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Gestão democrática na escola : uma estratégica de prazer no trabalho - estudo exploratório com professores de escola pública do Distrito Federal

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Academic year: 2017

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Stricto Sensu em Psicologia

Mestrado

GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA: UMA

ESTRATÉGIA DE PRAZER NO TRABALHO

ESTUDO

EXPLORATÓRIO COM PROFESSORES DE ESCOLA

PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL

Brasília - DF

2011

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GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA: UMA

ESTRATÉGIA DE PRAZER NO TRABALHO

ESTUDO

EXPLORATÓRIO COM PROFESSORES DE ESCOLA

PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Psicologia.

Orientadora: Dra. Lêda Gonçalves de Freitas. Co-Orientadora: Dra. Marta Helena de Freitas.

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Dissertação de autoria de Jozina Pires de Araujo Lima, intitulada GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA: UMA ESTRATÉGIA DE PRAZER NO TRABALHO – ESTUDO EXPLORATÓRIO COM PROFESSORES DE ESCOLA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL , apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, em dezesseis de agosto de dois mil e onze, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

___________________________________________________________________ Profa. Dra. Lêda Gonçalves de Freitas

Orientadora

(Mestrado em Psicologia – UCB)

____________________________________________________________________ Profa. Dra. Marta Helena de Freitas

(co-orientadora) (Mestrado em Psicologia)

___________________________________________________________________ Profa. Dra. Sandra Francesca Conte de Almeida

(Membro – UCB)

___________________________________________________________________ Profa. Dra. Carmenisia Jacobina Aires

(Universidade de Brasília – Convidada)

___________________________________________________________________ Profa. Dra. Ondina Pena Pereira

(Suplente – Convidada – UCB)

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Iniciarei meus sinceros e eternos agradecimentos ao meu querido Deus por todas as bênçãos que tem operado em minha vida. E uma delas foi a de abrir novos caminhos para que eu pudesse realizar esta pesquisa de mestrado.

Quero, de forma especial, agradecer a minha mãe, Galdina Pires, ou melhor, Dona Santa, Santinha, que por meio de seu exemplo de luta, de coragem e de garra, mostrou-me que eu seria capaz de concretizar o meu sonho, fazer o mestrado. O seu sorriso, a sua força diante dos obstáculos, a sua mão segurando a minha mão (pois eu estudava juntinho dela), os seus olhinhos brilhando fortaleciam o meu desejo de concluir mais essa etapa. E ao meu pai, José Aires, seu Zeca, ou seu Zequinha, que caminhou comigo até os meus 15 anos, agradeço também pelo ensinamento na arte em saber viver, pois a alegria era a razão de sua existência.

Quero agradecer ao meu marido, Stecilt (Nen), companheiro de todas as horas, pois sempre foi um admirador do meu trabalho, e por acreditar que eu conseguiria vencer mais essa etapa, apesar de tantos afazeres ao mesmo tempo, trabalhar, estudar, cuidar da minha mãe acamada e da minha família.

Agradeço a compreensão dos meus filhos Hugo Leonardo, Igor Leandro e Juliana Cristina, pelos longos momentos de ausências durante esse período de aprendizado.

Agradeço aos meus irmãos – anjos amados – que hoje vivem com Deus, Euzébio, Antônio Carlos Pires, Uílame, os quais presenciaram o início desta minha nova jornada e acreditavam que a realização desse sonho fosse possível.

Agradeço aos meus irmãos queridos, Luzia, Mundico, Pedro Américo, José Humberto, Luis Carlos, que compartilham comigo suas vidas, seus sonhos, alegrias, tristezas, realizações, enfim, essa vitória, “pois o sucesso de cada um de nós é o sucesso de todos nós”!

Agradeço as minhas queridas cunhadas, pois foram importantes nesse processo de construção (Ana Araujo, Sônia Pires, Teresinha, Wânia, Sônia Martins, Tânia, Lúcia).

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incentivo e orações.

Não poderia deixar de agradecer também aos meus amigos, aqui representados por Sandra e Erisevelton, que injetavam diariamente doses de ânimo e de coragem para eu continuar, pois as adversidades eram muitas.

Agradeço às minhas colegas de curso, Magda Augusto, Rita de Cássia e Tatiane Regina (minha afilhada), que sempre estiveram junto comigo, enchendo-me de otimismo, fazendo observações pertinentes ao aprimoramento deste estudo.

Agradeço, ainda, à equipe da Escola Classe 39 de Taguatinga, que abriu as portas para a coleta dos dados de forma acolhedora e ética.

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LIMA, Jozina Pires de Araújo. Gestão democrática na escola – uma estratégia de prazer no trabalho: estudo exploratório com professores de escola pública do Distrito Federal. 2011. 121 f. Dissertação de Mestrado (Psicologia) – Universidade Católica de Brasília. Brasília, s/d.

O objetivo desta pesquisa é analisar o papel da gestão democrática na dinâmica de prazer-sofrimento no trabalho de professores de uma escola pública de Taguatinga, DF.Buscar-se-á caracterizar o contexto de trabalho, investigar as vivências de prazer-sofrimento no trabalho e identificar os mecanismos utilizados pelos professores para enfrentar o sofrimento. Este estudo ancora-se na Psicodinâmica do Trabalho, abordagem que estuda as relações dinâmicas junto à organização do trabalho e processos de subjetivação do indivíduo que se apresentam nas vivências de prazer/sofrimento, nas estratégias de ação para mediar conflitos e contradições da organização de trabalho, nas patologias sociais, na saúde e no adoecimento. Os participantes do estudo foram dez professores da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, do quadro da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Foram realizadas três sessões de entrevistas coletivas, as quais foram gravadas, transcritas e submetidas à análise de núcleos de sentido. Os sujeitos destacam que o conteúdo do trabalho do professor impacta na saúde/adoecimento, pois há sobrecarga, estresse, angústia, frustração e esgotamento físico e emocional. Os sujeitos apontam para uma gestão democrática que viabiliza a participação e a liberdade de expressão. As relações entre os pares de trabalho, a chefia imediata e a maioria dos estudantes são satisfatórias, fortalecidas pelas dinâmicas da cooperação e confiança. A relação com a maioria das famílias foi percebida como deficitária, marcadas pelo descrédito de sua função. O sofrimento surge das condições enfrentadas, da desvalorização profissional, principalmente pela ausência de plano de saúde e de reconhecimento social da profissão pelo governo local (GDF/SSE) e pela maioria das famílias, consolidando-se como um risco para a sua saúde, pois dificulta a execução satisfatória do trabalho. O prazer advém da realização profissional, do sucesso escolar do aluno, do ambiente harmonioso da escola, do profissionalismo da gestão escolar e do reconhecimento profissional dos próprios pares. Os sujeitos buscam estratégias defensivas de proteção, adaptação e exploração para lidar com o sofrimento.

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LIMA, Jozina Pires de Araújo. Gestão democrática na escola – uma estratégia de prazer no trabalho: estudo exploratório com professores de escola pública do Distrito Federal. 2011. 121 f. Dissertação de Mestrado (Psicologia) – Universidade Católica de Brasília. Brasília, s/d.

This research aim to analyze the role of democratic management in pleasure-suffering dynamic in teachers work in public school in Taguatinga – DF. It purposes to characterize the context of work, investigating experiences of pleasure-suffering in this place besides identifying mechanisms used by teachers to face that suffering. This study is based on Work Psychodynamics, an approach which studies dynamic relations in the Work Organizations and process of subjectivity of individuals who present experiences of pleasure-suffering, in the action strategies to work out a solution some conflicts and contradictions of work organizations, in the social pathologies, in the health and sickness. Participants of this study were ten teachers of children education of a public school of Federal District, Brazil. They were accomplished three sections of collective interviews which were recorded, transcribed and submitted to analysis of sense nucleus. Individuals agree that content of teacher work impacts in the health/sickness, because there is a kind of overload, stress, agony, frustration and physical and emotional exhaustion. Individuals point out to a democratic management that make a participation and expression freedom. Relationships between work partners, boss and students are satisfactory, fortifying by cooperation dynamics and trusty. Relationship with families was perceived as deficient, pointing out to unbelief of their functions. The suffering comes out of conditions, of professional depreciation, mainly by absence of Health Insurance or social acknowledgement of the profession by local government and by majority of families, solidifying as a risk to their healthy, because it raises difficulties satisfactory execution of their work. Pleasure comes from professional relationship, from scholar success of students, from harmony environment of school, from professionalism of scholar management and from acknowledgement of the profession by their partners. Individuals seek defense strategies to protect, adaptation and exploration to deal with suffering.

