COLÔMBIA
Almiro Petry
1(2008)
2A República da Colômbia
3situa-se no noroeste da América do Sul, sendo banhada pelo Oceano Pacífico e pelo Mar do Caribe, ligando o istmo da América Central, no território do Panamá. Mede uma superfície de 1,141 milhão de km
2, de montanhas, planícies e florestas.
Tem ao leste a Venezuela como vizinho; ao sudeste, o Brasil; ao sul, o Peru; e ao sudoeste, o Equador. A cordilheira dos Andes domina a metade ocidental da Colômbia e se divide em três: a ocidental, a central e a oriental. Entre as cordilheiras fluem os rios Magdalena e Cauca que deságuam na costa caribenha. Nas partes mais elevadas encontram-se os vulcões, alguns ainda ativos, com destaque para o pico Cristóbal Colón na Sierra Nevada de Santa Marta, com 5.775m de altitude. A parte oriental caracteriza pelas planícies e as florestas, com destaque para os rios Putumayo, o Caquetá, o Meta e o Guaviare que fluem para o Orinoco ou o Amazonas. O rio Atrato é considerado o mais caudaloso do mundo. As regiões sudeste e sul do país integram a bacia amazônica. O clima é quente e úmido nas planícies costeiras, temperado e frio nas montanhas. A principal cidade é Santa Fé de Bogotá, a capital (7,3 milhões de habitantes), seguida de Cáli, de Medellín, de Barranquilla e de Cartagena (no litoral caribenho, patrimônio da humanidade por sua arquitetura colonial). A cidade de Villavicencio é a que mais cresce e é a mais industrializada.
O nome Colômbia é uma homenagem a Cristóvão Colombo, uma especial referência ao “novo mundo”, denominação que abarcava os territórios colonizados pelos espanhóis e portugueses. Após várias títulos, a República da Colômbia (1819) sucedeu à Gran Colombia que se desmembrou nos territórios da Colômbia, da Venezuela, do Equador e do Panamá. Em 1830, a Venezuela e o Equador de separam da República da Colômbia que passa a chamar-se
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Mestre em Sociologia Rural (UFRGS) e Doutor em Ciências Sociais (Unisinos); Professor do Curso de Ciências Sociais da Unisinos e do Departamento de Sociologia da UFRGS (almiro.petry@gmail.com).
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Versão ataulizada da publicada em 2007.
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1) SADER, Emir (Coord). Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe. São Paulo:
BoiTempo, 2006. Verbete: Colômbia.
2) ALMANAQUE ABRIL: Enciclopédia de Atualidades 2008. São Paulo: Ed. Abril, 2008. Verbete:
Colômbia.
3) ) CIA: The World Factbook https://www.cia.gov/cia/publications/factbook/geos/co.html
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS
FORMAÇÃO HUMANÍSTICA
EIXO: AMÉRICA LATINA
Nueva Granada. Em 1863 troca para Estados Unidos de Colômbia e, em 1886, volta para República da Colômbia.
Neste território vivem 47 milhões de pessoas (2007), sendo 58% eurameríndios; 20%
de europeus ibéricos; 14% afrodescendentes; 4% negros; 1% indígenas; e, 3% outras etnias.
Com uma estrutura etária de: 29,4% na faixa de zero a 14 anos; 65,1% entre 15 e 65; e 5,5%
acima de 65 anos de idade. Portanto, uma população acentuadamente jovem. A expectativa de vida é de 72,5 anos, sendo 68,7 para os homens e 76,5, para as mulheres (diferença de 7,8 anos). A mortalidade infantil ainda é de 22/1000 nascidos vivos e 7,1% são analfabetos. 73%
da população vive em cidades. A renda per capita é de US$ 3.990 (ou US$ 7.200 pelo método PPP
4). Ainda 49,2% da população está abaixo da linha da pobreza. O desemprego atinge a 10,8% da força de trabalho, que soma 20,6 milhões de trabalhadores. A estrutura ocupacional tem a seguinte configuração: 22,7% estão trabalhando no setor primário; 18,7% no setor industrial; e, 58,6% no setor serviços. O IDH é 0,791 (12º da América Latina e o 75º do mundo).
