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A educação para além dos ideais neoliberais

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Academic year: 2018

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(1)

EDUCAÇÃO

CBA

E M D E B A T E

Maria do Socorro Barreto!A

A e d u c a ç ã o

p a r a a l é m

d o s

i d e a i s n e o l i b e r a i s

I

B C H - U F C

i

Resumo

o

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

p a p e l d a e d u c a ç ã o , m a i s p r e c i s a m e n t e d a e d u c a ç ã o e s c o l a r e d o p r o fe s s o r , t e m s i d o t e m a d e d e b a t e s e m

v á r i o s s e t o r e s d a s o c i e d a d e , e m d e c o r r ê n c i a d a s d i v e r s a s m u d a n ç a s o c o r r i d a s n a s o r g a n i z a ç õ e s s o c i a i s , m o t i v a d a s

p o r u m a n o v a a c o m o d a ç ã o d o c a p i t a l . E s s e fa t o i m p l i c a a d a p t a ç õ e s e m u d a n ç a s e m t o d o s oss e t o r e s s o c i a i s , i n c l u s i v e

n a e d u c a ç ã o , q u e p r e c i s a r e v e r op a p e l d a e s c o l a e a p o s t u r a d o p r o fe s s o r . Oo b j e t i v o d e s s e t r a b a l h o éfa z e r a l g u m a s r e fl e x õ e s s o b r e a s n o v a s d e m a n d a s p o l í t i c o - e c o n ô m i c a s d a s o c i e d a d e , b e m c o m o s o b r e op a p e l d a e s c o l a n o c o n t e x t o s o c i a l e a a t u a ç ã o d o p r o fe s s o r e m s a l a d e a u l a . R u a t a n t o , fa r e m o s b r e v e r e c o r t e s o b r e a l g u m a s d a s d i s c u s s õ e s q u e

fo m e n t a m os d e b a t e s s o b r e a i n fl u ê n c i a n e o l i b e r a l n a e d u c a ç ã o .

P a l a v r a s - c h a v e : s o c i e d a d e , n e o l i b e r a l i s m o , e s c o l a - p r o fe s s o r .

Abstract

Education beyound the neoliberal ideals

T h e r o l e o f e d u c a t i o n , m o r e p r e c i s e l y o f s c h o o l e d u c a t i o n a n d t h a t o f t e a c h e r s , h a s b e e n t h e t h e m e o f

d e b a t e s i n s e v e r a l s e c t i o n s o f s o c i e t y , d u e t o t h e c h a n g e s t h a t o c c u r r e d i n t h e s o c i a l o r g a n i z a t i o n s , m o t i v a t e d b y a

n e w a c c o m m o d a t i o n o f c a p i t a l . T h e r e fe r r e d p o l i t i c s r e q u i r e a d a p t a t i o n s a n d c h a n g e s i n a l i s o c i a l s e c t i o n s , i n c l u d

-i n g e d u c a t -i o n , w h i c h r e q u i r e , o n i t s t u m , r e v i e w i n g t h e r o l e o f t h e s c h o o l a n d t h e p o s t u r e o f t e a c h e r s . T h e o b j e c t i v e

o f t h i s w o r k i s t o r e fl e c t o n t h e n e w p o l i t i c a l - e c o n o m i c a i d e m a n d s o f s o c i e t y , a s w e l l a s t h e r o l e o f t h e s c h o o l i n t h e

s o c i a l c o n t e x t a n d t h e t e a c h e r ' s p e r fo r m a n c e i n t h e c l a s s r o o m .

K e y w o r d s : s o c i e t y , n e o l i b e r a l i s m o , s c h o o l - t e a c h e r .

IProfessora da Faculdade do Vale do ]aguaribe. Evmail: socorro.thiago@uol.com.br. Doutoranda em Educação Brasileira, Universidade Federal do Ceará - UFC. Bolsista do CNPq.

(2)

o

m e r c a d o e a s n o v a s d e m a n d a s

p a r a a e d u c a ç ã o

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

o

mundo passa por grandes mudanças. A

sociedade hoje está mais fortemente marcada por

uma lógica econômica que se orienta pelo

con-trole da produção e distribuição de "mercadorias".

Com essa nova compreensão, quem possui mais

capital impõe controle à produção tecnológica e

às regras do mercado, assumindo o comando

so-bre as economias mais frágeis.

Desse modo, o capital controla e

influen-cia o domínio do pensamento e do

conhecimen-to, sendo nesse patamar que está situado um dos

elementos essenciais na luta de poder,

particu-larmente a conquista de mercados. Almeida

(1987) salienta que, por volta de 1979, com a

crise do petróleo, se iniciou a redivisão

interna-cional das regiões de produção de bens e de

po-deres, o que podemos chamar de uma nova

di-visão internacional do trabalho.

Nessa divisão, os países centrais lideram a

produção de idéias, enquanto aos países

periféri-cos resta a possibilidade de sediar as "células de

montagem e produção" dos bens, em indústrias

convencionais ou de produtos de alta tecnologia.