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AJL – Associação Jurídico Legislativa APM – Associação de Pais e Mestres CAPS – Centro de Atenção Psicossocial

Cesat – Centro de Estudos da Saúde do Trabalho CF – Constituição Federal

CT – Condições de Trabalho

DODF -- Diário Oficial do Distrito Federal

DORT/LER – Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho DRET – DF – Diretoria Regional de Ensino de Taguatinga

FEDF – Fundação Educacional do Distrito Federal GDF – Governo do Distrito Federal

IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica INSS – Instituto Nacional de Previdência Privada

ITRA – Inventário de Trabalho e Riscos de Adoecimentos LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação

LODF – Lei Orgânica do Distrito Federal

LPTC – Laboratório de Psicodinâmica e Clínica do Trabalho Novacap – Companhia Urbanizadora da Nova Capital

NPP/Unicamp – Núcleo de Políticas da Universidade Estadual de Campinas NRH – Núcleo de Recursos Humanos

OIT – Organização Internacional do Trabalho OT – Organização do Trabalho

PDAF – Programa de Descentralização de Administração e Financeiro RSP – Relações Socioprofissionais

SAE – Sindicato dos Auxiliares de Educação

SAEB – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica e da Prova Brasil SESI – Serviço Social da Indústria

SIADE – Sistema de Avaliação de Desempenho das Instituições Educacionais do Sistema de Ensino do Distrito Federal

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1 INTRODUÇÃO ... 10

2 PSICODINÂMICA DO TRABALHO ... 15

2.1 Breve histórico ... 15

2.2 Conceitos ... 18

2.2.1 Trabalho e contexto de trabalho ... 18

2.2.2 Prazer-sofrimento no trabalho ... 22

2.2.3 Estratégias de enfrentamento do sofrimento ... 26

2.2.4 Pesquisas em Psicodinâmica ... 33

2.2.5 Pesquisas com professores ... 39

3 A GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA ... 46

3.1 Introdução ... 46

3.2 A gestão democrática na legislação brasileira ... 47

3.3 Os elementos da gestão democrática ... 52

3.4 A gestão democrática no df ... 56

4 METODOLOGIA ... 66

4.1 Tipos de pesquisa ... 66

4.2 Sujeitos da pesquisa ... 68

4.3 Método da pesquisa ... 68

4.4 Instrumentos da pesquisa ... 69

4.5 Procedimentos de coleta de dados ... 70

4.6 Análise de dados ... 72

5 RESULTADOS ... 74

5.1 Organização do trabalho ... 74

5.1.1 Descrição ... 74

5.1.2 Discussão ... 79

5.2 Condições de trabalho ... 83

5.2.1 Descrição ... 83

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5.3.2 Discussão ... 95

5.4 Prazer ... 97

5.4.1 Descrição ... 97

5.4.2 Discussão ... 100

5.5 Sofrimento ... 101

5.5.1 Descrição ... 101

5.5.2 Discussão ... 104

5.6 Estratégias de enfrentamento do sofrimento ... 106

5.6.1 Descrição ... 106

5.6.2 Discussão ... 108

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 110

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1 INTRODUÇÃO

O tema voltado para a saúde/adoecimento do professor tem recebido atenção crescente nos últimos anos. O estudo das relações entre o processo do trabalho docente, as reais condições sob as quais ele se desenvolve e o impacto da organização do trabalho sobre o sujeito e o seu possível adoecimento físico e mental constituem um desafio e uma necessidade para se entender o processo saúde-doença do trabalhador docente, e tem sido fonte de pesquisas realizadas no exterior e no Brasil. Segundo Codo (1999), os professores, sujeitos deste estudo, encontram-se entre os profissionais que mais adoecem no Brasil e no mundo.

Portanto, conhecer o trabalho e a real função que o professor exerce no processo interativo com o estudante no contexto educacional, bem como o impacto sofrido no exercício da docência tem sido uma constante preocupação de pesquisadores e estudiosos de diversas áreas voltadas para a psicologia, as ciências do trabalho, a psicodinâmica do trabalho, dentre outras. A psicologia, por exemplo, tem se ocupado em conhecer diretamente o professor, analisar seus problemas, suas relações interpessoais, sua eficácia e eficiência enquanto profissional do ensino, de modo a compreender e identificar os fatores que interferem na saúde desse profissional.

O referencial teórico da psicodinâmica do trabalho concentra-se em autores como Dejours (1992, 2001; 1993/2004, 2007, 2008, 2009); Mendes; Borges; Ferreira (2002), Mendes; Ferreira; Lanckman, Sznelwar (Org.,2004 ), Dejours; Abdouchel e Jayet (1994), Freitas (2006). O referencial teórico voltado para a gestão democrática está a cargo de Dourado (2000), Dourado; Duarte; Machado (2001), Vieira (2009) Luck (2002, 2003, 2009), Paro (1997), Brasil (1988), Brasil (1996), Distrito Federal (2007) dentre outros.

Segundo Dejours (2007, p. 16), pesquisas pautadas nessa abordagem “buscam compreender porque e como o mesmo trabalho, em função de sua organização, pode inscrever-se em uma dinâmica de destruição, ou, ao contrário, de construção da saúde”.

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Nessa ótica, a área da psicodinâmica do trabalho tem como um dos interesses o estudo das relações dinâmicas junto à organização do trabalho e processos de subjetivação do indivíduo que se apresentam nas vivências de prazer/sofrimento, nas estratégias de ação para mediar conflitos e contradições da organização de trabalho, nas patologias sociais, na saúde e no adoecimento. Esse processo de subjetivação do trabalhador é entendido como “o processo de atribuição de sentido, construído com base na relação do trabalhador com a sua realidade de trabalho, expresso em modos de pensar, sentir e agir individuais ou coletivos” (MENDES et al., 2008. p.4). É central para essa abordagem a problemática da mobilização e do engajamento que a organização exige do trabalhador e que passa pelo uso da dialética, ou seja, de um espaço público de discussões.

A incompatibilidade entre a organização de trabalho e o desejo do trabalhador gera conflitos, desencadeando o aumento da carga psíquica do trabalhador. Em geral a carga psíquica de trabalho se intensifica quando a liberdade de organização de trabalho diminui, ou seja, quando esta se coloca como autoritária, uma vez que a carga psíquica do trabalho é o eco do trabalhador da pressão que constitui a organização do trabalho (DEJOURS, 2009, p. 28). Portanto o trabalho pode ser fonte geradora de prazer e/ou de sofrimento.

No que tange ao entendimento do conceito de saúde sob a perspectiva da psicodinâmica do trabalho, Dejours (2007, p.16) pontua que a saúde não é um estado e que ela não existe, uma vez que os seres humanos são portadores de várias doenças crônicas. Segundo este autor, “a saúde não existe para o conjunto da população – a saúde é antes um ideal desejável na medida em que constitui um ponto de referência ou de partida”. Dessa forma o que há é uma tentativa de se conquistar a saúde, já que o ideal de saúde tem uma função primordial na orientação de nossas ações e de nossa singularidade para tentar conquistá-la. Esse processo de busca da saúde envolve uma longa caminhada no que diz respeito ao conceito de saúde pela psicodinâmica do trabalho, fazendo com que ele continue sendo objeto de estudo.

Para Mendes; Ferreira (2003), se o trabalhador não é percebido na sua totalidade pela organização do trabalho, o sofrimento psíquico pode ser desencadeado, pois ele é impossibilitado de participar e de empreender modificações junto à gestão escolar, ou na atividade que realiza, tendo em vista torná-la mais adequada às suas necessidades fisiológicas e a seus desejos psicológicos.

