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APOSTO E NOME PRÓPRIO

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Academic year: 2021

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APOSTO E NOME PRÓPRIO

EDUARDO GUIMARÃES

DL-IEL/Labeurb Unicamp

Nos estudos da filosofia da linguagem e da linguística, tem tido um lugar particular, por razões diversas, a questão do nome próprio. Do ponto de vista da linguística e da gramática costuma-se distinguir os nomes próprios dos nomes comuns e para isso apresentam-se certas construções possíveis com nomes comuns e impossíveis com nome próprio. Por exemplo, se diz que o nome próprio não pode receber um determinante. Neste caso como em outros é sempre possível mostrar que há condições em que isso pode ocorrer

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. Há entre os linguistas aqueles que consideram que a diferença entre nome próprio e nome comum não é de natureza, mas de grau, é o caso, por exemplo de Bréal (1897, cap. XVIII). Por outro lado, e ligado a esse tipo de consideração, a filosofia da linguagem carrega dentro de suas discussões um questão cujos limites são também difíceis de estabelecer: o nome próprio tem ou não tem sentido? De um lado está, por exemplo, a posição de S. Mill (1843), para quem o nome próprio não significa (ele diz não conota), o nome próprio só refere (ele diz denota). De outro lado está a posição de Frege (1892) para quem tanto os nomes comuns como os nomes próprios têm sentido e referência. E na medida em que um nome próprio tem sentido, descreve algo, ele refere a este algo. Numa posição até certo ponto intermediária, se coloca, por exemplo, Searle (1958, 1969, p. 214-229), que vai dizer que toda vez que um nome próprio é usado ele se liga a um conjunto de enunciados a que está relacionado, e assim ele significa na situação de seu uso, em virtude desta relação. Assim ,para Searle, em certa medida, os nomes próprios têm sentido por estarem associados a enunciados descritivos, mas seu sentido é impreciso. Por outro lado os nomes próprios referem independentemente deste sentido.

O meu interesse nessa questão aqui, a partir de uma posição não referencialista e assim distinta das que acima enumerei, não é entrar na discussão filosófica envolvida na reflexão sobre nomes e coisas, mas é observar uma construção muito comum e que em geral não é tomada em conta quando se fala do nome próprio. Trata-se da relação entre o nome próprio e expressões ditas apositivas, sobre as quais as descrições linguísticas pouco têm falado. Vou me valer especificamente da relação envolvendo nome próprio de pessoa. O meu interesse será tratar desta relação e a partir desta análise tirar alguma consequência sobre a questão do sentido do nome próprio.

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Sobre esses aspectos ver, por exemplo Kleiber (1994, p. 66-133)

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1.Relações Apositivas

Em outro lugar (Guimarães, 2011) considerei que a relação apositiva pode ser descrita como uma reescrituração

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. Resumo aqui o que disse naquele momento.

Considerei o funcionamento do aposto pela análise do recorte (i) abaixo.

(i) O primeiro é baseado no diário do viajante alemão(a) Staden(b), feito prisioneiro pelos índios tupinambás(c) – adeptos do canibalismo(d) – no Brasil do século XVI

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.

Neste recorte temos várias relações apositivas: (a) viajante alemão (em itálico o termo considerado aposto); (b) alemão Staden; (c) Staden, feito prisioneiro pelos índios tupinambás; e (d) os índios tupinambás – adeptos do canibalismo. Para a caracterização que retomo aqui vou me valer da formação apositiva (d). O chamado aposto, “adeptos do canibalismo”, reescritura

“índios tupinambás”. Por esta reescrituração, pode-se dizer que este aposto determina o sentido de “índios Tupinambás”. Ou seja, a “índios Tupinambás” está atribuído o sentido de “adeptos do canibalismo”. Em outras palavras, o funcionamento das expressões apositivas se caracteriza por uma relação de reescrituração. Além deste aspecto fundamental, é preciso observar outros envolvidos no caso.

Consideramos para (i) as seguintes paráfrases:

(i.a) O primeiro é baseado no diário do viajante alemão Staden, feito prisioneiro pelos índios tupinambás no Brasil do século XVI.

(i.b) Os tupinambás são adeptos do canibalismo.

Relativamente a esta paráfrase, podemos considerar que se tomarmos o enunciado negativo (i.c), vemos que a negação em nada afeta o sentido de (i):

(i.c) O primeiro não é baseado no diário do viajante alemão (a) Staden(b), feito prisioneiro pelos índios tupinambás(c) – adeptos do canibalismo(d) – no Brasil do século XVI.

