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A PESSOA JURÍDICA E O DANO MORAL

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A PESSOA JURÍDICA E O DANO MORAL

THE LEGAL ENTITY AND THE MORAL DEMAGE

Edna Maria COAN1 Juliana BORYÇA2 Como citar este Artigo Científico:

COAN, Edna Maria; BORYÇA, Juliana. A pessoa jurídica e o dano moral. In: Revista Aporia Jurídica (on-line). Revista Jurídica do Curso de Direito da Faculdade CESCAGE. 8ª Edição. Vol. 1 (jul/dez-2017). p.170 - 186.

Sumário: 1 – Introdução; 2 – A Pessoa Jurídica: Histórico e Conceito; 3 – O Dano Moral: Pessoa Natural e Pessoa Jurídica; 4 – O Ordenamento Jurídico: Jurisprudência e Doutrina; 5 – A Moral e a Pessoa Jurídica. 6 – Considerações Finais; Referências.

Resumo: Este artigo tem por objetivo analisar a aplicabilidade do dano moral à Pessoa Jurídica como um instituto jurídico do Direito Fundamental presente na Constituição Federal. A acelerada evolução social Brasileira tem exigido adaptações do direito em vários temas, uma destas adaptações é a aplicação do instituto jurídico do dano moral à pessoa jurídica. A reparação ao dano moral é um direito fundamental protegido constitucionalmente, pois todos têm o direito de preservar sua reputação perante a sociedade. Ante o contraste da aplicação de um direito fundamental do indivíduo à pessoa jurídica, considera-se importante o presente artigo para os estudiosos do direito, uma vez que tem por objetivo analisar o tema do ponto de vista jurídico conjugado com outras ciências, possibilitando uma visão mais ampla da questão.

Palavras-chave: Direitos Fundamentais. Dano Moral. Dano Moral da Pessoa Jurídica.

Abstract: The main purpose of this text is to analyze the applicability of moral damage to legal entities, as a legal driver of the Fundamental Rights present in the Federal Constitution.

Accelerated Brazilian social evolution has required law adjustments in many subjects, one of these adaptations is the applicability of the legal institute of moral damage to companies. The moral damage indemnity is a fundamental right protected constitutionally, since everyone has the right to preserve their reputation in society. Considering the contrast of the applicability of a human fundamental right to a legal entity, the presented study it is important to law students, since its main objective is to analyze the issue from a legal perspective in conjunction with other sciences, making possible a broader view of the issue.

Key-words: Fundamental Rights. Moral Damage. Moral Damage of Legal Entities.

1 Introdução

1 MBA em Direito Empresarial pela FGV. MBA em Controladoria e Contabilidade Internacional pela ESAB. MBA em Gestão Estratégica pela UFPR. Pós Graduação em Finanças pela FAE. Bacharel em Ciências Contábeis pela FAE. Aluna no curso de Bacharelado em Direito pelo CESCAGE. Membro IBRACON. Controller

2 Aluna no curso de Bacharelado em Direito pelo CESCAGE. Estudante

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171 No Direito Constitucional Contemporâneo pode a Pessoa Jurídica sofrer dano moral, todavia talvez não nos mesmos moldes daqueles adotados para a Pessoa Natural. A acelerada evolução social Brasileira tem exigido adaptações do direito em vários temas, entre elas temos a aplicação do instituto jurídico do dano moral à pessoa jurídica. A reparação ao dano moral é um direito fundamental protegido constitucionalmente, pois todos têm o direito de preservar sua reputação perante a sociedade. Este instituto tem por objetivo compensar financeiramente uma ofensa, calúnia ou dor moral sofrida pelo indivíduo.

A jurisprudência do STJ aborda o tema em sua súmula 227 de 1999, deixando claro que “a pessoa jurídica pode sofrer dano moral”. O vigente código civil de 2002 trata especificamente do assunto em seu Art. 52, onde esclarece que “aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.”. Em 2006 com o advento da IV Jornada do Direito Civil, surge o enunciado 286, que ao analisar o artigo 52 do código civil, esclarece que “os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais a pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos”.

Ante o contraste da aplicação de um direito fundamental do indivíduo à pessoa jurídica, considera-se importante o presente artigo, uma vez que tem por objetivo analisar o tema do ponto de vista jurídico conjugado com outras ciências, possibilitando uma visão mais ampla da questão. Analisando a controversa opinião dos doutrinadores e a evolução social contemporânea, têm-se novos conceitos passíveis de aplicabilidade ao dano moral da pessoa jurídica, como a classificação de dano institucional, que configura uma maneira diferenciada de abordar o tema, acompanhando a evolução social e harmonizando os direitos de todas as pessoas, sejam elas pessoas jurídicas ou naturais.

2 A PESSOA JURÍDICA: HISTÓRICO E CONCEITO

A necessidade de viver em uma sociedade organizada é uma das características marcantes do homem. Em sua evolução, constatou-se um maior benefício de conviver em grupo do que enfrentar as adversidades sozinho, e esta cooperação mútua gerou vantagens que só poderiam ser alcançadas vivendo-se em sociedade. Criou-se um sistema com regras e meios próprios para garantir a convivência pacífica e harmônica de todos os cidadãos, visando em suma alcançar uma evolução constante. É deste conceito a origem do Estado, um terceiro

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172 que regularia as regras e garantias aos quais faria jus determinada sociedade, com um fim puramente regulador e representativo.