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frustração à rigidez hierárquica, falta de participação e de reconhecimento profissional, ingerências políticas, falta de diálogo e de construção coletiva, pouca perspectiva de crescimento profissional, individualismo dos colegas, conflitos surgidos entre a organização do trabalho/equipe gestora e docentes, entre outros.

Tais questões merecem atenção por parte da organização do trabalho/equipe gestora, pois sinalizam para o sofrimento do professor e um possível adoecimento, sendo imprescindível que haja maior preocupação no exercício democrático da gestão no interior das escolas, com o compromisso de entender melhor a atividade e o desgaste do professor no desempenho de sua função docente.

Nesse sentido, é oportuno mencionar que o exercício democrático acontece pela prática da gestão democrática no âmbito educacional. Cabe esclarecer que esta gestão encontra respaldo legal para ser amplamente efetivada nas instituições de ensino, uma vez que é assegurada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Lei nº 9.394/96 – em vigência há quase 15 anos – a qual representa um passo decisivo na mudança das formas de organização da gestão escolar, ao instituir nos itens I e II do Art.14, “a participação dos professores na elaboração do Projeto Político Pedagógico da instituição educacional, e a participação da comunidade escolar, descentralizando os processos de decisões e dividindo responsabilidades” (BRASIL, 1996). E ainda no Art. 206, inciso VI, da Constituição Federal de 1988, enfoca a abrangência de se efetivar a participação no exercício de tomada de decisão, incluindo os processos de planejamento, construção e avaliação de resultados (BRASIL, 1988).

Portanto, a prática da gestão e a garantia dos princípios democráticos no interior da escola fortalecem a participação, a construção coletiva, além de propiciar a humanização entre os pares no seu ambiente de trabalho, garantindo, assim, a construção de processos democráticos, os quais impulsionam a organização de trabalho a repensar o sujeito em sua totalidade, possibilitando ao trabalhador desenvolver mecanismos favoráveis à dinâmica de melhoria desse quadro de sofrimento/adoecimento que tem afetado o professor (DOURADO; DUARTE; MACHADO, 2001).

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alcançar metas e objetivos da unidade de ensino, com vistas a gerir recursos materiais e humanos, além de planejar atividades, distribuir funções e atribuições e responsabilidades, fortalecendo a coletividade no ambiente de trabalho, oportunizando vivências de prazer e sentimento de satisfação no que se faz (DOURADO; DUARTE; MACHADO, 2001).

Atualmente, o modelo de gestão que prevalece no DF é o da Gestão Compartilhada, assegurada por meio da Lei nº 4.036, publicada no Diário Oficial do Distrito Federal – (DODF) de 26/10/2007, como modelo de gestão das escolas da rede pública de ensino desenvolvido e avaliado pelos professores em parceria com o Sindicato do Professores (Sinpro), Secretaria de Educação, comunidade local e o atual governo do DF, no sentido de se avançar e chegar mais perto da gestão democrática que se almeja.

O presente estudo tem a pretensão de entender melhor a real situação do professor no seu ambiente de trabalho, no que diz respeito ao desenvolvimento de sua função docente no ambiente escolar, sem perder de vista a influência/impacto da gestão democrática nas vivências de prazer-sofrimento no trabalho de professores de uma escola pública de Taguatinga-DF. Pretende-se também contribuir com a elucidação desse desafio a partir da pesquisa bibliográfica e de campo, no sentido de trazer esclarecimentos em relação à questão do trabalho do professor e suas dificuldades no que se refere às dinâmicas de prazer-sofrimento em seu contexto de trabalho.

A partir desse contexto, apresenta-se a questão central desta dissertação: Qual o efeito da gestão democrática nas vivências de prazer e sofrimento no trabalho de professores de educação infantil e dos anos iniciais em uma escola pública de Taguatinga-DF?

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O estudo foi desenvolvido em uma escola da Diretoria Regional de Ensino de Taguatinga do Distrito Federal (DRET/DF), a qual possui 64 escolas públicas que oferecem Educação Básica. Conforme dados coletados junto ao Núcleo de Recursos Humanos (NRH)1 da DRET de Taguatinga, no segundo semestre de 2009, encontravam-se afastados por motivo de licença médica aproximadamente 413 professores, e na DRE/Taguatinga, havia 368 profissionais readaptados que sofreram limitações de suas funções docentes na carreira de magistério.

A partir desta realidade, verifica-se a necessidade de avançar em estudos que possam encontrar respostas para esse quadro de saúde/adoecimento que afeta o professor, e sua repercussão por meio de jornais locais e em nível nacional.

O estudo está assim constituído: na introdução apresenta-se o objetivo geral, os objetivos específicos da pesquisa, a delimitação do tema e algumas considerações sobre a temática em pauta. O segundo capítulo traz o referencial teórico, apresentando breve histórico da psicodinâmica do trabalho, principais conceitos desta abordagem, pesquisas em psicodinâmica e em outras áreas envolvendo a categoria de professor. O terceiro capítulo traz pequeno recorte da gestão democrática no Brasil, seus princípios norteadores e os processos democráticos no Distrito Federal. A metodologia usada é a da psicodinâmica, por meio de entrevistas semiestruturadas coletivas, mecanismo de escuta para coleta de dados.

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2 PSICODINÂMICA DO TRABALHO

Este capítulo tem como objetivo apresentar o referencial teórico utilizado neste estudo, e está organizado em três partes: Breve Histórico, Principais Conceitos e Pesquisas em Psicodinâmica.

2.1 Breve histórico

A psicodinâmica do trabalho surge da psicopatologia do trabalho, abordagem que nasceu na França nos anos 50. Os principais pesquisadores da psicopatologia do trabalho naquela época foram Le Guillant, Veil, Sivadon, Fernandez-Zoila e Begoin. Seus estudos buscavam estabelecer uma relação causal entre as situações de trabalho e os distúrbios mentais (DEJOURS, 1993/2004).

A partir dos anos 80, Dejours cria a psicodinâmica do trabalho ao se afastar do modelo causal de pesquisa. Os estudos do autor com diversas categorias profissionais, como operários da construção civil e telefonistas, apontavam a presença de medo, ansiedade e frustração diante das situações de trabalho. Dejours revela que, apesar do trabalho e das pressões psíquicas, os trabalhadores não chegam a enlouquecer, pois permanecem na normalidade. Essa normalidade, entretanto, não implica a ausência de sofrimento e, ao mesmo tempo, não descarta o prazer. Segundo o autor, há uma normalidade “sofrente” que ocorre numa dinâmica em que as relações intersubjetivas no contexto de trabalho produzem estratégias defensivas ou coletivas contra o sofrimento e a busca pela saúde (DEJOURS, 1992, 2001 e 1993/2004).

Ao adotar a “normalidade” como objeto de estudo, a psicodinâmica abre novas perspectivas para além do sofrimento e contempla também o prazer no trabalho. Consideram-se não apenas as patologias ligadas a uma ordem causalista e individual, mas vislumbra-Consideram-se a passagem para um modelo de pesquisa que evidencia a dinâmica dos processos psíquicos mobilizados na confrontação com a organização do trabalho (DEJOURS, 1994, 2004).

Assim, a normalidade traça caminho para um novo pensar no que tange não somente ao sofrimento, mas às situações de prazer no trabalho, em que não se vê somente o homem, percebe-se o trabalho/organização do trabalho e as situações de trabalho minuciosamente dentro sua dinâmica interna.

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Psicopatologia do Trabalho, destaca a publicação da obra Travail, usure mentale – essai de psychopathologie du travail, em 1980. A tradução dessa obra foi publicada no Brasil, em 1987, com o nome A loucura do trabalho – estudo de psicopatologia do trabalho. As pesquisas nessa fase surgiram em função de demandas e preocupações sindicais e de instituições de saúde, no final da década de 1960, uma vez que as patologias mentais oriundas do trabalho estavam afetando principalmente os trabalhadores das construções civis, telefonia, serviço público, entre outras categorias.