O PIB soma US$ 171 bilhões (por eqüivalência cambial) ou US$ 320 bilhões (PPP), sendo formado a partir de 11,5% do setor primário; 36% do setor industrial; e, 52,4% do setor serviços. As exportações (2007) atingem a US$ 28,4 bilhões destinando-se 35,8% para os EUA; 11,4% para a Venezuela; 5,4% para o Equador (os principais). As importações somam US$ 30,8 bilhões, tendo a origem de 26,8% dos EUA; 8,6% do Brasil; 8,5% do México; 6%
da China; 5,6% da Venezuela e 4,1% do Japão (os principais). A dívida pública atinge aos 53,9% do PIB e a dívida externa ultrapassa os US$ 43,3 bilhões (25,3% do PIB; US$ 921 de dívida externa per capita). Os 10% mais pobres usufruem 7,9% da riqueza nacional e os 10%
mais ricos, 34,3% o que eleva o índice de Gini a 0,53 (o do Brasil é 0,57).
Quando os colonizadores aportaram, este território era habitado pelos índios caraíbas e pelos chibchas, que logo foram subjugados para trabalharem nas minas. A cidade de Cartagena, fundada em 1533, torna-se uma das principais bases do império espanhol na América, como porto exportador de ouro e prata. Com a introdução da agricultura – café, banana, algodão e tabaco – os espanhóis passam a utilizar mão-de-obra escrava africana. Em 1717, Nova Granada torna-se Vice-Reino, tendo Santa Fé como capital (hoje Bogotá). Em 1781 começa a revolta dos Comuneros, uma revolta popular contra os altos impostos cobrados pela metrópole, considerado o início do movimento da independência. Com os
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Purchasing Power Party (PPP), o padrão de “paridade do poder de compra” adotado pelo Fundo Monetário
Internacional (FMI).
desdobramentos populares e os movimentos militares, Simón Bolívar assume, em 1821, a presidência da recém formada Gran Colombia, seguindo-se a separação da Venezuela, do Equador e, em 1903, do Panamá.
O século XX é marcado por guerras civis entre liberais e conservadores que obrigam o caudilho Rafael Reyes – após um governo exitoso – a renunciar. Seguem-se reformas constitucionais e a reforma de 1910 proíbe as forças armadas de participar na política, estabilizando-se a política até a interrupção militar de 1953 a 1957. Os confrontos políticos entre liberais e conservadores marcaram este período, que teve seu ápice com o assassinato de Jorge Gaitán, em 1948. Este crime desencadeia sucessivos distúrbios que culminam com o Bogotazo causando milhares de mortes. Entretanto, um pacto (Pacto de Sitges
5) pôs fim às escaramuças e o regime eleitoral volta a vigorar a partir de 1958, formando-se a Frente Nacional pela qual liberais e conservadores se alternaram no poder durante 16 anos, fechando as possibilidades de as esquerdas chegarem ao poder. Esta restrição ensejou a formação de vários grupos guerrilheiros, vinculados ao narcotráfico (os cartéis de Cáli e de Medellín) e a reação paramilitar, acentuaram o quadro de violência na Colômbia. Apesar de a constituição de 1991 pretender mudar o quadro político, dando espaço político às esquerdas, debilitando o tradicional bipartidarismo, a violência guerrilheira e antiguerrilheira vinha aumentando.
Em 1964, ex-combatentes liberais, liderados por Pedro Antonio Marin – conhecido por Manuel Marulanda ou Tirofijo - criam as forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), ligadas ao Partido Comunista. Mais tarde surge o Exército de Libertação Nacional (ELN), de inspiração castrista, ao qual se vinculou o sacerdote Camilo Torres Restrepo
6; em 1967 organiza-se o Exército Popular de Libertação (EPL), de inspiração maoísta; e, em 1973, emerge o grupo insurgente o Movimento Revolucionário 19 de abril (M-19), desencadeando a guerra civil no país. A década de 1970 inicia com a controvertida eleição de Missael Pastrana Borrero (1970-1973), presumivelmente fraudulenta, pois a vontade popular era pelo general Rojas Pinilla, que se ocupa com a reforma agrária
7, sem mexer na estrutura distributiva das terras, torna-se uma contra-reforma, com políticas restritivas aos pobres. Afastada a Frente
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Francisco Sitges, empresário da mineração de zinco.