Porém não obstante do meio jurídico, seguindo a mesma lógica previamente esclarecida, mesmo em uma sociedade há grupos menores formados, buscando fins que só poderiam ser alcançados com a cooperação mútua. O Direito atribuiu a estas coletividades personalidade, tornando-os capazes de contrair direitos e obrigações. Esta seria a origem do instituto da pessoa jurídica, que não se confundiria com a pessoa natural de seus associados, mas unicamente seria a representação desta associação ao qual teria um objetivo central em comum, formando assim uma única figura ao ser analisada pelo direito.

A pessoa jurídica é a associação de dois ou mais indivíduos visando um objetivo em comum. Maria Helena Diniz (2012 p. 264) conceitua a pessoa jurídica como o conjunto de pessoas naturais, ou mesmo patrimônios, reconhecido pelo ordenamento jurídico com um fim em comum. Assim, estes agrupamentos de indivíduos têm a mesma finalidade, vistos pelo ordenamento como sujeitos de direitos e obrigações, havendo ainda três requisitos para o seu reconhecimento: a organização entre os indivíduos ou mesmo bens, a licitude de seus intentos e por fim sua capacidade jurídica reconhecida no ordenamento vigente.

Ainda seguindo o conceito da doutrina, Miguel Reale (2001, p. 220) esclarece:

A pessoa jurídica é uma existência, mas uma existência teleológica, ou seja, finalística. Uma sociedade comercial existe porque nela se reúnem duas ou mais pessoas dirigidas pela ideia de fundar uma empresa. O elemento nuclear da instituição é a ideia que congrega e inspira aqueles que se dedicam à mesma tarefa, conjugando esforços diversos visando a um fim determinado.

Neste raciocínio surge a pessoa jurídica como meio principal para se alcançar um determinado objetivo, e é este o fim que une os homens em núcleos. A personalidade conferida pelo Direito à estas coletividades garante não apenas obrigações à pessoa jurídica, mas também direitos correlatos a este tipo de pessoa. Em uma visão mais objetiva, a pessoa jurídica teria até mesmo direitos fundamentais, como a integridade moral. No direito brasileiro a pessoa jurídica tem como princípios constitucionais fundantes o da livre iniciativa, artigo 1º inciso IV, da atividade econômica, artigo 170, bem como da ordem social, artigo 193.

3 O DANO MORAL: PESSOA NATURAL E PESSOA JURÍDICA

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173 O ordenamento jurídico tem por função assegurar uma série de direitos, e em especial aqueles chamados de fundamentais. Com toda certeza àquele de maior importância é o direito à vida, do qual decorrem todos os demais direitos fundamentais, porém com respeito à vida não se deve basear-se apenas à integridade física do indivíduo O homem é um ser complexo e muitas vezes a própria psique também está exposta a prováveis injustas agressões, restando apenas o Direito protegê-lo de prováveis ataques. A honra é um bem jurídico tutelado pelo Estado, é a imagem do indivíduo no meio social em que se encontra. É dela que provém a visão moral do ser humano perante seus semelhantes.

Ao tratar do conceito de dano moral necessita-se em primeiro plano separá-lo e entende-lo por partes. O conceito de dano pode ser entendido, nas palavras de Pablo Stolze Gagliano (2012, p. 88): “lesão à um interesse jurídico tutelado – patrimonial ou não -, causado por ação ou omissão do sujeito infrator”. Ele também especifica “que o prejuízo indenizável poderá decorrer [...] também da vulneração de direitos inatos à condição de homem, sem expressão pecuniária essencial” (2012, p. 89).

Assim, segundo ele, o dano moral não está necessariamente ligado a um detrimento do patrimônio, mas sim a um ato lesivo ao direito fundamental da pessoa; são atos que ferem bens tutelados juridicamente, tais como: a intimidade, a integridade, a imagem, a honra, a identidade. É o dano causado por outrem que fere a personalidade do indivíduo, aquilo que está ligado ao seu íntimo, à sua dignidade como ser humano.

Assim expõe Inocêncio Galvão Telles:

Dano moral se trata de prejuízos que não atingem em si o patrimônio, não o fazendo diminuir nem frustrando o seu acréscimo. O patrimônio não é afetado: nem passa a valer menos nem deixa de valer mais. Há a ofensa de bens de caráter imaterial - desprovidos de conteúdo econômico, insusceptíveis verdadeiramente de avaliação em dinheiro. São bens como a integridade física, a saúde, a correção estética, a liberdade, a reputação. A ofensa objetiva desses bens tem, em regra, um reflexo subjectivo na vítima, traduzido na dor ou sofrimento, de natureza física ou de natureza moral. Violam-se direitos ou interesses materiais, como se pratica uma lesão corporal ou um atentado à honra: em primeira linha causam-se danos não patrimoniais, v.g., os ferimentos ou a diminuição da reputação, mas em segunda linha podem também causar-se danos patrimoniais, v.g., as despesas de tratamento ou a perda de emprego. (TELLES apud GABRIEL).