A segunda fase da psicodinâmica do trabalho, conforme Mendes (2007), marca a mudança da psicopatologia do trabalho para a psicodinâmica do trabalho. Esse estágio focaliza as vivências de prazer e sofrimento nos contextos de trabalho. A organização do trabalho é pensada a partir do debate com ergonomistas, mediante a lacuna entre trabalho prescrito e real. A construção da identidade do trabalhador e o reconhecimento são abordados nesse período.

A terceira e atual fase da psicodinâmica do trabalho, marcada pela publicação de novos trabalhos, assume importante redefinição e registra sua existência na explicação dos efeitos do trabalho e a repercussão desses efeitos nos processos de subjetividade do indivíduo. Nessa fase, vale mencionar que o itinerário dejouriano prossegue mediante novas publicações. Por exemplo: O fator humano e a banalização da injustiça social. As novas formas de organização do trabalho se tornam mais relevantes, bem como os sentidos dados às vivências de prazer-sofrimento, o uso das estratégias de mediação e as formas de subjetivação. Com isso, iniciam-se estudos sobre patologias sociais, tais como a banalização do sofrimento, a servidão voluntária, a hiperaceleração, os distúrbios osteomusculares, a depressão e o alcoolismo (MENDES, 2007).

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Portanto, é a partir desse contexto que envolve o sujeito, sua realidade e subjetividade, bem como as suas relações com o trabalho que se poderá entender melhor a análise psicodinâmica das situações de trabalho.

A finalidade da psicodinâmica do trabalho é, precisamente, a de humanizar o trabalho, ao qual procura entender e explicar conforme o olhar clínico as suas implicações, suas causas, seus fracassos e seus avanços na vida do sujeito. Essa abordagem tem a finalidade também de reconhecer o trabalho como atividade viva e a sua implicação na vida do trabalhador (MENDES et al., 2007).

Essa abordagem possibilita aos trabalhadores a criação de um espaço de livre circulação da palavra que facilite uma ação coletiva de apropriação de sentido. Nesse caso, representa uma mobilização que ajudaria a viabilizar o processo transformador tanto dos indivíduos que participam dessa ação nas suas relações sofrimento e prazer no trabalho, como também da própria organização do trabalho.

Tal modo de intervenção seria a criação de grupos de expressão com vistas a discussões de experiências vivenciadas no trabalho, nos quais o próprio grupo resulte em um contexto de transformação no cotidiano do seu trabalho. Esses processos de construções podem levar o indivíduo ao estabelecimento de novas relações com o seu trabalho, constituindo-se como sujeito da transformação de sua realidade (LANCMAN et al., 2004).

Segundo Ferreira e Mendes (2003, p.37), a psicodinâmica do trabalho “é uma teoria que tem raízes epistemológicas nas ciências hermenêuticas, para as quais o conhecimento é construído com base na interpretação do sentido dos fenômenos”.

A psicodinâmica do trabalho também é uma teoria crítica do trabalho, uma vez que envolve mecanismos de construções e reconstruções das relações entre trabalhador e realidade concreta do trabalho, ou seja, a relação do sujeito em confronto com o exercício do trabalho no ambiente onde ele ocorre (MENDES et al., 2007).

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2.2 Conceitos

2.2.1 Trabalho e contexto de trabalho

A psicodinâmica do trabalho compreende que “o trabalho não é em primeira instância a relação salarial ou o emprego; é o “trabalhar” (DEJOURS, 2004, p. 28).

Nessa perspectiva, pode-se dizer que o “trabalhar” envolve processos de interação, de socialização de projetos, de engajamento entre os pares, de participação nos rumos da organização de trabalho. Portanto, o trabalho exerce um papel essencial de formação do espaço público, pois trabalhar não é apenas produzir, trabalhar implica viver junto, uma vez que pressupõe atenção na relação com o outro, acompanhada de respeito pelo outro e de contribuições bastante complexas por parte de todos, na luta contra o poder dos interesses privados, e principalmente no que tange ao reconhecimento junto ao trabalhador, uma vez que o trabalho é a própria vida do trabalhador (DEJOURS, 2004).

Dejours (2004) assinala que a partir de um olhar clínico o trabalho pode ser definido como algo que está relacionado ao ponto de vista humano, o fato e o ato de trabalhar, como os gestos praticados, o saber-fazer de cada um, o engajamento do próprio corpo, a mobilização da inteligência, a capacidade de refletir, de interpretar e de reagir diante das demandas. Ou seja, é o poder de sentir, de pensar e de inventar do indivíduo em sua vida profissional, social e pessoal.

De acordo com o autor, o trabalho é visto como algo mais complexo, já que o trabalhador precisa acrescentar as normas, regimentos e padrões daquilo que lhe é determinado; ou ainda, como algo que deve ser acrescentado de si mesmo para enfrentar o que não funciona no trabalho diante desse contexto de normatizações. É por meio do trabalho que o indivíduo transforma-se a si mesmo, vencendo a resistência do real, fortalecendo-se e consequentemente ampliando sua competência e habilidade quando consegue avanços diante das dificuldades apresentadas no ambiente de trabalho. Além de superar tais obstáculos, cria sentimentos de satisfação, luta e fortalecimento, possibilitando a transformação do próprio sofrimento oriundo do trabalho (DEJOURS, 2007).

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desenvolve ao longo de sua vida, busca espaços de satisfação e bem-estar no desempenho de suas funções de trabalho e na própria vida. Em todas as esferas da vida social, o ser humano na sua relação com o mundo age, interage, transforma, constrói, usa a dialógica para intervir, socializar e criar significados em tudo que realiza e também estabelece relações diante do contexto social, familiar e de trabalho (DEJOURS, 2004).

O trabalho, em sua amplitude social, adquire uma remuneração também social, ou seja, o trabalho enquanto fator de integração a determinado grupo passa a ter certos direitos sociais, preestabelecidos/conquistados por este grupo, diante da organização do trabalho. O trabalho tem ainda uma função psíquica, pois “é um dos grandes alicerces de constituição do sujeito e de sua rede de significados” (LANCMAN et al., 2004, p. 29).

De acordo com Dejours (2007, 1999), o sujeito trabalha com a perspectiva do binômio contribuição/retribuição. Em troca de seu esforço, espera uma retribuição. O reconhecimento simbólico é mais importante que a forma material, como o salário. Quando o trabalhador é reconhecido pela qualidade do seu trabalho e pelos seus esforços, suas angústias, dúvidas, decepções e desânimos adquirem sentido para ele, ou seja, é a partir desse reconhecimento que o sentido do sofrimento se definirá.

Dejours (1999, p. 34) afirma que “do reconhecimento depende, na verdade, o sentido do sofrimento”. Esse processo de reconhecimento no trabalho se torna de fundamental importância na transformação do sofrimento em prazer, porque propicia um significado ao sofrimento, conferindo a recompensa simbólica para o esforço, para a persistência, para a resistência ao fracasso e para a inteligência mobilizada para a solução dos problemas.

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Para Mendes et al. (2002), o trabalho pode ser visto ao mesmo tempo como fonte de prazer e de sofrimento. Há uma luta do trabalhador com a finalidade de buscar prazer, com vistas a evitar o sofrimento e manter, assim, o seu equilíbrio psíquico.

Nesse sentido, o trabalho é fonte de equilíbrio quando reduz a carga psíquica e se torna agravante quando não possibilita tal redução, pois “o trabalho pode engendrar o pior, mas pode também gerar o melhor” na relação entre o trabalho e a saúde mental do trabalhador (DEJOURS, 2007, p. 25).

Trabalhar, portanto, é sempre enfrentar o real, ou seja, não somente no que se refere à aplicação de normas e procedimentos, mas também porque o trabalho causa danos, incidentes, panes, dentre outros aspectos, os quais colocam em xeque as previsões e os prognósticos de cada ser humano (DEJOURS, 2007).

