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Dos objetivos da linguística de texto à articulação textual: a busca pela coerência do texto e do ensino de língua materna

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Academic year: 2018

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Texto

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Vanessa NETO DO NASCIMENTO

Dos objetivos da linguística de texto à articulação

textual: a busca pela coerência do texto e do ensino

de língua materna

Vanessa NETO DO NASCIMENTO1

Resumo: O presente trabalho objetiva fazer uma relexão acerca dos objetivos da linguística de texto, de uma maneira geral, para o campo de ensino de língua materna, procurando analisar os elementos de coesão sequencial e sua inluência na progressão do texto, a partir do estudo de alguns operadores argumentativos e das relações de sentido estabelecidas pelo não uso desses articuladores, em textos escritos. Tudo isso, claro, atrelado a uma perspectiva de ensino de que muitos teóricos falam, a qualmuitos professores seguem: o funcionalismo. A pesquisa também propõe um repensar sobre o ensino de língua materna e enfatiza o conceito de coesão e coerência muito além da estrutura supericial, priorizando o que “por trás” está de qualquer ato de comunicação-aqui restrito ao verbal. Para isso, respaldamo-nos nos estudos de autores como Beaugrande & Dressler (1981)e Koch (2007), entre outros que serão citados no decorrer do texto. Para análise, escolhemos o texto Felicidade, de Fernando Bastos de Ávila, e uma notícia de jornal publicada na Folha de S. Paulo. O resultado permitiu-nos concluir que os articuladores carregam fatores culturais, históricos e sociais, que são decisivos na construção do(s) sentido(s) do texto. Também concluímos que o não uso desses articuladores pode estabelecer sentido. Tudo depende de fatores extralinguísticos.

Palavras-chave: coesão; coerência; linguística textual.

Abstract: This paper aims to relect on the goals of linguistic text, in general, to the ield of language teaching, by analyzing the sequential elements of cohesion and its inluence on the progression of the text, focusing on the study some argumentative operators and relations of meaning established by not using these connectors. All this, of course, tied to a teaching perspective that many theorists speak, which many teachers, thanks to the inluence of applied linguistics, follow. The research also proposes a rethinking of the teaching of language and emphasizes the concept of cohesion and coherence beyond the surface structure, prioritizing what “behind” is any act of communication, here restricted to the verbal. For this, this work is based on the studies of authors such as Beaugrande& Dressler (1981) and Koch (2007), among others that will be cited during the text. For analysis, we selected the text entitled “Felicidade”, by Fernando Bastos de Ávila, and a newspaper matter published in “Folha de São Paulo”. The results led us to conclude that the connectors carry some social, historic and cultural factors which are decisive to the meaning of the text. We also concluded that the no use of these connectors can lead to the meaning construction. It will depend on the extralinguistic factors.

Keywords: cohesion; coherence; textual linguistics.

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Introdução

Diante do suporte prático dado pela linguística de texto, bastante discutida no universo de língua, é notoriamente desnecessário airmamos o velho dito “não existe ensino de língua sem textos”. Considerando o texto como um produto que nunca está pronto, é interessante analisar seus constituintes, como o uso dos conectores facilitadores da construção do sentido, um dos objetivos deste presente trabalho.

A coesão, incorporada pela linguística de texto, está atrelada à coerência, visto que o uso da primeira facilita a presença da segunda. Como dissemos, facilita, não sendo, portanto, condição essencial para que haja textualidade. Um texto coeso tende a ser mais claro porque as partes articuladas pelos elementos facilitam a leitura e, por conseguinte, a compreensão. Assim, é objetivo desta pesquisa fazer uma relexão sobre o uso dos conectores e mostrar, esperamos, de forma clara e sucinta, como esse uso pode ser determinante do sentido, enfatizando a importância do conhecimento de mundo, que também é fundamental para a compreensão textual. Além disso, também procuramos reletir sobre o ensino de língua e suas transformações ao longo do tempo, objeto de discussão da primeira parte deste trabalho.

