respeita subespaços isomorcamente se dadosY um espaço de Banach eZ um subespaço fechado deX,πX,Z é equivalente à restrição deπX,Y
a X ⊗Z. Analogamente, dizemos que o produto tensorial projetivo com X respeita subespaços isometricamente se dadosY um espaço de Banach e Z um subespaço fechado deX,πX,Z coincide com a restrição deπX,Y aX⊗Z.
Em outras palavras, o produto tensorial projetivo comXrespeita subespaços isomorcamente (respectivamente, isometricamente) se a identidade
Id:X⊗Z→X⊗Z
é um isomorsmo (uma isometria) de(X⊗Z, πX,Z) sobre(X ⊗Z, πX,Y). In- vestigaremos esta propriedade mais adiante, usando uma descrição conveniente do dual deX⊗bπY. Por ora, observamos um resultado positivo para subespaços complementados.
Proposição 2.6. SejamX, Y espaços de Banach,Z, W subespaços fechados de X e de Y, respectivamente, e P :X →X, Q:Y →Y projeções sobre Z eW. Então:
(i) A normaπZ,W é equivalente à restrição deπX,Y aZ⊗W. Em particular, Z⊗bπW é isomorfo ao subespaço
F= (Z⊗W)πX,Y deX⊗bπY;
(ii) O operadorP⊗πQé uma projeção deX⊗bπY sobreF.
Demonstração. (i) Em virtude de (2.2), é suciente mostrar que existe uma constanteC >0 tal que
πZ,Y(u)≤CπX,Y(u),∀u∈Z⊗W.
Dadou∈Z⊗W, xemos representações u=
n
X
i=1
xi⊗yi=
m
X
j=1
zj⊗wj
deuemX⊗Y e emZ⊗W, respectivamente. ComoP eQsão projeções sobre Z eW, temos
(P⊗Q)(u) =
m
X
j=1
P(zj)⊗Q(wj) =
m
X
j=1
zj⊗wj =u.
Isto implica que
(P⊗Q)(u) =
n
X
i=1
P(xi)⊗Q(yi) é, também, representação deuemZ⊗W. Logo,
πZ,W(u)≤
n
X
i=1
kP(xi)kkQ(yi)k ≤ kPkkQk
n
X
i=1
kxikkyik.
Concluímos que
πZ,W(u)≤ kPkkQkπX,Y(u),
como queríamos. Deste modo, a identidade Id:Z⊗W →Z⊗W é um isomor- smo de(Z⊗W, πZ,W)sobre(Z⊗W, πX,Y)e, pelo Exercício 2.2, sua extensão é um isomorsmo deZ⊗bπW sobre F.
(ii) Já vimos que
(P⊗Q)(u) =u,∀u∈Z⊗W.
Como a imagem deP ⊗Q é o subespaçoZ ⊗W, a imagem de sua extensão P⊗πQestá contida emF. Por outro lado, dadosv∈Fe(vn)n≥1uma sequência emZ⊗W que converge (na normaπX,Y) parav, temos
(P⊗πQ)(v) = lim
n→+∞(P⊗πQ)(vn) = lim
n→+∞(P⊗Q)(vn) = lim
n→+∞vn=v.
Isto prova queP⊗πQé projeção sobreF.
O próximo resultado apresenta outra propriedade herdada pelo operador T⊗πS.
Denição 2.7. SejamX, Y espaços normados eT :X→Y um operador linear contínuo. Dizemos queT é um operador quociente se Im(T) =Y e
kyk= inf{kxk:x∈X, T(x) =y}.
Proposição 2.8. Dados espaços de BanachX, Y, Z, W e operadores quociente T : X → Z, S : Y → W, o operador T ⊗πS : X⊗bπY → Z⊗bπW também é quociente.
Demonstração. De acordo com o Exercício 2.2, basta provar que T⊗S:X⊗πY →Z⊗πW
é um operador quociente. Dadosv∈Z⊗W eε >0, existe uma representação v=
n
X
i=1
zi⊗wi
devsatisfazendo n X
i=1
kzikkwik<kvkπ+ε.
