• Nenhum resultado encontrado

2 POR UM DIÁLOGO EPISTEMOLÓGICO COM OS ESPAÇOS DOS SABERES

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "2 POR UM DIÁLOGO EPISTEMOLÓGICO COM OS ESPAÇOS DOS SABERES"

Copied!
12
0
0

Texto

(1)

XIV Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB 2013) GT 1: Estudos Históricos e Epistemológicos da Ciência da Informação

Comunicação Oral

EPISTEMOLOGIAS E ANTI-EPISTEMOLOGIAS DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

Marivalde Moacir Francelin – USP

Resumo

O principal objetivo deste trabalho é analisar a hipótese da presença de epistemologias e anti-epistemologias na Ciência da Informação. Esta hipótese defende um provável distanciamento entre os paradigmas de pesquisa e os conteúdos de formação disciplinar. Utiliza o método de revisão de literatura e destaca uma forma de diálogo entre contrários para justificar identidades e entendimentos. Conclui que as discussões epistemológicas da Ciência da Informação estão avançadas nos eixos paradigmáticos e científicos, mas parecem deslocadas das disciplinas e metodologias destinadas à formação institucional ou curricular.

Palavras-chave: Epistemologia. Anti-epistemologia. Ciência da Informação. Paradigmas.

Abstract

The principal objective of this paper is to analyze the possibility of the presence of epistemologies and anti-epistemologies in Information Science. This hypothesis defend a probable gap between research paradigms and the contents of disciplinary formation. Uses the method of the literature review and emphasizes a form of dialogue between contraries to justify identities and understandings. It concludes that the epistemological discussions of the Information Science are well advanced in the scientific and paradigmatic axes, but seem displaced of the disciplines and methodologies intended for the institutional formation or curricular.

Keywords: Epistemology. Anti-epistemology. Information Science. Paradigms.

1 INTRODUÇÃO

Tradicionalmente, a epistemologia pode ser definida como o estudo do conhecimento, aproximando-se da teoria do conhecimento, da gnosiologia e da filosofia da ciência. Sem recorrer à distinção “Epistemologia/epistemologia”, com a primeira letra maiúscula e a segunda minúscula, para identificar, respectivamente, uma possível área disciplinar e um provável método de estudo, pode-se dizer, de acordo com Greco (2008, p.16), que a epistemologia parte de questões gerais como “O que é conhecimento?”, “O que é possível conhecer?” ou “É possível conhecer o próprio conhecimento?” até discussões sobre o realismo, o ceticismo, o naturalismo, as formas de avaliações epistêmicas e os novos rumos adotados a partir de questões sociais e tecnológicas.

(2)

No campo da Ciência da Informação, como pode ser verificado nos trabalhos de Freire (2008) e Arboit, Bufrem e Freitas (2010), as discussões epistemológicas já vêm sendo realizadas com alguma sistemática. Essas discussões são fomentadas há algumas décadas e têm apresentado, com base em diferentes pontos de vista, significativas contribuições para a

área. Como área de conhecimento, a Ciência da Informação é observada, analisada e discutida a partir de suas perspectivas conceituais, notadamente sobre seu próprio nome e objeto, dos “marcos teóricos” de sua formação histórica e disciplinar, das “interfaces” com outras disciplinas e dos campos de força ou “domínios” de correntes teóricas e metodológicas (ARAÚJO, 2009; SOUZA; DIAS, 2011; RABELLO, 2012; SMIT, 2012; SILVA, 2013).

Reconhece-se, no entanto, que as discussões epistemológicas da área estimulam novas abordagens, quer do ponto de vista da construção disciplinar quanto metodológico. Mas, antes destas novas abordagens, talvez seja interessante perguntar se essa construção disciplinar é possível a partir do que vem sendo realizado nos domínios de pesquisas epistemológicas da Ciência da Informação.

Para contribuir para aprofundar as reflexões epistemológicas da área propõe-se desenvolver algumas hipóteses de pesquisa, apresentando uma discussão sobre o que poderia ser entendido ou, pelo menos, identificado como epistemologias e anti-epistemologias da Ciência da Informação.

Consequentemente, o problema está delineado neste entendimento e identificação. Supondo que identificar seja uma tarefa que possibilite encontrar uma identidade, esbarra-se, no caso da Ciência da Informação, em um conjunto de identidades, multifacetadas e plurais, de disciplinas e de metodologias. O entendimento desse conjunto, portanto, não acontece de

forma harmônica e, muito menos, consensual.

