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Avaliação da exposição a que estão submetidos os aplicadores de agrotóxicos na cultura da uva no vale do sub-médio São Francisco.

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Avaliação da exposição a que estão submetidos os aplicadores de

agrotóxicos na cultura da uva no vale do sub-médio São Francisco.

Francisco Alves Pinheiro,CEGUR/DEP/UFPB, franciscoalvesp@bol.com.br Paulo José Adissi, DEP/UFPB, adissi@producao.ct.ufpb.br

Resumo

O objetivo deste trabalho é o de analisar os sistemas de aplicação de agrotóxicos utilizados

na cultura da uva do vale do sub-médio São Francisco, em relação aos riscos de contaminação ocupacional. Foram analisados os sistemas de aplicação manuais, mecanizados e semi-mecanizados adotados pelos viticultores do município de Petrolina/PE, através de uma abordagem de avaliação de risco tanto quantitativa como qualitativa. Para tanto, visitou-se duas unidades produtoras: uma empresa de médio porte e outra de colono da CODEVASF. Sendo realizadas cinco simulações de aplicações de agrotóxicos pelo método europeu de corpo inteiro, em quatro sistemas de aplicação, verificando-se também as práticas anteriores à aplicação, como a estocagem dos produtos e a preparação das caldas, assim como as posteriores como os cuidados com o equipamento e com as roupas de aplicação. Os resultados obtidos apontaram elevados diferenciais de risco entre os sistemas analisados e melhores condições oferecidas pela empresa agrícola, devido ao processo de certificação ora vivenciado.

Palavras-Chave

Trabalho agrícola. Risco químico. Agrotóxico.

1. Introdução

O cultivo de frutas tropicais tem sido incentivado há muito tempo no semi-árido do nordeste brasileiro como uma das soluções para a fixação do homem nessas áreas. Por conta desses incentivos, surgiu, a partir dos anos 60, um pólo de fruticultura formada pelas cidades de Petrolina/PE e Juazeiro/BA, cujos projetos de irrigação oficiais têm em torno de 80.000 hectares e mais 60.000 ha da iniciativa privada.

A videira cultivada no Nordeste é, segundo documento do Ministério da Agricultura e Abastecimento (Brasil, 1997), a cultura que mais gera empregos, entre as diversas culturas anuais e perenes, atingindo mais de 5,0 empregos/ha/ano. Nessa região encontram-se os maiores produtores individuais de uva do país, com área total em produção de aproximadamente 5.000 ha, gerando, na região, cerca de 18.000 empregos diretos (CODEVASF, 2002). A uva de mesa é produzida no vale do São Francisco por diferentes estratos de produtores, com participação significativa dos pequenos colonos dos projetos públicos de irrigação (com lotes de 10,0 ha de área produtiva), que representam 70% do número de viticultores, embora detenham apenas 17% da área total cultivada (CODEVASF, 2002). A maior parte da produção está concentrada nos estabelecimentos dos médios e grandes produtores (10 a 500 ha) instalados nos projetos públicos (áreas empresariais) ou nas propriedades privadas situadas nas proximidades das margens do Rio São Francisco.

O uso da irrigação e as condições edafoclimáticas da região do Sub-Médio São Francisco têm impulsionado o desenvolvimento da viticultura na região, propiciando a obtenção de duas e meia safras por ano. Entretanto, como em todo cultivo extensivo, tem-se enfrentado problemas de ordem fitossanitárias, como ataques de pragas e doenças, ocasionando danos significativos às lavouras quando não são adotadas as devidas medidas de prevenção e/ou controle.

Todo esse incremento de área e de produtividade conseguidas trouxe a adoção da agroquímica convencional como base tecnológica para o controle das pragas e doenças da

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cultura da uva no vale do Sub-médio São Francisco, como na maioria das culturas comerciais brasileiras.

As principais pragas que atacam a videira na região do Sub-Médio São Francisco, são: Ácaro Branco, Ácaro Rajado, Coleobroca, Mosca Branca, Lagarta das Folhas, Mosca das Frutas, Tripes e Cochonilhas.