Em outras palavras, Europa, Japão e Estados

Unidos passaram a controlar as indústrias de

pro-dução tecnológica, manipulação e transporte de

conhecimento, especialmente da robótica e da

comunicação. A informática é utilizada, nesse

contexto, como principal meio de controle e

veiculação de idéias.

Partimos do pressuposto de que o capital

controla não apenas os mercados, equipamentos

e instalações produtivas, mas também a ciência,

que se torna uma força produtiva cada vez maior.

No início, o monopólio sobre a ciência assumiu a

forma de controle de patentes e, em seguida,

pas-sou-se a controlar o próprio processo de

produ-ção científica, através da organizaprodu-ção e regulação

da pesquisa pela indústria.

Apple (1994), reafirma que esta inovação

não está na Química, na Biogenética, na

Eletrô-nica, na maquinaria automatizada ... ou qualquer

dos produtos dessa tecnologia-ciência, mas

an-tes na transformação da própria ciência em

ca-pital - força produtiva a serviço do capital.

o

controle de aspectos principais da ciência e do conhecimento técnico é obtido através do

uso do monopólio de patentes e da

reorga-nização da vida universitária. A indústria e sua tecnologia exercem o papel de estabele-cer os limites estruturais sobre os tipos de currículos, práticas pedagógicas e pesquisas das escolas técnicas e universidades. Nesse sentido, reconhecemos que as universidades estão presas numa contradição estrutural en-tre a tarefa de distribuir e de maximinizar a

produção (APPLE, 1994, p.195).

Com base nessa organização global das

eco-nomias e do conhecimento, há forte pressão

in-terna e exin-terna às economias nacionais, no

sen-tido de tornar os mercados mais fortes e indepen-dentes. Para tanto, o capital mobiliza forças, o que implica, recursos, muitas vezes retirados de setores essenciais, como saúde, educação e infra-estrutura,

para investir na competividade das indústrias e

na qualidade de seus produtos, buscando atrair

investimentos estrangeiros e apresentar preços

competitivos para o mercado externo.

O pensamento neoliberal foi proposto

como saída para a grande crise do capital.

Carac-teriza-se por um quase-endeusarnento do

mer-cado: é possível analisar que a onda neoliberal

não é nem uma variante nem produto final de

um desenvolvimento continuado do

pensamen-to liberal. Muipensamen-to pelo contrário, o neoliberalismo

é resultado de um longo período de crise do

mun-do capitalista e de desgaste do ideário liberal.

Para Peters (1994), esse ideário neoliberal

é conhecido também como a U ova Direita" e

representa um novo discurso, ou metanarrativa

dos estados liberais/capitalistas, ao revitalizarem

as narrativas mestras do liberalismo econômico

clássico, sob o disfarce da, assim chamada, nova

direita. Surge como base para defesa do Estado

mínimo;

é

construída nos termos clássicos do

Homo econornicus, que parte do princípio de que

todos os nossos comportamentos são

auto-inte-ressados e egoístas.

Com o declínio de outras formas de

orga-nização socioeconômica das sociedades, como,

por exemplo, o declínio do socialismo, com a

queda das potências do leste europeu, o

libera-lismo, representado por Japão, EUA e países do

oeste europeu, tornou-se progressivamente a

ide-ologia hegernônica, que defende a legitimação do

capitalismo multinacional avançado. Em

decor-rência dessa reestruturação. a "nova direita"

pro-move políticas de desregulação e privatização,

juntamente com programas massivos de vendas

de recursos estatais.

6 5

CBA

(3)

Isso representou para os Estados liberais

capitalistas uma internacionalização crescente de

suas economias e, ao mesmo tempo, uma forte

influência das empresas multinacionais na

eco-nomia interna. Peters (1994) esclarece que a

"nova direita" tem imposto e retrabalhado sua

variante do liberalismo econômico clássico como

uma visão totalizante do futuro.

Tal projeto, para propósitos ideológicos,

cons-trói o futuro em termos de uma visão utópica

pós-industrial, baseada na fé na ciência, na

tecnologia e na educação como os

setores-cha-ves que aumentarão, a longo prazo, a

vanta-gem competitiva nacional da economia

glo-bal (PETERS, 1994, p. 212).

O Brasil, à semelhança dos países da

Amé-rica Latina e de outros continentes, não desfruta

dos privilégios econômicos do bloco dos países

desenvolvidos. Assume, nesse caso, papel de

con-sumidor e produtor de mercadoria de segunda

ordem, bens de produto e serviços, isto é, não

constitui centro de produção de idéias,

conheci-mento e tecnologia, o que não descarta forte

pre-ocupação, não apenas das elites dirigentes, como

do capital estrangeiro, em qualificar a

mão-de-obra, de modo a responder adequadamente às

novas exigências e demandas do mercado global.

Essa nova reacomodação do capital,

dife-rente do liberalismo clássico - que, de certa forma, defendia a garantia da educação como direito do

cidadão e a liberdade individual de

pensamento-agora se volta para garantia da ideologia do

con-sumo e a liberdade do mercado.

Na realidade a idéia de Estado mínimo

signi-fica o Estado máximo a serviço dos interesses

do capital. Postula-se que o Estado reproduza

a força de trabalho com nível elevado de

capacidade de abstração formação polivalente

-para tomar decisões complexas e rápidas, o que

leva tempo e elevado investimento, mas sem

contribuir para o fundo público (FRIGOTTO,

1995, p. 59).