Pensando na necessidade de uma falta “consciente” do consenso, epistemologias e

(3)

2 POR UM DIÁLOGO EPISTEMOLÓGICO COM OS ESPAÇOS DOS SABERES Um primeiro olhar sobre os estudos epistemológicos contemporâneos informam que as características teóricas e metodológicas da pesquisa científica são cada vez mais flexíveis e abertas para novas formas de informar, comunicar e conhecer.

No cotidiano, a informação é um complexo de formas e canais que formam e transformam a superestrutura comunicacional. As transformações não se restringem às vias

virtuais planetárias, mas a uma provável mutação, segundo as perspectivas de Castells (2008), do Ser físico em um ser em rede, e de Lévy (2007), sobre o espaço de um “novo nomadismo”. Também é possível observar, a partir das coletâneas organizadas por Novaes (2008, 2010), que as mutações em curso projetam novas configurações e experiências de mundo, onde os limites e as utopias são as características mais marcantes dos compromissos éticos e epistêmicos.

Tais observações não estão restritas aos pontos de vista das teorias e epistemologias formalizadas e formalizadoras do discurso disciplinar e acadêmico. Em contrapartida, diz-se que, quanto ao conhecer, os compromissos éticos e epistêmicos pressupõem, na contemporaneidade, a configuração de ciências determinadas a corresponder ao dinamismo social, sendo, portanto, críticos em relação aos princípios canônicos do conhecimento. Walter D. Mignolo e Boaventura de Sousa Santos, por exemplo, imprimem consistentes análises sobre os deslocamentos dos saberes centrais para as “periferias” do conhecimento.

A partir da crítica às palavras “epistemologia” e “hermenêutica”, caracterizadas como restritas à cultura acadêmica, em aparente oposição aos termos “gnose” e “gnosiologia” para uma concepção mais ampla de conhecimento, Mignolo adota a expressão “gnose liminar” ou “pensamento liminar”. Para Mignolo (2003, p.49), o pensamento liminar pode ser definido como “[...] os momentos de fissura no imaginário do sistema mundial colonial/moderno.” O pensamento liminar está situado, ainda segundo o autor, “[...] dentro do imaginário do sistema mundial moderno, mas reprimido pelo domínio da hermenêutica e da epistemologia enquanto palavras-chave que controlam a conceitualização do saber.”

A gnose/pensamento liminar seria o local de construção do diálogo com a epistemologia, a hermenêutica e os saberes subalternos. Portanto, não se trata de excluir esta ou aquela forma de saber, mas de encontrar maneiras para que elas dialoguem e promovam espaços de visibilidade e legitimidade epistemológicas.

(4)

“pós-abissal”, reconhecendo, através de uma “epistemologia da diversidade” e de uma “ecologia dos saberes”, os conhecimentos invisíveis. É relevante para a discussão do presente trabalho a indicação de Santos de que reconhecer a diversidade cultural, ou o que se pode entender como representações de crenças e ideias, não é o mesmo que reconhecer a

diversidade epistemológica. Neste caso, quando não há um reconhecimento da diversidade epistemológica, Santos (2010, p.55) diz que a “[...] ecologia dos saberes é, basicamente, uma

contra-epistemologia.”

Na Ciência da Informação, Antonio García Gutiérrez também apresenta diversas análises sobre a organização dos conhecimentos legitimados nas esferas dominantes e dos conhecimentos deslegitimados e periféricos. Para García Gutiérrez (2006), existe um conjunto de saberes despercebidos, ou cientificamente “favelados”, que precisa ser incorporado a uma nova classificação. Mas, uma nova classificação implicaria, como abordado em outra obra de García Gutiérrez (2007), a necessidade de “desclassificação” do conhecimento consolidado e instituído. Mas, para levar adiante esta tarefa também é necessário, ainda segundo García Gutiérrez (2011), encontrar uma epistemologia alternativa ou uma alternativa para a epistemologia.

Desde já, é possível assinalar, portanto, que as mudanças em curso se distinguem das de outros momentos históricos dos estudos sobre as ciências. Epistemologias e anti-epistemologias fazem parte do mesmo movimento que procura identificar e entender os constantes fluxos dos conhecimentos canônicos e marginais. Não existe, neste caso, a proposta de novos cânones ou de novas aberturas de conhecimentos, sejam eles científicos ou do senso comum.