O ensino de língua materna e suas transformações

Por muito tempo, o ensino do Português foi focado no estudo da gramática normativa, desprezando-se as diversas manifestações que a linguagem assume, como o fenômeno das variações. Desse modo, acreditava-se que o ensino do Português deveria ser o do padrão, normativo, uma vez que só se falava e se escrevia bem, se a gramática fosse o centro dos estudos. Entretanto, foi-se percebendo que os alunos que dominavam a gramática não necessariamente dominavam textos.

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equívocos quanto a esta colocação: o primeiro é pensar que escrever muito é sinônimo de texto. As palavras não existem para estarem “soltas”, a esmo. Elas exigem um aparato maior, profundo, que é a conhecida contextualização. O segundo equívoco é acreditar que, se escrever é sinônimo de produção de texto, é porque o aluno sabe usar a gramática.

Texto e gramática são quase “a mesma coisa”. Quase. O percurso da gramática pode nos esclarecer melhor quanto a isso.

O termo “gramática” é de origem grega e se apresenta como um instrumento regularizador da língua. Como ela passa por transformações, cabe à gramática registrá-las. Este conceito nos leva a perceber que não existe um modelo ideal de gramática, tampouco acreditar que ela é sinônimo de língua. A língua é maior que a gramática. Ela não “cabe” na gramática.

Toda língua, é claro, pressupõe um uso, mas alguns usos nem sempre são acatados pela gramática normativa. Como a escola prioriza o ensino do padrão, a gramática normativa ganha destaque e acaba “roubando” o lugar das outras. A gramática que prioriza também os usos é aquela que parte da vertente funcionalista e compartilha da posição da sociolinguística, que airma que o erro é variável com o tempo. Em outras palavras, para a língua, não há erros.O ensino da língua não pode se circunscrever apenas à transmissão de uma única vertente linguística, pois, como dissemos, a língua não “cabe” na gramática e esta não é ou não deveria ser o centro do estudo. Dissemos “o centro”, pois ela é imprescindível ao ensino, uma vez que há situações que exigem formalidade, há outras que não.

E o que mudou hoje com relação ao ensino? Podemos dizer que a principal transformação foi com relação ao tratamento do texto. O surgimento da semântica e da pragmática corroborou para dar a ele o estatuto de centro no ensino de língua, reiterando o dito quase clichê de que falamos anteriormente: “Não existe ensino de língua sem textos”.

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Entrepalavras

A linguística textual como suporte de ensino

Muito do que se vê hoje em sala de aula é consequência da contribuição que a Linguística Textual, via Linguística Aplicada, vem dando ao ensino de Língua Portuguesa, notadamente nas últimas décadas. A Linguística Textual, priorizando a importância de se trabalhar com textos, uma vez que eles permitem trabalhar com o “jogo de ideias”, e não necessariamente com análise da estrutura da língua, em muito contribui para uma proposta de ensino que vê o texto (unidade maior de sentido) e não mais a palavra ou a sentença (unidades menores), como objeto de ensino. Por meio de teorias que trabalham com o texto, foi possível mostrar que o encadeamento de palavras nem sempre pode ser considerado texto. Esta airmação é comprovada em diversas produções textuais nas quais se vê um aglomerado de palavras sem sentido, ou também numa simples análise das aulas de gramática.

Por muitos anos, precisamente nos primeiros momentos da linguística textual no Brasil, o ensino de língua adotou uma perspectiva de ensino voltada à retirada de algumas passagens de texto com o objetivo de fazer análise morfossintática e/ou sintática, desprezando-se, assim, as ideias do texto. Ou seja, não importava o texto em sua função, em sua magnitude maior, mas a análise das palavras descontextualizadas. A importância da linguística de texto está no fato de que nem todos os fenômenos da língua são descritos pela gramática, como a correferência. Ele pertence a um universo complexo, dotado de manifestações e estruturas que vão além das supericiais. O texto é, em sua essência, o resultado de ações cognitivas, interacionais e linguísticas. Em suma, texto é ação, assim como a língua. Para que qualquer sentença seja vista como um texto, é preciso que ela tenha uma característica que se manifesta através dele mesmo: textualidade. Este é o princípio fundamental para que qualquer ato de comunicação seja um texto. Como um produto que nunca está pronto, é possível (re)construir vários sentidos.