As principais doenças são: Podridão Seca, Míldio, Oídio, Mofo Cinzento, Antracnose e Cancro Bacteriano.

É sabido que os agrotóxicos podem causar danos à saúde de diferentes grupos de pessoas: trabalhadores, vizinhos e freqüentadores dos locais de aplicação; consumidores de produtos agrícolas; consumidores de água e pescados de mananciais hídricos expostos (ADISSI, 1999). O uso de agrotóxicos tem causado diversas vítimas fatais, além de abortos, fetos com má formação, suicídios, câncer, dermatoses e outras doenças. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ocorrem 20.000 óbitos por ano em conseqüência da manipulação, inalação e consumo indireto de pesticidas, nos países em desenvolvimento, como o Brasil (www.ufrrj.br/).

A partir desta realidade avaliaram-se os níveis de exposição a que estão submetidos os aplicadores de agrotóxicos nos diversos sistemas de aplicação utilizados na cultura da uva no vale do sub-médio São Francisco, buscando, também, identificar os agrotóxicos utilizados na cultura e suas toxicologias, levantar as formas de uso adotadas, nos aspectos de: estocagem, formulação do produto comercial, preparo das caldas, forma de aplicação e freqüência de aplicação.

2. Material e Método

Na escolha das unidades de estudo, considerando a estrutura de produção, optou-se por duas unidades de produção: (i) uma empresa agrícola de porte médio, especializada na produção de frutas frescas para exportação, com área cultivada de 40,0 hectares de mangas da variedade Tommy Atkins e 49 ha de uvas finas de mesa, divididos nas seguintes variedades: 8 ha de variedade Red-globe, 16 ha da variedade Benitaka e 15 ha da variedade “Festival” (sem sementes). (ii) Lote de colono do Projeto de Irrigação Senador Nilo Coelho comprado junto a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba - CODEVASF, com 6,0 ha de área pronta para irrigação (com sistema convencional de irrigação instalado) e mais 4,0 ha de sequeiro (área para futura expansão pelo colono). Toda a área irrigada está plantada com uvas das variedades Red-globe (0,5 ha) e Itália (5,5 ha) com produção voltada para o mercado interno e externo, através da venda direta para as empresas exportadoras. Na seleção dos sistemas de aplicação de agrotóxicos, na empresa de médio porte, aplicou-se os testes para quantificação da exposição a agrotóxicos com três (3,0) trabalhadores com equipamentos de aplicação diferentes: (i) Dois (2,0) trabalhadores com pulverizadores costais manuais (modelo JACTO – 20L) com lança de 50 cm de comprimento e bico tipo J2. A aplicação foi em alto volume, até o ponto de escorrimento da calda nas folhas. (ii) Um tratorista com um sistema tratorizado, com pulverizador tipo turbo-atomizador de 400 l de volume de calda (modelo JACTO – ARBUS 400L) ligado à tomada de força (fig 1).

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Figura 1. Simulação da aplicação com pulverizador turbo-atomizador.

No lote de colono, foram aplicados os testes para quantificação da exposição a agrotóxicos com dois (2,0) aplicadores, usando equipamentos de aplicação diferentes: (i) Um trabalhador com rolo de espuma de 5,0 cm de comprimento (rolo de pintura), mais um balde, com boca aberta e aro de sustentação, com capacidade de 5,0 L. Este rolo é usado para aplicação de cianamida hidrogenada (Dormex) nas gemas dormentes dos ramos podados da planta (fig. 2).

Figura 2. Simulação da aplicação com rolo de espuma.

(ii) sistema de pulverização, denominado popularmente de CAPETA (fig. 3), formado por um conjunto motor-bomba, com motor a óleo diesel de 1,0 hp e bomba jacto idêntica a do Arbus 400 L, com tanque para calda de 200 L. O sistema é dotado de manômetro para controle da pressão de serviço e com saída para duas pistolas de pulverização. As pistolas de pulverização podem ser de vários tipos, de acordo com o objetivo que se deseja atingir. No teste foi usada uma pistola com três bicos do tipo J2. Todo este sistema é montado sobre uma carroça, movida a tração animal, guiada por um trabalhador que se posiciona a uma distância segura do aplicador de agrotóxico que opera uma mangueira com pistola dirigindo o jato para as partes aéreas da videira.