Ainda para Frigotto (1995). a valorização

da dimensão humana do trabalhador se dá pelos

limites, problemas e contradições do capital, na

busca de uma definição de um novo padrão de

acumulação, haja vista a crise de organização e

regulação fordista, e não uma negação da forma

capitalista de relação humana. Segundo o autor,

essa nova compreensão em relação ao processo

produtivo surge como mecanismo de

reestru-turação econômica forjada por uma crise violenta

de competitividade intercapitalista, como

tam-bém barreiras sociais e políticas às tradicionais

formas de organização da produção.

Esta demanda real de mais conhecimento,

mais qualificação mais cultura geral se

con-fronta com os limites da produção, da

estrei-teza do mercado e da lógica do lucro. No caso

brasileiro, o atraso de um século, pelo

me-nos, na universalização da escola básica é um

dos indicadores do perfil anacrônico e opaco

das nossas elites e um elemento cultural que

potencia o descompasso do discurso

da"mo-dernidade" e defesa da educação básica de

qualidade, da ação efetiva destas elite (Idem,

Ibidem, p.54).

Isso explica, por exemplo, a razão das

vá-rias mudanças observadas, especialmente a

par-tir dos anos 1980/1990, que se definem, segundo

Frigotto (Idem), por um ideário neoliberal

ori-entado por categorias da qualidade total,

forma-ção abstrata e polivalente, flexibilização,

parti-cipação, autonomia e descentralização. Impõe,

também, uma otimização e fragmentação do

sis-tema educacional e do processo de

conheci-mento escolar.

A idéia-força balizadora do ideário neoliberal

é a de que o setor público (o Estado é

respon-sável pela crise, pela ineficiência, pelo

privilé-gio, e que o mercado e o privado são

sinôni-mos de eficiência, qualidade e eqüidade.

Desta idéia-chave advém à tese de "Estado

Mí-nimo" e da necessidade de zerar todas as

con-quistas sociais, como direito à estabilidade de

emprego, o direito à saúde, educação,

trans-porte público ...). Tudo isso passa a ser

com-prado e regido pela férrea lógica das leis do

mercado; na realidade a idéia do Estado

Mí-nimo significa o Estado suficiente e

necessá-rio unicamente interesses da produção e do

capital (Idem, Ibidem, pp. 83,84).

Na verdade, isso não significa que o

Es-tado esteja desaparecendo, ao contrário, apenas

está mudando seu caráter, pois houve uma

espé-cie de mudança na regra do jogo. O capital

pre-cisa do Estado para realizar algumas funções

necessárias, não de um Estado específico, que

ofereça as melhores facilidades e preste os

me-lhores serviços à população.

A

(4)

Temos um Estado que abandonou o controle

e regulação da economia, passando a

contro-lar e regucontro-lar o homem, a um ajuste dos

ho-mens às necessidades do mercado. Abandona

sua participação nas ações sociais destinadas

a garantir o desenvolvimento da população

(RICHARDSON, 1999, p.lS0).

Gentili (1994, p.lS) reafirma que essa

mesma lógica está presente no campo educativo.

Para ele, o "discurso da qualidade já assume a

fisionomia de uma nova retórica conservadora

funcional e coerente com o feroz ataque que

so-frem os espaços públicos (democráticos ou

po-tencialmente democráticos), entre eles, a escola

das maiorias".

Peters (1994) argumenta também ser

pro-vável que não exista melhor exemplo da

influên-cia do mercado em outros setores da sociedade

como na área da educação. Não há dúvidas de

que, sob os princípios neoliberais, a educação tem

sido discursivamente reestruturada a partir da

lógica do mercado, não sendo tratada de modo

diferente de qualquer outro serviço ou

mercado-ria. Nessa reformulação, inclui a recodificação

discursiva tanto de práticas como de relações; os

alunos tornam-se "consumidores", "clientes"; os

cursos são oferecidos nos lugares mais insólitos,

como, por exemplo, os shoppings

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

c e n t e r s . Esse é

um caso, ao mesmo tempo simbólico e exemplar;

afinal os shoppings centers são os "templos"

máximos do consumo e das compras. Trata-se,

portanto, de ter a educação concretamente

assu-mida como mercadoria.

Nessa nova perspectiva, defende-se um

Estado mínimo que assume papel de "inspetor"

das instituições educacionais. No caso das

esco-las, essa postura é considerada importante em

decorrência da necessidade de estabelecer linhas

de ação para garantia mínima de produtividade

no ensino. Mais do que produtividade, é preciso

garantir que a educação aponte para as

necessi-dades do mercado. Esse é o papel atribuído ao

Estado regulador, garantia de "uma certa"

quali-dade e, portanto, de "uma certa" produtividade.

Nesse sentido, observamos que a educação,

CBA

à semelhança de outros setores da sociedade,

passa por adaptações rápidas. Segundo essa

lógi-ca, não se concebe um mercado competitivo sem

modernização e mão-de-obra qualificada. Essa

qualificação, em tese, apenas seria possível com

uma boa formação, o que supõe uma "escola de

qualidade" e, conseqüentemente, professores

mais bem preparados.