Conforme esclarece Fábio Ulhoa Coelho “a existência de dano é condição essencial para a responsabilidade civil, subjetiva ou objetiva”, uma vez que meros desconfortos não se enquadram na definição de dano, muitas vezes conceituado como “mero aborrecimento” por parte dos juristas. Segundo este mesmo autor, o dano moral tem por características comprometer a integridade moral da pessoa e relacionar-se à dor por ela experimentada. Pode o dano moral ser ainda classificado como: a) direto ou indireto, que leva

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174 em conta a relação do ato e os danos causados; b) Individual ou coletivo, que leva em conta o número de pessoas lesadas; c) Intencional ou acidental, que leva em conta os critérios de dolo ou culpa do agente, podendo a culpa ser por negligência, imperícia ou imprudência.

(COELHO 2012, p. 394, 402).

Como o fator moral decorre do direito à vida, é expresso a sua proteção como um direito fundamental, garantindo-se às pessoas meios de protege-lo. A constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º, V promulga esta garantia: “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem.” Assim se qualifica o dano moral, um meio de garantir e respeitar a honra e a moral dos indivíduos, este é o aspecto que ultrapassa a visão material do direito à vida, avançando para aquilo que não é palpável à visão do homem.

Quando se faz referência ao dano moral à pessoa natural deve-se entender que se trata de um fator relativo e subjetivo. Existe muita dificuldade no Direito de estabelecer o valor do dano moral, uma vez que este está intimamente ligado à honra do indivíduo, sua autoestima.

Qualquer ação que venha a ferir a sua moral, ou seja, sua imagem perante o meio social em que se encontra, pode-se caracterizar como dano moral, mas o que fere em demasiado um pode não possuir a mesma importância a outro.

Segundo José Adércio Leite Sampaio (CANOTILHO, p. 284):

Conceitua-se direito à honra aquele que tem toda pessoa a ser respeitada perante si mesma e perante os outros. A honra apresenta, portanto, dupla face: a subjetiva – o apreço que o ser humano possui por si mesmo; e a objetiva – materializada no interesse de toda pessoa pelo prestígio, reputação e bom nome. Toda nova informação sobre a pessoa importa uma alteração do seu espaço de intimidade.

Prima facie, assim, as atividades que levassem a modificação do conceito social de alguém estariam violando sua intimidade, porquanto não consentida. Mas há algo mais, como a intenção dirigida depreciativa, que pode ser inexata, confundindo-se assim com a identidade, ou ainda podendo ser verossímeis, tratando de temas privados, confundindo-se com a intimidade; ou ainda podendo se referir a atividades públicas.

É neste sentido que o Direito não deve se ater apenas ao que está na letra fria da lei, mas ir além, para aquilo que se encontra no caso concreto, uma visão subjetiva dos fatos analisando todas as figuras presentes, desde a suposta vítima, o autor do dano bem como ocorreu a situação que desencadeou o suposto dano. Neste sentido, pode-se dizer que o dano moral está intrinsicamente ligado a ilicitude do ato, decorrendo assim da gravidade do ato ilícito em si, dispensando por tanto sua demonstração, configurando, portanto, um dano moral existente “in reipsa”.

Ainda expõe Fábio Ulhoa Coelho (2012, p. 565) “A indenização por danos morais é uma compensação pecuniária por sofrimentos de grande intensidade, pela

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175 tormentosa dor experimentada pela vítima em alguns eventos danosos. ” Trata-se então de uma compensação que vai muito além de pequenos infortúnios do dia-a-dia, mas sim acontecimentos que não poderão ser ignorados tão facilmente, trazendo dor e sofrimento à vítima, e assim, por se tratar de algo tão íntimo e pessoal, têm-se esta característica subjetiva do dano moral à pessoa natural.

Pablo StolzeGagliano (2012, p. 95) comenta que:

Trata-se, em outras palavras, do prejuízo ou lesão de direitos, cujo conteúdo não é pecuniário, nem comercialmente redutível a dinheiro, como é o caso dos direitos da personalidade, a saber, o direito à vida, à integridade física (direito ao corpo, vivo ou morto, e à voz), à integridade psíquica (liberdade, pensamento, criações intelectuais, privacidade e segredo) e à integridade moral (honra, imagem e identidade).

No código civil nota-se a importância dada ao dano moral, como assim dispõe-s em seu artigo 186 “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

Quando a honra de uma pessoa é ferida, isto é, tem a sua moral manchada perante o meio social em que se encontra, esta pode recorrer ao seu direito de ação em busca de uma reparação. É mister ressaltar que a busca por um ressarcimento financeira não tem por objetivo a extinção dos prejuízos causados, isto seria impossível haja vista a natureza dos fatos. A busca na justiça por uma reparação financeira está ligada no sentido de compensar os danos sofridos, “na reparação do dano moral, o dinheiro não desempenha função de equivalência, como no dano material, mas, sim, função satisfatória” (GAGLIANO 2012, p.

135). É desta perspectiva que se deve apreciar o dano moral, onde o patrimônio afetado trata- se de um objeto imaterial e subjetivo, cuja única função é reparar o dano e não fazer com que a situação atual retorne ao seu inicio, dada a natureza do dano moral, função unicamente indenizatória e de certa forma também punitiva a parte que causou o ato lesivo.