ComoT eS são operadores quociente, existemx1, . . . , xn ∈X ey1, . . . , yn∈Y tais queT(xi) =zi, S(yi) =wi,
kxik ≤(1 +ε)kzik e kyik ≤(1 +ε)kwik, para todoi∈ {1, . . . , n}. Escrevendo
uε=
n
X
i=1
xi⊗yi,
temos(T⊗S)(uε) =v e kuεkπ≤
n
X
i=1
kxikkyik ≤
n
X
i=1
(1 +ε)2kzikkwik<(1 +ε)2(kvkπ+ε).
Isto implica queT⊗S é sobrejetor e, além disso, inf{kukπ:u∈X⊗Y,(T⊗S)(u) =v} ≤ inf
ε>0(1 +ε)2(kvkπ+ε) =kvkπ. Por outro lado, para todou∈X⊗Y tal que(T⊗S)(u) =v temos
kvkπ=k(T⊗S)(u)kπ≤ kTkkSkkukπ=kukπ, (2.3) poisT eS têm norma igual a 1.
O espaço `
1(I ) ⊗ b
πX
Nosso próximo objetivo é mostrar que o produto tensorial projetivo`1⊗bπX é li- nearmente isométrico a um espaço de Banach clássico de famílias absolutamente somáveis. Como aplicação, vamos obter uma representação geral dos elementos de um produto tensorial projetivo arbitrário.
Na demonstração a seguir, por conveniência, vamos convencionar a soma sobre um conjunto vazio de índices como valendo zero.
Proposição 2.9. DadosX um espaço de Banach e I um conjunto não vazio,
`1(I)⊗bπX e`1(I, X) são linearmente isométricos.
Demonstração. Para cadax∈X ea= (ai)i∈I ∈`1(I), temos X
i∈I
kaixk=kak1kxk<+∞ =⇒ (aix)i∈I ∈`1(I, X).
Assim, ca bem denida a aplicação bilinearB :`1(I)×X→`1(I, X)dada por B(a, x) = (aix)i∈I,∀a= (ai)i∈I ∈`1(I),∀x∈X.
Seja B˜ : `1(I)⊗X →`1(I, X) a linearização de B. Vamos mostrar que B˜ é uma isometria de`1⊗πX sobre um subespaço denso de`1(I, X).
Dadou=Pm
j=1aj⊗xj∈`1(I)⊗X, ondeaj = (aji)i∈I, temos kB(u)k˜ 1=X
i∈I
m
X
j=1
ajixj
≤X
i∈I m
X
j=1
|aji|kxjk=
m
X
j=1
X
i∈I
|aji|kxjk=
m
X
j=1
kajk1kxjk.
Como a desigualdade acima é válida para qualquer representação deu, obtemos kB(u)k˜ 1≤ kukπ.
Por outro lado, armamos que X
i∈I
ei⊗
m
X
j=1
ajixj
converge parauem`1⊗πX, onde(ei)i∈I é a base canônica de `1(I). De fato, dadoε >0, para cadaj ∈ {1, . . . , m}existe um subconjunto nito e não vazio Fj ⊂I tal que
X
i∈G
|aji|< ε m(kxjk+ 1),
para todo subconjunto nitoGdeI\Fj. SejaF0=F1∪. . .∪Fm. SeF é um subconjunto nito deI que contémF0, então
aj−X
i∈F
ajiei 1
= sup (
X
i∈G
|aji|:∅6=G⊂(I\F)nito )
≤ ε
m(kxjk+ 1), para todoj∈ {1, . . . , m}e, portanto,
u−X
i∈F
ei⊗
m
X
j=1
ajixj
π
=
m
X
j=1
aj⊗xj−
m
X
j=1
X
i∈F
ajiei
!
⊗xj π
=
m
X
j=1
aj−X
i∈F
ajiei
!
⊗xj
π
≤
m
X
j=1
aj−X
i∈F
ajiei
1
kxjk
≤
m
X
j=1
ε m
kxjk kxjk+ 1 < ε.