Neste caso (i) continua parafraseável por (i.a) e (i.b).

Isto quer dizer que a reescrituração apositiva se apresenta enunciativamente de modo distinto do elemento reescriturado. Poderíamos dizer que a reescrituração apositiva aparece em algo dito como pressuposto, diferentemente do reescriturado.

Por outro lado, se tomamos o modo de marcar por travessões a inserção do aposto em (d) no recorte (i), vemos que ela não se deu por algo como,

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Reescrituração tal como definido em Guimarães (2002, 2007, etc). A reescrituração é o procedimento

pelo qual a enunciação rediz o que já foi dito. Este procedimento pode se dar por repetição, substituição, expansão, condensação, elipse. E os sentidos da reescrituração podem ser de sinonímia, especificação, desenvolvimento, definição, etc.

3

No texto “A linguagem em Desmundo e Como Era Gostoso o meu Francês”, Ciência e Cultura, ano 57,

no. 2, SBPC, junho de 2005, p. 51.

(3)

(i.b’) que eram adeptos do canibalismo.

O deslize do narrado para o presente (a característica da antropofagia que está no texto em análise significada no presente, mesmo que isto não seja mais verdade) nos leva a considerar uma divisão desta enunciação em dois enunciadores (consideremos que o lugar social do locutor é o de jornalista (l-jor), já que o texto é uma “notícia” em uma revista de divulgação científica):

| E1 – (i.b) L - l-jor |

| E2 – (i.a)

Levando em conta esta divisão dos enunciadores considerei ainda que (i.b’) pode também, em certa medida, ser parafraseado por

(1.b’’) Os tupinambás, todos sabemos, são adeptos do canibalismo.

Isto me levou a considerar que E-1 é, neste caso, um enunciador genérico (Egco). Ou seja, a voz que diz (i.b) é uma voz que apresenta o que diz como algo difuso, mas do conhecimento de todos. Por outro lado, E2 é uma voz individual assumida pelo locutor.

Esta análise, que pode ser replicada, tal como mostrei em Guimarães (2011, p. x), para os outros funcionamentos apositivos do recorte (i) nos levou a caracterizar a reescrituração apositiva como apresentando sempre um desdobramento de enunciadores. No conjunto pode-se dizer que o Locutor é tomado pelo enunciador-individual que enuncia o elemento determinado da reescrituração apositiva. Tomando o caso aqui retomado, pode-se dizer que o locutor é tomado pelo enunciador individual de cujo lugar se diz (i.a), “O primeiro é baseado no diário do viajante alemão Staden, feito prisioneiro pelos índios tupinambás no Brasil do século XVI”, e a outra voz (neste caso uma voz genérica) diz (i.b) que traz a reescrituração apositiva, “adeptos do canibalismo” que determina o elemento reescriturado que está em (i.a), “os índios tupinambás”.

Ou seja, os elementos da relação apositiva se apresentam por vozes diferentes.

2. Nomes Próprios e Relação Apositiva

Partindo desta caracterização, vou então abordar a relação do nome próprio com o aposto. Para isto vou tomar os enunciados de (1) a (8) abaixo

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.

(1) Dunga xinga jornalista Alex Escobar da Globo (2) DUNGA XINGA ALEX ESCOBAR

(3) Dunga xinga Alex Escobar, Jornalista da Globo!

(4) CMI Brasil - Porque Dunga xingou o jornalista Alex Escobar (5) Porque Dunga xingou o jornalista Alex Escobar

(6) Dunga xinga jornalista da Rede Globo e pode ser punido pela Fifa ...

(7) Dunga xinga jornalista Alex Escobar (Copa 2010)

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Estes enunciados são o título de entrada da primeira página do Google no dia 25 de maio de 2012, à qual

entrei tendo digitado “Por que Dunga xingou o jornalista Alex Escobar”. Eles estão numerados pela

ordem em que os encontrei. Só não tomei dois dos enunciados, pois eles traziam elementos de outra

natureza.

(4)

(8) Por quê o Dunga xingou Alex Escobar, jornalista da globo ?

Este conjunto de enunciados traz um aspecto importante: cada um significa em acontecimentos distintos que recortam diferentemente seu passado e futuro. Em (2), por exemplo, o que está enunciado significa um conhecimento estabelecido a respeito de quem são Dunga e Alex Escobar, e rememora e projeta sentidos sobre a relação imprensa - técnico da seleção brasileira masculina de futebol. Já os enunciados (1), (3), (4), (5), (7) e (8) recortam este passado diferentemente, minimamente porque relacionam “Alex Escobar” e “Jornalista”.