Ao se tratar de pessoa jurídica, o dano moral por muito tempo gerou intensa discussão, uma vez que a pessoa jurídica é incapaz de sentir dor na forma da pessoa física frente a qualquer adversidade, por se tratar de apenas uma figura representativa. Devido a estas divergências, o dano moral à pessoa jurídica é dotado de duas correntes, uma negativista, a qual não aceita a existência do dano moral à estas entidades e aquela que admite a existência deste dano.

No artigo 5º, V da Constituição brasileira de 1988 percebe-se claramente que não há nenhuma restrição à pessoa jurídica ao afirmar que “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além de indenização por dano material, moral ou à imagem”. Ainda em seu artigo 5º X esclarece “são invioláveis a intimidade, a honra e a imagem das pessoas,

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176 assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. É certo que a pessoa jurídica não possui intimidade, mas a sua imagem e honra estão asseguradas pelo direito, uma vez que a legislação se refere a pessoas, não especificando tratar-se de natural ou jurídica.

Conforme ABC, toda nova informação sobre a pessoa importa uma alteração do seu espaço de intimidade. Prima facie, assim, as atividades que levassem a modificações do conceito social de alguém estariam violando sua intimidade, porquanto não consentida. Mas há algo mais, tal a intenção dirigida à sua depreciação, que pode ser inexata, confundindo-se com a identidade; pode ainda dizer respeito a aspectos particulares, confundindo-se com as águas da intimidade; ou ainda, pode referir-se a atividades públicas, distanciando-se dos aspectos aqui citados.

A justificativa é clara quanto à evolução nos dias atuais, uma falsa acusação pode causar sérios prejuízos financeiros a determinada empresa e em casos extremos a própria falência. A pessoa jurídica de forma similar também pode desta forma ter sua moral atacada, porém em um sentido muito mais patrimonial e objetivo do que quando o mesmo incorre à uma pessoa natural.

A proteção ao homem desta forma se estende a figura da pessoa jurídica, sendo que esta também tem uma imagem a zelar no mercado e qualquer ato que lhe cause dano ensejaria um prejuízo, sendo injusto o direito lhe virar as costas e não amparar seus direitos igualmente resguardados na Constituição.

O que se protege então seria a honra e a imagem da pessoa jurídica em seu aspecto objetivo, como ela é vista pela sociedade, o dano moral incorreria justamente para indenizar ato lesivo ao qual não se sabe a proporção que se pode tomar, haja vista que não se pode quantificar o tamanho da perda sofrida pela pessoa jurídica ao ter sua moral diretamente atacada. A corrente majoritária da doutrina segue este raciocínio, sendo também independente a existência de dano diretamente patrimonial ou não.

4 O ORDENAMENTO JURÍDICO: JURISPRUDÊNCIA E DOUTRINA

Quanto ao entendimento da jurisprudência, é cabível o dano moral à pessoa jurídica em relação a sua objetividade, tendo direito a indenização pelos danos sofridos por outrem quanto aos prejuízos à sua credibilidade perante a sociedade. Sendo assim, casos de perdas meramente patrimoniais não são aceitos, uma vez que a honra e a imagem da empresa devem

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177 ser a lesada, pondo em riso sua confiabilidade no mercado, pra que se configure a possibilidade de recorrer ao judiciário a possibilidade de dano moral. Assim como especificado pelo entendimento do TJDFT. O STJ ainda esclarece em súmula que “a pessoa jurídica pode sofrer dano moral” (Súmula 227 STJ). Também o Código Civil vigente corrobora com o entendimento do STJ, pois cita em seu artigo 52 que “aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade”.

Em ementa do TJ, observa-se no caso concreto a consolidação do uso do dano moral para com a pessoa jurídica utilizando-se justamente dos conceitos de “honra objetiva” e

“capacidade”, fatos que geram a pretensão ao dano moral:

TJ-DF - Apelação Cível APC 20100111117229 (TJ-DF) Data de publicação: 30/09/2015

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DANO MORAL. PESSOA JURÍDICA. 1. A má execução do contrato de prestação de serviço de telefonia (0800) repercutiu negativamente no conceito da usuária perante os seus clientes, gerando reclamações e dúvidas sobre a sua capacidade de cumprir com o que lhes prometera. 2. Assim configurada a ofensa à honra objetiva, assiste à pessoa jurídica o direito à compensação pelo dano moral, arbitrada em valor – R$ 10.000,00 – que atende aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade.

Aplicando-se o princípio da razoabilidade e proporcionalidade, foi concedida à pessoa jurídica a indenização à sua honra objetiva, o que difere ao se tratar de pessoa natural uma vez que sua honra subjetiva será analisada. Ainda esclarece o magistrado ser detentora do direito fundamental à honra, não se atentando para a perda patrimonial, mas sim sua imagem perante seus clientes, fato totalmente moral e prova de que a pessoa jurídica pode sim ter sua honra atacada sem necessariamente haver perda patrimonial.