Armação provada. Em particular, kukπ ≤X
i∈I
keik1
m
X
j=1
ajixj
=kB(u)k˜ 1.
Isto prova queB˜ é uma isometria de`1(I)⊗πX sobre sua imagem. Finalmente, notemos que o subespaçoZdas famílias quase nulas em`1(I, X)é denso. Como
B˜
m
X
j=1
eij ⊗xj
= (yi)i∈I,
onde yij = xj para cada j ∈ {1, . . . , m} e yi = 0 se i ∈ I \ {i1, . . . , im}, concluímos que a imagem de B˜ contém Z. Para completar a demonstração, basta aplicar o Exercício 2.2.
Corolário 2.10. SejamX, Y espaços de Banach. Se X tem dimensão nita, entãoX⊗πY eYn são isomorfos, onden=dim(X). Em particular,X⊗πY é completo.
Demonstração. ComoX tem dimensão nita, todas as normas emX são equi- valentes. Em particular,X é isomorfo a `1(I), onde I={1, . . . , n}. Usando a notação da demonstração da Proposição 2.9, o operador linearB˜ :`1(I)⊗πY →
`1(I, Y)é uma isometria sobre sua imagem e, além disso, sua imagem contém o subespaçoZ de `1(I, Y) das famílias quase nulas. Como I é nito, Z coin- cide com`1(I, Y)e, portanto,B˜ é uma isometria de`1(I)⊗πY sobre`1(I, Y). Agora, basta observar que `1(I, Y) é o espaço Yn munido da norma k · k1 e aplicar o Exercício 2.6.
Observação 2.11. Em geral,`p⊗bπX não é isomorfo a`p(N, X)se1< p <∞, mas existe uma descrição de`p⊗bπX como um espaço de sequências deX. Veja, por exemplo, [1].
O próximo importante resultado será usado mais adiante.
Teorema 2.12. Todo espaço de BanachX é linearmente isométrico a um quo- ciente de `1(I), para algum conjunto innito I. Equivalentemente, existe um conjunto innitoI tal queX é a imagem, por um operador quociente, de`1(I). Demonstração. Seja (xi)i∈I um subconjunto denso de BX, onde xi 6= xj se i6=j. Para cadaa= (ai)i∈I ∈`1(I), temos
X
i∈I
kaixik ≤ kak1<+∞, (2.4) isto é,(aixi)i∈I é absolutamente somável em X. Como X é completo, concluí- mos que
X
i∈I
aixi
converge emX. Assim, ca bem denido o operador linearT :`1(I)→X dado por
T(a) =X
i∈I
aixi,∀a= (ai)i∈I ∈`1(I).
Decorre de (2.4) queT é contínuo e
kT(a)k ≤ kak1,∀a∈`1(I). (2.5) Vamos mostrar queT é um operador quociente. Fixadosx∈X unitário eε >0, é suciente, por linearidade, mostrar que existe a ∈`1(I) tal que T(a) = x e kak1= 1 +ε. Isso será feito indutivamente a seguir.
Consideremos o número real
∆ = ε
1 +ε ∈(0,1).
Como(xi)i∈I é denso emBX, existei1∈I tal que kx−xi1k<∆.
Suponhamos construídos, para algum n ≥ 1, índices distintos i1, . . . , in ∈ I satisfazendo
x−xi1−∆xi2− · · · −∆n−1xin <∆n. Escrevendo
yn= x
∆n − xi1
∆n − xi2
∆n−1− · · · − xin
∆ , temoskynk<1 e, por hipótese e pelo Exercício 2.3, o conjunto
In={i∈I:kyn−xik<∆}
é innito. Assim, podemos escolherin+1∈I\ {i1, . . . , in}satisfazendo kyn−xin+1k<∆,
isto é,
x−xi1− · · · −∆nxin+1
<∆n+1.
Procedendo indutivamente, construímos uma sequência de índices (in)n≥1
emIsatisfazendoin6=im sen6=me
x−
m
X
n=1
∆n−1xin
<∆m,∀m≥1.