Começo pelos enunciados (1) e (3). Em ambos encontramos uma relação que vou representar como N/N, em que a barra representa uma articulação de elementos de mesma natureza que não estão nem coordenados nem subordinados. A isso se costuma chamar de aposto, de relação apositiva. O que encontramos de saída é que em (1) há uma relação nome comum / nome próprio (N/Npr), em (3) temos o inverso, Npr/N. Uma relação semelhante à de (1) aparece também em (4), (5) e (7) e semelhante a (3) em (8). Neste último caso trata-se de uma pergunta. Em (2) a relação apositiva não existe (com a presença só do nome próprio) e em (6) também não (mas só com a presença de um nome comum).

Pela caracterização feita acima na seção 1, consideramos que a relação apositiva é um reescrituração que se dá em contiguidade. Tomemos os dois enunciados que vou observar de modo mais específico a seguir:

(1) Dunga xinga jornalista Alex Escobar da Globo.

(3) Dunga xinga Alex Escobar, jornalista da globo!

Em (1) “Alex Escobar” substitui “Jornalista” particularizando-o. Em (3) há uma reescrituração por expansão e especificação explicativa

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.

Em relação a esses enunciados há dois que apresentam uma diferença, (2) e (6). Em ambos não há a relação apositiva até aqui indicada. Em (2) aparece uma predicação incidindo sobre a dupla “Dunga, Alex Escobar” e em (6) sobre a dupla “Dunga, Jornalista”. Assim podemos nos perguntar que diferença podemos mostrar entre (2), de um lado, e (6) de outro, e os demais enunciados?

O que vai nos interessar é saber como na relação apositiva se pode considerar como os elementos envolvidos na reescrituração significam e em que medida podem ser considerados como atribuindo sentido. Ao que tudo indica pode haver diferença entre um aposto na forma N/Npr e Npr/N relativamente a um aposto da forma Ni/Nj (só com nomes comuns), tal como o que apresentamos na seção 1. Retomemos os enunciados

(1) Dunga xinga jornalista Alex Escobar da Globo (3) Dunga xinga Alex Escobar, Jornalista da Globo!

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Em Guimarães (2007) tratei estes dois modos de reescrituração como igualmente especificadores. Mas

julgo que esta diferença (particularização, especificação) se mostra necessária e é parte do que melhor

interpreta o funcionamento das relações apositivas aqui em análises.

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Nestes dois casos temos que observar que a relação de aposição pode ser de Alex Escobar para Jornalista ou de Jornalista da Globo para Alex Escobar. Trata-se, então, de uma relação que pode ser ou N/Npr ou Npr/N. As duas formas de enunciar estão presentes.

Tomada esta relação como uma reescrituração poderíamos pensar, no caso de (3), numa relação de determinação (atribuição de sentido) como Jornalista ┤Alex Escobar

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. Para (1), poderíamos inicialmente pensar que Alex Escobar ┤Jornalista. Esta última relação, no entanto, tem uma diferença em relação à de (3). Trata-se, para o caso de (1) de uma reescrituração por particularização, diferente de (3) em que o aposto expande e explica o nome próprio.

A particularização da reescrituração pode ser considerada como ligada ao funcionamento específico do nome próprio. Para nós, Como dissemos em Semântica do Acontecimento (2002, p. 41-42), o agenciamento da enunciação de nomeação de alguém, por um nome próprio, estabelece uma relação de inseparabilidade do nome e da pessoa nomeada pelo vínculo do acontecimento que nomeia à pessoa nomeada

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. E este vínculo se projeta para todas as enunciações futuras do nome, é um futuro para sempre próprio do acontecimento da nomeação. É esta futuridade que acompanha todo funcionamento de um nome próprio, e dá a ele esta capacidade particularizadora.

Voltemos à análise do que faz a reescrituração em (1), levando em conta o caráter simétrico do funcionamento das reescriturações

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. O caráter simétrico da reescrituração significa que se a reescritura b, então b reescreitura a. Isto significa que se Alex Escobar reescritura jornalista, por particularização, jornalista reescritura Alex Escobar, e neste caso por uma expansão explicativa. Deste modo, se consideramos que em (3) Jornalista ┤Alex Escobar, também podemos considerar esta determinação para o enunciado (1).