Assim entende-se a linha da jurisprudência no sentido de aprovação da pessoa jurídica quanto ao sofrimento de dano moral, mesmo que esta não possa necessariamente sentir dor ou angústia. A partir do momento em que a credibilidade da entidade é ferida, pode-se configurar o dano moral, pois mesmo esta não sendo um organismo vivo capaz de pensar, refletir ou mesmo possuir quaisquer sentimentos humanos, sua credibilidade manchada é de certa forma considerada uma forma de dor adversa, porém passível de ser indenizada, de modo que não se cometa a injustiça de atender aos princípios institucionais assegurados pela Constituição.

Porém da mesma forma há casos em que não se configura o dano moral, justamente pela imagem da pessoa jurídica não haver sido prejudicada, segue exemplo a seguinte jurisprudência:

STJ - RECURSO ESPECIAL REsp 1370126 PR 2013/0047525-4 (STJ) Data de publicação: 23/04/2015

Ementa: ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE DO ESTADO. INTERRUPÇÃO DO FORNECIMENTO DE ENERGIA

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ELÉTRICA. MORTE DE AVES. DANO MORAL. PESSOA JURÍDICA.

NECESSIDADE DE CARACTERIZAÇÃO DA PERDA DE CREDIBILIDADE NO ÂMBITO COMERCIAL. 1. A pessoa jurídica pode ser objeto de dano moral, nos termos da Súmula 227/STJ. Para isso, contudo, é necessária violação de sua honra objetiva, ou seja, de sua imagem e boa fama, sem o que não é caracterizada a suposta lesão. 2. No caso, do acórdão recorrido não se pode extrair qualquer tipo de perda à credibilidade da sociedade empresária no âmbito comercial, mas apenas circunstâncias alcançáveis pela ideia de prejuízo, dano material. Assim, descabida a fixação de dano moral na hipótese. 3. Recurso especial provido.

Desta maneira, alguns requisitos se fazem presente para a caracterização do dano moral à pessoa jurídica, como em ementa analisada onde se esclarece a necessidade da comprovação da perda da confiabilidade da pessoa jurídica no setor comercial, e não a perda material. Fica claro assim que mesmo a pessoa jurídica pode ter sua honra e imagem ferida, de forma objetiva, de modo que venha a sofrer ante a concorrência tão acirrada do mercado econômico.

Há certa divergência no sentido da aplicação do dano moral à pessoa jurídica, mesmo sendo esta aceita pela maioria.

A corrente negativista afirmar que a pessoa jurídica não é dotada de um corpo como o ser humano, não sente dor e nem possui qualquer forma de sentimento, e justamente este aspecto tão subjetivo e inerente a pessoa humana era o fator que enseja o dano moral. Nesta visão o dano moral incorre como espécie de lesão ao afetar diretamente a psique do homem, o qual não poderia ocorrer o mesmo com a pessoa jurídica, sendo, pois, esta é apenas uma figura representativa de um núcleo de indivíduos com os mesmos fins e propósitos, dotada de direitos e obrigações perante a sociedade e principalmente o Estado, restrita ao mundo das idéias e incapaz de se materializar no mundo concreto. Desta forma partindo do pressuposto de que esta não possui qualquer sentimento ou capacidade de sofrer, não seria válido atribuir a ela o valor do dano moral.

Segue este raciocínio Jorge Bustamante Alsina, ao afirmar que a pessoa jurídica não possui direitos a personalidade como o homem, uma vez não possuir um organismo vivo dotado das mesmas características que a pessoa humana, incapaz de sentir dor ou tristeza.

Wilson Mello da Silva concorre com o entendimento anterior, afirmando ser a pessoa jurídica mera ficção do direito, incapaz de ser titular do direito ao dano moral. Santos Cifuentes ainda completa explicando não ser possível à pessoa jurídica refletir, raciocinar e mesmo pensar como ser humano, sendo incabível a possibilidade de esta ter o direito à sua moral. (ALSINA, SILVA, CIFUENTES apud FUJITA, 2008).

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179 Na mesma linha de raciocínio, Maria Celina Bodin de Moraes explica que “o dano às pessoas jurídicas não poderá ser concebido na mesma medida que o dano às pessoas físicas, já que a tutela da dignidade constitucional somente protege pessoas humanas”. Segundo esta mesma autora, sempre que a pessoa jurídica não visar lucro ou quando sofra agressões a bens não-avaliáveis, poderá a pessoa jurídica sofrer dano não-patrimonial, sendo este classificado como um dano institucional, que seria diferente do dano moral por necessitar da comprovação do prejuízo. (MORAES 2003, p. 190-1).

Também segue Gustavo Tepedino (2003, p. 57), que esclarece:

Cogitando-se, então, de pessoas jurídicas sem fins lucrativos poder-se-ia admitir a configuração de danos institucionais, aqui conceituados como aqueles que, diferentemente dos danos patrimoniais ou morais, atingem a pessoa jurídica em sua credibilidade ou reputação, sendo extrapatrimoniais, posto informados pelos princípios norteadores da iniciativa econômica privada.

A corrente favorável a aplicação do instituto do dano moral à pessoa jurídica trata-se de posicionamento majoritário na doutrina atual. Adriano de Cupis esclarece seu posicionamento afirmando ser possível a pessoa jurídica sentir dor distinta à pessoa natural, podendo muito bem sofrer dano não patrimonial. Brebia defende os direitos da pessoa jurídica como a intimidade, liberdade de ação e também à honra, incorrendo as mesmas garantias prevista a pessoa natural. (CUPIS, BREBIA, apud FUJITA, 2008).