Essa valorização da educação vem ocorrendo

como resultado das mudanças econômicas e

políticas que o mundo viveu nos anos 80. No

âmbito produtivo assiste-se, entre outros

pro-cessos, ao deslocamento da mão-de-obra

ma-nual para atividades que envolvam o manejo

de informações e códigos e a gradativa

substi-tuição do modelo taylorista de divisão do

tra-balho pela integração de tarefas antes

segmen-tadas (SILVA, 1992, p.2S2).

Na verdade, ultimamente tem-se ouvido

muito discurso em defesa de uma educação de

melhor qualidade. Mas que qualidade é essa?

Uma qualidade que envolva uma formação

efe-tiva, que compreenda uma sólida base de

conhe-cimentos teóricos e práticos, permeados por

con-sistentes posicionamentos políticos? Que

favo-reça o desenvolvimento de habilidades e

compe-tências para enfrentar as novas demandas do

tra-balho? Que propicie uma compreensão clara

so-bre as reais condições do trabalhador diante

dessa reacomodação do sistema capitalista?

Tudo indica que esta não é a pretensão

neoliberal para a sociedade, menos ainda para a

educação. Pelo contrário,

enquanto o liberalismo clássico colocou a

edu-cação entre os direitos do homem e o

cida-dão, o neoliberalismo promove uma

regres-são da esfera pública, na medida que aborda a

escola no âmbito do mercado e das técnicas

de gerenciamento, esvaziando, assim, o

con-teúdo político da cidadania (MARRACH 1996,

p. 160).

Qual seria o papel da escola e do professor

diante deste contexto de exclusão em que se

busca basicamente o fortalecimento do capital,

dos mercados e o controle do grande contingente

de excluídos?

A

o

p r o f e s s o r e o s n o v o s d e s a f i o s

Resignificar a função da escola e do

pro-fessor nesse novo patamar não constitui tarefa

simples, no entanto, a escola representa uma

ins-tituição capaz de não apenas melhorar os

qua-dros efetivos de trabalhadores como também de

ser uma agência que pode favorecer uma

refle-xão, que possibilite melhor compreensão sobre

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os mecanismos neoliberais, que representa a

proteção dos interesses financeiros das grandes

corporações internacionais, mas, além disso,

pode ser um dos vetores da construção de uma

sociedade emancipada, pautada nos valores

éti-cos de igualdade, liberdade e fraternidade.

CBA

É

cer-to que a compreensão da exploração neoliberal

é um começo. "O Reconhecimento dos grilhões

é o primeiro passo para a liberdade'". A escola, a

exemplo de outras instituições, está imersa em

várias mudanças de concepções e paradigmas, o

que, não raras vezes, provoca confusão nos

pro-fissionais que nela atuam. Tais mudanças são

decididas em esferas superiores, sem a

participa-ção efetiva dos professores. Na verdade, a

ges-tão participativa é amplamente defendida, mas,

no discurso neoliberal, a participação deve

ocor-rer apenas no âmbito da execução e não na

elabo-ração das propostas, como forma de garantir, pela

centralidade das decisões, o controle do rumo

das mudanças propugnadas.

As reformas em educação, implementadas

na última reestruturação do ensino das escolas

públicas, inicialmente, contemplaram apenas o

ensino fundamental, mas já se observa pressão

para expansão do ensino médio. No entanto, as

universidades públicas, os cursos de

pós-gradu-ação e muitas instituições federais enfrentam

grande dificuldade para conseguir recursos da

União. Qual seria, então, o motivo para o

não-investimento em produção de conhecimento?

Favorecemo-nos no pressuposto de que, para o

país não há interesse em investir em produção

de conhecimento.

Acreditamos que a principal razão seja a falta de recursos, associada ao fato que os

investimen-tos estrangeiros são destinados prioritariamente

ao ensino fundamental, como tentativa de

redu-ção dos altos níveis de analfabetismo, o que, em

tese, deixaria o país numa situação desfavorável

diante da comunidade internacional,

especial-mente por não oferecer condições mínimas para o

desenvolvimento de mão-de -obra qualificada, para

atender as demandas da produção.

Nesse contexto de mudança de paradigmas,

a escola e os professores, dentre outras

institui-ções sociais, são solicitados a rever seus papéis,

mesmo com limitações pessoais e institucionais,

pois não há uma compreensão dos "novos"

pos-tulados, uma vez que, falta estudo aprofundado

em relação aos pressupostos teóricos e em

rela-ção às implicações político-sociais para a

socie-dade da abordagem neoliberal de ensino.

É necessário, pois, aprofundar a

compre-ensão sobre a formação pautada na elaboração

de competências, em defesa de um ensino que

desenvolva no indivíduo autonomia, que,

prin-cipalmente, prepare o(a) aluno(a) para o

mun-do mun-do trabalho.