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Situando a noção de coesão e coerência

Como expusemos anteriormente, o texto é o resultado do agir cognitivo, interacional e linguístico. Em sua estrutura é composto por elementos que lhe dão progressão, fazendo retomada de sentido ou de elementos textuais, estes mais conhecidos como referentes textuais.

Com essa articulação, é possível construir textualidade ou coerência. O texto em si só adquire sentido se o que é dito é entendido pelo leitor, por isso a coerência está ligada diretamente ao conhecimento de mundo por parte de quem recebe a mensagem. Koch (2006) airma que ela é ligada ao princípio de interpretabilidade, ligada ao cálculo que o leitor faz na busca pelo sentido: “Este sentido, evidentemente, deve ser do todo, pois a coerência é global.” (KOCH, 2006, p. 21). Dos sete critérios de textualidade postulados por Beaugrande & Dressler(1981), a coesão e a coerência são os mais relevantes. Segundo os citados autores, a coesão é o modo como os componentes da superfície textual (palavras e frases) encontram-se conectados entre si numa sequência linear, por meio de dependências de ordem sintática. Marcuschi (1983) consolida essa airmação ao dizer que a coesão é uma “espécie semântica da sintaxe estrutural”, ou seja, adquire existência pela relação de sentido em consonância com elementos estruturais que compõem um texto. Conforme visto, podemos tecer uma relação direta entre coesão e coerência no sentido de aquela facilita esta.

Semelhanças à parte, é preciso delimitar a diferença entre esses dois fatores de textualidade. Um texto, para ser considerado tal, não precisa necessariamente de elos coesivos explícitos. É o caso do seguinte texto:

Texto 1

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Entrepalavras

Neste texto, só é possível fazer o cálculo de sentido se o interlocutor tiver o conhecimento sobre o cenário político do Brasil, principalmente no que se passa em Brasília, sede do Congresso Nacional. O texto composto, aparentemente, por frases soltas, é, em alguns, casos, um recurso de intencionalidade-como tudo o que se passa na linguagem. Embora não esteja articulado, ele tem sentido, pois seu conteúdo faz parte de nossa realidade, o que facilita a construção da imagem do referente tratado. A coerência, então, se realiza no âmbito extralinguístico.

A coesão facilita o entendimento, pois os conectores responsáveis pela articulação dão ao texto, conforme dissemos, no decorrer do trabalho, mais clareza e, por isso, a busca pelo sentido ica mais fácil, entretanto, o fato de um texto não ser coeso não signiica dizer que ele é incoerente, conforme vimos no texto (1).

A coesão sequencial e a progressão do texto

Como recurso articulador entre frases, palavras e/ou parágrafos, a principal contribuição da coesão no estudo do texto é a capacidade que ela tem de unir uma ideia a outra, fazendo com que a rede de interação entre os interlocutores seja tecida.

Os articuladores textuais ou operadores argumentativos, objeto de análise deste trabalho, são os conectores responsáveis pelo encadeamento de natureza sintática, semântica e pragmática. Para elucidar esta parte teórica, passemos para a prática, com a análise do seguinte enunciado:

(1) Patrícia foi à escola, embora estivesse doente.

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(2) Patrícia foi à escola. Estava doente.

Mas, independentemente de articulação, o requisito fundamental para que o texto tenha existência é a coerência. Sem ela, não se constrói nada além de palavras “jogadas”, sem função alguma.

Análise

Para tecer nossa análise, nos baseamos no texto Felicidade, de Fernando Bastos de Ávila, extraído de um site. A escolha pelo texto e pelo site foi intencional, uma vez que se trata de um texto bem articulado e de um site com um grande acervo composto por textos de reconhecida qualidade. Passemos, então, à análise.