Aguiar Dias comenta que:

A pessoa jurídica pública ou privada, os sindicatos, as autarquias, podem propor ação de responsabilidade, tanto fundada no dano material como no prejuízo moral.

Este ponto de vista, esposado pela generalidade dos autores, é sufragado hoje pacificamente pela jurisprudência estrangeira. A nossa carece de exemplos, ao menos de nós conhecidos. Não há razão para supor que não adote, ocorrida a hipótese, igual orientação (DIAS apud FUJITA, 2008).

Fábio Ulhoa Coelho (2012, p. 573) esclarece ao seu entendimento a possibilidade de dano moral à pessoa jurídica:

Para saber se uma determinada pessoa jurídica é credora de danos morais, o critério é simples. Abstrai-se sua condição de sujeito de direito não humano e a substitui por um homem ou mulher. Se desta simulação resultar que pessoa física, posta na mesma situação da jurídica, experimentaria dor suscetível de compensação, então não há razões para negá-la. Caso contrário, a pessoa jurídica não é credora dos danos morais.

Ainda segundo Fábio Ulhoa Coelho (2012, p. 569, 574), a indenização financeira resultante do dano moral visa compensar a dor da vítima, não têm natureza de sanção, pois não toma como fator relevante os critérios de culpa ou dolo, e, por conseguinte não deve ser considerada como uma indenização punitiva. Utilizando-se de um raciocínio análogo, pode-se

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180 dizer que a pessoa jurídica tem direito à indenização por danos morais caso esteja em uma situação na qual a pessoa física normalmente sofreria dor digna de compensação financeira.

Já para o Professor Sérgio Cavalieri é “induvidoso, portanto, que a pessoa jurídica é titular de honra objetiva, fazendo jus à indenização por dano moral sempre que o seu bom nome, credibilidade ou imagem forem atingidos por algum ato ilícito”, tomando por fundamentação: a) O inciso II, do art. 16 e o art. 2º, ambos da Lei de Imprensa (Lei 5.250/67);

b) O inciso X, do art. 5º da Constituição da República; c) O inciso VI, do art. 6º c/c art. 2º, ambos do CDC.

Segundo José Adércio Leite Sampaio (CANOTILHO, p. 284) a honra do indivíduo pode ser atingida de três formas, através da calúnia, da difamação, ou ainda, da injúria.

Referente a calúnia, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo ou passivo do crime de calúnia, nesta forma de ofensa, também a pessoa jurídica poderá ser sujeito passivo do crime de calúnia, desde que o fato seja tipificado na lei 9605/1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Complementa ainda o autor que “nas demais hipóteses, ou seja, fora da lei ambiental, o fato deverá ser considerado crime de difamação, em face da impossibilidade das demais infrações penais serem praticadas pelas pessoas morais. ”

Referente a difamação, conforme José Adércio Leite Sampaio (CANOTILHO, p. 284), há possibilidade de imputar-se o crime a pessoa jurídica, legitimando o sócio-gerente a queixa-crime por calúnia (STF, RHC 83091/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, 1ª T., j. 5/8/2003).

Em sentido contrário a este entendimento, numa interpretação literal do Código Penal, a pessoa jurídica não pode ser sujeito passivo de crimes contra honra, como disposto no artigo 139 deste mesmo diploma, permitindo somente a criatura humana como sujeito passivo de tais crimes. Sendo, portanto, inaceitável a extensão da incriminação para fins penais, de tal forma que somente a honra das pessoas físicas é protegida (Precedentes, Agravo desprovido, STJ, AgRg no Ag 672522/PR, Rel. Min. Feliz Fischer, 5ª T. DJ 17/10/2005, P. 335).

Referente a injúria, esclarece José Adércio Leite Sampaio (CANOTILHO, p. 284), qualquer pessoa física pode ser sujeito ativo ou passivo de tal delito, não sendo possível aplicar-se a pessoa jurídica tal conceito, uma vez que esta não possui honra subjetiva a ser protegida. Conforme observa Fernando Galvão: “Como a injúria ofende a honra subjetiva da vítima, não podem ser sujeitos passivos do crime em exame a pessoa morta e a pessoa jurídica, pois estas não possuem a capacidade para o sentimento da própria honorabilidade ou respeitabilidade” (GALVÃO, p. 298). Corroborando com tal entendimento, vê-se que a

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181 pessoa jurídica não pode ser sujeito passivo do crime de injúria, por ser desprovida da honra subjetiva, bem inerente a pessoa humana (TJSP, Processo 328708/7, Rel. Rulli Júnior, j.

24/9/1998).

Como pode ser observado, não é unanime o posicionamento dos autores aqui invocados quanto ao tema do dano moral da pessoa jurídica, tendo-se assim muita cautela quando aplicado as questões não diretamente relacionadas à pessoa humana, mesmo já entendido e aceito pela jurisprudência quanto a validade de sua utilização.

5 A MORAL E A PESSOA JURÍDICA

Para um entendimento mais específico quanto à questão da moral, é de suma importância conhecimentos relacionados à evolução psicossocial e filosófica do ser humano.