Para Dejours (2007, p. 17), “se trabalhar é fazer a experiência do real, isso implica necessariamente, uma experiência afetiva penosa que é senão a experiência do fracasso”, percebida pelo conhecimento do real quando ele chega à consciência por meio de uma experiência afetiva que leva ao sofrimento com o sentimento de fracasso e de impotência diante do exercício do trabalho, o qual avança tornando-se fontes geradoras de surpresa, decepção, irritação, contrariedade, ira, chegando até a depressão. Mas este sofrimento que se condensa na subjetividade transforma-se em exigência psíquica, convertendo-se em protensão, pois clama por alívio, exigindo consolo, com vistas à superação desse mal-estar na busca de solução.

Logo, a saúde e o trabalho são processos que estão sempre movidos a conquistas e avanços, uma vez que o trabalhador não é totalmente passivo diante de dificuldades e injustiças a ele atribuídas pela organização de trabalho e busca mecanismos de enfrentamentos diante de situações desfavoráveis à sua saúde no seu contexto de trabalho.

Ferreira e Mendes (2003, p. 41) definem o contexto de trabalho como “o lócus

material, organizacional e social no qual se desenvolve a atividade de trabalho e as estratégias individuaiais e coletivas de mediação usadas pelos trabalhadores ante a realidade do trabalho”. O contexto de trabalho é, portanto,constituído pela organização do trabalho (OT), pelas condições de trabalho (CT) e pelas relações socioprofissionais (RSP) e tem função fundamental na vida diária dos trabalhadores.

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como se operam a fiscalização, o controle, a ordem, a direção e a hierarquia. De acordo com Dejours (1984, p. 25), a organização do trabalho, quando vista de forma operacional, é “a divisão do trabalho, o conteúdo da tarefa – à medida que ele dela deriva -, o sistema hierárquico, as modalidades de comando, as relações de poder, as questões de responsabilidades”.

Dejours; Abdoucheli (1990, p.28) pontuam que quando a organização do trabalho é percebida dinamicamente, “é resultado de compromissos entre os homens com vistas à definição de regras, normas, e entre níveis hierárquicos, para negociar essas regras e obter novos compromissos renegociáveis posteriormente, caracterizando-se pela evolução dos homens, do coletivo, da história e do tempo”.

Para Ferreira e Mendes (2003), organização do trabalho (OT) é composta por elementos prescritos (normas, regimentos, metas de produção), os quais traduzem as concepções e as práticas de gestão de pessoas nas empresas.

As condições de trabalho (CT) representam a infraestrutura, o apoio da instituição e as práticas administrativas que permeiam o trabalho. Os elementos da CT são o ambiente físico, os instrumentos de trabalho, os equipamentos, a matéria-prima, o suporte organizacional e a remuneração.

Relações socioprofissionais são as relações afetivas e profissionais estabelecidas entre os diversos níveis hierárquicos da organização, que envolve uma dinâmica própria e subjacente às relações entre chefias-subordinados e entre os colegas (MENDES, 2002, p. 29).

“Essas relações resultam numa variabilidade da organização de trabalho, transformando-se em objeto de reajustes” mediante uma relação intersubjetiva junto ao sujeito pela organização do trabalho, de modo que ele, com sua história de vida decorrente de seu passado, presente e futuro, possa se envolver com a dinâmica de construção do coletivo de trabalho, marcada pela fala compartilhada e o possível sofrimento advindo do impacto com os elementos do contexto de trabalho e de sua identidade social (MENDES, 2002, p. 29).

Dejours (1992) observa que a organização do trabalho se apresenta de forma variada para cada trabalhador, conforme as relações sociais, a elaboração da atividade, os modos operatórios reais e a dinâmica local da situação de trabalho, por isso, existem conflitos e divergências de interpretação.

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definição de objetivos, regras e formas de controle que são percebidas negativamente pelo trabalhador, as quais criam uma distância natural entre a organização do trabalho e o trabalhador e propiciam também vivências de sofrimento que afetam a saúde física e psíquica. Em contrapartida, o sofrimento desencadeado pode ser mediado pela utilização de estratégias de enfrentamento/mobilização subjetiva das pessoas com vistas a estreitar esse distanciamento, perceptível na existência de uma luta constante do indivíduo para reverter tal situação (DEJOURS, 2007).

Desse modo, o trabalho é considerado como um condutor da construção da identidade e da saúde mental do trabalhador, pois muitos gozam de boa saúde quando trabalham. Essa duplicidade de foco apresentado em relação ao trabalho nos faz crer que este pode funcionar com desencadeador ou colaborador para o processo saúde-adoecimento do trabalhador (MENDES; CRUZ, 2004).

Entretanto, quando o indivíduo é privado de trabalhar pelo desemprego ao longo prazo, é acometido por danos psicopatológicos, tais como depressão, alcoolismo, violência. A pessoa que se encontra em situação de desemprego por um longo período torna-se vulnerável, uma vez que todo ser humano carrega em sua identidade falhas, lacunas pessoais, sociais, profissionais (DEJOURS, 2007).

Portanto, em ambos os casos é perceptível que não há isentabilidade de sofrimento, tanto para o indivíduo que trabalha quanto para o que não trabalha, pois o sofrimento é inevitável ao ser humano.

Pode-se concluir, com o pensamento de Mendes et al. (2007, p. 25), que “apesar de tudo, ainda há esperança, porque afinal, é de nós que depende a possibilidade de re-encantar o trabalho” e de reencontrá-lo. Dessa forma passamos a ser os atores principais de nossas vidas e de nossos destinos com vistas a realizações pessoais, sociais e profissionais, ao bem-estar físico e emocional, ou seja, tudo isso dependerá de cada sujeito, de sua individualidade, subjetividade e percepção do mundo do trabalho.

2.2.2 Prazer-sofrimento no trabalho

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foi fácil, embora esta experiência possa ser percebida como algo penoso ou como algo que edifica e faz bem ao ser humano. E o que irá determinar essa relação ora conflituosa, ora prazerosa, é a própria organização do trabalho (DEJOURS, 2007).

Para Dejours (1996), a vivência de prazer no trabalho é vista como uma vivência individual e/ou compartilhada por um grupo de trabalhadores, como o foco voltado para experiências de gratificação, as quais são provenientes da satisfação dos desejos e necessidades, da mediação bem-sucedida dos conflitos e contradições gerados em determinados contextos de produção e de trabalho.

O referido autor argumenta ainda que o prazer no trabalho é um dos caminhos para a saúde, pois possibilita ao indivíduo a criação da identidade social e pessoal, uma vez que trabalhar implica uma interação social e subjetiva do ser humano no seu contexto de trabalho. Portanto, desenvolver um trabalho com o qual o sujeito se identifica torna-se uma fonte de prazer.

Segundo Mendes et al. (2002, p. 39), “a vivência de prazer ou de sofrimento depende da mediação entre a subjetividade do trabalhador e as condições nas quais o trabalho está inserido”.

Estudos realizados desde o início da década de 1990 sobre as dimensões da organização do trabalho e suas relações com o prazer/sofrimento afirmam a importância do papel da organização do trabalho para tais vivências, bem como para as estratégias de enfrentamento do sofrimento, uma vez que se constituem como meios responsáveis para evitar o adoecimento no trabalho (MENDES, 2004).

Nessa ótica, a vivência de prazer no ambiente de trabalho é definida como sentimento de realização diante do que o trabalhador produz na organização e do sentimento de liberdade que pode ter ao interferir com suas ideias/projetos profissionais junto à organização do trabalho. A realização que proporciona ao trabalhador engajamento e bem-estar é responsável pelo desenvolvimento de sentimentos de orgulho e gratificação pela atividade desempenhada. A liberdade é vista no sentido de se estar livre para pensar e colocar em prática o uso do saber-fazer, organizar, contribuir e falar sobre o trabalho, no próprio local de produção, ou seja, “o prazer é uma vivência de realização e liberdade que envolve experiências simbólicas de reconhecimento (THAMAYO et al., 2004, p. 42).

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é que quando ele se sente livre para produzir, é naturalmente gerado em seu íntimo o sentimento de realização, pois se acha reconhecido pelo trabalho que executa. Com isso, percebe-se também um desejo maior do profissional em realizar com esmero seu ofício.