De fato, o princípio do século XXI parece marcado pela necessidade de estabelecer fluxos contínuos de informação e conhecimento. Os fluxos estão ligados a quase todos os

tipos de elementos de sentido, ou seja, podem ser definidos por conjuntos de ações, assistemáticas e a-metódicas que fornecem uma forma de progresso do conhecimento, fundadas na construção e na desconstrução. Deveria estar implícita, portanto, a ideia de que o conhecimento, no mundo contemporâneo, descarta a noção de linearidade, mas sem fugir do princípio da criação.

(5)

válido, apresenta às ciências o desafio interno da transdisciplinaridade e o desafio externo da pluridimensionalidade individual e social.

O desafio encontrado na passagem da análise do disciplinar para o dimensional, do supostamente interno para o supostamente externo, parece reapresentar a hipótese, levantada e

desenvolvida por Boaventura de Sousa Santos, de que todo conhecimento científico natural é científico social. E fica difícil sustentar a afirmação de que algumas ciências independem das

dinâmicas diretamente relacionadas à sociedade ou das ciências que as estudam. Coloca-se até mesmo em questão a noção de sujeito e objeto como elementos necessários ao entendimento e à construção dos saberes. Ou seja, em um novo contexto de pensamento a distinção ente sujeito e objeto poderia deixar de existir da maneira como se apresenta atualmente. Questão aparentemente constante na literatura crítica da epistemologia, mas complexa se transportada para os contextos disciplinar e metodológico.

Por outro lado, uma epistemologia, apesar de necessária, que pretenda somente isolar e analisar as ciências em unidades cada vez mais especializadas, separando-as em recortes sem relações, pode fugir à própria realidade. Sabe-se que o determinismo epistemológico, a delimitação de fronteiras conceituais e a formalização de conhecimentos absolutos precisam ser substituídos pelo princípio relacional dos conhecimentos. Não é raro encontrar afirmações de que as relações entre os conhecimentos são a essência de quase todo novo conhecimento.

Mas, como identificar e entender os princípios relacionais do conhecimento se, da análise das relações entre os conhecimentos, são criadas condições para diversas e, até mesmo complexas, manifestações epistemológicas? Perceber as transformações epistemológicas, como reconhece Pombo (2005, p.10), é também perceber que “[...] lá, onde esperávamos encontrar o simples, está o complexo, o infinitamente complexo.” Uma ciência, como a Ciência da Informação, por exemplo, que apresenta a informação como objeto dinâmico, em

mutações e transformações constantes, e que só faz sentido enquanto processo e fluxo, somente pode ser entendida, percebida talvez, a partir dos propósitos relacionais que usa para analisar o fenômeno informacional.

(6)

Não se trata de negar modelos e paradigmas anteriores, mas de tentar verificar até que ponto eles são suficientes e adequados à nova realidade do conhecimento. Se a Ciência da Informação ainda procura um estatuto epistemológico, é possível indagar se a sua busca não a está levando para um vazio epistemológico. Por outro lado, como afirmou Pombo (2010,

p.36), é possível que uma epistemologia baseada na ideia do paradigma kuhniano é “cega” para as transformações e mutações em curso no campo do conhecimento.

Assim, sem entrar na discussão da metáfora da ciência “indisciplinada” e na suposta “cegueira” do paradigma kuhniano, entende-se que estas questões são insuficientes para identificar um provável e exclusivo vazio epistemológico na Ciência da Informação. Mas, como diz Novaes (2008, p.10, 2010, p.13) num contexto mais amplo dos saberes, pode ser que estejam se apresentando intervalos do acaso como espaços para o pensamento, coisas vagas como formas de experiências e sentidos de mundo. Ou, ainda, neste suposto vazio epistemológico poderiam estar os saberes invisíveis de um pensamento abissal ou os pensamentos/gnoses liminares como já indicaram Boaventura de Sousa Santos e Walter D. Mignolo. O que existiria, então, pode ser considerado como movimentos epistemológicos e anti-epistemológicos que procuram retratar a construção e a desconstrução de teorias e metodologias que se alternam entre a necessidade de reduções disciplinares e a busca de ampliação relacional “indisciplinar”.

Em síntese, alternando epistemologias e anti-epistemologias, a Ciência da Informação está em constante fluxo (contínuo e descontínuo), relacionando os aspectos normativos de domínios do conhecimento científico à crescente complexidade do objeto informação enquanto provável e discutível forma de acontecimento na aparentemente metafórica, mas

contundente, realidade dos movimentos nos vazios epistemológicos.