Mesmo nessas condições, espera-se que o

profissional da educação consiga refletir sobre sua

ação, o que não constituí trabalho fácil, em razão

das dificuldades que se apresentam tanto na

atuação quanto na formação do professor. No en-tanto, não se justifica uma ação que conduza ao

imobilismo teórico e político. Assim, constitui

ta-refa primordial para o professor a busca de

com-preensão a respeito das influências dos

mecanis-mos implícitos nas várias mudanças impostas à

sociedade e à escola pelo postulado neoliberal.

Oelors (1999) sintetiza essas novas

com-petências inerentes aos novos papéis que o

indi-víduo é solicitado a desempenhar, no contexto

de uma escola para a economia neoliberal.

Sali-enta, portanto, que a cultura deverá se erguer

sobre novos pilares: o aprender a conhecer, o

aprender a fazer, o aprender a viver junto e o

aprender a ser. Nessa lógica do mercado, não se

entende mais uma educação voltada

simplesmen-te para aspectos teóricos. Ao contrário,

pressu-põe-se a formação de um indivíduo que seja

es-sencialmente autônomo, capaz de gerir a própria

formação. A escola assume nessa nova

concep-ção um lugar de "construconcep-ção de conhecimentos"

e competências.

A escola a serviço do mercado passa a

priorizar a formação de um trabalhador que

pos-sua boa formação geral, atento, leal, responsável,

com capacidade de perceber um fenômeno em

processo, não dominando, porém, os

fundamen-tos científico-intelectuais subjacentes às

diferen-tes técnicas produtivas modernas.

Será que a escola pública brasileira está

instrumentalizada e seus professores preparados

para compreender as reais implicações políticas,

sociais e econômicas para a sociedade, desse tipo

de escola voltada para o capital? Entendemos que

a educação não deve orientar suas ações no

sen-2Ben Bellah -líder africano da Argélia -luta pela independência do país. então pertencente àFrança-1957.

A

(6)

tido de fornecer capital humano para a produção,

mas, essencialmente, constituir espaço para

cons-trução de uma educação pública voltada para dis-cussão e exercício da cidadania.

No entanto, o que se observa, nas várias

tentativas de mudanças que se impuseram

CBA

à

es-cola pública desde as primeiras reformas, foi que

elas representaram apenas tentativas de

mudan-ças forjadas na base do paradigma liberal, e que

ocorresse uma efetiva reformulação conceitual e

política de seus objetivos, mesmo da

mentalida-de daqueles que atuavam no seu espaço.

Para Mesquita (2002), isso quer dizer que

a educação escolar, vista como fenômeno social e

político, permanece atrelada ao

(...)paradigma tradicional" ou na medida em que

o modo de produção capitalista passa por crises

cíclicas, ela se adapta (no sentido de Durkheim)

às soluções sempre provisórias, encontradas pelo

sistema, dando a impressão de emergência de

um "novo" paradigma revolucionário,

progres-sista (MESQUITA, 2002, p. 194).

Mas a constatação é obvia: como a escola

poderia reformular seus referencias teóricos e

seus objetivos sem haver uma reformulação na

estrutura de poder, que propiciaria uma

reformu-lação da estrutura da sociedade? Na verdade, a

escola continua a mesma, apenas passou por

al-gumas alterações em virtude das mudanças

de-correntes da reacomodação da organização do

capitalismo.

Os objetivos na educação são os mesmos que

servem como guia para os objetivos

econô-micos e de bem-estar social. Eles incluem a

expansão do "mercado livre", a drástica

redu-ção da responsabilidade governamental pelas

necessidades sociais, o reforço das estruturas

intensamente competitivas de mobilidade, o

relaxamento das expectativas das pessoas

em termos de uma segurança econômica

(APPLE, 1994, p. 184).

Diante do exposto, percebemos o quanto a

educação é dependente do sistema econômico,

considerada, inclusive, como subsistema que,

dentro de uma sociedade de classe, exerce o

pa-pel ideológico de ocultamento do projeto social e

econômico da classe dominante.

Desse modo, o pedagogo, o educador, ao

re-pensar a educação, está também repensando

a sociedade. Não existe uma igualdade entre

política e educação: existe uma identidade. O

ato educativo é essencialmente político. O

pa-pel do pedagogo é um papa-pel político. Não

acre-dito numa educação neutra: ou fazemos uma

pedagogia para classe trabalhadora ou uma

pe-dagogia contra ela (GADOTTI, 2001 p.57).

Não é verdadeira, portanto, a afirmação de

que a educação só poderá ser transformada após

a transformação da sociedade, pois a educação

está submetida a sua organização. Éverdade que

a educação não é a alavanca das mudanças da

sociedade, no entanto, estas mudanças só se

con-solidarão com uma efetiva intervenção do

pro-cesso educativo. Nesse sentido, sua luta deve ul-.

trapassar os muros da escola.

No plano social é ato pedagógico desvelar as

contradições existentes, evidenciá-Ias com

vis-tas à sua superação. Educar passa a ser

essen-cialmente conscientizar. Conscientizar sobre

a realidade social e individual do educando.

Formar a consciência crítica de si mesmo e da

sociedade (Idem, Ibidem, 2001, p.70).