Lancman et al. (2004, p. 37) ressaltam que “o prazer no trabalho permite considerar que o trabalho não é uma desgraça socialmente determinada, mas pode, de fato, ser um edificador das identidades individuais e coletivas”.

Assim, Dejours (2007) adapta mais uma vez conceitos oriundos da psicanálise na sua luta pela valorização do trabalho no mundo da produção e junto à sociedade, no sentido de evitar sentimentos de menosprezo. Além disso, quando Dejours aponta a relação dialética entre sofrimento e prazer na construção do sujeito, encontra respaldo novamente nas ideias de Freud.

Logo, faz-se oportuno destacar também a colaboração de Freud (1996), um dos precursores da importância dada à influência positiva do trabalho na vida das pessoas, ao enfatizar que tem sido visto como uma das fontes de felicidade, fazendo o homem retroceder ao pensamento no qual o trabalho é considerado como fonte geradora de prazer, satisfação e bem-estar. O trabalho é apontado como fonte de prazer e satisfação quando escolhido livremente pelo indivíduo, de maneira que seus sonhos, desejos e projetos sejam levados em consideração. Porém o que se observa hoje em dia é que muitas pessoas não conseguem escolher o trabalho que gostariam de fazer e executam outras funções que podem deixá-las infelizes, mas em virtude do amplo desemprego, são pressionadas a manter-se na função ocupada.

Para Mendes (1996), Ferreira e Mendes (2001), Tamayo (2001), Mendes e Morrone (2002), o prazer no trabalho está relacionado à identidade social e pessoal do ser humano em sintonia com própria vida, em que o trabalho é algo que transcende o ato concreto de fazê-lo, mas que está intimamente ligado à subjetividade humana, por meio de resultados efetivos à própria realização.

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No que se refere à vivência de sofrimento no trabalho, para Dejours (2007) ela é inevitável, porque trabalhar é fazer a experiência com o real, ou seja, enfrentar o que não foi previsto. Na concepção do autor, a noção de sofrimento é central e implica um estado de luta do sujeito contra as forças que o empurram em direção à doença mental.

Dejours (1991, 1999) pontua que o sofrimento se apresenta por meio de vivências de experiências dolorosas, como angústia, medo e insegurança, procedentes de conflitos e de contradições oriundas do confronto entre desejos e necessidades do trabalhador e as características de determinado contexto de produção. Dessa forma, o sofrimento se instala quando a realidade não oferece possibilidades de gratificação dos desejos do trabalhador.

O sofrimento é visto também como uma vivência subjetiva, a qual funciona como mediadora entre a doença mental e o conforto psíquico, fazendo com que o sofrimento deixe de ser representado como algo negativo e passando a significar também criatividade. Com isso, o trabalhador encontra meios de criar formas defensivas para lidar com as opressões da organização do trabalho (DEJOURS, 1992).

Segundo Mendes et al. (2002, p. 33), “uma das formas de enfrentamento desse sofrimento é o uso de estratégias defensivas” com vistas a evitar o aspecto dolorido, sendo muitas vezes um processo inconsciente de difícil confronto entre o convívio com esse sentir para a manutenção do equilíbrio psíquico, necessitando recorrer à proteção do ego contra conflitos instaurados na base do sofrimento.

As estratégias também podem ser utilizadas pelos trabalhadores para negar ou minimizar situações que os fazem sofrer diante da percepção da realidade (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1990).

Pesquisas realizadas por Ferreira e Mendes (2003) confirmam que o sofrimento predomina quando as condições externas se impõem às possibilidades de negociações dos sujeitos diante de seus desejos, e/ou quando se esgotam as tentativas individuais e/ou coletivas de reação às adversidades do trabalho.

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pessoa por meio de forças destrutivas, esmagadoras e impiedosas), e dos relacionamentos que se estabelece com os outros.

Freud (1929) afirma que todo sofrimento nada mais é do que sensação, só existe à medida que se sente, e só se sente em consequência de certos mecanismos pelos quais o organismo humano está regulado. Portanto, pode-se dizer que tal sofrimento desencadeado no ser humano por meio de sua maneira de pensar a vida está intimamente ligado a sua percepção subjetiva da realidade.

Aguiar et al. (2008, p.2) enfatizam que o sujeito não produz uma doença psíquica “de forma individual, desvinculada das condições de seu trabalho e das relações interpessoais com o outro”. Consideram o sofrimento como “entrelaçamento entres as condições subjetivas e as condições objetivas histórico-culturais”. Assim, o ambiente de trabalho deve ser favorável ao equilíbrio mental, à saúde corporal e ao bem-estar das relações socioprofissionais, proporcionando-lhe uma boa adequação entre a organização do trabalho e o trabalhador, assegurando-lhe sua estrutura mental, física e social. As exigências intelectuais, motoras e psíquico-sensoriais devem estar de acordo com as necessidades do trabalhador para que haja prazer e, em raras vezes, a satisfação sublimatória.

A satisfação sublimatória só é encontrada em situações privilegiadas, em que o trabalhador pode modificar a organização de seu trabalho de acordo com seus desejos e necessidades (DEJOURS, 1992). Para que isso possa acontecer, há necessidade de buscar espaços de dialética dentro das organizações de trabalho para que, individual e coletivamente, o trabalhador consiga transformar esse ambiente em um espaço de construção e reflexão.

Portanto, o que se pontua diante do contexto ora apresentado é que o trabalho pode ser tanto fonte de prazer como de desprazer, o que dependerá da relação equalizada junto à organização do trabalho pelo trabalhador. O trabalho pode ser um prazer quando tiver o envolvimento do indivíduo de caráter subjetivo, e poderá ser um desprazer quando ocorrer com rigidez em decorrências de forças externas e exigir um gasto de energia além do que o indivíduo possa e/ ou seja capaz de produzir (MENDES et al., 2002).

2.2.3 Estratégias de enfrentamento do sofrimento

(29)

o trabalhador utiliza para dar continuidade à sua ação produtiva junto à organização do trabalho, diante de suas pressões, normas e regimentos.

As estratégias defensivas são definidas como mecanismos utilizados pelos trabalhadores para negar ou amenizar a percepção da realidade que faz sofrer, dependem de condições externas e se sustentam no consenso de um coletivo específico de trabalho (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1990).

Assim, as estratégias de defesa são consideradas como estratégias de ação coletivas, que em geral acontecem quando o grupo compartilha coletivamente o sofrimento, além de buscar meios para resolução de situações geradoras de conflitos (DEJOURS, 1993/2004).

Segundo Dejours (2004c), as defesas podem ser de proteção, adaptação e exploração e se caracterizam por comportamentos diferenciados, tais como isolamento psicoafetivo e profissional do grupo de trabalho, ressignação, descrença, renúncia à participação, indiferença e apatia.

As estratégias defensivas podem ser individuais ou coletivas. As estratégias coletivas dependem das condições externas e marcam sua existência mediante o consenso de um grupo de trabalhadores, envolvendo as relações intersubjetivas no coletivo de trabalho, contribuindo para a coesão e fortalecimento do coletivo junto ao enfrentamento do sofrimento oriundo da organização do trabalho. As estratégias utilizadas pelo coletivo possibilitam a estabilização psíquica do trabalhador, além de contribuir para a construção do sentido do sofrimento no trabalho (ROSSI, 2008; DEJOURS, 2006, 2004c, 2003, 1999, 1992).

Quanto às estratégias individuais, elas se processam ante a organização do trabalho para garantir a resistência psíquica diante das pressões em organizações rígidas e controladoras (ROSSI, 2008; DEJOURS, 1992).

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Porém, os trabalhadores têm em mãos a definição/elaboração de estratégias como mecanismos pelos quais buscam modificar, transformar e minimizar a percepção da realidade no ambiente de trabalho que os leva ao sofrimento.

Jayet (1994), em sua pesquisa, classifica os seguintes pontos como indicadores de utilização de estratégias defensivas na situação de trabalho: desmotivação e desencorajamento; condutas de evitação, como por exemplo, o absenteísmo; comportamentos agressivos de violência; diluição das responsabilidades; presença excessiva no local de trabalho fora do horário preestabelecido; individualismo para realização das tarefas de forma autônoma, seguido de rompantes de agressividade, pela dispersão das normas de convivência e pela competição excessiva.