Podemos considerar que tanto em (1) como em (3) observa-se que “jornalista” atribui sentido a “Alex Escobar”. Ou seja, no caso de se ter Npr/N ou N/Npr a reescrituração enquanto relação simétrica, se dá nas duas direções, se em (1) Npr reescritura N, então N reescretura Npr, e em (3), se N reescritura Npr, então Npr reescritura N. Deste modo nos dois casos tem-se uma reescrituração por particularização e uma reescrituração por expansão explicativa. Pode-se, então, considerar que, em ambos os casos, Npr recebe a determinação de N, pela relação explicativa. E isto permite considerar, tal como dissemos acima, que Jornalista ┤Alex Escobar, em ambos os casos.

No caso de uma relação apositiva como a de (i) anteriormente apresentada, podemos considerar que a relação de expansão explicativa se dá tanto se consideramos que Nj reescritura Ni quanto se consideramos que Ni reescritura Nj. Isto nos leva a observar que, no caso do

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┤significa determina, atribui sentido a.

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Podemos pensar que este vínculo também se dá, igualmente, em outras condições de nomeação de algo por um nome próprio: o nome de uma cidade (estabelecido pelo um lugar social do Estado, por exemplo);

O nome de um País, o nome de um rio, etc. Estará sempre envolvido, nestes casos, um agenciamento enunciativo específico que vincula o nome a algo e projeta um futuro de enunciações pela quais se falará do nomeado pelo nome a ele atribuído.

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Sobre isso ver Guimarães (2009).

(6)

aposto, o funcionamento do nome próprio, dada a especificidade da relação com a enunciação que nomeia, traz uma diferença em relação ao nome comum.

Tal como vimos anteriormente as relações apositivas envolvem outros aspectos. Para avançar vamos retomar (3). Para este enunciado podemos considerar a seguinte paráfrase:

(3a1) Alex Escobar é jornalista da Globo.

(3a2) Dunga xinga Alex Escobar.

Se consideramos agora

(3’) Dunga não xinga Alex Escobar, jornalista da Globo (3’’) Dunga xinga Alex Escobar, jornalista da Globo?

Observamos que estes possíveis enunciados, tal como (3) mantêm o sentido que está em (3a1). Isto nos leva à hipótese de que (3a1) é um pressuposto em (3), e pode ser tratado pela consideração de que em (3), (3a1) se apresenta da perspectiva de um Enunciador genérico (que inclui o locutor)

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, ao passo que (3a2) se apresenta de um lugar de dizer individual (Eind) assumido pelo locutor.

Tomemos agora o enunciado (1). Neste caso teríamos as seguintes paráfrases:

(1a1) Alex Escobar é jornalista

(1a2) Dunga xinga Alex Escobar da Globo.

Aqui também podemos considerar algo como

(1’) Dunga não xinga jornalista Alex Escobar da Globo (1’’) Dunga xinga jornalista Alex Escobar da Globo?

Tal como para (3), se consideramos (1’) e (1’’), observamos que (1a1) se mantém em ambos. Podemos então fazer a mesma hipótese feita para (3a1), (2a1) é um pressuposto em (1).

Se consideramos este aspecto nos enunciados:

(2) Dunga xingou Alex Escobar

(6) Dunga xinga jornalista da Rede Globo e pode ser punido pela Fifa.

temos:

(2’) Dunga não xingou Alex Escobar (2’’) Dunga Xingou Alex Escobar?

e

(6’) Dunga não xinga jornalista da Rede Globo [e não pode ser punido pela Fifa]

(6’’) Dunga Xinga jornalista da Rede Globo e pode ser punido pela Fifa?

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A respeito do funcionamento do pressuposto nesta perspectiva ver Ducrot (1984, p. 216-217).

(7)

Relacionemos (2’ e 2’’) e (6’ e 6’’) com

(1’)Dunga não xinga Jornalista Alex Escobar da Globo (1’’)Dunga xinga Jornalista Alex Escobar da Globo?

e com

(3’) Dunga não xingou Alex Escobar, Jornalista da Globo.

(3’’) Dunga xingou Alex Escobra, Jornalista da Globo?