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Figura 3. Vista lateral do equipamento Capeta. 2.1. Avaliação quantitativa

Nas simulações, para garantir a fidelidade operacional da atividade, os aplicadores voluntários devem ser trabalhadores habituados ao manuseio de agrotóxicos, devendo realizar suas tarefas com apenas duas diferenças básicas: a ausência de agrotóxicos, substituídos por um corante artificial, e, a utilização de uma vestimenta absorvente, composta por macacão com capuz e luvas. Após a aplicação a vestimenta é recortada em partes (Fig. 4), padronizadas pelo método europeu desenvolvido pelo Central Science Laboratory do Ministério da Agricultura, Alimentação e Pesca do Reino Unido (CSL/MAFF/UK), para análise laboratorial (GLASS, 2000). A extração do corante é feita com acetona a 10% e a quantificação do volume de calda através de um espectrofotômetro.

Fig. 4. Cortes da vestimenta.

1. CAPUZ 2. BRAÇO DIREITO 3. BRAÇO ESQUERDO 4. PEITO 5. COSTAS

6. FRENTE DAS COXAS 7. ATRÁS DAS COXAS 8. PERNA DIREITA 9. PERNA ESQUERDA 10. LUVA DIREITA 11. LUVA ESQUERDA

A escolha pelo método utilizado nos países da União Européia se deu, principalmente porque a uva produzida no Vale do São Francisco tem como destino principal o mercado europeu. Um segundo critério foi o da precisão propiciada pelo método que, por ser de corpo inteiro, dispensa as extrapolações exigidas pelos métodos que utilizam coletores parciais das gotas de pulverização.

A exposição é diretamente influenciada por duas variáveis quantitativas: a concentração do agrotóxico e o tempo de exposição. Assim, qualquer um dos fatores influentes no risco terá seus efeitos quantificados na toxicidade ou no grau de exposição, decorrente das condições de

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uso do produto. Assim, o risco de intoxicação pode ser avaliado por meio da quantificação da toxicidade do produto e da exposição que o trabalhador está sofrendo (MACHADO NETO, J.G., 2001).

A toxicologia, através de testes laboratoriais com cobaias mamíferas de pequeno porte, como ratos, coelhos e cachorros, determina vários parâmetros toxicológicos indicadores da toxicidade dos produtos. Um primeiro tipo refere-se a intoxicações agudas, buscando apontar a dose capaz de provocar a morte de um ser humano através de uma única exposição, podendo ser expresso, conforme o caso, em: dose letal dérmica, dose letal oral ou concentração letal (em caso de gases), seguidas do número 50 subscrito (DL50 ou CL50), representando a dose ou concentração que foi capaz de matar 50% das cobaias expostas. Como indicadores de risco de ocorrência de intoxicações crônicas temos o nível de efeito não observável (NOEL) e a ingestão diária aceitável (IDA). Esses índices buscam apontar as doses diárias que os seres humanos suportariam absorver sem adoecer, pela via dermal (NOEL) e por via oral (IDA). Na análise quantitativa de riscos de intoxicações procura-se comparar a estimativa da quantidade absorvida decorrente da exposição (QAE), com os limites humanos indicados pela toxicologia, DL50 dermal para o caso de intoxicação aguda e NOEL para o caso de intoxicação crônica. Para o cálculo da QAE, considera-se que 10% da exposição dérmica (ED) e 100% da exposição respiratória (ER) são absorvíveis, e, na impossibilidade de se estimar diretamente, a ER pode ser considerada como 1% da ED. Assim sendo, a QAE pode ser estimada como 11% da ED e os riscos podem ser assim calculados:

Intoxicação aguda Intoxicação crônica

P . DL 11 , 0 % 50 xEDxFS DT = (1) EDxFS NOELxP MS 11 , 0 = (2)

onde: %DT é a % da dose total, P é o peso corpóreo do trabalhador (costuma-se adotar 70kg como peso médio de adultos masculinos), FS é um fator de segurança e MS é a margem de segurança.