3 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E SEUS ENTENDIMENTOS OU DAS EPISTEMOLOGIAS E ANTI-EPISTEMOLOGIAS

Partindo do que foi exposto, é possível retomar a questão das identidades e dos entendimentos que talvez estejam presentes nestes breves cenários epistemológicos que se apresentam para a Ciência da Informação.

(7)

disciplinas das Ciências Humanas por causa de tradicionalismos que perderam o elo, a relação, com a realidade.

Pode-se dizer, também, que a Ciência da Informação adotou o risco e conversa de forma madura com os aspectos plurais, dinâmicos e, até mesmo, sem sentido do universo

informacional contemporâneo. Neste ponto, compreendeu melhor as relações humanas e sabe como proceder nas sociedades dependentes de informação e nas sociedades que necessitam de

informação.

O lugar da reprodução não parece formar novos conhecimentos e, por este motivo, esteja distante de um entendimento epistemológico. Mas, igualmente não parece possível falar em sociedades dependentes de informação sem a massificação da reprodução da informação. A tradição epistemológica flexibiliza-se para entender os fenômenos da informação, mesmo que isso implique uma reconceitualização da própria epistemologia.

Nas sociedades que necessitam de informação a questão pode ser colocada da mesma forma, porém, invertendo o enfoque. Não há uma reprodução massiva, pois, faltam meios para amplificação do fenômeno. A falta de informação poderia impedir que a tradição epistemológica fizesse sua parte no estudo do conhecimento. Porém, a tradição epistemológica da Ciência da Informação também procura se juntar aos campos informacionais que estão distantes dos centros de reprodução de massa.

Dois pontos epistemológicos que poderiam ser vistos como antagônicos e conflitantes também são entendidos pela Ciência da Informação como “centros” e “periferias” do conhecimento. Seria importante lembrar que talvez a metáfora dos centros e das periferias já não seja tão expressiva nos dias de hoje, mas ela é relevante para estabelecer uma relação com

o que se pretende chamar de epistemologia e anti-epistemologia.

Assim, os esforços disciplinares e metodológicos para entender as novas formas de

conhecimento fizeram com que as diversas áreas de pesquisa da Ciência da Informação se aproximassem dos debates epistemológicos. Além de discutir este ou aquele paradigma dominante, parece que a preocupação está cada vez mais voltada para a busca de explicações em contextos socialmente construídos, estruturados e significativos.

(8)

De maneira mais objetiva, se quer dizer que esses deslocamentos permitem que sujeitos não autorizados pelo cânone dominante explorem contextos de produção de conhecimento que fogem aos paradigmas consolidados em teorias tradicionalistas e cientificamente cristalizadas. Ou seja, sob o tema epistemologias e anti-epistemologias na

Ciência da Informação, existem e persistem perguntas “ingênuas” como: a quem é permitido falar de epistemologia? Existem epistemólogos profissionais? A epistemologia não

institucionalizada é uma epistemologia?

As perguntas acima, além de ingênuas, têm respostas circulares e, por vezes, infrutíferas. Não se está interessado nelas porque dependem da tradição canônica e legitimadora dos saberes. Mas, essas perguntas são feitas para serem interpretadas e não respondidas definitivamente. O que se pretende é formular hipóteses. Elas poderiam ajudar a entender as epistemologias e anti-epistemologias nas disciplinas e metodologias da Ciência da Informação. Tais hipóteses deveriam verificar se os avanços nas pesquisas da Ciência da Informação junto aos contextos da realidade que se apresenta na contemporaneidade estão chegando à suas “matrizes” disciplinares.

Na verdade, epistemologias e anti-epistemologias são movimentos de conhecimento voltados para a formação, a construção e o aprendizado nas disciplinas, neste caso, da Ciência da Informação. Esses movimentos seriam vigilantes às barreiras impostas por aqueles que, por exemplo, confundem “técnica” com falta de conhecimento e distanciam a pesquisa do ensino e da profissão. Ainda, a título de exemplo, essa suposta desvinculação dos conhecimentos disciplinares dos princípios técnicos ou práticos poderia ser entendida como uma forma de anti-epistemologia, pois, o exercício dos conhecimentos do senso comum, dos conhecimentos

do dia-a-dia, dos saberes da realidade e, porque não, da própria criação, seria um conjunto de fazeres da experiência baseada nos sentidos do percebido, na intuição que se apresenta nas

supostas lacunas do saber.