Nesse aspecto, a educação tem papel estra-tégico no projeto neoliberal. Tadeu da Silva (1994, p. 12) esclarece que nesse projeto a intervenção

da educação tem duas dimensões básicas:

De um lado, é central, na reestruturação

bus-cada pelos ideólogos neoliberais, atrelar a

edu-cação institucionalizada aos objetivos

estrei-tos de preparação para o local de trabalho.

No léxico neoliberal trata-se de fazer com que

as escolas preparem melhor seus alunos para

a competitividade do mercado nacional e

in-ternacional. Utiliza também a educação como

veículo de transmissão das idéias que

procla-mam excelências do livre mercado e da livre

iniciativa. Há um esforço de alteração do

cur-rículo não apenas com o objetivo de dirigi-Ia

a uma preparação estreita para o local de

tra-balho mas também com objetivo de preparar

os estudantes para aceitar os postulados do

credo liberal (SILVA, 1994, p. 12).

Nesse contexto, percebemos que os

pro-fessores estão vivendo uma profunda crise de

identidade, expressa na insatisfação, na

desori-entação docente. Esse fenômeno mostra o quanto

é urgente a construção de uma mentalidade

profissional e política renovada do professor e

A

6 9

(7)

da escola. Esse professor, de certa forma,

perdi-do em meio ao caos de sua prática, deve buscar

um novo referencial, para resignificação do seu

trabalho pedagógico. Precisa, em primeiro lugar,

situar-se no mundo em transformação, não como

profissional apenas, mas especialmente como

ci-dadão, politicamente consciente do seu papel na

estrutura vigente. Talvez assim possa analisar

cri-ticamente as exigências que já começam a ser

feitas, e certamente aumentarão, em termos de

enfrentamento aos novos dilemas da profissão.

Para Gentili (1994), é necessário impor um

novo sentido aos critérios de qualidade utilizados

na educação pelos (neo) conservadores e (neo)

liberais; é preciso sustentar que não existe um

cri-tério universal de qualidade. Na verdade, há

dife-rentes critérios históricos que respondem a

diver-sos critérios e intencionalidades políticos. Para ele,

(...) um é o que pretende impor os setores

hegemônicos: o critério de qualidade como

mecanismo de diferenciação e dualização

so-cial. Outro, o que devem conquistar os

seto-res de esquerda: a da qualidade como fatoseto-res

indissoluvelmente unidos a uma

democrati-zação radical da educação e a um

fortaleci-mento progressivo da escola pública (p.176).

Defendemos o sentido de qualidade, que

eleve a educação ao

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

s t a t u s de direito inalienável,

que corresponda à cidadania sem nenhum tipo

de segmentação de caráter mercantil. Gentili

(1994) ainda afirma que esta ação se constituirá

em transformar a qualidade em um direito e não

em uma mercadoria vendida a quem der a

me-lhor oferta. A escola pública, nesse sentido, seria

um dos espaços onde se exercitaria este direito,

não o mercado.

Gadotti (2001) assinala que esse modelo

de "educação", cujos resultados estamos

supor-tando hoje, foi trazido pelos especialistas

norte-americanos, desde 1966, no acordo firmado

en-tre MEC e USAID (United States Agency for

International Development). Com base nesse

contrato, passou-se a implementar a noção de que

formação técnica profissional seria o ideal para a

educação brasileira. Na verdade, por trás dessa

idéia, escondiam-se as ideologias

desenvolvimen-tistas, que visavam ao aperfeiçoamento do

sis-tema industrial e econômico capitalista.

Neste sentido, é preciso um certo cuidado

com as pretensões neoliberais a respeito da

pre-ocupação com a formação, especialmente com a

formação em serviço, pois esta implica,

essenci-almente, a reflexão sobre posicionamentos

polí-ticos, clareza do papel que desempenha, e a

ser-viço de quem pretende efetuar o trabalho.

Signi-fica, também, compreender o remanejamento

político-social do capital que, ora ocorre em

nossa sociedade, pois, se- educar é conscientizar,

a educação é um ato essencialmente político.

Portanto, não podemos pretender realizar uma

ação neutra, num contexto, essencialmente de

tomada de decisão.

Todos os trabalhadores, inclusive os

pro-fessores, estão preocupados com a

administra-ção da própria formação, ou com sua educação

permanente. Mas, será que compreendemos o que

está por trás desse discurso?

Gadotti (2001, p.100) traz algumas

contri-buições interessantes a respeito do conceito de

educação permanente. Segundo esse autor, é

pre-ciso compreender que o discurso e as ações

de-fendidos pela "educação permanente" financiada

por órgãos como a UNESCO, BID, BIT, OCDE

(Organização para a Cooperação no

Desenvolvi-mento Econômico) constituem "um projeto

in-color, modelo de saber tecnocrático. Significa,

tam-bém, segundo ele, um projeto reacionário,

repre-sentando uma armadilha preparada para dar uma

aparência democrática à dominação econômica".

Mesmo que os projetos financiados por

esses órgãos pareçam ser "desideologizados", há

de se entender que a "educação permanente",

produto dessas organizações, não pode propor

educações revolucionárias, que sirvam à classe

trabalhadora, pois essas organizações defendem

os interesses do capital. Não é de surpreender

que esses documentos eliminem todo o sentido

político da educação, em nome de uma

pseudo-neutralidade científica. Podemos compreender,

portanto, que se trata de um discurso ideológico,

uma vez que tenta apresentar um projeto de

edu-cação que deverá se adaptar a todos os sistemas

políticos, não importando as particularidades do

sistema social e econômico de cada país.