Logo, a série (absolutamente convergente)
∞
X
n=1
∆n−1xin
converge incondicionalmente parax. Consideremos, agora, a famíliaa= (ai)i∈I, onde
ai =
(∆n−1, sei=in para algumn≥1, 0, caso contrário.
É claro quea∈`1(I),T(a) =xe, pela escolha de∆, kak1=
∞
X
n=1
∆n−1= 1
1−∆ = 1 +ε.
Isto completa a demonstração.
Proposição 2.13. SejamX, Y espaços de Banach. Dadosu∈X⊗bπY eε >0, existem sequências limitadas(xn)n≥1 em X e (yn)n≥1 em Y tais que
u=
∞
X
n=1
xn⊗yn e
∞
X
n=1
kxnkkynk<kukπ+ε.
Demonstração. Sejam I um conjunto innito e T : `1(I) → X um operador quociente. Pela Proposição 2.8, o operador
T⊗πIdY :`1(I)⊗bπY →X⊗bπY
também é quociente. Logo, dados u ∈ X⊗bπY e ε > 0, existe v ∈ `1(I)b⊗πY satisfazendo
(T⊗πIdY)(v) =u e kvkπ <kukπ+ε.
Sejam J : `1(I)⊗bπY → `1(I, Y) a isometria construída na Proposição 2.9 e a= (ai)i∈I ∈`1(I, Y)tal que J(v) =a. Comoa∈`1(I, Y), o conjunto
{i∈I:ai6= 0}
é enumerável; portanto, existe uma sequência de índices (in)n≥1 em I tal que in6=imsen6=me
{i∈I:ai 6= 0} ⊂ {in:n≥1}.
Em particular,
kvkπ=kJ(v)k1=kak1=
∞
X
n=1
kaink.
Agora, tomandobn= (bni)i∈I ∈`1(I, Y), onde bni =
(ain, sei=in, 0, caso contrário, concluímos que
∞
X
n=1
bn=a em`1(I, Y), de modo que
v=J−1(a) =J−1
∞
X
n=1
bn
!
=
∞
X
n=1
J−1(bn) =
∞
X
n=1
ein⊗ain
em `1(I)⊗bπY, onde (ei)i∈I é a base canônica de `1(I). Denimos, para cada n≥1,
xn =T(ein)∈X e yn=ain∈Y.
Notemos que(xn)n≥1 e(yn)n≥1são limitadas, pois
kxnk=kT(ein)k ≤ keink1= 1 e kynk=kaink ≤ kak1. Além disso,
u= (T⊗πIdY)(v) = (T⊗πIdY)
∞
X
n=1
ein⊗ain
!
=
∞
X
n=1
(T ⊗πIdY)(ein⊗ain) =
∞
X
n=1
T(ein)⊗ain=
∞
X
n=1
xn⊗yn
e ∞ X
n=1
kxnkkynk ≤
∞
X
n=1
kaink=kak1=kvkπ=kukπ+ε, como queríamos.
Destacamos o seguinte renamento da proposição anterior.
Corolário 2.14. Sejam X, Y espaços de Banach. Dadosu∈X⊗bπY e ε >0, existem sequências(xn)n≥1∈c0(N, X) emX e(yn)n≥1∈`1(N, Y)tais que
u=
∞
X
n=1
xn⊗yn e
∞
X
n=1
kxnkkynk<kukπ+ε.
Demonstração. Tomemos sequências limitadas(zn)n≥1 emX e(wn)n≥1 emY tais que
u=
∞
X
n=1
zn⊗wn e
∞
X
n=1
kznkkwnk<kukπ+ε.
Pelo Lema A.13, existe(µn)n≥1 sequência de números reais estritamente posi- tivos tal queµn→+∞e(µnkznkkwnk)n≥1∈`1. Denindo, para cadan≥1,
xn= ( z
n
µnkznk, sezn6= 0, 0, caso contrário,
eyn=µnkznkwn, é claro que as sequências (xn)n≥1 e(yn)n≥1 têm as proprie- dades desejadas.
