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Depois das duas tentativas acadêmicas frustradas, de 1943 e

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Academic year: 2021

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A língua portuguesa na ABL hoje

J o ã o d e S c a n t i m b u r g o

Depois das duas tentativas acadêmicas frustradas, de 1943 e 1945, pela Academia Brasileira de Letras e pela Academia das Ciências de Lisboa que propunham estabelecer para a língua portuguesa um sistema ortográfico unificado e simplificado, passou a nossa instituição por um largo período em que as preocupações de acordo ortográfico perderam um pouco de sua força, talvez na certe- za de se tratar de um tema que estaria a exigir mais tempo para refle- xão. Isto não impediu que linguistas, filólogos e professores brasilei- ros e portugueses continuassem a trabalhar por um sistema unifica- do, uma vez que para taldesideratumapenas o excesso dos acentos di- ferenciais – por parte do Brasil – e a escrita das consoantes inarticu- ladas – por parte de Portugal – eram os maiores obstáculos a uma proposta vencedora. Em 1991, nosso governo tomou a iniciativa, pela Lei n.º 5.765, de abolir o trema nos hiatos átonos (saüdade, vaï- dade), os acentos circunflexos diferenciais sobreeeode sílabas tôni- cas das palavras homógrafas de outras em que tais vogais são abertas,

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exceção feita a forma pôde do pretérito perfeito do indicativo do verbo poder (mêdo, acôrdo; pôde(pret.)/ pode(pres.), bem como os acentos grave e circunflexo com que se assinala a sílaba subtônica dos derivados com o sufixo -menteou com sufixos iniciados porz-(sòmente, sòzinho; cafèzinho, cafèzal; avôzinho, avòzinha).

Determinava a mesma Lei que a ABL promovesse, no prazo de dois anos, a atualização doVocabulário Comum, a organização doVocabulário Onomásticoe a re- publicação doPequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.

Recebida a incumbência legal, o Presidente da ABL à época, Austregésilo de Athayde, constituiu uma Comissão Acadêmica integrada pelos Acadêmicos Pe- dro Calmon, Barbosa Lima Sobrinho, Abgar Renault e Antônio Houaiss, este último na condição de relator, e em 1977, com atraso por motivos relevantes, entrega os originais a Bloch Editores, e em 1982 sai a 1.ª edição da nova versão doVocabulário Ortográfico, logo com três sucessivas edições, e seguidos doPequeno Vocabulário Ortográfico da Língua PortuguesaeVocabulário Onomástico da Língua Portugue- sa, pelo decisivo apoio do Acadêmico Presidente Arnaldo Niskier, que contou com o Conselho de Lexicografia da ABL, composto em fases sucessivas, pelos Acadêmicos Antônio Houaiss, Eduardo Portela, Evaristo de Moraes Filho, Tarcísio Padilha, Lêdo Ivo e Antônio Olinto, e com a Comissão externa de Le- xicografia integrada pelos especialistas Antônio José Chediak (coordenador- -geral), Silvio Elia, Evanildo Bechara e Diógenes de Almeida Campos, este últi- mo representante da Academia Brasileira de Ciências.

Estava assim a ABL em pleno cumprimento da sua responsabilidade legal de elaborar atualizado oVocabulário Ortográfico, quando ocorreram, mais recen- temente, dois acontecimentos que vieram, na minha modesta opinião, pôr a nossa Academia no caminho mais amplo para cumprir o princípio estatutário de Instituição: o cultivo da Língua Portuguesa. O primeiro destes aconteci- mentos foi o sucesso alcançado pela redação do novo Acordo Ortográfico de 1990, elaborado e assinado pelas Delegações de sete países independentes que têm o português como idioma oficial, depois de uma longa jornada de debates começada no Rio de Janeiro, no seio da Academia Brasileira de Letras, por ini- ciativa do Acadêmico Antônio Houaiss, filólogo de notória competência, com

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vista à elaboração de um sistema ortográfico unificado e simplificado a ser adotado na língua escrita portuguesa pelos países signatários do Acordo. Até então, para a elaboração do texto das reformas ortográficas, a ABL solicitava a colaboração de um técnico estranho à Instituição que vinha, junto aos nossos acadêmicos, dialogar com a Comissão portuguesa da Academia das Ciências.

No Acordo de 1990, o técnico era um titular da Casa de Machado de Assis a discutir com os técnicos e representantes oficiais das Delegações.

O segundo acontecimento foi a eleição do nosso novo confrade Evanildo Bechara, gramático e filólogo, catedrático e emérito de duas universidades pú- blicas. Logo passou o confrade a integrar a Comissão de Lexicografia que, por sugestão sua para ampliar-lhe as atividades, passou a designar-se Comissão de Lexicologia e Lexicografia, constituída pelos Acadêmicos Eduardo Portella (Presidente) e Sergio Corrêa da Costa, eruditos filólogos na concepção ampla de Ernst Robert Custius e Dámaso Alonso. Para coadjuvar a Comissão e tor- nar possíveis os produtos lexicográficas por ela elaborados, a nossa Instituição promoveu uma comissão permanente de experimentados lexicógrafos coordenados por Sérgio Pachá: Cláudio Mello Sobrinho, Débora Garcia Restom, Dylma Bezerra, Ronaldo Menegaz e Ângela Barros Montez.

Esgotada a 4.ª edição doVOLPsaída em 2004, viu-se a Comissão dividida entre republicá-lo no sistema ortográfico até então vigente, ou implantar o novo Acordo, uma vez que já pairava iminente a sua aprovação por alguns paí- ses signatários, especialmente o Brasil e Portugal. A decisão inclinou-se pela segunda solução, cabendo ao setor da ABL adaptar um universo lexical de mais de 350.000 vocábulos a um texto enxuto e às vezes omisso em suas dire- trizes. A qualidade e acerto de decisões sobre alguns pontos controversos do texto do Acordo se patenteiam naNota Explicativada Comissão Acadêmica in- tegrada por Eduardo Portella, Alfredo Bosi e Evanildo Bechara (relator), algu- mas das quais foram incorporadas em posteriores produções de especialistas brasileiros e pelo Prof. Doutor João Malaca Casteleiro, membro da delegação oficial portuguesa e orientador científico doVocabulário Ortográfico, da Porto Editora, em 2009.

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Estendeu-se a atividade do nosso setor de lexicologia e lexicografia com a criação da coleção Antônio de Morais Silva, em cujo programa está a edição de obras importantes sobre língua portuguesa, e o serviço pela internetABL Res- ponde, que contabiliza até o final deste ano 60.000 respostas a consulentes, bem como o levantamento do léxico de Machado de Assis, com o surpreendente total que ultrapassa em muito os 16.000 itens lexicais. Atualmente já está em processo de editoração pela Global o Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, e em elaboração oDicionário de Machado de Assise oDicionário Ortoépico da Língua Portuguesa, bem como o material para a 6.ª edição doVOLP, corrigida e aumentada.

Efetiva-se, desta maneira, o sonho do cultivo da língua almejado pelos nos- sos fundadores em 1897, sonho que torna realidade a Academia Brasileira de Letras como um dos decisivos agentes do florescimento e difusão da língua portuguesa escrita padrão.

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