Outro aspecto que caracteriza este discurso

é que, através de uma pretensa neutralidade,

pre-tende implementar o aumento de formação

pro-fissional com o intuito de adequar os

profis-sionais às novas exigências das mudanças

tecno-lógicas do desenvolvimento econômico industrial,

conseqüentemente torná-los mais rentáveis ao

sistema capitalista.

A

(8)

Há um segundo nível de ocultação,

refe-rente aos objetivos apregoados. Neste caso,

di-zem respeito ao estoque de saber acessível a

to-dos, que se caracteriza como uma exigência das

sociedades modernas.

CBA

É importante saber que as

qualificações propostas são preestabelecidas

pe-los detentores do poder econômico, de acordo

com as necessidades do mercado e não segundo

os interesses dos trabalhadores. Não se menciona,

por exemplo, nos textos oficiais, que a educação

permanente deva estimular ações coletivas

en-gendradas no âmbito da escola, ou ações

ou-tras diretamente ligadas aos interesses dos

tra-balhadores.

Na verdade, a idéia da educação

perma-nente, defendida pelos órgãos oficiais, além de

fa-vorecer a desarticulação da força de trabalho, que

se constitui estratégia do capitalismo avançado,

promove também falsas esperanças para o

traba-lhador, pois passam a acreditar em uma formação

para promoção individual; esperam, inclusive,

apesar da injustiça social, que seus filhos possam

"viver dias melhores" através de uma formação

mais longa. No entanto, o objetivo da educação

permanente é atingido apenas por aqueles que têm

condições sociais e econômicas melhores para

es-tudar. A ilusão da igualdade de oportunidades é

um verdadeiro ópio para os trabalhadores.

Todos aqueles que esperam da Educação

Per-manente uma inovação radical, um novo

pro-jeto educativo, ficarão decepcionados. Ela não

passa de um apêndice, um novo episódio do

grande movimento educativo que começa no

humanismo do século XVII, passando pela

escola pública obrigatória. Mas não coloca

em questão a função de educação numa

soci-edade de classe. Para que serve, para quem

serve e contra quem serve a educação. E

mes-mo que a Educação Permanente fizesse uma

revisão radical da educação, ela continuará

sendo um projeto conservador, porque parte

do postulado de que a educação se faz de

cima para baixo, a partir das idéias, das

re-formas, dos decretos e não da base, da massa,

que está na origem de toda mudança

histó-rica (GADOTTI, 2001, p.IOO).

Uma reflexão constante, respaldada por

consistente fundamentação teórica, seria, ao nosso

ver, um dos aspectos imprescindíveis para uma

retomada de consciência sobre nossa atuação, não

apenas no que diz respeito a uma formação mais

consistente, teoricamente comprometida, mas

especialmente no que se refere a uma

cons-cientização do nosso papel político, como

cida-dãos responsáveis pela formação de outros.

É imprescindível, na formação desse novo

trabalhador, a oportunidade para discussões

po-líticas, sociológicas e filosóficas, a respeito dos

papéis que os homens e as mulheres devem

de-sempenhar nesse novo milênio; discussões a

res-peito da organização da sociedade, e da

constru-ção coletiva de uma cidadania, igual para todos.

Isto implicaria, também, compreender as novas

exigências do mercado, sem, contudo, se

subme-ter a ele cega e servilmente, até porque sabe-se

que faltará emprego para maioria de nós.

É

ver-dade também que a educação não pode resolver

todos os problemas do desemprego estrutural,

mas pode formar um cidadão capaz de se

con-frontar ao mercado, o que significa obrigar o

mercado a servir à cidadania e não o contrário.

É

evidente que isso é impossível no

sis-tema capitalista, pois, em seus objetivos, o

mer-cado vem sempre em primeiro lugar; depois a

ci-dadania. Sendo assim, a escola precisa promo er

esse tipo de cidadania.

Na verdade, segundo Demo (1999). a

teo-ria da competência humana está diví •.•.••· _ 'o;u.Jl \.U ~

categorias importantes: a quali e fo

qualidade política.. primeira se enquadra

domínio da instrumentação dentífi po

pulação de um país que é capaz de apren er, pe

sar e intervir tem melhores condições de avançar

e de fazer história.

A política é a categoria mais importante,

pois propicia visão crítica, projeto próprio,

cida-dania individual e coletiva e, especialmente, o

confronto com o mercado. Dentro dessa

dimen-são política, é necessário reconhecer as

contradi-ções e evidenciá-Ias, pois a base de toda

contra-dição está no cerne da sociedade, a exploração

capitalista do trabalho e do trabalhador.

A maior injustiça gerada por essa divisão social

do trabalho, onde uns criam riquezas e outros

(um pouco) se beneficiam dela, no tocante à

escola, é o fato de cada grupo social ter um tipo

de escola própria, destinada a perpetuar nestes

grupos a discriminação de privilegiados e

não-privilegiados (Idem, Ibidem, p. 81).