Texto 2 Felicidade

A felicidade é aquilo que todos buscam, adotando, porém, caminhos diversos para alcançá-la. Uns imaginam encontrá-la através das riquezas, porque supõem que com dinheiro tudo se compra e que a felicidade é uma mercadoria como outra qualquer. A verdade, porém, é que há muitos ricos que morrem de tédio, e que as mais altas taxas de suicídio se registram nos países e nas camadas mais ricas.

Outros, imaginam encontrar a felicidade na aluência de prazeres; desde os mais altos prazeres do espírito, o prazer da descoberta e da criação intelectual, o prazer estético, até os prazeres que mais de perto coniam com a animalidade: a sexualidade e a glutoneria. Outros, enim, esperam alcançá-la na fruição da honra, do prestígio que acompanha, em geral, o exercício do poder.

No entanto, é certo que o dado mais conirmado na experiência e da sabedoria humana é este: a felicidade, no seu sentido pleno, é inatingível na Terra. Na melhor das hipóteses, quando o homem, mediante os mais penosos esforços, conquistou o poder, os prazeres ou a riqueza, nos quais cria encontrar a chave da felicidade, atingiu já o início de um período de senescência que lhe limita as possibilidades subjetivas de fruição daquilo que ambicionara. Aí reside o que poderíamos chamar o paradoxo ou o equívoco fundamental da felicidade: sempre desejada e nunca realizável.

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articulado desta maneira: Todos buscam a felicidade, mas ela é inalcançável. Desse modo, vemos, pela leitura do texto, que felicidade está ligada a uma via negativa, e é isto o que o texto vai mostrar.

Após uma breve análise sobre o título e partindo para o objetivo deste trabalho, é interessante notar o “jogo” de sentido feito pelos articuladores textuais logo nas primeiras linhas do primeiro parágrafo:

(3) “A felicidade é aquilo que todos buscam, adotando, porém, caminhos diversos para alcançá-la(...)”.

A presença do conector destacado estabelece relação de oposição por causa da presença da ideia que todos passa, uma vez que generaliza. Se todos buscam determinada “coisa”, é porque todos vão trilhar o mesmo caminho, entretanto não é o que vemos quando lemos o fragmento (3). Com relação à presença dos articuladores, é interessante notar que seus valores são de natureza cognitiva, pois a inferência é estabelecida através de fatores sociais, culturais e históricos, os quais já estão internalizados em nossa bagagem de mundo. Essa cognição é um conjunto de estratégias mentais próprias do ato de compreender.

Sendo assim, um fragmento como Todos concordaram com a demissão daquele funcionário, cognitivamente falando, traz a ideia de que todos, sem exceção, não darão nenhuma chance ao funcionário que fora demitido, e que o fato de ser demitido não nos faz pensar, instantaneamente, na possibilidade de uma nova chance pedida pelo ex-funcionário. Porém, o uso do articulador “quebra” a expectativa construída. É o que se veriica em “(...) mas mesmo assim, ele pediu uma nova chance”. Ou seja, são quase incompatíveis a ideia de ser demitido e a de pedir uma nova chance. As ideias, então, são opostas, por isso o valor opositivo da sentença.

Em se tratando da construção dos sentidos, é importante notar a distinção entre cotexto e contexto. Segundo Kleiman (2002), o cotexto é a própria estrutura supericial, ou seja, são as palavras que tecem o texto. Já o contexto é o que por “trás” está do texto; é o conjunto de fatores que levam ao estabelecimento do(s) sentido(s), sendo esses fatores, como fora airmando anteriormente, de ordem social, cultural e histórica.

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passemos, agora, para a análise dos períodos subsequentes:

(4) “(...) Uns imaginam encontrá-la através das riquezas, porque supõem que com dinheiro tudo se compra e que a felicidade é uma mercadoria como outra qualquer. A verdade, porém, é que há muitos ricos que morrem de tédio, e que as mais altas taxas de suicídio se registram nos países e nas camadas mais ricas (...)”.