Da acordo com a Proposição 1.4, sabemos identicar quais somas nitas de tensores elementares representam o tensor nulo. Determinar quando uma série
∞
X
n=1
xn⊗yn ∈X⊗bπY
como no enunciado da Proposição 2.13 representa o tensor nulo é uma questão mais delicada, que abordaremos no Capítulo 4.
O dual de X ⊗ b
πY
Já vimos, no Capítulo 1, que toda aplicação linear denida em X ⊗Y é a linearização de uma única aplicação bilinear denida em X×Y, e vice-versa (Proposição 1.6). Ocorre um fenômeno análogo com os operadores lineares contínuos denidos emX⊗bπY e as aplicações bilineares contínuas emX×Y. Na realidade, já exploramos um pouco dessa ideia na demonstração da Proposição 2.2, quando usamos a forma bilinear contínuaB(x, y) =ϕ(x)ψ(y)para estimar a norma dex⊗y.
Teorema 2.15. Sejam X, Y, Z espaços de Banach. Para cada aplicação li- near contínua B : X ×Y → Z, existe um único operador linear contínuo B˜ :X⊗bπY →Z satisfazendo
B(x, y) = ˜B(x, y),∀(x, y)∈X×Y.
A correspondência
B(X×Y, Z)3B7→B˜ ∈ L(X⊗bπY, Z)
dene uma isometria linear deB(X×Y, Z)sobreL(X⊗bπY, Z). Em particular, (X⊗bπY)∗=L(X⊗bπY,K)eB(X×Y)são linearmente isométricos.
Demonstração. SejaB ∈ B(X×Y, Z)e sejaB˜ :X⊗Y →Z sua linearização.
Armamos que B˜ é k · kπ-contínua e sua norma coincide com a de B. Com efeito, dadou=Pn
i=1xi⊗yi∈X⊗Y, temos kB(u)k˜ =
n
X
i=1
B(xi, yi)
≤
n
X
i=1
kB(xi, yi)k ≤ kBk
n
X
i=1
kxikkyik.
Decorre da arbitrariedade da representação deuqueB˜ é contínua e kBk ≤ kBk.˜
Por outro lado, para cadax∈X ey∈Y,
kB(x, y)k=kB(x˜ ⊗y)k ≤ kBkkxkkyk.˜ Isto implica que
kBk ≤ kBk.˜
De acordo com o Exercício 2.2, podemos tomar a única extensão linear e contínua (de mesma norma) deB˜ aX⊗bπY, que ainda denotaremos porB˜. É claro que o operadorI:B(X×Y, Z)→ L(X⊗bπY, Z)dado por
I(B) = ˜B,∀B∈ B(X×Y, Z),
é uma isometria linear sobre sua imagem. Finalmente, dadoT ∈ L(X⊗bπY, Z), consideremos a aplicação bilinearA:X×Y →Z denida por
A(x, y) =T(x⊗y),∀(x, y)∈X×Y.
Como
kA(x, y)k=kT(x⊗y)k ≤ kTkkxkkyk,∀(x, y)∈X×Y,
concluímos queA∈ B(X×Y, Z)e, por construção,I(A) =T. Isto prova que T é sobrejetora e completa a demonstração.
Pelo teorema anterior, o dual deX⊗bπY pode ser identicado com o espaço B(X×Y) de todas as formas bilineares contínuas. Cada forma bilinear B ∈ B(X ×Y) determina o funcional linear contínuo ϕB ∈ (X⊗bπY)∗, de mesma norma, satisfazendo
ϕB n
X
i=1
xi⊗yi
!
=
n
X
i=1
B(xi, yi), para todo u = Pn
i=1xi⊗yi ∈ X ⊗Y. Esta identicação fornece uma nova fórmula para a norma projetiva:
kukπ = sup{|ϕB(u)|:B ∈ B(X×Y),kBk ≤1}. (2.6) Vejamos um exemplo da aplicação desta fórmula.
