• Nenhum resultado encontrado

ARTIGO DECISÃO DO STF SOBRE O NOVO CÓDIGO FLORESTAL ENFRAQUECE A COTA DE RESERVA AMBIENTAL (CRA)

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ARTIGO DECISÃO DO STF SOBRE O NOVO CÓDIGO FLORESTAL ENFRAQUECE A COTA DE RESERVA AMBIENTAL (CRA)"

Copied!
2
0
0

Texto

(1)

ARTIGO

DECISÃO DO STF SOBRE O NOVO CÓDIGO FLORESTAL ENFRAQUECE A COTA DE RESERVA AMBIENTAL (CRA)

A decisão final do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre quatro ações diretas de

inconstitucionalidade e uma ação direta de constitucionalidade em face da Lei nº 12.651/2012, que instituiu o novo Código Florestal, manteve os principais pilares da lei e abriu caminho para a sua implementação, passados quase seis anos da sua publicação. Entretanto, com relação à Cota de Reserva Ambiental (CRA), ainda há uma incoerência importante.

O novo Código Florestal inovou ao combinar a adoção de instrumentos de controle ambiental e monitoramento do desmatamento com instrumentos econômicos, para um uso da terra e gestão do território mais eficientes. Dentre esses instrumentos, a CRA foi instituída pelo novo Código Florestal para a regularização ambiental de Reserva Legal de imóveis rurais e encontra- se em processo de regulamentação pelo poder executivo federal

1

. A principal função da CRA é servir como mecanismo de compensação de Reserva Legal, isto é, permitir que proprietários que possuam passivo de Reserva Legal fiquem em conformidade com a lei, a um menor custo, e, ao mesmo tempo, recompensar quem preserva vegetação nativa acima dos percentuais exigidos pela lei. Assim, quem tem vegetação excedente pode emitir CRA, e quem tem déficit de Reserva Legal pode compensá-lo comprando CRA de imóveis rurais situados no mesmo bioma. Todos os onze ministros do STF julgaram pela constitucionalidade do artigo 44, que criou a CRA, o que demonstra o grau de relevância deste novo instrumento.

A CRA não é o único mecanismo de compensação de Reserva Legal. A lei prevê outras três formas de compensação: o arrendamento de área sob regime de servidão ambiental; a doação ao poder público de área localizada no interior de Unidade de Conservação de domínio público pendente de regularização fundiária; e o cadastramento de uma área equivalente em outro imóvel do mesmo proprietário. Entretanto, a CRA tem gerado muita expectativa em relação ao seu potencial para a regularização ambiental de Reserva Legal de milhares de propriedades, por ter, a princípio, um procedimento mais simples e um menor custo do que as demais formas de compensação.

O novo Código Florestal adotou o critério do bioma para fins de compensação da Reserva Legal, porém este critério foi objeto de impugnação perante a suprema corte em dois dispositivos: o parágrafo 2º do artigo 48 e o parágrafo 6º do artigo 66. O problema é que a decisão final do STF em relação a estes dois dispositivos foi incoerente.

Com relação ao parágrafo 2º do artigo 48, o qual dispõe que a CRA só pode ser utilizada para compensar Reserva Legal de imóvel rural situado no mesmo bioma, os ministros consideraram que o critério do bioma é muito abrangente e decidiram pela interpretação conforme a

1  Chiavari, J. e Lopes, C. Cota de Reserva Ambiental: Melhor Opção para Compensar Reserva Legal? Análise para Política Pública, INPUT/

CPI, Julho/2017. Disponível em: https://goo.gl/aYXbys

1

(2)

Constituição, de modo a permitir o uso de CRA para a compensação de Reserva Legal apenas entre áreas com identidade ecológica.

Entretanto, o parágrafo 6º do artigo 66, que também dispõe sobre o critério do bioma para fins de compensação de Reserva Legal, foi considerado constitucional pela maioria dos ministros.

O parágrafo 6º do artigo 66 faz referência a todas as formas de compensação descritas no parágrafo 5º do mesmo artigo, entre as quais se inclui a aquisição de CRA.