Para tanto, pode se tomar como ponto de partida o simples significado da palavra moral, que deriva do latim “mores” ou “relativo aos costumes”. Já de uma forma mais técnica, tomando como base os estudos psicanalíticos, têm-se os ensinamos de Carl Jung, que define a moral como sendo uma vida responsável, tanto na observação dos costumes, quanto na observação da ética, contemplando o ser humano em sua totalidade, conjugando assim sua consciência racional e seu inconsciente irracional. Já no imperativo categórico do grande filósofo Immanuel Kant, a moral é a boa consciência que leva o ser humano a fazer o que considera ser bom, seria a consciência ética mais profunda, que não necessariamente coincidirá com o código moral adotado pela sociedade. Para ambos os estudiosos, a moral é algo que nasce no íntimo do indivíduo, sendo algo inerente ao ser humano e indissociável deste (WURZBA, 2012, p.8,14).

Inclusive no direito penal, que é um ramo diverso do direito civil, a moral é conceituada como faculdade exclusiva do indivíduo, conforme cita Renato Posterli (2001, p.

86):

É bom que se lembre que a moral não é um código de proibições. É a faculdade adquirida de reconhecer intuitivamente o bem e o mal. Moral é uma doutrina destinada a tornar os homens melhores, incorporando como valor os costumes e as regras de conduta que preservam e enaltecem a sociedade, permitindo, assim, a convivência social.

Maria Celina Bodin de Moraes ao tratar da definição de dano moral diz que, qualquer situação que venha a reduzir o ser humano ao status de coisa, violando suas prerrogativas de pessoa, configurará automaticamente uma violação aos direitos da personalidade e resultará em um dano moral. A mesma autora fundamenta a presente tese através do imperativo

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182 categórico de Kant, para o qual a humanidade das pessoas está em sua racionalidade, seu livre arbítrio e sua capacidade de interação com o meio; por conseguinte, qualquer situação que venha a reduzir à pessoa a uma condição contrária a sua humanidade, será violadora da dignidade humana (MORAES, 2003, p.188).

Analisando o artigo 52 do Código Civil através de prismas distintos, poderão ser verificados os conflitos existentes na aplicabilidade de forma neutra dos direitos da personalidade a pessoa jurídica. Neste aspecto, para Gustavo Tepedino, a pessoa jurídica merece “tutela jurídica apenas e tão-somente como um instrumento (privilegiado) para a realização social das pessoas que, em seu âmbito de ação, é capaz de congregar”, esclarecendo ainda que a pessoa jurídica não pode ser considerada como um fim em si mesma, mas um instrumento para a realização social. A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 1º inciso IV e em seu artigo 170 versa sobre o valor social da livre iniciativa, fundamentos essenciais para as relações jurídicas patrimoniais e os princípios gerais da atividade econômica (TEPEDINO, 2003, p.134).

Os bens jurídicos intangíveis tutelados à pessoa jurídica compreendem usualmente a honra, a imagem, o segredo e o nome da empresa, ainda que não se resumam a estes bens.

Qualquer dano que venha a sofrer a empresa em alguns destes bens irá repercutir em suas atividades econômicas e consequentemente em seu patrimônio, configurando assim um dano objetivo, não podendo, portanto, ser enquadrado no mesmo nível dos danos à personalidade humana, o qual se enquadraria em um dano subjetivo (TEPEDINO, 2003, p.135-138). Mesmo as pessoas jurídicas classificadas como sem fins lucrativos, a exemplo das ONGs, fundações, etc, por serem instituições que tem objetivos filantrópicos, geram de forma indireta riquezas para a sociedade, seja reduzindo o custo para o estado, ou propiciando a melhora na qualidade de vida dos cidadãos, ou ainda visando a proteção ao meio ambiente. Quando violado um bem jurídico intangível destas instituições filantrópicas, que não tem foco principal no crescimento do seu patrimônio, seria tal dano classificado como sendo um dano institucional (MORAES, 2003, p.191). Para a doutrinadora Maria Celina Bodin o dano institucional “se distinguiria do dano moral em razão da necessidade de uma comprovação potencial do prejuízo, não se podendo aplicar a tese in reipsa”. Nesta mesma linha de raciocínio Gustavo Tepedino esclarece que “danos institucionais atingem a pessoa jurídica em sua credibilidade ou reputação, a chamada honra objetiva” (TEPEDINO, 2003, p.139).

Na IV Jornada do Direito Civil realizada em 2006 surge o enunciado 286, que ao tratar do artigo 52 do Código Civil esclarece que “os direitos da personalidade são direitos inerentes

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183 e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos”. A Constituição Federal ao assegurar os direitos fundamentais da personalidade, visa elevar o ser humano ao valor máximo dentro da sociedade; já os interesses sociais externados através da pessoa jurídica tem seus bens jurídicos tutelados de forma específica em seu artigo 1º IV e artigo 170, de tal forma que poderiam as pessoas jurídicas usufruir de forma indireta e por analogia em algumas situações semelhantes aos bens tutelados pelos direitos da personalidade humana (TEPEDINO, 2003, p.135).