Nos estudos de Mendes (1994, 1996), alguns itens apontados por Jayet são verificados também em suas pesquisas, identificados como comportamentos defensivos, quais sejam: a racionalização, o individualismo e a passividade. Segundo a autora, cada categoria profissional pode estabelecer as próprias defesas, uma vez que não há um padrão típico de comportamentos defensivos.

Portanto, ao lançar mão de defesas, o trabalhador pode neutralizar o sofrimento e consequentemente passar por um processo de alienação e congelamento, podendo dificultar processos de mudanças nas situações de trabalho (DEJOURS, 1993/2004).

O sofrimento vivenciado e não reconhecido é mais prejudicial ao sujeito, podendo perturbar sua visibilidade por meio de estratégias de enfrentamento criadas pelo próprio indivíduo, tornando mais difíceis a percepção e a solução desse conflito (MENDES et al. 2002).

Nesse contexto, a utilização de estratégias defensivas pode ter uma ação positiva, quando ajuda a manter o equilíbrio psíquico. E pode inferir negativamente na vida do indivíduo ao mascarar o sofrimento psíquico, quando provoca estabilidade psíquica artificial, causando uma dimensão patológica que interfere tanto no atendimento aos objetivos do trabalho quanto na vida social dos profissionais.

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comportamento de modificação no trabalho denominado patologias sociais (MENDES, 2007b).

Mendes e Linhares (1999) ressaltam que as estratégias de defesa têm o papel imprescindível na adaptação e proteção do trabalhador diante das pressões diárias apresentadas pela organização do trabalho, bem como o favorecimento de alívio do sofrimento e o equilíbrio psíquico, podendo ter também efeitos patológicos passíveis de interferência na qualidade da função desempenhada ou na vida fora do ambiente de trabalho do indivíduo.

Martins (2007) e Rossi (2008) afirmam que as estratégias de mediação defensivas são o único meio pelo qual o sofrimento pode ser captado, pois são elas as responsáveis pela adaptação e ajustamento do trabalhador na organização do trabalho.

Segundo Rossi (2008, p. 177), as estratégias de defesa estão voltadas para os mecanismos que o indivíduo utiliza para mediar a continuidade do trabalho submetido a pressões, “elas têm o papel importante na mediação da saúde dos trabalhadores”.

Para que o trabalhador encontre esse mecanismo captador do sofrimento, ele pode lançar mão da mobilização subjetiva, com vistas à possibilidade de transformação do sofrimento por meio da dimensão simbólica que o leva ao resgate do sentido do trabalho, transformando-o em vivências de prazer (DEJOURS, 2008a).

Nessa ótica, os autores Dejours, Abdoucheli e Jayete (1994) explicitam que a mobilização subjetiva caracteriza-se pela utilização dos recursos psicológicos do trabalhador, bem como pelo espaço público de discussões sobre o trabalho com vistas à ressignificação de seus pensamentos em relação a sua atividade e a fatores que favorecem o sofrimento no seu ambiente de trabalho. Assim, a mobilização subjetiva é considerada como um processo que visa ao prazer, já que o trabalhador busca a transformação de situações geradoras de sofrimento em situações de prazer.

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transformações aconteçam pela existência de espaços públicos, nos quais as opiniões podem ser formuladas e declaradas junto ao coletivo de trabalho por meio da fala.

Assim, a mobilização subjetiva é considerada um processo caracterizado pelo uso dos recursos psicológicos do trabalhador e pelo espaço público de discussões sobre o trabalho. Para Dejours (1994, 1999a, 1999b, 2000), a utilização desses recursos depende da dinâmica contribuição-retribuição simbólica que pressupõe o reconhecimento da competência do trabalhador pelos seus pares e pela hierarquia.

Para Morrone (2001, p. 22), “o mecanismo de mobilização subjetiva compreende a mobilização dos impulsos e coletivos da inteligência do trabalhador, da sua subjetividade no trabalho”, com vistas ao seu reconhecimento profissional pela organização do trabalho, no sentido de evitar o sofrimento mediante uma operação simbólica, levando-o ao resgate do sentido do trabalho em vivências de prazer.

A sustentação do processo de mobilização subjetiva se dá a partir da dinâmica entre a contribuição do sujeito ofertada à organização do trabalho e a retribuição por ele recebia, pela instituição. Portanto, o incentivo maior para que aconteça a mobilização subjetiva não está atrelada à dimensão material, mas à dimensão simbólica, que resgata o sentido do trabalho por meio do coletivo de trabalho (DEJOURS, 2008a).

O sentido do trabalho em vivências de prazer por meioda mobilização subjetiva depende do coletivo de trabalho, construído com base em regras que não são apenas técnicas, o que é denominado coletivo de regras. Tais normas organizam as relações entre as pessoas e têm uma dimensão ética/moral, voltada para a noção do que é justo ou injusto, não instituindo padrões ou esquemas de regulação. Esse coletivo é a reafirmação da própria identidade do trabalhador, a qual nos distingue dos outros, ou seja, é a singularidade pessoal na relação com a tarefa, reconhecida pelo outro (MENDES et al., 2003).

Para Dejours (1994), há dois elementos presentes na mobilização subjetiva: a inteligência astuciosa e a cooperação como condições para o coletivo de trabalho. A inteligência ajuda o trabalhador a resistir ao que é prescrito. Assim, o processo de mobilização subjetiva não é prescrito, é vivenciado de forma particular segundo cada trabalhador, o qual adquire uma invenção própria, usa sua capacidade de imaginação e desenvolve um saber fazer particular diante desse contexto de trabalho.

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Para que as condições do coletivo de trabalho aconteçam, é necessária a existência do espaço público da fala pelo coletivo, em que a ética e a comunicação prevaleçam como lugar de discussão das competências, por meio da cooperação. E para que esse coletivo ocorra, é preciso que exista a cooperação, entendida por Dejours (2004c, p. 67) como “a vontade das pessoas de trabalharem juntas e de superarem coletivamente as contradições que surgem da própria natureza ou da essência da organização do trabalho”.

Mendes e Morrone (2002) esclarecem que o coletivo de trabalho é criado em uma situação, não é dado pela empresa. É oportuno destacar também que esse espaço decorre de uma conquista dos trabalhadores e passa pela formulação de uma consciência de classe, mas também pode ser facilitado pela empresa.

Dejours (2007) afirma que o movimento de origem da inteligência prática (artimanhas, maracutaias, segredos) desencadeia-se a partir da vivência de fracasso, tornando-se essencial na proteção da subjetividade do trabalhador com vistas a ajudá-lo nas superações do trabalho. A inteligência adquirida pelo corpo com a prática do trabalho contribui ainda mais para o distanciamento do trabalhador com relação aos procedimentos prescritos pela organização do trabalho. Nesse caso, a utilização da inteligência prática pelo trabalhador pode também surgir como meio para a sua condenação, já que implica infração de normas, apesar de surgir como movimento de emancipação do trabalhador em prol de seu reconhecimento.

Cabe destacar que esse processo de infração está aliado intimamente à rigidez de controle organizacional, bem como ao oferecimento ou não de liberdade para o desenvolvimento da mobilização subjetiva plena, que proporciona mecanismos de união, cooperação de forma compartilhada na sua interpretação e realização profissional (DEJOURS, 2007).

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Dejours; Abdoucheli; Jayet, (2004) pontuam que a defasagem entre a organização prescrita e a organização real do trabalho constitui o desafio no qual a inteligência astuciosa é o meio para a criação de soluções capitalizadas pelo grupo. Para que a inteligência prática ou astuciosa possa ser estabilizada e consequentemente retomada pelo coletivo como meio de transmissão de ofício, há necessidade de que o coletivo de trabalho e a chefia hierárquica percebam a defasagem entre a organização prescrita e real, além de fazer o reconhecimento e a valorização do trabalhador no desempenho de sua função e o reconhecimento do sucesso da inteligência astuciosa pelo coletivo de trabalhadores.