A necessidade de se incluir um fator de segurança decorre das estimativas toxicológicas serem provenientes de experiências com outras espécies e para também compensar as diferentes sensibilidades humanas. Os fatores adotados variam muito entre os autores, o que aponta a fragilidade do método para considerações absolutas, ou seja, defende-se aqui a importância do método para se comparar objetivamente a segurança de distintas situações e não para se afirmar que uma dada situação é plenamente segura ou insegura.

Nesse estudo os FS utilizados foram: 10 no cálculo da %DT (1) e 100 no cálculo da MS (2).

2.2. Avaliação qualitativa

As análises qualitativas foram realizadas através de observações diretas, entrevistas abertas com gerentes e trabalhadores; e, documentação em vídeo. As questões focadas foram as situações anteriores à aplicação (estocagem de produtos, manutenção e guarda de equipamentos de aplicação e de proteção, preparação das caldas), as posteriores (limpeza dos equipamentos e descarte das embalagens vazias) e as condições de higiene pessoal (cuidados com as vestimentas, acesso a água, local para banho e local para guarda de alimentos).

3. Resultados e discussão

Os resultados de todas as simulações realizadas estão sintetizadas no quadro 1, onde pode-se observar que a maior exposição dérmica potencial deu-se com o equipamento Capeta (S3), seguido do sistema com pulverizador costal manual (S1 e S2), vindo a seguir o aplicador com o rolo de espuma (S5) e o aplicador com pulverizador turbo-atomizador (S4) com menor exposição dérmica simulada. As partes do corpo dos aplicadores mais atingidas, no caso do equipamento Capeta, foram: a cabeça, o tronco e os membros superiores.

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Quadro 1. E.D.S’s dos cinco aplicadores nas diversas partes do corpo em uma diária (7,0 horas). CORTES Costal Manual-S1 Costal Manual-S2 Capeta-S3 Rolo de Espuma-S5 Turbo-atomizador-S4 C1 CAPUZ 7,61 7,92 120,86 4,96 5,55 C2 BRAÇO D 20,16 46,85 273,13 13,34 4,55 C3 BRAÇO E 5,32 8,79 229,20 4,81 5,39 C4 PEITO 11,47 8,79 470,80 13,26 5,15 C5 COSTAS 223,35 24,32 228,48 13,86 8,83 C6 COXA F 18,08 3,27 93,40 7,75 6,48 C7 COXA T 261,46 22,20 50,53 4,24 2,76 C8 PERNA F 11,47 15,21 68,92 3,02 1,37 C9 PERNA T 256,98 15,98 50,22 0,47 2,21 C10 LUVA D 65,45 42,17 240,24 33,61 8,50 C11 LUVA E 4,70 193,53 87,90 7,95 8,50 TOTAIS/7,0 Horas EDS (ml/dia) 886,04 389,03 1913,67 107,27 59,30

A concentração usada, do corante na calda foi 1,28g/l. FONTE: Experimento de campo. Na escolha dos agrotóxicos a serem avaliados tentou-se usar produtos de todas as classes

toxicológicas, bem como que abrangesse todos os alvos (pragas, doenças, reguladores de crescimento).

Quadro 2 – Informações toxicológicas dos agrotóxicos utilizados na cultura da uva de Petrolina.