Analisando o fragmento (4), constatamos que o segmento “(...) uns imaginam encontrá-la através das riquezas, porque supõem que com dinheiro tudo se compra (...)” traz uma relação de explicação, uma vez que o autor justiica o motivo de alguns imaginarem que a felicidade é conquistada através do dinheiro. A ideia de alguns acreditarem que o dinheiro é capaz de comprar tudo é adicionada à ideia “(...) e que a felicidade é uma mercadoria como outra qualquer (...)”. Notamos que essa adição foi estabelecida porque trata de fatos que têm o mesmo campo semântico: as palavras comprar, tudo, dinheiro, felicidade

e mercadoria fazem parte, neste contexto, de um mesmo universo, pois a ideia veiculada é a de que o dinheiro é comparado a uma mercadoria. Mais uma vez, é o aspecto cognitivo o responsável por tecer essa rede semântica. Dizer Uns imaginam encontrar a felicidade através da riqueza, em nosso aparato cognitivo, é o mesmo que entender que tudo que foi comprado se transformará em alegria, em felicidade. Talvez, em um outro contexto, felicidade e riqueza não “se combinem”, consequentemente, não farão parte do mesmo campo semântico. O campo semântico é deinido pelo contexto em que o texto está inserido. Com relação ao fragmento:

(5) “(...) é que há muitos ricos que morrem de tédio, e que as mais altas taxas de suicídio se registram nos países e nas camadas mais ricas(...)”

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contexto,fazem parte do mesmo campo semântico de suicídio.

O terceiro parágrafo começa com a expressão No entanto, que revela não só uma relação de oposição com o segundo parágrafo, mas com o primeiro também. Isto porque os dois primeiros parágrafos revelam casos de pessoas que acreditam que conquistarão a felicidade através das riquezas, do poder e dos prazeres, enquanto que o terceiro parágrafo prima pela oposição a essas concepções. Vejamo-lo:

(6) “(...) No entanto, é certo que o dado mais conirmado na experiência e da sabedoria humana é este: a felicidade, no seu sentido pleno, é inatingível na Terra. Na melhor das hipóteses, quando o homem, mediante os mais penosos esforços, conquistou o poder, os prazeres ou a riqueza, nos quais cria encontrar a chave da felicidade, atingiu já o início de um período de senescência que lhe limita as possibilidades subjetivas de fruição daquilo que ambicionara. Aí reside o que poderíamos chamar o paradoxo ou o equívoco fundamental da felicidade: sempre desejada e nunca realizável”.

Nesta parte, o autor airma que a felicidade não é alcançável, contrastando, assim, com as ideias tecidas nos parágrafos anteriores. Porém, logo após fazer isso, acaba retiicando sua colocação, ao airmar que, na possibilidade de haver conquistado essa felicidade, já o homem não terá condições de aproveitá-la, uma vez que estará idoso, sem disposição, o que faz o autor denominar isto de paradoxo. Para comprovar esta airmação, utilizamo-nos da seguinte airmação:

(7) “(...) Sempre desejada e nunca realizável”.

Analisando o articulador deste fragmento, vemos que ele estabelece um valor de oposição, uma vez que desejada não implica realizável. Estas são palavras que se opõem, cognitivamente falando.

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(8) “(...) Uns imaginam encontrá-la através das riquezas, porque supõem que com dinheiro tudo se compra e que a felicidade é uma mercadoria como outra qualquer”.

(9) Outros, imaginam encontrar a felicidade na aluência de prazeres; desde os mais altos prazeres do espírito, o prazer da descoberta e da criação intelectual, o prazer estético, até os prazeres que mais de perto coniam com a animalidade: a sexualidade e a glutoneria. Outros, enim, esperam alcançá-la na fruição da honra, do prestígio que acompanha, em geral, o exercício do poder.