Portanto, “a mobilização do sujeito para trabalhar, além de colocar em questão a estrutura de sua personalidade, sua própria identidade, teria uma ação transformadora sobre esse sujeito”. (LANCMAN et al., 2004, p.37).

Como um ser social, a relação dialética entre o sujeito e o confronto com a realidade do trabalho lhe permite transformar esse processo em sua própria realização, diante da organização do trabalho. Portanto, o trabalho sendo o meio para a produção dos sentidos junto à sociedade é também via de produção de subjetividade, embora ambos sejam dependentes de acordos éticos para a concessão de espaços de confiança aos desejos dos sujeitos envolvidos na organização.

Diante das reflexões teóricas aqui apresentadas, é possível concluir que o sofrimento pode ser enfrentado por estratégias defensivas ou de mobilização coletiva. Esses mecanismos de enfrentamento são essenciais para a busca da saúde psíquica dos trabalhadores, principalmente no que tange ao uso de estratégias de mobilização coletiva, as quais incluem os meios que permitem a construção de novas formas de gestão do contexto de trabalho, constituído pela organização e pelas condições e relações de trabalho com vistas a amenizar as vivências de sofrimento, transformando-as em vivências de prazer. Desse modo, o trabalhador se sentirá melhor, mais seguro ao desenvolver sua função, sentindo-se importante e valorizado pelo reconhecimento advindo da organização do trabalho.

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É perceptível a existência de viabilização da saúde a partir do momento em que os trabalhadores conseguem utilizar as estratégias de mediação individual e coletiva para resolver as diversidades surgidas em seu contexto do trabalho, por meio de uma vontade coletiva de superar contradições advindas da própria natureza ou da essência da organização do trabalho.

Na visão de Ferreira e Mendes (2003), à luz da psicodinâmica do trabalho a saúde é compreendida como um processo de permanente busca dos trabalhadores pela sua integridade psíquica, física e social no ambiente de trabalho, tornando imprescindível para o estudo da saúde no trabalho a análise detalhada dos pontos positivos e negativos presentes no contexto do ambiente de trabalho, com vistas a evitar o adoecimento e promover a saúde do trabalhador.

2.2.4 Pesquisas em Psicodinâmica

A seguir serão apresentados estudos e pesquisas empíricos voltados para a abordagem da psicodinâmica do trabalho, os quais envolvem uma diversidade de categorias profissionais, inclusive a de professor.

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antecipação à reformulação ou imprecisão das solicitações dos clientes. As características da atividade a tornam desgastante, cansativa e fonte de fadiga. O alto índice de rotatividade é resultado do esgotamento de todas as tentativas de adaptação e clara estratégia de autopreservação.

Moraes (2005) desenvolveu estudo sobre prazer e sofrimento no trabalho docente com professores de ensino fundamental em processo de formação superior. Tal estudo teve como objetivo identificar as principais fontes de prazer e sofrimento psíquico dessa categoria, com a finalidade de indicar medidas de proteção e promoção de saúde. Participaram do estudo 33 sujeitos por meio de entrevistas individuais semiestruturadas na perspectiva metodológica da psicodinâmica do trabalho. Dentre as principais fontes de sofrimento apareceram as dificuldades encontradas para alcançar o objetivo de educar, passando pelo vínculo afetivo estabelecido com os alunos e as dificuldades estruturais desse vínculo, além da condição socioeconômica da maioria dos alunos: ter de lidar com a discrepância entre o prescrito e o real da complexidade que escapa aos referenciais idealizados por uma formação “clássica” para educar; falta de tempo para organizar as aulas, decorrente da sobrecarga de atividades; violência e agressividade por parte dos alunos; dificuldades de atender à demanda da própria família.

Vivencia-se prazer quando se atribui sentido ao sofrimento decorrente de desgaste e investimento de tempo dedicado ao curso de pedagogia; outro modo de vivenciar prazer é pela autovalorização, como recurso ante o não reconhecimento social do valor do trabalho. A estratégia utilizada apresenta-se contraditória, à medida que favorece a adaptação do sujeito à condição de desvalorização social e não passa por uma luta coletiva para reconhecimento e valor social da profissão.

Freitas (2006), em pesquisa realizada em uma instituição particular de ensino superior do Distrito Federal, propôs-se investigar o processo de saúde e adoecimento dos professores de ensino superior que atuam em ambiente virtual com base na relação entre contexto de trabalho, prazer-sofrimento e as estratégias de mediação individual e coletiva. A matriz teórica fundamentou-se na psicodinâmica do trabalho. Utilizou-se o método qualitativo. Participaram das entrevistas individuais semiestruturadas dez professores, que o fizeram em adesão espontânea.

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profissional, ingerências políticas, falta de diálogo e de construção coletiva, pouca perspectiva de crescimento profissional, o individualismo dos colegas, os conflitos surgidos entre a equipe gestora e docentes, entre outros.

Os resultados apontam para a combinação das vivências de prazer e sofrimento no trabalho. O prazer se manifesta na realização profissional e na liberdade de expressão. O sofrimento advém do estresse e do desgaste produzidos pelo trabalho em ambiente virtual.

Identifica-se a presença de estratégias operatórias e defensivas. As estratégias operatórias utilizadas pelos docentes objetivam dar conta do trabalho por demanda e das dificuldades com a plataforma tecnológica. As estratégias defensivas construídas pelos professores são de controle, racionalização e compensação. O controle é observado pela autoexigência para dar conta das características da organização do trabalho no ambiente virtual. A racionalização surge quando recorrem a justificativas para explicar situações desagradáveis no trabalho que realizam. As estratégias de compensação se manisfestam quando os docentes buscam realizar atividades físicas para minimizar o custo físico e pela relação satisfatória com os colegas.

De acordo com os resultados, pode-se deduzir que o contexto de trabalho estudado apresenta indicadores de saúde e de adoecimento. Os indicadores de saúde surgem dos elementos flexíveis da organização do trabalho, como autonomia para organização do horário de trabalho e das tarefas; da satisfação por trabalhar em uma área nova; da liberdade para expressar as características individuais; da cooperação e coleguismo entre os pares. Os indicadores de adoecimento aparecem pela rigidez no planejamento das aulas, pela extensa comunicação escrita, pela autoexigência de se fazer presente junto aos alunos e pelo atendimento individualizado.

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Os participantes obervam problemas na estrutura do prédio e o medo de acidentes em decorrência dessa situação. Houve queixas da carga de tarefas, que às vezes têm de ser levadas para terminar em casa. Observaram que a falta de um protocolo atrapalha os objetivos da equipe, ressaltando o individualismo no trabalho. A terapia comunitária é percebida como prazerosa. A experiência no CAPS os fez adquirir hábitos mais saudáveis de vida, como a prática de esportes e diminuir o impacto da solidão vivenciada por alguns. Conseguem atender e reorientar as demandas dentro da rede de serviços da saúde.

Quanto à relação entre características da organização do trabalho, vivências de sofrimento e estratégias de mediação do sofrimento, conclui-se que as vivências de prazer-sofrimento no trabalho se equilibram. As estratégias de defesa coletiva parecem não esgotadas; identificaram-se intenções de ressignificação dos problemas socioprofissionais; existem atitudes cooperativas e dinâmicas de reconhecimento por meio dos julgamentos de utilidade vindos de fora do CAPS. Futuros estudos devem ser feitos para confirmar esses achados.

Facas (2009), em estudo realizado com pilotos de trem do metrô do Distrito Federal, teve o objetivo de verificar quais estratégias lançam mão para mediar o sofrimento no trabalho automatizado. Para tal estudo, busca descrever a organização do trabalho a que os pilotos estão submetidos, investigar suas vivências de prazer-sofrimento e descrever os mecanismos de mediação do sofrimento no trabalho utilizados por eles. Tem como aporte teórico a psicodinâmica do trabalho. O prazer-sofrimento é visto como constructo dialético, sendo definido como vivências de angústia, medo, insegurança, reconhecimento e liberdade de expressão. As estratégias de mediação visam responder às contradições da organização do trabalho, evitando ou transformando as situações geradoras de sofrimento.

Referências

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