AGROTÓXICO Concentração (g/l) Dosagem (g/l) Classe toxicológica DL50 dérmica (mg/kg) NOEL (mg/kg/dia) AMISTAR 500 WG 500 0,24 IV 5000 18,2 DIPEL 33,6 1 IV 5000 4000

EQUATION GDA 300 50 III 2000 10

FOLICUR 200 CE 200 0,6 III 5000 30

FOLISUPER 600 BR 600 1 I 6 0,3

DORMEX 520 1 II 848 *

PRÓ-GIBB 1,00 0,015 III 5000 1000

*Valor desconhecido. Fonte: ANDREI, 2002; EPA. Nas simulações da aplicação com bomba costal, realizadas na empresa agrícola, um dos aplicadores (S1) cometeu um ato inseguro no manuseio da lança do pulverizador, que contaminou excessivamente a parte posterior de sua coxa direita, contribuindo para elevação da exposição (ED simulada = 886,04 ml/dia) que resultou em condições de trabalho classificadas como inseguras (MS < 1), em aplicações de Amistar 500 WG, Equation GDA, Folicur 200 CE e Folisuper 600 BR; e seguras (MS > 1) apenas para o inseticida Dipel e o hormônio vegetal Pro-Gibb (Quadro 3). Na segunda simulação (S2), apesar de não ter ocorrido nenhum acidente, os resultados, qualitativamente, foram próximos, já que a situação alterou-se apenas para o fungicida Amistar. A pior situação ocorre com a aplicação de Folisuper que apresenta uma necessidade de controle praticamente inatingível e um tempo de trabalho seguro de menos de 2 minutos por jornada. Em consideração a possibilidade de contaminação aguda, verifica-se, mais uma vez que para o produto mais tóxico, o Folisuper, a simulação indicou a certeza de ocorrência de intoxicações se medidas eficazes de proteção não forem adotadas. As partes do corpo mais atingidas foram: a mão esquerda e braço direito na S2 e as costas, a coxa e as pernas traseiras na S1, decorrente do acidente ocorrido.

Quadro 3 - Simulações (S1 e S2) com bomba costal manual realizadas na empresa agrícola.

EDS (mg/dia) Risco (%DT/dia) MS NCE (%) TTS (h)

AGROTÓXICO

S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1 S2 AMISTAR 500 WG 165,5 72,7 0,05 0,02 0,70 1,59 30,0 0,0 4,90 t>7

DIPEL 689,5 302,7 0,22 0,10 36,92 84,08 0,0 0,0 t>7 t>7

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EQUATION GDA 413,7 181,6 0,33 0,14 0,15 0,35 84,6 65,0 1,08 2,45 FOLICUR 200 CE 689,5 302,7 0,22 0,10 0,28 0,63 72,3 36,9 1,94 4,41 FOLISUPER 600 BR 689,5 302,7 180,59 79,29 0,003 0,01 99,7 99,4 0,02 0,04 PRÓ-GIBB 10,3 4,5 0,003 0,001 615,27 1401,31 0,0 0,0 t>7 t>7

FONTE: Experimento de campo. Nas simulações com equipamentos pressurizados ocorreram os melhores e piores resultados de EDS. Na simulação das operações com atomizador (S4), a ED simulada foi de apenas 59,3 mg/dia, enquanto que com o sistema semi-mecanizado (S3) a exposição simulada foi de 1913,67 mg/dia. Indicando assim, que no caso da simulação em sistema tratorizado, as condições de perigo só foram apontadas na aplicação de Folisuper. Já o sistema de aplicação

Capeta apresentou condições inseguras de trabalho (MS < 1), em aplicações de Amistar 500

WG, Equation GDA, Folicur 200 CE e Folisuper 600 BR com necessidade de controle de exposição (NCE) em mais de 90%; e, seguras (MS > 1) apenas para o inseticida biológico Dipel. Uma situação especial de perigo é a da aplicação de Folisuper com o Capeta onde o risco de contaminação aguda apontada aproximou-se de 400% (Quadro 4). As partes do corpo do tratorista mais atingidas foram a mão direita e as costas, enquanto que as do aplicador do sistema Capeta foram: os membros superiores, o peito, as costas e a mão direita.

Quadro 4 - Simulações com equip. pressurizado CAPETA (S3) e com equip. turbo-atomizador (S4).