Exemplo 2.16. A diagonal em`2⊗bπ`2.
Seja(en)n≥1 a base canônica de`2. Vamos mostrar que o subespaço D2=span{en⊗en:n≥1}
de `2⊗bπ`2 é linearmente isométrico a `1. Dado u = Pk
n=1αnen ⊗en ∈ D2, temos
kukπ ≤
k
X
n=1
|αn|kenk2kenk2=
k
X
n=1
|αn|.
Por outro lado, consideremos a forma bilinearB:`2×`2→Kdada por B(x, y) =
k
X
n=1
sign(αn)xnyn,
para todox= (xn)n≥1, y= (yn)n≥1∈`2. Pela Desigualdade Hölder,
|B(x, y)| ≤
k
X
n=1
|xn||yn| ≤
∞
X
n=1
|xn||yn| ≤ kxk2kyk2,
o que implica quekBk ≤1. Em virtude de (2.6), obtemos kukπ≥
k
X
n=1
αnB(en, en)
=
k
X
n=1
sign(αn)αn
=
k
X
n=1
|αn|.
Concluímos, portanto, que a funçãoI2:span{en⊗en} →`1dada por I2
k
X
n=1
αnen⊗en
!
= (α1, . . . , αk,0, . . . ,0, . . .)
é uma isometria linear sobre sua imagem. Como Im(I2)é densa (pois contém todas as sequências quase nulas), sua extensão aD2 é uma isometria sobre`1.
Decorre do exemplo anterior, em particular, que o produto tensorial projetivo de espaços reexivos não é, em geral, reexivo.
De acordo com o Exercício 2.4, podemos identicar os espaços B(X ×Y) eL(X, Y∗). Esta identicação fornece outra descrição do dual deX⊗bπY via operadores lineares contínuos: cadaT ∈ L(X, Y∗)determina o funcional linear contínuoψT ∈(X⊗bπY)∗, de mesma norma, tal que
ψT n
X
i=1
xi⊗yi
!
=
n
X
i=1
T(xi)(yi), para todou = Pn
i=1xi⊗yi ∈ X ⊗Y. Reciprocamente, cada ψ ∈ (X⊗bπY)∗ induzTψ∈ L(X, Y∗)dado por
Tψ(x)(y) =ψ(x⊗y),∀x∈X,∀y∈Y.
De modo análogo, cada S ∈ S(Y, X∗) determina ηS ∈ (X⊗bπY)∗, de mesma norma, vericando
ηS n
X
i=1
xi⊗yi
!
=
n
X
i=1
S(yi)(xi).
Concluímos que
kukπ= sup{|ψT(u)|:T ∈ L(X, Y∗),kTk ≤1}
= sup{|ηS(u)|:S∈ L(Y, X∗),kSk ≤1}.
Agora, estamos em condições de determinar quando o produto tensorial projetivo comX respeita subespaços isomorcamente.
Proposição 2.17. SejaX um espaço de Banach. São equivalentes:
(i) O produto tensorial projetivo comX respeita subespaços isomorcamente;
(ii) DadosY um espaço de Banach,Z um subespaço fechado deY e T :Z→ X∗ um operador linear contínuo, existe T˜ : Y → X∗ extensão linear e contínua deT;
(iii) Existe λ ≥ 1 tal que, dados Y um espaço de Banach, Z um subespaço fechado de Y e T :Z →X∗ um operador linear contínuo, existeT˜:Y → X∗ extensão linear e contínua deT com kT˜k ≤λkTk;
(iv) Existe λ ≥ 1 tal que, dados Y um espaço de Banach e Z um subespaço fechado de Y, temosπX,Z(u)≤λπX,Y(u)para todo u∈X⊗Z.
Demonstração. (i) =⇒ (ii): SejamT :Z →X∗ um operador linear contínuo eϕ∈(X⊗Z, πX,Z)∗ o funcional linear contínuo dado por
ϕ
n
X
i=1
xi⊗zi
!
=
n
X
i=1
T(zi)(xi),