Neste sentido, é imprescindível

compreen-der os processos político-econômicos que

sub-jazem às reformas, especialmente as referentes à

(9)

educação, pois, muitas vezes, seus efeitos e

di-nâmicas se apresentam de forma confusa,

repre-sentando um grande desafio intelectual, político

e ético que temos pela frente.

Um exemplo destas reformas que tentam

mascarar privilégios está nas privatizações

eco-nômica e escolar, pois representam mecanismos

de redistribuição regressiva que sempre acabam

favorecendo aos ricos. Enquanto a privatização

do setor econômico provoca maior concentração

do poder econômico, a privatização das escolas

cria, por sua vez, ampla e marcada concentração

do poder educacional, de conseqüências

eviden-temente antidemocráticas.

A dualização do sistema se aprofunda, "ga-nhadores" e "perdedores" da distribuição de-sigual dos bens educacionais vão cristalizan-do suas posições. A escola melhora para al-guns poucos e piora para a grande maioria. O óbvio se torna cada vez mais complexo

(GENTIL!, 1999 p. 128).

A

C o n s i d e r a ç õ e s f i n a i s

Para concluir essa breve reflexão a respeito

de algumas dimensões políticas da ação docente,

utilizaremos as contribuições de Gadotti (2001),

pois concordamos com ele, quando acentua ser

necessário e urgente repensar a tarefa do novo

educador. Esse repensar compreende, como

pri-meira tarefa, o combate à diferenciação escolar,

quando existem escolas para ricos e escolas para

pobres. Nesse sentido, é necessário dar

priori-dade absoluta aos postergados da educação, às

periferias e às escolas dos trabalhadores.

CBA

É preciso compreender, também, que

vive-mos sob a ditadura de uma classe, de uma ordem

social classista; desse modo, a escola também é

classista. Daí nossa atuação pedagógica não se

li-mitar à sala de aula, devendo, portanto,

prolon-gar-se na organização da classe dos trabalhadores

da educação em atividades extraclasse,

estabele-cendo uma unidade entre as lutas pedagógicas e

as "pelejas sociais", embora as mudanças não ocor-ram de forma imediata, já que todas as conquistas

são resultado de lutas históricas nas relações

en-tre dominados e dominadores. Nem mesmo

po-demos esperar que haja uma mudança radical e

imediata na consciência desta nação inteira em

uma direção mais progressiva, mas devemos,

implementar ações que promovam a efetivação

dessas mudanças, mesmo em longo prazo.

Assim, essas ações promoveriam produção

de

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

i n s i g h t s sobre o que é necessário e possível

agora. Porém, é imprescindível compreender que

esses princípios e práticas não podem ser

gera-dos à distância. Apple (I997) ensina que elas

só poderão ser aprendidas pelo engajamento em

atividades diárias, sérias e comprometidas de

trabalho com vários movimentos sociais, por um

conjunto de relações educacionais, culturais,

po-líticas, econômicas e corporais mais justas e

compassivas:

Talvez, nesta perspectiva, possa ser construída

uma educação que tenha por base não

ofere-cer o capital humano para a indústria do

lu-cro, ou para um romântico retorno ao alfabe-tismo da elite cultural, mas uma visão crítica

do alfabetismo. Muito estará em jogo se não

fizermos isso (Idem, Ibidern, p. 68).

Concordamos, também, com Gentili (I 994),

quando leciona que é preciso formular três

con-dições básicas para avançar em nossa luta contra

esta nova retórica: inicialmente, compreender que

"qualidade" para poucos não é qualidade, é

pri-vilégio; que, ao se reduzir a qualidade a simples

elementos de negociação, objeto de compra e

ven-da no mercado, esta, assume apenas a fisionomia

de mercadoria, propiciando acesso diferenciado

e distribuição seletiva, e que, finalmente, para

uma sociedade democrática, qualidade na

edu-cação é um direito inalienável de todos os

cida-dãos, sem distinção.

Isto implicaria a eliminação de uma

quali-dade com dualiquali-dade social, pois não existe

"qua-lidade" quando se discrimina, quando as

maiori-as são submetidmaiori-as à miséria e condenadas à

mar-ginalidade, quando se nega o direito à cidadania

a mais de dois terços da população. Nosso

desa-fiá é outro:

(...) consiste em construir uma sociedade onde

os "excluídos" tenham espaço, onde possa

fazer-se ouvir, onde possam gozar de direitos

a uma educação radicalmente democrática.

Em suma. uma sociedade onde o discurso da

qualidade como retórica conservadora seja

apenas uma lembrança deplorável da barbárie

que significa negar às maiorias seus direitos

(GENTIL!. 1994, p.17).

Para Gadotti (2001 p.82), esse novo

pro-jeto social e político do educador não virá sob

forma de uma lei ou de uma reforma. "Se for

(10)

sível amanhã, é somente porque hoje ele está

sendo pensado pelos educadores, juntos,

traba-lhando coletivamente, se educando. Essa

reedu-cação dos educadores já começou. Ela é possível

e necessária".

A

R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s

ALMEIDA, Fernando José de.

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

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Referências

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