EDS (mg/dia) Risco (%DT/dia) MS* NCE (%) TTS (h)

AGROTÓXICO S3 S4 S3 S4 S3 S4 S3 S4 S3 S4 AMISTAR 500 WG 357,4 11,1 0,11 0,003 0,32 10,46 67,6 0,0 2,27 t>7 DIPEL 1489,2 46,1 0,47 0,01 17,09 551,59 0,0 0,0 t>7 t>7 EQUATION GDA 893,5 27,7 0,70 0,02 0,07 2,30 92,9 0,0 0,50 t>7 FOLICUR 200 CE 1489,2 46,1 0,47 0,01 0,13 4,14 87,2 0,0 0,90 t>7 FOLISUPER 600 BR 1489,2 46,1 390,04 12,09 0,001 0,04 99,9 95,9 0,01 0,29 *Foi utilizado 100 como fator de segurança FONTE: Experimento de campo. A simulação da aplicação manual de Dormex com rolo de espuma só pôde ser avaliada em termos de possibilidade de intoxicação aguda já que não se teve acesso ao Noel do produto. O sistema apresentou-se mais seguro (Quadro 5) que a da aplicação com bomba costal com uma EDS de 4173,9mg/dia (28% de S2-Quadro 3). A parte do corpo mais exposta foi a mão direita (aplicador dextro).

Quadro 5 - Simulação com Rolo de Espuma (S5).

AGROTÓXICO EDS (mg/dia*) Risco DT/dia% DORMEX 4173,9 7,73

FONTE: Experimento de campo.

As condições de estocagem dos agrotóxicos, das operações de preparo e os cuidados com os equipamentos de aplicação e de proteção, observadas na empresa agrícola foram superiores as do lote de colono. A empresa, que estava prestes a ser auditada para obter o certificado Eurepgap, havia definido protocolos para todos os procedimentos de estocagem e manuseio de agrotóxicos e dispunha de local para banho dos aplicadores e local de lavagem de equipamentos, com recolhimento e tratamento da água contaminada. Por outro lado, a realidade observada na unidade de colono indicou diversas situações de risco, como: estocagem de agrotóxicos, de fácil acesso, junto com roupas e equipamentos pessoais, comidas e sementes; trabalhadores sem equipamentos de proteção e sem local próprio para banho; criação de ovinos em parreiral contaminado; descarte de embalagens no campo.

5. Conclusão

O manuseio de agrotóxicos pelos trabalhadores do Vale do Sub-médio São Francisco, de acordo com os resultados da pesquisa, se mostrou aceitável em alguns sistemas de aplicação, sendo o caso, principalmente, da aplicação tratorizada com pulverizador turbo-atomizador Arbus 400L. A pouca exposição do operador se deve, provavelmente, pela segurança do equipamento de aplicação que permite que o operador (tratorista) trabalhe a uma distância

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segura em relação à pulverização. O outro sistema de aplicação que se mostrou com risco aceitável foi a utilização do rolo de espuma para aplicação de Cianamida Hidrogenada (Dormex), porém, o que se observa, na prática diária é que o trabalhador, na busca de um maior rendimento do trabalho, negligencia a sua proteção e acaba se acidentando pelo escorrimento do produto na pele, provocando sérias queimaduras, o que não ocorreu na simulação. O sistema de aplicação que maior exposição proporcionou aos trabalhadores foi o sistema denominado CAPETA, aonde a NCE chegou a 92,9% para o fungicida Equation GDA controle dificilmente atingível por qualquer EPI encontrado hoje no mercado. O sistema com pulverizador costal manual é um sistema exigente em termos de proteção e treinamento. Constatou-se que o produto Folisuper 600BR, devido a sua elevada toxicidade, apresenta elevados riscos em todos os sistemas de aplicação analisados, sendo indicada a sua substituição por outro de menor toxicidade. Essas análises têm suas limitações no número de repetições aplicadas aos sistemas e ao número de aplicadores observados, bem como no tempo de execução das simulações. Vale salientar, por último, a importância dos aspectos qualitativos observados que confirmaram as discrepâncias entre as situações analisadas.

6. Referências

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