Seguindo o entendimento do direito penal, não pode a pessoa jurídica oferecer a queixa-crime por calúnia, uma vez que somente as pessoas físicas, valendo-se da empresa, podem cometer delitos e, por conseguinte sentirem-se ofendidas com as acusações; nesta linha de entendimento menciona o Ministro Armando Esteves Lima:

(O relator): Conforme ressaltei ao apreciar o pedido formulado em sede de cognição sumária, a “pessoa jurídica não pode ser sujeito passivo de crimes contra a honra previstos no Código Penal” (HC 42781, REsp 603.807/RN, Rel. Min FELIX FISCHER, DJ de 8/11/2004, p. 278).

A pessoa jurídica se estabelece via bases econômicas e empresarias, nas quais todos os bens são concebidos dentro das classificações de tangíveis ou intangíveis, e consequentemente passivos de mensuração econômica, de forma a viabilizar as transações empresariais corporativas, como por exemplo fusões e aquisições. Sendo assim, é este o motivo pelo qual se afirma que a ofensa a honra ou a imagem da pessoa jurídica resulta inevitavelmente em um dano econômico patrimonial mensurável, pois do contrário, caso não houvesse tal dano, não seria cabível nenhum tipo de indenização, conforme esclarece José Adércio Leite Sampaio (CANOTILHO, p. 284).

Levando em conta os conceitos administrativos e econômicos para os itens como a imagem, o segredo e o nome da empresa, recebem estes a classificação de ativos intangíveis, ou seja, bens não mensuráveis pelos métodos tradicionais de contabilidade e que são identificados como as pessoas, clientes e a organização (CHIAVENATO, 2011, p.601). Nesta mesma linha de raciocínio conceitual, esclarece Ribeiro Filho (2009, p.100):

Os ativos intangíveis seriam os recursos que não tem uma representação física, por exemplo, o capital intelectual, a marca das empresas, o goodwill... a pesar de os ativos terem diferentes formas, todos tem a mesma essência: são potenciais de benefícios econômicos líquidos, sob controle de uma entidade, que ela espera obter de um agente. Assim, a natureza do ativo não está no bem em si, mas nos benefícios, serviços ou utilidades que ele gera.

Domadaran (2002, p1) afirma que todos os ativos podem ser avaliados, ainda que cada caso seja tratado segundo suas peculiaridades, tomando em conta as informações necessárias para a avaliação mais adequada a cada empresa, segmento e mercado que ela atue. É comum

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184 deparar-se com executivos e sócios que desconhecem a avaliação de sua empresa, porém através do acompanhamento dos pares de mercado no mesmo setor de capital aberto, podem ter uma estimativa de avaliação, sendo esta uma forma para mensurar sua companhia, mesmo que este nem sempre seja o melhor método de avaliação.

Num esforço de conjugação das questões administrativas, cíveis e penais, quanto ao dano, pode-se perceber uma escala de valor jurídico demonstrada no quadro n.1 abaixo, onde quanto maior o valor atribuído pela sociedade, maior e mais complexas serão suas implicações jurídicas associada ano dano.

Quadro n.1 (Edna Maria Coan)

Analisando conjuntamente a doutrina jurídica nos seus diversos vieses, seja civil ou penal, associada a controvérsia da doutrina minoritária e os conceitos técnicos administrativo econômico, é de fácil percepção a dificuldade e complexidade da aplicação do conceito de dano moral a pessoa jurídica.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta breve pesquisa realizada para analisar a aplicabilidade dos danos morais à pessoa jurídica, pode ser identificado que há opiniões inovadoras e divergentes da doutrina majoritária.

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185 A evolução cronológica dos institutos que fundamentam o dano moral da pessoa jurídica, através da súmula 227 de 1999, do artigo 52 do Código Civil de 2002 e do enunciado 286 da IV Jornada do Direito Civil de 2006, demonstra a necessidade de adequação dos institutos jurídicos hora vigentes. Os direitos da personalidade não podem ser considerados como institutos neutros, pois são à base de sustentação do ordenamento jurídico e representam o status máximo do ser humano em nossa sociedade.

A pessoa jurídica pode sofrer um dano objetivo, quando violada sua imagem e reputação frente à sociedade, resultando em uma diminuição patrimonial. Mesmo entidades com fins exclusivos filantrópicos, que de alguma forma geram riqueza para a sociedade, podem sofrer danos, porém neste caso seriam danos inovadoramente classificados como institucionais.

É inegável a necessidade de proteção dos direitos da pessoa jurídica, e da mesma forma que determinados bens jurídicos inerentes a sua natureza são tutelados por dispositivos específicos, também os bens jurídicos intangíveis típicos, aqueles análogos aos direitos da personalidade humana, deveriam ter um instituto específico. Tal especificidade normativa viria a corroborar com a necessidade da pessoa jurídica em cumprir com sua função social definida constitucionalmente, visando assim à harmonia e praticidade de um sistema jurídico sólido e contemporâneo, na busca de uma equivalência real entre lesão e a justa reparação.

Neste sentido, levando em conta a característica fundamental do direito quanto a sua mutabilidade segundo a evolução social, à atual caótica indústria do dano moral poderia ser aplicado o conceito da teoria do caos, que concebe uma natureza constantemente mutável e evolutiva, onde nada é estável, a mudança é uma constante, a realidade está sujeita a perturbações e o caos é uma ordem mascarada de aleatoriedade.

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