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Pertencente à classe média alta da Colômbia estuda Direito e, atraído pela função social da Igreja, entra no Seminário para estudar Teologia, ordenando-se sacerdote em 1957. Estuda Sociologia em Louvain (Bélgica) e se torna professor da Universidade Nacional da Colômbia. Trabalha em projetos de reforma agrária e, sob a inspiração da revolução cubana, envolve-se em práticas políticas o que desagrada a hierarquia eclesiástica. Opta por se dedicar aos oprimidos e entra no ELN, participando das guerrilhas. Morre em combate e seu nome passa para a história como símbolo do religioso que aderiu à militância revolucionária na América Latina. Sua prática é uma referência posterior na Teologia da Libertação.
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Desde então, de 3% a 4% dos donos de terras superiores a 100 há ocupam entre 55% e 60% das propriedades
rurais, enquanto 80% dos proprietários com menos de 20 há de área, possuem entre 16% e 18% do total de
terras.
Nacional do poder com a eleição de Alfonso López Michelsen (1974-1978) e de seu sucessor, Julio César Turbay Ayala (1979-1982), passa-se a dar mais ênfase à problemática do desequlíbrio urbano-regional.
Neste período ocorre uma intensa e caótica urbanização, provocando grandes problemas de desemprego urbano e de habitação. A política agrária anterior é abandonada e dá-se apoio à produção camponesa não só para a produção de alimentos, mas também para reter os fluxos migratórios do campo para as cidades. Aí entra em discussão a reforma do Estado que ocorre com a reforma constitucional de 1979, aspectos que são retomados na constituição de 1991. Na década de 1980, a Colômbia enfrenta uma crise econômico- financeira de significativas proporções, associada à brusca queda do preço do café, à corrupção interna e à recessão mundial em decorr6encia da crise energética. O país recorre ao FMI para fazer um drástico programa de ajustes, debilitando a capacidade de intervenção do Estado e estimulando o livre funcionamento do mercado. Foi também nesta década que o tráfico de cocaína atingiu um nível sem precedentes, aumentando a violência nas regiões atingidas, com a formação de bandos urbanos de assassinos, a criação de milícias paramilitares e o início do financiamento das organizações guerrilheiras com o dinheiro do tráfico. O sistema de justiça torna-se cada vez mais ineficaz, radicalizam-se as posições, desencadeiam-se os seqüestros e a corrupção se espalha pela nação. Isto leva os governos de Belisario Betancourt (1982-1986) e de Virgilio Barco (1986-1990) a confrontações repressivas. Nestes governos renascem os movimentos camponeses e indígenas com as práticas de invasões de terras, grandes marchas e êxodos em massa. Forma-se a Organização Nacional Indígena da Colômbia (ONIC), com apoio político da Frente Popular e da A Luchar.
Houve repressões, mas se retomou uma política de reforma agrária para contemplar os sem- terras e preservar os direitos indígenas.
Neste contexto, em 1985, o exército reprime a invasão do palácio da Justiça pelo M-
19, matando mais de 100 pessoas. No ano seguinte, o M-19 transforma-se em partido político,
sob a denominação de Aliança Democrática M-19. Estes movimentos estão vinculados ao
narcotráfico, que nos anos de 1980, viram nisso um grande negócio, exportando para os EUA
e os dois grandes cartéis se tornam os maiores produtores de cocaína do mundo. São
combatidos pelo governo, com reduzidos êxitos. Em 1991, os chefes do cartel de Medellín –
Fabio Ochoa Vasquez e Pablo Escobar – são presos; em 1993, são presos Gilberto e Miguel
Orejuella, chefes do cartel de Cáli. Apesar destas prisões, o tráfico não é vencido. Novos
líderes emergem e mantêm este “rico negócio”.