Pode-se propor algo ainda mais provocativo. Se a aproximação for correta e se for possível tomar de empréstimo a noção de aplicação de conceitos como forma de construção científica de objetos, também é possível dizer, seguindo Bachelard (1990, p.141), que “Um conceito torna-se científico na medida em que se torna técnico, em que se faz acompanhar de uma técnica de realização.” Mas, neste caso, o formalismo técnico-científico regula o caráter epistemológico do resultado do conhecimento produzido, conduzindo-o às matrizes disciplinares e metodológicas pré-determinadas.

(9)

fundamentam em teorias formalmente estabelecidas, também é possível, contrariando Bachelard e outros epistemólogos, pensar em saberes sem a necessidade da enunciação de conceitos e, portanto, de teorias de caráter internalista. Assim, seria possível recuperar a proposta de uma nova “dialética” baseada nos movimentos do senso comum presentes, como já mencionado, no pensamento liminar, na ecologia e na desclassificação dos saberes.

Esses movimentos não se restringem à formação de conceitos e à construção de

teorias, mas fazem parte de uma complexa estrutura informacional de base imprecisa e quase desconhecida nos domínios epistemológicos da Ciência da Informação. Sem dúvida, é necessário rever as premissas científicas da área no sentido de tornar acessíveis o estudo e a pesquisa de formas conhecimentos que o cânone da ciência em geral ainda insiste em desconsiderar em seus manuais de formação e aprendizado.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nas últimas décadas, as pesquisas em Ciência da Informação apresentam aspectos vigorosos e ousados. Apesar dos fundamentos positivistas, cartesianos e tecnicistas, as pesquisas em Ciência da Informação não se detiveram em dogmas pré-estabelecidos. Pelo contrário, migraram para todas as possíveis áreas correlatas que poderiam oferecer algum suporte teórico e/ou metodológico que ajudassem a entender as questões de uma nova realidade do conhecimento. Isto pode justificar o porquê de uma parte dos estudos epistemológicos, realizados no final do século XX e no início do século XXI, apontarem para uma Ciência da Informação fragmentária, possivelmente carente de objeto, teorias, paradigmas, modelos e métodos definidos e consolidados.

Paradoxalmente, o princípio da fragmentação temática, resultado da constante exploração de outros campos do saber e da abertura de novas frentes de pesquisa, permitiu que a Ciência da Informação mantivesse um “olhar” próximo dos principais fenômenos e eventos do contexto social e suas repercussões e formas de representação no discurso científico.

(10)

Portanto, as epistemologias e anti-epistemologias não são necessariamente contrárias. Ambas trazem destaques sobre a constituição e a construção do conhecimento na Ciência da Informação. E, ambas, quando assumidas por uma ciência ou por uma disciplina podem determinar diversos aspectos positivos como, por exemplo, a formação disciplinar

cientificamente consistente e responsável e o debate crítico fundamentado e ancorado no princípio da compreensão e do diálogo, e aspectos negativos como, por exemplo, a

manutenção de tradicionalismos e cânones desvinculados da realidade, estimulando, ao mesmo tempo, a adesão incondicional às opiniões dos “experts” das disciplinas de formação e o recalque dos saberes da experiência, baseados no fazer, como forma menor de conhecimento.

REFERÊNCIAS

ARBOIT, Aline Elis; BUFREM, Leilah Santiago; FREITAS, Juliana Lazzarotto.

Configuração epistemológica da Ciência da Informação na literatura periódica brasileira por meio de análise de citações (1972-2008). Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 15, n. 1, p. 18-43, jan./abr. 2010. Disponível em: <

http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/948/829>. Acesso em: 17 jan. 2013.

ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. Correntes teóricas da ciência da informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 38, n. 3, p. 192-204, set./dez. 2009. Disponível em:

<http://revista.ibict.br/cienciadainformacao/index.php/ciinf/article/view/1719/1347>. Acesso em: 14 fev. 2013.

BACHELARD, Gaston. A epistemologia. Tradução: Fátima Lourenço Godinho e Mário Carmino Oliveira. Lisboa: Edições 70, 1990.

BARATO, Jarbas Novelino. Educação profissional: saberes do ócio ou saberes do trabalho? 2. ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2010.