O resultado deste julgamento para o futuro da CRA é ainda incerto. De um lado, pode-se considerar que o critério para a compensação de Reserva Legal por meio da aquisição de CRA está indefinido, pois em um dispositivo o STF adotou o critério da identidade ecológica e, em outro, validou o critério do bioma. Por outro lado, se a lei for interpretada de acordo com o critério da especialidade (que prevê a aplicação da regra mais específica em caso de conflito de normas), será empregado o critério da identidade ecológica apenas para a compensação de Reserva Legal por meio de CRA, permanecendo o critério menos restritivo do bioma para as demais formas de compensação.

Qualquer uma destas opções traz um futuro de insegurança com relação ao mercado de CRA. A indefinição do critério de compensação acarretará muitas dúvidas em sua aplicação pelos produtores rurais e órgãos ambientais. Ao passo que a adoção do critério da identidade ecológica poderá enfraquecer o mercado de CRA, já que as demais alternativas para compensar Reserva Legal possuem um critério de aplicação menos restrito. Cabe ainda ressaltar que não existe um consenso sobre a definição do termo “identidade ecológica”, o que gera insegurança e discricionariedade dos órgãos ambientais estaduais para a interpretação deste conceito. Tendo em vista a importância que se atribui à CRA para a regularização ambiental das propriedades rurais, era de ser esperar um resultado mais promissor para o futuro deste mecanismo.

Joana Chiavari

Climate Policy Initiative (CPI) & Núcleo de Avaliação de Políticas Climáticas da PUC-Rio (NAPC/PUC-Rio) joana.chiavari@cpirio.org

Cristina Leme Lopes

Climate Policy Initiative (CPI) & Núcleo de Avaliação de Políticas Climáticas da PUC-Rio (NAPC/ PUC-Rio) cristina.leme@cpirio.org

AUTORAS

O projeto Iniciativa para o Uso da Terra (INPUT) é composto por uma equipe de especialistas que trazem ideias inovadoras para conciliar a produção de alimentos com a proteção ambiental. O INPUT visa avaliar e influenciar a criação de uma nova geração de políticas voltadas para uma economia de baixo carbono no Brasil. O trabalho produzido pelo INPUT é financiado pela Children’s Investment Fund Foundation (CIFF), através do Climate Policy Initiative (CPI).

Comunicação Mariana Campos

mariana.campos@cpirio.org

Março/ 2018

www.inputbrasil.org

Citação Sugerida

CHIAVARI, Joana; LOPES, Cristina Leme. Artigo. Decisão do STF sobre o novo Código Florestal enfraquece a Cota de Reserva Ambiental (CRA). Rio de Janeiro: Climate Policy Initiative, 2018.

2

Referências

Documentos relacionados

Assim, caso o Ministro Celso de Melo confirme o critério da identidade ecológica para compensação de Reserva Legal por meio de CRA (artigo 48, §2º), todas as demais formas

Proprietários e possuidores rurais que se enquadrem no regime especial, isto é, que desmataram ilegalmente a vegetação em APP e Reserva Legal antes de 22 de julho de 2008,

Landowners in the special regime, who illegally clear-cut Permanent Preservation Areas and Legal Forest Reserve prior to July 2008, must comply with the Forest Code but are

O cenário modelado de mudança no uso da terra até 2030, não somente demonstra a viabilidade da expansão agrícola sem novos desmatamentos, mas também o potencial para

Os pacientes foram randomizados dentro de 12 horas a 10 dias após o inicio dos sintomas de infarto do miocárdio em um dos três grupos de tratamento: valsartana (titulada a partir

É preciso, no entanto, dar voz e expressão aos gru- pos sociais que defendem o meio ambiente como direito fundamental ligado ao direito à vida e, assim, buscar reo- rientar o uso

Num cenário em que a área desse pequeno proprietário não é economicamente sustentável, ou seja, seu modo de produção, além de causar impacto negativo para o meio

Portanto, é um contrassenso ineren- te às democracias a aprovação de um Có- digo Florestal que permite a efetiva redução das Reservas Legais, uma vez que autoriza a