No início do século XXI, a Colômbia respondia por 79% da produção mundial de cocaína
8. As guerrilhas passam a obter recursos com “impostos” cobrados dos cocaleros e narcotraficantes das áreas por eles controladas. Com as eleições de 1990 se convoca uma Assembléia Nacional Constituinte para encontrar os caminhos da paz. Disso resultou a nova Carta Constitucional, em 1991, que consagra “uma ampla e profícua declaração de direitos fundamentais e direitos de todas as gerações, a continuidade do processo de descentralização territorial, a minimização da organização do Estado, e a nova ideologia da participação comunitária e cidadã em lugar da democracia representativa” (Sader, 2006, p. 328). No entanto, foi o caminho para aderir aos princípios regentes do Consenso de Washington e o Presidente César Gaviria (1990-1994) abriu o mercado doméstico à concorrência internacional. Seu sucessor, Ernesto Samper Pizano (1994-1998) não conseguiu deter o endividamento externo, a recessão econômica e o poder dos monopólios e dos oligopólios reforçaram o desemprego e a crise interna. No final da década vivia-se a mais grave recessão econômica do país.
Em 1998, o conservador Andrés Pastrana (1998-2002) vence as eleições com um plano de pacificação nacional. Não consegue aproximar as diferentes facções, então, com apoio dos EUA lança, em 2000, o Plano Colômbia, cujo objetivo é acabar com a produção da droga. Os EUA apóiam com tropas e helicópteros para “fumigar” as plantações de coca com herbicidas desfolhantes. Em 2002, as FARC seqüestram um avião com o Presidente da Comissão de Paz do Senado – Jorge Gechem Turbay - e Pastrana rompe com o acordo e retoma a luta armada contra os guerrilheiros.
No mesmo ano, o direitista (dissidente do partido Liberal) Álvaro Uribe Vélez (2002- 2006, reeleito para o mandato de 2006-2010) vence as eleições presidenciais, que continua com o Plano Colômbia, com o apoio do governo norte-americano. O governo se torna autoritário movido pelo agravamento da violência à qual o país está submetido há décadas. O governo argumenta com o estado de guerra civil, a guerra contra o Estado e a ameaça do terrorismo para salvar a ameaçada democracia, optando pela confrontação armada movido pela “política de segurança democrática”.
Desvinculadas da problemática econômico-social e das reivindicações e conflitos nas dimensões urbana e rural e aferradas ao fato de que a negociação pudesse ser forçada pela
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Em 2006, representava em torno de 80% da fabricação global e a produção colombiana estava estimada em 400 toneladas anuais. O valor desta produção equivalia a 6% do PIB. Entre 2000 e 2005, o governo norte-americano injetou, dentro do Plano Colômbia, US$ 4 bilhões no combate à plantação de coca e de maconha. Foram erradicados, anulamente, mais de 100 mil ha e, em 2006, a área plantada ainda era estimada em 144 mil ha.
“Extermina-se de um lado e planta-se de outro”.
pressão violenta, qualquer que fosse, essas organizações apelaram a fontes de financiamento socialmente inadmissíveis como o seqüestro, a extorsão e o narcotráfico. Assim, avançaram de maneira progressiva pelo caminho terrorista, comprometendo indiscriminadamente a população civil e perdendo com isso suas bases de apoio (Sader, 2006, 331).
O governo, por sua vez, declara o “estado de comoção interna” para adotar a força contra as organizações guerrilheiras e paramilitares. Uribe
9, com o apoio das forças conservadoras e grupos econômicos, submete às suas decisões o Congresso e o Judiciário, ampliando o poder presidencial. Em 2004, Ricardo Palmera, então o principal líder das FARC, é preso. Em seguida, a facção Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), de extrema direita, inicia negociações de paz com o governo, desmobilizando mais de 10 mil miliciantes.
Em 2005, a Colômbia e a Venezuela vivem um conflito diplomático porque militares colombianos prenderam e seqüestraram líderes das FARC em território Venezuela, sem comunicar, por vias diplomáticas o governo venezuelano. O impasse termina (um mês depois) com um encontro com os dois presidentes. Em 2006, Álvaro Uribe (2006-2010) reelege-se presidente, em primeiro turno, com 62% dos votos válidos, como a maior votação do país.
Assim, se converteu no primeiro presidente reeleito, de forma imediata e por voto popular, na história da Colômbia. Além disso, aumentou o número de votos obtidos na sua primeira candidatura, quando ganhou, também no primeiro turno, com 54% dos votos. O presidente
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