O que encontramos em (1) e (3) não se encontra dito nem em (2) nem em (6). Por outro lado este sentido, além de se apresentar em (1) e (3), mantém-se em (1’) e (1’’) assim como em (3’) e (3’’). Este sentido, com as especificações próprias a cada caso, se mantém, além de para (1) e (3) para o conjunto de enunciados acima, exceto para (2) e (6). Isso mostra que a relação apositiva está também envolvida na articulação de pressuposição em (1) e (3), assim como para os demais enunciados, exceto (2) e (6).

Conclusão

Quanto ao funcionamento semântico do aposto, precisamos levar em conta que na relação apositiva se sobrepõem dois aspectos: de um lado há a reescrituração apositiva que atribui o sentido de um termo sobre o outro, de outro lado tem-se uma articulação de pressuposição

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, que nos enunciados considerados se apresenta pela relação de contiguidade do aposto com o elemento que reescritura. De um lado temos jornalista ┤Alex Escolbar e de outro temos os pressupostos (1a1) Alex Escobar é jornalista e (3a1) Alex Escobar é jornalista da globo. Estamos diante de uma co-existência, de uma polissemia produzida pela sobreposição de uma reescrituração apositiva e uma pressuposição. E não se trata de dizer que a determinação explicaria a pressuposição ou o inverso. Isto porque as reescriturações que levam à consideração de que um elemento a determina b (a ┤b) não recobre o que está afirmado ou pressuposto. Ou seja, trata-se de uma sobreposição e não de um recobrimento.

De outra parte temos que considerar, pelo sentido diferente das reescriturações, NPr reescritura N e N reescritura NPr, que o nome próprio se apresenta como vinculado ao objeto que nomeia. Este vínculo, tal como vimos, se dá pela própria relação de nomeação, que se projeta como futuridade, de um locutor-pai, com aquele que é nomeado. Por outro lado, dado o que acabamos de ver nas nossas análises, o sentido do nome próprio não é nem o modo de apresentar um objeto nem o resultado dos modos de se referir a um objeto que o nome próprio denota. No ponto mesmo em que encontramos esta diferença temos que levar em conta que o nome próprio tem sentido e que este é constituído enunciativamente por relações de linguagem, reescriturações, por exemplo, que no nosso exemplo atribuem o sentido de jornalista ao nome Alex Escobar. E não se pode também deixar de considerar que, nos exemplos analisados, Alex Escobar particulariza jornalista, ou seja, lhe atribui sentido.

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Distingo os procedimentos de reescrituração dos de articulação, sobre isso ver, por exemplo, Guimarães

(2002, 2009, 2011).

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Assim, no próprio funcionamento que parece reduzir o nome próprio a sua referência, encontramos uma atribuição de sentido sobre o nome próprio, indicando que a história de enunciações de um nome próprio constitui seu sentido.

Esta análise nos permite, por outro lado tomar uma posição na discussão sobre os sentidos dos nomes próprios. Sem entrar aqui na discussão mais específica, já que este não é nosso objetivo hoje, podemos dizer que a observação da reescrituração apositiva sustenta a posição segundo a qual o nome próprio significa, pois no processo enunciativo podemos observar isso de maneira muito específica, o Npr recebe uma atribuição de sentido na relação apositiva. Por outro lado, tratar as questões, tal como aqui fizemos, exige uma rediscussão das posições referencialistas envolvidas neste debate a partir de um outro lugar.

Bibliografia

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Ducrot, O. Le dire et le dit. Campinas: Pontes, 1987.

Frege, G. “Sobre o Sentido e a Referência”. In Lógica e Filosofia da Linguagem. São Paulo:

Cultrix/Edusp, 1978[1892].

Guimarães, E. Semântica do Acontecimento. Campinas: Pontes, 2002.

Guimarães, E. “Domínio Semântico de Determinação”. In Palavra: Forma e Sentido.

Campinas: Pontes – RG, 2007.

Guimarães, E. “Enumeração: funcionamento enunciativo e sentido”. Cadernos de Estudos Linguísticos, 51 (1). Campinas DL, IEL, Unicamp, 2009.

Guimarães, E. (2011) “Em torno de um nome próprio de cidade. Sobre a Produção de uma origem. Cadernos de Estudos Linguísticos, 53 (2). Campinas, DL, IEL, Unicamp

Kleiber, G. Nominales. Essais de sémantique référentielle. Paris: Armand Colin, 1994.

Mill, S. Système de logique déductive et inductive. Exposé des principes de la preuve et des méthodes de recherche scientifique. Paris: Ladrange, 1896[1843].

Searle, J. “Proper Names”, Mind, 67, 1958.

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Referências

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