CASTELLS, Manuel. Prólogo: a Rede e o Ser. In:_________. A sociedade em rede. Tradução de Roneide Venâncio Majer. 5. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008. (A era da informação: economia, sociedade e cultura; v.1).

FREIRE, Isa Maria. Um olhar sobre a produção científica brasileira na temática epistemologia da Ciência da Informação. Tendências da Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação, João Pessoa, v. 1, n. 1, p. 1-31, 2008. Disponível em: <

http://inseer.ibict.br/ancib/index.php/tpbci/article/view/9/16>. Acesso em: 17 jan. 2013. GARCÍA GUTIÉRREZ, Antonio. Cientificamente favelados: uma visão crítica do

(11)

GARCÍA GUTIÉRREZ, Antonio. Desclasificados: pluralismo lógico y violencia de la clasificación. Barcelona: Anthropos Editorial, 2007.

GARCÍA GUTIÉRREZ, Antonio. Epistemología de la Documentación. Barcelona: Stonberg, 2011.

GRECO, John. Introdução – O que é epistemologia? In:_________; SOSA, Ernest. (Org.). Compêndio de Epistemologia. Tradução: Alessandra Siedschlag Fernandes e Rogério Bettoni. São Paulo: Edições Loyola, 2008. p. 15-61.

LÉVY, Pierre. Inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. Tradução de Luiz Paulo Rouanet. 5. ed. São Paulo: Loyola, 2007.

MIGNOLO, Walter D. Introdução. A gnose e o imaginário do sistema mundial

colonial/moderno. In:________. Histórias locais / Projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Tradução de Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. p. 23-76.

NOVAES, Adauto. (Org.). Mutações: a experiência do pensamento. São Paulo: Edições SESCSP, 2010.

NOVAES, Adauto. (Org.). Mutações: ensaios sobre novas configurações do mundo. Rio de Janeiro: Agir, 2008.

POMBO, Olga. Dispersão e unidade: para uma poética da simpatia. In: LARA, Marilda Lopes Ginez de; SMIT, Johanna W. (Org.). Temas de pesquisa em Ciência da Informação no Brasil. São Paulo: Escola de Comunicações e Artes/USP, 2010. p. 31-46. Disponível em: <http://www.pos.eca.usp.br/sites/default/files/enancibdigital.pdf>. Acesso em: 22 jan. 2013. POMBO, Olga. Interdisciplinaridade e integração dos saberes. Liinc em Revista, v. 1, n. 1, p. 3-15, mar. 2005. Disponível em:

<http://revista.ibict.br/liinc/index.php/liinc/article/viewFile/186/103>. Acesso em: 6 fev. 2013.

RABELLO, Rodrigo. A Ciência da Informação como objeto: epistemologias como lugares de encontro. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 17, n. 1, p. 2-36, jan,/abr. 2012. Disponível em:<

http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/1107/1012>. Acesso em: 12 dez. 2012.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. In:_________; MENESES, Maria Paula. (Org.). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010. p. 31-83.

(12)

Informação, Brasília, v. 40, n. 1, p. 52-67, jan./abr. 2011. Disponível em:<

http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/view/1885/1393>. Acesso em: 08 ago. 2013.

__________________________

Referências

Documentos relacionados

Sendo assim, a partir de abordagens distribuídas da predição da erosão da bacia com o modelo da Equação Universal de Perdas de Solos Revisada (RUSLE) e do cálculo da relação

Podem treinar tropas (fornecidas pelo cliente) ou levá-las para combate. Geralmente, organizam-se de forma ad-hoc, que respondem a solicitações de Estados; 2)

Esta pesquisa discorre de uma situação pontual recorrente de um processo produtivo, onde se verifica as técnicas padronizadas e estudo dos indicadores em uma observação sistêmica

De fato, não é tão somente nas trevas e angústias da purificação, quando a alma sofre a ação purificadora desta sabedoria de amor, que ela é secreta, não

O pagamento era realizado com trabalho não remunerado por um tempo determinado.. Colônias

Na hipótese de não constar prazo de validade nas certidões apresentadas, a Administração aceitará como válidas as expedidas até 180 (cento e oitenta) dias

Stable Male No P elements DNA only Female No P elements DNA + cytoplasm No repressor Male P elements DNA only Offspring P elements No repressor. Unstable germ

parlamentares, respondeu QUE nunca produziu ou repassou tais conteúdos; perguntado se já produziu ou repassou mensagem ou material (documento, meme, fotografias, vídeos etc.)