Acreditamos que os dois fragmentos tratam de uma repetição de ideias, porque logo na primeira linha do fragmento (8) já se constrói a ideia que se quer passar: airma-se que, para algumas pessoas, a felicidade pode ser adquirida através de dinheiro. Cabe, então, à parte da justiicativa enfatizar esse sentido. É o que é visto em “(...) porque supõem que com dinheiro tudo se compra (...)”. O segundo parágrafo adiciona sua ideia à ideia do fragmento (8), pertencente ao primeiro parágrafo, pois, nos dois, o autor cita exemplos de pessoas que buscam a felicidade de uma maneira, segundo ele, equivocada.

Em “(...) A verdade, porém, é que há muitos ricos que morrem de tédio (...)”, vemos que a ideia desta airmação é enfatizada no fragmento “(...) e que as mais altas taxas de suicídio se registram nos países e nas camadas mais ricas (...)”, tendo esses dois fragmentos a mesma inalidade: contrastar com a ideia tecida nos períodos anteriores. Como pudemos perceber, a reiteração de ideias não se dá somente entre os períodos. Dá-se, também, entre parágrafos, o primeiro com o segundo, o terceiro com o primeiro e assim por diante. O texto é uma como um tecido. E não é à toa que sua deinição provém desse termo. Um número ininito de linhas compõe uma blusa, sendo a primeira linha ligada à última e esta última às demais. Tal qual é o texto, que tem suas ideias articuladas, não importando a posição em que se encontram. Assim, consideramos que os articuladores são de fundamental importância na construção do sentido, uma vez que neles são carregados valores de ordem social, cultural e histórica. Há, por “trás” deles, valores que são reletidos na língua.

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mais claro, pois as partes que o compõem são ligadas, ou seja, uma ideia é sempre ligada à outra por meio desses conectivos. Quando um articulador é analisado, é importante perceber que seu valor é fruto do comportamento da sociedade. Sendo assim, no que concerne ao ensino, deveria o professor fazer com que seu aluno, ao escrever, estivesse atento a esses conectivos, pois sua principal função não é somente ligar palavras ou parágrafos. É ligar sentido, comportamento, concepções.

Por uma perspectiva de ensino funcionalista

Como foi exposto no decorrer do trabalho, parece um pouco redundante falar de ensino de língua através de textos. Essas ideias permeiam trabalhos acadêmicos e são alvo de discussões entre estudiosos da área. As obras dedicadas ao ramo da linguística de texto compartilham do mesmo ideal, com algumas posições distintas. Parece que os professores e até mesmo os alunos estão cansados de ler e reler a mesma concepção, mas é justamente ela que pode mudar de vez o cenário em que as aulas de língua estão imersas.

As teorias estão divulgadas, mas, por alguns motivos que não nos cabe detalhar, alguns professores deixam de pô-las em prática. Assim, vai-se tecendo a concepção de que se está ensinando outra língua, construindo outra identidade.

Porém, não se pode responsabilizar somente os professores e nem a escola pelo fracasso das aulas de língua portuguesa. O sistema governamental não prioriza a educação como elemento fundamental na formação do estudante. Se os futuros professores não têm acesso a um ensino de qualidade, provavelmente serão proissionais malsucedidos em sua formação, o que pode ser reletido no processo de aprendizagem do aluno.

Referências

AVALIAÇÃO de interpretação de textos. Análise de textos. Disponível em: <www.analisedetextos.com.br/2011/06/avaliacao-de-interpretacao-de-textos.html>. Acesso em: 03 out. 2012.

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Vanessa NETO DO NASCIMENTO

London:Longman, 1981.

KLEIMAN, A. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 8.ed.Campinas, SP: Pontes, 2002.

KOCH, I. G. V.; TRAVAGLIA, L. C.A coerência textual/ 17.ed. São Paulo: Contexto, 2006.

_______ . A coesão textual. 21. ed. São Paulo: Contexto, 2007.

LEITURA e escrita. Espaço do ensino de Letras. Disponível em:<http:// estudando.weebly.com/leitura-e-escrita.html>. Acesso em: 09 jul. 2012. MARCUSCHI, L. A. Lingüística de texto: o que é e como se faz. Recife,

UFPE/ Mestrado em Letras e Lingüística, 1983.

Referências

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